Buscar

HISTÓRIA DO DIREITO - 2013

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 48 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 48 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 48 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FACULDADE DE DIREITO DE FRANCA
HISTÓRIA DO DIREITO
VICENTE DE PAULA SILVEIRA
(ORGANIZADOR)
2012
HISTÓRIA DO DIREITO
INTRODUÇÃO
 
 “Todo Estado dispõe de ordenamento jurídico próprio, composto de normas nas quais se distinguem determinados valores protegidos pelo direito. Esses valores, ou bens jurídicos, contam com maior ou menor amparo perante as respectivas normas que os resguardam conforme a natureza e relevância que estas lhe emprestaram, no momento em que editadas e em face do ambiente para a qual se destinaram; e como substrato social se encontram em continuada alteração, também aquelas vão conhecendo periódicas mudanças, de acordo com a época e conveniência de sua manutenção, ou não”. (AZEVEDO, Luiz Carlos. Introdução à história do direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p.21).
 Considerando que o Direito está presente em qualquer meio social civilizado e não se conserva estático, mas se dinamiza e se transforma na medida em que as condições assim exigem, conclui-se claramente que não é possível apartá-lo da realidade histórica. É necessário, pois, saber como o Direito foi, até ontem, para melhor compreendê-lo, no momento atual, e melhorá-lo, amanhã.
 Em face do acima exposto, não há como negar a importância fundamental da História do Direito. A História do Direito fornece ao Direito atual a compreensão dessa retrospectiva, esclarece dúvidas, afasta imprecisões, levantando, passo a passo, a verdadeira estrutura do ordenamento jurídico, seus institutos mais sólidos e perenes, suas bases de fundo e suas características formais, até alcançar a razão de ser de seu significado e conteúdo, nas palavras de Luiz Carlos de Azevedo.
CONCEITO DE HISTÓRIA DO DIREITO 
 
 A História do Direito não se limita a um inventário, nem se reduz a erguer e revolver os antecedentes históricos das instituições ora vigentes; explica-se, não pela volta às antiguidades jurídicas, mas pelo fato de constituir o “único caminho para a compreensão da essência do Direito” na sua atual conjuntura (José Manuel Pérez-Prendes Muñoz de Arracó. Curso de historia del derecho español. Madri: Darro, 1978.p.17). 
 Segundo Luiz Carlos de Azevedo, a História do Direito:- “É tanto uma ciência histórica quanto jurídica; em face desta dualidade, sua área de atuação não se restringe a limites rígidos ou previamente direcionados; já que não se conforma com a mera descrição dos fenômenos jurídicos, deve compreendê-los e explicá-los desde o momento em que se sucederam, como na seqüência temporal na qual persistiram sobrevivendo ou deixando de existir”. E continua, “Ademais, se alguém aspira a empenhar-se com afinco ao estudo do direito, empregando-o e utilizando-o para o exercício de sua atividade profissional, não pode reduzir-se à leitura sistemática dos textos legais vigentes, aplicando-os mecanicamente na medida em que possam se ajustar aos casos concretos; a tarefa é sobremaneira ingente (muito grande, enorme, imensa): compreensão e explicação; sugestões e idéias; experiência e interpretação são qualidades que se integram a este trabalho; e no qual se insere, por sua vez, a História do Direito, pois ela ensina que o direito não surgiu espontaneamente ex nihil, mas sempre esteve condicionado a incontáveis ordens de realidade, nunca estáticas, mas dinâmicas, e que se alternam conforme igualmente se modificam outros inumeráveis fatores que a vida continuamente proporciona”. 
 A História do Direito deixou de ser meramente descritiva, para fornecer a reconstrução viva dos fatos, colocando-os à luz de “processos orgânicos e evolutivos”; trata-se de conhecer “o ambiente físico, os fatores étnicos e o meio social em que as instituições jurídicas nascem e se desenvolvem; e de observar a origem e transformação dessas instituições, relacionando-as com o condicionalismo social e natural de que são produto” (Waldemar Martins Ferreira. História do direito brasileiro. Rio de Janeiro-São Paulo: Freitas Bastos,1951.p.17-18).
 Em que pese a importância da História do Direito já demonstrada, Henri de Page, citado por John Gilissen, na sua Introdução histórica do direito, assim se refere a ela: “A história do direito é muitas vezes tratada com um condescendente desdém, por aqueles que entendem ocupar-se apenas do direito positivo. Os juristas que se interessam por ela, quase sempre à custa de investigações muito longas e muito laboriosas, são freqüentemente acusados de pedantismo... Uma apreciação deste gênero não beneficia aqueles que a formulam. Quanto mais avançamos no direito civil, mais constatamos que a História, muito mais do que a Lógica ou a Teoria, é a única capaz de explicar o que as nossas instituições são as que e porque é que são as que existem” (Henri de Page. Traité de Droit Belge. Bruxelas: [s.n.], 1942.p.806. Apud John Gilissem. Introdução histórica ao direito. Trad. Antônio Manoel Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979.p.13). 
 No Brasil a Resolução CNE/CES nº 9, de 29 de setembro de 2004, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Direito, em seu artigo 5º ressalta a importância dos estudos históricos quando insere a História como conteúdo essencial para os estudos jurídicos, dentro do Eixo de Formação Fundamental que tem por objetivo integrar o estudante no campo jurídico, estabelecendo as relações do Direito com outras áreas do saber (Antropologia, Ciência Política, Economia, Ética, Filosofia, História, Psicologia e Sociologia). 
3. OBJETO DE ESTUDO E OBJETIVOS
“A História do Direito estuda, cronologicamente, o direito como fato empírico e social, resultante da interação humana, salientando os seus caracteres peculiares, as causas ou motivos de suas mutações ou transformações, envolvendo a experiência jurídica do passado, procurando individualizar os fatos e integrá-los num sentido geral, ao se ater à evolução das fontes do direito (fontes formais, compreendendo a legislação, o costume jurídico, a jurisprudência, a doutrina, o poder negocial e o poder normativo dos grupos sociais e fontes materiais, compreendendo a realidade social e os valores sintetizados no conceito amplo de justiça), ao desenvolvimento jurídico de certo povo, à evolução de ramo específico do direito (história do direito civil, penal, etc.), ou de uma instituição jurídica (história da propriedade, do casamento, etc.), mostrando a sua projeção temporal em conexão com as teorias em que se baseiam” (Maria Helena Diniz. Compêndio de introdução à ciência do direito, p. 208).
A História do Direito tem por objetivo a interpretação dialética (dialética: arte de raciocinar, deduzir ou persuadir com método e justeza; modo de argumentar e discutir ou debater com fundamento na lógica; argumentação segura, engenhosa e fundamentada) do fenômeno jurídico e seu dimensionamento em função do tempo.
Segundo Miguel Reale, a História do Direito “pode se desenrolar em três planos que se correlacionam: o dos fatos sociais (aspecto sociológico), que explicam o aparecimento das soluções normativas, bem como as mutações esperadas no ordenamento jurídico, dando relevo ao problema das fontes do Direito; o das formas técnicas de que se revestem tais soluções normativas, pela constituição de modelos institucionais ou normativos (aspecto técnico) e o das idéias jurídicas que atuam como fins, nas alterações verificadas nas fontes e seus modelos normativos (aspecto filosófico)” (Miguel Reale, Lições preliminares de direito, p. 323).
No século XIX e início do século XX, a História do Direito era vista à luz das idéias de evolução e progresso dentro de um panorama unitário e englobante, porém, em nossos dias, prevaleceu a idéia de ciclos culturais sem preocupação de descobrir as leis universais da experiência jurídica, enfatizando a história de institutos e instituiçõesparticulares (com dedicação especial à História do Direito de cada país, que apresenta traços comuns quando se refere a povos da mesma “família cultural”.
4. EVOLUÇÃO DO DIREITO POSITIVO
Entendemos por Direito Positivo o conjunto de normas estabelecidas pelo poder político passíveis de serem impostas coercitivamente, com o objetivo de regularem a vida social de um dado povo em determinada época. É o Direito histórica e objetivamente estabelecido, efetivamente observado, encontrado em leis, códigos, costumes, tratados internacionais, resoluções, regulamentos, decretos, decisões dos tribunais, etc., aplicado pelas autoridades do Estado e pelas organizações internacionais. Oportunamente voltaremos a esse tema; por ora basta a conceituação de Direito Positivo e sua evolução.
Como questão preliminar, podemos afirmar que a lei (nome próprio e técnico para designar as normas do Direito Positivo) não surgiu repentinamente e nem o problema da jurisdição, da atividade decisória dos juízes, acompanhou o homem desde as suas origens.
O Direito foi em primeiro lugar um fato social bem pouco diferençado, confuso com outros elementos de natureza religiosa, mágica, mal ou meramente utilitária.
4.1 DIREITO NA ANTIGÜIDADE
4.1.1 DIREITO PRIMITIVO
 Nas sociedades primitivas o Direito era um processo de origem costumeira. Não se pode nem mesmo afirmar que havia um processo jurídico costumeiro, uma vez que as regras jurídicas se formaram anonimamente no todo social, em confusão com outras regras não jurídicas. Dos costumes primitivos, paulatinamente se desprenderam as regras jurídicas discriminadas e distintas das regras morais, higiênicas, religiosas, etc. Mesmo quando o homem começou a ter vaga noção dessas distinções, o Direito foi, durante milênios, pura e simplesmente um amálgama de usos e costumes.
As regras no Direito primitivo se originavam da força (moral ou física) onde a supremacia de um indivíduo se empunha na tribo pelo prestígio, advindo de sua inteligência, de sua sabedoria, astúcia, força física e se expressavam também através de procedimentos religiosos, mágicos, pois o homem primitivo era um ser dominado pelo temor, precisando defender-se de todos e de tudo. Na realidade ele se defende de si mesmo pela sua angústia permanente em face da existência, ante a natureza que o envolve e que ele não compreende.
Segundo Miguel Reale, “essa posição do homem primitivo, dá uma coloração mágica às primeiras regras jurídico-sociais que se ocultam na noite dos tempos” “Não pensem que o Direito surgiu com os romanos, que tem a história curta do Código do rei Hamurabi, que é de dois mil anos antes de Cristo. Os etnólogos nos afirmam que, em épocas remotas, houve cavernas em que trabalhavam dezenas de indivíduos empenhados na fabricação de machados neolíticos para serem vendidos em mercados distantes. A existência dessas cavernas implica uma discriminação de tarefas já naquela época e, do direito civil, penal, etc., por conseguinte, uma relação de senhores e escravos, primária e tosca forma de relação de trabalho, visando à relação de troca, etc.”.
Etnologia: ciência que estuda os fatos e documentos levantados pela etnografia no âmbito da antropologia cultural e social, buscando uma apreciação analítica e comparativa das culturas. No campo do Direito a etnologia é o estudo comparativo do direito dos povos em sua evolução histórica.
Etnografia: registro descritivo da cultura material de um determinado povo. 
Segundo Declarevil, “o Direito mais antigo foi exclusivamente consuetudinário, tendo por origem, geralmente a decisão tomada um dia por um chefe ou uma sentença conhecida ou não como tal”. Assim também entende Cogliolo, quando escreve: “um povo deixa a vida nômade e se apresenta com certa solidez, as contendas privadas deixam de ser resolvidas com as armas na mão e passam a ser decididas pelo chefe da tribo, pelo pai de família ou pela pessoa mais velha e mais considerada. A primeira fonte do Direito é, pois, a sentença do juiz. Antes de existirem os costumes e as leis, existem as sentenças dos chefes”. A repetição e a autoridade dos chefes que as prolataram, tornaram-nas precedentes, surgindo assim o costume. 
Com a multiplicação e complexidade crescente das relações jurídicas e com a transformação quantitativa e qualitativa das sociedades, os costumes tornaram-se incertos, passando a ser compilados pelos reis ou sacerdotes, originando-se daí códigos antigos. Em tais códigos nota-se perfeitamente a origem casuística das regras. Assim, por exemplo, no Código de Hamurabi, gravado em enorme bloco cilíndrico de pedra negra, os antigos apresentam um caso concreto acompanhado de uma solução jurídica. As suas regras são formuladas em breves sentenças, como por exemplo: “A esposa que mandar assassinar o marido por gostar de outro homem será empalada”.
Empalação: punição corporal antiga infligida ao condenado, a qual consistia em espetar-lhe, pelo ânus, uma estaca, deixando-o, dessa maneira até a morte. (Empalar: espetar, enfiar).
O Direito primitivo era respeitado religiosamente pelo grande temor às suas sanções draconianas e desumanas, bem como pelo medo de vingança dos deuses que o teriam ditado como acreditavam os povos primitivos - daí o ilícito se confundir com o pecado, ou seja, com o desrespeito à divindade que o ditou.
Preleciona Paulo Dourado de Gusmão que nos códigos antigos não há distinção entre Direito Civil e Direito Penal, podendo-se dizer que do Direito Penal surgiu, bem como disse Ihering, o Direito Civil. A noção de culpabilidade lhe era estranha, respondendo o criminoso pelos seus atos, independente de culpa, juntamente com sua família, bem como destruídos os seus pertences e tudo que ele havia tocado com suas mãos. Da mesma forma, débito não pago significava pecado sendo o devedor faltoso sacrificado pela prestação não executada. O juramento dava segurança aos negócios. Predominava a crença de que não honrá-lo era pecado. Se tal ocorresse o grupo poderia sofrer as conseqüências da ira divina, se o faltoso não fosse exemplarmente punido. Os sacerdotes-juízes ou os reis-juízes invocavam divindades para saber com quem estava a verdade, a fim de que com sua intervenção fosse apontado o criminoso, protegido o inocente e castigado o culpado. Os julgamentos de Deus (Ordálios) sob a forma de prova do fogo, do veneno ou da imersão do corpo em água fervente e se acusado não morresse no caso do fogo ou do veneno ou se as queimaduras fossem curadas sem seqüelas, no caso da água fervente, era considerado inocente e em caso contrário, culpado. 
Nos julgamentos de Deus com o emprego do duelo, os acusados duelavam fisicamente (duelo de armas) ou verbalmente (duelo judiciário) e o vencedor era considerado inocente perante Deus. 
A princípio, a violação dos costumes deu lugar à justiça privada, à “lei de talião” (do latim talis, que significa igual,tal, ou seja, punir uma pessoa com o mesmo dano que haja causado a outrem - dente por dente, olho por olho, como está no texto bíblico), impondo represália igual à ofensa (pena privada). Porém, tal solução, fonte de insegurança e intranqüilidade, acabou sendo substituída pela composição pecuniária, a princípio maior que o prejuízo, em regra o dobro, inicialmente com caráter facultativo (pena privada, como prescrevia, por exemplo, o Código de Ur-Namu) descoberto depois da última guerra, contido na “Tabuinha de Istambul”, muito anterior ao de “Hamurabi”, também mesopotâmico.
O direito primitivo se caracteriza pelo formalismo, pelo cerimonial, prevalecendo a forma, os atos simbólicos, os gestos, as palavras sagradas e os rituais sobre o conteúdo dos atos e das ações, não sendo possível investigar o sentido ou o espírito da lei. (Hermenêutica: descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica).
O formalismo jurídico, no dizer de Cogliolo, compõe-se de duas partes distintas; atos e palavras, sobressaindo o ato, depois as palavras, faladas ou escritas. Assim, o formalismo das palavras sucede o dos atos, desaparecendomais tarde. Da palavra surgiu o Direito, e da fórmula a ação judicial. Com o tempo, a palavra e a fórmula perderam o significado arcaico, sendo mantidas pelo uso. Tardiamente o homem se libertou das fórmulas, porém, não totalmente, pois até hoje, sem caráter sagrado, algumas fórmulas e formas são empregadas no Direito para atos legislativos e para certos atos e negócios jurídicos, como por exemplo, o compromisso no casamento ou a forma na compra-e-venda de imóvel.
Para uma melhor compreensão e aprofundamento a respeito da História do Direito Universal, sugerimos a leitura do livro de Jayme de Altavila, Origem do Direito dos Povos (Editora Melhoramentos) onde o autor aborda com propriedade e segurança o Direito egípcio, mesopotâmico (Código de Hamurabi e Código de Ur Namu), mosaico (Pentatêutico) que compreende o conjunto dos cinco primeiros livros da Bíblia, contendo a legislação civil e religiosa de Israel (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e o Deuteronômio, este último era tido como o “Livro da Lei”, que além de matéria jurídica, prescrevia preceitos morais e religiosos), indiano (Código de Manu), da Grécia Antiga (direito das cidades gregas de Esparta com as Leis de Licurgo e Atenas e com as Leis de Dracon, rígidas e duras, substituídas pelas leis de Sólon, mais moderadas, acabando inclusive com a escravização por dívidas, etc), islâmico (Alcorão, livro sagrado do Islamismo) e Direito Romano (Lei das XII Tábuas que codificou o direito romano primitivo e a codificação de Justiniano, que recebeu o nome de Corpus Juris Civilis e incorporou a codificação anterior).
4.1.2 DIREITO EGIPCIO. MESOPOTÂMICO, MOSAICO, INDIANO E ISLÂMICO
 
 O antigo Egito corresponde ao Estado do Egito atual e, em alguns períodos, boa parte do atual Sudão, antiga região da Núbia. 
 “Na Civilização Egípcia predominou, como nas demais teocracias da Antigüidade, a Religião. Por isso, o direito egípcio sofreu a infuência do elemento religioso. O seu estudo é difícil pela precariedade de fontes. Os documentos jurídicos egípcios (atos jurídicos e decisões judiciais) desafiaram os séculos em papiros, que o clima seco do Egito conservou até nós. O mais antigo que se conhece é o Papiro de Berlim, da VI Dinastia (2420-2294). Luta-se assim no estudo desse direito com a deficiência de fontes. Sabe-se que as terras eram de propriedade do rei, podendo as castas privilegiadas usufruí-las, pagando tributos altíssimos à Coroa. Compra-e-venda de terras não era conhecida, reduzindo-se o direito de propriedade e dos contratos a locações de serviço e a transações com bens móveis, objetos de propriedade privada. As obrigações a serem cumpridas no futuro eram assumidas mediante juramento, com invocação do nome (não de deuses) do Faraó., como garantia de sua observância. Em virtude da crença na continuidade de vida depois da morte, era comum haver contratos em que a parte que sobrevivesse obrigava-se a levar oferendas periódicas ao túmulo da que morresse primeiro. Tais contratos são equiparados por Erwin Seidl (El Legado Egipto, trad.) às donationes pro anima medievais, ou seja, ao compromisso de uma pessoa mandar celebrar missa pela alma da outra. No casamento, uma das formas de contrato, a mulher mantinha a propriedade de seus bens. O divórcio só o marido podia obtê-lo. Mais tarde, ao tempo dos Ptolomeus, a mulher conquistou esse direito. A autoridade do marido e o pátrio poder eram absolutos. O testamento, desconhecido. Entretanto, permitia o direito egípcio que, por ato inter vivos, pudesse ser feita a doação de bens móveis a outrem, produzindo efeitos após a morte do doador. O doador, para se garantir, retinha em seu poder o documento que a comprovava, que com sua morte era entregue ao donatário. A posse desse documento transferia a propriedade dos bens doados. Era comum o ato jurídico ser celebrado em “documento duplo” (E. Seidl, ob.cit.), sendo um deles, o original, selado, fechado, lacrado e arquivado; a cópia circulava; o original era aberto em Juízo quando fosse posta em dúvida a autenticidade da mesma. Os atos jurídicos eram celebrados com observância de formulários preestabelecidos. Havia atos solenes, celebrados por escribas (funcionários) , na presença de testemunhas, autenticados com o selo real. Os tribunais, cujos juízes eram os dignitários locais, julgavam em nome do Faraó, orientados por um funcionário da corte, que dirigia o julgamento. O tribunal só podia iniciar o julgamento com a presença desse funcionário. A tortura era meio de prova usualmente empregado não só aos acusados, como, também, às testemunhas. As penas eram cruéis e draconianas. Para o homicídio, pena de morte; para o parricídio, a morte na fogueira; para o adultério, mutilações e vergastadas.(parricídio: crime cometido por um parricida, isto é, aquele que matou um parente – qualquer descendente – pai, mãe, avô, avó, filho, filha, tio, tia, neto, neta. Reserva-se, porém, a denominação de matricídio, o crime cometido pelo indivíduo que matou a própria mãe). Mas, se a mulher adúltera estivesse grávida, a execução da pena só ocorria depois do parto. Para o furto, escravização do ladrão ou mutilação. Assim, bastonadas, mutilações (ablações das orelhas, do nariz, da língua ou das mãos), exílio, lançamento à fogueira com mãos e pés amarrados, eram as penas mais usadas no direito penal egípcio. O direito internacional parece ter sua pré-história no Egito. Conhece-se um tratado de aliança e paz celebrado por Ramsés II (1297-1231) com o rei hitita Hattusibis III.” (Paulo Dourado de Gusmão. Introdução ao estudo do direito,p.294/295). 
 
 4.1.3 DIREITO MESOPOTÂMICO
 
 A Mesopotâmia antiga corresponde, de modo geral, ao atual Iraque, com algumas regiões localizadas em partes das nações hoje designadas Turquia (antiga Ásia Menor), Irã e Arábia Saudita.
 O documento legal que melhor representa o Direito Mesopotâmico é o famoso Código de Hamurabi, gravado num enorme bloco cilíndrico de pedra negra, de 2,25 m de altura, com 2m de circunferência, encontrado em 1902, na cidade persa de Susa, para onde fora levado, por volta de 1175 a.C., como despojo de guerra. E se encontra atualmente no Louvre. Nele, ao alto e em baixo relevo, vê-se bem o rei Hamurabi, também chamado Khamu-Rabi (de origem árabe), assimilando, por inspiração divina, os decretos de eqüidade, grafados na parte inferior do código de pedra, em 46 colunas, contendo um texto de 3.600 linhas, dispostos em 14 capítulos e 282 artigos. Os babilônicos acreditavam que Hamurabi recebeu esse código de Shamash, o deus Sol, tornando-se o “rei do direito”, com a missão de decidir com eqüidade e disciplinar os maus e os mal-intencionados e impedir que o forte oprima o fraco.
 O Capítulo I dedica-se aos Sortilégios (feitiçaria,bruxaria), juízo de Deus, falso testemunho, prevaricação de Juízes (prevaricar: desobedecer – crime cometido por funcionário público, quando indevidamente, este retarda ou deixa de praticar ato de oficio, ou pratica-o contra disposição legal expressa, usando satisfazer interesse pessoal).
 O Capítulo II refere-se a Crimes de furto e de roubo e reivindicações de móveis. 
 O Capítulo III destina-se aos Direitos e deveres dos oficiais, dos gregários e dos vassalos em geral e organização do benefício.
 O Capítulo IV regula as Locações e regime geral dos fundos rústicos. Mútuo (contrato de empréstimo oneroso, diferente do comodato, que é gratuito), locação de casas, doação em pagamento.
 O Capítulo V estabelece as Relações entre comerciantes e comissários. 
 O Capítulo VI, composto apenas de quatro artigos, tem por epígrafe (do grego: epigraphe – inscrição) – título ou frase colocada no início de um livro, de um capítulo, de um poema, servindo de tema: Regulamento das tavernas (taverneiros, prepostos, polícia, penas e tarifas).
 O Capítulo VII estabelece os vínculos das “Obrigações” (contratos de transporte, mútuo), processo executivo e servidões pordívidas.
 O Capítulo VIII cuida dos Contratos de depósito.
 O Capítulo IX sintetiza num único artigo a Injúria e difamação.
 O Capítulo X versa sobre: Matrimônio e família, delitos contra a ordem de família. Contribuições e dotações nupciais. Secessão (separação).
 O Capítulo XI refere-se à Adoção. Ofensas aos pais. Substituição de criança.
 O Capítulo XII é geralmente o mais citado e se refere aos Delitos e Penas (lesões corporais, talião, indenização e composição).
 O Capítulo XIII destina-se aos Médicos e veterinários; arquitetos e bateleiros (Salário, honorários e responsabilidade). Choque de embarcações.
 O Capítulo XIV encerra a corporificação jurídica, tendo este enunciado: Seqüestro, localização de animais, lavradores de campos, pastores, operários. Danos, furto de arneses, de água, de escravos (ação redibitória – ação do comprador contra o vendedor para que este responda pelos vícios redibitórios da coisa vendida, os quais eram dele ocultos ou desconhecidos – ação pelos defeitos encontrados na coisa, que não estavam no contrato, tornando-a imprópria ao uso ou diminuindo seu preço justo), responsabilidade por evicção (desapossar judicialmente. Ato pelo qual vem um terceiro desapossar a pessoa da coisa ou do direito que não se encontrava sob sua posse – evicto: vencido, pessoa que sofreu evicção; evictor: pessoa que intenta a evicção para desapossar daquilo que lhe pertence) e disciplina.
 Em 1952 foi descoberta a “Tabuinha de Istambul”, na qual encontramos um código mais antigo, denominado Código de Ur-Namu, também mesopotâmico, porém, menos famoso do que o Código de Hamurabi.
 Hersílio de Souza, em sua obra, Novos Direitos e Velhos Códigos (Recife, 1924), nos oferece uma tradução do Código de Hamurabi, organizada de acordo com o trabalho de Pietro Bonfante, Le leggi di Hamurabi, Re di Babilonia , com 14 capítulos, distribuídos num texto de 282 artigos, sem preâmbulo e nem fecho.
 Para a análise estrutural e normativa do Código de Hamurabi, recomendamos a obra já citada de Jayme de Altavila, Origem dos Direitos dos Povos. 
4.1.4 DIREITO MOSAICO 
 
 No opúsculo sobre “O Direito na Bíblia”, elaborado por Regis Fernandes de Oliveira, ex titular de Direito Financeiro da Universidade de São Paulo (1934) e Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (1990/1993), o autor aponta no texto bíblico, o material jurídico de interesse, tecendo comentários sobre as infrações previstas nas normas jurídicas e respectivas sanções, bem como os institutos que subsistem até hoje, seguindo, rigorosamente, a ordem dos livros bíblicos no Velho e Novo Testamento, conforme o abaixo exposto.
VELHO TESTAMENTO:
 
 A constituição político-religiosa do Velho Testamento não contém exclusivamente matéria jurídica, prescrevendo preceitos morais e religiosos, acima de tudo rituais, sob a forma de sentenças, salmos, provérbios, que expressavam a vontade de Deus, objetivando proteger o povo hebreu (“povo eleito”).
 A Torá (Pentateuco - Bíblia/Velho Testamento) foi um dos códigos fundamentais da humanidade. Dos seus cinco primeiros livros (Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), o de maior importância jurídica é o Deuteronômio, uma vez que os outros livros antecedentes fixam a Cosmogonia (ciência afim da Astronomia, e que trata da origem e evolução do Universo) e a história israelita, apesar de apresentarem, também, assuntos de natureza jurídica
 A principal pena prevista pela Torá é a lapidação (morte por apedrejamento), aplicada aos feiticeiros, filhos rebeldes, prostitutas e mulheres adúlteras
Gênesis: primeira citação (3.8/9); primeiro homicídio (4.8); primeiro julgamento e a primeira pena (4.10/12/15/16); bigamia (4.19); primeiro acordo (6.11, 9.9/11/16/17, 17.9/10; prova (17.11); pagamento (21.30); declaração pública (21.30); instrumento público e particular de contrato (21.30); direitos (25.33); Tratado Internacional (26.29); contrato de casamento (falsa identidade) (29.18/19/21/25); locação de serviços (30.16); o contrato (19.21/22, 31.47/48/51/52, 37.28); calúnia (39.13/15).; estupro (34.2/27); o administrador público (41.40/41); o direito de alimentos (47.12).
Êxodo: ameaça (9.18, 10.3/6, 11.4/5); prova de compromisso (12.7/12); instituição de juízes e Juizado de Pequenas Causas (18.21/23); o direito costumeiro (20.3/4/7/8/12/13/14/15/16/17, 21.7/15/16/22) código e as leis (os Dez Mandamentos – 20.21); leis e regulamentos (20.21); aborto (21.22/23); sanções criminais e civis; responsabilidade civil; normas urbanísticas (24.8, 39.33/40).
Levítico: dolo e culpa (4.2); falso testemunho (5.1/4); culpa presumida; presunção do conhecimento das leis (5.17); previsão legal de não devolver coisa encontrada; apropriação indébita e deixar de pagar o penhor (6.2/3); proporcionalidade da sanção (6.4/5/6); Direito Sanitário (13.45/46); medidas urbanísticas (14.43/44); demolição (14.45); periclitação da saúde (15.1/2/15/19, 18.19); impedimentos matrimoniais (18.7/8/10/15); atentado violento ao pudor (homossexualismo) (18.22/23); tipificação de crimes: roubo (19.11), falso testemunho (10.11), apropriação indébita (19.13), injúria, calúnia e difamação (19.16), adultério (20.10); pena de morte (20.12/13/15, 24.17/19/20); vigência pessoal da regra jurídica (24.22); direito de arrependimento e pacto de retrovenda (25.24); doação e sua revogação (26.9/10).
Números: depósito e apropriação indébita (5.5/6); troca (9.16); a vigência do direito (15.15/16); o Direito das obrigações e a obrigação de dar, de fazer e de não fazer (30.3); agravantes no crime de homicídio (35.16/21); o preterdolo: que resultou em resultado mais grave do que esperava, embora a vontade do criminoso fosse dirigida à prática menos grave (35.16/21); crime culposo (35.22).
Deuteronômio: (do grego deuter: segundo e nomia: lei – segundo a lei), atribuído pela Bíblia ao rei de Judá, Josias (621), era tido como o “Livro da Lei encontrado na casa de Yahvé (Jeová – deus universal), pelo sumo-sacerdote”.
 A seguir, fixaremos nossos estudos nos temas de interesse jurídico, encontrados no Deuteronômio, abaixo relacionados, deixando de lado as práticas religiosas, morais e higiênicas.
 * Juiz (1.14/16)
 * Legislador (5.7/21)
 * Servidores do Judiciário (16.18)
 * Regras sobre o julgamento (16.19/20)
 * Corrupção do magistrado (16.19/20)
 * Testemunha única (17.6).
 * Codificação (17.18).
 * Recursos (17.9/10/11).
 * Execução (17.10/11)
 * Cumprimento de pena em regime aberto (19.4/7).
 * Circunstâncias agravantes (19.11/13).
 * Esbulho possessório, posse e propriedade (19.14, 22,28).
 * Falso testemunho (19.16/21).
 * Norma edilícia (22.8).
 * Difamação e adultério (22.18/19/22/25/27).
 * Juros, penhora e impenhorabilidade do bem de família (23.19/20, 24.6).
 * Casa como asilo inviolável (24.10/13).
 * Pessoalidade das penas (24.16).
 * Transações comerciais e o Código do Consumidor (25.13/16). 
 * Justiça (1.17; 4.8; 16.18/19/20).
 * Educação e Cultura (4.5/6).
 * Descanso Semanal (5.12/13/14).
 * Regras Gerais de Direito (5.17/18/19/20).
 * Dispositivos de Direito Internacional (10.19/20/; 23.7; 24.17).
 * Normas Processuais (13.14).
 * Limites de Propriedades (19.14).
 * Assistência Social (14.27/28/29; 15.7/8).
 * Direito do Trabalho (15.12/13).
 * Princípios de Direito Constitucional (17.15/16/17/18).
 * Repressão ao Charlatanismo (18.10/11).
 * Homicídio Involuntário e Cidades de Asilo (19.4/5/6/11/12).
 * Prova Testemunhal(19.15).
 * Estupro (22.28).
 * Falso Testemunho (19.16/17/18/19).
 * Penalidades (19.21 (lei de talião); 24.16; 25.1/2).
 * Pesos e Medidas Justas (25.13/14/15).
 * Divórcio (22.13/15/16/17/18/19/20/21; 24.1/2/3/4)
 * Adultério (22.22).
 * Bens Impenhoráveis (24.6).
 *Usura (23.6) – empréstimo de dinheiro a juros superiores à taxa legal. Agiotagem.
Josué: aquisição originária da propriedade; o crime de favorecimento pessoal é praticado contra a administração da Justiça.
Juízes: deserdação (11.2); autorização para que tropa estrangeira transite pelo pais (11.14/17); estupro (19.25/26).
Rute: compra e venda e sua confirmação (4.7/8).
Samuel 1: aposentadoria como direito (8.1).
Samuel 2: adultério (12.1/4); estupro (13.14); recenseamento (24.2).
Reis 1: julgamento de Salomão (3.27); normas urbanísticas (6.1); autoridade - investidura no cargo (12.1); posse e propriedade (21.16).
Reis 2: nada a ressaltar de importante.
Crônicas 1: sucessão e impedimentos matrimoniais (10.4); auxílio ou instigação ao suicídio (10.4/5).
Crônicas 2: regras urbanísticas (2.4);Senado (10.8/9); tutela (24.1).
Esdras: registro de nascimento (2.59); impostos (6.7/8); imunidade tributária de templos (7.24); confisco (7.26).
Neemias: juros ext (8.8); autenticação de documentos (8.8).
Ester: delegação (8.8); autenticação de documentos (8.8).
Jó: raciocínio jurídico e persuasão racional (9.32/33); princípio do contraditório (10.2); defesa (13.18).
Salmos: obediência à Justiça (11.3); políticas públicas (11.5, 72.1/2/3); vedação à quebra de contratos (89.34).
Provérbios: aval ou fiança (6.1); vadiagem (6.6); castigo físico aos filhos - pátrio poder (6.23, 13.24); flagrante (6.31); Ministros e Secretários (11.14); falso testemunho (14.5, 19.9); corrupção (15.27, 17.23); boa fé nos negócios jurídicos (16.11); apropriação de bens de órfãos (23.10); obediência às autoridades - vedação à sedição (24.21); punição aos usuários (28.8); tributos (28.16); crime contra a administração da Justiça - favorecimento pessoal (29.24).
Eclesiastes: herança (2.20/23); alimentos (3.12).
Cântico dos Cânticos: nada a destacar.
Isaías: Ministério Público (4.11); julgamento (17.1, 19.1, 21.1, 22.1, 23.1); Tratados Internacionais (33.3); defesa (41.1); obrigações de fazer (46.6); direito ao silêncio (53.7).
Jeremias: divórcio (3.1); bem de uso comum do povo (5.21); delitos omissivos (5.29); salário (22.13); pessoalidade da sanção (31.30); testemunhas instrumentárias (32.9/10); instrumento público em cartório (32.12, 36.20); posse (37.12); prisão especial (37.21); co-autoria (40.13/14).
Lamentações: camelôs ou “marreteiros” (1.4).
Ezequiel: sanção (7.7, 14.13); troca (27.13); imunidade do templo (44.12); testemunha e o dever de dizer a verdade (44.12); leis urbanísticas (45.2); polícia de pesos e medidas - poder de polícia (45.10); bens de uso comum do povo - classificação (46.18).
Daniel: Ministros (1.19); irrevogabilidade das leis (6.15); ordem de prisão (6.16); tribunais (7.10).
Oséias: adultério (2.5).
Joel: nada de importante.
Amós: juízes corruptos (2.6); corrupção ativa (2.6, 3.10); excesso de exação (5.11); corrupção passiva (5.12); direito do consumidor (9.5).
Obadias: representação diplomática (1.1).
Jonas: arrependimento eficaz (3.10).
Miquéias: presunção do conhecimento da lei (3.1); corrupção (3.11); concussão (7.3).
Naum: nada a ressaltar.
Habacuque: corrupção (1.4); execução de dívidas (2.7); enriquecimento ilícito (2.9).
Sofonias: incriminação de todos que, de qualquer forma, agridem o patrimônio particular ou público – lucros desonestos – via furto, roubo, estelionato (do latim stellionatus: fraude, engano, embuste, ardil – qualquer espécie de fraude, em virtude da qual se induza alguém em erro, para conseguir vantagem ilícita, que tem em mente, sem violência ou coação. Ex: vender coisa alheia, dar cheque sem fundo), apropriação indébita, etc (1.9); juros (1.11); juiz desonesto (3.3).
Ageu: nada de interessante, juridicamente.
Zacarias: julgamento à morte (5.3).
Malaquias: nada de importante, em termos jurídicos.
NOVO TESTAMENTO
Mateus: ratificação de lei – repristinação (do latim: re + pristinus – retorno ao antigo, volta ao passado, adoção de preceito que já não se encontrava em voga. Norma revigorada) e desuso (5.17); interpretação da lei (5.28); revogação (5.31/32/39); provas (12.39/40); execução (18.28); salário (20.1); separação Estado-Igreja (22.21); empréstimo (25.15); recurso (26.59); conflito de competência (26.65/66); imposto sobre atividades lícitas (27.5); perdão e indulto; irresponsabilidade (27.15/24); poder de polícia (27.65).
Marcos: divórcio (10.9); arrendamento (12.1); esbulho possessório (12.7); estelionato (12.40); sentença (14.63/67).
Lucas: recenseamento (2.1); fiscalização e corrupção – concussão (do latim: concussio – extorsão . Exigência abusiva do funcionário público ou autoridade pública, que encarregada de arrecadar dinheiro, oriundo de impostos, direta ou indiretamente exorbita de seus deveres, fazendo com que os contribuintes paguem mais do que realmente devem pagar. Ou, em razão do cargo, exige de outrem qualquer vantagem, para si ou para outra pessoa - 3.13/14); ilegalidade (6.2, 14.3); empréstimo - perdão da dívida (8.41/42); auto-composição da lide (12.58); confissão (22.70/71); conflito de competência (23.7/11). Obs. Denomina-se “antinomia” o conflito entre normas jurídicas. Supera-se o conflito pelos critérios: cronológico (a norma posterior prevalece sobre a anterior); hierárquico (a norma superior prevalece sobre a inferior); especialidade (a norma especial prevalece sobre a geral).
João: direito de defesa (7.50); adultério (8.4); furto (12.6); representação (14.26); prova (18.23); direito a conhecer a acusação (18.29).
Atos: política pública (6.2); objeto impossível de contrato (8.18/19); especialização da Justiça (12.19); aplicação da lei (15.23/29); expedição de alvará judicial (16.36); julgamento (16.37); linchamento - exercício arbitrário das próprias razões (21.30, 7.59); direito a defesa (22.1, 24.2/8/10/21/26, 25.16).
Romanos: vigência da lei (7.2); cargo público (12.8); policia (13.4); obediência à lei (3.5, 13.1).
Coríntios 1: deveres matrimoniais (7.3/5); clareza na expressão (14.6).
Coríntios 2: interpretação das leis (3.6).
Gálatas: testamento (3.15); dois sistemas de leis (3.19/24).
Efésios: nada de importante, em termos jurídicos.
Filipenses: idem.
Colossenses: idem.
Tessalonicenses 1 e 2: idem.
Timóteo 1: respeito às autoridades (2.2); direito ao salário (5.18).
Timóteo 2: nada a destacar.
Tito: obediência os governantes (3.1).
Filemom: nada a destacar.
Hebreus: revogação (8.9); testamento (9.16/17); ato ilícito (10.17).
Tiago: calúnia, injúria e difamação (3.6).
Pedro 1: obediência às leis; crimes contra a honra.
Pedro 2: nada de jurídico.
João 1, 2 e 3: nada de relevo para o mundo jurídico.
Judas: nada a destacar.
APOCALIPSE: sem importância jurídica.
 
 Will Durant em sua obra filosófica, afirma:- “A Grécia teve cultura, mas não revelou coração; até seus filósofos defendiam a escravidão. Se os gregos produziram arte e ciência, dos judeus saiu a idéia de justiça social e dos direitos do homem. Graças a esta fé, a pequenina Israel, perdida entre os grandes impérios antigos e perseguida pelas nações modernas, alcançará a vitória no fim. Os povos que hoje a oprimem, curvam-se ante seu espírito e encampam os ideais que Israel deu ao mundo”.
 
 4.1.5 DIREITO INDIANO
 
 “O direito da Índia antiga era de fundo religioso, destinando-se a proteger e a consolidar o regime de castas, então dominante. O nascimento marcava a posição social do homem até a morte; era, pois, inalterável. O Código de Manu, escrito em versos, é, apesar de ter fundamento religioso, mais jurídicodo que os anteriores. Está, como foi dito, em verso porque, segundo Summer Maine (L’Ancien Droit, trad.), o verso é um dos expedientes adotados para auxiliar a memória e, assim, manter nela viva a lei. Nesse código os contratos, principalmente o de compra-e-venda, decorridos três dias, tornavam-se irrevogáveis. O credor poderia escolher entre senhorear-se do devedor relapso, transformando-o em escravo temporário, obrigando-o a trabalhar até pagar a dívida, ou chamá-lo a Juízo. Se não comparecesse para se defender, estaria sujeito a penas draconianas. Podia, também, coagir (coação moral ou física) o devedor faltoso a pagar a dívida. A usura não era proibida. Como meio de prova admitia o ordálio, que consistia em queimar o acusado com ferro em brasa, ou fazê-lo ingerir veneno; resistindo, era considerado inocente. Permitia a prova testemunhal. A mulher era venerada: “Não se bate em uma mulher nem mesmo com uma flor, qualquer que seja a falta por ela cometida”, prescrevia o Código de Manu. Mesmo assim, o homem desfrutava de posição privilegiada. A mulher, se solteira, estava sob a autoridade do pai; se casada, sob a do marido, e se viúva, sob a do filho mais velho, Não tinha ela direito a divórcio, reservado só aos homens. No que concerne à herança, só o filho mais velho herdava os bens. No campo criminal, as penas eram draconianas, além da de morte, a de mutilação. No campo político o rei reinava assessorado por um conselho dos mais sábios” (Paulo Dourado de Gusmão. Introdução ao Estudo do Direito , p. 299/300).
 Formulado dez séculos depois do Código de Hamurabi, o Código de Manu não teve a projeção legal deste, porquanto a legislação cuneiforme se infiltrou pela Assíria, Judéia e Grécia e constituiu “um legado comparável ao que Roma fez ao mundo moderno” (Will Durant. História da Civilização). Ainda, nas palavras de Jayme de Altavila, “ foi um código sem ressonância fora dos limites hindus”.
 
4.1.6 DIREITO ISLÂMICO 
 
 “O Alcorão é uma espécie de Mil e uma noites religiosa e jurídica dos árabes. Um povo utilitarista como o romano da primeira época só poderia enfeixar uma lei sucinta e retilínea como as XII Tábuas, em que a incidência se faz sem rodeios e sem palavras inúteis. A bíblia maometana é uma tela de pequena dimensão, encaixada numa larga e espalhafatosa moldura de ouro e esmalte, maior do que a paisagem nela recolhida. As suas 114 Suratas poderiam ficar reduzidas a 24, se lhe podassem os galhos sem flores e sem frutos, mas com abundantes folhagens de imaginação e devaneio. Mas nem um árabe letrado ousaria fazer tal expurgo numa lei que foi redigida à sua semelhança espiritual, por um profeta que não teve pejo (acanhamento, vergonha, timidez, pudor) de cavar, a ponta de lanças, o solo em que lançou as sementes de sua fé. Ademais, ainda hoje o selo da lei islâmica continuou inviolado, conquanto haja quem afirme por conta de Maomé que de três juízes somente um se salvará” (Jayme de Altavila. Origem dos Direitos dos Povos).
 O Alcorão, como dissemos, contém 114 Suratas (Capítulos), sendo que a maior é a Surata II, denominada A Vaca, composta por 286 versículos. As menores Suratas são: A Hora depois do meio-dia (Surata CII) e O Kauther (Surata CVIII), que são duas primorosas e sintéticas orações islâmicas.
 Do Alcorão selecionamos os assuntos de maior interesse jurídico, de exclusiva função legiferante do profeta Maomé.
 * Filhos Adotivos (XXXIII, v. 4, 5 e 37).
 * Adultério (IV, v. 19 e 34; XXIV, v.2)
 * Assassinato (IV, v.92 e 93 ).
 * Asilo (IV, v. 6).
 * Boato (IV, v.85).
 * Calúnia (XXIV, v.23).
 * Casamento (XXXIII, v.52; II, v.25 ).
 * Fraudação (LXXXIII).
 * Dívidas (II, v. 280).
 * Difamação (XLIX, v.11).
 * Divórcio (II, v. 227; IV, v.24; XXXIII, v. 49; LVIII, v. 2, 3 e 4; LXV, v.1,2 e 6).
 * Embriaguez e Jogo (II, v. 219; V, v. 90 e 91).
 * Falso Testemunho (IV, v. 112).
 * A Guerra (IV, v. 94, 95, 102, 104; VIII, v.42, 43, 44, 45, 57 e 60; X, v. 90; XLVII, v. 4, 5 e 35; XLVIII, v. 15 e 16).
 * Imunidades (IX, v. 1).
 * Juramentos (V, v. 89).
 * As Mulheres perante o Alcorão (II, v. 223; IV, v. 34).
 * Órfãos (II, v. 220; IV, v. 2, 3, 127; VI, v. 152; XVII, v.34).
 * Deveres para com os pais (XXIX, v.8; XXXI, v.14; XLVI, v.15).
 * Sucessão (IV, v.8, 9, 12 e 176). 
 * Talião (II, v.178; V, v.45).
 * Testamento (V, v. 106).
 * Testemunhas (II, v. 282; IV, v. 135; V, v. 8).
 * Usura (II, v. 276; III, v. 130; XXX, v. 39).
 Cumpre ressaltar que todo muçulmano se delicia com uma vida eterna esplendorosa expressa na Surata LXXVIII (A Grande Nova), constituindo uma verdadeira poesia oriental. E ainda a Surata CI (O Som), que é de um fino lavor oriental.
 Por fim, o contexto alcorânico nos fornece na Surata XXIV, v. 35, uma interessante e literária definição de Deus: “Deus é a luz dos céus e da terra. Esta luz é como um foco em que está um facho, um facho colocado em um vidro, vidro parecido com uma estrela brilhante; este facho alimenta-se com azeite de uma árvore abençoada, de uma oliveira que não é do Oriente nem do Ocidente e cujo azeite brilha ainda que o fogo lhe não chegue. É luz sobre luz. Deus guia para a sua luz aquele que quer e propõe aos homens parábolas; porque conhece tudo”.
 
4.1.7 DIREITO GREGO ANTIGO 
 Aristóteles já se referia à eqüidade em sua obra Ética a Nicômaco, quando a considerou “uma correção da lei quando ela é deficiente em razão de sua universalidade”.
 Herdamos, em grande parte, a idéia de justiça de Platão, Aristóteles e dos juristas romanos. Os filósofos gregos (Platão e Aristóteles) expressaram o sentido ético e formal da justiça, pois Platão a considerava como virtude suprema, harmonizadora das demais virtudes e como equilíbrio; assim também a concebeu Aristóteles, como equilíbrio e proporção (proporção aritmética na justiça comutativa, corretiva ou sinalagmática e proporção geométrica na justiça distributiva). Em síntese, de Aristóteles acolhemos dois elementos formais característicos da justiça: igualdade e proporcionalidade.
4.1.8 DIREITO ROMANO CLÁSSICO
O Direito criado pelos romanos desde a Lei das XII Tábuas, incorporado ao Corpus Juris Civilis de Justiniano, constitui o marco inicial do direito europeu e em conseqüência, do direito latino-americano.
Quando estudamos Direito Romano abordamos, obviamente, a Lei das XII Tábuas, acima citada, documento fundamental de Direito do Ocidente que se caracteriza por ser uma consolidação dos usos e costumes do povo do Lácio. Nessa época, a lei não se distinguia do costume, a não ser por esse elemento extrínseco de ser escrita, pois se esculpiam os usos e costumes para conhecimento de todos, face ao poder anônimo revelado através dos tempos.
 Edward Mcnall Burns, em sua obra História da Civilização Ocidental afirma que as Leges duodecim tabularum foram gravadas em pedaços de madeira; outros historiadores falam em tábuas de bronze.
 Para um estudo mais detalhado da Lei das XII Tábuas, sugerimos a leitura da obra de Jayme de Altavila – Origem dos Direitos dos Povos, cujas epígrafes das tábuas são as seguintes:
 Tábua I – De in jus vocando – Do chamamento a juízo.
 Tábua II – De judiciis – Das instâncias judiciárias.
 Tábua III – De aere confesso rebusque jure judicatis – Da execução em caso de confissão ou de condenação.
 Tábua IV – De jure patrio – Do pátrio poder.
 Tábua V – De haereditatibus et tutelis – Da tutela hereditária.
 Tábua VI – De domínio et possessione – Da propriedade e da posse.
 Tábua VII – De jure aedium et agrorum – Do direito relativo aos edifícios e às terras.
 TábuaVIII – De delictis – Dos delitos.
 Tábua IX – não há comentários.
 Tábua X – De jure sacro – Do direito sagrado.
 Tábua XI – ficou perdida no maremoto romano.
 Tábua XII – Pignoris capio – Da apreensão do penhor (inciso I). 
 O Corpus Juris Civilis compõe-se de quatro partes, assim conhecidas: a) Institutas (Institutiones), parte elementar da obra, calcada nas Institutas de Gaius e constituída de quatro livros, subdivididos em títulos; b) Digesto (Digesta) ou Pandectas (Pandectae), composto de uma coleção de fragmentos das obras dos antigos jurisconsultos, constando de cinqüenta livros, subdivididos em títulos, com exceção dos 30,31 e 32, que não tem divisão; c) Código (Codex), composto da coleção de constituições imperiais,dividida em doze livros, subdivididos em títulos; d) Novelas (Novellae Constitutiones), compostas de 168 constituições promulgadas posteriormente por Justiniano e por dois de seus sucessores, que foram compiladas e acrescidas às partes anteriores. 
Com o decorrer do tempo a lei passou a ter valor em si e por si, traduzindo a vontade intencional de reger a conduta ou de estruturar a sociedade de modo impessoal e objetivo. Com o surgimento da norma legal ainda ligada ao costume, aparece também a jurisdição.
Vimos também, que o Direito primitivo é um direito anônimo (não se sabe quando nem onde surge o costume, não há, pois, paternidade) que se vai consolidando em virtude das formas da imitação, do hábito ou de comportamentos exemplares. Já em estágio mais evoluído da civilização, aparecem os primeiros órgãos cuja finalidade específica é conhecer o Direito e declará-lo órgão de jurisdição (jurisdicere) – dizer o que é de direito a cada caso concreto, obra de juízes e pretores.
O Direito Romano é um direito doutrinário e jurisprudencial por excelência, pois se orienta pelo saber dos jurisconsultos, combinado com as decisões dos pretores, ambos atuando em função da experiência. Quando surgia uma demanda, os juízes julgavam segundo a ratio juris e não segundo critérios morais. Essa vocação jurídica dos romanos, distinguindo o Direito da Moral e da Religião tornaram-lhes aptos a resolverem os problemas no domínio do Direito. Em Roma, a consciência da jurisdição aparece de maneira clara e concreta devido a sua vinculação ao sistema objetivo de regras de competência e de conduta.
Com a decadência do mundo romano, após o Direito romano clássico, o processo legislativo passa a prevalecer sobre o processo jurisdicional como fonte reveladora do Direito.
4.2. DIREITO NA IDADE MÉDIA
4.2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Idade Média (476 d.C. a 1453 d.C) inicia-se com a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C) e termina com a tomada de Constantinopla pelos turcos (1453 d.C) e finais da guerra dos cem anos. Apresenta um pluralismo de ordens jurídicas, compreendendo o direito bárbaro ou germânico, direito feudal ou dos senhorios, direito das corporações de mercadores ou mercantil, direito das cidades, direito canônico e o aparecimento dos glosadores.
Com a decadência do Império Romano, aqueles que viviam fora do Império (bárbaro-estrangeiro), se quisessem poderiam nele penetrar e eram muito bem recebidos. Já a partir do século III, famílias germânicas iniciaram uma penetração pacífica e o vasto mundo dos romanos começou a se barbarizar.
4.2.2 DIREITO GERMÂNICO
Até o século IV os germânicos não fizeram uma penetração em massa pelas férteis terras dos romanos, porém, com a tremenda seca na Ásia, os povos que aí viviam tiveram que marchar para o ocidente em busca de terras melhores. Dentre eles, os hunos, povo violento e cruel, que empurrou os romanos para dentro do Império Romano em verdadeiras hordas. Os primeiros foram os visigodos, que foram seguidos pelos vândalos, anglos, saxões, jutas, francos, borgúndios e finalmente os ostrogodos.
Invadindo diversas regiões da Europa, os germanos levaram seus costumes e instituições, dando personalidade a cada local em que se radicaram e assim foi-se delineando a Europa moderna.
Os germanos acolheram o princípio da personalidade das leis segundo a qual a origem (nacionalidade) da pessoa deveria estabelecer o seu estatuto jurídico: germanos, direito germânico; latinos, direito romano vulgar, e clérigos, direito da Igreja (canônico). A existência de tribos germânicas e a falta de unidade no direito germânico ocasionaram um pluralismo de ordens jurídicas, como vimos anteriormente. Surgiram neste período diversas compilações, que datam do século V, tais como Lex Visigothorum para os godos e a Lex Romana Visigothorum também chamada Breviarum Alarici (506), aplicável aos latinos no território dos godos (Itália, França, Espanha e Portugal) que vigiu até 654, substituída pela Líber Judiciorum, que procurou dar unidade ao direito germânico, direito romano vulgar e direito canônico, imperando na Espanha e em Portugal, vigorando até o século XIII e foi restabelecida por Afonso X com o nome de Fuero Juzgo (Forum Judicium) com algumas inovações. Outras compilações são a Lex Burgundionum dos burgundos (sudeste da França) e a Lex Romana Burgundionum para os latinos no território dos burgundos; Lex Alamannorum, dos alemães; Lex Salica, dos francos.
O direito germânico admitia a vingança da família da vítima, renunciável em troca de uma boa compensação (Wehrgeld – dinheiro da proteção), no caso de delito; a propriedade coletiva do solo e a propriedade familiar dos demais bens.
No direito penal germânico, o agressor pagava pelo prejuízo de acordo com uma tabela, o que lhe dava um caráter privado e admitia os “juízos de Deus”, indicadores do culpado através da prova (Ordálio) do veneno, da água fervente, do fogo ou do duelo. Era também comum a “prova do punhal” onde o acusado, com os olhos vendados, era colocado frente a dois punhais, um dos quais era o que foi usado no crime, e o outro, do rei ou juiz, devendo apontar um deles: a indicação corresponderia à sentença de culpa ou de absolvição. O Ordálio é muito antigo, aparecendo no Código de Hamurabi e consistia, como vimos, numa prova baseada no juízo divino, invocando, na falta de outras provas, tanto da acusação como da defesa e pela qual o acusado se submete à prova mortal, com risco de vida ou mutilação: sobrevivendo ou ficando incólume ao perigo, seria considerado inocente; perecendo ou ferido, era, portanto, considerado culpado, com a sentença condenatória já aplicada.
4.2.3 DIREITO FEUDAL
O direito feudal ou dos senhorios imperava fora da cidade, com jurisdição própria dentro de cada feudo (propriedade) dos senhorios, militarmente centralizado no castelo-fortaleza, símbolo da subordinação, dominando servos e vassalos. A jurisdição senhorial não era submetida à soberania do rei, que a reconhecia por conveniência.
Os nobres possuidores de terras (feudos), com grandes privilégios, exerciam um direito desigualitário, baseando-se num contrato entre o proprietário e os vassalos e servos, que em troca da proteção, cultivavam as terras, pagavam impostos e prestavam serviços aos senhorios.
O direito feudal utilizava-se de técnicas cruéis para obtenção da confissão dos acusados e aplicava penas severíssimas.
4.2.4 DIREITO DAS CORPORAÇÕES DE MERCADORES
O direito das corporações de mercadores era um direito convencional e consuetudinário, flexível, desprovido de formalismos, que foi inicialmente compilado em Gênova (1506) e, posteriormente em Pisa e em Milão. Não era um direito reconhecido pelos tribunais das cidades, mas acatado espontaneamente pelos mercadores, que respeitavam as decisões das cortes das corporações, os costumes e as convenções celebradas por elas.
4.2.5 DIREITO DAS CIDADES
O direito das cidades era constituído pelo direito consuetudinário, nelas predominante, e com fragmentos do direito romano, recebendo forte influência do direito mercantil. Cada cidade era uma sociedade política que se comportava como um verdadeiro Estado, como por exemplo, Florença, Milão e Gênovana Itália e Antuérpia na Bélgica , etc. 
O direito das cidades foi compilado entre o século X e o século XI, tendo como primeira compilação o Líber iurium republicae Januensis de Gênova, resultado de acordo com os senhores feudais, com validade somente nos territórios das cidades, em razão das vantagens que lhes proporcionavam as feiras realizadas nos seus domínios, não regulamentadas pelo direito feudal, além, dos impostos que lhes favoreciam; porém, em muitos casos, os direitos das cidades foram conquistados com lutas sangrentas, exigindo muitas vezes que os citadinos renunciassem aos seus direitos de origem (germano ou romano), para ficarem sob o seu império.
4.2.6 DIREITO CANÔNICO
O direito canônico, contido em vários decretos e influenciado pelo direito romano, foi compilado, no século XII, por Graciano (Franciscus Gracianus), monge, jurista e professor de Teologia em Bolonha, com o título de Decretum Gratiani ou Concórdia discordantium canonum – Harmonia dos Cânones Discordantes – Concordância das Discordâncias dos Cânones – Concórdia dos Cânones Dis cordantes (1140), versando sobre todo o direito: das pessoas, sacramentos, direito eclesiástico e direito em geral. Graciano apresenta os decretos anteriores em ordem sistemática, fazendo comentários e resolvendo dificuldades e contradições, adotando o método dos “casos”, formulando problemas hipotéticos e soluções com base em suas idéias, nas idéias das autoridades da Igreja e no direito romano. Como indica seu título, trata-se de conciliar a totalidade das normas canônicas existentes desde séculos anteriores, muitas delas opostas entre si, representando um passo importante para a consolidação do Direito da Igreja Católica na Idade Média, fruto da atividade doutrinal de um canonista e não de uma política legislativa pontifícia, que embora não tenha sido promulgado oficialmente, segundo a tradição medieval, teria sido aprovado pelo Papa Eugênio III. Outras legislações seguiram-se a essa (Decretali, de Gregório IX; Líber sextus, de Bonifácio VIII (1298); Clementinae, de João XXII (1317). No Concílio de Basiléia (1431-1443), tais legislações foram compiladas com o título de Corpus iuris canonici. Na Idade Média, corpus significava conjunto de documentos sobre determinada matéria. Corpus iuris significa, assim, um conjunto de documentos jurídicos e canônicos da Igreja. Cânones eram as normas prescritas pela Igreja, em oposição às leges seculares.
No pontificado de Pio X, o cardeal Gasparri reformou o Corpus Juris Canonici, cujas modificações entraram em vigor em 1917, no Pontificado de Benedito XV, com o nome de Codex Juris Canonici.
Em 25/02/83, foi promulgado pelo Papa João Paulo II novo Código Canônico, observando as resoluções do Concílio Vaticano II.
O direito canônico exerceu significativa influência nos institutos jurídicos; a separeção judicial (desquite) acolhida pelos nossos legisladores correspondia ao divortium dos canonistas, que tinha por causa o adultério, a injustiça ou a crueldade grave.
No Brasil, o divórcio foi introduzido pela Lei nº 6.515/77, precedido da “separação judicial”. A Lei nº 6.515/77 foi alterada pela Lei nº 7.841, de 17/10/89 e pela Lei nº 8.408, de 13/02/92. Atualmente o divórcio está previsto no § 6º do art. 226 da Constituição Federal, nestes termos: “O casamento pode ser dissolvido pelo divórcio” (Emenda Constitucional nº 66, de 13/7/2010)
4.2.7 DIREITO DOS GLOSADORES
No século XI, em Pisa, ou em Amalfi, no sul da Itália, segundo alguns historiadores, foi encontrado um texto completo do Digesto de Justiniano que aplicado aos reinos, artificialmente divididos e às nações em gestação da Europa medieval onde dominava um pluralismo jurídico, organizou a vida social em bases mais estáveis, proporcionando melhor unidade política. Irnério, um gramático erudito da Universidade de Bolonha estudou o texto do Digesto e formulou interpretações (glosas) do mesmo. Os comentários escritos nas entrelinhas do texto chamavam glosas interlineares e posteriormente, as interpretações registradas à margem dos textos denominavam-se glosas marginais. Com os glosadores de Bolonha, inicia-se o renascimento do direito romano na Idade Média. Esse novo direito romano, fruto do trabalho dos glosadores, adaptado à sociedade medieval e ao cristianismo, com o tempo se transformou no direito comum de toda a Europa, vigindo até o século XIX.
4.3.DIREITO NA IDADE MODERNA E CONTEMPORÂNEA
4.3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
A Idade Moderna inicia-se em 1453, tomada de Constantinopla pelos turcos e fim da Idade Média e vai até 1789, tomada da Bastilha e início da Revolução Francesa.
A Idade Contemporânea inicia-se em 1789, tomada da Bastilha e início da Revolução Francesa e termina segundo a maioria dos historiadores, em 1945, data das explosões atômicas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão e término da 2ª Guerra Mundial. A partir de 1945 inicia-se a Era Atômica, na qual ainda estamos atualmente.
As descobertas marítimas do século XVI impulsionaram o desenvolvimento do comércio marítimo através dos portos que a rota atlântica criou. Tal desenvolvimento exigiu um direito codificado que proporcionasse mais segurança nas relações jurídicas, que surgiu primeiramente no Direito Comercial.
Assim, aparece na França, em 1674, a Ordonnance de Colbert, que embora enfatizasse os atos de comércio, o Direito Comercial ainda continuou a ser um direito para a classe dos comerciantes. Mais tarde, em 1681, Colbert compilou costumes marítimos dominantes nos portos do Atlântico e do Mediterrâneo na Ordennance touchant la marine (touchant: tocante, comovente, terno e marine: marinha) que substituiu a antiga compilação Guildone del maré (1607) que reunia as antigas leis de Rodes dos séculos VIII e IX.
No campo do Direito Civil, a França e em especial a Alemanha se baseavam no Corpus Juris Civilis, que continuou a vigir na França, até o século XIX e na Alemanha até a promulgação do Código Civil de 1900 (final do século XIX).
Com referência ao Direito Constitucional, em 1787 os norte-americanos promulgam a primeira Constituição moderna, instituindo o presidencialismo como forma de governo e o federalismo como forma de Estado, constituindo-se no documento jurídico mais importante da Era das Revoluções, de grande repercussão no Brasil.
A Revolução Francesa, acabando com o Antigo Regime, impôs leis rígidas e intocáveis, bem como princípios revolucionários de “igualdade” e de “fraternidade”, contidos na “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” (1789).
4.3.2 ORDENAÇÕES DO REINO PORTUGUÊS
 
 Este tema será abordado na parte referente à História do Direito Privado no Brasil.. 
4.3.3 A CODIFICAÇÃO FRANCESA E ALEMÃ
Após uma legislação de transição, aparece em 1804 o Code Civil des Français elaborado por uma comissão, sob a influência de Napoleão, a ponto de denominá-lo, em 1807 de Code Napoleon e mais tarde, em 1814, Code Civil, que está ainda em vigor na França, graças às interpretações atualizadoras dos tribunais franceses.
A codificação napoleônica, influenciada pelo direito romano e direito canônico, inspirando códigos civis europeus (português, italiano, espanhol, belga, holandês, romeno, egípcio, etc), constitui o primeiro trabalho de codificação científica (sistematização, classificação, concisão, precisão e clareza).
O movimento codificador europeu que se inicia em 1804 com o Code Civil des Français, vencendo a resistência dos romanistas e as severas críticas do alemão Savigny, conseguiu se impor no Direito Europeu. Assim, em 1º de janeiro de 1900, surge o Código Civil alemão, que influenciou profundamente nosso Código Civil e que no dizer de Saleilles está “impregnado de direito romano”.
As codificações européias, compreendendo o grupo francês referenciado pelo Código Civil francês e o grupo alemão, tendo como referencial o Código Civil alemão, formam o sistema jurídico continental com domínio no continente europeu, exceto na Inglaterra, ou sistema de direito codificado, ou ainda,Civil-law, tendo em suas raízes, o Direito Romano.
4.3.4 OS SISTEMAS JURÍDICOS
No sistema jurídico continental ou Civil law, a lei é a principal fonte do direito, atuando as demais fontes de forma subsidiária. Tal sistema também se caracteriza pela significativa influência que recebeu do direito romano, do direito canônico, do direito francês e do direito germânico.
Em oposição a esse sistema está o sistema anglo-americano ou do Common law, cuja fonte principal do direito é o precedente judicial (sentença padrão), reservando à lei um papel secundário, sendo seus princípios e regras jurídicas formulados com base na eqüidade e nos costumes, exceto no Direito Constitucional norte-americano, que apresenta um sistema misto, onde a lei tem preferência em vários campos jurídicos.
O Common law ou sistema de direito jurisprudencial surgiu na Inglaterra nos meados do século XII, quando Henrique II (1154) criou os juízes visitantes do rei, cujas decisões, revistas pelas Cortes Reais, deram origem a um corpo de julgados uniformes (precedentes judiciais) que, a partir de 1800, tornaram-se obrigatórios para todos os juízes.
A partir da Primeira Guerra Mundial, a Europa entrou em crises sucessivas e a tão sonhada fase de progresso sem fim, advinda do direito da Era Vitoriana (longo reinado da Rainha Vitória, a grande soberana que ocupou o trono inglês de 1837 a 1901) se desvaneceu e os códigos inspirados no individualismo jurídico (interesse individual) lentamente procuram a solidariedade social e aos poucos, o direito privado tem seu território dividido e subdividido, adquirindo autonomia várias partes do Direito Civil e Comercial.
Com a Revolução Russa aparece um terceiro sistema jurídico: o sistema soviético, que quanto às fontes do direito, se enquadra no sistema continental ou Civil-law (sistema legislado), mas apresentando conteúdo diverso, fundado numa sociedade socialista que não admite a propriedade privada dos meios de produção, subordinando o exercício dos direitos à sua destinação econômico-social, instituindo um governo colegiado de partido único (Partido Comunista). Assim, como diz Paulo Dourado de Gusmão, “quanto ao conteúdo, depois da Revolução Russa, dois sistemas jurídicos conflitaram-se: o sistema capitalista (sistema continental ou Civil Law e sistema do Common-law) e o sistema soviético (URSS). Mas, depois de 1945, a área socialista deixou de ser identificada com a soviética, porque países socialistas como por exemplo, a China e a Iugoslávia, passaram a ter, apesar de não integrados no bloco soviético, direitos socialistas. Em virtude de tal cisão pode-se dizer que, depois de 1945 até 1990, tivemos dois sistemas jurídicos fundamentais: sistema capitalista (continental ou Civil law e do Common law) e sistema socialista (URSS, China, Iugoslávia, Alemanha Oriental, etc). Entretanto, acelerada e imprevisivelmente mudou o mundo nos anos 80 e 90. Caiu o muro de Berlim e em 1990 unificou-se a Alemanha. O Leste europeu ingressou na economia de mercado. Gravíssima crise econômica, social e política implodiu a URSS no final de dezembro de 1991, substituída pela Comunidade de Estados Independentes (CEI), sem poder central, confederação criada pela Rússia, Ucrânia e Bielo-Rússia, nos moldes da commonwealth britânica. Terminou, assim, após 70 anos, a Revolução Russa. O que virá depois é imprevisível, só a História dirá...”
Commonwealth: comunidade das nações, organização de grupos de nações com interesses comuns, era a mais importante e original organização política do mundo moderno. Tem raízes em todos os continentes e abrange uma superfície total de cerca de 30 milhões de Km2.
Constitui uma associação de Estados praticamente soberamos que juntamente com territórios coloniais, se acham reunidos ao Reino da Grã-Bretanha por laços pessoais (desde que respeitem seu monarca como chefe supremo) e uma fraternal solidariedade.
O centro deste Império encontra-se no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
4.3.5 O SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO
 
 Para este tema, os alunos deverão elaborar um trabalho, com base na bibliografia fornecida pelo professor.
5. HISTÓRIA DO DIREITO PRIVADO NO BRASIL
Introdução à História do Direito Privado e da Codificação - Capítulo 3
Giordano Bruno Soares Roberto
A História do Direito no Brasil começa com o descobrimento. Inicialmente, confunde-se com a História do Direito português. Em seguida, durante a Colônia, a ele permanece intimamente ligada, mas já acrescida de elementos locais. Somente com a Independência, em 1822, inicia seu próprio curso. 
Nas belíssimas palavras de Pontes de Miranda, 
“O Direito, no Brasil, não pode ser estudado desde as sementes; nasceu do galho de planta, que o colonizador português, - gente de rija têmpera, no altivo século XVI e naquele cansado século XVII em que se completa o descobrimento da América, - trouxe e enxertou no novo continente”.
5.1 AS ORDENAÇÕES DO REINO
O estudo da legislação portuguesa é importante porque no Brasil Colônia e no Brasil Império muitas leis portuguesas foram aplicadas e dentre elas destacamos a Lei das Sete Partidas e as Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas.
A Lei das Sete Partidas era espécie de enciclopédia jurídica, inspirada basicamente no Direito Romano e no Direito Canônico, trazida da Espanha pelo rei de Portugal, D. Diniz (1279-1325) e traduzida para o português, com aplicação obrigatória em todo o reino. O nome Lei das Sete Partidas deriva de sua divisão em sete livros: Livro I – Fontes do Direito e Direito Eclesiástico; Livro II – Composição Política e Militar do Reino; Livro III – Procedimentos Judiciais; Livro IV – Direito de Família; Livro V – Contratos; Livro VI – Sucessões e Livro VII – Delitos e Penas. 
O Direito português, como já dissemos, participa de uma herança européia comum. Em sua formação entram elementos de Direito Romano, Germânico e Canônico.
 Mesclando-se esses elementos com outros locais, surge, em 1446, a primeira compilação de origem portuguesa do Direito português. São as Ordenações Afonsinas, publicadas em nome de D. Afonso V que foram influenciadas pelo Direito Canônico e pela Lei das Sete Partidas, divididas em cinco livros: Livro I – Direito Administrativo e Organização Judiciária; Livro II – Direito Eclesiástico, do Rei, da Nobreza e dos Estrangeiros; Livro III – Regras do Processo Civil; Livro IV – Direito Civil e Direito Marítimo (Comercial); Livro V – Direito Penal e Processual Penal.
	Por ordem do rei, D. Manoel I, o Venturoso, organiza-se outra compilação, acrescentando a legislação publicada depois da primeira, mantendo-lhe, porém, o sistema, com pequenas alterações. Trata-se das Ordenações Manuelinas, de 1521, redigidas em forma de decreto, com destaque ao Direito Marítimo e aos contratos mercantis e divididas em cinco livros: Livro I – Direito Administrativo e Organização Judiciária; Livro II – Direito Eclesiástico, Direito do Rei, Direito da Nobreza e Direito dos Estrangeiros; Livro III – Regras do Processo Civil; Livro IV – Direito Civil e Direito Marítimo (Comercial); Livro V - Direito Penal e Processual Penal 
	Por problemas de ordem sucessória, assume o trono português D. Felipe II, rei da Espanha, neto de D. Manuel I, o Venturoso, nascendo, assim, a União Ibérica (1580-1640)
 Em 1603, publicou-se a reforma das compilações, iniciada por Filipe I e concluída por Filipe II. São as Ordenações Filipinas, que teriam sido usadas pelos reis espanhóis como artifício para ganhar a estima do povo português e estavam divididas, também, em cinco livros: Livro I – Direito Administrativo e Organização Judiciária; Livro II – Direito Eclesiástico, Direito do Rei, Direito da Nobreza e Direito dos Estrangeiros; Livro III – Regras do Processo; Livro IV – Direito Civil e Direito Marítimo (Direito Comercial); Livro V – Direito Penal e Processual Penal. 
Todas as três compilações se caracterizavam pelo apego comodista ao Direito Romano e ao Direito Canônico,além das inúmeras falhas e contradições. Em todas, inclusive na última, nascida já no século XVII, as opiniões de Acúrsio e de Bártolo eram consideradas regras subsidiárias e deveriam ser seguidas pelo seu valor extrínseco e não apenas quando fossem razoáveis.
	Por uma série de fatores, Portugal permaneceria infenso às idéias iluministas por um longo tempo. Já se aproximava o último quartel do século XVIII, o século das luzes, quando as terras portuguesas receberam significativo impulso de renovação. Trata-se da reforma realizada pelo Marquês de Pombal que, no aspecto que nos interessa, atingiu seu ponto alto com a Lei de 18 agosto de 1769, conhecida com Lei da Boa Razão. Com ela, o Direito Romano era mantido como base do ordenamento, mas deveria ser filtrado pela boa razão.
5.2 A INDEPENDÊNCIA
	O Direito na Colônia atravessou as mesmas fases do Direito na Metrópole. Somente a partir de 1822, com a Independência, os ordenamentos jurídicos de Brasil e Portugal seguiriam caminhos próprios.
	Portugal promulgaria seu Código Civil, em 1867, colocando fim à vigência das Ordenações Filipinas em matéria civil. Não seguiremos, contudo, a linha evolutiva do Direito português.
	O Brasil, como veremos, teria que percorrer um caminho bem mais longo até seu Código Civil. 
	Logo em 1823, o governo imperial promulgou uma Lei que mantinha em vigor no território brasileiro as Ordenações Filipinas e toda a legislação portuguesa anterior a 25 de abril de 1821, enquanto não se organizasse um novo Código e desde que não fossem especialmente alteradas por outra lei.
	A Constituição de 1824 determinou que se organizasse o quanto antes um Código Civil e um Código Criminal para o Império.
	O segundo foi promulgado em 1830. A história do Código Civil é mais tortuosa. Dela nos ocuparemos nos próximo capítulo.
5.3 OS DESAFIOS DO DIREITO CIVIL BRASILEIRO ANTES DA CODIFICAÇÃO
	No contexto da Independência, quais seriam os maiores desafios do Direito Privado brasileiro?
	Certamente que um dos mais urgentes era a modernização. Basta dizer que continuávamos regidos pelas Ordenações Filipinas, organizadas em 1603. O atraso era evidente.
	A confusão não era menor. Com o passar dos anos, uma infinidade de leis, assentos, alvarás, resoluções e regulamentos foram editados para completar ou modificar as Ordenações Filipinas.
	Também merece destaque que, uma vez independente o país, seu Direito também tinha que tomar rumo próprio, de acordo com as necessidades de seu povo. Quanto à organização do Estado, não era possível esperar. Surge, já em 1824, a Constituição do Império. O Direito Privado teria que esperar mais. Contudo, a situação de dependência em relação ao Direito da antiga metrópole, também nessa seara, era incômoda e inadequada.
Outro desafio extremamente importante relacionava-se com o tema das desigualdades. Em nosso imenso e rico território, elas eram enormes e cada vez mais questionadas. A escravidão, por exemplo, despertava polêmicas e exigia um posicionamento também do Direito Privado.
	Os três primeiros desafios serão os motores da idéia da codificação de nosso Direito Civil, enquanto o problema das desigualdades não será sequer adequadamente formulado, muito menos enfrentado.
5.4 O CONTEXTO TEÓRICO DA CODIFICAÇÃO BRASILEIRA
	Sobre o pensamento dos juristas brasileiros a respeito da necessidade de codificação, nesse contexto de Independência, há uma informação de Keila Grinberg, em seu inquietante Código Civil e cidadania, que vale a pena transcrever. Para ela:
	“Se pudéssemos perguntar a algum jurista daquela época, da Escola de direito de Recife ou da Escola de Direito de São Paulo, a sua opinião sobre a importância da codificação, nenhum teria dúvidas em afirmar que ela era fundamental para a o futuro do país. Qualquer um diria que o direito era a porta de entrada para a civilização, e era impossível adentrá-la sem a codificação do direito civil. Isso porque, desde aproximadamente a década de 1870, a formação de bacharéis em direito estava embebida do espírito positivista e evolucionista que caracterizava o pensamento científico da época. Acreditavam que as sociedades evoluíam positivamente, e que era possível alcançar um estágio superior através da elaboração de boas leis. Quanto melhores e mais avançadas as leis, melhor e mais avançada a sociedade: um passo adiante no caminho do progresso”.
	
As razões para o consenso são óbvias. O Código de Napoleão despertara interesse em todo o mundo. A teoria da codificação, principalmente na vertente de Bentham, também já havia chegado ao Brasil, influenciando nossos juristas, inclusive o próprio Teixeira de Freitas, que teria um papel decisivo na evolução de nosso direito Civil.
5.5 CONCLUSÕES DE GIORDANO BRUNO SOARES ROBERTO
Estudamos, em linhas muito gerais, a história do Direito Privado, começando com uma referência ao Direito Romano, passando pela Idade Média e pela modernidade. Percebemos, nesse contexto, o surgimento do Direito Privado brasileiro a partir de um longo processo de emancipação em relação ao Direito português.
	Em seguida, percorremos os caminhos da codificação na Europa e no Brasil. Durante o percurso, não pudemos deixar de nos fascinar com a beleza das informações encontradas.
Conhecemos um pouco da história do Código de Napoleão, de 1804, e do BGB, DE 1900. Conhecemos também a história do nosso Código Beviláqua, de 1916, motivo de justo orgulho de todos os brasileiros.
Descobrimos, em meio às tentativas de reformar nosso Código, um projeto já esquecido, formulado na distante década de 1960, que, para surpresa de todos, foi aprovado em 2002, convertendo-se no segundo Código Civil Brasileiro.
Os passos anteriores nos permitiram refletir sobre a adequação desse novo Código ao momento atual do Direito Civil Brasileiro. Eis as conclusões a que chegamos:
1. O novo Código não é adequado porque não pode contribuir para enfrentar o desafio da intensa evolução das relações sociais, uma vez que não trouxe nenhuma regra ou princípio para ajudar a solucionar os novos problemas.
2. O novo Código não é adequado porque não pode contribuir para enfrentar o desafio da explosão legislativa, uma vez que, entre outras coisas, preferiu utilizar a antiga técnica regulamentar, ao invés de apresentar disposições mais principiológicas.
3. O novo Código não é adequado porque não pode contribuir para enfrentar o desafio de facilitar a transposição do umbral de aceso ao Direito Civil, porque todas as soluções que trazia nesse sentido já estavam previstas, em melhores termos, em outras normas.
4. O novo Código não é adequado porque não permitiu aos seus destinatários participar da formação ou simples discussão de seu conteúdo, uma vez que só foi amplamente debatido na época da elaboração do projeto, em contexto histórico bem diferente do atual.
5. O novo Código não é adequado porque o principal fundamento apontado por seus defensores para sua aprovação, qual seja, o de promover a renovação do Direito Civil, carece de contato com a realidade, uma vez que as principais inovações formuladas em seu projeto, na década de 1960, já tinham sido levadas a efeito quando de sua aprovação em 2002.
6. O novo Código não é adequado porque não será a síntese do interessante movimento de renovação do Direito Civil atualmente em curso, seja porque o projeto lhe é anterior, seja porque, sendo ainda jovem, o movimento não está em condições de produzir frutos duradouros.
7. O novo Código não é adequado porque, podendo fazer outras opções metodológicas, ficou preso à idéia de ressistematizar o Direito Civil a partir de suas normas.
8. O novo Código não é adequado porque, podendo utilizar outra técnica legislativa, de natureza mais principiológica, escolheu priorizar a antiga técnica regulamentar.
A todos os títulos inadequado, o novo Código tem também algumas vantagens em relação ao Código anterior, como procuramos indicar neste trabalho.
Acreditamos, finalmente, que sua aprovação pode

Outros materiais