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AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 SENESCÊNCIA É o processo de deterioração que acompanha o envelhecimento e que leva à morte de um órgão ou organismo. Ocorre em todas as células não meristemáticas, mas em períodos diferentes. Em plantas monocárpicas (anuais ou bianuais) a senescência envolve a planta como um todo, inclusive meristemas. É muito complexa e pouco entendida, mas está associada com o estágio terminal do desenvolvimento em órgãos vegetativos e reprodutivos. É geneticamente programada, mas pode ser fortemente influenciada por fatores ambientais e endógenos (hormônios). Por ser programada, a senescência compreende uma série ordenada de eventos citológicos e bioquímicos. É altamente regulada, sendo que durante o processo novas vias metabólicas são ativadas enquanto outras são desativadas. A morte celular programada é considerada um tipo especial de senescência, sendo que uma das suas funções mais importantes é a proteção contra patógenos, a resposta de hipersensibilidade (HR). Fases da senescência: 1. Fase de iniciação; envolve o bloqueio das funções de manutenção celular; o aumento de enzimas degradativas chave como hemicelulases, poligalacturonases, RNAses, proteases, amilases e clorofilases e alterações no estado redox das células e tecidos. Os iniciadores do processo podem ser hormônios, estresse ambiental, doenças, fase de desenvolvimento. Nesta fase o processo pode ser atrasado por inibidores hormonais, ambientais e de desenvolvimento. Pode ser acelerada pelos aceleradores hormonais, ambientais e de desenvolvimento. A via de transdução do sinal (reações em cascata) envolve ativação ou inativação gênica. 2. Fase de reorganização: envolve a ativação das vias de salvação – por exemplo, processos de exportação de nutrientes (como nitrogênio orgânico e enxofre) de folhas senescentes para regiões em crescimento; mudança do metabolismo autotrófico para o heterotrófico; desintoxicação e rediferenciação reversível de organelas. Pode ser bloqueada pelos inibidores de senescência ou acelerada pelos aceleradores. Envolve ativação ou inativação gênica. 3. Fase de degeneração: envolve o desagrupamento e desarranjo das estruturas celulares e descoordenação dos processos metabólicos. Pode ser bloqueada pelos inibidores de senescência ou acelerada pelos aceleradores. Envolve ativação ou inativação gênica. AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 3. Fase terminal: Leva à morte celular. Envolve apoptose, ação de proteases, liberação de radicais livres, eliminação de metabólitos remanescentes, perda da homeostase e integridade da membrana. Os inibidores de senescência podem retardar o processo até mesmo neste estádio. Tipos de Senescência: 1. Senescência monocárpica: a senescência monocárpica, a qual segue a fase reprodutiva de muitas plantas, é uma das mais dramáticas e provavelmente a mais complexa forma de senescência. Usualmente controle correlativo (controle por órgãos específicos da planta) joga um importante papel na sincronização dos eventos que levam à senescência. O desvio de nutrientes para os órgãos reprodutivos podem levar à senescência dos tecidos vegetativos e da planta como um todo. AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 2. Senescência policárpica: neste grupo estão incluídas as plantas herbáceas perenes, arbustos e árvores com queda de folhas periódica, geralmente em sincronia, como por exemplo, árvores decíduas com queda de folhas no outono. Estão também incluídas a senescência de frutos carnosos (amadurecimento) e secos, senescência de órgãos florais e de cotilédones de reserva, senescência de tipos celulares especializados, como tricomas, traqueídes e elementos de vaso. 3. Senescência hierárquica: neste grupo estão incluídas as coníferas. A senescência ocorre de unidade a unidade do organismo (senescência seqüencial de folhas). As folhas morrem quando atingem uma certa idade. 4. Senescência de partes aéreas: este grupo contém as plantas criófitas, que possuem gemas perenes abaixo da superfície da terra (plantas com rizomas e bulbos) e as herbáceas perenes, onde ocorre a morte de caules aéreos. MORTE CELULAR PROGRAMADA (PCD): É o processo pelo qual as células individuais ativam um programa de senescência intrínseco. Células vegetais e tecidos sofrem vários tipos de morte celular, como a autofagia e autólise. Durante a autofagia são produzidos autofagossomas, que são vesículas que englobam porções do citoplasma, inclusive organelas intactas. Quando os fagossomas fundem-se com o tonoplasto eles são quebrados por enzimas hidrolíticas do vacúolo. Este tipo ocorre na corola senescente da Ipomoea tricolor e na camada de aleurona de grãos de cereais. A autólise compreende a ruptura do tonoplasto, permitindo que as hidrolases (proteases, nucleases e fosfatases) do vacúolo se misturem ao conteúdo do citoplasma.este tipo ocorre na diferenciação de traqueídes e elementos de vasos. As organelas celulares possuem diferentes sensibilidade à PCD. Os cloroplastos são as primeiras organelas a sofrerem deterioração na senescência de folhas, devido a desnaturação de componentes protéicos dos tilacóides e enzimas do estroma. Por outro lado o núcleo é a última organela a ser destruída, devido à necessidade de síntese de novo de várias enzimas hidrolíticas. Além das organelas e associadas com elas, ocorrem alterações metabólicas durante a morte celular programada. O metabolismo de pigmentos e grandemente alterado, com degradação de clorofilas por um processo complexo envolvendo muitas enzimas e compartimentos subcelulares. Novos carotenóides são sintetizados pela via do ácido mevalônico, além de outros pigmentos e outros compostos secundários, AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 especialmente os produtos do metabolismo dos fenilpropanóides (via do ácido chiquímico). A quebra dos pigmentos nas folhas é acompanhada por mobilização de proteínas dos cloroplastos até aminoácidos, para produzir formas de nitrogênio e enxofre orgânico. As amidas (glutamina e asparagina) resultantes da metabolização dos aminoácidos são as formas preferências de exportação de nitrogênio orgânico. A principal forma de transporte de enxofre orgânico é a homoglutationa. Ocorre PCD em partes da planta em resposta ao estresse abiótico ou biótico, como na formação de aerênquima e resposta de hipersensibilidade (HR). - Formação de aerênquima: a formação de aerênquima é uma resposta ao alagamento e hipóxia (estresse abiótico), mediada pelo etileno. O aerênquima resulta da morte celular programada de um grupo específico de células do córtex da raiz, localizadas entre a endoderme e a hipoderme. Essas células são removidas por inteiro, inclusive as paredes celulares, formando um espaço que facilita o movimento do oxigênio para as raízes. - HR: A resposta de hipersensibilidade (HR) está relacionada ao estresse biótico. Quando um patógeno infecta uma planta, ocorre a morte das células hospedeiras pelo acúmulo de compostos fenólicos. A HR é programada geneticamente e é conseqüência de novos produtos de transcrição e tradução em nível de hospedeiro. A morte da célula hospedeira é uma característica comum nas respostas de resistência nas interações planta-patógeno e ocorre pelo rápido colapso dos tecidos. Neste caso, ambos célula hospedeira e patógeno podem ser mortos e as outras células protegidas pela biossíntese de metabólitos secundários protetores e pelo espessamento da parede celular próximo aos locais de ataque, mas somente o patógeno pode ser morto, seja por falta de aporte de nutrientes ou pela liberação de antibióticos. Por outro lado, a morte celular nos locais de ataque pode não ser programada pela planta, mas ser resultado da ação de toxinas liberadas pelopatógeno. Papel dos hormônios: Citocininas: - Retardam o envelhecimento por evitar a degradação de proteínas foliares, ácidos nucléicos e clorofilas. - Aumentam a síntese de DNA e proteínas dos cloroplastos, mantendo os níveis de pigmento, promovendo a formação de grana e influenciando na maturação dos cloroplastos. AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 - Inibem ou atrasa a respiração climatérica em frutos e outros órgãos da planta, mantendo o acoplamento entre respiração e fosforilação. - Influenciam na redistribuição de nutrientes, envolvendo translocação e síntese de compostos. - Mantêm a integridade da membrana inibindo lipases e lipoxigenases que atuam na quebra de membranas. Quando associada ao cálcio, altera a permeabilidade ao aumentando o movimento de solutos polares. - Inibem o aumento de RNAses e enzimas proteolíticas. ABA: - O papel do ABA na senescência ainda não está bem elucidado. - O efeito é maior no escuro do que na luz, porque a quebra de ABA é ativada pela luz. Também há um decréscimo da sensibilidade dos tecidos na luz. - Usualmente o ABA promove quebra de proteínas totais e inibe a sua síntese. Entretanto, o ABA estimula a síntese de enzimas relacionadas com o catabolismo protéico. Além disso, o ABA inibe a síntese de ácidos nucléicos, especialmente RNA. - Em algumas espécies é considerado o agente iniciador do processo. - O ABA estimula a produção de etileno. - Na camada de aleurona de grãos de cereais, a morte celular programada está fortemente correlacionada aos níveis de ABA e de GAs. A camada de aleurona sofre autólise e morre após a mobilização das reservas do endosperma. GAs estimulam a PCD, enquanto que o ABA atrasa. Este efeito foi bem demonstrado experimentalmente. Protoplastos da camada de aleurona de cevada tratados com ABA atrasaram a PCD e se mantiveram vivos por mais de seis meses, enquanto que aqueles tratados com GA morreram entre 5 a 8 dias após o tratamento. Giberelinas: Além de participar na PCD da camada de aleurona, as GAs retardam a senescência em Citrus. Em frutos de laranja a aplicação de GA3 inibiu a biossíntese de carotenóides (responsáveis pelo aparecimento da cor alaranjada) e impediu a degradação das clorofilas a e b. Etileno: - É o principal promotor dos processos de senescência; - A senescência é geneticamente programada, mas o etileno pode acelerar, como em mutantes de Arabidopsis que acelera em 30%. AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 - O seu papel no amadurecimento e senescência de frutos envolve mudanças na taxa respiratória, na permeabilidade da membrana, destruição de clorofila e síntese de hemicelulases e poligalacturonases via transcrição de DNA em mRNA; - Nas folhas aumenta atividade de enzimas hidrolíticas (RNAses, proteases, amilases, fosfatase ácida, invertase ácida, clorofilases. Induz a uma redução da capacidade fotossintética e um decréscimo no cociente respiratório, possivelmente pelo uso de aminoácidos como substrato respiratório. - A aplicação de etileno exógeno ou ACC acelera a senescência; - inibidores de síntese de etileno (AVG, Co+2 ou CO2) e de ação (Ag+) retardam a senescência; ABSCISÃO Denomina-se abscisão a queda de órgãos da planta. Estes órgãos podem ser folhas, frutos, flores e outros. Na maioria das espécies a abscisão é precedida pela formação de uma camada ou zona de abscisão, próxima à base do órgão envolvido. Por exemplo, em folhas a camada de abscisão forma-se na base do pecíolo. A camada de abscisão consiste de uma ou mais camadas de células parenquimáticas, de paredes finas, que são resultantes da divisão anticlinais, exceto no feixe vascular. Em algumas espécies esta camada é formada antes mesmo da maturação do órgão. Antes da abscisão, a lamela média de algumas células da região distal (região mais afastada do caule) da camada de abscisão é digerida por poligalacturonases (EPG) e por pectinases. Além destas, outras enzimas de hidrólise de parede, como hemicelulases (XET, por exemplo) são produzidas no citoplasma e secretadas na parede, onde degradarão as hemiceluloses de parede. A síntese destas enzimas é acompanhada por um rápido aumento na taxa de respiração nas células da região proximal da camada de abscisão. Além disso, algumas células da região proximal aumentam de tamanho, enquanto que as da região distal não o fazem. Estes processos de digestão das paredes celulares acompanhados por pressões resultantes de crescimento desigual das células da região proximal e distal, causam a quebra da camada. AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 EFEITO DE HORMÔNIOS: A abscisão é influenciada pelo balanço hormonal. Interação entre auxina e etileno na abscisão: A auxina produzida na folha inibe a formação da camada de abscisão na base do pecíolo. Se um pedaço da folha for cortado, os níveis de auxinas caem e a abscisão foliar é acelerada. Por outro lado, a auxina pode inibir ou acelerar a abscisão de pecíolos de plântulas de algodão, dependendo de qual lado da camada de abscisão o hormônio é aplicado, se for na região proximal a abscisão é acelerada, mas se for na região distal a abscisão é atrasada. Um dos fatores mais importantes para indução da abscisão é a sensibilidade hormonal do tecido ao etileno que é controlado por auxinas endógenas. Existem dois estágios atuando no processo de abscisão; Estágio I - A auxina evita a abscisão e antagoniza o efeito promotor do etileno. Estágio II – A auxina perde a habilidade de retardar a abscisão. A aplicação de auxina ou etileno acelera o processo de abscisão celular. A auxina estimula a formação de ACC (ácido 1-ciclopropano-1-carboxílico), precursor imediato do etileno. Isso é devido a transcrição em nível de DNA para a síntese de ACC-sintase. Por outro lado, o etileno reduz a taxa de transporte de auxinas, aumenta a degradação e a conjugação. ABA: o ABA normalmente acelera a abscisão de órgãos senescentes, mas seu efeito é muito menos dramático do que aqueles relatados para etileno. Resumo das fases que levam à abscisão de folhas (Taiz & Zeiger, 2004): 1. Fase de manutenção da folha: um gradiente de auxinas da lâmina foliar para o pecíolo reduz a sensibilidade da camada de abscisão ao etileno e evita a queda da folha. 2. Fase de indução da queda: a diminuição dos níveis de auxinas na folha aumenta a produção de etileno e a sensibilidade da camada de abscisão, que desencadeia a fase da queda. 3. Fase de queda: ocorre a síntese de enzimas de hidrólise da parede celular, resultando na separação das células e na abscisão da folha. AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 ABSCISÃO DE FRUTOS IMATUROS: Existem interações complexas que induzem a abscisão de frutos imaturos. Os grupos de substâncias que induzem a abscisão nesses frutos são os mesmos que induzem abscisão em frutos maduros, destacando-se o etileno, o ABA e baixos níveis de auxinas. O que diferencia um tipo de abscisão de outro são as condições que induzem a abscisão. Essas condições podem direcionar a produção ou a destruição de substância que inibem a abscisão. Condições indutoras de abscisão em frutos imaturos: - Estresse fisiológico, causado por falta de água e/ou carência dede nutrientes, principalmente Ca+2 e K+; - Problemas fitossanitários; - Baixas temperaturas; - Falta de carboidratos - Excessivo número de frutos; - Fatores ambientais (luz limitada, nutrientes, água) BIBLIOGRAFIA ABELES, F.B. Ethylene in Plant Biology. Academic Press, New York, 1973. AWAD, M. Fisiologia da pós-colheita de frutos. 1993. Nobel S.A, São Paulo. CALBO, A.G. & TORRES, A.C. Técnicas para estudo de trocas gasosas em cultura de tecido.ABCTP Notícias 11: 2-4, 1989. FASE 1 FASE 2 FASE 3 AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 FELIPPE, G. M. Etileno. In, FERRI, M.G., coord. Fisiologia Vegetal. vol. 2. EPU, São Paulo, 1979. pp. 163-192. NOODÉN, L.D. & LEOPOLD, A.C. 1991. Senescence and aging in plants. Academic Press, San Diego. YANG, S.F. & ADAMS, D.O. Biosynthesis of ethylene. In: P.K. Stumpf (ed), Biochemistry of plants. vol. 4: Lipids: Structure and function, New York, Academic Press, 1980. p.163-176. YANG, S.F. & PRATT, H.K. The physiology of ethylene in wounded plant tissue. In: G. Kahl (ed), Biochemistry of wounded plant tissues. Water de Ruyter and Co., Berlin, pp 595-622, 1978.
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