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AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 GIBERELINAS As giberelinas foram descobertas no Japão em 1926 a partir de trabalhos de Kurosawa com plantas de arroz atacadas pelo fungo Giberella fujikuroi. A doença causada pelo fungo é conhecida como bakanae (planta boba), devido aos sintomas apresentados, tais como crescimento exagerado do caule, enfraquecimento e danos por parasitas. Nos anos 30 Yabuta e Hayashi isolaram o composto ativo do fungo e denominaram giberelina A e B. No Ocidente só se tornaram conhecidas nos anos 50, a partir de trabalhos realizados no Reino Unido (ICI – Imperial Chemical Industries) e nos EUA (USDA – Agriculture Department of US). Nos EUA o composto isolado foi denominado de giberelina X e no Reino Unido o ácido giberélico. As duas substâncias provaram ser idênticas à giberelina isolada pelos japoneses e sua estrutura foi elucidada em 1956. Em 1958 foi isolada a primeira giberelina natural em plantas superiores a partir de embriões de sementes imaturas de Phaseolus coccineus, a A1 (ou GA1). Até 2007 já haviam sido descobertas 136 giberelinas, mas o número deve aumentar. Entre todas GAs descobertas, apenas uma pequena fração possui atividade biológica, e entre essas podemos citar a GA1, GA3, GA4 e GA7. A GA1 é a giberelina bioativa mais comum nas plantas. Embora em Arabidopsis e em algumas espécies de cucurbitáceas a GA4 é a mais abundante. As implicações ainda não estão claras, mas curiosamente em arroz, a GA4 é a que apresenta maior afinidade pelo receptor. Sabe- se agora que o ácido giberélico (GA3), inicialmente encontrado apenas no fungo Gibberella fujikuroi, também ocorre nas plantas. As outras GAs são consideradas precursores ou intermediários na biossíntese, podendo ainda se constituírem em compostos inativos. A denominação das giberelinas segue uma regra simples: elas são denominadas de Ax ou GAx, de acordo com a ordem da descoberta, mas não está relacionada com estrutura química ou rota metabólica. AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 Estrutura: todas as giberelinas são derivativos do esqueleto ent-giberelano. Todas são ácidas (ácido giberélico - GA). Têm 19 ou 20C agrupados em 4 ou 5 sistemas de anéis. Locais de síntese e concentração: Em tecidos em crescimento rápido; em células contendo proplastídeos, em meristemas apicais e radiculares. Em sementes em desenvolvimento e no embrião de sementes germinantes. Em anteras de flores em desenvolvimento e em frutos em desenvolvimento. As giberelinas ocorrem nas plantas em concentrações muito baixas (normalmente 10 ppb), mas em sementes imaturas as concentrações podem alcançar 1 ppm. Transporte: não é polar e ocorre via floema (se a síntese ocorrer nas folhas) e xilema (se a síntese ocorrer nas raízes). Biossíntese: são compostos isoprenóides, diterpenos que normalmente são sintetizados pela Via do Ácido Mevalônico no citoplasma, ou pela via do MEP (2-C- methyl-d-erythritol 4-phosphate) nos plastídeos. As GAs, podem ser sintetizadas pela Via Ácido Mevalônico ou pela Via do Ácido Mevalônico, pois ocorre uma troca entre os precursores IPP (isopentenil difosfato) e seu isômero DMAPP (dimetil alil difosfato). O composto de 20C geranilgeranil difosfato (GGPP) serve de doador para todos os átomos de carbono das giberelinas. O primeiro composto com sistema de anel giberelano verdadeiro é o aldeído-GA12. O aldeído presente no C6 é oxidado a COOH, conversão necessária para a atividade biológica de todas as giberelinas. AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 Yamaguchi 2008 A atividade biológica elevada depende da presença da ponte de 4,10-lactona (ligação éster intramolecular estável), de uma carboxila (COOH) no C6, uma hidroxila (OH) no C3 em β-orientação, e ausência de hidroxila (OH) no C2 em β-orientação. As giberelinas GA5 e a GA6 apesar de apresentarem modificações no C3 e C2 (dupla ligação e epoxidação respectivamente) possuem atividade biológica. AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 As GAs C19 são mais ativas do que as C20. As GAs de 20 carbonos possuem estados de oxidação e número e posição de OH diferentes. A localização dos grupos OH e estereoquímica α ou β (β hidroxilação do carbono 2) elimina atividade. 1. Estágios de Biossíntese (resumo): a) Formação de geranilgeranildifosfato (GGPP) a partir do ácido mevalônico ou do MEP; b) Ciclizações, catalisadas pelas enzimas terpeno sintases (TPS) como a ent-copalil difosfato sintase (CPS) e a kaurene sintase (KS) kaurene sintetase (enzima chave da regulação) para formar ent-kaurene. Nos plastídeos. Inibidores: AMA-1618, Cycocel e Phosfon D; c) Oxidações para formar GA12-Aldeído Envolve conversão oxidativa do ent- kaurene, contração do anel B para formar GA12-Aldeído. Ocorre no RE. As enzimas envolvidas são duas citocromo P450 monooxigenases (P450), a kaurene oxidase (KO) e a ácido kaurene oxidase (KAO). Os inibidores são paclobutrazol, tetcyclasis, uniconazole; d) Formação de todas as outras Gas a partir do GA12-Aldeído. Envolve reações oxidativas do C20 (perde CO2) para formar GAs (C19) e conversão de GAs por reações oxidativas. No citoplasma. As enzimas envolvidas são dioxigenases dependentes de 2-oxoglutarato (2 ODDs). Inibidores cyclohexanetrionas. 2. Inibição da síntese: entre os compostos que são retardantes do crescimento por inibir a síntese de GAs podemos citar: - CCC e Phosfon D que reduzem os níveis de GAs - Amo-1618: inibe a atividade da kaurene sintetase. - Ancymidol, triarimidol e paclobutrazol que inibem a oxidação do ent-kaurene. As Gas regulam a própria síntese. AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 Adaptado de Ross & O’Neill, 2004 Inativação das GAs: As GAs bioativas podem ser inativadas pela ação das GA2 oxidases, epoxidases (EUI/CYP714D1) e GA metil transferases (GAMT). A GA1 e sua precursora imediata a GA20 são convertida a GA8 e GA29 pela adição de hidroxila no C2, reação catalisada pelas GA2 oxidases. As GAs não hidroxiladas no C13, como a GA4 , GA9 e GA12 podem ser inativada por epoxidação da dupla ligação entre o C16 e o C17, reação catalisada por uma P450, a EUI/CYP714D1. Se for a GA4, o produto da epoxidação será 16α,17-epoxi GA4, que poderá ser hidratada se transformando em 16,17 dihidrodiol-16α,17- hidroxi GA4. Este mecanismo de inativação por epoxidação foi descoberto em arroz, mas parece ser um mecanismo para todas as espécies vegetais. Em Arabidopsis, petúnia e fumo, ocorre outra via de inativação por metilação do C6. As enzimas GA metil transferases (GAMT) transferem um metil do Ado-Met (S- adenosil-L-metionina) e transformam vários tipos de GAs, tanto bioativas como precursores em metil ésteres. Mas esse mecanismo de inativação por metilação precisa ser buscado em outras espécies, antes de ser incluído no controle dos níveis endógenos de GAs. A regulação da biossíntese das GAs ocorre tanto por fatores endógenos como ambientais, refletindo um delicado balanço homeostático necessário para o desenvolvimento harmônico das plantas. Os níveis de GAs controlam a própria síntese, através de uma complexa rede regulatória, que envolve a expressão e atividade de muitas enzimas do metabolismo das GAs. Além disso, as auxinas, especialmente o AIA, sintetizadas no ápice vegetativas promovem a síntese de GA1 nos entrenós inferiores. As auxinas também possuem efeito na inibição da degradação de GA1 (Ross & O´Neill 2001). A biossíntese de GAs também é regulada pela luz, entre outros fatores ambientais. A regulação da biossíntese das GAs ocorre via os fotorreceptores fitocromo e criptocromo. Formação de Conjugados:- GAs-glicosídeos: AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 a) Glicosil-éter(GA-G): A glicose é ligada por uma ligação tipo éter de dos grupos OH da giberelina; b) Glicosil-éster (GA-GE): A glicose é conectada em uma ligação tipo éster do grupo COOH da giberelina. A glicosilação do GA3 ocorre com a transferência de glicose a partir da UDP- glicose ou da TDP-glicose, em uma reação catalisada pela glicosiltransferase. Função dos GAs-conjugados: 1. Produtos da desativação reversível. A hidrólise dos conjugados para GAs livres é necessária para causar atividade biológica e função. As enzimas envolvidas neste processo são β-glicosidases e α-glicosidases. 2. Formas de armazenamento e de transporte, especialmente os conjugados tipo GA- GE. 3. Catabolismo. Em algumas espécies a forma conjugada com glicose é o primeiro passo para degradação irreversível das GAs. A formação dos conjugados ocorre preferencialmente na maturação de sementes e a reconversão ocorre durante a germinação. Degradação: Em algumas espécies como no milho, a forma conjugada com glicose é o primeiro passo para degradação irreversível das GAs. Após a glicosilação pode ocorrer a eliminação da ponte de lactona e perda da atividade da giberelina. Bioensaio: para detectar presença de GA, sem uma quantificação segura: � Teste do alongamento do hipocótilo de alface: � Teste da bainha da folha do arroz anão. � Teste da α-amilase da camada de aleurona. Para quantificação e identificação: � CG e espectrometria de massa (MS) que é o mais utilizado ou mais recente HPLC-MS que analisa diretamente o efluxo, com nenhuma modificação química necessária para GC, sendo menos trabalhoso, mas é muito caro. Sinalização: No núcleo, a proteína DELLA reprime a ação hormonal em ausência de GA. Mas em presença de GA, ocorre a ligação com o receptor GD1, formando um complexo GD1- GA. Esse complexo interage com a proteína repressora DELLA, que passa a ser reconhecida pelo complexo SCF (complexo protéico F-box) que causa a sua ubiquitinação, marcando a DELLA para degradação no no proteossomo. Após AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 Hirano et al. 2008 degradação da DELLA, ocorre a liberação da expressão dos genes controlados pelas giberelinas. Efeitos fisiológicos: As GAs controlam vários aspectos do crescimento e desenvolvimento das plantas e respostas ambientais, tais como alongamento do caule, crescimento de raízes e frutos, germinação de sementes, desestiolamento e expansão da folha, maturação do pólen, além da indução da floração em algumas espécies, e muitos aspectos da fotomorfogênese. As giberelinas são muito importantes, nas culturas agrícolas. Já se conhece desde muito que defeitos genéticos na síntese de GAs causam nanismo em muitas espécies como arroz, milho, ervilha, tomate e canola. Estes anões foram utilizados na chamada revolução verde, pelo seu alto rendimento. Na fruticultura, mediam o estabelecimento de frutos de maçã e o crescimento de frutos de uva. As giberelinas têm efeito fisiológico diferenciado dependendo da presença de diferentes GAs, dependendo do estádio fisiológico do tecido ou órgão. Por exemplo, o GA1 é efetiva em tecidos ou órgãos vegetativos enquanto que GA4 é funcional em tecidos ou órgãos reprodutivos. GA1 alongamento e GA3 é raro em plantas. 1. Crescimento de plantas intactas: especialmente o caule. A maioria das dicotiledôneas e algumas monocotiledôneas são sensíveis ao GA3. O arroz anão responde a 3,5 picogramas de GA3. Nesse mutante e em outros (milho, ervilha, tomate, canola) provavelmente o GA3 se transforma em GA1 no interior das células causando o crescimento do caule. Nas Pinaceae precisa haver uma combinação de GA4+GA7. O crescimento resulta de pelo menos 3 eventos: as GAs são muito ativas (0,1 ng) causa alongamento. O GA73 (3,0 fentogramas). AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 1. A divisão celular é estimula no ápice vegetativo Influencia no período do ciclo celular G1→S (duplicação do DNA, fase mitótica). 2. Promove crescimento ao induzir a um aumento na hidrólise de amido, frutanos e sacarose em moléculas de glicose e frutose. Por exemplo, em cana-de-açúcar as giberelinas aumentam a síntese de invertases que hidrolisam sacarose em glicose e frutose. 3. Aumenta a plasticidade da parede celular (alongamento sem divisão celular), em processo diferente daquele das auxinas. Por exemplo em hipocótilo de alface, a aplicação de GA3 promove expansão celular sem acidificação da parede. Neste caso há envolvimento da XET (xiloglucano endotransglicosidase). 2. Mobilização de reservas durante a germinação de cereais: durante a germinação, a camada de aleurona fornece enzimas hidrolíticas que digerem o amido, proteínas, fitina, RNA e certos materiais de parede celular presentes no endosperma. As giberelinas sintetizadas no embrião (escutelo e outras partes) induzem a transcrição do gene que codifica α-amilase que hidrolisa o amido. As GAs mais importantes são GA1 e GA3. O escutelo também secreta enzimas hidrolíticas que digerem o endosperma. Na semente madura ocorre só o GA12 aldeído que é convertido em GA1, durante germinação. 3. Partenocarpia: é a formação do fruto sem semente, ou seja, sem o processo normal da fecundação. As GAs mais ativas são GA4 e GA7. Entre as espécies podemos citar: uva, pêra, tomate, maçã, Citrus. Lembre que as auxinas também podem induzir à partenocarpia, sendo que as espécies podem as mesmas que respondem às GAs ou espécies diferentes. Mas auxinas têm pouco efeito sobre frutos com caroço como pêssego, damasco, amêndoa e ameixa. As auxinas são eficientes em abóbora, abacaxi, tomate, pimenta, Citrus, banana, cereja, uva. 4. Germinação de sementes: as GAs estão envolvidas tanto na quebra da dormência de sementes como no controle da hidrólise de reservas de sementes dormentes e não dormentes. Indução da germinação de sementes que exigem luz ou frio para germinar. 5. Quebra da Dormência de gemas: as GAs estão envolvidas na quebra da dormência de gemas de inverno de árvores da região temperada (pessegueiro, aveleira, AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 cerejeira, sicômoro entre outras); na quebra da dormência de gemas de órgãos de armazenamento subterrâneos como as batatas 6. Determinação do sexo: em milho, flores estaminadas são transformadas em flores pistiladas. Mas na maioria dos casos flores pistiladas se transformam em estaminadas, como em pepino, cânhamo, espinafre. 7. Reversão para juvenilidade em plantas que exibem 2 fases distintas: juvenil e adulta. Em Hedera helix (GA3). Já em coníferas: juvenil para reprodutiva (GA4+GA7). Em pteridófitas o GA73. Em Citrus GAs retardam senescência. 8. Controle do estabelecimento do fruto: Em maçã media o estabelecimento do fruto e crescimento do fruto em uva. Muitos dos efeitos fisiológicos das GAs são inibidos pelo ABA. BIBLIOGRAFIA Annual Review of Plant Physiology and Plant Molecular Biology. (1962-2008). Annual Reviews, Palo Alto, California. CLELAND, R.E. 1969. The gibberellins. In, Wilkins, M.B., ed. The Physiology of Plant Growth and Development. New York, McGraw-Hill, pp. 49-81. DAVIES, P.J. 2007. Plant hormones biosynthesis, signal transduction, action!. Dordrecht: Kluwer. FOSKET, D.E. 1994. Plant growth and development: A molecular approach. Academic Press. Hess, D. 1975. Plant physiology. Molecular, biochemical and physiological fundamentals of metabolism and development. Springer, Berlin. HOPKINS, W.G. 1999. Introduction to plant physiology. John Wiley & Sons, Inc. New York. JONES, R.L. & MACMILLAN, J. 1984. Gibberellins. In, Wilkins, M.B., ed. Advanced Plant Physiology. 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