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CCJ0014-WL-B-LC-Apostila Direito Civil III - Fernando Fraga

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Civil III – Profº Fernando Fraga 
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 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 
1.1 Conceito e gênese 
1.2 Condições de validade dos contratos 
1.3 Princípios fundamentais do direito contratual 
Procedimentos de ensino 
1.1. Conceito e gênese 
 Conceito 
- Orlando Gomes: negócio jurídico bilateral, ou plurilateral, que sujeita as partes à 
observância de conduta idônea à satisfação dos interesses que a regulam. (Contratos. 
17.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996. p. 10) 
- Roberto Senise Lisboa: trata-se do ajuste de vontades por meio do qual são 
constituídos, modificados ou extintos os direitos que uma das pessoas tem, muitas 
vezes, em benefício de outra. (Manual de Direito civil. Vol. 3. 3.ed. São Paulo: RT, 
2005. p. 41) 
- Código Civil Italiano, art. 1.321. il contrato è l’acoordo di due ou più parti per 
costituire, regolare ou estinguere tra loro um rapporto giuridico patrimoniale. (o 
contrato é um acordo de duas partes ou mais, para constituir, regular ou extinguir 
entre elas uma relação jurídica patrimonial). 
* O Código Civil Brasileiro não estabelece uma definição de contrato. 
 
Estrutura do contrato 
- Partes (bipolaridade da relação contratual: alteridade e composição de interesses). 
Obs: art. 117, CC/2002: autocontrato. 
 
- Objeto - imediato (operação) 
 - mediato (bens jurídicos – materiais ou imateriais) 
Teorias sobre a natureza jurídica do contrato 
Objetivas: 
- teoria normativa (Hans Kelsen): acordo de vontades que possui a função criadora do 
direito. 
- teoria preceptiva (Oscar von Bülow): as cláusulas contratuais têm natureza de 
preceito jurídico. 
 
Subjetivas: 
- voluntarista (Savigny): a vontade é o fundamento dos contratos. 
- declarativa (Sailleles): a vontade declarada por ambas as partes é o fundamento 
dos contratos. 
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A teoria que prevalece na doutrina é a teoria declarativa. 
 
Evolução histórica 
No Direito Romano o contrato era instituto solene. Distinguia-se a convenção 
(conventio) do pacto (pacta) e do contrato (contracto). O compromisso abrangia 
a mancipatio, a nexum e astipulatio. A obrigação de dar, fazer ou não fazer 
estabelecida na forma do compromisso assumia a denominação de contracto ou pacta 
vestia. A punição para o inadimplemento contratual acarretava responsabilidade 
patrimonial e corporal (a responsabilidade corporal foi abolida com a Lex Poetelia 
Papiria, de 326 a.C.). 
 
Jusnaturalismo e Direito Canônico: princípio da fé jurada. Transformação da concepção 
de contrato – liberdade das formas. Prestígio ao consensualismo. 
 
1804: Código Napoleão (Código Civil Francês). Liberalismo, igualdade formal e 
patrimonialismo. Contratos paritários. O código civil francês inspirou toda uma geração 
de códigos denominados oitocentistas. 
 
Revolução Industrial: início da fase da despersonalização da obrigação. Contratos de 
adesão. Hipossuficiência x igualdade formal. 
 
Dirigismo contratual (liberdade positiva e liberdade negativa). Publicização das 
relações de direito privado. A constitucionalização do direito civil e sua implicação nas 
relações contratuais. Cláusulas contratuais gerais. Justiça distributiva. O princípio da 
socialidade. 
 
1.2. Condições de validade dos contratos 
Os contratos, enquanto negócios jurídicos que são, desdobram-se em três planos 
distintos, conforme estudado em Direito Civil I: existência, validade e eficácia. 
(Sugere-se que aqui o professor faça uma breve revisão sobre os pressupostos de 
existência, requisitos de validade e fatores eficaciais). 
 
Quanto à validade, os contratos seguem os mesmos requisitos do art. 104, CC: 
- agente livre e capaz; 
Consentimento, no sentido que passamos a analisar, significa a declaração de vontade 
de cada parte no contrato. O consentimento pressupõe declaração de vontade isenta 
de vícios (erro, dolo, coação) e esclarecida. Fala-se, então, em consentimento 
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esclarecido, isto é, o declarante deve receber todas as informações relevantes a 
respeito do objeto e do conteúdo do contrato a ser celebrado, para que possa 
manifestar sua vontade com consciência. 
 
O consentimento representa o acordo de duas ou mais vontades a respeito de uma 
relação jurídica sobre determinado objeto. O consentimento, para ser válido, deve 
recair sobre a existência e a natureza do contrato, o objeto e as cláusulas que o 
compõem. 
 
- objeto lícito, possível e determinável; 
O conteúdo do contrato por vezes é denominado de objeto do contrato. Seria a 
regulamentação dos próprios interesses pelos contratantes. É o conteúdo que possui 
caráter normativo hábil para criar, modificar ou extinguir relações jurídicas. 
 
- forma adequada. 
Em regra, a forma no direito contratual é livre (princípio do consensualismo). O estudo 
das espécies contratuais revelará a forma que cada contrato deve/pode assumir. 
 
A forma representa a exteriorização do acordo de vontades. É o modo pelo qual o 
conteúdo do contrato é exteriorizado. A forma cumpre três funções: torna certa e 
isenta de dúvidas a manifestação de vontade; demonstra a existência de uma 
declaração de vontade apta a produzir efeitos jurídicos; e, por último, protege a boa-
fé de terceiros. 
 
 
Importante pontuar que a validade do contrato é determinada no momento de sua 
celebração, o que se faz relevante em contratos de trato sucessivo que foram 
aperfeiçoados durante a vigência do Código de 1916 e ainda produzem efeitos sob a 
égide do Código de 2002. Nesse caso, a validade será apurada conforme as regras do 
CC/16, mas os efeitos que ainda produzem deverão ser adequados ao CC/02, 
consoante esclarece o art. 2035,caput, CC: 
 
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, 
constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao 
disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus 
efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele 
se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes 
determinada forma de execução. 
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1.3 Princípios fundamentais do direito contratual 
 
a) Liberdade de contratar. Autonomia da vontade. Pacta sunt servanda. 
 
Autonomia da vontade x autonomia privada. 
 
Em um primeiro momento, a liberdade de contratar está relacionada 
com a escolha da pessoa ou das pessoas com quem o negócio será 
celebrado, sendo uma liberdade plena, em regra (...) Em outro plano, a 
autonomia da pessoa pode estar relacionada com o conteúdo do negócio 
jurídico, ponto em que residem limitações ainda maiores à liberdade da 
pessoa humana. Trata-se, portanto, da liberdade contratual. (TARTUCE, 
Flávio. Direito civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 
São Paulo: Método, 2006. p. 70). 
 
Divergência doutrinária: - autonomia privada (liberdade contratual) ≠ autonomia da 
vontade (liberdade contratual). 
 - autonomia privada = autonomia da vontade 
 - autonomia da vontade superada pela autonomia 
privada 
 
 
A autonomia privada é o poder que os particulares têm de regular, pelo 
exercício de sua própria vontade, as relações que participam, 
estabelecendo-lhe o conteúdo e a respectiva disciplina jurídica. 
Sinônimo de autonomia da vontade para grande parte da doutrina 
contemporânea, com ela porém não se confunde, existindo entre ambas 
sensível diferença. A expressão autonomia da vontade tem uma 
conotação subjetiva, psicológica, enquanto a autonomia privada marca 
o poderda vontade no direito de um modo objetivo, concreto e 
real.(AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. 5.ed. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2003. p. 348). 
 
Pacta sunt servanda: princípio da força obrigatória dos contratos. No modelo 
induvidualista-liberal típico dos códigos oitocentistas, esse princípio era tomado como 
absoluto. No entanto, na concepção atual do direito civil, à luz dos preceitos 
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constitucionais vigentes e dos próprios princípios consagrados pelo CC/2002, tal 
princípio foi relativizado com vistas à melhor proteção da dignidade humana. 
 
b) Liberdade de forma 
 
No direito civil brasileiro vigora o princípio da liberdade das formas (princípio do 
consensualismo), através do qual é possível que o contrato seja celebrado pela 
simples manifestação da vontade. Os efeitos jurídicos do contrato serão gerados 
independentemente da forma pela qual a vontade se manifestou, a menos que a lei 
tenha estipulado forma específica (contratos formais). Logo, os contratos sem forma 
determinada pela lei são regra na legislação civil pátria. 
 
c) Função econômica e social do contrato. 
 
Referências legislativas: art. 421 e 2035, CC/2002. 
 
Art. 421. A liberdade de contratar deve ser exercida em razão e nos 
limites da função social do contrato. 
 
Orlando Gomes: A função econômico-social do contrato foi reconhecida, ultimamente, 
como a razão determinante de sua proteção jurídica. Sustenta-se que o Direito 
intervém, tutelando determinado contrato, devido à sua função econômico-social. Em 
conseqüência, os contratos que regulam interesses sem utilidade social, fúteis ou 
improdutivos não merecem proteção jurídica. Merecem-na apenas os que têm função 
econômico-social reconhecidamente útil. (Contratos. 17.ed. Rio de Janeiro: Forense, 
1996. p. 20) 
 
Gustavo Tepedino: Tal como observado em relação à propriedade, em que a estrutura 
interna do direito é remodelada de acordo com sua função social, concretamente 
definida, e que se constitui em pressuposto de validade do exercício do próprio 
domínio, também o contrato, uma vez funcionalizado, se transforma em um 
instrumento de realização do projeto constitucional. (...) Disto decorre que a norma do 
art. 421 não pode ser compreendida apenas como uma restrição ocasional à liberdade 
contratual – como se o direito subjetivo de contratar fosse, em si mesmo, 
essencialmente absoluto, embora sujeito a restrições externas – mas, antes, o próprio 
conceito de contrato deve ser reformulado à luz da função social que lhe é cometida. 
(Código civil interpretado: à luz da constituição federal. Rio de Janeiro: Renovar, 
2006. p. 10) 
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De uma forma ampla, a inserção do princípio da função social do contrato no Código 
de 2002 está relacionada à revolução copernicana do direito privado. Por outro lado, 
tal princípio é exigência de uma das diretrizes estruturantes do CC/2002, qual seja, o 
princípio da socialidade. Traduz a ruptura com o regime individualista da codificação 
civil anterior e a consagração de um regime com um comprometimento social, 
inspirado em preceitos constitucionais como a justiça social, a solidariedade social, os 
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e a redução das desigualdades sociais 
como preceitos de ordem constitucional. 
 
O princípio da função social do contrato está contido em uma cláusula geral que se 
revela vinculante, sobretudo do ponto de vista axiológico, pois permite sejam 
permeados valores constitucionais a orientar a autonomia contratual. Impõe deveres 
referentes a interesses extracontratuais socialmente relevantes. 
 
Enunciado n° 21, I Jornada de Direito Civil: A função social do contrato, prevista no 
CC 421, constitui cláusula geral, a impor a revisão do princípio da relatividade dos 
efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito. 
 
Enunciado n° 22, I Jornada de Direito Civil: A função social do contrato, prevista no 
CC 421, constitui cláusula geral, que reforça o princípio de conservação do contrato, 
assegurando trocas úteis e justas. 
 
Enunciado n° 23, I Jornada de Direito Civil: A função social do contrato, prevista no 
CC 421, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o 
alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse 
individual relativo à dignidade da pessoa humana. 
 
Críticas à letra do art. 421. Sugestão de alteração: a liberdade contratual será 
exercida noslimites da função social do contrato. 
 
O Código Civil, art. 2.035, p. único, atribui à função social caráter de norma cogente: 
 
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, 
constituídos antes da entrada em vigor deste código, obedece ao 
disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus 
efeitos, produzidos após a vigência deste código, aos preceitos dele 
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se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes 
determinada forma de execução. 
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar 
preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este 
código para assegurar a função social da propriedade e dos 
contratos. 
 
O parágrafo único do art. 2.035, CC/2002 consagra o chamado princípio da 
retroatividade motivada ou justificada, elevando a função social do contrato ao 
patamar de norma deordem pública e, por isso, é aplicável não apenas aos contratos 
celebrados a partir da vigência do código de 2002, mas também aos contratos 
celebrados ainda sob a égide do CC/1916 cuja execução se projetou para depois do 
CC/2002. O princípio da retoratividade motivada é um princípio anexo ao princípio da 
função social do contrato. 
 
d) principio da probidade e boa-fé contratual. 
 
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na 
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de 
probidade e boa-fé. 
 
O princípio da boa-fé objetiva também está contido em uma cláusula geral e, como 
tal, se revela vinculante, sobretudo do ponto de vista axiológico, pois permite sejam 
permeados valores constitucionais a orientar a autonomia contratual. Impõe deveres 
referentes a interesses extracontratuais socialmente relevantes. 
 
Enunciado n° 27, I Jornada de Direito Civil: Na interpretação da cláusula geral da boa-
fé objetiva, deve-se levar em conta o sistema do CC e as conexões sistemáticas com 
outros estatutos normativos e fatores metajurídicos. 
 
Boa-fé subjetiva x boa-fé objetiva. Princípios da eticidade e da socialidade. Tutela da 
confiança. 
 
A boa-fé objetiva pode ser compreendida como a exigência de conduta leal, proba, 
dos contratantes, tomada a partir de um enfoque social. Há ínsita relação da boa-fé 
objetiva com os deveres de conduta (deveres anexos, deveres secundários, deveres 
laterais), eis que a boa-fé objetiva: 
 
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Obriga as partes a terem comportamento compatível com os fins 
econômicos e sociais pretendidos objetivamente pela operação 
negocial. No âmbito contratual, portanto, o princípio da boa-fé 
impõe um padrão de conduta a ambos os contratantes no sentido da 
recíproca cooperação, com consideração aos interesses comuns, em 
vista de se alcançar o efeito prático que justifica a própria existência 
do contrato. (Código civil interpretado: à luz da constituição 
federal. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 16) 
 
Judith Martins-Costa (A boa-fé no Direito privado: sistema e tópica no processo 
obrigacional. São Paulo: Revista dos Tribunais,1999) exemplifica os deveres anexos: 
- dever de cuidado e respeito em relação ao outro contratante; 
- dever de segurança; 
- dever de prestação de contas; 
- dever de omissão de segredo; 
- dever de esclarecimento de informação; 
- dever de agir dentro da confiança; 
- dever de lealdade e probidade; 
- dever de colaboração (cooperação); 
- dever de ser razoável e agir com bom senso e eqüidade. 
 
Violação positiva do contrato: violação dos deveres de conduta. A violação positiva do 
contrato, embora não prevista expressamente na legislação civil brasileira, decorre da 
boa-fé objetiva como fonte de deveres de conduta (análise da obrigação como uma 
relação jurídica complexa), e vem sendo aceita pela doutrina pátria, conforme 
entendimento consolidado na I Jornada de Direito Civil: 
 
Enunciado n° 24, I Jornada de Direito Civil: Em virtude do princípio da boa-fé, 
positivado no CC 422, a violação dos deveres anexos constitui espécie de 
inadimplemento, independentemente de culpa. 
 
Menezes Cordeiro atenta para o fato de a violação positiva de contrato atualmente 
também estar relacionada ao cumprimento imperfeito do contrato. 
 
Extensão do princípio: envolve toda a conclusão do contrato, incluindo, assim, as fases 
pré-contratual (culpa in contrahendo) e pós-contratual (culpa post factum finitum). 
 
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Enunciado n° 25, I Jornada de Direito Civil: O CC 422 não inviabiliza a aplicação, pelo 
julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-contratual. 
 
Enunciado n° 26, I Jornada de Direito Civil: A cláusula geral contida no CC 422 impõe 
ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé 
objetiva, entendida como a exigência de comportamento legal dos contratantes. 
 
Funções da boa-fé objetiva: a doutrina aponta que a boa-fé objetiva apresenta função 
tríplice, a saber: 
 
- função interpretativa (boa-fé enquanto cânone interpretativo-integrativo): as 
relações jurídicas decorrentes do contrato devem ser interpretadas à luz da boa-fé. Tal 
mandamento se direciona tanto às partes envolvidas no contrato quanto ao 
magistrado. A função interpretativa está contida no art. 113, CC. 
 
- função criadora de deveres jurídicos (boa-fé enquanto norma criadora de deveres 
jurídicos): a boa-fé objetiva é fonte dos deveres de conduta (deveres anexos, 
deveres secundários, deveres laterais). Nesse sentido, v. Clóvis Couto e Silva (A 
Obrigação como Processo) 
 
- função de controle (boa-fé enquanto norma de limitação ao exercício de direitos 
subjetivos): a boa-fé objetiva, combinada com a disciplina jurídica do abuso de direito 
(art. 187, CC/2002) para considerar ilícitos os atos atentatórios à boa-fé objetiva e, 
por isso, proibir sua execução (Menezes Cordeiro: exercício inadmissível de direitos 
subjetivos). Ex: teoria dos atos próprios (venire contra factum proprium, tu quoque, 
supressio, surrectio e duty to mitigate the loss). 
 
Obs: Há autores (e.g. Cláudia Lima Marques) que visualizam a equivalência material 
dos contratos como outra função autônoma da boa-fé objetiva. 
 
e) outros princípios importantes: dignidade da pessoa humana; relatividade dos 
efeitos contratuais; equilíbrio contratual; atipicidade (art. 425, CC/2002). 
 
 
Interpretação e Formação dos Contratos 
 
1.4. Interpretação dos contratos 
 
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A operação interpretativa pressupõe controvérsia instaurada e não resolvida entre os 
contratantes a respeito do conteúdo do contrato, no momento de sua execução. 
 
A controvérsia sobre o sentido exato e a respectiva extensão e intensidade dos efeitos 
do conteúdo do contrato decorre da utilização de palavras ou frases confusas, 
obscuras ou dotadas de significado ambíguo. 
 
Instaurada a controvérsia, paralisam-se os efeitos do contrato e, consequentemente, a 
sua execução, cabendo ao Poder Judiciário dirimir a controvérsia, declarando com 
força vinculativa para as partes o sentido da palavra, frase ou cláusula controversa. 
 
Espécies. 
A interpretação contratual é dita declaratória quando tem como único escopo a 
descoberta da intenção comum dos contratantes no momento da celebração do 
contrato. É chamada de integrativa ou construtiva quando objetiva o aproveitamento 
do contrato, mediante o suprimento das lacunas e pontos omissos deixados pelas 
partes. 
 
A integração contratual preenche, pois, eventuais lacunas encontradas nos contratos, 
complementando-os por meio de normas supletivas, especialmente as que dizem 
respeito à sua função social, ao princípio da boa-fé, aos usos e costumes do local, bem 
como buscando encontrar a verdadeira intenção das partes, às vezes revelada nas 
entrelinhas. 
 
Seria, portanto, um modo de aplicação do direito pelo qual o órgão jurisdicional, 
mediante o recurso à lei, à analogia, aos costumes, aos princípios gerais do direito ou 
à equidade, cria norma supletiva, que completará, então, o contrato, que é uma 
norma jurídica individual. 
 
Princípios básicos 
Nos contratos e demais negócios escritos, a análise do texto (interpretação objetiva) 
conduz, em regra, à descoberta da intenção dos pactuantes. Parte-se, portanto, da 
declaração escrita para se chegar à vontade dos contratantes (interpretação 
subjetiva), alvo principal da operação. 
 
Quando determinada cláusula mostra-se obscura e passível de dúvida, alegando um 
dos contratantes que não representa com fidelidade a vontade manifestada na 
celebração da avença, e tal alegação resta demonstrada, deve prevalecer a declaração 
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em detrimento da literalidade do texto, pois, nos termos do art. 112 do CC/2002, nas 
declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao 
sentido literal da linguagem. 
 
Dois princípios hão de ser observados sempre na interpretação dos contratos: o da 
boa-fé (art. 113, já estudado na semana anterior) e o da conservação do contrato. 
 
Segundo o princípio da conservação ou aproveitamento do contrato, entende-se que 
se uma cláusula contratual permitir duas interpretações diferentes, prevalecerá a que 
possa produzir algum efeito, pois não se deve supor que os contratantes tenham 
celebrado um contrato carecedor de qualquer utilidade. 
 
Esse princípio informa a denominada conversão substancial do negócio jurídico. Assim, 
p.ex., se as partes celebraram um pretenso contrato de compra e venda de imóvel 
sem atenção às formalidades exigidas por lei, pode-se considerar o negócio como uma 
promessa de compra e venda, que não exige forma solene, para se aproveitar a 
vontade das partes. 
 
Ainda segundo o Código Civil, art. 114, os negócios jurídicos benéficos e a renúncia 
interpretam-se estritamente. São aqueles negócios que envolvem uma liberalidade, 
como na doação. Devem ter interpretação estrita, pois representam renúncia de 
direitos. 
 
Regras esparsas no código civil. Súmulas. 
 
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, 
dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. 
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. 
Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva. 
Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, 
apenas se declaram ou reconhecem direitos. 
Art. 1.899. Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações 
diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador. 
 
STF, Súmula 454. Simples interpretação de cláusulascontratuais não dá lugar a 
recurso extraordinário. 
STJ, Súmula 181. É admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto a 
exata interpretação de clausula contratual. 
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Critérios práticos para interpretação dos contratos 
(Maria Helena Diniz – Tratado teórico e prático dos contratos) 
 
* a melhor maneira de apurar a intenção dos contratantes é verificar o modo como 
vinham executando o contrato, de comum acordo; 
* deve-se interpretar o contrato, na dúvida, da maneira menos onerosa para o 
devedor; 
* as cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente, mas em 
conjunto com as demais; 
* qualquer obscuridade é imputada a quem redigiu a estipulação, pois, podendo ser 
claro, não o foi; 
* na cláusula suscetível de dois significados, interpretar-se-á em atenção ao que pode 
ser exeqüível (princípio da conservação do contrato); 
* em relação aos termos do contrato, considerar-se-á que, por mais genéricos que 
sejam, só abrangem os bens sobre os quais os interessados contratarem e não os de 
que não cogitaram; 
* nas cláusulas duvidosas, prevalecerá o entendimento de que se deve favorecer 
quem se obriga; 
* nos contratos gratuitos, a interpretação deve proceder-se no sentido de fazê-lo o 
menos pesado possível para o devedor; nos onerosos, deve-se buscar interpretar de 
modo a alcançar um equilíbrio eqüitativo entre os interesses das partes; 
* na dúvida entre a gratuidade e a onerosidade do contrato, presumir-se-á esta e não 
aquela; 
* nas convenções que tiverem por objeto uma universalidade de coisas, 
compreendem-se nela todos os bens particulares que a compõem, mesmo aqueles de 
que os contraentes não tiverem conhecimento; 
* no contrato de locação que apresentar dúvidas, resolver-se-á contra o locador; 
* no contrato seguido de outro, que o modifica parcialmente, a interpretação deverá 
considerar ambos como um todo orgânico. 
 
Unidade 2 - A FORMAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 
 
2.1 A formação dos contratos 
Fases da formação do contrato: 
 
1. negociações preliminares (puntuação): nesta fase ocorrem as tratativas para a 
celebração do contrato. Não há vínculo jurídico entre os negociantes, portanto, a não 
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conclusão do contrato não gera responsabilidade civil contratual. Na fase de puntuação 
pode ser elaborada minuta contratual. 
 
A fase negociatória, por definição, destina-
se apenas a conversações tendentes à eventualconclusão de um contrato e 
à definição de seu conteúdo, conversações que recebem nas línguas 
italiana, francesa e alemã os nomes 
de trattative, pouparlers e Verhandugen, respectivamente.(TELLES, 
Inocêncio Galvão. Manual dos contratos em geral. 4.ed. Coimbra: 
Coimbra Editora, 2002. p. 203) 
 
Obs: a responsabilidade civil pré-contratual, fundada na culpa in 
contrahendo (ilegítima frustração de um contrato esperado), é excepcional, cabendo 
diante da hipótese de violação da boa-fé objetiva. A doutrina diverge se é hipótese de 
responsabilidade aquiliana ou de uma outra espécie de responsabilidade civil, situada 
em um meio termo entre a responsabilidade contratual e a extracontratual.. 
 
Na verdade, há uma responsabilidade pré-contratual, que dá certa 
relevância jurídica aos acordos preparatórios, fundada no princípio de que 
os interessados na celebração de um contrato deverão comportar-se de 
boa-fé e nos arts. 186 e 927 do Código Civil que dispõe que todo aquele 
que, por ação ou omissão, culposa ou dolosa, causar prejuízo ao outrem 
fica obrigado a reparar o dano.(DINIZ, Maria Helena. Curso de direito 
civil brasileiro. vol. 3. São Paulo: Saraiva. 2002. p. 46) 
 
Em alguns sistemas de Direito positivo, a responsabilidade civil extracontratual está 
expressa na codificação, a exemplo do Código Civil Português, que em seu art. 227, n° 
1, assim dispõe: quem negoceia com outrem para a conclusão de um contrato deve, 
tanto nos preliminares como na formação dele, proceder segundo as regras da boa fé, 
sob pena de responder pelos danos que culposamente causar à outra parte. 
 
2. Policitação (proposta ou oblação): fase em que é feita a oferta por parte do 
proponente para que o solicitado emita seu consentimento. A proposta é 
uma declaração unilateral de vontade receptícia, estando sujeita à aceitação da 
outra parte para que produza seus efeitos. 
 
Vontade contratual: vontade formada a partir da convergência dos interesses das 
partes negociante, após o consentimento do oblato sobre a proposta do proponente. 
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Sujeitos da proposta: - proponente, policitante ou solicitante: aquele que faz a 
oferta. 
 - solicitado, policitado ou oblato: aquele para quem a 
proposta é direcionada. 
 
 
Requisitos da proposta: - séria 
 - completa 
 - clara 
 - dirigida à pessoa a quem se destina 
 
 
A proposta pode ser feita: 
 
A) Quanto à presença dos contratantes - entre presentes (inter praesentes) 
 - entre ausentes (inter absentes) 
 
O critério utilizado pela lei é o da presença jurídica e não o da presença física, como se 
extrai do art. 428, I, CC, que considera presente a pessoa que utiliza telefone ou meio 
de comunicação semelhante para contratar. Assim é que presentes são aqueles em 
que a aceitação pode ser feita imediatamente à proposta. Se o oblato precisar de 
prazo para aceitar, a proposta será considerada entre ausentes. 
 
Os contratos eletrônicos podem ser tanto entre presentes quanto entre ausentes: 
 
Nessa linha de raciocínio, poderemos considerar, mutatis mutandis, entre 
presentes, o contrato celebrado eletronicamente em um chat (salas virtuais 
de comunicação), haja vista que as partes envolvidas mantêm contato 
direto entre si quando de sua formação, e, por outro lado, entre ausentes, 
aquele formado por meio de envio de mensagem eletrônica (e-mail), pois, 
nesse caso, medeia um lapso entre a emissão da oferta e a 
resposta. (GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo 
curso de direito civil: contratos. Tomo I. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 
89). 
 
 
B) Quanto à validade: - com prazo 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
15 
 
 - sem prazo 
 
 
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não 
resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do 
caso. 
 
Princípio da vinculação ou da obrigatoriedade da proposta: a proposta feita pelo 
policitante é obrigatória. Tal princípio, contudo, comporta exceções, previstas na 
segunda parte do art. 427 e no art. 428, ambos do Código Civil/2002. 
 
Em assim sendo, o princípio da vinculação será afastado nas seguintes hipóteses: 
a) quando na proposta estiver facultado ao policitante o direito de retratação. Esta 
hipótesenão é admitida nos contratos de consumo. 
b) quando for da natureza da proposta ou quando as circunstâncias do caso assim 
determinarem. Obscuridade da legislação. 
c) se a retratação chegar antes ou ao mesmo tempo que a proposta. 
d) nas propostas entre presentes feitas sem prazo, quando o oblato não aceita 
imediatamente (contratos com declaração consecutiva). 
e) nas propostas entre ausentes, quando há tempo razoável (prazo moral) para a 
chegada da resposta do oblato (contratos com declaração intervalada). 
f) quando a proposta é feita com prazo (proposta entreausentes) e a aceitação não é 
expedida em tempo hábil. 
 
Oferta ao público 
 
Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os 
requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário não resultar das 
circunstâncias ou dos usos. 
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua 
divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada. 
 
Oferta x proposta. 
 
Contraproposta: considerada uma nova proposta, havendo, pois inversão da 
polaridade da relação inicial (o policitante passa a ser policitado e vice-versa). 
 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
16 
 
A discussão ou a modificação do conteúdo da proposta pelo 
policitado importa em nova proposta, desvinculando-se o policitante 
do conteúdo anterior. A alteração dos termos da proposta pode se 
dar: por acréscimo (adição) ou por restrição (LISBOA, Roberto 
Senise.Manual de direito civil: contratos e declarações unilaterais 
– teoria geral e espécies. 3.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2005. p. 217) 
 
3) Fase de Conclusão do Contrato 
 
Aceitação – momento da formação do contrato 
 
A aceitação faz com que a vontade contratual seja formada, fazendo com que o 
contrato seja concluído (eficácia da aceitação). O Código Civil adota, regra geral, a 
teoria da agnição (ou declaração), na modalidade expedição. É dizer, o contrato é 
formado no momento em que a vontade é expedida, independente do conhecimento 
imediato do policitante. 
 
A adoção da teoria da agnição na modalidade expedição não é absoluta. Há hipóteses 
em que o Código Civil não reconhece a formação do vínculo contratual somente com a 
expedição da proposta (proposta entre ausentes), abraçando a teoria da agnição na 
modalidade recepção: 
 
a) quando a retratação do oblato chegar antes da aceitação ou junto com esta. Nesse 
caso, a aceitação é considerada inexistente (art. 433, CC/2002). 
b) quando o policitante tiver firmado compromisso de aguardar a resposta, fixando 
como o momento da conclusão o instante do recebimento da resposta. 
c) quando a proposta não chegar no prazo convencionado. 
 
Aceitação tácita: art. 432, CC/2002. Teoria do silêncio circunstanciado. 
 
É evidente, porém, que não têm qualquer respaldo legal as disposições 
incluídas em algumas propostas no sentido de que o silêncio do destinatário 
importará na formação do contrato. (TEPEDINO, Gustavo (org). Código 
civil interpretado: conforme a Constituição Federal. Vol. 2. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2006. p. 48). 
 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
17 
 
Aceitação tardia: a aceitação tardia, quando feita com adições, restrições ou 
modificações, importará em nova proposta (art. 431, CC/2002). No entanto, quando a 
aceitação é recebida fora do prazo por motivos imprevisíveis, o policitante deverá 
imediatamente informar o oblato, sob pena de responsabilizar-se por possíveis perdas 
e danos (art. 430, CC/02 – aplicação da teoria do duty the mitigate the loss). 
 
Obs: nos contratos reais, o momento de formação do contrato é o da tradição da 
coisa. 
 
Lugar da formação do contrato: em conformidade com o art. 435, CC/2002, o contrato 
se forma no lugar em que foi feita a proposta. 
 
A FORMAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS (continuação) 
2.2 Classificação dos contratos 
2.3 Estipulação em favor de terceiros 
2.4 Da promessa de fato de terceiro 
 
Procedimentos de ensino 
2.2. Classificação dos contratos 
 
A. Contratos de Direito Comum e de Consumo 
 
Quanto à qualidade dos sujeitos contratantes, os contratos podem ser: 
 
a) Contratos de direito comum: são regulados pelo direito civil. São considerados 
contratos paritários, em decorrência do princípio da igualdade formal que informa o 
direito civil. 
 
b) Contratos de consumo: são contratos cuja polarização se dá entre consumidor e 
fornecedor. Os contratos de consumo são regulados pelas normas do Código de Defesa 
do Consumidor (Lei n° 8.078/90). 
O CDC, em seus arts. 2° e 3°, assim define consumidor e fornecedor: 
 
Art. 2°. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza 
produto ou serviço como destinatário final. 
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, 
ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
18 
 
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, 
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que 
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, 
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de 
produtos ou prestação de serviços. 
 
 
Assim, sempre que restar caracterizada relação de consumo (fornecimento de produto 
e/ou serviço a um consumidor), o contrato será de consumo e, por isso, reger-se-á 
pelas regras consubstanciadas no CDC. 
 
B. Contratos Consensuais e Contratos Reais 
Quanto ao momento do aperfeiçoamento do contrato, os contratos podem ser: 
 
a) Contratos consensuais: são aqueles que se aperfeiçoam simplesmente pela 
declaração da vontade dos contratantes. Ex: contrato de compra e venda. 
 
b) Contratos reais: são aqueles que, para se aperfeiçoarem, precisam da efetiva 
entrega da coisa (traditio rei). A declaração de vontade é elemento necessário, porém 
insuficiente, devendo ocorrer a entrega do bem para que o contrato seja celebrado. 
Ex: contrato de mútuo. 
 
Obs: aperfeiçoamento é diferente de cumprimento. 
 
C. Contratos Solenes 
Quanto à forma, os contratos podem ser: 
 
a) Solenes: aqueles cuja forma é determinada pela lei. Ex: compra e venda de imóvel 
cujo valor é supere em trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país (art. 108, 
CC/2002). 
 
Insta observar que a desobediência à forma prevista em lei gera invalidade do negócio 
jurídico. 
 
b) Não solenes: aqueles em que não há forma especial para sua celebração, seguindo, 
pois, o princípio da liberdade das formas (princípio do consensualismo). Ex: contrato 
de mandato. 
 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
19 
 
Obs: parte da doutrina diferencia o contrato solene do contrato formal. Segundo esta 
linha de pensamento, os contratos solenes são aqueles em que há exigência de 
escritura pública para a sua celebração, como o contrato de compra e venda de imóvel 
cujo valor é supere em trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país. Por outro 
lado, os contratos formais são aqueles em que há regras especiais para sua formação, 
como a exigência de forma escrita. Neste sentido, Silvio Venosa. 
 
 
D. Contratos Típicos e Atípicos 
Quanto à tipicidade, os contratos podem ser: 
 
a) Típicos: regulamentados por lei. Ex: contrato de transporte. 
 
b) Atípicos: não regulamentados por lei. Ex: contratos eletrônicos. 
 
Há parte da doutrina que não identifica como sinônimas as expressões típico e 
nominado, admitindo hipóteses de contratos nominados e atípicos, como p.ex. o 
contrato de locação de garagem ou estacionamento, previsto no art. 1°, parágrafo 
único, da Lei n° 8.245/90 (Lei de Locação). 
 
E. Contratos de Direito Público e de Direito Privado 
 
Contratos de Direito Público: são os contratos em que a Administração Pública figura 
em um dos pólos. São regidos pelas normas de direito público e, subsidiariamente, 
por normas de direito privado, no que não lhe for incompatível. Ex: contratos 
administrativos, contratos de gestão. 
 
Contratos de Direito Privado: travados entre particulares e regidos pelas normas de 
direito privado. Os contratos de direito privado podem ser de direito comum,mercantis ou de consumo. 
 
F. Contratos Bilaterais e Unilaterais 
Quanto às obrigações recíprocas, os contratos podem ser: 
 
a) unilaterais: impõem deveres a apenas uma das partes. Ex: contrato de doação. 
Obs: atentar para os chamados contratos bilaterais imperfeitos. 
 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
20 
 
b) bilaterais: impõem deveres recíprocos a ambas as partes. São chamados de 
contratos sinalagmáticos. Ex: contrato de locação. 
 
c) plurilaterais (contratos plúrimos): há direitos e deveres recíprocos entre todos os 
sujeitos envolvidos no contrato. Ex: contrato de sociedade. 
 
G. Contratos Onerosos e Gratuitos 
 
Quanto ao sacrifício patrimonial das partes, o contrato pode ser: 
 
a) Gratuito ou benéfico: é aquele em que só há sacrifício de uma das partes. Há uma 
prestação sem que haja uma contraprestação a ela correlata e proporcional. Ex: 
doação. 
 
b) Oneroso: é aquele em que há sacrifício patrimonial de ambas as partes, de modo 
que inexiste uma prestação e uma contraprestação a ela correlata e proporcional. Ex: 
troca. 
 
Todo contrato bilateral é oneroso, mas nem todo contrato unilateral é gratuito. Ex: 
mútuo feneratício, que é unilateral, porém oneroso, pois há pagamento de juros. 
 
 
H. Contratos Comutativos e Aleatórios 
 
Os contratos onerosos podem ser a) comutativos, quando ambas as partes sabem 
com exatidão suas prestações e contraprestações, e b) aleatórios, quando há a 
presença do risco (álea), que pode recair tanto na própria existência da coisa 
(contrato aleatório emptio spei – de coisa esperada), quanto na quantidade da coisa 
(contrato aleatório emptio rei speratae). 
 
I. Contratos Principais e Acessórios 
Quanto às relações recíprocas, os contratos podem ser: 
 
a) Principais: são independentes, existindo por si só. Ex: contrato de compra e venda. 
 
b) Acessórios: são aqueles que guardam uma relação de dependência com outro 
contrato, existindo em função dele. Ex: contrato de fiança, que é acessório a um 
contrato de mútuo. 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
21 
 
 
Aplicação do princípio da gravitação jurídica. 
 
Obs: contratos coligados. Os contratos coligados constituem situação intermediária 
entre os contratos principais e acessórios, pois se tratam de dois contratos principais 
por natureza, mas que, por vontade das partes, estão unidos por um nexo funcional. 
Ex: A compra de um terreno com imóvel para moradia (contrato principal) e a compra 
de outro terreno, vizinho, para área de lazer (contrato secundário). 
 
O STJ tem entendido que, em sede de contratos coligados, o inadimplemento do 
contrato principal não enseja, necessariamente, a resolução do contrato secundário, 
como ocorreria se fosse contrato acessório, em consonância com o princípio da 
gravitação jurídica. 
 
 
J. Contratos de Execução Imediata e de Execução Sucessiva 
Quanto ao momento de seu cumprimento, os contratos podem ser: 
 
a) de execução imediata (instantâneos): aqueles cujo vencimento ocorre 
concomitantemente com o aperfeiçoamento do contrato. 
 
b) de execução diferida: são contratos a termo, que deverão ser adimplidos em sua 
totalidade na data do vencimento ajustada. 
 
c) de execução continuada (execução sucessiva ou trato sucessivo): aqueles cuja 
execução se dará de forma periódica. 
 
K. Contratos de adesão 
Referências legislativas no Código Civil: arts. 423 e 424. Não há correspondência com 
o Código de 1916. 
 
Características gerais 
 
Conceito – art. 54, CDC: Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido 
aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo 
fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar 
substancialmente seu conteúdo. 
 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
22 
 
O Código Civil não conceitua o contrato de adesão. 
 
O contrato de adesão não é uma espécie contratual propriamente dita, pois nele 
podem conter diversas modalidades obrigacionais. É um método de 
contratação (MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do 
consumidor. p. 58) cuja forma de aceitação de um dos contratantes se dá com a 
simples adesão a um conteúdo pré-estabelecido pelo outro contratante. 
 
Os contratos de massa suprimem as negociações prévias, cabendo ao 
aderente aceitar ou recusar em bloco o regulamento contratual que lhe é 
apresentado. O traço essencial que os singulariza não é tanto a diferença 
econômica entre as partes, mas o poder de estabelecer unilateralmente as 
cláusulas que farão parte do instrumento contratual. (AMARAL JUNIOR, 
Alberto. Proteção do consumidor no contrato de compra e venda. p. 
115) 
 
Sujeitos: - predisponente ou estipulante – detém o poder negocial. 
 - aderente – aceita cláusulas pré-estabelecidas, sem poder de alterá-las. 
 
Características: - predisposição 
 - unilateralidade 
 - rigidez 
 
Obs: generalidade e indeterminação como características secundárias. 
 
Interpretação 
 
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas 
ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável 
ao aderente. 
 
Qualquer obscuridade na redação das cláusulas de um contrato por adesão volta-se ao 
estipulante: a interpretação lhe é contrária, prestigiando sempre o aderente, que não 
teve poder de negociação no ato de celebração do contrato. Proteção do aderente no 
plano da formação do contrato de adesão. 
 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
23 
 
O art. 47, CDC, é mais amplo, pois estabelece que as cláusulas contratuais serão 
interpretadas sempre de maneira mais favorável ao consumidor, independente de 
obscuridade ou ambigüidade da cláusula. 
 
Abusividade das cláusulas 
 
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que 
estipulem renúncia antecipada do aderente a direito resultante da 
natureza do negócio. 
 
Proteção do aderente no plano do conteúdo negocial. O estipulante, por ter o poder de 
estabelecer unilateralmente as cláusulas contratuais, não pode impor ao aderente 
renúncia antecipada de direito decorrente das características essenciais do negócio 
que está celebrando. 
 
A jurisprudência brasileira tem levado à nulidade cláusulas que contrariem 
não só o conceito de natureza, mas ainda a finalidade econômica do 
contrato, principalmente quando tal renúncia atinja o cerne mesmo daquele 
pacto. A lógica de tais decisões não se limita às relações de consumo, ainda 
que este tenha sido o seu cenário original; afinal, como já visto, o art. 422 
também prescreve a necessidade de se preservar a boa-fé objetiva no 
âmbito dos contratos paritários. (TEPEDINO, Gustavo (org). Código civil 
comentado: à luz da Constituição Federal. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. 
p. 31.) 
 
As cláusulas abusivas são nulas (nulidade absoluta); isso não significa, porém, que 
necessariamente haverá nulidade de todo o contrato. 
 
2.3. Estipulação em favor de terceiros 
 
Princípio da relatividade dos efeitos contratuais: os contratos geram efeitos apenas 
entre as partes, nos limites impostos pela lei e pelo exercício da autonomia privada. 
 
A regra geral é, portanto, que os contratos produzem efeitos tão-somente aos 
contratantes, excluindo todos aqueles alheios à avença. No entanto, situações há em 
que os efeitos do contrato alcançarão terceiros, tornando-os interessados na relação 
contratual. Tais efeitos podem lhes ser benéficos ou prejudiciais. 
 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
24 
 
Quando maléficos (contratoem prejuízo de terceiros), pode o terceiro interessado 
opor-se, por legitimação ordinária ou extraordinária, para resguardar seus direitos. 
Ex: evicção. 
 
É possível, porém, que os efeitos sejam em benefício do terceiro interessado, situação 
em que há estipulação em favor de terceiro. 
 
Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento 
da obrigação. 
Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, 
também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e 
normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não inovar nos termos 
do art. 438. 
 
Roberto Senise Lisboa: a estipulação em favor de terceiro é o negócio jurídico por 
meio do qual se ajusta uma vantagem pecuniária em prol da pessoa que não o 
celebra, mas se restringe a colher seus benefícios. (Manual de Direito civil: 
contratos e declarações unilaterais: teoria geral e espécies. Vol. 3. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2005. p. 251.) 
 
A gratuidade da relação entre o estipulante e o terceiro interessado (beneficiário), 
bem como entre o beneficiário e o promitente é característica fundamental da 
estipulação em favor de terceiro, de modo que é inadmissível a exigência de 
contraprestação por parte do terceiro interessado para que possa este receber os 
benefícios pactuados. A gratuidade, no entanto, não obsta a aposição de encargo ao 
terceiro. 
 
Compensação: como os efeitos contratuais recairão sobre terceiros, não pode haver 
compensação entre o promitente e o estipulante. Todavia, há que ser considerada a 
possibilidade de compensação entre promitente e beneficiário. 
 
Legitimação: deve ser observado eventual impedimento de o benefício ser recebido 
pelo beneficiário diretamente do estipulante. 
 
Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o 
direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o 
devedor. 
 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
25 
 
O terceiro interessado pode aceitar ou recusar o benefício que recebe. Uma vez 
aceitando, deve se submeter às regras contratuais. Ao direito de exigir o cumprimento 
da obrigação estipulada, concorrem, regra geral, o estipulante e o beneficiário. 
Entretanto, pode o estipulante determinar que tal direito seja exclusivo do beneficiário 
– nessa circunstância, o estipulante não pode mais praticar qualquer ato que importe 
em perda ou diminuição do direito subjetivo do terceiro interessado em receber o 
benefício ajustado. 
 
Há, pois, dois momentos na estipulação em favor de terceiro: 
a) Antes da aceitação do beneficiário. Nesta fase, o estipulante pode revogar a 
qualquer tempo o benefício. 
b) Depois da aceitação do beneficiário. Nesta fase, a estipulação torna-se 
irretratável, excetuando somente a situação descrita no art. 438. 
 
Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro 
designado no contrato, indepedentemente da sua anuência e da do outro 
contratante. 
Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por 
disposição de última vontade. 
 
A possibilidade de substituição revela o caráter dispositivo da irretratabilidade da 
estipulação. Todavia, a substituição deve ser expressa. 
 
 2.4. Promessa de fato de terceiro 
 
Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por 
perdas e danos, quando este o não executar. 
Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o 
cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, 
e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, 
venha a recair sobre os seus bens. 
Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por 
outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação. 
 
A promessa de fato de terceiro é fonte de uma obrigação de fazer, qual seja, fazer 
com que uma pessoa integre relação jurídica com outra. Em outras palavras, o 
devedor tem a obrigação de convencer que terceiro celebre negócio jurídico (facere) 
com o credor. O adimplemento dessa obrigação, portanto, ocorre com a formação da 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
26 
 
relação jurídica entre o terceiro e o credor (da relação originária), motivo pelo qual o 
devedor (aquele que prometeu fato de terceiro) não se compromete com o 
cumprimento do negócio celebrado com o terceiro. 
 
 
A FORMAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS (continuação) 
 2.5 Dos vícios redibitórios 
2.6 Da evicção 
 
Procedimentos de ensino 
2.5. Dos vícios redibitórios 
São defeitos ocultos que tornam a coisa imprópria para o uso a que é destinada ou 
que, se fossem conhecidos, impediriam a realização do contrato. 
 
Os vícios redibitórios autorizam o comprador a rejeitar a coisa recebida e redibir o 
contrato (ação redibitória) ou a pedir o abatimento do preço pago (ação 
estimatória ou quanti minoris), nos termos do art. 442 do CC/2002. As ações 
destinadas a combater os vícios redibitórios são também chamadas de ações edilícias 
(redibitória ou estimatória). 
 
Os defeitos aparentes ou de fácil constatação não autorizam o comprador a rejeitar a 
coisa recebida e redibir o contrato, ou pedir o abatimento do preço pago. Exige-se do 
comprador a diligência do homem médio, um mínimo de cuidado ao comprar a coisa. 
 
A proteção contra os vícios redibitórios aplica-se a todos os contratos comutativos ou 
onerosos, bem como às doações gravadas com encargos, pois estas se assemelham 
àqueles (CC, 441). 
 
O prazo para a propositura da ação é curto. O adquirente deve propor a ação em trinta 
dias, em caso de bem móvel, ou em um ano, no caso de imóvel, a contar da data da 
entrega efetiva (CC, 445). Nos termos do § 1º do referido artigo, quando o vício, por 
sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em 
que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de 
bens móveis; e de um ano, para os imóveis. Importante esclarecer que o prazo para 
manejo das ações edilícias é decadencial. 
 
A responsabilidade por vícios redibitórios independe de culpa ou má-fé do vendedor, 
de modo que o desconhecimento de tais vícios não o isenta de responsabilidade. 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
27 
 
Nesse caso, o alienante deve restituir o preço recebido e as despesas efetuadas pelo 
comprador na celebração do contrato (CC, 443). 
 
Contudo, caso o vendedor conhecesse os defeitos ocultos, a sua responsabilidade 
aumenta, podendo vir a ser condenado a restituir o preço recebido e a indenizar 
eventuais perdas e danos experimentados pelo comprador (CC, 443). 
 
Na sistemática do Código Civil revogado, era permitido ao vendedor incluir uma 
cláusula excluindo sua responsabilidade por vícios redibitórios (art. 1.101 do 
CC/1916), o que não foi repetido pelo novo Código. Assim, segundo parte da doutrina, 
a partir da vigência do Código Civil de 2002 deve ser considerada nula a cláusula que 
isente a responsabilidade por vício redibitório. 
 
Nas relações de consumo, as regras do vício redibitório são distintas. Vide o art. 18 da 
Lei nº. 8.078/90. 
 
2.6. Evicção 
A evicção é a perda total ou parcial de um bem em razão de sentença que o atribui a 
outrem por direito anterior ao contrato. A garantia contra a evicção é obrigação do 
alienante que deriva automaticamente do contrato. Assim, nos contratos onerosos 
pelos quais se transfere o domínio, posse ou uso, o alienante deve garantir o 
adquirente dos riscos da evicção e indenizá-lo na eventualidade de vir a perder o bem 
por força de sentença que reconheceu direito de outrem.Na redação do art. 447 do novo Código Civil, menos restritiva do que aquela do 
Código revogado, pode-se considerar evicção, também, a perda do domínio do bem 
pelo implemento de condição resolutiva, pela apreensão policial de coisa furtada ou 
roubada em momento anterior à aquisição ou pela privação da coisa por ato 
inequívoco de qualquer autoridade. A única excludente prevista pelo CC/2002 para a 
responsabilidade pela evicção é a ciência por parte do comprador de que a coisa 
adquirida é alheia ou litigiosa. 
 
Requisitos da evicção 
a) a onerosidade da aquisição do bem, o que afasta a figura nos contratos gratuitos; 
b) a perda, total ou parcial, da propriedade ou da posse da coisa alienada pelo 
adquirente; 
c) sentença judicial com trânsito em julgado, reconhecendo a evicção, salvo as 
exceções mencionadas no parágrafo anterior (p.ex., apreensão policial). 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
28 
 
 
Sujeitos 
- alienante: sujeito que transfere a coisa; 
- evicto ou evencido: adquirente da coisa; 
- evictor ou evencente: sujeito que alega direito anterior ao do alienante. 
 
Uma vez caracterizada a evicção, o adquirente tem direito de pedir a restituição 
integral do preço, a indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir, as 
despesas do contrato e a indenização dos prejuízos que resultem diretamente da 
evicção (CC, 450), incluindo as custas processuais e os honorários advocatícios. 
 
A garantia da evicção pode ser renunciada pelo adquirente. Contudo, a eficácia da 
cláusula que exclui a evicção varia, conforme o adquirente tenha ou não real 
conhecimento do risco da evicção (CC, 449). Se o adquirente tinha conhecimento dos 
riscos da evicção e concordou com a cláusula exonerando a responsabilidade (cláusula 
de irresponsabilidade pela evicção ou cláusula non praestenda evictione), deve 
suportar os riscos (CC, 457). 
 
A evicção pode ser total ou parcial. Neste último caso, pode o evicto optar entre a 
extinção do contrato e conseqüente indenização conforme o art. 450, CC, ou a 
manutenção do pacto com reembolso do que foi perdido ao evictor, mais eventuais 
perdas e danos. 
 
Obs: dificuldade em precisar o conceito indeterminado ‘evicção parcial considerável’ 
contido no art. 455, CC. 
 
Necessidade de denunciação da lide 
O exercício dos direitos assegurados pela garantia contra a evicção depende de prévia 
comunicação do adquirente (evicto) ao alienante, que deve ser instrumentalizada 
através da figura da denunciação da lide (CC/2002, 456; CPC, art. 70, I). Nos termos 
do parágrafo único do art. 456 do CC/2002, não atendendo o alienante à denunciação 
da lide, e sendo manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente deixar de 
oferecer contestação, ou usar de recursos. 
 
Entretanto, a jurisprudência tem suavizado o aparente rigor do art. 456, CC, 
entendendo que a denunciação da lide não é obrigatória, sendo somente necessária 
para que a restituição ao evicto pelo alienante seja feita no mesmo processo. Assim, 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
29 
 
ainda que o evicto não faça a denunciação da lide, ainda poderá ser indenizado 
através de ação própria. Sobre o tema, o STJ já se posicionou: 
 
Direito civil e processual civil. Recurso especial. Compra e venda 
de imóvel rural. Evicção. Ação de indenização por perdas e 
danos. Denunciação da lide. Ausência de obrigatoriedade. 
Natureza da venda. Reexame de fatos e provas. Interpretação 
de cláusulas contratuais. Embargos de declaração. Ausência de 
omissão, contradição ou 
obscuridade. Juros moratórios. Sucumbência recíproca. 
- Para que possa exercitar o direito de ser indenizado, em ação 
própria, pelos efeitos decorrentes da evicção, não há 
obrigatoriedade de o evicto promover a denunciação da lide em 
relação ao antigo alienante do imóvel na ação em que terceiro 
reivindica a coisa. Precedentes. 
- Adentrar na discussão sobre a natureza da venda, demandaria 
a incursão no campo de fatos e provas apresentados no 
processo, bem assim, a interpretação de cláusulas contratuais, 
expedientes vedados pelas Súmulas 5 e 7 do STJ. 
- Não se conhece do recurso especial quando o Tribunal de 
origem decidiu fundamentadamente as questões necessárias ao 
deslinde da controvérsia, sem omissões, contradições, tampouco 
obscuridades no julgado, embora em sentido diverso do 
pretendido pelos recorrentes. 
- Os juros moratórios são fixados a partir da citação, no patamar 
de 0,5% ao mês, até a data de 10/1/2003; a partir de 
11/1/2003, o percentual dos juros moratórios incide à razão de 
1% ao mês. 
- Verificada a sucumbência recíproca, devem ser compensados 
os honorários advocatícios. 
Primeiro recurso especial não conhecido. Segundo recurso 
especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. Ônus 
sucumbenciais redistribuídos na lide secundária. 
(REsp 880698 / DF. Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI. TERCEIRA 
TURMA. DJ 23/04/2007 p. 268) 
 
PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE 
INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS. VEÍCULO IMPORTADO. 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
30 
 
EVICÇÃO. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. AUSÊNCIA DE 
OBRIGATORIEDADE. 
1. Esta Corte tem entendimento assente no sentido de que 
"direito que o evicto tem de recobrar o preço, que pagou 
pela coisa evicta, independe, para ser exercitado, de ter 
ele denunciado a lide ao alienante, na ação em que 
terceiro reivindicara a coisa" (REsp 255639/SP, Rel. Min. 
CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Terceira Turma, DJ de 
11/06/2001). 
2. Agravo regimental desprovido. 
(AgRg no Ag 917314 / PR. Rel. FERNANDO GONÇALVES. 
QUARTA TURMA. DJe 22/02/2010) 
 
Outra situação interessante da jurisprudência é a admissão da denunciação da lide per 
saltum, a qualquer alienante da cadeia dominial. Aliás, a denunciação per saltum é 
também autorizada pelo enunciado 29 da I Jornada de Direito Civil: 
 
A interpretação do art. 456 do novo Código Civil permite ao evicto a denunciação da 
lide de qualquer dos responsáveis pelo vício. 
A FORMAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS (continuação) 
2.7 Do contrato preliminar 
2.8 Da extinção dos contratos 
 
Procedimentos de ensino 
2.7. Do contrato preliminar 
 
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter 
todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. 
 
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do 
disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula 
de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a 
celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. 
Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro 
competente. 
 
Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, 
suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
31 
 
ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da 
obrigação. 
 
Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, 
poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos. 
 
Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena 
de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela 
previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado 
pelo devedor. 
 
Contrato preliminar, também conhecido como pré-contrato, promessa de contratar, 
contrato preparatório ou compromisso, é a convenção de que se valem as partes, em 
uma fase inicial de entabulamento de negócio, para obrigarem, ou uma delas, à 
outorga futura de um contrato definitivo. É fonte de uma obrigação de fazer, qualseja, 
celebrar um contrato definitivo. 
 
Nos dizeres de Antônio Chaves, “objeto do contrato preliminar é a celebração de um 
futuro contrato que será solutório (resolutivo), uma vez que dá cumprimento às 
obrigações assumidas no contrato anterior, e ao mesmo tempo, constitutivo, pelas 
novas relações que dele resultarão em caráter definitivo”. 
 
Em certos casos, o contrato preliminar, preenchendo determinados requisitos legais, 
essenciais do contrato definitivo visado, chega a confundir-se com ele, conferindo 
direito real sobre o objeto da contratação, a possibilitar a concretização negocial 
futura, por via judicial (adjudicação compulsória), como na hipótese do compromisso 
de compra e venda de imóvel para pagamento parcelado celebrado na forma dos arts. 
1.417 e 1.418, CC/18. 
 
O novo Código Civil cuidou das bases do contrato preliminar nos arts. 462 a 466, 
estabelecendo que, exceto à forma, deve ele apresentar-se com os mesmos requisitos 
essenciais do contrato definitivo, a ser celebrado (art. 462). Trata-se, portanto, de 
contrato não formal, mesmo sendo solene o contrato definitivo. 
 
2.8. Extinção dos contratos 
1. Modo normal de extinção do contrato. 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
32 
 
O contrato, assim como as obrigações, possui um ciclo vital. Nasce do acordo de 
vontades, produz os efeitos que lhe são peculiares e extingue-se. Como nos ensina 
Humberto Theodoro Júnior, “o vínculo contratual é, por natureza, passageiro e deve 
desaparecer, naturalmente, tão logo o devedor cumpra a prestação prometida ao 
credor”. 
A extinção do contrato se dá, via de regra, pela execução, seja instantânea (imediata 
ou diferida) ou continuada. O cumprimento da prestação libera o devedor e satisfaz o 
credor. Este é o meio normal de extinção do contrato. Sobre a prova do cumprimento 
(ou pagamento, como quer a lei civil), consulte o art. 320 do CC, que trata 
da quitação. 
 
2. Modos anormais de extinção do contrato. Extinção do contrato sem cumprimento. 
2.1. Causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato: 
As causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato são: a) defeitos 
decorrentes do não-preenchimento de seus requisitos subjetivos (capacidade das 
partes e livre consentimento), objetivos (objeto lícito, possível, determinado ou 
determinável) eformais (forma prescrita em lei), que afetam a sua validade, 
acarretando a nulidade absoluta ou relativa do contrato; b) o implemento da cláusula 
resolutiva, expressa ou tácita; e c) o exercício do direito de arrependimento 
convencionado. Vejamos cada uma. 
 
a) Nulidade absoluta e relativa. 
A nulidade absoluta resulta da ausência de elemento essencial do ato, com 
transgressão a preceito de ordem pública, impedindo que o contrato produza efeitos 
desde a sua formação (ex tunc). O Código Civil enumera hipóteses de nulidade em 
seus artigos 166 e 167. 
O pronunciamento da nulidade pode ser requerido em juízo a qualquer tempo, por 
qualquer interessado, podendo ser declarada de ofício pelo juiz ou sob provocação do 
Ministério Público (CC, 168). 
Nos termos do art. 170 do CC/2002, se o negócio jurídico nulo contiver os requisitos 
de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o 
teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. Seria a hipótese de contrato de 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
33 
 
compra e venda de imóvel celebrado sem a observância da forma prevista em lei, 
gerando a nulidade do contrato (CC, 166, IV); no caso, poderá o juiz considerar o 
contrato de compra e venda nulo como uma promessa de compra e venda, em 
atenção ao princípio da conservação do negócio jurídico. É a denominada conversão 
do negócio jurídico. 
A nulidade absoluta é tratada com rigor pelo legislador civil. Assim, nos termos do art. 
169 do CC/2002, o negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem 
convalesce pelo decurso do tempo. 
A nulidade relativa ou anulabilidade resulta da imperfeição da vontade: ou porque 
emanada de um relativamente incapaz não assistido, ou porque contém algum dos 
vícios do consentimento (erro, dolo, coação etc.). Como pode ser sanada e até mesmo 
não argüida no prazo prescricional, não extinguirá o contrato enquanto não se mover 
a ação que a decrete, com efeitos ex nunc. 
A anulabilidade, diversamente da nulidade, não pode ser argüida por qualquer das 
partes da relação contratual, nem declarada de ofício pelo juiz. Legitimado a pleitear a 
anulação é somente o contraente em cujo interesse foi estabelecida a regra (CC, 177). 
É de se notar que, enquanto a nulidade absoluta visa tutelar interesse público, pois 
houve violação de normas de ordem pública, a anulabilidade resguarda precipuamente 
o interesse das partes. 
 
b) Cláusula resolutiva. 
Na execução do contrato, cada contraente pode pedir a resolução do acordo, se o 
outro não cumpre as obrigações avençadas. Essa faculdade pode resultar de 
estipulação ou de presunção legal. 
Quando as partes convencionam, diz-se que estipulam cláusula resolutiva 
expressa oupacto comissório expresso. Na ausência de estipulação, tal pacto é 
presumido pela lei, que subentende a existência da cláusula resolutiva. É a 
denominada cláusula resolutiva implícitaou tácita. 
Em todo contrato bilateral ou sinalagmático presume-se a existência de uma cláusula 
resolutiva tácita, autorizando o lesado pelo inadimplemento a pleitear a resolução do 
contrato, com perdas e danos. Assim: 
 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
34 
 
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do 
contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer 
dos casos, indenização por perdas e danos. 
Nestes termos, o contratante pontual tem, diante do inadimplente, duas alternativas: 
pleitear a resolução do contrato ou exigir-lhe o cumprimento mediante execução 
específica (CPC, art. 461). Em qualquer das hipóteses, terá direito a indenização por 
perdas e danos. 
Nos termos do art. 474 do CC/2002, a cláusula resolutiva expressa opera de pleno 
direito; a tácita depende de interpelação judicial. Em ambos os casos, tanto no de 
cláusula resolutiva expressa quanto tácita, a resolução deve ser judicial, ou seja, 
precisa ser pronunciada pelo juiz. A sentença que reconhecer a cláusula expressa e o 
direito à resolução terá efeito meramente declaratório, ex tunc, portanto. Sendo a 
cláusula tácita, a sentença tem efeito desconstitutivo, dependendo de interpelação 
judicial, ou seja, a cláusula só produz efeitos após a interpelação. 
 
c) Direito de arrependimento. 
Desde que expressamente previsto no contrato, o arrependimento autoriza qualquer 
das partes a rescindir o ajuste, mediante declaração unilateral da vontade, sujeitando-
se à perda do sinal, ou à sua devolução em dobro, sem, no entanto, pagar indenização 
suplementar. Estamos diante das arras penitenciais, previstas no art. 420 do CC/2002. 
O direito de arrependimento deve ser exercido no prazo convencionado, ou antes da 
execução do contrato, se nada foi estipulado a respeito, pois o cumprimento do 
contrato implica em renúncia tácita do direito de arrepender-se. O Código de Defesa 
do Consumidor prevê hipótese especial de direito de arrependimento em seu art. 49, 
para os casos de contratação fora do estabelecimento comercial (por telefone, fax, 
internet). O prazo para o consumidor se arrepender é de 7 dias. 
 
2.2. Causas supervenientes à formação do contrato. 
Verifica-se a dissolução do contrato em função de causas posteriores à sua criação nas 
seguintes hipóteses: a) resolução, como conseqüência do seu 
inadimplemento voluntário,involuntário ou por onerosidadeexcessiva; b) resilição, 
pela vontade de um ou de ambos os contratantes; c) morte de um dos contratantes, 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
35 
 
se o contrato for personalíssimo; e d) rescisão, modo específico de extinção de certos 
contratos. Vejamos. 
 
a) Resolução. 
Nem sempre os contratantes conseguem cumprir com aquilo que foi avençado, em 
razão de situações supervenientes, que impedem ou prejudicam a execução do 
contrato. A extinção do contrato mediante resolução tem como causa a inexecução ou 
incumprimento por um dos contratantes. 
Segundo Orlando Gomes, “resolução é um remédio concedido à parte para romper o 
vínculo contratual mediante ação judicial”. O inadimplemento pode ser voluntário 
(culposo) ou involuntário (sem culpa). 
 
a.1) Resolução por inexecução voluntária. 
Decorre de comportamento culposo de um dos contratantes, com prejuízo ao outro. 
Produz efeitos ex tunc, extinguindo o que foi executado e obrigando a restituições 
recíprocas, sujeitando ainda o inadimplente ao pagamento de perdas e danos e 
da cláusula penal. 
Entretanto, se o contrato for de trato sucessivo, como no caso de locação ou 
fornecimento de matéria prima, a resolução não produz efeito em relação ao pretérito, 
não se restituindo as prestações cumpridas. Há efeito ex nunc. 
A resolução do contrato por incumprimento é subordinada à condição de que a falta 
não seja irrelevante ou de importância reduzida, levando-se em conta o interesse da 
parte que sofre seus efeitos. Seria absurdo se cada parte fosse legitimada a 
desembaraçar-se do contrato, tomando por pretexto toda a mínima e insignificante 
inexatidão na execução da outra parte (Enzo Roppo). Por outro lado, se uma parte 
sempre manifestou tolerância por uma certa margem de atraso ou de pagamento de 
valor inexato, pouco inferior ao convencionado, isto pode ter relevância para excluir a 
possibilidade de resolução do contrato por falta de cumprimento integral. 
O juiz, ao avaliar tais circunstâncias caso a caso, deverá levar em conta os princípios 
da boa-fé e da função social do contrato, bem como as legítimas expectativas das 
partes em relação à complexidade econômica do negócio. 
 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
36 
 
Exceção do contrato não cumprido. 
Vem prevista no art. 476 do CC/2002, nestes termos: nos contratos bilaterais, 
nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o 
implemento da do outro. A sede natural da exceção em comento encontra-se nos 
contratos bilaterais ou sinalagmáticos, que envolvem prestações recíprocas, atreladas 
umas às outras. Se uma das prestações não é cumprida, deixa de existir causa para o 
cumprimento da outra. 
Repugna ao direito que o contratante inadimplente, nestas condições, pretenda 
compelir a outra parte a cumprir com a sua prestação. Caso o faça, sua pretensão 
será paralisada pelaexceptio non adimpleti contractus. Nenhuma das partes, sem 
cumprir o que lhe cabe, pode exigir da outra que o faça. 
Para o manejo da exceção do contrato não cumprido é fundamental que, além de 
recíprocas, as prestações sejam simultâneas, pois, caso contrário, sendo diferente o 
momento da exigibilidade de cada prestação, não podem as partes invocar tais 
defesas. Quando as prestações não são simultâneas, mas sim sucessivas, a exceção 
não pode ser oposta pela parte a quem caiba prestar primeiro. Se não foi estipulado o 
momento da execução, entendem-se simultâneas as prestações. 
Se um dos contraentes cumpriu apenas em parte, ou de forma defeituosa, a sua 
obrigação, quando se comprometera a cumpri-la integral e corretamente, cabível se 
torna a oposição, pelo outro, da exceção do contrato parcialmente cumprido, 
ou exceptio non rite adimpleti contractus. Diferencia-se da exceção non adimpleti 
contractus porque essa pressupõe completa e absoluta inexecução do contrato. Na 
prática, contudo, a primeira é abrangida pela segunda. 
 
a.2) Resolução por inexecução involuntária. 
A resolução pode também decorrer de fato não imputável às partes, como nas 
hipóteses de fato de terceiro ou de acontecimentos inevitáveis, alheios à vontade dos 
contraentes, denominados caso fortuito ou força maior, que tornam impossível o 
cumprimento da obrigação. 
A inexecução involuntária caracteriza-se pela impossibilidade superveniente de 
cumprimento do contrato. Há de ser objetiva, ou seja, não dizer respeito à própria 
pessoa do devedor, pois deixa de ser involuntária se de alguma forma este concorre 
para que a prestação se torne impossível. 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
37 
 
A impossibilidade deve ser, também, total, pois se a inexecução for parcial e de 
pequena proporção, o credor pode ter interesse em que, mesmo assim, o contrato 
seja cumprido. Por outro lado, há de ser definitiva, pois via de regra a inexecução 
temporária acarreta apenas a suspensão do contrato. 
O inadimplente não fica, no caso de inexecução involuntária, responsável pelo 
pagamento de perdas e danos, salvo se expressamente se obrigou a ressarcir 
os prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, ou se estiver em mora (CC, 
arts. 393 e 399): 
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso 
fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles 
responsabilizado. 
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato 
necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. 
 Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, 
embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se 
estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que 
o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente 
desempenhada. 
 
A resolução opera de pleno direito. Cabe a intervenção judicial para proferir sentença 
declaratória e obrigar o contratante a restituir o que recebeu. O efeito da resolução 
por inexecução decorrente do fato fortuito e da força maior é retroativo, da mesma 
forma como ocorre na resolução por inexecução culposa, com a diferença que, na 
primeira hipótese, o devedor não responde por perdas e danos. Todavia, deve restituir 
o que eventualmente tenha recebido, uma vez resolvido o contrato. 
 
a.3) Resolução por onerosidade excessiva. 
Os contratos devem ser cumpridos nos termos em que foram pactuados. Contudo, os 
negócios jurídicos podem sofrer as conseqüências de modificações posteriores das 
circunstâncias que os justificaram, com quebra insuportável da equivalência das 
prestações. Tal constatação deu origem ao princípio da revisão dos contratos ou da 
onerosidade excessiva. 
Civil III – Profº Fernando Fraga 
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A partir da Idade Média, desenvolveu-se a teoria rebus sic stantibus, que presume, 
nos contratos comutativos, de trato sucessivo e execução diferida, a existência 
implícita de umacláusula, pela qual a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe 
a inalterabilidade da situação de fato. Se esta, no entanto, modificar-se em razão de 
acontecimentos extraordinários, como uma guerra, que tornem excessivamente 
oneroso para uma das partes o adimplemento de sua prestação, poderá esta requerer 
ao juiz que a isente da obrigação, total ou parcialmente. 
O Código Civil de 2002 reconheceu o direito à alteração do contrato em situações 
específicas, dedicando uma seção, composta de três artigos, à resolução dos contratos 
por onerosidade excessiva. Assim: 
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação 
de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema 
vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e 
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução

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