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AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 1 METABOLISMO INTERMEDIÁRIO A respiração é um processo de obtenção de energia a partir de substratos orgânicos, compartilhado por todos os organismos. Há dois tipos de respiração, a anaeróbica e a aeróbica. Na respiração aeróbica o oxigênio é consumido e o gás carbônico liberado para o ambiente. O processo global é uma óxido-redução na qual os compostos são oxidados a CO2 e o O2 absorvido é reduzido para formar H2O. Esse processo se desenvolveu muito cedo na evolução. EVOLUÇÃO: Há duas hipóteses para a evolução da respiração aeróbica, a primeira é que seu desenvolvimento só foi possível depois que a fotossíntese se estabeleceu, por volta de 2.5 bilhões anos atrás,e a segunda hipótese considera esse processo anterior à fotossíntese, tendo surgido antes de 3,5 bilhões de anos atrás. Corroborando a segunda hipótese, Castresana e Saraste (1995) encontraram evidências que a respiração aeróbica teve uma única origem e pode ter se desenvolvido antes que a atmosfera se tornasse oxigênica. Entre essas evidências, os autores apontam a presença da citocromo oxidase (enzima que consome oxigênio para produzir água) e que apareceu antes do sistema do relógio de oxidação da água (que produz oxigênio a partir da água). Como o processo de desnitrificação (a enzima NO redutase é homóloga da citocromo oxidase), surgiu bem no início da história evolutiva da Terra, os autores consideram que provavelmente esta enzima pré- existente poderia executar outras funções, sendo posteriormente utilizada na respiração aeróbica. Mas as mitocôndrias só se originariam após a fotossíntese oxigênica (por volta de 2,5 bilhões de anos). A fermentação provavelmente surgiu muito cedo na história evolutiva da Terra. Provavelmente as células primitivas fermentavam moléculas orgânicas nos oceanos. Atualmente, praticamente todos os organismos apresentam alguma forma de fermentação, o que implica que a respiração aeróbica se desenvolveu a partir da fermentação pré-existente. Como a evolução opera adicionando novos blocos de construção ao que já existia, a hipótese da respiração aeróbica ter evoluído a partir da fermentação e utilizando a citocromo oxidase pré-existente, é bastante provável. Como o ciclo de Krebs se desenvolveu também está sendo investigado intensamente. Os principais trabalhos investigam como as reações bioquímicas se organizaram especialmente no mundo pré-biótico. Segundo Hazen e Deamer (2007) os primeiros AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 2 processos que levaram a emergente complexidade molecular e origem da vida incluem a síntese, seleção e auto-organização de compostos orgânicos essenciais como enzimas, membranas e polímeros genéticos. O ácido pirúvico foi proposto como uma molécula chave nesse processo, pois é capaz de produzir macromoléculas orgânicas em fases aquosas, sendo que algumas são anfipáticas e se auto-organizam em estruturas vesiculares, características relevantes para entender a emergência da complexidade molecular. Outros trabalhos propõem inclusive o funcionamento de um ciclo do ácido cítrico funcional e não enzimático como precursor da biossíntese na Terra jovem, com base na cinética e termoquímica da seqüência de reações do acetato em piruvato, deste para oxaloaceato e por último para malato (Morowitz et al. 2000). Porém outros autores mostraram que a conversão do piruvato a malato. É muito lenta sem intervenção de enzimas e seria improvável a sua participação na química da vida. (Ross 2007). O PROCESSO: As plantas respiram aproximadamente 50% do carbono disponível fixado pela fotossíntese líquida (excluindo-se a fotorrespiração), e o restante é utilizado como esqueletos de carbono para crescimento, propagação, aquisição de nutrientes e produção de serrapilheira. Os principais substratos orgânicos da respiração celular são os carboidratos, como o amido, frutanos, sacarose e outros açúcares. Todos esses podem ser quebrados a glicose e frutose e depois entrar na glicólise. As proteínas constituem o segundo grupo de substratos respiráveis nas plantas. Estas são quebradas a aminoácidos. Mas nem todos são respiráveis. Os respiráveis são aqueles cujos esqueletos de carbono mais se aproximam dos intermediários respiratórios, como Ala, Glu, Asp, Pro, Arg, Leu e Lys. Entre os não respiráveis: Phe e Tyr. A quebra de proteinas de reserva supre as sementes germinantes e plântulas com amônia (por desaminação dos aminoácidos) e piruvato para o ciclo de Krebs. Os lipídios são degradados a ácidos graxos, e sofrem β-oxidação nos peroxissomos das folhas de outros órgãos ou nos glioxissomos (peroxissomos especializados) de sementes germinantes. Equação da respiração da glicose. A equação geral simplificada da respiração mostra a oxidação completa de uma molécula de glicose por 6 moléculas de O2 a 6 moléculas de CO2 e 6 moléculas de H2O gerando energia estocada na forma de ATP. C6H12O6 + 6O2 → 6CO2 + 6H2O + energia AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 3 O processo total envolve 50 ou mais reações componentes, cada uma catalisada por uma enzima diferente. Apesar da energia gerada, grande parte da energia liberada (≅ 2,87 KJ ou 686 Kcal.mol-1 de glicose) é perdida na forma de calor. Os produtos resultantes são ATP (molécula rica em energia) e esqueletos de carbono para formação de aminoácidos, nuleotídeos, precursores para formação de pigmentos tipo porfirina, lipídios, esteróis, carotenóides, etc. O quociente respiratório (QR) é uma razão muito útil no estudo da respiração em plantas. É a razão entre o CO2 liberado e o O2 consumido, medidos ao mesmo tempo (CO2/O2). QR = mol CO2�. ∆t-1 molO2�. ∆t-1 O QR indiretamente fornece informações sobre a natureza do substrato usado para respiração e a taxa relativa dos processos respiratórios que estão competindo em um determinado intervalo de tempo. a. QR em carboidratos (glicose) C6H12O6 + 6O2 → 6 CO2 + 6H2O QR = 6/6 = 1,0 b. QR em ácidos orgânicos (citrato) C6H8O7 + 4,5O2 → 6 CO2 + 4H2O QR = 6/4,5 = 1,33 c. QR em lipídios (trioleína) - quebra total C57H104O6 + 80O2 → 57CO2 + 52H2O QR = 57/80 = 0,71 Ex.: oxidação de ácido oleico: C18H34O2 + 25,5O2 → 18CO2 + 17H2O d. QR em lipídios (trioleína) em carboidratos QR = 13,5/36,5 = 0,37 - QR em folhas = 1,05 - QR em sementes oleaginosas (óleos ricos em H+ e pobres em O2) ≅ 0,7, porque é necessário muito O2 por H2 para formar H2O e C para formar CO2 - QR em sementes que armazenam carboidratos (amido) ≅ 1,0 Formação de hexose a partir de carboidratos de reserva: Armazenamento e degradação de amido: O amido é armazenado na forma de grãos de amido insolúveis em água. Constitui de 50% a 65% do peso das sementes de cereais secos, e até 80% da massa seca dos tubérculos. Os principais órgãos de AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 4 armazenamento são o parênquima de raízes e caules, tubérculos, endosperma ou coltilédones de sementes. O mesofilo também pode estocar amido transitoriamente durante a fotossíntese. Mas neste caso o amido deverá ser degradado durante o período noturno. Cada grão de amido é formado por dois polímeros de glicose: a amilopectina (ramificada) e amilose (não ramificada). A amilose é uma molécula linear composta por 250 a 300 unidades de D-glicopiranose ligadas uniformemente por pontes glicosídicas α-1,4, que conferem forma helicoidal à molécula. O segundo componente, a amilopectina, é constituída por mil unidades de glicose ou mais, também unidas por ligações α-1,4. No entanto, há pontos de ramificação, onde existem ligações α-1,6. Esse tipo de ponte constitui cerca de 4% das ligações totais, ou seja, uma a cada vinte e cinco unidades de glicose, aproximadamente,no amido. No glicogênio, essas ligações correspondem a 10%, ou seja, o glicogênio é muito mais ramificado que o amido. As enzimas de degradação de amido a glicose incluem a α-amilase (a- 1,4- glicano hidrolase), que ataca grãos de amido intactos, é ativada por Ca+2, quebra ligações do tipo α-1,4 da amilose (formando maltose, dissacarídeo formado por duas unidades de glicose) e da amilopectina. Como não pode atacar as ligações α-1,6 da amilopectina sobram oligossacarídeos ramificados denominados coletivamente de dextrinas. A β-amilase, (b-1,4-glicano-maltoidrolase) outra enzima hidrolítica retira unidades de maltose das extremidades não redutoras das moléculas dos polissacarídeos. O produto final, no caso da β-amilase, é a maltose quase pura. A β- amilase digere as ligações 1,4 das extremidades para o centro. Estudos recentes têm demonstrado que a β-amilase é uma enzima importante para a degradação do amido em folhas (Smith et al. 2005). Evidências de seu papel na degradação do amido transitório (amido acumulado nos cloroplastos durante o período fotossintético) foram obtidas pela supressão do gene de β-amilase em plantas transgênicas de batata (Scheidig et al. 2002) e Arabidopsis (Kaplan & Guy 2004), que apresentaram fenótipo de acúmulo de amido nas folhas. A α-amilase e a β-amilase usam uma molécula de água para cada ligação quebrada, sendo por isso denominadas hidrolases e o tipo de reação catalisada por elas é irreversível. A Amido fosforilase degrada amido começando pela extremidade não redutora. A degradação começa com a incorporação de fosfato, por isso é denominada enzima fosforolítica. A amido fosforilase degrada completamente a amilose a glicose-1-fosfato, mas apenas parcialmente a amilopectina a dextrina. As enzimas desramificadoras (pululanase, isoamilase, dextrinase) quebram ligações α-1,6. Depois que as dextrinas são desramificadas novamente podem ser atacadas pelas α-amilase, β-amilase e amido fosforilase. A α-Glucosidase (Maltase) quebra maltose em glicose, por isso não há AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 5 acúmulo deste dissacarídeo na célula. Nos órgãos de reserva, outras isoformas da α- glucosidases removem os resíduos α-glucosil a partir de fragmentos de amido de diversos pesos moleculares, podendo substituir outras enzimas desramificadoras, embora sejam pouco efetivas contra o grânulo de amido intacto. A α-glucosidase apresenta uma grande semelhança com a amiloglucosidase (ou glucoamilase) encontrada em fungos como o Aspergillus niger e é muito utilizada em pesquisa de amido e biotecnologia (Avigad & Dey 1997). Hidrólise de Frutanos: Os frutanos constituem-se na principal reserva em: caules, folhas e flores de gramíneas temperadas, asteráceas e outras. Sementes não possuem reserva de frutanos. A espécie Vernonia herbacea, uma asterácea do cerrado acumula frutanos nos rizóforos. A quebra dos frutanos ocorre através da enzima β-frutofuranosidase, que quebra as ligações β-2,1 ou β-2,6 dos frutanos. gli - fru - (fru)n + H2O → n frutose + glicose-frutose (sacarose) Hidrólise da Sacarose: A sacarose, outro carboidrato muito comum nas plantas, principal açúcar de transporte via floema, apresenta dois mecanismos de degradação. O primeiro constitui-se em um processo de degradação irreversível, causado pela ação de invertases, que hidrolisam a sacarose em glicose e frutose. As invertases do citoplasma são alcalinas (pH 7,5). Já as invertases do vacúolo e das paredes celulares são ácidas (pH≅5,0). Por outro lado, a degradação reversível da sacarose é catalisada pela enzima sacarose sintase. Esta enzima requer uridina difosfato (UDP) e produz frutose e UDP-glicose. ETAPAS DA RESPIRAÇÃO GLICÓLISE: Degrada glicose, glicose-1-fosfato ou frutose a ácido pirúvico no citoplasma. É a primeira de três fases da respiração aeróbica (glicólise, ciclo de Krebs e cadeia de transporte eletrônico). As principais funções da glicólise são oxidação parcial da hexose a piruvato que vai para as mitocôndrias e entra no ciclo de Krebs. Nesta fase há formação de NADH e ATP. Além disso fornece precursores de vários constituintes das plantas. Existem muitas diferenças entre a glicólise animal e vegetal. Em plantas normalmente a glicólise começa com a sacarose, já nos animais é com a glicose. Além disso, nas plantas ocorre uma rota glicolítica parcial ocorrendo nos plastídeos, além da glicolítica normal que ocorre no citoplasma. Nos animais para cada glicose são gastos 2 ATPs. Nas plantas, é dependente de qual enzima quebra a sacarose. Nas plantas as interconversões de frutose-6P a Frutose-1,6P são mais complexas AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 6 pela presença da fosfofrutoquinase dependente de PPi, além da fosfofrutoquinase dependente de ATP, que também ocorre nos animais. Em animais o produto final é o piruvato. Nas plantas pode ser o piruvato ou o malato. Outra diferença importante é o controle da glicólise. Em animais o AMP e o ATP são importantes no controle da atividade da Frutose fosfoquinase e da piruvato diquinase. Nas plantas a glicólise é fortemente inibida pelo PEP, mas esta inibição é diminuída pela presença de Pi. Mas os intermediários do ciclo de Krebs também também exercem controle sobre a glicólise. Este tipo de controle é denominado “de baixo para cima” (bottom up). Entre os benefícios do controle de baixo para cima podemos citar o ajuste da demanda por precursores biossintéticos e controle do fluxo glicolítico líquido para o piruvato. CICLO DE KREBS: Também conhecido como ciclo dos ácidos tricarboxílicos (TCA). Ocorre na matriz rica em proteína entre as cristas das mitocôndrias. O primeiro passo envolve a oxidação e perda de CO2 do piruvato e a combinação do acetato (2C) com a CoA (composto contendo enxofre) até a formação de Acetil-CoA. A reação é catalisada pelo complexo piruvato desidrogenase composto por 5 enzimas, três das quais apresentam atividade catalítica (catalisam a descarboxilação oxidativa do piruvato). As outras duas regulam a atividade das outras três. A formação de Acetil-CoA ocorre em 5 passos, sendo a reação global como segue: As funções do ciclo de Krebs são redução de NAD+ e ubiquinona a NADH e ubiquinol, que serão posteriormente oxidados para produzir ATP; síntese de ATP ( 1 ATP para cada piruvato oxidado) e formação de esqueletos de carbono para síntese de aminoácidos. Assim como na glicólise, há diferenças entre a respiração mitocondrial em animais e em plantas. Nas plantas ocorre a formação de ATP, no passo da succinil- faculty.clintoncc.suny.edu/.../cellular.htm AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 7 CoA sintetase, ao contrário do que nos animais onde este passo catalisa a formação de GTP. Em todas as células vegetais há uma significativa atividade da enzima málica NAD+. Esta enzima catalisa a reação de descarboxilação oxidativa do malato. MALATO + NAD+ → piruvato + CO2 + NADH. A presença da enzima málica NAD+ capacita as mitocôndrias operarem uma via alternativa para o metabolismo do PEP derivado da glicólise. O malato pode ser sintetizado a partir do PEP no citoplasma via enzimas PEPcase e malato desidrogenase. O malato é então transportado até a matriz mitocondrial , onde a enzima málica NAD+ promove o seu metabolismo, oxidando a piruvato, que entra no ciclo de Krebs. Assim a enzima málica NAD+ permite a oxidação completa de ácidos orgânicos. As plantas podem utilizar o malato vindo to citoplasma como substrato no ciclo de Krebs, sem o envolvimento do piruvato originado na glicólise. Além disso, a ação conjunta da PEPcase e da PYR quinase convertem o PEP glicolítico a 2-oxoglutarato que é utilizado na assimilação do nitrogênio, principalmente em tecidos não fotossintéticos.Nas folhas o 2-oxoglutarato é convertido a citrato e esse é o precursor para assimilação de NH4+. O OAA também fornece esqueletos de carbono para assimilação de nitrogênio. Além do 2-oxoglutarato e do OAA, ocorrem muitas outras reações que movimentam o metabolismo dos ácidos carboxilícos (para uma revisão ver Sweetlove et al. 2010). Os ácidos carboxílicos exportados das mitocôndrias possuem múltiplas funções nas células vegetais, por exemplo participam da manutenção de turgescência e expansão celular, homeostase ácido-base (pH) e balanço de cargas, possuem muitas funções na rizosfera, doam unidades de acetil para reações de síntese de ácidos graxos e terpenóides. CADEIA DE TRANSPORTE ELETRÔNICO E FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA: Envolve a oxidação do NADH via transferência de elétrons através de muitos compostos intermediários até a formação de H2O. O NADH presente nas mitocôndrias vem dos seguintes processos: ciclo de Krebs, glicólise e fotorrespiração (oxidação da glicina) nas folhas. A cadeia de transporte eletrônico procede de carregadores que são termodinamicamente difíceis de reduzir (com potenciais redox muito negativo) para aqueles que têm grande tendência para se reduzir (potenciais redox menos negativos ou positivos). O O2 tem a maior tendência para receber elétrons do sistema para formar água. AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 8 A cadeia de transporte eletrônico é composta por citocromos (4 do tipo B e 2 do tipo C), quinonas (ubiquinona), flavoproteínas (proteína contendo flavina- FMN), proteínas Fe-S (inclusive as do complexo citocromo oxidase). O complexo enzimático citocromo oxidase (= citocromo a+a3) catalisa a formação de água a partir de O2, H+ elétrons que estão fluindo através cadeia respiratória. As ubiquinonas formam um pool, ou seja, um sítio de armazenamento de elétrons, pois elas podem receber elétrons de NADH originários de vários pontos diferentes e de FAD, de forma semelhante ao que ocorre na fotossíntese, com as plastoquinonas. As principais diferenças entre a cadeia respiratória de animais e de plantas incluem a presença de componentes não comumente encontrados nas mitocôndrias dos animais. Os primeiros componentes são as NAD(P)H desidrogenases, insensíveis à rotenona, dependentes de cálcio, localizadas no espaço intermembrana e facilita a oxidação do NADH citoplasmático, cujos elétrons entram na cadeia respiratória ao nível do pool de ubiquinona. Os segundos componentes são as NAD(P)H desidrogenases localizadas na membrana interna, voltada para o estroma, que oxidam o NADH do ciclo de Krebs sem passar pelo complexo I. Além desses, também apresentam uma oxidase alternativa insensível ao cianeto, localizada entre o complexo II e o III (ver mais adiante na Via do Cianeto). A formação de ATP a partir de ADP e Pi é direcionada pela forte tendência do O2 de se reduzir. Nas cristas mitocondriais há 3 sítios de fosforilação: I. Na região das flavoproteínas; II. Entre os Cit b560 e Cit c552 e III. Entre o Cit a e Cit a3. Na respiração cada hexose rende aproximadamente 32 ATPs. Na tabela abaixo está sintetizada toda a energética da respiração. Esses valores (in vivo) são obtidos por medidas da razão entre ADP:O de mitocôndrias de plantas. Na maioria dos livros se encontram valores teóricos de 36 ou 38 ATP, que são baseados nos valores integrais para o número de ATP sintetizado durante a oxidação de cada molécula de NADH da matriz ou do citoplasma e succinato (neste caso seria 1 mol de cada um dos reagentes) ao contrário dos valores reais medidos para ADP:O. O quociente ADP:O mostra quantas moléculas de ATP são formadas por O2 consumido in vivo. SUBSTRATO TEÓRICO In vivo (ADP:O) a) Via glicólise: 2 NADHExterno 4 (6) 3,2 - 3,6 2 ATP 2 2 Subtotal 6 (8) 5,2 - 5,6 AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 9 b) Via TCA 8 NADHinterno 24 19,2 -21,6 2 FADH2 4 3,2 - 3,6 2 ATP 2 2 Subtotal 30 24,4 - 27,2 GLOBAL 36 (38) 29,6 - 32,8 EFICIÊNCIA ∆G'o ATP (01) KJ.mol-1 32 50 ∆G'o ATP (total) KJ.mol-1 1024 (32) 1152 (36) 1606 (32) 1807 (36) ∆G'o hexose KJ.mol-1 2870 2870 ∆G'o ATP/hexose 35% (32) 40% (36) 56% (32) 62% (36) Respiração insensível ao cianeto: Existem substâncias como cianeto (CN-), azidas (N3-) e monóxido de carbono (CO) que são inibidores potentes da respiração aérobica. A inibição ocorre em nível da flavoproteínas, e os elétrons não podem mais fluir através da cadeia principal de transporte eletrônico. Nas plantas ocorre um desvio da rota. Na rota alternativa as UQ são reduzidas e o desvio acontece quando os elétrons da UQH2 passam para uma oxidase alternativa (AOX) que permite a redução do O2 a água. A AOX tem uma afinidade muito menor pelo O2 (Km ≅ 20 µmol.L-1) do que a citocromo oxidase (Km ≅ 0,1 µmol.L- 1). A respiração insensível ao cianeto produz principalmente calor. Mas pode haver formação de 1 ATP se o malato for o substrato. Mas se for o succinato a energia é totalmente dispersa na forma de calor. Ou seja, está em grande parte desacoplada da fosforilação oxidativa. Até recentemente se pensava que a AOX fosse exclusiva de plantas e microorganismos, mas estudos recentes revelaram a presença de AOX em 4 espécies animais de 3 diferentes filos: Mollusca, Nematoda e Chordata. Em células ricas em açúcares, há uma maior atividade da glicólise, maior rapidez no funcionamento do Ciclo de Krebs. Isso causa uma saturação da cadeia de transporte eletrônico. A via do CN- opera como um mecanismo de suprafluxo, retirando elétrons que a via normal não consegue captar. Nos estresses bióticos e abióticos, o papel da AOX como uma proteína de sobrevivência permite às plantas a lidar com ambientes estressantes (Juszczuk & Rychter 2003). Sendo que sua função nesses processos é retirar o excesso de O2. A produção de espécies oxigênio reativas (ROS) é uma conseqüência do metabolismo AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 10 aeróbico. São subprodutos indesejáveis, pois causam danos a proteínas, lipídios e DNA. Mas por outro lado, as ROS podem ser utilizadas para regular vários processos. As plantas usam as ROS como 2º mensageiros nas vias de transdução do sinal na mitose, tropismos, morte celular, desenvolvimento e defesa. Na defesa as ROS atuam como armas contra patógenos (“burst” oxidativo)Através da AOX é possível controlar crescimento pelo potencial de fosforilação. A AOX media um balanço entre os processos catabólicos e anabólicos em conjunto com a citocromo oxidase. Se a via respiratória utilizada for a da citocromo oxidase, vai gerar ATP e o balanço vai pender para os processos anabólicos (aumento de biomassa). Mas se for a AOX não vai formar ATP e o crescimento será mais lento. A Via do Cianeto são utilizadas na respiração termogênica em flores. Respiração Termogênica em Flores: O calor gerado pela via alternativa do CN- em inflorescências como as de Sauromatum guttatum, Symplocarpus foetidus, Alocasia pubera, Philodendron ssp., Schizocasia portei, Typhonim divaricatum, serve para volatizar vários compostos (aminas e amônia por exemplo). Esses compostos possuem odor de carne podre atrai moscas e besouros para a polinização. O processo todo ocorre da seguinte maneira: a) ocorre uma grande deposição de amido na espádice, antes da sua abertura; b) um sinal hormonal (ácido salicílico), controlado fotoperiodicamente a partir das flores estaminadas verdes, induz a um dramático aumento na respiração dentro da espádice e ela abre. Há um aumento de até 100 vezes na concentração de ácido salicílico antes do aumento da respiração. Verifica-se um grande aumento no número de mitocôndrias por células. O seu volume aumenta, bem como o número de cristas mitocondriais. Além disso, há um aumento das enzimas doCiclo de Krebs e cadeia respiratória; c) a temperatura na inflorescência passa de 20oC para mais de 40oC, causada pelo aumento da respiração insensível ao cianeto. O aquecimento metabólico do apêndice começa no final da tarde e atinge o máximo à noite; d) os insetos polinizadores entram na espádice e polinizam os estigmas. Não ocorre autofecundação porque as flores estaminadas amadurecem depois das flores femininas. O controle da Via do cianeto está associado com a concentração e quebra do amido. Após a quebra do amido há entrada de sacarose ou de glicose na glicólise, produzindo PIR em excesso, grande parte do PIR vai ser utilizado no Ciclo de Krebs, para produção de um grande número de NADHs. Mas uma parte excedente vai estimular a atividade da AOX. Assim, com a AOX ativada e o grande fluxo de elétrons, AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 11 estão passando pela CTE ocorre a liberação de calor suficiente para volatizar os compostos que atraem os polizadores. Via da Pentose Fosfato (VPF): É uma via alternativa de degradação da glicólise. Ambas são vias degradativas e tem reagentes em comum, como a frutose 6-fosfato. Ambas ocorrem no citoplasma e nos plastídeos. Os plastídeos parecem ser a o principal local da ocorrência da VPF. Além disso, as duas vias interagem frequentemente. A principal diferença é que o aceptor de elétrons na VPF é o NADP+, enquanto que na glicólise é o NAD+. Nessa via a oxidação de glicose 6-fosfato pela enzima gli-6P desidrogenase gera NADPH + H+ Essa via é em grande parte reversa ao Ciclo de Calvin, pois muitos intermediários do ciclo são os mesmos (sedoheptulose, ribulose, xilulose....). Porém a VPF está envolvida com processos degradativos e o Ciclo de Calvin com a síntese orgânica. A importância dessa via não é liberação de energia, embora o NADPH gerado nessa via possa ser oxidado pelas NADPH desidrogenases externas, mas a formação de açúcares (a maioria pentoses), precursores para síntese de vários compostos na planta. A eritrose-4P formada no ciclo é essencial para produção de compostos fenólicos (lignina, antocianinas, aminoácidos aromáticos e fitoalexinas, por exemplo). A ribose-5P é precursor de ribose e desoxiribose para nucleotídeos (RNA e DNA). O NADPH formado nessa via é o doador de elétrons para reações biossintéticas que não aceitam NADH, como a formação de ácidos graxos e isoprenóides ou ainda na assimilação de nitrogênio. Outra função apontada para VPF é a geração de intermediários para o Ciclo de Calvin na folha, durante a transição de dreno para fonte. Respiração climatérica e amadurecimento de frutos: o amadurecimento de frutos carnosos é mais complexo do que o de outros tipos de frutos. Em todos os frutos, a taxa de respiração é alta no inicio do desenvolvimento (quando são jovens pois as células estão se dividindo e crescendo rapidamente), declina gradualmente até o amadurecimento completo. Nos frutos climatéricos, após a completa expansão do fruto (mas ainda verde) a taxa respiratória começa a aumentar atingindo um pico no final do amudurecimento do fruto. Este pico respiratório está associado ao aumento concomitante de etileno. O nível de etileno aumenta rapidamente assim que o crescimento pára. Isto induz a processos de amadurecimento específicos como AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 12 degradação de clorofila, aumento da respiração, dissolução enzimática de parede celular, formação de açúcares, substâncias aromáticas, formação de pigmentos. O etileno estimula a própria síntese (efeito autocatalítico), levando a aceleração e sincronização espacial dos processos bioquímicos do amadurecimento de frutos. A hidrólise da parede celular é um passo básico nesse estágio. O etileno induz a síntese de hemicelulases. Exemplos de frutos climatéricos: Controle bioquímico da respiração: O controle da glicólise ocorre em nível da enzima chave ATP-fosfrutoquinase (ATP-PFK) que catalisa a reação para formação de frutose 1,6-bisfosfato. Sua atividade é inibida fortemente por PEP, mas é acelerada por Pi. ATP e ácido cítrico também inibem a sua atividade, mas em grau menor. O balanço NAD+/NADH regula o processo como um todo. Este é o controle “de baixo para cima” (bottom up). Nos animais essa enzima é regulada por AMP e ATP. O controle do Ciclo de Krebs: ocorre em nível de: a) Concentração de ADP nas mitocôndrias: Uma grande concentração de ADP induz a uma rápida atividade de Ciclo de Krebs, cadeia de transporte eletrônico e fosforilação oxidativa; b) Concentração de piruvato: Quando há uma grande concentração, o complexo de enzimas piruvato desidrogenase é ativado. Uma das enzimas reguladoras do complexo é uma quinase que usa ATP para fosforilar o grupo hidroxila de vários resíduos do aminoácido treonina presente em partes da enzima piruvato desidrogenase. Esta fosforilação rapidamente inativa enzima, tanto que o ciclo de Krebs pára. A segunda enzima reguladora, uma fosfatase, hidrolisa o fosfato das treoninas e reativa a enzima, tanto que o ciclo de Krebs pode novamente oxidar piruvato. Tomate Kiwi Cagaita (Cerrado) Buriti (Cerrado) Gueroba (Cerrado) Maracujá Melão rendado Nectarina Pêssego Pêra Querimólia Abacate Ameixa Azeitona Banana Caqui Damasco Figo Goiaba Graviola Maçã Mamão Manga AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 13 FATORES QUE AFETAM A RESPIRAÇÃO Disponibilidade de substrato A taxa de respiração é baixa em plantas estressadas, com baixo conteúdo de amido, frutanos e outros açúcares. Também em folhas de sombra, em relação às folhas de sol, pois apresentam uma taxa de fotossíntese mais baixa do que as do sol. Disponibilidade de O2 A magnitude da influência nas taxas transpiratórias depende da espécie, do órgão, do tecido. Como a citocromo oxidase possui uma grande afinidade pelo O2, uma concentração de 0,05%, em relação à concentração atmosférica já é suficiente para ativar a respiração. Temperatura A taxa de respiração aumenta rapidamente entre 5o e 25o C. Entre 30o e 35o C a taxa tende a diminuir. Entre 40o e 45o C ocorre desnaturação de enzimas. CO2 Em média, se dobrarmos a concentração de CO2 na atmosfera, o resultado é uma inibição da respiração em torno de 15 to 20%, embora a variabilidade seja grande entre as espécies. O efeito direto do CO2 na respiração também é relevante no dossel devido às flutuações dinâmicas da concentração de CO2 entre dia e noite na estação de crescimento. O mecanismo pelo qual o CO2 inibe a respiração não é conhecido. Uma atmosfera com o dobro de CO2 inibe as enzimas mitocondriais, citocromo oxidase e succinato desidrogenase. Se a inibição dessas enziams é o único fator envolvido na inibição direta da respiração, a inibição global será proporcional ao controle que tais enzimas exercem sobre a taxa respiratória global. Entretanto, isto não explica inteiramente a inibição por CO2 dos tecidos ou da planta inteira e o mecanismo primário para inibição direta ainda não pode ser explicado (Gonzalez- Meler et al. 1996). A aclimatação de plantas a temperaturas mais alta pode reduzir o calor extra causado pelo aumento da taxa respiratória em um futuro mundo mais quente (King et al. 2006). Outros trabalhos mostram uma estimulação da respiração em atmosferas de CO2 elevado. Em soja foi detectado um aumento de 37% da respiração noturna, sendo que este estímulo foi atribuido à maior disponibilidade de substratos respiráveis, especialmente sacarose, devido ao aumento da taxa fotossintética (Leakey 2009). AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 14 Entretanto, outros dados não mostram redução das taxas respiratórias, especialmenteos estudos envolvem ecossistemas inteiros (Gonzalez-Meler et al. 2004). Assim sendo, ainda não se pode afirmar com certeza quais seriam os efeitos do aquecimento global nas taxas respiratórias em plantas. BIBLIOGRAFIA Annual Review of Plant Physiology and Plant Molecular Biology. (1962-2009). Annual Reviews, Palo Alto, California. 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