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Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 85 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................................................................... 2 TÓPICOS DA AULA DE HOJE ........................................................................................................................................................... 3 SOCIEDADE LIMITADA ...................................................................................................................................................................... 3 APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DAS NORMAS DAS SS OU LEI DAS SAS................................................................................ 3 NOME EMPRESARIAL DAS SOCIEDADES LIMITADAS ............................................................................................................ 4 ASPECTO MAIS COBRADO EM PROVAS ...................................................................................................................................... 4 CAPITAL SOCIAL DA LTDA ............................................................................................................................................................... 4 RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS NAS LTDAS ...................................................................................................................... 6 CESSÃO DE QUOTAS NAS SOCIEDADES LIMITADAS ........................................................................................................... 7 ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA ........................................................................................................................... 7 CONSELHO FISCAL NAS SOCIEDADES LIMITADAS ............................................................................................................... 9 DELIBERAÇÕES NAS SOCIEDADES LIMITADAS .................................................................................................................... 10 EXCLUSÃO EXTRAJUDICIAL DE SÓCIO MINORITÁRIO ....................................................................................................... 11 SOCIEDADES POR AÇÕES ............................................................................................................................................................. 13 SOCIEDADES ANÔNIMAS ............................................................................................................................................................... 13 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS .................................................................................................................................................. 13 SOCIEDADE DE CAPITAL ................................................................................................................................................................ 13 OBJETO E FORMAÇÃO POR ESTATUTO SOCIAL .................................................................................................................... 13 RESPONSABILIDADE DOS ACIONISTAS ................................................................................................................................... 14 TIPOS DE SOCIEDADES ANÔNIMAS .......................................................................................................................................... 14 NOME EMPRESARIAL ....................................................................................................................................................................... 15 MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS ..................................................................................................................................... 15 CONSTITUIÇÃO DE UMA SA .......................................................................................................................................................... 16 CAPITAL SOCIAL DA SA .................................................................................................................................................................. 19 AÇÕES ................................................................................................................................................................................................... 21 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES ....................................................................................................................................................... 22 DIREITOS ESSENCIAIS DOS ACIONISTAS .............................................................................................................................. 26 DIREITO DE VOTO ............................................................................................................................................................................ 26 ACIONISTA CONTROLADOR .......................................................................................................................................................... 28 ACORDO DE ACIONISTAS OU CONTRATO PARASSOCIAL ................................................................................................. 28 VALORES MOBILIÁRIOS ................................................................................................................................................................. 30 ADMINISTRADORES DA SOCIEDADE ANÔNIMA.................................................................................................................... 31 ÓRGÃOS DA SOCIEDADE ANÔNIMA .......................................................................................................................................... 33 ASSEMBLÉIA GERAL ......................................................................................................................................................................... 34 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................................................................ 36 DIRETORIA .......................................................................................................................................................................................... 38 CONSELHO FISCAL ........................................................................................................................................................................... 40 OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS ........................................................................................................................................................... 41 TRANSFORMAÇÃO ............................................................................................................................................................................. 42 FUSÃO ................................................................................................................................................................................................... 43 CISÃO .................................................................................................................................................................................................... 43 INCORPORAÇÃO ................................................................................................................................................................................ 44 SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES ............................................................................................................................... 44 DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃODAS SOCIEDADES ......................................................................................... 46 DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DAS SOCIEDADES DE ACORDO COM O CÓDIGO CIVIL .................. 46 DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DE ACORDO COM A LEI DAS SOCIEDADES POR AÇÕES ................ 49 QUESTÕES COMENTADAS ............................................................................................................................................................. 53 QUESTÕES COMENTADAS NESTA AULA ................................................................................................................................... 78 GABARITO DAS QUESTÕES COMENTADAS NESTA AULA .................................................................................................. 85 AULA 03: 5. SOCIEDADE LIMITADA. SOCIEDADES POR AÇÕES. OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS. DISSOLUÇÃO E LIQUIDAÇÃO DE SOCIEDADES. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 85 APRESENTAÇÃO Olá, meus amigos. Como estão?! Sejam bem-vindos a mais uma aula de DIREITO EMPRESARIAL para o concurso de AUDITOR FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Agradeço, novamente, a todos por estarem em mais um encontro conosco, depositando confiança neste humilde trabalho. Relembremos o nosso edital, já deixando grifados os pontos vistos nas primeiras aulas: DIREITO COMERCIAL: 1. Empresa. Empresário. Estabelecimento. 2. Microempresa e empresa de pequeno porte (Lei Complementar nº 123/2006). 3. Prepostos. Escrituração. 4. Conceito de sociedades. Sociedades não personificadas e personificadas. Sociedade simples. 5. Sociedade limitada. Sociedades por ações. Sociedade cooperativa. Operações societárias. Dissolução e liquidação de sociedades. 6. Recuperação judicial e extrajudicial. Falência. Classificação creditória. 7. Nota promissória. Cheque. Duplicata. Hoje, veremos: Aula 03: 5. Sociedade limitada. Sociedades por ações. Operações societárias. Dissolução e liquidação de sociedades. Aproveitamos para incluir algumas questões apresentadas no concurso de Analista de Finanças e Controle, da CGU, último concurso realizado pela nossa ESAF. Vamos aos trabalhos? Temos muito assunto pela frente! Deixamos nosso e-mail, para dúvidas: gabrielrabelo@estrategiaconcursos.com.br Quaisquer dúvidas, por favor, enviem, estamos à disposição. Forte abraço! Gabriel Rabelo Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 85 TÓPICOS DA AULA DE HOJE Da aula de hoje, vocês aprenderão basicamente o seguinte: Aula 03: 5. Sociedade limitada. Sociedades por ações. Operações societárias. Dissolução e liquidação de sociedades. Sem dúvida são os assuntos mais cobrados em concurso quando a matéria é direito empresarial. Portanto, não hesitem em estudar o máximo de vezes que puderem esta aula. SOCIEDADE LIMITADA Esse assunto é, sem dúvida, o mais cobrado em concursos quando o tema é direito societário. Até por que a sociedade limitada é, disparado, o tipo mais utilizado na praxe brasileira. Vamos estudá-lo em suas minúcias! A sociedade limitada tem seu regramento no Código Civil, artigos 1.052 a 1.087. Mas, professor, e se algum tema de relevância não estiver tratado dentro destes artigos? APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DAS NORMAS DAS SS OU LEI DAS SAS Neste caso, o Código Civil prevê que: Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da sociedade simples. Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima. Assim, pela inteligência do caput do artigo 1.053, na omissão do regramento próprio para a sociedade limitada, aplicar-se-ão as regras tratadas para as sociedades simples, já por nós estudada. Contudo, pode o contrato social prever a aplicação da lei das sociedades por ações (Lei 6.404/76), como se infere do parágrafo único. Fica assim: APLICAÇÃO DE NORMAS SUBSIDIRIAMENTE NAS LIMITADAS 1) Se o contrato social não dispuser sobre o assunto, ser-lhe-ão aplicadas supletivamente as regras das sociedades simples. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 85 2) Caso haja previsão no contrato, poderão se aplicar as regras das sociedades anônimas em caráter supletivo. NOME EMPRESARIAL DAS SOCIEDADES LIMITADAS Sobre o nome empresarial, devemos levar o seguinte para a prova: ESPÉCIE DE NOME EMPRESARIAL 1) Firma individual Apenas empresário individual utiliza. 2) Apenas firma social Sociedade em Nome Coletivo, em Comandita Simples. 3) Apenas denominação Sociedades Anônimas, Cooperativas. 4) Denominação ou firma social Comandita por ações, Sociedades Limitadas. As limitadas operam sob firma ou denominação social, facultativamente. ASPECTO MAIS COBRADO EM PROVAS Meus caros, este assunto está no topo do ranking dos mais cobrados em Direito Empresarial. GRAVEM! NAS SOCIEDADES LIMITADAS É VEDADA A CONTRIBUIÇÃO QUE CONSISTA EM PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. Vejam o texto normativo: Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio. § 2o É VEDADA CONTRIBUIÇÃO QUE CONSISTA EM PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. Apenas para confirmar o que digo, vejam que esta questão foi cobrada o AFT: (ESAF/Auditor Fiscal do Trabalho/2010) Sobre as quotas da sociedade limitada, os sócios podem realizar suas quotas mediante prestação de serviços. E, para nossa, surpresa, logo em seguida foi cobrada também no ISS RJ. CAPITAL SOCIAL DA LTDA O capital social pode ser definido como o montante total de recursos que os sócios se comprometem a transferir do seu patrimônio pessoal para a formação do patrimônio da sociedade. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 85 Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio. § 1o Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem SOLIDARIAMENTE TODOS OS SÓCIOS, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade. Os sócios, no ato da subscrição, poderão comprometer-se a contribuir para a formação do capital social mediante pagamento em dinheiro, conferência de bens ou créditos à sociedade, sendo-lhes, entretanto, vedada a contribuição que consista em prestação de serviços. Em relação à contribuição em dinheiro, ressalte-se que, ao contrário das sociedades anônimas (Lei n. 6.404/74, art. 80, I), não há para as sociedades limitadas qualquer previsão legal que exija a integralização de um percentual mínimo do capital subscrito no ato da constituição da sociedade, tampouco fixe um prazo máximo para sua integralização. Em relação à contribuição dos sócios realizada mediante a conferência de bens, destaque-se que não existe nas sociedadeslimitadas a obrigatoriedade de prévia avaliação por peritos ou empresa especializada dos bens conferidos pelos sócios, tal como ocorre nas sociedades anônimas (Lei n. 6.404/76, art. 8º). Entretanto, pela exata estimação dos bens conferidos, respondem solidariamente todos os sócios até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade (CC, art. 1.055, § 1º). Assim, por exemplo, se determinado sócio integra à sociedade um veículo que diz valer R$ 30.000,00, responderão todos (o que declarou e os outros solidariamente) caso se constate em um processo de execução fiscal contra a empresa, que o veículo vale menos do que o declarado. A quota social representa a unidade do capital social. Uma quota pode ter um ou mais de um dono (co-propriedade de quotas), hipótese em que o representante exercerá o direito de sócio. A quota dividida entre os sócios, contudo, não é divisível em relação à sociedade. Para a sociedade, será apenas uma única quota. É o que se extrai da leitura do seguinte artigo: Art. 1.056. A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para efeito de transferência (...) Este assunto foi cobrado na seguinte forma no concurso para Procurador Municipal de Salvador, organizado pela FCC em 2006 (item correto): (Procurador Jaboatão dos Guararapes/2006/FCC) A respeito das sociedades limitadas, é correto afirmar que as quotas podem ser iguais ou desiguais, mas são indivisíveis em relação à sociedade. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 85 A integralização do capital social pode ser feita através de dinheiro, créditos ou de bens. Se feita em bens o sócio responderá pela evicção, indenização e custas judiciais que dela decorram. Evicção é o desapossamento do bem por causa jurídica. Se o bem for reivindicado por terceiro, posteriormente à integralização, por direito anterior a ela (integralização) este responderá pelos danos sofridos pela sociedade (CC, artigo 1.005). RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS NAS LTDAS A responsabilidade do sócio nas LTDAs é restrita ao valor de suas quotas, porém, os sócios respondem solidariamente pela integralização do capital social. Esse item também é campeão de cobranças! Levem para a prova. ART. 1.052. NA SOCIEDADE LIMITADA, A RESPONSABILIDADE DE CADA SÓCIO É RESTRITA AO VALOR DE SUAS QUOTAS, MAS TODOS RESPONDEM SOLIDARIAMENTE PELA INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL. Ou seja, um fornecedor da empresa que não recebeu seus créditos poderá, após executado o patrimônio social e não verificada a integralização completa deste, executar qualquer dos sócios para responder às dívidas até o limite faltante para a integralização completa do capital, havendo, ulteriormente, direito a regresso contra o sócio remisso. Cada sócio responde pelo valor de sua quota e todos terão responsabilidade solidária pela integralização do capital social. Após esta integralização do capital, se a sociedade vier a sofrer perdas irreparáveis em razão das operações efetivadas, proceder-se-á à redução do capital social, diminuindo-se proporcionalmente o valor nominal das quotas de cada sócio. Segundo o Código: Art. 1.082. Pode a sociedade reduzir o capital, mediante a correspondente modificação do contrato: I - depois de integralizado, se houver perdas irreparáveis; II - se excessivo em relação ao objeto da sociedade. Art. 1.083. No caso do inciso I do artigo antecedente, a redução do capital será realizada com a diminuição proporcional do valor nominal das quotas, tornando- se efetiva a partir da averbação, no Registro Público de Empresas Mercantis, da ata da assembléia que a tenha aprovado. Assim, se existem 10 sócios com uma quota de R$ 1.000,00 cada, totalizando um capital social de R$ 10.000,00 e a sociedade tem uma perda irreparável de R$ 5.000,00. A quota de cada um será reduzida também nesta proporção (50% neste exemplo). Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 85 CESSÃO DE QUOTAS NAS SOCIEDADES LIMITADAS Com fulcro no Código Civil: Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social. Veja que a cessão de quotas pode ser feita a sócios, independentemente da anuência. Contudo, se houver um estranho (um não-sócio) ao quadro societário a doação não poderá ser resistida por mais de um quarto do capital social. ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA Nas sociedades limitadas a administração pode ser exercida por sócios ou não-sócios. Para o exercício da administração por não-sócio, há de constar expressa previsão em contrato social. Nas limitadas, a administração compete exclusivamente às pessoas naturais, sendo vedada a administração por pessoa jurídica (CC, art. 997, VI c/c art. 1.054). OBS: Nas sociedades em nome coletivo e em comandita simples, existe expressa vedação do Código ao exercício da administração por não-sócios (CC, art. 1.042 e 1.046). O administrador designado em ato separado terá trinta dias para investir-se no cargo, o que se dará mediante termo de posse no livro de atas da administração. Não havendo a posse no prazo citado, a designação tornar-se-á sem efeito (art. 1.062). A contar da investidura, o administrador terá dez dias para requerer a averbação de sua nomeação no registro competente (CC, art. 1.062, §2). O administrador, nomeado por instrumento em separado, deve averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar, antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a sociedade (CC, art. 1.012). O Código Civil prevê, em seu artigo 1.061, dois quóruns distintos para a eleição de administradores não-sócios (independentemente de a nomeação ser feita no contrato social ou em ato separado): QUÓRUM PARA ELEIÇÃO DE ADMINISTRADORES NÃO-SÓCIOS Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 85 a) Se o capital social estiver totalmente integralizado, a eleição depende de 2/3, no mínimo (o contrato pode prever quórum maior), dos sócios (capital social); b) Se o capital estiver apenas parcialmente integralizado, a decisão deverá ser unânime, de todos os sócios. Já a destituição de não-sócios depende de votos correspondentes a: DESTITUIÇÃO DE ADMINISTRADORES NÃO-SÓCIOS a) mais da metade do capital social, se feita em ato separado (CC, art. 1.076, II). b) Se não-sócio foi nomeado no contrato social o quórum para destituição passa a ser de ¾ (três quartos) do capital social (CC, art. 1.076, I). Quando se tratar de nomeação de sócio para a administração, feita em contrato separado, o ato deve ser aprovado por maioria absoluta do capital social (CC, art. 1.076, II). ATENÇÃO: todos estes quóruns são analisados em função do capital social, e não do número de sócios. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que posteriormente adquiram essa qualidade (CC, art. 1.060, parágrafo único).A FCC, literal que é, já abordou este tema, na questão a seguir, em certame para Procurador de Jaboatão dos Guararapes: A respeito das sociedades limitadas, é correto afirmar que a administração atribuída a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que posteriormente adquirirem essa qualidade. O item está correto. Já para a destituição de administradores que sejam sócios, temos os seguintes quóruns: DESTITUIÇÃO DE ADMINISTRADORES SÓCIOS: Sócio nomeado no contrato 2/3 do capital social Sócio nomeado em ato separado maioria absoluta do capital No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir. Em outros termos, se o contrato social for silente, os administradores têm permissivo para praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade, salvo a venda ou a oneração de bens imóveis, que depende da decisão da maioria Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 85 dos sócios, salvo se a operação com imóveis constituir o próprio objeto da sociedade.Para os bens móveis essa regra não é necessária. CONSELHO FISCAL NAS SOCIEDADES LIMITADAS O Conselho Fiscal é um órgão colegiado, criado para se acompanhar e fiscalizar, de perto, a gestão da atividade. As sociedades limitadas PODEM possuir conselho fiscal, composto por três ou mais membros, sócios ou não, residentes no país (CC, art. 1.066). Já nas sociedades por ações é obrigatória a existência de Conselho Fiscal, conforme determina o artigo 161 da Lei 6.404/76. Para a prova: O conselho fiscal possui atribuições previstas no artigo 1.069 do CC. Senão vejamos. Art. 1.069. Além de outras atribuições determinadas na lei ou no contrato social, aos membros do conselho fiscal incumbem, individual ou conjuntamente, os deveres seguintes: I - examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira, devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhes as informações solicitadas; II - lavrar no livro de atas e pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I deste artigo; III - exarar no mesmo livro e apresentar à assembléia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e o de resultado econômico; IV - denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade; V - convocar a assembléia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes; Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 85 VI - praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere este artigo, tendo em vista as disposições especiais reguladoras da liquidação. É assegurado aos sócios minoritários, que representarem pelo menos um quinto do capital social, o direito de eleger, separadamente, um dos membros do conselho fiscal e o respectivo suplente (CC, art. 1.066, §2º). DELIBERAÇÕES NAS SOCIEDADES LIMITADAS Em regra, as decisões da empresa são tomadas por seu administrador ou por seus administradores. Para decidir sobre a compra de uma matéria-prima, contratação de um pedreiro, etc. não há necessidade de reunião entre os sócios. Todavia, algumas matérias a lei dedicou à deliberação social, sem prejuízo de outras que estejam previstas no contrato social, são elas: Art. 1.071. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato: I - a aprovação das contas da administração; II - a designação dos administradores, quando feita em ato separado; III - a destituição dos administradores; IV - o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato; V - a modificação do contrato social; VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação; VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas; VIII - o pedido de concordata (Substituída pela recuperação judicial). Essas deliberações são tomadas por assembléia de sócios. Porém, nas limitadas com menos de 10 sócios, podemos substituí-la pela chamada reunião de sócios. A diferença entre uma e outra encontra-se no rito. A assembléia está prevista no próprio Código, enquanto que a reunião segue rito previsto no próprio contrato social. A reunião ou a assembléia tornam-se dispensáveis quando todos os sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria que seria objeto delas (CC, art. 1.072, §3º). As deliberações tomadas de conformidade com a lei e o contrato vinculam todos os sócios, ainda que ausentes ou dissidentes (CC, art. 1.072, §5º). O quórum para instalação de uma assembléia é de ¾ do capital social, para a primeira convocação. Para a segunda convocação, realiza-se com qualquer número. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 85 Ressalte-se, porém, que o quórum para instalação distingue-se do quórum para deliberação. Art. 1.076. Ressalvado o disposto no art. 1.061 e no § 1o do art. 1.063, as deliberações dos sócios serão tomadas: I - pelos votos correspondentes, no mínimo, a três quartos do capital social, nos casos previstos nos incisos V e VI do art. 1.071; II - pelos votos correspondentes a mais de metade do capital social, nos casos previstos nos incisos II, III, IV e VIII do art. 1.071; III - pela maioria de votos dos presentes, nos demais casos previstos na lei ou no contrato, se este não exigir maioria mais elevada. EXCLUSÃO EXTRAJUDICIAL DE SÓCIO MINORITÁRIO Segundo o Código Civil: Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria dos sócios, representativa de mais da metade do capital social, entender que um ou mais sócios estão pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade, poderá excluí-los da sociedade, mediante alteração do contrato social, desde que prevista neste a exclusão por justa causa. Parágrafo único. A exclusão somente poderá ser determinada em reunião ou assembléia especialmente convocada para esse fim, ciente o acusado em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa. A exclusão de um sócio, em regra, será feita pela via judicial (como preleciona o art. 1.030). Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente. Contudo, a via administrativa (extrajudicial) também poderá ser utilizada para a exclusão, como via de exceção. Os quesitos básicos que se impõem para a expulsão extrajudicial por justa causa são (art. 1.085, CC): REQUISITOS PARA A EXCLUSÃO EXTRAJUDICIAL 1) Previsão no contrato social; 2) Ato de gravidade praticado por parte do sócio; 3)Assembléia ou reunião específica para este fim; 4) Aviso ao sócio para fins de exercer contraditório e ampla defesa; 5) Quórum de maioria absoluta do capital social para a exclusão. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 85 Algumas pegadinhas que podem cair em concurso 1) A exclusão é feita pela sociedade ou pelos sócios? Resposta: Pelos sócios. 2) Os sócios minoritários e majoritários podem ser excluídos extrajudicialmente? Resposta: Não! Apenas o minoritário. Vejam que o quórum é maioria absoluta do capital social. Assim, apenas os minoritários podem arcar com esta via. Para os majoritários resta a via judicial. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 85 SOCIEDADES POR AÇÕES As sociedades por ações se subdividem basicamente em sociedades anônimas e sociedade em comandita por ações. A sociedade anônima se sujeito à Lei 6.404/76, e, em suas omissões, reger-se- á pelo Código Civil de 2002. As sociedades em comanditas por ações, por seu turno, regem-se pelo disposto nos artigos 1.090 a 1.092 do Código e, em caso de omissão, pela Lei das sociedades por ações. Lembre-se, ainda, de que, de acordo com o Código Civil: Art. 2º. Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. Trataremos inicialmente das sociedades anônimas. Para efeitos didáticos, chamaremos a Lei das Sociedades por Ações simplesmente de LSA. SOCIEDADES ANÔNIMAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS SOCIEDADE DE CAPITAL O primeiro aspecto ressaltado pelo nosso ilustre doutrinador Fábio Ulhoa Coelho é que a sociedade anônima é uma SOCIEDADE DE CAPITAL. Isto é, os seus títulos de participação societária (ações) são livremente negociáveis. Assim, não se pode impedir o ingresso de acionista no quadro societário da SA. OBJETO E FORMAÇÃO POR ESTATUTO SOCIAL A sociedade anônima é formada através de um ESTATUTO SOCIAL, e não por contrato social, conforme prescreve o artigo 2º, §2º da LSA. Art. 2º. § 2º O estatuto social definirá o objeto de modo preciso e completo. Dada a sua feição, as sociedades anônimas são tipos societários que são utilizadas para a exploração de atividades que exijam maior volume de recursos. Segundo a própria lei: Art. 2º Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes. § 1º Qualquer que seja o objeto, a companhia é mercantil e se rege pelas leis e usos do comércio. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 85 Ademais, a própria lei prevê que o objeto de uma sociedade anônima poderá ser a simples participação em outras sociedades. Art. 2º. § 3º A companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda que não prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais. RESPONSABILIDADE DOS ACIONISTAS Nas sociedades anônimas, A RESPONSABILIDADE DO ACIONISTA É LIMITADA AO PREÇO DE EMISSÃO DAS AÇÕES QUE SUBSCREVER OU ADQUIRIR, ENQUANTO NÃO INTEGRALIZADAS (LSA, art. 1.º). Eis a transcrição do artigo 1º da LSA, indubitavelmente, um dos mais importantes para o certame: Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. Completando-se a realização de suas ações, não terá o sócio mais nenhuma responsabilidade “extra” pelas dívidas sociais. Não há que se falar, portanto, na responsabilidade solidária dos sócios pela parcela do capital não integralizada, tal como estudada nas sociedades limitadas. Vejamos como, por exemplo, o CESPE abordou este assunto (item incorreto): (CESPE/Analista de Controle Externo/TCE TO/2009) Um grupo de pessoas físicas e jurídicas decidiu constituir uma sociedade anônima, a Distribuidora Céu Azul Veículos S/A. Acerca dessa situação hipotética e das características das sociedades anônimas, é correto afirmar que a responsabilidade dos acionistas da Distribuidora Céu Azul Veículos S/A. é solidária e ilimitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. TIPOS DE SOCIEDADES ANÔNIMAS Há, basicamente, duas espécies de sociedades anônimas no ordenamento pátrio: a) COMPANHIA ABERTA (também chamada de empresa de capital aberto), que capta recursos junto ao público (mercado de valores mobiliários) e é fiscalizada, no Brasil, pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários); b) COMPANHIA FECHADA (também chamada de empresa de capital fechado), que obtém seus recursos dos próprios acionistas. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 85 Portanto, é esta a diferença essencial entre um e outro tipo de sociedade anônima: a negociação de seus valores mobiliários no mercado de valores mobiliários, possível apenas para a companhia aberta. A Lei 6.404 dispõe neste sentido que: Art. 4o Para os efeitos desta Lei, a companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários. Mas o que é valor mobiliário? É um título emitido pelas empresas que confere a seu proprietário (do título) direitos patrimoniais ou creditícios sobre as mesmas. São, basicamente, os seguintes os valores mobiliários que podem ser emitidos pelas sociedades anônimas: ações, partes beneficiárias, debêntures, bônus de subscrição e nota comercial. Vejam que a classificação se dá com a mera ADMISSÃO para serem negociados no mercado de valores mobiliários. A negociação efetiva, neste caso, é irrelevante. NOME EMPRESARIAL Segundo a LSA: Art. 3º A sociedade será designada por denominação acompanhada das expressões "companhia" ou "sociedade anônima", expressas por extenso ou abreviadamente mas vedada a utilização da primeira ao final. § 1º O nome do fundador, acionista, ou pessoa que por qualquer outro modo tenha concorrido para o êxito da empresa, poderá figurar na denominação. Vejam que é utilizado um nome fantasia, seguido das expressões sociedade anônima (ou S.A.) ou companhia (somente no começo). Então, exemplificando, o nome da sociedade anônima é assim constituído: - Petróleo Brasileiro S.A. - Banco do Brasil S.A. - Companhia Vale do Rio Doce. - Companhia Siderúrgica de Tubarão. MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS Dissemos que uma companhia é aberta ou fechada conforme emita títulos no mercado de valores mobiliários. Para negociar esses títulos no mercado de Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 85valores mobiliários, existe um órgão competente para proceder à respectiva autorização, qual seja, a COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (autarquia federal). A CVM fiscaliza e supervisiona o mercado de capitais. Segundo a LSA: Art. 4º. § 1o Somente os valores mobiliários de emissão de companhia registrada na Comissão de Valores Mobiliários podem ser negociados no mercado de valores mobiliários. Esse mercado de valores é dividido basicamente em: 1) BOLSA DE VALORES: segundo Fábio Ulhoa, é uma entidade privada, resultante da associação de sociedades corretoras, que exerce um serviço público, com monopólio territorial. A bolsa só opera com o mercado secundário, isto é, para a VENDA E AQUISIÇÃO de valores mobiliários já existentes. 2) MERCADO DE BALCÃO: É toda a operação relativa a valores mobiliários que não seja realizada na bolsa de valores. Opera tanto no mercado secundário como no primário. Ou seja, podemos nele ter a compra e venda de títulos já emitidos anteriormente, como a SUBSCRIÇÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. CONSTITUIÇÃO DE UMA SA Segundo Fábio Ulhoa, três são os níveis para constituição de uma S.A., a saber: 1) Requisitos preliminares; 2) Modalidades de constituição; 3) Providências complementares. 1 – REQUISITOS PRELIMINARES Art. 80. A constituição da companhia depende do cumprimento dos seguintes requisitos preliminares: I - subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas as ações em que se divide o capital social fixado no estatuto; II - realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas em dinheiro; III - depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento bancário autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte do capital realizado em dinheiro. Do inciso I extrai-se que o número mínimo de sócios para a formação de uma sociedade anônima é DOIS (e não sete, como era previsto à legislação anterior). Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 85 O CESPE abordou este conceito no concurso para Analista de Controle Externo do TCE TO, com a seguinte redação (item incorreto): (CESPE/Analista de Controle Externo/TCE TO/2009) Um grupo de pessoas físicas e jurídicas decidiu constituir uma sociedade anônima, a Distribuidora Céu Azul Veículos S/A. Acerca dessa situação hipotética e das características das sociedades anônimas, é correto afirmar que a Distribuidora Céu Azul Veículos S/A. deve ter, no mínimo, sete acionistas. E até mesmo a FGV andou perfilhando desta tese no concurso para Auditor Fiscal do ICMS RJ, em 2010 (item incorreto): (FGV/ICMS RJ/2010) Para a validade da constituição da sociedade anônima, são necessários, no mínimo, sete subscritores iniciais de todas as ações em que se divide o capital social fixado no estatuto. Todas as ações devem ser subscritas. Das ações subscritas, devemos dar entrada de 10% do valor das que forem subscritas em dinheiro, salvo se a lei exigir percentual maior. Esse depósito de entrada deve ser feito em um prazo de 05 dias contado do recebimento da quantia, pelo subscritor. Até adquirir personalidade jurídica, a sociedade ainda não terá a disposição desse dinheiro (a lei utiliza o termo levantar). Se a sociedade não se constituir em 6 meses, o depósito deve ser devolvido aos seus subscritores. Art. 81. O depósito referido no número III do artigo 80 deverá ser feito pelo fundador, no prazo de 5 (cinco) dias contados do recebimento das quantias, em nome do subscritor e a favor da sociedade em organização, que só poderá levantá-lo após haver adquirido personalidade jurídica. Parágrafo único. Caso a companhia não se constitua dentro de 6 (seis) meses da data do depósito, o banco restituirá as quantias depositadas diretamente aos subscritores. 2 – MODALIDADES DE CONSTITUIÇÃO As modalidades de constituição podem ser de dois tipos, dependendo ou não do apelo feito ao investidor para a consecução de recursos. São elas: A) Constituição por subscrição pública (ou constituição sucessiva). Há a busca de recursos junto a investidores. Para a subscrição pública há que se fazer prévio registro na CVM. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 85 Art. 82. A constituição de companhia por subscrição pública depende do prévio registro da emissão na Comissão de Valores Mobiliários, e a subscrição somente poderá ser efetuada com a intermediação de instituição financeira. § 1º O pedido de registro de emissão obedecerá às normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários e será instruído com: a) o estudo de viabilidade econômica e financeira do empreendimento; b) o projeto do estatuto social; c) o prospecto, organizado e assinado pelos fundadores e pela instituição financeira intermediária. Vejam, outrossim, que há necessariamente a intermediação de instituição financeira no processo, para que se coloque as ações no mercado. B) Constituição por subscrição particular (ou subscrição simultânea) A subscrição particular é significativamente mais simplória, posto que não há apelo junto aos investidores para a consecução de capital social. Art. 88. A constituição da companhia por subscrição particular do capital pode fazer-se por deliberação dos subscritores em assembléia-geral ou por escritura pública, considerando-se fundadores todos os subscritores. 3 – PROVIDÊNCIAS COMPLEMENTARES Por fim, a última etapa na constituição de uma sociedade anônima é o que chamamos de providências complementares. A principal providência a ser tomada nesta etapa é o registro junto ao órgão competente, que já sabemos ser a Junta Comercial. Art. 94. Nenhuma companhia poderá funcionar sem que sejam arquivados e publicados seus atos constitutivos. Ainda, de acordo com a LSA: Art. 98. Arquivados os documentos relativos à constituição da companhia, os seus administradores providenciarão, nos 30 (trinta) dias subseqüentes, a publicação deles, bem como a de certidão do arquivamento, em órgão oficial do local de sua sede. E, também, havendo incorporação de bens ao capital social, deve-se providenciar a transferência da titularidade para a companhia, competência atribuída aos primeiros administradores da SA. Os bens móveis devem ser transferidos no Registro de Imóveis. As marcas, no INPI. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 85 Os primeiros administradores são solidariamente responsáveis perante a companhia pelos prejuízos causados pela demora no cumprimento das formalidades complementares à sua constituição (LSA, art. 99). CAPITAL SOCIAL DA SA Capital Social é o montante financeiro de propriedade da companhia, relativo à soma das contribuições dos sócios. Não se confunde com patrimônio social (este abrange outros recursos, como reservas de lucros, reservas de capital, entre outros). A sua principal função (do capital social) é constituir o fundo inicial, com o qual se tornará viável o início da vida econômica da sociedade. Segundo a LSA: Art. 5º O estatuto da companhiafixará o valor do capital social, expresso em moeda nacional. A expressão monetária do valor do capital social realizado será corrigida anualmente (LSA, artigo 167). O capital social somente pode ser alterado se houver obediência aos preceitos da Lei 6.404/76 e do estatuto social. Art. 7º O capital social poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro. Esse artigo é clássico em provas. Vejamos, novamente, uma questão cobrada pelo CESPE, no concurso para Analista de Controle Externo do TCE TO (item correto): (CESPE/Analista de Controle Externo/TCE TO/2009) Um grupo de pessoas físicas e jurídicas decidiu constituir uma sociedade anônima, a Distribuidora Céu Azul Veículos S/A. Acerca dessa situação hipotética e das características das sociedades anônimas, é correto afirmar que o capital social da Distribuidora Céu Azul Veículos S/A. poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro. Se a entrega para o capital social for feita em bens, estes bens precisam passar por uma avaliação. De acordo com o artigo 8º da LSA: Art. 8º A avaliação dos bens será feita por 3 peritos ou por empresa especializada, nomeados em assembléia-geral dos subscritores, convocada pela imprensa e presidida por um dos fundadores, instalando-se em primeira convocação com a presença de subscritores que representem metade, pelo menos, do capital social, e em segunda convocação com qualquer número. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 85 § 1º Os peritos ou a empresa avaliadora deverão apresentar laudo fundamentado, com a indicação dos critérios de avaliação e dos elementos de comparação adotados e instruído com os documentos relativos aos bens avaliados, e estarão presentes à assembléia que conhecer do laudo, a fim de prestarem as informações que lhes forem solicitadas. § 2º Se o subscritor aceitar o valor aprovado pela assembléia, os bens incorporar-se-ão ao patrimônio da companhia, competindo aos primeiros diretores cumprir as formalidades necessárias à respectiva transmissão. § 3º Se a assembléia não aprovar a avaliação, ou o subscritor não aceitar a avaliação aprovada, ficará sem efeito o projeto de constituição da companhia. § 4º Os bens não poderão ser incorporados ao patrimônio da companhia por valor acima do que lhes tiver dado o subscritor. Ok? Até aqui tudo certo? Sim! Integralizou em bem? Avaliação por 3 peritos, aprovando o laudo pela assembléia-geral dos subscritores. Cabe lembrar que, tal como nas sociedades limitadas, não é possível a integralização de capital social nas SA´s através da prestação de serviços. NÃO É POSSÍVEL INTEGRALIZAR CAPITAL NAS SAs PREST. SERV. Analisemos, a seguir, uma questão interessante do ICMS RJ sobre o assunto: (FGV/Fiscal de Rendas FGV/2009) Antônio herdou imóvel bem localizado em Vila Isabel e deseja concretizar seu sonho de abrir uma livraria. Para levar o seu projeto adiante, Antônio fez um plano de negócios e constatou a necessidade de R$ 700.000,00 (setecentos mil reais) para iniciar as atividades. Considerando que o valor do seu imóvel é estimado em aproximadamente R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), convida Bernardo para entrar na sociedade uma vez que ele já tem grande expertise no ramo e interesse em investir no setor. Para a integralização do capital social, caso a sociedade seja constituída como sociedade por ações, o imóvel herdado deverá ser avaliado por três peritos ou por empresa especializada e o valor deve ser aprovado em Assembleia Geral. Bernardo poderá integralizar a sua parte em dinheiro e em serviços avaliados de acordo com o seu know-how. A questão está incorreta, posto que Bernardo não poderá integralizar sua parte através de know-how. Trata-se de interpretação a contrario senso do artigo 7º apresentado acima. Ademais, entregando-se um bem à sociedade, se não houver qualquer declaração em sentido contrário, os bens são transferidos a título de propriedade. É o que manda o artigo 9º da LSA: Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 85 Art. 9º Na falta de declaração expressa em contrário, os bens transferem-se à companhia a título de propriedade. Há, por fim, que se frisar que, transferindo créditos à sociedade, o subscritor é responsável pela existência do crédito e pela solvência do devedor. O capital social é dividido, como já falamos, em ações. Estudemos amiúdes este tipo de valor mobiliário. AÇÕES Uma pessoa se torna acionista de uma sociedade anônima através de duas formas. A primeira é pela subscrição de capital, no momento da criação da sociedade. O segundo é a aquisição de ações no mercado de valores mobiliários. As ações representam uma unidade do capital social da sociedade anônima. O acionista é obrigado a realizar, nas condições previstas no estatuto ou no boletim de subscrição, a prestação correspondente às ações subscritas ou adquiridas (LSA, art. 106). Não o fazendo, será o acionista considerado remisso. Acionista Remisso Art. 107. Verificada a mora do acionista, a companhia pode, à sua escolha: I - promover contra o acionista, e os que com ele forem solidariamente responsáveis (artigo 108), processo de execução para cobrar as importâncias devidas, servindo o boletim de subscrição e o aviso de chamada como título extrajudicial nos termos do Código de Processo Civil; ou II - mandar vender as ações em bolsa de valores, por conta e risco do acionista. Se houver alienação de ações, os alienantes continuam responsáveis pelas prestações que faltarem para adimplir sua obrigação, pelo prazo de dois anos (LSA, art. 108, caput e parágrafo único). Lembre-se, igualmente, de que a responsabilidade dos acionistas está limitada ao valor de emissão das ações. Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 85 Temos, então, de discernir o conceito de valor de emissão de outros valores congêneres. - VALOR NOMINAL: O valor nominal de uma ação é o valor que é mencionado no estatuto social da empresa e que determina o valor de uma ação representativa de seu capital. É importante lembrar que o valor nominal é uma medida puramente contábil e, portanto, nada tem a ver com o valor de mercado de uma ação, ou seja, o preço que os investidores pagam para comprá-la na bolsa de valores. Assim, se uma S.A tem capital social de R$ 1 milhão, dividido em 500.000,00 ações, cada uma terá valor nominal de R$ 2,00. O artigo 11 da LSA dispõe que o estatuto fixará o número das ações em que se divide o capital social e estabelecerá se as ações terão, ou não, valor nominal. Veja que é facultado atribuir-se valor nominal às ações. - VALOR PATRIMONIAL: É a divisão do patrimônio líquido pelo número de ações que compõem o capital social. Por exemplo,suponha que a Petrobrás S.A. tenha um PL de 1 milhão, dividido em 1 milhão de ações. O valor patrimonial da ação será de R$ 1,00. - VALOR DE MERCADO: É o valor pelo qual as ações são avaliadas no mercado. - VALOR DE EMISSÃO: É aquele estabelecido pela S.A., no momento em que a ação é subscrita. A ação pode ser emitida pelo seu valor nominal (se houver) ou por um valor maior. Segundo a Lei: Art. 13. É vedada a emissão de ações por preço inferior ao seu valor nominal. Com efeito, imagine-se que as ações do Banco Bradesco possuam um valor nominal de R$ 10,00. Todavia, imagine-se que os investidores estejam dispostos a pagar R$ 15,00 por esse investimento. Ora, a sociedade pode perfeitamente emitir suas ações por este valor, sendo que os R$ 10,00 irão para a subscrição do capital social e o excesso, de R$ 5,00, comporão o chamado ágio na emissão de ações (reserva de capital). CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES As ações classificam-se conforme ESPÉCIE, CLASSE E FORMA. Quanto à ESPÉCIE, as ações podem ser: ORDINÁRIAS: São as que conferem os direitos comuns de sócio sem restrições ou privilégios, em que normalmente se divide o capital social. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 85 PREFERENCIAIS: São aquelas que dão aos seus titulares algum privilégio ou preferência, como, por exemplo, a prioridade da distribuição dos dividendos em montante superior ao que foi atribuído às ordinárias, fixação de dividendos mínimos ou cumulativos, prioridade de reembolso em caso de liquidação, com prêmio ou sem ele, etc. mas podem ser privadas de alguns direitos, tais como o voto. Entre os benefícios que os preferencialistas podem obter, a LSA arrola: Art. 17. As preferências ou vantagens das ações preferenciais podem consistir: I - em prioridade na distribuição de dividendo, fixo ou mínimo; II - em prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem ele; ou III - na acumulação das preferências e vantagens de que tratam os incisos I e II. Ressalte-se que a LSA salienta que o número de ações preferenciais sem direito a voto, ou sujeitas a restrição no exercício desse direito, não pode ultrapassar 50% (cinqüenta por cento) do total das ações emitidas (LSA, art. 15, §2º). FRUIÇÃO: Segundo a doutrina de Rubens Requião, as ações de fruição resultam da amortização das ações comuns ou preferenciais. O artigo 44, parágrafo 5º, da Lei das S/A, estabelece que as ações integralmente amortizadas poderão ser substituídas por ações de fruição, com as restrições fixadas no estatuto da sociedade ou pela assembléia geral que poderá deliberar sobre a amortização. Segundo a LSA: Art. 15. As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que confiram a seus titulares, são ordinárias, preferenciais, ou de fruição. O CESPE cobrou este conceito no concurso para Juiz Federal Substituto da 5ª região, através do seguinte enunciado (item incorreto): (CESPE/Juiz Federal Substituto/TRF 5ª/2009) As ações de uma sociedade anônima são classificadas, de acordo com a espécie, em extraordinárias, ordinárias, preferenciais e de fruição. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 85 Quanto à CLASSE de ações, faz-se necessário saber o seguinte. As ações ordinárias da companhia fechada e as ações preferenciais da companhia aberta e fechada poderão ser de uma ou mais classes (LSA, art. 15, §1º). Vejam, alunos, que as ações ordinárias, em regra, não poderiam ser divididas em classes, posto que a ações ordinárias caracterizam-se, justamente, por fornecer aos acionistas os mesmos direitos e obrigações. Contudo, a lei excepciona a companhia fechada e permite que suas ações ordinárias sejam divididas em classe. Tal fato não vale para as ordinárias das companhias abertas. Aceita divisão em classes? Sociedade anônima Aberta Fechada Ação ordinária Não Sim Ação preferencial Sim Sim Por fim, quanto à FORMA de transferência, as ações devem ser nominativas ou escriturais. Nas SAs abertas é vedada qualquer restrição à livre circulação das ações. Nas SAs fechadas as restrições são válidas, contanto que não impeçam a negociação das ações (LSA, art. 36). AÇÃO NOMINATIVA é aquela representada sob forma de cautela ou certificado, apresentando o nome do acionista ou titular da ação no documento. A transferência de titularidade deste documento é executada com a entrega da cautela e a averbação de termo, em livro próprio da sociedade emitente, identificando novo acionista. Segundo a LSA: Art. 31. A propriedade das ações nominativas presume-se pela inscrição do nome do acionista no livro de "Registro de Ações Nominativas" ou pelo extrato que seja fornecido pela instituição custodiante, na qualidade de proprietária fiduciária das ações. § 1º A transferência das ações nominativas opera-se por termo lavrado no livro de "Transferência de Ações Nominativas", datado e assinado pelo cedente e pelo cessionário, ou seus legítimos representantes. Por fim, sobre as ações nominativas, cabe dizer que segundo a lei: Art. 36. O estatuto da companhia fechada pode impor limitações à circulação das ações nominativas, contanto que regule minuciosamente tais limitações e não impeça a negociação, nem sujeite o acionista ao arbítrio dos órgãos de administração da companhia ou da maioria dos acionistas. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 85 Um exemplo clássico dessas limitações estabelecidas é o direito de preferência da compra de ações aos acionistas anteriores. As AÇÕES ESCRITURAIS, por seu turno, são mantidas em contas de depósito em nome do titular, com a devida autorização do estatuto ou sua determinação. A sua circulação se dá por lançamento no registro da instituição financeira depositária. Art. 34. O estatuto da companhia pode autorizar ou estabelecer que todas as ações da companhia, ou uma ou mais classes delas, sejam mantidas em contas de depósito, em nome de seus titulares, na instituição que designar, sem emissão de certificados. § 2º Somente as instituições financeiras autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários podem manter serviços de ações escriturais. Art. 35. A propriedade da ação escritural presume-se pelo registro na conta de depósito das ações, aberta em nome do acionista nos livros da instituição depositária. § 1º A transferência da ação escritural opera-se pelo lançamento efetuado pela instituição depositária em seus livros, a débito da conta de ações do alienante e a crédito da conta de ações do adquirente, à vista de ordem escrita do alienante, ou de autorização ou ordem judicial, em documento hábil que ficará em poder da instituição. Ainda, temos de saber que as ações são indivisíveis em relação à companhia. Art. 28. A ação é indivisível em relação à companhia. Todavia, em relação aos acionistas ela pode ser divisível. Quando a ação pertencer a mais de uma pessoa, os direitos por ela conferidos serão exercidos pelo representante do condomínio. O CESPE, por exemplo, indagou este conhecimento no concurso para JuizFederal da 5ª região, com a seguinte assertiva: Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 85 (CESPE/Juiz Federal Substituto/TRF 5ª/2009) Em relação à sociedade anônima, a ação é sempre divisível. Vimos que o item se encontra incorreto. DIREITOS ESSENCIAIS DOS ACIONISTAS Existe na Lei das sociedades por ações um capítulo que denominamos de direitos essenciais dos acionistas. Arrolemo-los: DIREITOS ESSENCIAIS DOS ACIONISTAS Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembléia-geral poderão privar o acionista dos direitos de: I - participar dos lucros sociais; II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação; III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais; IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o disposto nos artigos 171 e 172; V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei. DIREITO DE VOTO Pois bem, pergunto: o voto consta entre os direitos essenciais supracitados? Não! Logo, grave-se: o voto não faz parte desses direitos garantidos amplamente aos acionistas. Este é um primeiro ponto que pode ser cobrado em prova. Assim, nem todas as ações dão direito a voto! As ações ordinárias conferem aos titulares o direito a voto. As ações preferenciais podem não conferir direito a voto. Segundo a LSA: Art. 110. A cada ação ordinária corresponde 1 (um) voto nas deliberações da assembléia-geral. Contudo, pode o estatuto estabelecer limite ao número de votos de cada um dos acionistas. Art. 111. O estatuto poderá deixar de conferir às ações preferenciais algum ou alguns dos direitos reconhecidos às ações ordinárias, inclusive o de voto, ou conferi-lo com restrições, observado o disposto no artigo 109. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 85 Indo mais além, a LSA, art. 110, §2º, estabelece que é vedado atribuir voto plural a qualquer classe de ações. Por voto plural, entenda-se atribuir mais de um voto a uma mesma ação. Assim, haveria voto plural se eu, Gabriel Rabelo, acionista ordinário da Petrobrás, com uma única ação ordinária da sociedade, tivesse a possibilidade de votar duas ou mais vezes matéria em pauta. Distinga-se, entretanto, o voto plural do voto múltiplo. O voto múltiplo verifica-se na eleição de membros do denominado Conselho de Administração, que cuida da gestão dos negócios da Sociedade Anônima. Adota-se o voto múltiplo para a eleição dos membros deste conselho um dos seguintes tipos de votação: a) majoritária: onde existem votações separadas para cada cargo do Conselho. Assim, se houver votação para eleição de 3 membros, o titular de uma ação votará três vezes; b) proporcional: é feita uma única eleição para todos os cargos. Fábio Ulhoa Coelho ilustra brilhantemente a situação com um exemplo prático. Vejamos: “Considere-se que o capital votante de uma SA é distribuído entre dois acionista, Antonio, com 60% e Benedito, com 40%, e que o conselho, composto por cinco membros, está sendo totalmente renovado. Se adotada a votação majoritária, Antonio deposita todos os seus votos nas cinco pessoas de sua confiança (na chapa ou nas candidaturas isoladas), e ganha a eleição porque tem mais votos que Benedito. Por outro lado, adotada a votação proporcional, a tendência será a Antonio eleger três, e Benedito dois membros do Conselho”. O voto múltiplo está previsto no artigo 141 da Lei das Sociedades por Ações – LSA, cuja redação se segue: Art. 141. Na eleição dos conselheiros, é facultado aos acionistas que representem, no mínimo, 0,1 (um décimo) do capital social com direito a voto, esteja ou não previsto no estatuto, requerer a adoção do processo de voto múltiplo, atribuindo-se a cada ação tantos votos quantos sejam os membros do conselho, e reconhecido ao acionista o direito de cumular os votos num só candidato ou distribuí-los entre vários. Assim, no voto múltiplo cada ação com direito a voto corresponde a tantos votos quantos forem os membros a serem eleitos para o conselho de administração. No processo, ainda é facultado ao acionista votante o direito de cumular os votos num só candidato ou distribuí-los entre vários, como bem frisou o excerto final da questão. Entenderam? Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 85 GRAVEM: VOTO PLURAL PROIBIDO. VOTO MÚLTIPLO VÁLIDO. ACIONISTA CONTROLADOR Segundo a LSA: Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que: a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembléia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; e b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia. Vejam que a lei em momento algum fala que o controle se materializa pela aquisição de 50% + 1 ação das existentes. Essa questão é recorrente em concursos e deve ser tida como incorreta. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender (LSA, art. 116, parágrafo único). E mais. Não podendo agir a seu bel-prazer, o acionista controlador responde pelos danos causados por atos praticados com abuso de poder (LSA, art. 117). ACORDO DE ACIONISTAS OU CONTRATO PARASSOCIAL O acordo de acionistas ou contrato parassocial está previsto no artigo 118 da LSA, que prescreve: Art. 118. Os acordos de acionistas, sobre a compra e venda de suas ações, preferência para adquiri-las, exercício do direito a voto, ou do poder de controle deverão ser observados pela companhia quando arquivados na sua sede. Assim, vê-se que, com fulcro no texto legal supracitado, o acordo de acionistas pode versar sobre: - Compra e venda de ações; - Preferência para aquisição de ações; - Exercício do direito a voto; Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 85 - Poder de controle. Assinale-se que o artigo acima impõe que o acordo entre os acionistas, se houver celebrado conforme os ritos legais e arquivado na SEDE DA SOCIEDADE, é de observância obrigatória para a sociedade. Perante terceiros, eles também poderão ter caráter obrigatório, desde que haja registro, averbação, no órgão público competente (LSA, art. 118, parágrafo primeiro). Sobre outros assuntos também podem versar os acordos de acionistas desde que não sejam contrários à lei, à ordem pública e aos bonscostumes, nem prejudiquem os direitos essenciais dos demais acionistas. O presidente da assembléia ou do órgão colegiado de deliberação da companhia não computará o voto proferido com infração de acordo de acionistas devidamente arquivado (LSA, art. 118, §8º). Vamos ver essa situação, na prática, com um tópico cobrado em certame pela FCC, como se vê a seguir: (FCC/Procurador RR/2006) Alberto, Bartolomeu e César são acionistas da ABC S.A., detendo respectivamente 40%, 40% e 20% das ações, todas ordinárias. Alberto e Bartolomeu celebraram acordo de acionistas, pelo qual se comprometeram a eleger Alberto Diretor-Presidente da companhia, na próxima assembléia geral ordinária. O acordo foi arquivado na sede da companhia. Durante a assembléia, Bartolomeu mudou de idéia e resolveu apoiar César para o cargo, contra Alberto. A solução que atende aos imediatos interesses de Alberto, para ser eleito Diretor-Presidente na própria assembléia, é pedir à mesa da assembléia geral que desconsidere o voto de Bartolomeu, por estar em desconformidade com o acordo de acionistas. O item acima está correto. O que ocorreu no exemplo acima foi o denominado acordo para voto em bloco, certamente lícito entre os acionistas. Ocorre que, com o arquivamento (vejam a distinção), este passa a ser vinculante para a companhia. No mesmo sentido, o diretor presidente não poderá computar o voto proferido com infração de acordo de acionistas devidamente arquivado. Existem outros tipos de acordos de acionistas. Se os acionistas da S.A X, senhores João, José e Jayme celebrarem avença cujo teor proíba a alienação de ações de qualquer desse três a terceiros sem que haja oferta inicialmente aos participantes do acordo, há o acordo de acionista denominado acordo de bloqueio. Também é perfeitamente válido! Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 85 Para encerrar, os acionistas prejudicados pelo eventual descumprimento do acordo podem também promover a execução judicial específica das obrigações assumidas, nas condições previstas no próprio acordo (art. 118, § 3.º). VALORES MOBILIÁRIOS Os valores mobiliários são TÍTULOS DE INVESTIMENTO QUE A SOCIEDADE ANÔNIMA EMITE PARA OBTENÇÃO DE RECURSOS DE QUE NECESSITA. A ação é um dos tipos de valor mobiliário. Além dela, temos: - Debêntures; - Partes beneficiárias; - Bônus de subscrição; - Nota promissória. As PARTES BENEFICIÁRIAS são emitidas por sociedades anônimas FECHADAS. São emitidas apenas se autorizadas pela Assembléia Geral. São, também, negociáveis, mas sem valor nominal e estranhas ao capital social. Conferem um direito de crédito eventual, desde que a sociedade apresente lucro (LSA, art. 46). É vedada a sua emissão às cias abertas – art. 47, par. único da Lei das SA. Art. 46, § 3º É vedado conferir às partes beneficiárias qualquer direito privativo de acionista, salvo o de fiscalizar, nos termos desta Lei, os atos dos administradores. BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO são títulos negociáveis que conferem ao titular o direito de comprar ações da empresa que os emitiu dentro de um prazo estabelecido, por um preço predeterminado. Ou seja, garante ao acionista o direito de subscrever ações. Caso o acionista não efetue a compra da ação no período estipulado, perderá seu direito e não terá restituição do valor pago pelo bônus. O bônus, portanto, é um direito, com prazo de expiração, como uma opção. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 85 Art. 75. A companhia poderá emitir, dentro do limite de aumento de capital autorizado no estatuto (artigo 168), títulos negociáveis denominados "Bônus de Subscrição". Parágrafo único. Os bônus de subscrição conferirão aos seus titulares, nas condições constantes do certificado, direito de subscrever ações do capital social, que será exercido mediante apresentação do título à companhia e pagamento do preço de emissão das ações. DEBÊNTURE é um título de crédito representativo de EMPRÉSTIMO que uma companhia faz junto a terceiros e que assegura a seus detentores direito contra a emissora, nas condições constantes da escritura de emissão. SÃO ESTRANHAS AO CAPITAL SOCIAL. A debênture poderá assegurar ao seu titular juros, fixos ou variáveis, participação no lucro da companhia e prêmio de reembolso (LSA, art. 56). Art. 53. A companhia poderá efetuar mais de uma emissão de debêntures, e cada emissão pode ser dividida em séries. Parágrafo único. As debêntures da mesma série terão igual valor nominal e conferirão a seus titulares os mesmos direitos. A debênture poderá ser conversível em ações nas condições constantes da escritura de emissão (LSA, art. 57). A deliberação sobre emissão de debêntures é da competência privativa da assembléia-geral (LSA, art. 59). Contudo, na companhia aberta, o conselho de administração pode deliberar sobre a emissão de debêntures não conversíveis em ações, salvo disposição estatutária em contrário (LSA, art. 59, parágrafo primeiro). Os commercial paper são notas promissórias e funcionam como títulos emitidos pelas sociedades por ações para financiar o seu capital de giro. São um título de crédito de curto prazo, sem qualquer garantia, contendo uma obrigação de pagar em determinado dia ou prazo, quantia consubstanciada no próprio título. ADMINISTRADORES DA SOCIEDADE ANÔNIMA São administradores da companhia os diretores e os conselheiros de administração (os últimos, se houver CA). Art. 153. O administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios. Direito Empresarial para Auditor Fiscal da Receita Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Gabriel Rabelo – Aula 03 Prof. Gabriel Rabelo www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 85 Art. 154. O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função social da empresa. Art. 155. O administrador deve servir com lealdade à companhia e manter reserva sobre os seus negócios. Os administradores nas sociedades anônimas somente podem ser pessoas físicas. Art. 152. A assembléia-geral fixará o montante global ou individual da remuneração dos administradores, inclusive benefícios de qualquer natureza e verbas de representação, tendo em conta suas responsabilidades, o tempo dedicado às suas funções, sua competência e reputação profissional e o valor dos seus serviços no mercado. Falemos agora sobre a responsabilidade destes administradores. Como é de se concluir, o administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão (LSA, art. 158). Todavia, os administradores respondem civilmente pelos prejuízos que causarem quando procederem: I – Dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo; II – Com violação da lei ou estatuto. Também, em regra, o administrador não é responsável por atos ilícitos de outros administradores, salvo se com eles for conivente, se negligenciar em
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