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1 SPOROTHRIX → Classificação/Complexo Sporothrix → O que antes considerava-se apenas uma única espécie do gênero Sporothrix, com o avanço da biologia molecular já foram identificadas seis espécies, que devido a suas características semelhantes são agrupadas em um Complexo. A primeira espécie a ser identificada foi o Sporothrix schenckii, em homenagem a Benjamin Schenckii, que o isolou pela primeira vez em 1896. As espécies do Complexo são: 1. Sporothrix brasiliensis 2. Sporothrix globosa 3. Sporothrix luriei 4. Sporothrix mexicana 5. Sporothrix schenckii 6. Sporothrix pallida → O Sporothrix é patogênico para o homem e animais domésticos, sendo agente etiológico da esporotricose, uma micose com localização subcutânea e caracterizada pelo envolvimento da cadeia ganglionar. Já foi relatada em equídeos, gatos, bovinos, ratos, coelhos, macacos, homem, camelos, e outros. Esse gênero é caracterizado pelo reino Fungi por possuir algumas características principais que os diferenciam, destacando um grupo com grande variabilidade genotípica: o Características fenotípicas e filogenéticas o Conídios sésseis pigmentados; o Diâmetro de colônia; o Prova de assimilação de fontes carbonadas o Distribuição diferenciada pelo mundo (S. brasiliensis, no Brasil; S. globosa na Ásia); o Resistencia e sensibilidade a antifúngicos o Identificação de antígenos → Sua forma sexuada (Ceratocystes stenoceras) não tem bem conhecida como ocorre, mas algumas outras características o classifica como pertencente a divisão Ascomycota. → O número de casos de esporotricose tem crescido. Em 2001, um grupo de pesquisadores publicaram um alerta de epidemia no estado do RJ, com aumento de casos registrados na clínica médica veterinária, principalmente em gatos, onde em dois anos os números passaram de 13 casos para 60, destacando o papel destes na epidemiologia da doença. → É importante evidenciar exatamente a sensibilidade e resistência a determinado antifúngicos para direcionar o melhor tratamento, uma vez que essa característica é diferente entre as espécies. Os testes de sensibilidade a antifúngicos, como o teste in vitro, onde a concentração inibitória mínima a determinados antifúngicos, como o itraconazol, por exemplo, varia com a espécie. Para desenvolvimento de vacinas é importante a identificação dos antígenos presentes na espécie, que também varia. → Ecologia → A ecologia desse fungo, e forma geral, caracteriza-se pela ampla distribuição no ambiente, sendo encontrada principalmente em matéria vegetal e solo rico em matéria orgânica e, por isso, era conhecido provocando a “Doença do jardineiro”, com o manuseio vegetal constante. São saprófitas na natureza e já foram obtidos de feno e até mesmo alimentos. São comuns em regiões tropicais e subtropicais, com elevada umidade relativa. É um fungo dimórfico, ou seja, tem a capacidade de produzir a forma leveduriforme e a forma filamentosa. Na forma filamentosa produz hifas, conidióforos e conídios, além de conídios sésseis (conídios que nascem diretamente da hifa), sendo encontrada na natureza, pois apresentam-se dessa forma 2 à temperatura ambiente, 25°C. Em temperaturas de 37°C, que é a temperatura corpórea de mamíferos,o fungo muda da forma filamentosa para a forma leveduriforme, estruturas unicelulares. → Do ponto de vista da patogenicidade, esse dimorfismo é importante, pois no ambiente sob a forma filamentosa, o fungose dissemina mais facilmente, produzindo conídios que ficam suspensos no ar. No organismos sob a forma unicelular o fungo também se dissemina mais facilmente. Se um indivíduo se infectar com a forma filamentosa, ela logo muda para leveduras e provoca a doença. Caso não ocorra essa mudança, a doença não se desenvolve, como ocorre por exemplo em testes quando se inibe as enzimas responsáveis por esse dimorfismo. → Epidemiologia → A forma mais frequente de contato parece ser o contato de ferimentos com o fungo presente no solo, vegetais e matéria orgânica. Esa forma de transmissão é aceita para grande parte dos casos da maioria das espécies de animais e homem, especialmente aqueles que tem grande contato com solo e vegetais, daí o nome “doença do jardineiro”. Nesse caso, ocorre de forma isolada, pois a inoculação se dá na fonte de infecção. → Os parâmetros epidemiológicos da esporotricose encontrados no Rio de Janeiro diferem do padrão conceitual predominante, onde a contaminação através do contato com plantas não parece ser a forma de disseminação dessa micose, sendo mais provável que a transmissão se dê pelo contato entre animais sadios e infectados. Na superfície das lesões ulcerativas, sempre presente nesses animais, principalmente os felinos, há um grande número de estruturas fúngicas, que pelo contato direto, podem ser transferidas de um animal para outro. Essa forma de transmissão é bastante facilitada pelo comportamento felino, cujos adultos saem durante a noite em busca de caça ou em função dos rituais reprodutivos, quando a fêmea no cio costuma atrair os machos que irão disputa-la em brigas acirradas. Nessas ocasiões, animais portadores de lesões ulcerativas poderão transmitir a esporotricose através com contato com as leveduras presentes na superfície das lesões ulcerativas ou através de ferimentos causados por mordeduras ou arranhaduras de gatos doentes. → Adicionalmente, o número de gatos de rua tem aumentado muito, alterando as relações epidemiológicas de algumas doenças infecciosas e parasitárias. A infecção através de plantas como a forma principal de contágio ainda é válida, tanto para homens quanto para animais, mas, quando se analisa a situação observada na cidade do Rio de Janeiro e nos municípios vizinhos fica claro que essa não é a forma de contágio entre os gatos, evidenciando um episódio epidêmico mais localizado e diferenciado. → A real prevalência dessa micose ainda não é conhecida, uma vez que as micoses são muitas vezes subestimadas a esporotricose não é uma doença de identificação compulsória. É sabido que sua distribuição se dá principalmente na África do Sul (através de trabalhadores de minas que se infectavam com vegetais na área de trabalho), Austrália (correlacionado com a manipulação de feno), Japão (correlacionado com matéria vegetal e solo em zonas rurais), China (estreita relação com matéria vegetal, com perfil sazonal devido ao hábito de se levar madeira para dentro das residências durante o inverno), EUA (principalmente na década de 1980, através de trabalhadores florestais que trabalhavam com reflorestamento), América Latina (correlacionado a regiões subdesenvolvidas), como no Uruguai, em que é comum a caça ao tatu, considerado reservatório da doença. No Brasil há maior incidência nas regiões Sul e Sudeste, principalmente em áreas de população mais carente, que possui quintal com terra, plantas e entulhos. Regiões mais nobres os animais costumam não ter contato com a rua, dificultando a disseminação da esporotricose. → O primeiro relato dessa transmissão zoonótica ocorre em 1982. Só no Estado do RJ em 2001, detinha 80,3% dos casos humanos, com atenção nas seguintes regiões: Rio de Janeiro, Nilópolis, Duque de Caxias, São João de Meriti. Uma grande dificuldade é o manejo desses animais, principalmente o felino, adicionado a interrupção do tratamento devido ao custo, dificuldade de administração dos remédios ou desaparecimento das lesões. 3 → Patogenia → A infecção se inicia em geral, com uma lesão traumática por vegetais ou decorrente de fimentos obtidos em brigas. Deve-se considerar três fatores: o Imunidade do indivíduo: indivíduos imunossuprimidos são mais susceptíveis; o Virulência do patógeno: espécies apresentam quadros clínicos diferentes entre si; o Carga inoculante: uma carga muito pequena pode ser insignificante para o desenvolvimentoda doença. → A principal via de entrada é a inoculação por estruturas perfuro-cortantes. A via inalatória deve ser considerada, mas para isso o fungo deve estar na sua forma filamentosa. Apesar idsso, são poucos os casos de esporotricose pulmonar. → O PPP é variável. Isso ocorre porque o fungo pode penetrar no tecido do animal tanto na forma de levedura como na forma filamentosa, onde no primeiro caso, as leveduram começam a se multiplicar imediatamente e o aparecimento dos sintomas é mais rápido do que no segundo caso, em que para que ocorra a doença o fungo precisa antes mudar para levedura e isso leva algum tempo. Dessa maneira, o período de incubação para o desenvolvimento da esporotricose deve ser maior quando a infecção acontecer através de ferimentos feitos por vegetais do que pelo contato com outro animal com esporotricose ulcerativa. → Os sintomas clínicos devem levar em consideração também a virulência, imunidade e carga inoculante. → Esporotricose humana → As lesões no homem podem ser de vários tipos, sendo a inoculação a forma mais comum de infcção: Cutâneo fixa (relacionada com o S. globosa devido a seu baixo desenvolvimento a 37°C). Linfocutânea (disseminação pela circulação linfática e atinge os vasos linfáticos, gerando lesão) Mucocutânea Extracutânea Osteoarticular Pulmonar Disseminadas → Esporotricose animal → Em equinos pode ocorrer a forma localizada 9ulcerativa) ou disseminada (não ulcerativa), onde a contaminação se dá por inoculação no pasto. É comum apresentar lesões rosadas semelhante ao que ocorre no homem. → O felino apresenta casos severos mesmo com a imunidade normal. Existe uma pré-disposição racial e sexual, sendo essa última não como uma característica nata mas consequência do comportamento de machos, os quais acabam sendo mais susceptíveis devido a disputa territorial. Além disso, animais de pelo curto são mais susceptíveis. → O felino apresenta diferentes sítios simultaneamente de inoculação e desenvolvimento de feridas devido ao hábito de auto-higienização através da língua, disseminando a infecção para outras partes do corpo. Do mesmo modo, por causa do prurido, o animal costuma esfregar as patas sobre a lesão ulcerada, contaminando-a com as leveduras presentes em sua superfície. A forma cutânea é a mais comum, surgindo pápulas e nódulos múltiplos que evoluem para úlceras. O ocais mais comuns de lesões são: mucosa nasal, patas, orelhas e unhas. 4 → A partir dos nódulos o fungo invade a circulação linfática e suas células são retidas nos nódulos linfáticos. Logo, mesmo na ausência de lesões o fungo ainda pode estar presente no organismo do animal, sendo necessário completar o tratamento. O rompimento do tratamento pode gerar formas de resistência aos antifúngicos e retornar com mais intensidade. → No cão a esporotricose não é tão agressiva quanto no gato, sendo comum lesão no plano nasal principalmente. A lesão não tem tendência a se disseminar. O papel do cão como transmissor é praticamente nulo, mas o diagnóstico no cão é difícil , uma vez que as lesões apresentadas são semelhantes a outras doenças como Lúpus e criptococose. Com isso, é necessário fazer o diagnóstico completo diferencial. → Diagnóstico → O diagnóstico se dá pela avaliação clínica, diagnósticos diferencias, como o exame microscópico direto, isolamento e histopatologia (com formol 10%), além da coleta de urina e de sangue (menos comum). A coleta da amostra é variável pois depende da lesão, podendo ser: Swab de lesões exsudativas ou ulcerativas; Aspirados (lesões crescentes); Fragmentos teciduais; Outros sítios. → Na microscopia direta é comum a citologia (observação do fungo por esfregaço do material patológico) ou imprint (quando se carimba a lamina de vidro direto da lesão). As colorações são diversas, podenso ser por Gram, Panótipo, Giemsa, Fuscina → O isolamento deve ser feito de duas maneiras, já que se trata de um fungo dimórfico (termodimorfismo): Meio seletivo para fungos patogênicos: a 25oC (acrescido de cloranfenicol e cicloheximida) ou ágar Micosel. Em verdade, é necessário isolar em um meio com e outro sem cicloheximida, uma vez que pode ocorrer falsos negativos e confusão com o Criptoccocus, que não cresce bem em meios com cicloheximida. Colônia membranosas, baixas, inicialmente clara, mas gradativamente vai escurecendo. É possível observar hifas finas, fiálides diminutas e conídios redondos e agrupados. Além disso, é possível ver conídios sésseis. 5 Ágar Infuso de Cérebro e Coração – 37 °C: a partir de um fragmento da colônia anterior. Colônia cremosa, cor creme, e na microscopia as células são ovoides ou arredondadas. → Tratamento → Os fármacos mais usados são o iodeto de potássio (não se conhece seu mecanismo de ação) e azólicos como o Itraconazol. A duração é prologada, o que dificulta o térmico do tratamento por parte de muitos proprietários e, além disso, o difícil manejo e o custo total do tratamento são fatores adicionais. Outras metodologias terapêuticas como a excisão cirúrgica, criocirurgia (congelamento da ferida, quando em número pequeno) e termoterapia (aumento da temperatura em 40C, que inviabiliza o desenvolvimento do fungo), onde este último é aconselhável a indivíduos gestantes, onde a administração de fármaco se torna inviável.
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