Buscar

ARTIGO SOBRE ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA - Paulo Marcelo Scherer

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 108 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 108 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 108 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO 
SUL – UNIJUÍ 
 
 
 
 
 
 
PAULO MARCELO SCHERER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As relações de trabalho no Brasil: um enfoque a partir da OIT e das 
convenções de trabalho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ijuí 
2014 
 
 
2
UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO 
SUL – UNIJUÍ 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DIREITO 
MESTRADO EM DIREITOS HUMANOS 
 
 
PAULO MARCELO SCHERER 
 
As relações de trabalho no Brasil: um enfoque a partir da OIT e das 
convenções de trabalho 
 
Dissertação final do curso de Mestrado em 
Direitos Humanos da Universidade Regional 
do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul 
– Unijuí. Departamento de Ciências Jurídicas 
e Sociais (DCJS). 
 
 
 
 
Orientadora: Doutora Vera Lucia Spacil Raddatz 
Coorientador: Doutor Gilmar Antonio Bedin 
 
 
 
 
 
Ijuí 
2014 
 
 
3
 
S326r Scherer, Paulo Marcelo. 
 As relações de trabalho no Brasil : um enfoque a partir da OIT e das 
convenções de trabalho / Paulo Marcelo Scherer. – Ijuí, 2014. – 
 107 f. ; 29 cm. 
 
 Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado 
do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Direitos Humanos. 
 
 
 “Orientadora: Vera Lucia Spacil Raddatz”. 
 
 
 1. Trabalhadores. 2. OIT. 3. Dignidade. 4. Convenções. 5. Tratados. I. 
Raddatz, Vera Lucia Spacil. II. Título. III. Título: Um enfoque a partir da 
OIT e das convenções de trabalho. 
 
 CDU: 331(81) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Catalogação na Publicação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aline Morales dos Santos Theobald 
CRB10/1879 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4
UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul 
Programa de Pós-Graduação em Direito 
Curso de Mestrado em Direitos Humanos 
 
 
A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação 
 
 
 
 
 
AASS RREELLAAÇÇÕÕEESS DDEE TTRRAABBAALLHHOO NNOO BBRRAASSIILL:: UUMM EENNFFOOQQUUEE AA PPAARRTTIIRR DDAA OOIITT EE 
DDAASS CCOONNVVEENNÇÇÕÕEESS DDEE TTRRAABBAALLHHOO 
 
 
 
elaborada por 
 
 
 
PAULO MARCELO SCHERER 
 
 
como requisito parcial para a obtenção do grau de 
Mestre em Direito 
 
 
 
 
Banca Examinadora: 
 
 
Profª. Drª. Vera Lucia Spacil Raddatz (UNIJUÍ): ___________________________________ 
 
 
Prof. Dr. Florisbal de Souza Del’Olmo (URI): ______________________________________ 
 
 
Prof. Dr. Gilmar Antonio Bedin (UNIJUÍ): ________________________________________ 
 
 
 
Ijuí (RS), 1º de julho de 2014. 
 
 
5
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTO 
 
 
A Deus pelas bênçãos. 
À minha família pela paciência e carinho. 
Aos meus orientadores pela capacidade. 
 
 
 
6
 
 
 
 
 
Tá vendo aquele edifício moço 
Ajudei a levantar 
Foi um tempo de aflição, era quatro condução 
Duas pra ir, duas pra voltar 
Hoje depois dele pronto 
Olho pra cima e fico tonto 
Mas me vem um cidadão 
E me diz desconfiado 
"Tu tá aí admirado ou tá querendo roubar" 
Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecido 
Dá vontade de beber 
E pra aumentar meu tédio 
Eu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a 
fazer 
Tá vendo aquele colégio moço 
Eu também trabalhei lá 
Lá eu quase me arrebento 
Fiz a massa, pus cimento, ajudei a rebocar 
Minha filha inocente veio pra mim toda contente 
"Pai vou me matricular" 
Mas me diz um cidadão: 
"Criança de pé no chão aqui não pode estudar" 
Essa dor doeu mais forte 
Porque que é que eu deixei o norte 
Eu me pus a me dizer 
Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava 
Tinha direito a colher 
Tá vendo aquela igreja moço, onde o padre diz 
amém 
Pus o sino e o badalo, enchi minha mão de calo 
Lá eu trabalhei também 
Lá foi que valeu a pena, tem quermesse, tem 
novena 
E o padre me deixa entrar 
Foi lá que Cristo me disse: 
"Rapaz deixe de tolice, não se deixe amedrontar 
Fui eu quem criou a terra 
Enchi o rio, fiz a serra, não deixei nada faltar 
Hoje o homem criou asas e na maioria das casas 
Eu também não posso entrar" 
 
Cidadão – Zé Ramalho 
 
 
7
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este estudo apresenta elementos das relações de trabalho, especialmente a condição e as 
regras impostas aos trabalhadores na História brasileira. O período Colonial, a Primeira 
República, a Revolução de 1930 e a Constituição de 1988 são parâmetros para estabelecer 
os direitos dos trabalhadores. Neste contexto é considerada também a Organização 
Internacional do Trabalho – OIT –, organismo internacional criado em 1919 que, por suas 
normas, convertidas principalmente em Convenções, estabelece o trabalho em condições 
dignas. A forma de criação destas Convenções, a sua incorporação no ordenamento interno 
do País e os procedimentos de renúncia, também são observados. Estabelecidas as regras 
internacionais e concluído o processo de recepção interna, verifica-se na pesquisa os efeitos 
que estas orientações produzem nas relações de trabalho do País. Do mesmo modo, busca-
se estabelecer os prejuízos que podem advir da não recepção das Convenções, ou de sua 
renúncia, sempre na perspectiva da efetivação dos direitos humanos no trabalho. 
 
Palavras-chave: Trabalhadores. OIT. Dignidade. Convenções. Tratados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
8
 
 
 
 
 
RESUMEN 
 
Este estudio presenta elementos de las relaciones de trabajo, especialmente la condición y 
las reglas impuestas a los trabajadores en la historia brasilena. El periodo Colonial, la 
Primera República, la Revolución de 1930 y la Constitución de 1988 son parámetros para 
establecer los derechos de los trabajadores. En este contexto es considerada igualmente la 
Organización Internacional del Trabajo – OIT –, órgano internacional creado en 1919 que, 
por sus normas, convertidas principalmente en Convenciones, establece el trabajo en 
condiciones dignas. La forma de creación de estas Convenciones, su incorporación en el 
ordenamiento interno del país y los procedimientos de renuncia, son también observados. 
Establecidas las reglas internacionales, y concluido el proceso de recepción interna, se 
verifica en la pesquisa los efectos que estas orientaciones producen en las relaciones de 
trabajo del país. Además, se busca establecer las pérdidas que pueden venir de la no 
recepción de las Convenciones, o de su renuncia, siempre en la perspectiva de la eficacia 
de los derechos humanos en el trabajo. 
 
Palabras-clave: Trabajadores. OIT. Dignidad. Convenciones. Tratados. 
 
 
 
 
 
9
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 9 
 
1. A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT) E OS DIREITOS 
HUMANOS DOS TRABALHADORES ............................................................... 13 
1.1. Origens da OIT ................................................................................................... 13 
1.2. Estrutura da OIT como Espaço de Criação de Direitos ......................................21 
1.3. Principais Resoluções da OIT ............................................................................ 30 
 
2. AS RELAÇÕES DE TRABALHO NO BRASIL E A EFETIVAÇÃO DE DIREITO .. 40 
2.1. As Relações de Trabalho no Período Colonial ................................................... 41 
2.2. As Relações de Trabalho na Primeira República ............................................... 47 
2.3. As Relações de Trabalho e a Efetivação de Direito Após a Revolução de 30 ........ 53 
2.4 As Relações de Trabalho Pós-Constituição de 88 ............................................. 60 
 
3. AS CONVENÇÕES DA OIT E AS RELAÇÕES DE TRABALHO NO BRASIL NA 
CONSECUÇÃO DE DIREITOS .......................................................................... 66 
3.1. A Sistemática da Recepção dos Tratados no Brasil .......................................... 67 
3.2. As Resoluções da OIT na Consecução dos Direitos dos Trabalhadores no Brasil .... 75 
3.3. A OIT no Brasil e sua Influência no Mundo do Trabalho .................................... 85 
 
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 93 
 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 97 
 
ANEXO ................................................................................................................... 103 
 
 
 
10
 
 
 
 
 
“A paz universal e permanente só 
pode estar baseada na justiça social” 
(ORGANIZAÇÃO..., 1919). 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A qualificação das relações de trabalho tem sido impulsionada por vários 
fatores e iniciativas. Neste processo ocupam um lugar de destaque as atividades e, 
em especial, as resoluções da Organização Internacional do Trabalho – OIT, 
organismo internacional fundado em 1919, que tem como propósito a busca da 
justiça social através de estudos sobre o mundo do trabalho. 
A Organização Internacional do Trabalho tem sido referência na regulação 
das relações trabalhistas buscando a efetivação dos direitos dos trabalhadores, 
entendidos como direitos humanos fundamentais. Esta função é exercida, de forma 
concreta, por meio da adoção de Convenções. 
Sabe-se que o Brasil não tem recepcionado, integralmente, as resoluções da 
OIT, prejudicando a incorporação de todas as normas que asseguram os direitos 
fundamentais dos trabalhadores. Pode-se identificar que, das convenções 
recepcionadas, algumas não conseguem a efetividade necessária para a plena 
integração dos trabalhadores brasileiros ao patamar recomendado pela Organização 
Internacional. Por estas razões a OIT, não obstante seu papel nas relações 
internacionais, ainda não está totalmente integrada ao cotidiano trabalhista 
brasileiro, o que pressupõe prejuízos a estes trabalhadores. 
O objetivo principal da pesquisa fundamentada pelas normas da Organização 
Internacional do Trabalho (OIT) é observar suas Convenções, na perspectiva de sua 
incorporação no ordenamento brasileiro, estabelecendo como base desta análise 
 
 
11
interna, além da sua presença direta pelo ato de incorporação, a absorção de seus 
preceitos na Constituição Federal Brasileira. A partir deste exame pretende-se 
compreender o tipo de impacto que isto provoca nas normas das relações de 
trabalho. 
A metodologia utilizada é a análise de pesquisa bibliográfica, com abordagem 
dedutiva e de natureza qualitativa. 
Na primeira parte deste estudo apresenta-se a Organização Internacional do 
Trabalho e a sua atuação para efetivar os direitos dos trabalhadores. Faz-se um 
resgate histórico das relações de trabalho, incluindo o período anterior a sua criação, 
bem como as razões que a influenciaram e o ato de sua fundação em 1919. Autores 
como Alban Bonilla Sandí e Nicolas Valticos afirmam esta importância histórica da 
OIT na efetivação da dignidade. 
A estrutura da OIT também é objeto de análise, a forma democrática e 
descentralizada em que foi constituída pelos Estados Membros, mas com estrutura 
interna tripartite, com a participação dos governos destes estados membros, e 
também de empresários e trabalhadores, pode trazer maior representatividade aos 
envolvidos. 
O resultado dos debates produz diversas orientações, sendo as Convenções 
os expoentes deste debate e, portanto, o objeto de análise mais específico no 
estudo. Algumas destas convenções ganharam destaque quando passaram a ser 
entendidas, pela OIT como fundamentais, na perspectiva de convenções vinculadas 
diretamente com os direitos essenciais dos trabalhadores. 
O segundo capítulo analisa as relações de trabalho no Brasil. Neste capítulo a 
história do trabalho no país se divide em quatro momentos históricos importantes. O 
período inicial ocorre com a primeira forma de trabalho brasileiro, a escravidão, que 
surge logo após o ato de descobrimento e segue por um longo período, 
perpassando por três séculos em que pouco ou nada se falará acerca de direitos ou 
dignidade dos trabalhadores por conta do sistema escravocrata. 
O fim da escravidão e o surgimento da Primeira República significa o efetivo 
início do trabalho livre no país. A dimensão desta mudança e o surgimento, ainda 
tímido – especialmente pela manutenção da mesma elite no poder – de normas que 
permitam o trabalho em melhores condições também serão discutidos. 
 
 
12
Neste período histórico ocorre a criação da OIT e os desdobramentos deste 
novo cenário internacional – existência de um órgão supranacional sobre o trabalho. 
A formação da OIT em um período pós-trabalho escravo e de fortalecimento do 
proletariado e afirmado por autores como Boris Fausto e Amauri Mascaro 
Nascimento. 
Momento seguinte a ser considerado, inicia-se em 1930, quando por um 
rompimento político assume o cargo de Presidente da República, Getúlio Vargas. A 
denominada Revolução de 30 traz consigo ampla regulamentação do trabalho no 
país. A pesquisa discute as relações entre estas normas e as primeiras Convenções 
da OIT que são recepcionadas naquela época. 
O último momento histórico apresentado neste capítulo tem como marco a 
promulgação da Constituição Federal de 1988, que efetiva no Brasil um processo 
anteriormente ocorrido em outros países, a constitucionalização dos direitos 
trabalhistas. A carta magna efetiva a condição do trabalho como direito social e 
busca ampliar a dignidade em sua realização. A afirmação de organismos 
internacionais e a força da Constituiçâo é referenciado por autores como Flávia 
Piovesan. A absorção dos valores presentes na OIT pela Constituição também é 
objeto de verificação neste capítulo. 
Por fim, no terceiro capítulo, as Convenções da OIT são observadas a partir 
de sua recepção, ou não, no ordenamento brasileiro. Entendendo-se a condição que 
o trabalho tem em constituir-se como um dos maiores segmentos a que se vinculam 
as pessoas, ressalta-se a importância da incorporação destas Convenções por 
afirmarem o trabalho em condições dignas, tendo como um dos referenciais desta 
lógica Ingo Wolfgang Sarlet. 
Também é abordada a sistemática de recepção dos tratados no Brasil. A 
importância da recepção – ou renúncia – de um tratado, inclusive quanto a sua 
forma, considerando-se a condição universal que possui, adquire importância por se 
constituir em um momento de ampliação de direitos e demonstra o interesse do país 
em integrar-se com os organismos internacionais, argumento utilizado, dentre 
outros, por Wagner Giglio. 
 
 
 
13
A importância da construção de direitos fundamentais nas relações sociais do 
trabalho – como forma de efetivação da dignidade da pessoa humana – e que estão 
presentes nos tratados internacionais, podem constituir-se em um marco civilizatório, 
sendo a adesão às Convenções uma aproximação ao ideal do trabalho digno. 
O propósito desta pesquisaé apresentar elementos sobre a forma de trabalho 
no Brasil na perspectiva do respeito aos direitos humanos e a importância da OIT 
neste processo. Considera-se o pressuposto que está em curso no país um 
processo histórico de ampliação dos direitos fundamentais dos trabalhadores que 
permitem o trabalho em condições dignas pela afirmação de normas e recepção dos 
tratados internacionais que buscam estabelecer esta condição. 
 
 
14
 
 
 
 
 
1 A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT) E OS DIREITOS 
HUMANOS DOS TRABALHADORES 
 
A Organização Internacional do Trabalho, órgão vinculado à Organização das 
Nações Unidas, criada em 1919 e com sede em Genebra, na Suíça, foi, durante o 
século 20, uma das instituições de referência na regulação das relações entre o 
capital e o trabalho e no fomento ao reconhecimento e à proteção dos direitos dos 
trabalhadores. 
Em sua origem, no ano de 1919, teve por objetivo a estruturação de um 
conjunto de normas a ser praticado em todos os países e que estabeleceu um 
patamar mínimo de direitos aos trabalhadores. Para permitir que os principais 
agentes envolvidos neste processo fossem contemplados, foi estruturada de forma 
descentralizada e seus membros estabeleceram resoluções que regulamentam as 
relações de trabalho. 
O impacto que as normas da OIT provocaram no ordenamento interno 
brasileiro e a efetividade que a recepção das Convenções produziu nas relações de 
trabalho estão entre as questões analisadas neste estudo. 
 
1.1 Origens da OIT 
A história é feita da moldagem do homem e de seu ambiente ao longo do 
tempo. O trabalho faz parte desta história. Pode-se dizer que o trabalho existe desde 
que o primeiro homem habitou a Terra e que não há como dissociar a linha de 
evolução da humanidade sem demonstrar como ocorriam as relações de trabalho. 
O trabalho é condição do ser humano. Pelo trabalho pode-se posicionar uma 
pessoa e sua condição social, intelectual, financeira, moral, enfim, a valoração que 
se dá ao trabalho que uma pessoa realiza é significativa em nossa sociedade. 
 
 
15
A história da realização de ser social, muitos já o disseram, objetiva-se 
através da produção e reprodução de sua existência, ato social que se 
efetiva pelo trabalho. Este, por sua vez, desenvolve-se pelos laços de 
cooperação social existentes no processo de produção material. Em outras 
palavras, o ato de produção e reprodução da vida humana realiza-se pelo 
trabalho.1 
 
Esta relação histórica não é, entretanto, em regra, pacífica. Aliás, o trabalho 
tem como referência histórica a condição de um fardo. A própria origem do termo 
mostra – do latim tripaliu: instrumento de tortura de três paus ou uma canga que 
pesava sobre os animais.2 
Na referência bíblica acerca do trabalho, primeiro Deus deu ao homem a terra 
para dela cuidar: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao Homem e o colocou no Jardim do 
Éden para cultivar e guardar”3 e, adiante, impõe o trabalho nela como castigo pelo 
descumprimento de sua ordem: “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te 
tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás”.4 
As primeiras formas de trabalho não eram senão pelo objetivo de 
sobrevivência do homem. Segundo Marx (1986, p. 5) a alimentação, abrigo, 
proteção contra as intempéries e os inimigos, determinavam a necessidade de se 
trabalhar. 
As primeiras referências da forma como o trabalho apresentava-se aos 
homens e como estes trabalhavam eram comuns. O homem primitivo tinha estes 
mesmos objetivos básicos e se adaptava às condições que possuía. Influências 
econômicas, sociais, políticas e religiosas não o distinguia naquele momento. 
A primeira configuração de distinção do trabalho que se estabeleceu ao 
homem primitivo faz referência ao gênero. Enquanto o homem, por ter condições 
físicas adequadas, se dedicava à caça e à proteção, a mulher cuidava da prole, o 
que lhe colocava em uma situação de menor prestígio, pois a condição física é que 
determinava a posição social. 
 
1
 ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaios sobre as Metamorfoses e a Centralidade do 
Mundo do Trabalho. Campinas, SP: Cortez, 1995. 
2
 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 
3
 BÍBLIA. Bíblia Sagrada. Tradução Centro Bíblico Católico. 34. ed. rev. São Paulo: Ave Maria, 1959. 
Gênesis, capítulo 2, versículo 15. 
4
 Idem, capítulo 3, versículo 19. 
 
 
16
Tendo ultrapassado a fase de sobrevivência, volta-se o homem para a vida 
em conjunto, quando se associa em comunidades urbanas: uma necessidade, 
conforme Aristóteles,5 que afirma ser o homem um ser social por natureza. 
Nesta condição social surgem as diferenças de maneira mais acentuada. O 
trabalho deixa de ser o de subsistência e passa a ser escravo, essencial para as 
civilizações antigas, entendido como natural e inerente àquele grupo de pessoas. A 
escravidão era compreendida como uma situação legítima (ARISTÓTELES, 2002, p. 
16), tendo sido relatada já na Antiguidade, 4.000 anos antes de Cristo. 
A etapa posterior à escravidão não é a liberdade do indivíduo, mas a 
servidão, quando a prisão que amarrava o homem passa a ser a terra onde 
trabalhava, não sendo dono de sua produção. Cria-se uma situação intermediária 
entre o escravo e o operário.6 O trabalho e o lar eram um mesmo espaço físico, com 
a participação da família inteira, e o trabalho ocupava todo o tempo que a luz natural 
permitia. 
Pode-se estabelecer um terceiro momento histórico para esta análise como 
sendo o do surgimento das corporações de ofício, como expõe Segadas Vianna: 
 
A identidade de profissão, como força de aproximação entre homens 
obrigava-os, para assegurar direitos e prerrogativas, a se unir, e começaram 
a apontar, aqui e ali, as corporações de ofício ou “Associações de Artes e 
Misteres”. O homem que, até então, trabalhava em benefício exclusivo do 
senhor da terra, tirando como proveito próprio a alimentação, o vestuário e a 
habitação, passara a exercer sua atividade, sua profissão em forma 
organizada, se bem que ainda não gozando da inteira liberdade. É que, 
senhor da disciplina, não só profissional, mas também pessoal do 
trabalhador, surgia a figura do “mestre.7 
 
 
 
 
5
 “A cidade é uma criação natural, e que o homem é por natureza um animal social, e que é por 
natureza e não por mero acidente, não fizesse parte de cidade alguma, seria desprezível ou estaria 
acima da humanidade [...] Agora é evidente que o homem, muito mais que a abelha ou outro animal 
gregário, é um animal social. Como costumamos dizer, a natureza não faz nada sem um propósito, 
e o homem é o único entre os animais que tem o dom da fala”. Disponível em: 
<http://projetophronesis.com/2009/01/10/o-homem-e-um-animal-social-aristoteles/>. 
6
 O trabalho humano. Disponível em <http://www.cefuria.org.br/doc/cartilha2trabalhohumano.pdf>. 
Acesso em: 12 abr. 2012. 
7
 VIANNA, Segadas. Antecedentes históricos. In: MARANHÃO, Délio et al. Instituições de Direito do 
Trabalho.16. ed. São Paulo: LTr, 1996. p. 31 V. I. 
 
 
17
Neste processo de transformação da sociedade e das estruturas de produção, 
o Feudalismo, no século 13, dá espaço a uma forma mais avançada de produção 
que libertou o trabalhador das amarras da sujeição do campesinato8 e criou uma 
nova classe social – os assalariados – conforme Weber: 
 
A racionalização econômica levou à dissolução de formas produtivas do 
feudalismo, formulando uma mentalidade empresarial moderna, baseada no 
planejamento e contabilidade. O fim do feudalismo libertou a força de 
trabalho, facilitando a constituição do trabalho assalariado.9 
 
Estas alterações não ocorrem apenas nas condições e relações da forma deprodução; impactam também os modos de poder, apontando para o surgimento do 
Estado, conforme Bedin: 
 
Assim, tendo submetido os poderes locais – senhores feudais e autoridades 
eclesiásticas inferiores – e fragilizado os poderes supranacionais Igreja e 
Sacro Império Romano-Germânico, as monarquias modernas e, em 
conseqüência, o Estado Moderno vão, aos poucos, tornando-se as 
principais unidades políticas da nova etapa da trajetória da humanidade 
(Romano; Tenenti, 1989; Van Dulmen, 1984). Com isso, vai-se afirmando o 
conceito de Estado como seria reconhecido nos próximos séculos do 
mundo moderno.10 
 
Enfim, tem-se a passagem de um sistema político e a inclusão do Estado, 
ressaltando-se a importância deste ente político, que passa a se constituir como 
regulador social e garantidor de direitos, inclusive na perspectiva da constituição de 
direitos para a classe operária. 
Consolidado o estado moderno e compreendido este processo de 
transformação das formas de produção e do próprio controle no mundo do trabalho, 
que antes era também espaço de intervenção da Igreja e passa a ser gerido por este 
novo ente, associa-se o surgimento da Revolução Industrial, ocorrida entre o século 
17 e 18, fato determinante para as relações de trabalho no estado moderno11 e pós-
moderno. 
 
8
 BEDIN, Gilmar Antonio. A Idade Média e o nascimento do Estado moderno: aspectos históricos e 
teóricos, 2008. p. 29. 
9
 WEBER, Max apud ROUANET, S. P. Mal estar na modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 
1993. 
10
 BEDIN, Gilmar Antonio, 2011, p. 81. 
11
 O Estado Moderno compreendeu o período entre os anos de 1648 e 1948, quando surge o Estado 
pós-moderno (BEDIN, 2012). 
 
 
18
Tendo como marco referencial de alteração na forma de operacionalização do 
trabalho e, por consequência, das relações entre empresários e operários, a 
Revolução Industrial trouxe aos países ocidentais, a divisão do trabalho, A 
especialização12 e o aparecimento do proletariado, com jornadas de 14 a 16 horas 
diárias e sem perspectivas de desenvolvimento, conforme Nascimento: 
 
A imposição de condições de trabalho pelo empregador, a exigência de 
excessivas jornadas de trabalho, a exploração das mulheres e menores, 
que constituíam mão-de-obra mais barata, os acidentes ocorridos com os 
trabalhadores no desempenho de suas atividades e a insegurança quanto 
ao futuro e aos momentos nos quais fisicamente não tivessem condições de 
trabalhar foram as constantes da nova era no meio proletário, às quais 
podem-se acrescentar também os baixos salários.13 
 
Neste momento os trabalhadores, além de todas as mazelas sociais 
impostas, não tinham o controle do processo de produção, da matéria-prima e nem 
do lucro. Ficavam expostos aos interesses dos empregadores praticamente sem 
controle ou limites. Esta situação se dava de forma mais efetiva primeiramente na 
Inglaterra, berço da Revolução Industrial e, posteriormente, nos países que 
assumiam este processo de industrialização. 
Como resultado das condições precárias a que eram submetidos os 
trabalhadores, algumas vozes e atos governamentais surgiram em defesa destes 
operários,14 e com elas atos que buscavam garantir melhores condições na vida. 
Tratando dos antecedentes da OIT, Sandi (1993, p. 62), considera a criação 
da organização resultado de um processo que foi construído por um longo período: 
 
Pensamos que no es suficiente decir que la O.I.T. fue creada em 1919 al 
amparo del Tratado de Versalles, que puso fin a la Primera Guerra Mundial, 
junto con la Sociedad de Naciones, a la que sobrevivió, y que fue fundada 
por 45 países. 
 
12
 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do trabalho; história e teoria geral do direito do 
trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 
13
 Ibidem, p. 15. 
14
 O inglês Robert Owen foi precursor na defesa de reformas sociais significativas, além de aplicar 
essas novas ideias em sua fábrica de tecidos. No ano de 1818, esteve à frente de um manifesto na 
defesa da classe trabalhadora aos governantes da Santa Aliança. Sua proposta era de uma ampla 
reforma da sociedade mediante a cooperação mundial. Lê Grand, francês, por inúmeras vezes 
encaminhou ao governo Francês e aos principais dirigentes de países europeus, entre os anos de 
1840 e 1853, proposta de criação de um acordo internacional para a legislação trabalhista que era 
fundamentada na proteção dos trabalhadores, opondo-se ao então trabalho prematuro e jornadas 
excessivas (NASCIMENTO, 2003, p. 31). 
 
 
19
En realidad podemos ubicar claramente tres momentos de su historia, a 
saber: antecedentes, creación y evolución posterior. Por eso es que 
reseñaremos estos tres momentos. 
 
O autor considera três momentos: o período prévio à criação, o próprio ato 
fundador e sua evolução. Anterior ao surgimento da OIT salientam os atos de Robert 
Owen e de Daniel Le Grand, já citados, além de Eduardo Duopétiaux15 sempre em 
defesa de regras nas relações de trabalho. Além destas intervenções pessoais que 
ocorreram no século 19, a de Marx, quando da criação da Associação Internacional 
dos Trabalhadores,16 foi importante para a instituição de um organismo internacional 
que pautasse as relações de trabalho. 
Ainda segundo Sandi (1993, p. 62), também em 1880 a manifestação de 
Albert de Mun17 no parlamento francês ampliou o apoio à criação de uma legislação 
internacional. Neste período, a Alemanha de Bismark tomava a iniciativa de 
convocar a Conferência de Berlin,18 e a Suíça, que naquele momento estava 
adiantada com esta discussão, propôs a vários Estados Europeus uma conferência 
que tratasse do tema, restando aprovados seis itens. 
 
Esta conferencia propuso seis puntos: prohibición del trabajo dominical, 
fijación de edad minima laboral, fijación de jornada laboral máxima para 
jóvenes, prohibición de emplear mujeres en labores dañinas a la salud, 
restricción del trabajo nocturno de niños y mujeres y modos de ejecución de 
convenios (SANDI, 1993, p. 63). 
 
Em sequência ocorre a Conferência de Berlin, em 1890, porém apenas 
Alemanha e Suíça se dispuseram a adaptar suas normas aos tratados 
internacionais. No ano seguinte, o Papa Leão XIII promulga a Encíclica Rerum 
 
15
 Eduardo Duopétiaux, jornalista belga, formado em Direito, dedicou-se entre outras coisas para a 
criação de Sindicatos e defesa da classe trabalhadora. Defendia o cargo até então inexistente de 
ministro de assuntos trabalhistas. 
16
 Fundada em 28 de setembro de 1864, em St. Martin's Hall de Londres, posteriormente conhecida 
como Primeira Internacional. O Comitê provisório contou com Karl Marx entre seus membros. A 
mensagem inaugural centrava a ideia da tomada do poder político pelos trabalhadores e união 
fraterna entre os operários de diferentes países. 
17
 Adrien Marie Albert de Mun, francês, político, defensor de reformas sociais. Fundou o Clube 
Operário Católico que se espalhou por toda a França. 
18
 A Conferência de Berlim ocorre entre 1884 e 1885 e tem como propósito tratar a questão das 
Colônias Africanas. Foi convocada pelo chanceler Alemão Otto von Bismarck e teve a participação, 
além do país organizador, da Grã-Bretanha, França, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda, Dinamarca, 
Estados Unidos, Suécia, Áustria-Hungria e do Império Otomano. 
 
 
20
Novarum.19 Em 1897, em Bruxelas, ocorre o 1° Congresso Internacional de 
Legislação do Trabalho, com caráter acadêmico, mas que influenciou 
significativamente as relações laborais posteriores. O Congresso ocorre novamente 
em Paris no ano de 1900. 
Finalmente em 1901, em Basileia, na Suíça, ocorre o encontro seguinte, que 
pauta a criação da AssembleiaConstitutiva da Associação Internacional para 
Proteção Legal dos Trabalhadores.20 Apesar de ser entidade privada, contava com 
forte apoio governamental. Participaram do ato de fundação a França, Itália, Países 
Baixos, Suíça, Alemanha, Áustria e Bélgica. 
Em 1905 a Suíça provoca o debate entre os países, tendo como principal 
ponto os danos à saúde causados pelo uso e impacto do fósforo nos trabalhadores21 
e o trabalho noturno das mulheres, sendo ratificado por dez países em 1908 e 
entrando em vigor em 1912. Estes dois pontos foram embrionários dos tratados 
internacionais. Em 1914 estava prevista nova conferência para estabelecer tratados 
entre estes países, porém a 1ª Guerra Mundial não permitiu sua realização. 
Antes disso, em 1864, na Inglaterra, é criada a Associação Internacional dos 
Trabalhadores e, conforme Abendroth (1977, p. 35) teve a presença de 
representantes ingleses, franceses e alemães, entre estes Karl Marx, relator do 
projeto de estabelecimento da Associação, que apresentava como propósito debater 
acerca das mazelas sofridas pela classe operária. Posteriormente a Associação foi 
denominada Internacional Socialista. 
Em 1919 é produzido o tratado de Versalhes, que oficializou o fim da I Guerra 
Mundial, cujas batalhas haviam encerrado em 1918. Deste Tratado de 440 artigos, 
13 versam sobre a Organização Internacional do Trabalho22 e foram redigidos no 
 
19
 A Carta Encíclica Rerum Novarum trata sobre a condição dos operários. Apoiava a luta dos 
trabalhadores não obstante condenar o socialismo. Criticava a ausência de valores à época e 
atribuía a esta condição parte dos problemas sociais vividos. Fazia referência à justiça na vida 
social e distribuição de riquezas. 
20
 Associação Internacional para Proteção Legal dos Trabalhadores com sede em Basiléia, na Suíça. 
Importante salientar que desta Associação surgiu o primeiro tratado bilateral entre a França e a 
Itália, de 1909, e as primeiras convenções internacionais em 1906, resultando na realização das 
Conferências de Berna a partir de 1905 Disponível em: <http://fdc.br/Arquivos/Mestrado/Revis-
tas/Revista09/Artigos/Zoraide.pdf> 
21
 O fósforo é causador de doenças profissionais, tendo sido proibido seu uso na Alemanha em 1903 
e nos Estados Unidos em 1912. Disponível em: <www.ebah.com.br>. Acesso em 20 mar. 2014. 
22
 O Tratado de Versalhes, em sua parte XIII, apresenta os artigos 387 a 399 acerca da OIT. 
 
 
21
período de janeiro a abril de 1919 pela Comissão de Legislação Internacional do 
Trabalho. Formaram a Comissão representantes da Bélgica, Cuba, Checoslováquia, 
Estados Unidos, França, Japão, Polônia e Reino Unido, cabendo ao representante 
americano a coordenação das atividades. 
A primeira sessão desta parte do Tratado apresenta o propósito de justiça 
social nas relações de trabalho. 
 
[...] a Liga das Nações tem por objetivo o estabelecimento da paz universal, 
e essa paz só pode ser constituída se for baseada na justiça social. As 
condições de trabalho, entretanto, existem envolvendo injustiça social, 
sofrimento e privações para um grande número de pessoas. Tal fato produz 
uma perturbação tão grande que leva a paz e a harmonia do mundo ao 
perigo. Dessa forma, uma melhoria das condições de trabalho seria 
urgentemente necessária.23 
 
Não eram, entretanto, apenas sentimentos de apoio à classe operária que 
motivavam a inclusão e aceitação da OIT imediatamente após a sua criação. O 
momento histórico comportava ainda a Revolução Russa, de 1917, e suas 
influências, e, portanto, a aceitação por outros países também tinha como propósito 
evitar o crescimento da organização da classe trabalhadora por si mesma.24 
Desta forma, o processo de criação da OIT emerge pela existência do Estado 
e resultado da difícil situação a que estavam expostos os trabalhadores durante o 
século 19 e início do século 20, gerando um grande conjunto de operários expostos 
a condições quase miseráveis. Também pelo processo de finalização de uma guerra 
que expôs mais mazelas sociais, principalmente aos menos favorecidos, como os 
trabalhadores, e do impacto da revolução proletária russa e o receio de sua 
proliferação em outros países. 
Enfim, em 1919, em Paris, surge a Organização Internacional do Trabalho, 
que traz em seu preâmbulo: 
 
Considerando que só se pode fundar uma paz universal e duradoura com 
base na justiça social; 
Considerando que a não adoção, por parte de qualquer nação, de um 
regime de trabalho realmente humano se torna um obstáculo aos esforços 
de outras nações empenhadas em melhorar o futuro dos trabalhadores nos 
seus próprios países; 
[...] 
 
23
 Como consta no Tratado de Versalles, artigos 387-399, parte XIII, sessão I. 1919. 
24
 FERRERAS, Norbert Osvaldo. Entre a expansão e a sobrevivência: a viagem de Albert Thomas ao 
Cone Sul da América. Antíteses, v. 4, n. 7, p. 127-150, jan./jun. 2011. Disponível em: 
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses>. Acesso em: 10 nov. 2013. 
 
 
22
As Altas Partes Contratantes, movidas por sentimentos de justiça e de 
humanidade, assim como pelo desejo de assegurar uma paz mundial 
duradoura, e tendo em vista alcançar os objetivos enunciados neste 
preâmbulo, aprovam a presente Constituição da Organização Internacional 
do Trabalho:25 
 
Os propósitos da OIT estão vinculados ao pleno emprego e melhorias nas 
condições de vida dos trabalhadores, conforme Valticos (1996, p. 518) 
 
La Declaración destaca sobre todos los objetivos del pleno empleo y del 
aumento de los niveles de vida. Aboga por una concepción amplia de la 
seguridad social y, además del logro del progreso material y de la seguridad 
económica, afirma la importáncia de los valores de libertad, dignidad e 
igualdad, en especial la igualdad de oportunidades. La Declaración abarca a 
todos los seres humanos y define los objetivos sociales de manera muy 
ampliada, manifestando el interés de la OIT por las cuestiones económicas 
que pueden influir en los problemas sociales. 
 
Destaca-se a afirmação do autor quanto aos valores da liberdade, dignidade e 
igualdade, especialmente a igualdade de oportunidades, valores maiores de todas 
as relações sociais, mas entendidos aqui na perspectiva do mundo do trabalho. 
É preciso reconhecer que o homem deve ser a medida de todas as coisas e 
que para esta condição a OIT foi criada. Sua estrutura e forma de participação deve 
espelhar esta condição. 
 
1.2. Estrutura da OIT Como Espaço de Criação de Direitos 
A dignidade não existe de forma fatiada: o ser humano não possui esta 
condição senão dentro de todas as relações em que está inserido. O entendimento 
contemporâneo de que todos os homens devem ser tratados de forma digna 
extrapolou os Estados e determinou a criação de referências internacionais de 
direitos humanos. 
Considerando que o trabalho existe onde está o homem, pode-se definir que 
são os laboradores um dos mais abrangentes grupos para efetivação de direitos ou 
para espera de sua efetivação. Se no trabalho o homem pode encontrar um espaço 
social, também por meio dele pode se deparar com mazelas e condições indignas, 
situações precárias ou até trabalho forçado. 
 
25
 Organização Internacional do Trabalho – Documentos fundamentais. <http://www.ilo.org/public/por-
tugue/region/eurpro/lisbon/pdf/constitucao.pdf>. Acesso em: 6 dez 2011. 
 
 
23
Esta condição também se apresenta nas relações entre os agentes do capital 
e do trabalho. Inúmeros são os relatos históricos de confrontos que tiveram origem 
nestas relações. 
 
A imposição de condições de trabalho pelo empregador, a exigência de 
excessivas jornadas de trabalho, a exploração das mulheres e menores, 
que constituíammão-de-obra mais barata, os acidentes ocorridos com os 
trabalhadores no desempenho de suas atividades e a insegurança quanto 
ao futuro e aos momentos nos quais fisicamente não tivessem condições de 
trabalhar, foram as constantes da nova era no meio proletário, às quais 
podem-se acrescentar também os baixos salários.26 
 
Fazendo-se a análise da abrangência dos direitos humanos e também do 
trabalho, é possível entender a necessidade da efetivação dos direitos humanos nas 
relações de trabalho, quando o embate é permanente, o que cria a necessidade de 
legislação que permeie o tema. Nesta perspectiva de criar valores internacionais 
para o tema direitos humanos, inserem-se as normatizações acerca das relações de 
trabalho e a OIT. 
É possível afirmar que o propósito da OIT seja instituir uma linguagem 
universal, em se tratando de normas de trabalho ou direito dos trabalhadores, 
fundamentada na igualdade, conforme citam Pamplona Filho e Marco Antonio 
Villatore: 
 
O objetivo da OIT é o de proporcionar melhoria das condições de trabalho e 
das condições humanas, buscar igualdade de oportunidades, a proteção do 
trabalhador em suas condições de trabalho, enfim, a cooperação entre os 
povos para promover o bem comum e a primazia do social em toda a 
planificação econômica é a finalidade social do desenvolvimento econômico 
(2001, p. 68). 
 
Para que este objetivo seja atingido, faz-se necessária a participação dos 
Estados, dos empregados e dos empregadores. Tem-se, portanto, que uma das 
especificidades da OIT é a descentralização de suas estruturas. A descentralização 
é entendida por Bobbio, Matteucci e Pasquino (2004, p. 332) como uma forma de 
democracia e de respeito à autonomia: 
 
 
 
26
 Ibidem, p. 15. 
 
 
24
É afirmação constante e generalizada que existe uma estreita conexão 
entre os conceitos de Descentralização e de democracia, também em 
relação ao fato de que a luta pela Descentralização constitui, principalmente 
a luta pelas autonomias locais a fim de perseguir. Além da 
Descentralização, objetivos de democratização[...] A Descentralização seria 
o meio para poder chegar, através de uma distruição da soberania, a uma 
real liberdade política. 
 
Além desta visão de democracia, a descentralização se torna imperativa na 
perspectiva da possibilidade de regulamentar o tema proposto. “Um dos principais 
motivos para a descentralização é precisamente o fato de que ela fornece esta 
possibilidade de se regulamentar a mesma matéria de modo diferente para 
diferentes regiões” (KELSEN, 2005, p. 435). 
Ainda tratando da q uestão que vincula a descentralização com a democracia, 
Kelsen afirma que “[...] A democracia pode ser descrita como um método 
descentralizado de criação de normas, já que, numa democracia, as normas 
jurídicas são criadas pela pluralidade dos indivíduos cujo comportamento elas 
regulamentam” (2005, p. 433). 
Referindo-se aos organismos internacionais, Sandi (apud MONTIEL 
ARGÜELLO, 1982, p. 161) afirma que “asociaciones voluntarias de sujetos de 
Derecho internacional que crean una institución estable dotada de órganos propios 
mediante los cuales realiza sus funciones en el campo que le ha sido designado.”27 
Estas organizações, portanto, constituem-se em estruturas estáveis que auxiliam no 
processo de formalização dos atos para os quais foram criadas. 
Referindo-se de forma específica à OIT, a descentralização se apresenta por 
intermédio de sua estrutura pulverizada em inúmeros países com escritório regional, 
escritório de zona, escritório de enlace e equipe consultiva multidisciplinar, e com a 
particularidade de que as suas delegacões não são organismos apenas estatais, 
mas também privados, e pela participação de patrões e empregadores, que 
associados ao Estado, formam a estrutura tripartite, conforme Sandi: 
 
[...] y coloca a la OIT como organismo especializado de la ONU y cuya 
particularidad es que las delegaciones ante ella no son solo organismos 
estatales sino también, constituidos por patronos y trabajadores (apud 
MONTIEL ARGÜELLO, 1982, p. 161). 
 
 
27
 MONTIEL ARGUELLO, Alejandro. Manual de Derecho Internacional Público y Privado. Guatemala: 
Editorial Piedra Santa, 1982. 
 
 
25
Confirmando que a formatação desta estrutura tripartite é referencial histórico 
da Organização, Gunther considera: 
 
O tripartismo é a base institucional da OIT. Entende-se por tripartismo a 
participação em pé de igualdade dentro dos trabalhos da OIT, não somente 
dos representantes governamentais, mas, também, dos empregadores e 
dos trabalhadores dos respectivos Estados-membros da Organização. O 
tripartismo demonstrou ser um sistema eficaz de ação dentro da OIT e uma 
garantia de viabilidade na aplicação prática dos seus acordos. O tripartismo 
conferiu, além disso, à OIT, um ambiente de uma ativa e permanente 
negociação (2011, p. 42). 
 
O autor ainda lembra do discurso do Papa Paulo VI, referindo-se à tripartição 
de decisões como elemento permanente da OIT (MONTT BALMACENA apud 
GUNTHER, 2011, p. 42). 
 
Vossa Carta original e orgânica faz concorrer as três forças que se movem 
na dinâmica humana do trabalho moderno: os homens do governo, os 
empregadores e os trabalhadores. O vosso método consiste em 
harmonizar estas três forças; não fazê-las opor-se, senão que concorrer 
em uma colaboração valente e fecunda através de um constante diálogo 
ao estudo e solução de problemas sempre emergentes e sem cessar 
renovadas.28 
 
É inegável que este processo de tripartição nos espaços da Organização 
permite, além da democratização de suas decisões, conforme já citado, também a 
possibilidade do estudo dos problemas, um dos papéis institucionais da OIT, de 
forma mais efetiva, uma vez que os atores envolvidos no processo estão 
diretamente vinculados nos espaços de discussão e tomada de decisão. 
Analisando a importância desta formatação, considera Tapiola (2001, p. 66): 
 
Debemos recordar la finalidad que tenía el modelo de cooperación tripartita 
y lo que se suponía que éste debía evitar. Su finalidad consistía en crear 
relaciones armoniosas en la sociedad y, en particular, en los lugares de 
trabajo, donde se crea y redistribuye la riqueza nacional. Se pretendía con 
este modelo alcanzar normas laborales decentes, lo que implica que no se 
debía forzar la competitividad a costa de la salud, la seguridad y los 
derechos básicos de los trabajadores y trabajadoras. El modelo estaba a 
favor de una cooperación participativa para las personas directamente 
implicadas, lo que representaba una parte esencial de la democracia. 
 
 
 
28
 No ano de 1982 o Papa João Paulo II pronunciou as mesmas palavras na 68ª Reunião da 
Conferência da OIT. 
 
 
26
Lembra também o mesmo autor o avanço que isto representou na época: 
 
Partiendo de un modelo que ya en 1919 era bastante avanzado, la 
promoción de los principios y derechos fundamentales en el trabajo, una 
labor central de la OIT, ha evolucionado tomando en cuenta e inclusive 
anticipándose a las evoluciones que se fueron produciendo en el mundo. 
 
Esta formatação está pacificada dentro do organismo, tornando-se inclusive 
referência em sua forma de atuação e dando-lhe maior credibilidade, conforme 
Barros: 
 
O sistema tripartite sobreviveu e hoje constitui a pedra angular da OIT, 
sendo sua verdadeira força motriz. Suas decisões têm maior autoridade, 
visto serem aprovadas pela maioria dos representantes da delegação e, por 
isso mesmo, têm maior eficácia, sobretudo quando se analisa o sistema de 
supervisão e controle de aplicação de suas normas (2008). 
 
Para que este propósito de universalização dos direitos dos trabalhadores 
fosseatingido, a estrutura da OIT foi descentralizada, prevista já na sua fundação, 
conforme o artigo 38829 do Tratado de Versalhes: 
 
Art. 388 – A organização permanente inclui: 
1 – A conferência geral de representantes dos membros; 
2 – Um escritório internacional do trabalho, sob a direção do conselho 
previsto no artigo 393. 
 
O artigo 393 do Tratado em referência confirmava que a OIT deve ser 
colocada sob a direção de um conselho de administração que, à época, era 
composto por 24 pessoas. Destas, 12 representavam os governos, 6 os 
trabalhadores e 6 representavam os empregadores, constituindo um espaço 
democrático já na estrutura administrativa da entidade. 
A formatação e funcionamento da OIT foi estabelecida em sua Constituição 
aprovada na 29ª Reunião da Conferência Internacional do Trabalho, em Montreal, no 
ano de 1946, e traz em seu Preâmbulo:30 
 
 
 
29
 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1976. p. 72. 
30
 Constituição da Organização Internacional do Trabalho. Disponível em: <http://www.oitbra-
sil.org.br>. Acesso em: 12 set. 2013. 
 
 
27
Considerando que a paz para ser universal e duradoura deve assentar 
sobre a justiça social; 
Considerando que existem condições de trabalho que implicam, para 
grande número de indivíduos, miséria e privações, e que o 
descontentamento que daí decorre põe em perigo a paz e a harmonia 
universais, e considerando que é urgente melhorar essas condições no que 
se refere, por exemplo, à regulamentação das horas de trabalho, à fixação 
de uma duração máxima do dia e da semana de trabalho, ao recrutamento 
da mão-de-obra, à luta contra o desemprego, à garantia de um salário que 
assegure condições de existência convenientes, à proteção dos 
trabalhadores contra as moléstias graves ou profissionais e os acidentes do 
trabalho, à proteção das crianças, dos adolescentes e das mulheres, às 
pensões de velhice e de invalidez, à defesa dos interesses dos 
trabalhadores empregados no estrangeiro, à afirmação do princípio "para 
igual trabalho, mesmo salário", à afirmação do princípio de liberdade 
sindical, à organização do ensino profissional e técnico, e outras medidas 
análogas; 
Considerando que a não adoção por qualquer nação de um regime de 
trabalho realmente humano cria obstáculos aos esforços das outras nações 
desejosas de melhorar a sorte dos trabalhadores nos seus próprios 
territórios. 
AS ALTAS PARTES CONTRATANTES, movidas por sentimentos de justiça 
e humanidade e pelo desejo de assegurar uma paz mundial duradoura, 
visando os fins enunciados neste preâmbulo, aprovam a presente 
Constituição da Organização Internacional do Trabalho: 
 
A participação dos estados-membros conserva os participantes de sua 
criação e os membros que forem integrados às Nações Unidas, desde que informem 
oficialmente sua intenção de aceitar integralmente as obrigações decorrentes da 
Constituição da Organização Internacional do Trabalho, conforme artigo 1º da 
Constituição da OIT. 
A organização está prevista no artigo 2º da norma e estabelece uma 
organização permanente composta da Conferência geral, constituída pelos 
representantes dos estados-membros; um Conselho de Administração composto por 
28 representantes dos governos, 14 representantes dos empregados e 14 
representantes dos empregadores, totalizando 56 membros,31 e uma Repartição 
Internacional do Trabalho sob a direção de um Conselho de Administração. 
No Conselho de Administração os postos governamentais são ocupados por 
vagas transitórias e permanentes. As vagas permanentes são ocupadas pelos 
países considerados de maior importância industrial, dentre eles o Brasil.32 
 
31
 Artigo 7 da Constituição da OIT. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/to-
pic/decent_work/doc/constituicao_oit_538.pdf>. Acesso em: 11 set. 2013. 
32
 Artigo 7, 2 da Constituição da OIT. Além do Brasil, têm assento permanente no Conselho a 
Alemanha, China, Estados Unidos, França, Índia, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia. 
 
 
28
Os demais representantes governamentais são eleitos a cada 3 anos pelos 
delegados da Conferência respeitando a lógica da distribuição geográfica. Os 
representantes dos empregados e dos empregadores são eleitos diretamente por 
seus pares.33 
Este Conselho de Administração, que desempenha papel executivo e 
administrador, reune-se três vezes ao ano em Genebra, na Suíça, e tem como 
atribuições a elaboração e o controle da execução das políticas e programas da OIT, 
a eleição do diretor-geral e a elaboração do programa e orçamento bienal. É sua 
incumbência, também, definir o local, data e pauta das discussões da Assembleia 
Geral. 
A Conferência Internacional do Trabalho ocorre sempre no mês de junho de 
cada ano em Genebra, na Suíça, com a participação de todos os estados-membros. 
A delegação destes Estados é formada por quatro representantes de cada um dos 
membros, dos quais dois são delegados do governo e os outros dois representam, 
respectivamente, os empregados e os empregadores, conforme determinado no 
artigo 3º. 
A Conferência trata dos diversos temas do trabalho, adota e revisa normas 
internacionais do trabalho, orienta as políticas públicas gerais e programa os 
trabalhos e orçamentos. O orçamento tem origem em recursos financiados pelos 
estados-membros. 
A estrutura da Organização conta ainda com a Repartição Internacional do 
Trabalho, que contempla o Secretariado Geral que permanece em Genebra, na 
Suíça, sede principal da OIT, sob a direção do Conselho de Administração, 
conforme previsto no artigo 2º da Constituição da OIT. 
A Repartição Geral, conforme o artigo 8º 1, terá um “Diretor-Geral, designado 
pelo Conselho de Administração, responsável, perante este, pelo bom 
funcionamento da Repartição e pela realização de todos os trabalhos que lhe forem 
confiados.”34 
 
33
 Conforme a Constituição da OIT, artigo 7.4: os representantes dos empregadores e os dos 
empregados serão, respectivamente, eleitos pelos delegados dos empregadores e pelos delegados 
dos trabalhadores à Conferência. 
34
 Disponível em: <www.oitbrasil.org.br>. 
 
 
29
A função da Repartição Internacional do Trabalho está definida no artigo 10º 
da Constituição: 
 
1. A Repartição Internacional do Trabalho terá por funções a centralização e 
a distribuição de todas as informações referentes à regulamentação 
internacional da condição dos trabalhadores e do regime do trabalho e, em 
particular, o estudo das questões que lhe compete submeter às discussões 
da Conferência para conclusão das convenções internacionais assim como 
a realização de todos os inquéritos especiais prescritos pela Conferência, ou 
pelo Conselho de Administração. 
 
É de competência da Repartição a parte administrativa da estrutura que 
organiza, analisa e operacionaliza as questões vinculadas às condições dos 
trabalhadores. Trata da organização de suas operações, tais como as pesquisas 
administrativas, produção de estudos, publicações, reuniões tripartites setoriais e 
reuniões de comissões e comitês. 
Referindo-se à importância da Repartição para a estrutura da OIT, De La 
Cueva (apud GUNTHER, 2011, p. 48) afirma: “é o motor da instituição, a força que 
impulsiona seus fins e realiza uma parte importante deles”. 
Também é de competência da Repartição o recebimento de reclamações 
quanto ao descumprimento das diretrizes pelos países signatários, importante 
espaço para a formalização de denúncias por condições inadequadas de trabalho. 
Por ter sua estrutura descentralizada, a OIT possui cinco Escritórios 
Regionais, sendo localizados de forma estratégica em cada continente.35 Além dos 
Escritórios Regionais,a estrutura contempla 26 escritórios de área, um dos quais 
encontra-se no Brasil, e 12 equipes técnicas multidisciplinares de apoio aos 
escritórios. 
Ademais desta estrutura, conta a organização da OIT com 11 
correspondentes nacionais, que sustentam a administrtação dos programas, projetos 
e atividades de cooperação técnica e de reuniões regionais, sub-regionais e 
nacionais. 
 
35
 Na América do Sul a sede do escritório regional é em Lima, no Peru. Além do escritório na América 
do Sul, a OIT possui, ainda no Continente Americano um escritório junto a sede das Nações Unidas 
em Nova Iorque e o Escritório da OIT para os Estados Unidos em Washington, ambos nos Estados 
Unidos. Nos demais continentes encontram-se escritórios para a Europa e Ásia Central em 
Genebra na Suíça, para o Continente Africano em Adis Abeba, Etiópia, na Ásia para o Pacífico em 
Bangkok na Tailândia e escritório também em Beirute no Líbano. Disponível em: 
<www.ilo.org/global/regions/lang--en/index.htm>. Acesso em: 10 out. 2013. 
 
 
 
30
As despesas financeiras são custeadas, de acordo com a sua Constituição, 
entre os estados-membros.36 Eventuais dívidas podem inibir a participação do 
Estado devedor das atividades da Organização, conforme previsto também em sua 
Constituição. 
Além de ser a única repartição das Nações Unidas que conta com estrutura 
tripartite, a sua descentralização permite a presença dos envolvidos diretamente nas 
ações, conforme cita Pamplona Filho:37 
 
Em contraponto aos demais direitos sociais, os direitos trabalhistas exigem 
também a participação de terceiros para a sua implementação. Aqui se 
recorre às lições de Abrantes, para quem os direitos sociais se caracterizam 
não só por serem exigíveis apenas contra o Estado, mas através dele [...] 
Por esse motivo, o mecanismo adotado pela OIT foi a inclusão da sociedade 
civil no seu foro de discussão, conferindo-lhe voz ativa. Tal qual se prevê a 
participação governamental nas deliberações, também os agentes 
econômicos de cada país foram convidados a tomar as decisões que irão 
lhe afetar diretamente. 
 
Ainda segundo Pamplona Filho, salienta-se a participação de representantes 
da sociedade civil, empregados e agentes econômicos por meio dos empregadores, 
que, mesmo não sendo os únicos destinatários das normas da OIT, que são 
fundamentos para toda a humanidade, têm como princípio aprimorar as relações 
sociais pela valorização do trabalhador.38 
 
Logo, não teria qualquer sentido alijar do processo de deliberação das 
normas internacionais do trabalho justamente os trabalhadores. E de fato foi 
contemplada a participação destes enquanto delegados dos Estados 
Membros que compõem a OIT. Mas a sociedade civil não estaria 
corretamente representada sem a participação também dos empregadores, 
especialmente porque serão estes que deverão realizar as normas de 
direitos sociais trabalhistas previstas pelo Estado. Deve ser frisado que a 
meta de aprimoramento das relações de trabalho não implica em 
reconhecer tão somente a proteção do trabalhador, mas sim a construção 
de um sistema normativo que se adapte às demandas sociais e 
econômicas. Portanto, necessária se faz a participação dos empregadores, 
também representados por delegados. 
 
 
36
 Constituição da OIT. Artigo 13. Ítem 3. As despesas da Organização Internacional do Trabalho 
serão custeadas pelos estados-membros, segundo os acordos vigentes, em virtude do parágrafo 1º 
ou do parágrafo 2º letra c do presente artigo. 
37
 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Estrutura da Organização Internacional do Trabalho: aspectos 
histórico-Institucionais e conômicos. Disponível em: <http://www.editoramagister.com/dou-
trina_24301422_ESTRUTURA_DA_ORGANIZACAO_INTERNACIONAL_DO_TRABALHO_ASPEC
TOS_HISTORICO_INSTITUCIONAIS_E_ECONOMICOS.aspx>. Acesso em: 10 out. 2013. 
38
 Idem, ibidem. 
 
 
31
Este processo de estrutura participativa demonstra-se eficiente, pois 
representa a sociedade civil quando elege os dois segmentos diretamente 
envolvidos e, desta forma, permite a construção de um sistema de proteção ao 
trabalhador que, conforme o autor, se adapta também às demandas sociais e 
econômicas. 
Com esta formatação, a Organização Internacional do Trabalho está presente 
em todos os continentes, por intermédio de seus escritórios e equipes técnicas. O 
resultado desta descentralização e da estrutura tripartite surge especialmente em 
suas conferências internacionais pela elaboração de um conjunto de resoluções, 
com o objetivo de estabelecer parâmetros comuns aos povos sobre as relações 
entre o capital e o trabalho. 
 
1.3 Principais Resoluções da OIT 
A OIT busca como fundamento a justiça e a felicidade nas relações de 
trabalho, e a noção de justiça, tal como a noção de Direitos Humanos, está em 
constante expansão, conforme Valticos (1996, p. 517): 
 
La OIT aspira fundamentalmente y sobre todo a conseguir más justicia y 
felicidad en este mundo. La noción misma de justicia, al igual que la de 
derechos humanos, está en expansión constante a largo plazo, 
independientemente de las pausas que pueden registrarse. Por 
consiguiente, las normas de la OIT, que deben atender esa exigencia, no 
pueden sino progresar, por desigual que sea su desarrollo. 
 
As resoluções da OIT buscam, portanto, estabelecer a medida e a forma do 
trabalho para o homem e, além de questões como justiça e felicidade, a liberdade e as 
relações sociais estão presentes em toda sua esfera de atuação. Conforme salienta o 
mesmo autor (1996, p.15), o homem deve ser a medida de todas as coisas: 
 
Decir que el hombre es la medida de todas las cosas, que la justicia y la 
libertad han de regir las relaciones sociales, que la economía ha de estar al 
servicio de la condición humana y que la paz requiere la justicia entre los 
hombres equivale a decir verdades evidentes que, sin embargo, no se 
sienten y creen realmente, por lo menos de manera general; es más, 
algunos medios, tanto gubernamentales como privados, parece que las 
consideran fórmulas vacías de contenido o, como escribió Albert Thomas, 
“frontispicios pomposos y sin alcance real”, o como máximo “piadosas 
esperanzas”. La verdad es que esos principios constituyen la base de la 
OIT. Por supuesto, es también una organización técnica en la esfera 
sociolaboral, pero sujeta a unos objetivos globales que, como se ha dicho, 
son de carácter más general. 
 
 
32
Para formalizar estas perspectivas, a OIT tem atuação em âmbito internacional. 
As normas por ela produzidas têm o propósito de criar um patamar mínimo de 
regramento nas formas de trabalho. Esta elaboração ocorre principalmente pelas 
Convenções, Resoluções e Regulamentos, aprovados em Assembleia Geral. 
A Constituição da OIT estabelece a forma como uma proposta poderá ser 
constituída, conforme seu artigo 19: 
 
1. Se a Conferência pronunciar-se pela aceitação de propostas relativas a 
um assunto na sua ordem do dia, deverá decidir se essas propostas 
tomarão a forma: a) de uma convenção internacional; b) de uma 
recomendação, quando o assunto tratado, ou um de seus aspectos não 
permitir a adoção imediata de uma convenção. 
2. Em ambos os casos, para que uma convenção ou uma recomendação 
seja aceita em votação final pela Conferência, são necessários dois terços 
dos votos presentes. 
 
Quando a proposta apresentada pressupõe maior importância, ela é 
convertida em Convenção Internacional, que estabelece regras gerais e possui 
caráter obrigatório para os Estados, que a recepcionam em seus ordenamentos 
jurídicos. Esta distinção da Convenção em relação a outras orientações é 
apresentada por Cesarino Júnior (1980, p. 83): 
 
As convenções internacionais do trabalho não têm, por si mesmas, efeito 
obrigatório;é por suas ratificações que um estado assume a obrigação de 
pô-las em execução. Sua promulgação já na órbita do direito interno 
introduz as disposições da convenção na ordem jurídica nacional. Para 
cada convenção, específicas regras relativas à sua entrada em vigor estão 
contidas em suas cláusulas finais. Há instrumentos idênticos às convenções 
quanto à sua forma e à sua elaboração, mas que não devem, 
obrigatoriamente, como as convenções, ser submetidas à sua ratificação. 
Tratam-se das resoluções, que são meros convites aos Estados para 
seguirem certas regras. 
 
A Recomendação não é revestida da mesma importância e passa a ser uma 
sugestão para que os Estados a analisem de forma facultativa. Estas 
recomendações têm o sentido de orientação ou são meramente indicativas. Cabe 
ressaltar que, não obstante às orientações da OIT, a obrigatoriedade na recepção de 
Convenções não é regra, pois se sobrepõe à legislação de cada país membro 
quanto à forma de aprovação, recepção e condição que esta resolução irá adquirir. 
Assim, asseveram Fontoura e Gunther (2001, p. 144) 
 
 
 
 
33
Assim, o artigo 19 da Constituição da Organização Internacional do 
Trabalho dispõe certas obrigações específicas de comportamento dos 
Estados com relação às convenções ou recomendações e que não 
implicam obrigatoriedade alguma a respeito de seus conteúdos. 
 
A OIT, por meio da Declaração de Princípios Fundamentais e Direitos no 
Trabalho,39 ocorrida em 1998, sedimentou as suas Convenções Fundamentais que 
devem ser ratificadas e aplicadas por todos os seus estados membros. Segundo 
Tapiola (2001, p. 68), este debate surge pela consciência de que os mercados e a 
democracia não são suficientes para resolver os problemas da classe trabalhadora. 
“El debate de las normas fundamentales del trabajo de los años noventa se inició al 
tomarse consciencia de que los mercados y la democratización por sí solo no podían 
resolver los males del mundo y, más especialmente, de su clase trabajadora.” Estas 
convenções, em número de oito, são parte do conjunto de Convenções 
historicamente aprovadas nas Conferências Internacionais do Trabalho. 
O texto desta declaração apresenta a forma de divisão das Convenções,40 
 
Declara que todos os Membros, ainda que não tenham ratificado as 
convenções aludidas, têm um compromisso derivado do fato de pertencer à 
Organização de respeitar, promover e tornar realidade, de boa fé e de 
conformidade com a Constituição, os princípios relativos aos direitos 
fundamentais que são objeto dessas convenções, isto é: 
a) a liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito de negociação 
coletiva; 
b) a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório; 
c) a abolição efetiva do trabalho infantil; e 
d) a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação. 
 
Além desta classificação, outras quatro Convenções também sinalizam 
condições de especial importância e são classificadas como prioritárias. As demais 
são agrupadas pelos temas que afirmam. Sobre os princípios e direitos 
fundamentais, considera Cecato (2007, p. 11): 
 
 
39
 Em 1998, após o fim da guerra fria, foi adotada a Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos 
Fundamentais no Trabalho e seu Seguimento. O documento é uma reafirmação universal do 
compromisso dos estados membros e da comunidade internacional em geral, de respeitar, 
promover e aplicar de boa-fé os princípios fundamentais e direitos no trabalho. Disponível em: 
<http://www.oitbrasil.org.br/node/294>. Acesso em: 20 mar. 2014. 
40
 Declaração da OIT Sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho. Disponível em: 
<http://www.oitbrasil.org.br> Acesso em: 21 out. 2013. 
 
 
 
34
A Declaração sobre princípios e direitos fundamentais no trabalho, adotada 
pela OIT, em 1998, e reconhecida, no nível mundial, como paradigma dos 
direitos humanos do trabalhador, tem conteúdo de oito Convenções adotadas 
ao longo da existência da Organização. O texto estabelece quatro temas 
como rol mínimo dos direitos fundamentais laborais: eliminação do trabalho 
forçado (Convenções n. 29 e 105); a erradicação do trabalho infantil 
(Convenções n. 138 e 182); a não discriminação no trabalho e no emprego 
(Convenções n. 100 e 111) e a liberdade sindical (Convenções n. 87 e 98). 
 
Tratando das Convenções afirmadas como fundamentais, a mais antiga data 
de 1930. Foi a 29º Convenção da OIT e versa sobre o Trabalho Forçado, na 
perspectiva de eliminar esta forma de trabalho assim como o trabalho obrigatório, 
ressalvado o serviço militar e situações de emergência. 
O entendimento do que seja o trabalho escravo, no atual período, também 
difere da caracterização do escravo de séculos anteriores. Para o doutrinador 
Amauri Mascaro Nascimento, o trabalho escravo ou o trabalho em condição análoga 
ao de escravo, é uma “força específica de trabalho forçado. Caracteriza-se pelo 
cerceamento real da liberdade de uma pessoa” (2010, p. 924). 
Pela ausência de um conceito pronto, Nascimento estabelece as condições 
para a confirmação desta forma de trabalho: 
 
o constrangimento no recrutamento, o trabalho forçado no seu 
desenvolvimento, a restrição à liberdade do prestador de se desligar da 
situação que se formou, direta por meios físicos ou morais, ou indireta em 
razão de dívida contraída com o empregador ou preposto com o fim de retê-
lo no local de trabalho, pela apreensão de documentos ou objetos pessoais 
do empregador, para mantê-lo, contra a sua vontade, na situação subjugada 
em que ele ou seus familiares se encontram (2010, p. 926). 
 
Também tratando do tema trabalho forçado, a Convenção 65, de 1957, proíbe 
esta forma de trabalho como meio de coerção ou de educação política, como castigo 
para quem expressa opiniões políticas ou ideológicas, como medida de 
discriminação e inclusive como punição por participação em greves. 
Trata-se de um dos quatro eixos que compõem estas Convenções, 
entendidas como fundamentais por compreenderem os paradigmas que devem 
nortear os trabalhadores nas relações laborais pela perspectiva de inibir qualquer 
forma de trabalho que não contemple a livre-opção do trabalhador na sua realização. 
 
 
 
35
Em outro eixo, a perspectiva de erradicação do trabalho infantil é 
contemplada em duas Convenções também fundamentais. A Convenção 138, de 
1973, estabelece a idade mínima possível para o trabalho, sendo equivalente à 
idade de conclusão do ensino obrigatório. 
Com o mesmo propósito, a Convenção 132, de 1999, estabelece as “Piores 
Formas de Trabalho Infantil,” defendendo a adoção de medidas que garantam a 
proibição e eliminação das piores formas no emprego de crianças como trabalhadores. 
A não discriminação no trabalho faz parte deste grupo especial e está referida 
nas convenções 100 e 111, aprovadas nos anos de 1950 e 1958 respectivamente. 
A Convenção de número 100 trata da igualdade entre os homens e mulheres 
quando o trabalho é de igual valor. Neste caso, deve-se oferecer a ambos igualdade 
de remuneração. 
A segunda Convenção estabelece mais elementos, aborda a igualdade na 
perspectiva de diferença de raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência 
nacional ou origem social, além da formação profissional, com o propósito de 
igualdade de oportunidades e de tratamento. 
Sabe-se que todos os trabalhadores podem ser atingidos por atos 
discriminatórios, mas determinados grupos, por estarem mais vulneráveis ou por 
questões históricas, são mais suscetíveis a este tipo de situação que acompanha os 
trabalhadores ao longo da História, como lembra Cavalcante: 
 
A chamada questão social, evidenciada no século XIX, representava a 
situação lamentável em que se encontravam os trabalhadores no alvorecer 
da sociedade industrial, sobretudo em razãodos salários insuficientes, das 
condições penosas de trabalho e de moradia, das jornadas extenuantes, 
dos riscos trazidos pelos trabalhos nas máquinas, das seqüelas dos 
acidentes em seguridade social, do desamparo às enfermidades e à 
invalidez, além do abuso aos trabalhos das mulheres e das crianças, que 
eram pagos com salários ainda menores. A reação a todos estes problemas 
vividos pela classe trabalhadora se produziu a partir da tomada de 
consciência acerca da situação (2007, p. 144). 
 
O quarto referencial orienta a associação dos trabalhadores com o propósito 
de defesa de seus direitos. As Convenções 87, de 1948, e 98, de 1949, tratam do 
tema organização dos trabalhadores. 
 
 
 
36
Em ambas, o tema tem enfoque coletivo. Na Convenção 87, que trata da 
Liberdade Sindical e Proteção do Direito de Sindicalização, os trabalhadores têm 
resguardado o direito de criar e associar-se em organizações que entendam sejam 
convenientes aos seus interesses comuns. Estas associações gozam de liberdade 
de atuação sem ingerência do poder público e possibilidade de livre-funcionamento. 
A Convenção 98 refere-se ao Direito de Sindicalização e de Negociação 
Coletiva, criando proteção contra atos de discriminação que venham reduzir a 
liberdade sindical, e estabelece medidas de promoção à negociação coletiva. 
Tratando da Liberdade Sindical e seu impacto na vida dos trabalhadores, 
apresenta Gernigon: 
 
A liberdade sindical outorga aos trabalhadores um meio para expressar as 
suas aspirações, defender os seus interesses, e reforça também, o poder 
de negociação coletiva e, desta maneira, restabelece o equilíbrio entre os 
participantes da negociação coletiva. Assim, a liberdade sindical se 
transforma em uma espécie de fator de saneamento das relações 
trabalhistas, contribuindo, deste modo, para a paz e a justiça social [...] a 
liberdade sindical é uma idéia estritamente ligada aos direitos humanos e à 
democracia. Não é possível imaginar liberdade sindical sem o total respeito 
às liberdades civis (2004, p. 229). 
 
Ainda sobre o tema, mas observando a importância do Direito Coletivo do 
Trabalho, afirma Delgado: “O Direito Coletivo do Trabalho cumpre função social e 
política de grande importância. Ele é um dos mais relevantes instrumentos de 
democratização de poder, no âmbito social, existente nas modernas sociedades 
democráticas […]” (2008, p. 31). Adiante complementa que os trabalhadores no 
Direito Coletivo potencializam sua condição por meio de sua organização associativa 
de caráter profissional – o Sindicato (p. 63). 
A alteração no formato da estrutura sindical é uma medida que atinge todo o 
conjunto de trabalhadores empregados, o que sinaliza a sua importância em relação 
às demais Convenções, pois normalmente um segmento é foco de suas regras. 
Como já referido, estas Convenções são entendidas como fundamentais e 
todos os estados membros têm como orientação a sua recepção, não obstante esta 
situação não tenha se concretizado, como no caso brasileiro, que não recepcionou 
ainda todas as Convenções Fundamentais, especificamente no tema Liberdade 
Sindical.41 
 
41
 Declaração da OIT relativa aos princípios e direitos fundamentais no trabalho, item 2: 
 
 
37
Acerca dos objetivos do estabelecimento de Convenções como fundamentais, 
que as distinguem das demais, cita Valticos (1996, p. 516): 
 
Los citados objetivos se basaban a la vez en una filosofía, una moral y una 
técnica. La filosofía y sobre todo la moral se resumieron en la expresión 
“justiça social” que figuró desde el principio, desde 1919, en la Constitución 
de la OIT. De todos modos, se trataba más ampliamente de una necesidad 
de justicia en general, como señaló el gran teórico da la OIT, el profesor 
francés Georges Scelle, de la primacía del hombre sobre la economía, o 
más bien de que la economía esté al servicio del hombre. 
 
Algumas Convenções também ganharam destaque, apesar de não com a 
definição de fundamentais, mas entendidas como prioritárias. São elas: a 
Convenção 144, de 1976, que trata da tripartição em consultas sobre as normas de 
trabalho; a Convenção 181, de 1947, que versa sobre a inspeção do trabalho, tema 
próximo à Convenção 199, de 1969, que trata do tema inspeção do trabalho na 
agricultura e a 122, de 1964, que aborda a política de emprego. 
Também no conjunto de Convenções prioritárias o Brasil não as recepcionou 
integralmente. A Convenção 129, que trata da Inspeção do Trabalho na Agricultura, 
não está recepcionada no ordenamento brasileiro. 
As demais convenções estão distribuídas em categorias, conforme o tema 
predominante, classificação da própria OIT.42 
Estas duas convenções fazem parte de um grupo de 1743 que não foram 
recepcionadas pelo Brasil. O país não recebeu a convenção número 23, de 1926, 
 
2. Declara que todos os Membros, ainda que não tenham ratificado as convenções aludidas, têm um 
compromisso derivado do fato de pertencer à Organização de respeitar, promover e tornar 
realidade, de boa-fé e de conformidade com a Constituição, os princípios relativos aos direitos 
fundamentais que são objeto dessas convenções, isto é: 
a) a liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; 
b) a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório; 
c) a abolição efetiva do trabalho infantil; e 
d) a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação. 
42
 As categorias, conforme a OIT: Direitos humanos básicos; Emprego; Políticas sociais; 
Administração do trabalho; Relações industriais; Condições de trabalho; Segurança social; 
Emprego de mulheres; Emprego de crianças e jovens; Trabalhadores migrantes; Trabalhadores 
indígenas e Outras categorias especiais. Disponível em: <www.ilo.org>. Acesso em: 29 out. 2013. 
 
 
 
 
 
 
 
38
que trata do Repatriamento dos Marítimos, sendo a primeira Convenção com esta 
condição no ordenamento interno. A última não recepcionada é a 188, de 2007, que 
trata do Trabalho na Pesca. 
A dimensão destas normas na legislação brasileira, seja por sua recepção no 
ordenamento ou os prejuízos pela sua não recepção, devem ser analisadas com a 
perspectiva de verificar-se o impacto no regramento da atividade laboral destes 
trabalhadores. O Brasil, membro da OIT, ratificou 96 Convenções.44 Destas, 15 
foram denunciadas e não estão mais presentes em nosso ordenamento, entretanto, 
conforme supracitado, algumas Convenções que versam sobre temas importantes 
ainda não foram ratificadas pelo Brasil. 
Deste conjunto não recepcionado pelo ordenamento brasileiro, é 
especialmente prejudicial aos trabalhadores a não recepção da convenção 87, que 
 
43
 Convenções não recepcionadas pelo Brasil: 
(Número da convenção, tema afeto e ano de sua aprovação na OIT) 
23 Convenção Relativa ao Repatriamento dos Marítimos 1926 
63 Relativa às Estatísticas dos Salários e das Horas de Trabalho nas principais Indústrias Mineiras e Transformadoras, incluindo a Construção, e na Agricultura 1938 
77 Convenção Relativa ao Exame Médico de Aptidão para o Emprego na Indústria das Crianças e dos Adolescentes 1946 
78 Convenção Relativa ao Exame Médico de Aptidão de Crianças e Adolescentes para o Emprego em Trabalhos não Industriais 1946 
87 Liberdade Sindical e Proteção ao Direito de Sindicalização 1948 
90 Trabalho Noturno de Menores na Indústria (Revisão) 1948 
128 Prestações de Invalidez, Velhice e Sobreviventes 1967 
129 Relativa à Inspecção do Trabalho

Outros materiais