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Direito na inquisição

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Fundamentos de história do direito: aspectos legais da Inquisição
Em meados do fim do período antigo e começo da Idade Média no Império Romano, o cristianismo obteve seu auge, denominando-se a única religião verdadeira. Após o Edito de Tolerância de Milão, esta tornou-se a religião oficial romana, e assim, a Igreja Católica começou a desempenhar um papel político e social muito importante, tornando-se uma das principais instituições do Estado – com poder suficiente para sagravar e excomungar reis. Com essa imposição sobre Roma, a cultura eclesiástica começou a propagar-se para os demais territórios europeus.
Apesar disso, para muitos, o cristianismo não era uma verdade absoluta. Em alguns países, mouros, judeus, muçulmanos e adoradores de outras crenças foram forçados a se batizar na Igreja católica sob ameaça de expulsão/exilio. Por conseguinte, o número de não simpatizantes dessa doutrina ou falsos cristãos só aumentava e isso começou a gerar inúmeros conflitos.
Durante os séculos XII e XIII, para legalizar essa “guerra” travada entre a igreja católica contra os considerados hereges (de opinião contrária), ocorreram mudanças no direito penal, oficializando a então denominada Inquisição – criada para combater toda e qualquer forma de contestação aos dogmas da Igreja católica.
O processo penal acusatório transformou-se no processo por inquérito, pois o primeiro apresentava diversas deficiências (a ação só poderia ser feita por ente privado que se sentisse prejudicado pelo acusado, o acusador poderia ser condenado caso não comprovasse a culpa do acusado, os crimes ocultos eram difíceis de serem julgados, pessoas com maior reputação poderiam ser inocentados mais facilmente, se houvesse dúvida em relação a culpa, eram utilizados métodos irracionais para se chegar a “verdade”, etc.).
Com essa mudança atribuiu-se ao juízo humano o papel principal. Houve a criação de novas regras processuais, tornando o combate aos crimes de heresia muito mais eficiente. A partir desse período os ordálios (testes de inocência sob a forma de resistência a torturas físicas) foram “proibidos”, o acusador não possuía mais nenhuma responsabilidade e os oficiais podiam indiciar qualquer pessoa com base em quaisquer informações (fofocas), comportamentos estranhos e marcas corporais (de nascença, etc.), houve a oficialização de todas as etapas do processo judicial a partir da apresentação da denúncia e uma maior atuação do juiz (assumia a investigação dos crimes).
O tipo de prova definia sua eficácia ou grau de importância no julgamento ou condenação. As provas plenas (testemunho ocular de duas pessoas), por exemplo, poderiam acarretar qualquer condenação. Bastavam indícios (provas semiplenas) para que se iniciasse uma investigação. Alguns tipos de provas combinadas poderiam caracterizar uma prova maior, mas em casos como crimes de bruxaria (ocultos) em que dificilmente podia-se obter testemunhas, a confissão era primordial – sobressaindo-se sobre as outras.
Por ser tão importante, a confissão era alcançada de maneiras extremas, como a tortura. Essa prática era condenada pela Igreja, sendo somente permitida em 1252 pelo Papa Inocêndio IV.
Para os inquisidores, a tortura era o único meio de se obter realmente a verdade, era inevitável que após sessões de sofrimento físico o indivíduo continuasse a ocultar os fatos verídicos. Esse método, chamado de infalível, tinha um nível de condenação que chegava a 95%
Muitas eram as técnicas e instrumentos utilizados: tortura da insônia forçada (especialmente para casos de bruxaria), flagelação com chicotadas, mesas com espinhos (na qual o indivíduo era preso), esfolas (remoção da pele), ratos (postos em um recipiente metálico sobre a vítima – ao ser esquentado estimulava o animal a procurar uma saída, que seria o corpo do indivíduo), afogamentos forçados em barris, dentre outros.
Cada vez mais fissurados por encontrar hereges, essas violências da inquisição buscavam, não mais unicamente pela afirmação da culpa do réu, queriam nomes e mais nomes, ou seja, um processo gerava mais inúmeros casos para investigação. Era um processo praticamente sem fim.
Após a confissão, se estabelecia a condenação. Com isso, o condenado era obrigado a confessar a sua culpa em uma Igreja, pedindo perdão por atuar contra a santidade católica – os chamados autos-de-fé. Esse “evento” era público e a população comparecia assiduamente para ouvir os relatos de maldades do réu e seu arrependimento.
Assim, era conduzido ao cadafalso, onde seria queimado. Dependendo da gravidade do crime, o condenado poderia ser estrangulado antes de que fosse jogado a fogueira, tornando sua morte mais “branda”.
Durante a execução, a sentença do réu era amplamente lida e divulgada para os espectadores a fim de que todos soubessem o motivo da sua sentença.
Depois da morte na fogueira, os bens da pessoa executada eram confiscados, a fins de “custear” o processo. Seus familiares eram hereditariamente lembrados pelos crimes cometidos por seu antecessor, perpetuando-se a infâmia.
Destarte, a Inquisição foi extremamente importante no controle e estabilidade dos dogmas cristãos. Substancial no extermínio dos hereges, sendo estes não só mouros, muçulmanos, judeus, adoradores de Satã (bruxas) e outros ídolos, mas também inimigos políticos. Havia um caráter social, muito mais enraizado em sua criação.
Isso se tornou ainda mais óbvio após a alteração no código penal, pois os métodos cada vez mais severos, davam plena liberdade para os inquisidores. Eventos do século XIV, como a eliminação dos cavaleiros templários (ameaças ao poder da Igreja) e a queima do último grão-mestre (Jacques de Molay) são exemplos claros disso.
Seus julgamentos eram considerados perfeitos, porém é evidente que qualquer pessoa daria falso testemunho (confissão), para que fosse liberto de torturas impiedosas. Pessoas eram condenadas por atitudes suspeitas, marcas de nascença, fofocas e tudo o que a Inquisição pensasse ser diferente ou anormal. Todas essas características só confirmam o quão falho esse sistema era na verdade. Não somente isso, visavam lucro em decorrer dos processos. Deles vinha o sustento dessa instituição – que tomava posse de todos os bens dos acusados e de suas famílias.
Essas medidas tão bárbaras podem ser caracterizadas como embriões de regimes totalitários, principalmente de sistemas xenófobos e racistas como o nazismo de Hitler – onde houve um grande genocídio judeu. A Igreja católica até hoje tenta se redimir perante suas atitudes.
Alunos: Helen de Oliveira Rodrigues e Kaique Bonatto

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