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Conceito de Moeda Economia Monetária Profa. Cristina F. B. Reis Novembro, 2013 1. CONCEITO DE MOEDA SUMÁRIO 1. Conceito de moeda • Origem da moeda • História da moeda • Funções da moeda • Discussão crítica: moeda no capitalismo Origem da Moeda • Primórdios (mesmo) das trocas: escambo • Crescente fértil: agricultura, divisão do trabalho, excedente, trocas indiretas História da Moeda • Moeda-mercadoria: valor de uso e valor de troca ANTIGUIDADE Moeda-mercadoria Egito Cobre Babilônia e assíria Cobre, prata e cevada Lídia Peças metálicas cunhadas (séc. VII AC) Pérsia Gado Bretanha Barras de ferro, espada de ferro, escravos Índia Animais domésticos, arroz, metais China Conchas, sedas, metais, cereais, sal LOPES & ROSSETTI, 2002, p. 30 História da Moeda •Costa mediterrânea da Turquia, 2.600 anos A.C. •Capital Sardis, tinha uma fábrica onde eram aplicadas inovadoras técnicas de separação de metais que permitiram aos lídios, durante o governo do rei Creso, no século VI antes de Cristo, cunhar pela primeira vez moedas de prata e ouro. •As moedas lídias se espalharam rapidamente e exerceram grande influência em todo o comércio do Mediterrâneo. •O uso de moeda era sinal de alto grau de civilização. Entre os caldeus, assírios, hebreus e outros povos, as transações comerciais se faziam por meio de pequenas barras e placas de metais preciosos •Invadida pelos persas e o império lídio destruído para sempre no final do século VI a.C História da Moeda • Moeda-mercadoria: valor de uso e valor de troca IDADE MÉDIA Moeda-mercadoria Ilhas Britânicas Couro (precursor cédula papel), gado, ouro, prata Alemanha Gado, cereais, mel, moeda cunhada: solidus e denar Islândia Gado, tecidos, peixes secos (bacalhau) Noruega Gado bovino, escravos, tecidos, manteiga, peles Rússia Gado bovino, peles de esquilo, prata China Arroz, chá e sal Japão Cobre, pérolas, ágata, arroz LOPES & ROSSETTI, 2002, p. 30 História da Moeda • DENAR: ALEMANHA, HEINRICH III, 1039-1056 D.C. História da Moeda • Moeda-mercadoria: valor de uso e valor de troca IDADE MODERNA Moeda-mercadoria EUA Fumo, cereais, carnes secas, madeira, gado Austrália Rum, trigo, carne Canadá Peles e cereais França Metais preciosos e cereais Alemanha e Áustria Terra como denominador de valores, gado Japão Arroz, warrants – emitidos por depósitos desse cereais LOPES & ROSSETTI, 2002, p. 30 História da Moeda • A moeda-papel (generalização após o Renascimento) – Transporte de metais a longa distância mais difícil? Roubos? Escassez? – Proliferação das casas de custódia (para guardar metais monetários), dos certificados de depósito – Papel com lastro e garantias História da Moeda • Papel-moeda e a moeda fiduciária (sem lastro) – Operações não necessariamente precisam ser convertidas – Crises e corridas de saque – Regulações anti-emissão indiscriminada • Hoje: – Monopólio estatal das emissões – Inconversibilidade absoluta/ inexistência de lastro História da Moeda • Papel-moeda e a moeda fiduciária (sem lastro) – Operações não necessariamente precisam ser convertidas – Crises e corridas de saque – Regulações anti-emissão indiscriminada • Hoje: – Monopólio estatal das emissões – Inconversibilidade absoluta/ inexistência de lastro História da Moeda • Moeda-bancária, escritural ou invisível – Depósitos bancários movimentados por cheques se tornam meios de pagamentos – Depósitos existem desde assírios (2000 AC) – No sentido moderno, floresceram na Itália (Monte dei Paschi di Siena 1472) – Alemanha, França, Bélgica, Holanda – Primeiro Banco Central: Sveriges Riskbank (Amsterdan, 1668), Bank of England (1694) História da Moeda História da Moeda • No Brasil: – Real ou réis desde chegada de Portugal – Açúcar tbm, 1614 – Holanda cunha a primeira moeda no Brasil, 1624 – Primeiro sistema monetário: 4/8/1688 a 1722: bimetalismo, com meios monetários paralelos – Cunhagem com senhoriagem – Primeiro papel-moeda: bilhete de permuta, emitido pela Casa da Moeda em 1803 – Banco do Brasil 1808 – Monopólio de cunhagem após crise do encilhamento – 1942: cruzeiro História da Moeda História da Moeda Funções da Moeda • Características: – Indestrutibilidade e inalterabilidade – Homogeneidade – Divisibilidade – Transferivilidade – Facilidade de manuseio e transporte – Elasticidade de produção e de substituição zero – Não é um bem reproduzível – Custo de carregamento existe, mas prêmio pela liquidez compensa Funções da Moeda • A moeda como intermediária das trocas: separação da compra e da venda – Permite maior especialização e divisão do trabalho: aumento de produtividade (Adam Smith) – Redução do tempo nas transações, portanto mais transações, – Maior liberdade de escolha Funções da Moeda • A moeda como medida de valor/ unidade de conta: denominador comum – Todos os bens podem ser mensuráveis de forma uniforme – Racionaliza e aumenta o número de informações econômicas via sistema de preços – Torna possível contabilizar a atividade econômica e a administração racional das unidades de produção – Elaboração de sistemas de contabilidade social Funções da Moeda • A moeda como reserva de valor: – Constitui-se um reservatório de poder de compra (o mais líquido) – Este valor não necessariamente é o da moeda em si Funções da Moeda • LOPES & ROSSETTI: • Moeda como poder liberatório: saldar dívidas, liquidar débitos • Moeda como padrão de pagamentos diferidos • Moeda como instrumento de poder: – Quem garante a moeda???? Discussão crítica: marxistas • Visão marxista: porque o papel do dinheiro é diferente no capitalismo? • "O dinheiro é necessário e sua necessidade é postulada pela própria natureza da economia capitalista. Esta economia, fundada na propriedade privada e na divisão social do trabalho, ao colocar como sua razão de ser a criação e a valorização de valores mercantis, cria, por natureza e para realizar o seu objetivo, a necessidade do dinheiro, como uma de suas propriedades constitutivas" (Corazza, 1994. p. 2). • A reprodução da sociedade se dá no mercado • Rixa interna marxista: dinheiro visto como dinheiro- mercadoria (exige lastro em valor, caráter material) vs forma dinheiro (pode ser fiduciário, caráter imaterial) Discussão crítica: marxistas • Símbolo x Signo (Hegel): SÍMBOLO: “O símbolo em geral é uma existência exterior imediatamente presente ou dada para a intuição, a qual, porém, não deve ser tomada do modo como se apresenta de imediato, por causa dela mesma, mas deve ser compreendida num sentido mais amplo e mais universal. Por isso, devem ser distinguidas a seguir duas coisas no símbolo: primeiro o significado e depois a expressão do significado. Aquele [o significado] é uma representação de um objeto [já sujeita, portanto, à projeção subjetiva] (...), esta [a expressão] é uma existência sensível ou uma imagem de qualquer espécie [ainda autônoma frente ao sujeito]”. (HEGEL, Cursos de Estética de Hegel 2000, p. 26). SIGNO: “O signo (Zeichen) é uma intuição imediata, mas que representa um conteúdo absolutamente distinto daquele que a intuição [do objeto] tem para si” (HEGEL, 1995, §458). Discussão crítica: marxistas • Símbolo x Signo (Aurelio): SÍMBOLO: “s.m. Objeto físico a quese dá uma significação abstrata: a balança é o símbolo da justiça. / Figura ou imagem que representa alguma coisa: a suástica é o símbolo do nazismo. / Qualquer signo convencional figurativo. / Fig. Sinal, divisa, emblema, marca, indício. / Lógica e Matemática Signo figurativo de uma grandeza, de um número, de um ser lógico ou matemático. / Química Letra ou grupo de letras adotadas para designar a massa atômica de um elemento: "Pb" é o símbolo do chumbo. / Religião Sinal externo de um sacramento. / Resumo das verdades essenciais da religião cristã: o Símbolo dos apóstolos (credo). / Numismática Figura ou sinal representado nas medalhas ou moedas antigas. / Psicologia Idéia consciente que revela ou mascara outra, inconsciente. SIGNO “s.m. Indício, marca, símbolo, sinal indicativo. / Cada uma das 12 divisões do zodíaco. / Constelação correspondente a cada uma dessas divisões. / Lingüística Qualquer unidade significativa, de qualquer linguagem, resultante de uma união solidária entre significante e significado. / Música ant. Nome geral da notação musical. / Fig. Expoente, elemento importante Discussão crítica: marxistas Suástica – um símbolo para diversas causas • Primeira lembrança: nazismo, orgulho nacionalista alemão e repúdio ao povo judeu • Conhecido pelo nome de “cruz gamada”, apareceu a mais de 3000 anos atrás em algumas moedas utilizadas na antiga Mesopotâmia. • Em sânscrito, a palavra suástica significa “aquilo que traz sorte”. • O posicionamento dos braços faz diferença: no sentido horário (conforme observado na bandeira nazista) a suástica chama divindades malévolas; no anti-horário atrair boas energias, referência ao deus Sol. • Chineses adotavam a suástica para representar o número 10.000; • Maçonaria: constelação próxima à estrela Ursa Maior. Discussão crítica: marxistas • Dinheiro enquanto símbolo: quando a denominação expressa o valor da mercadoria e o meio de circulação • Moeda enquanto signo: meio de circulação “Da função de dinheiro como meio circulante surge sua figura de moeda.” Discussão crítica: marxistas • “O conteúdo metálico das senhas de prata e de cobre é determinado de forma arbitrária pela lei. Na circulação elas se desgastam ainda mais rapidamente que as moedas de ouro. E, portanto, sua função monetária torna-se, de fato, totalmente independente de seu peso, isto é, de todo o valor. A existência do ouro como moeda dissocia-se radicalmente de sua substância de valor. Coisas relativamente sem valor, bilhetes de papel, podem, portanto, funcionar em seu lugar, como moeda. (MARX, 1983, p. 108). Discussão crítica: marxistas • Papel do Estado: “assim como a fixação do padrão de preços, a cunhagem é incumbência do Estado” • Quer dizer que o Estado segue o que está rolando no mercado? Discussão crítica: teoria estatal • Economistas e historiadores em geral assumem como fato histórico que a moeda emergiu como um veículo facilitador das trocas em detrimento das relações de escambo, como um instrumento de auxílio à atividade mercantil que apareceu conjuntamente ao desenvolvimento dos mercados, voltado sobretudo à redução de custos e dificuldades transacionais. “Efetivamente, o objetivo original do dinheiro foi facilitar a permuta (...)” (Aristóteles, 1997: 28). • Moeda vista como uma construção coletiva Discussão crítica: teoria estatal • Moeda surge como unidade de conta, a moeda cartal emitida por soberanos • Para servir à tributação: meio mais comum de subordinação para acumular riqueza, financiar guerras e assim mais poder e riqueza • Excedente => tributação (William Petty) ou Tributação => excedente (James Stuart) Discussão crítica: teoria estatal • A moeda passou a atuar simultaneamente na Europa Medieval: (i) como instrumento da autoridade para fortalecer sua função central, consolidar seu espaço de dominação e hierarquizar os tabuleiros em que rivalizava com outras autoridades; e (ii) como a mais importante forma de expressão da riqueza e, portanto, o principal alvo para a sua valorização e acumulação, bem como instrumento de arbitragem e de hierarquização entre aqueles quecompetiam pelos mais nobres espaços de sua reprodução. Discussão crítica: teoria estatal • Innes: erro de Smith – a troca não é simples compra e venda mas uma operação de dívida. Moedas são evidências de dívidas • Toda unidade de conta, inclusive a monetária, é uma denominação arbitrária, um padrão abstrato de medição, que, no caso da moeda, serve para mensurar débitos e créditos (abstrações também), assim como o valor das mercadorias e serviços. Discussão crítica: teoria estatal • Knapp: o reconhecimento social de uma mercadoria como meio de pagamento em uma comunidade depende de o poder soberano declará-la como tal. • Moeda é um meio de pagamento cartal, isto é, cujo valor dá-se por declaração e cujo reconhecimento, por sinais e formas estabelecidos em lei. “Money always signifies a Chartal means of payments. Every chartal means of payment we call money. The definition of money is therefore ‘a chartal means of payments’.” (KNAPP, 2003: 38). • Qual seria a visão dos keynesianos? • E dos monetaristas? • Mas se sempre a moeda está associada a uma autoridade central, que existe desde sempre, qual a peculiaridade do papel da moeda no capitalismo moderno? Referências (1) • LOPES, J. C.; ROSSETTI, J. P. Economia Monetária. SP: Atlas, 9ª Ed., 2005. Cap. 1 • KNAPP, G. F. The state theory of money. McMaster University Archive for the History of Economic Thought, 1924. Cap. 1 e 4. • PAULANI, L.; MULLER, L. “Símbolo e Signo: O Dinheiro no Capitalismo Contemporâneo”. Estudos econômicos, São Paulo, v. 40, n. 3, p. 793-817, out.-dez. 2010. 2. SISTEMA MONETÁRIO SUMÁRIO 2. Sistema monetário • Papel do Banco Central • Criação e destruição de moeda • Oferta de moeda • Demanda de moeda • Instrumentos de política monetária INTRODUÇÃO Moeda endógena vs exógena: • Endógena = deriva dos resultados da economia • Exógena = deriva das decisões da autoridade central PAPEL DO BANCO CENTRAL • banco dos bancos (emprestador de última instância, deposita encaixes) • banco do governo (empresta, compra/vende títulos da dívida, aonde os STN deposita recursos (T)) • emissor de moeda • depositário de reservas internacionais CRIAÇÃO E DESTRUIÇÃO DE MOEDA Tipos de meios de pagamento (de acordo com órgão emissor) • M1= PMPP + DV (DV também é chamado de moeda escritural) • M2 = M1 + depósitos de curto prazo (poupança) • M3 = M2 + depósitos de longo-prazo (renda fixa, operações compromissadas na SELIC) • M4 = M3 + títulos públicos Fonte: “Reformulação dos meios de pagamento – Notas metodológicas” BCB CRIAÇÃO E DESTRUIÇÃO DE MOEDA • Criar e destruir envolve sempre o setor bancário e o não bancário • Criar = troca entre ativo não monetário do setor não bancário por ativo monetário do setor bancário • destruir M1 = troca entre ativo monetário do setor não bancário por ativo não monetário do setor bancário • Exemplos OFERTA E DEMANDA DE MOEDA Próxima aula: • CARVALHO, F. C. (ed.) Economia monetária e Financeira: teoria e política. Ed. Campus, 2001. Cap. 1 e 2. • LOPES, J. C.; ROSSETTI, J. P. Economia Monetária. SP: Atlas, 9ª Ed., 2005. Cap. 2 e 3.
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