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DA CARACTERIZAÇÃO DO EMPRESÁRIO

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2017	-	01	-	30
Direito	de	Empresa	-	Edição	2016
LIVRO	II	-	DO	DIREITO	DE	EMPRESA
TÍTULO	I	-	DO	EMPRESÁRIO
CAPÍTULO	I.	DA	CARACTERIZAÇÃO	E	DA	INSCRIÇÃO
Capítulo	I.	DA	CARACTERIZAÇÃO	E	DA	INSCRIÇÃO
Art.	 966.	 Considera-se	 empresário	 quem	 exerce	 profissionalmente	 atividade	 econômica
organizada	para	a	produção	ou	a	circulação	de	bens	ou	de	serviços.
Parágrafo	 único.	 Não	 se	 considera	 empresário	 quem	 exerce	 profissão	 intelectual,	 de	 natureza
científica,	 literária	 ou	 artística,	 ainda	 com	 o	 concurso	 de	 auxiliares	 ou	 colaboradores,	 salvo	 se	 o
exercício	da	profissão	constituir	elemento	de	empresa.
COMENTÁRIOS
1.	O	conteúdo	do	Livro	II	da	Parte	Especial
O	direito	de	empresa,	disposto	no	Livro	 II	da	Parte	Especial	do	Código	Civil,	 substitui	 as	bases
anteriores	em	que	se	sustentava	o	direito	comercial,	calcado	no	comerciante	e	nos	atos	de	comércio,
e	 fixa	as	diretrizes	de	um	novo	regime	 jurídico	empresarial.	Nele	estão	as	normas	que	definem	o
empresário	 e	 sua	 qualificação,	 certas	 condições	 para	 o	 exercício	 da	 atividade	 econômica,	 as
estruturas	 com	 que	 se	 pode	 apresentar	 em	 forma	 societária	 etc.	 Ainda	 nesse	 Livro	 encontram-se
regulados	o	estabelecimento	empresarial	e	alguns	institutos	complementares.
Interessante	observar	que	o	direito	de	empresa	é	estruturado	a	partir	da	figura	do	empresário
individual,	embora	essa	figura	isolada	tenha	sido	já	ultrapassada	na	compreensão	das	normas	que
regulam	os	protagonistas	da	atividade	econômica,	porque	do	indivíduo	nossa	legislação	há	muito	já
avançou	 para	 se	 preocupar	 com	 as	 formas	 societárias	 e,	 mais	 recentemente,	 com	 as	 estruturas
criadas	para	atuar	no	mercado	(Introdução,	itens	XV	e	XX).
De	qualquer	forma,	a	matéria	que	é	objeto	do	direito	de	empresa,	como	já	observado	(itens	XVIII
e	 XIX	 supra),	 não	 se	 esgota	 no	 referido	 Livro.	 Há	 inúmeras	 leis	 especiais	 dispondo,	 não	 só	 sobre
outros	 temas	 correlatos	 aos	que	nele	 são	 tratados,	 como	 também	complementares	 às	matérias	 ali
inseridas,	como	é	o	caso	da	Lei	6.404/1976,	que	regula	as	companhias	ou	sociedades	anônimas,	e	a
Lei	 5.764/1971,	 que	 dispõe	 sobre	 as	 cooperativas.	 Outros	 temas	 típicos	 da	 atividade	 empresarial
igualmente	figuram	em	leis	específicas,	como	a	propriedade	industrial,	a	falência	e	a	recuperação	de
empresas	etc.	Levando	em	conta	todas	essas	situações,	o	próprio	Código	Civil	estatuiu	aplicarem-se
aos	empresários	e	sociedades	empresárias	as	disposições	de	 lei	por	ele	não	revogadas	explicita	ou
implicitamente,	 referentes	 a	 comerciantes	 ou	 a	 sociedades	 comerciais,	 bem	 como	 a	 atividades
mercantis	(art.	2.037).
Mesmo	assim,	o	Livro	contém,	ainda,	matéria	que	seria	estranha	ao	direito	de	empresa.	Refiro-
me	à	sociedade	simples	que,	pelo	sistema	adotado,	não	se	subordina,	em	tese,	à	disciplina	do	direito
de	 empresa,	 muito	 embora	 sejam	 suas	 normas	 supletivas	 das	 que	 regulam	 os	 diversos	 tipos	 de
sociedades	 empresárias	 e	 as	 normas	 especiais	 desse	 direito	 àquela	 sociedade	 são	 igualmente
aplicáveis.	A	distinção	entre	sociedade	simples	e	empresária,	do	ponto	de	vista	do	direito	material,
faz-se	 em	 razão	 da	 diversidade	 de	 registros	 que,	 como	 se	 verá	 nos	 comentários	 ao	 art.	 1.150,	 é
resquício	do	regime	jurídico	anterior,	que	bem	poderia	ter	sido	eliminado.
Há	também	a	questão	do	regime	jurídico	da	insolvência,	à	vista	do	que	estabelece,	de	passagem,	o	art.
1.044,	mas	esse	tema	não	diz	respeito	à	matéria	tratada	pelo	Código	Civil.	Sobre	o	assunto,	do	autor,	O
projeto	do	Código	Civil	em	si	e	em	matéria	societária,	Revista	da	Ordem	dos	Advogados	do	Brasil,	n.	73,
p.	13-20.
2.	Designação	controvertida
No	anteprojeto	 encaminhado	à	Câmara	dos	Deputados,	 o	Livro	 relativo	à	matéria	hoje	 tratada
sob	 o	 título	 "Do	 direito	 de	 empresa"	 fora	 encimado	 pela	 designação	 "Da	 atividade	 negocial".	 As
críticas	ao	neologismo	motivaram	inúmeras	emendas	modificativas	e,	ao	cabo,	o	relator	do	projeto
na	Câmara	dos	Deputados,	Deputado	Ernani	Sátyro,	acolhendo	sugestão	de	Miguel	Reale,	promoveu
sua	alteração.
Isso	 não	 significou,	 porém,	 a	 eliminação	 das	 discordâncias,	 eis	 que,	 à	 semelhança	 do	 que	 se
passou	na	Itália	(onde	o	título	da	matéria	no	Código	Civil	de	1942	foi	"Da	empresa	em	geral"),	aqui
também	é	relevada	a	figura	do	empresário	e	não	a	da	empresa.	De	fato,	numa	rápida	análise	do	seu
conteúdo	verifica-se	que,	 sob	a	rubrica	do	direito	de	empresa,	o	Código	Civil	define	o	empresário,
seus	direitos	e	obrigações	(arts.	966	a	980),	as	sociedades	empresárias	e	não	empresárias	(arts.	981	a
1.141),	 cuida	da	 estrutura	utilizada	por	 estes	 entes	para	o	 exercício	da	 atividade	 econômica	 (arts.
1.142	a	1.149)	e	dispõe,	 finalmente,	 sobre	os	 institutos	que	 lhes	 são	complementares	 (arts.	 1.150	a
1.195).
Não	houve	preocupação	de	enunciar	um	conceito	de	empresa.	No	entanto,	em	diversas	passagens
dos	 dispositivos	 que	 o	 compõem,	 há	 referência	 ao	 vocábulo,	 nelas	 destacando-se	 sempre	 o
significado	funcional,	registrado	por	Asquini	(Introdução,	item	XIV),	o	que,	aliás,	pode	ser	também
extraído	 do	 próprio	 conceito	 legal	 de	 empresário	 contido	 no	 art.	 966,	 qual	 seja,	 o	 de	 atividade
organizada	para	a	produção	ou	circulação	de	bens	ou	de	serviços.
Com	esse	sentido,	realmente,	a	palavra	empresa	é	empregada	em	quase	todas	as	referências	contidas
nesse	Livro	(arts.	966,	parágrafo	único,	968,	IV,	974	e	§§,	978,	1.085,	1.142,	1.155,	1.160,	parágrafo	único,
1.172,	1.178,	1.184,	1.187,	II	e	1.188),	exceção	feita	à	empresa	individual	de	responsabilidade	limitada,
erigida	à	qualidade	de	sujeito	de	direito.	Também	com	o	significado	de	sujeito	de	direito	encontram-se
mais	outras	duas	menções	a	empresa	em	outros	dos	Livros	que	compõem	o	Código	Civil:	no	capítulo
referente	à	responsabilidade	civil	(art.	931)	e	no	que	regula	a	hipoteca	(art.	1.504).	E	é	nesse	último
sentido	que	o	vocábulo	foi	empregado	pela	Constituição	Federal	ao	se	referir,	em	várias	passagens,	a
empresa	estatal,	empresa	pública,	microempresa,	empresa	de	pequeno	porte	etc.,	tudo	a	revelar	que
não	há	heresia	na	utilização	do	vocábulo	em	qualquer	dessas	compreensões.
Ou	seja,	o	Código	trata	do	empresário,	para	privilegiar	o	cunho	subjetivo	que	dá	à	matéria,	mas
não	deixa	de	mencionar	a	empresa	em	inúmeros	dispositivos,	embora	não	a	defina.	De	todo	modo,	é
pela	 noção	 de	 empresa,	 como	 atividade	 organizada,	 que	 se	 chega	 à	 de	 empresário.	 Por	 isso,	 "Do
direito	empresarial",	seria	outra	expressão	talvez	mais	condizente	com	o	título	para	identificar	seu
conteúdo.
3.	Conceito	de	empresário
A	antiga	figura	do	comerciante,	que	norteava	as	disposições	de	nosso	velho	Código	Comercial,	é
substituída	pela	do	empresário.	Não	ocorreu	uma	simples	alteração	terminológica,	mas	de	conteúdo
na	definição	do	agente	econômico	(mercador,	comerciante	ou	empresário)	submetido	à	disciplina	do
direito	de	empresa.
Antes,	 o	 que	 se	 tinha	 era	 a	 referência	 a	 uma	 pessoa	 que,	 para	 ser	 enquadrada	 na	 disciplina,
necessitava	 fazer	 da	 mercancia	 sua	 profissão	 habitual	 (CCom,	 art.	 4.º).	 Embora	 vago,	 o	 termo
mercancia	era	interpretado	pela	doutrina	e	jurisprudência	dominantes	a	partir	do	rol	dos	atos	que	o
Regulamento	737/1850,	reputava	nela	compreendidos.	Como	essa	enumeração	era	arbitrária	e	não
possuía	 cunho	 científico,	 grandes	 foram	 as	 dificuldades	 para	 a	 sistematização	 lógica	 do	 direito
comercial,	inclusive	no	que	diz	respeito	ao	seu	suporte	fático,	visto	que	as	concepções	econômicas	de
comércio	 e	 de	 comerciante	não	 coincidiam	 com	a	 casuística	 legal.	Havia,	 então,	 a	 necessidade	de
determinar	a	matéria	compreendida	pelo	direito	comercial	ou	um	conceito	jurídico	de	comerciante
para	daí	definir	o	regime	jurídico	a	ele	aplicável.
Com	o	Código	Civil	de	2002,	o	empresário	passa	a	ser	a	figura	central	do	direito	de	empresa.O
critério	é	 invertido:	antes,	 submetia-se	ao	 regime	especial	do	direito	 comercial	 só	quem	praticava
atos	 que	 a	 lei	 indicava;	 no	 regime	 atual	 a	 regra	 é	 estar	 o	 empresário	 submetido	 ao	 direito	 de
empresa,	salvo	se	a	lei	o	excluir.
O	art.	966	conceitua	o	empresário	na	linha	do	que	estabelece	o	art.	2.082	do	Código	Civil	italiano
de	 1942,	 que,	 em	 tradução	 literal,	 dispõe:	 "É	 empresário	 quem	 exerce	 profissionalmente	 uma
atividade	econômica	organizada	com	o	fim	da	produção	ou	da	troca	de	bens	ou	serviços".
Uma	análise	do	conjunto	das	disposições	do	sistema	italiano	em	confronto	com	o	nosso,	porém,	mostra
que,	diversamente	de	sua	fonte	inspiradora	(CC,	art.	2.195),	o	legislador	nacional	evitou	a	indicação	das
atividades	caracterizadoras	do	empresário	comercial	-	ou,	mais	precisamente,	do	empresário	sujeito	ao
regime	jurídico	do	direito	de	empresa.	Aqui,	basta	enquadrar-se	no	enunciado	legal	de	empresário	(CC,
art.	966)	e	não	figurar	entre	as	exceções	(art.	966,	parágrafo	único,	e	art.	971),	para	sujeitar-se	à
disciplina	do	direito	de	empresa.
Diferentemente	do	comerciante,	que	era	inicialmente	identificado	no	papel	de	intermediário	da
corrente	circulatória	(excluídos	o	primeiro	e	o	último	de	seus	anéis),	o	empresário	vem	conceituado
de	 modo	 mais	 abrangente,	 como	 partícipe	 de	 todo	 o	 fluxo	 da	 circulação	 de	 riquezas,	 desde	 a
produção	até	o	último	dos	atos	em	que	aquela	se	desdobra.
O	simples	exercício	de	uma	atividade	econômica,	porém,	não	basta	para	caracterizá-lo.	É	preciso
que	 tal	 atividade	 seja	 exercida	 com	 habitualidade,	 em	 caráter	 profissional,	 ficando	 afastados	 do
conceito,	 destarte,	 aqueles	 que	 a	 exercem	 por	 amadorismo,	 por	 puro	 diletantismo	 ou	 em	 caráter
eventual.	 O	 empresário	 é	 um	 profissional	 do	mercado	 e,	 portanto,	 um	 perito	 na	 produção	 ou	 na
circulação	de	bens	ou	de	serviços,	que,	por	isso,	almeja	obter	resultados	lucrativos	nesse	desiderato.
A	 finalidade	 lucrativa	 decorre	 do	 caráter	 profissional	 com	 que	 é	 exercida	 a	 atividade	 econômica
(Tullio	Ascarelli,	Corso	di	diritto	commerciale,	p.	189).
Além	do	caráter	profissional,	é	suposta	uma	organização,	a	sugerir	a	existência	de	uma	estrutura
e	de	um	planejamento,	ainda	que	mínimos,	para	o	exercício	da	profissão	de	mercador,	suficientes
para	exteriorizar	a	existência	de	uma	empresa,	como	organização	dos	fatores	de	produção:	trabalho
e	capital	-	a	que	alguns	agregam	a	tecnologia	-,	harmonicamente	reunidos	na	produção	ou	circulação
de	bens	ou	de	serviços.	Essa	organização,	portanto,	é	da	atividade	econômica	para	os	fins	a	que	se
propõe	o	empresário	realizar.
Por	 outro	 lado,	 a	 qualidade	 de	 empresário	 é	 uma	 situação	 de	 fato	 que,	 para	 ser	 reconhecida,
prescinde	 de	 qualquer	 formalidade.	 Revela-se	 pelo	 exercício	 de	 uma	 atividade	 econômica	 nas
condições	descritas	pelo	artigo	sob	exame.
Do	conjunto	das	disposições	do	Código	Civil	verifica-se,	ainda,	que	o	empresário	definido	no	seu
art.	966,	é	a	pessoa	natural	que	faz	do	exercício	da	atividade	econômica	sua	profissão.	Realmente,	as
previsões	 do	 Título	 I,	 do	 direito	 de	 empresa,	 dirigem-se	 ao	 empresário	 individual	ou	 singular.	 Ao
empresário	coletivo,	melhor	dizendo,	à	sociedade	empresária	estão	reservadas	as	regras	contidas	no
Título	 II	 (arts.	 981	 e	 ss.).	 O	 Código	 Civil,	 por	 sinal,	 insiste	 em	 deixar	 clara	 essa	 distinção;	 separa
propositadamente	 as	 figuras	 do	 empresário	 e	 da	 sociedade	 empresária,	 a	 ponto	 de	 se	 referir
meticulosamente	às	duas	nas	normas	que	são	a	ambas	aplicáveis.
O	empresário	é	uma	pessoa	natural	e,	como	tal,	pelos	atos	que	pratica,	oriundos	de	sua	atividade
empresarial	 ou	 não,	 responde	 com	 a	 totalidade	 dos	 bens	 que	 integram	 seu	 patrimônio,	 salvo	 as
restrições	estabelecidas	em	lei	(art.	591	do	CPC/1973;	art.	789	do	CPC/2015).	Equivocado,	por	isso,	o
Enunciado	n.	5	da	I	Jornada	de	Direito	Comercial	ao	dispor	que	"Quanto	às	obrigações	decorrentes
de	sua	atividade,	o	empresário	tipificado	no	art.	966	do	Código	Civil	responderá	primeiramente	com
os	 bens	 vinculados	 à	 exploração	 de	 sua	 atividade	 econômica,	 nos	 termos	 do	 art.	 1.024	 do	 Código
Civil.	É	que	o	patrimônio	do	empresário	é	um	só,	definindo	a	 lei,	 exclusivamente,	 o	que	dele	não
pode	 ser	 subtraído	 para	 responder	 pelas	 obrigações	 que	 contrair,	 como	 o	 bem	 de	 família,	 por
exemplo.	Em	relação	à	figura	do	empresário,	a	lei	não	criou	um	patrimônio	destinado	a	responder
pelas	obrigações	assumidas	no	exercício	de	sua	empresa,	sabendo-se	que	o	art.	1.024	do	Código	Civil
refere-se,	exclusivamente,	à	responsabilidade	de	sócio	por	dívida	de	terceiro,	mais	precisamente,	da
sociedade	de	que	participa.
É	oportuno	esclarecer,	ao	cabo,	que	o	empresário	individual	não	é	figura	em	extinção,	ou	de	reduzido
interesse,	como	alguns	costumam	asseverar.	É	só	relembrar	que,	na	estatística	do	Departamento
Nacional	do	Registro	do	Comércio,	relativa	à	Constituição	de	Empresas	por	Tipo	Jurídico	no	período
compreendido	entre	1985	e	2005,	foram	criadas	mais	empresas	individuais	do	que	sociedades
limitadas.	Do	total	de	8.915.890	empresas	constituídas,	4.569.288	foram	empresas	individuais,	4.300.257
sociedades	limitadas,	20.080	sociedades	anônimas,	21.731	sociedades	cooperativas	e	4.534	referentes	a
outros	tipos	societários	(os	dados	são	da	última	estatística	levantada	pelo	DNRC	por	tipo	jurídico	e	estão
no	sítio	<www.dnrc.gov.br>,	acessado	em	11.09.2012).
4.	Quem	não	é	empresário
Não	 se	 enquadra	 no	 conceito	 de	 empresário,	 segundo	 o	 parágrafo	 único	 do	 art.	 966,	 "quem
exerce	profissão	 intelectual,	 de	natureza	 científica,	 literária	 ou	 artística,	 ainda	 com	o	 concurso	de
auxiliares	ou	colaboradores".
É	importante	esclarecer,	desde	já,	que	essa	previsão,	por	excepcionar	o	caput	do	art.	966,	supõe,
evidentemente,	 o	 exercício	 de	 atividade	 dessa	 natureza	 sob	 forma	 organizada	 e	 em	 caráter
profissional,	 pois	 se	 assim	 não	 fosse,	 não	 precisava	 existir	 ressalva	 alguma.	 Ou	 seja,	 se	 não	 se
verificarem	os	pressupostos	da	atividade	organizada	e	da	atuação	profissional	do	intelectual,	não	há
como	enquadrá-lo	no	art.	966,	o	que	torna	incogitável,	por	isso	e	por	óbvio,	subsumi-lo	ao	respectivo
parágrafo:	por	excluído	já	estar,	a	disposição	excludente	não	o	apanha.
Destarte,	 um	 escritor	 ocasional	 ou	 amador,	 mesmo	 que	 de	 sua	 produção	 intelectual	 faça
profissão,	não	é	empresário	por	não	estar	inserido	no	enunciado	contido	no	caput	art.	966.	Também
o	 escritor	 profissional,	 que	 desenvolve	 sua	 atividade	 intelectual	 de	 modo	 organizado,	 com	 o
concurso	 de	 colaboradores	 e	 com	 estrutura	 para	 produzir	 em	 escala,	 não	 é	 empresário	 porque,
embora	abrangido	pela	referida	regra,	dela	é	excluído	pelo	disposto	no	seu	parágrafo	único.
Em	 primeira	 conclusão,	 portanto,	 não	 é	 empresário	 quem	 exerce	 atividade	 intelectual	 por
qualquer	meio,	organizadamente	ou	não,	sob	forma	empresarial	ou	não,	em	caráter	profissional	ou
não,	qualquer	que	seja	o	volume,	 intensidade	ou	quantidade	de	sua	produção.	Foi	o	que	concluiu,
aliás,	a	Comissão	de	Direito	de	Empresa	na	III	Jornada	promovida	pelo	Conselho	da	Justiça	Federal:
"o	 exercício	 das	 atividades	 de	 natureza	 exclusivamente	 intelectual	 está	 excluído	 do	 conceito	 de
empresa"	(Enunciado	n.	193,	III	Jornada	de	direito	civil,	p.	61).
Firmada	essa	premissa,	verifica-se,	a	 seguir,	que	 também	não	é	empresário	o	rurícola,	 ou	 seja,
quem	faz	da	atividade	rural	sua	profissão,	como	se	extrai,	a	contrário	senso,	da	norma	contida	no
art.	 971,	 que	 prevê	 a	 possibilidade	 de	 sua	 equiparação	 ao	 empresário	 desde	 que	 promova	 sua
inscrição	no	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis	com	a	adoção	de	uma	firma	e	a	indicação	de
capital,	objeto	e	sede	do	seu	negócio.	Não	exercendo	essa	opção,	não	será	empresário	e	não	estará
sujeitoao	regime	jurídico	empresarial.
A	referência	a	empresário	rural	é	inadequada.	Ela	figurou	no	anteprojeto	que,	nesse	ponto,	havia-se
inspirado	na	legislação	italiana,	que	distingue	empresário	sujeito	a	registro	(empresário	comercial)	de
outros	empresários,	dentre	os	quais	o	rural,	para	o	qual	há	tratamento	específico	(CC,	arts.	2.195	e
2.135).	No	Brasil	não	se	tem	essa	distinção.	Todo	empresário	está	sujeito	a	registro	e	às	normas	do
direito	de	empresa,	mesmo	o	pequeno	empresário,	como	será	visto	nos	comentários	ao	art.	970.	Se	o
rurícola	não	está	sujeito	a	registro,	mesmo	atuando	na	forma	descrita	no	caput	do	art.	966,	não	é
empresário	para	os	fins	de	submissão	às	disposições	do	Código	Civil	relativas	aos	empresários.
Ao	optar	pelo	registro,	o	rurícola	(pessoa	natural)	torna-se	empresário	e	se	sujeita	às	disposições
do	 direito	 de	 empresa,	 devendo	 promover	 seu	 registro	 na	 Junta	 Comercial	 do	 Estado-membro	 da
Federação	onde	for	atuar	e	se	submetendo,	por	força	da	Lei	11.101/2005,	ao	regime	jurídico	especial
nela	 previsto,	 em	 caso	 de	 insolvência.	 Trata-se	 do	 empresário	 por	 opção,	 assim	 caracterizado	 ao
promover	 sua	 inscrição,	 com	 observância	 das	 exigências	 legais,	 no	 Registro	 Público	 de	 Empresas
Mercantis	-	inscrição	que,	por	isso,	tem	natureza	constitutiva	da	sua	qualidade	de	empresário.
5.	A	atividade	intelectual	como	elemento	de	empresa
Quem	 só	 tem	 por	 profissão	 o	 agir	 do	 intelecto	 não	 será	 jamais	 considerado	 empresário	 pelo
sistema	do	Código	Civil.	É	bem	verdade	que	há	a	ressalva	da	parte	final	do	parágrafo	único	do	art.
966,	 permitindo	 sua	 inserção	 no	 conceito	 de	 empresário	 "se	 o	 exercício	 da	 profissão	 constituir
elemento	de	empresa".
Essa	 oração	 vem	 causando	 sérias	 dificuldades	 para	 sua	 compreensão.	 Com	 base	 nela	 tem-se
sustentado	que	o	exercício	de	atividade	intelectual	estruturada	e	organizada,	produzida	em	volume
expressivo,	 caracteriza	 a	 pessoa	 que	 a	 exerce	 como	 empresário.	 É	 o	 que	 sustenta,	 por	 exemplo,
Fábio	 Bellote	 Gomes,	 para	 quem	 as	 atividades	 de	 prestação	 de	 serviços	 de	 natureza	 intelectual,
científica,	artística	ou	 literária	"poderão	ser	classificadas	como	atividades	empresariais	na	medida
em	 que	 o	 seu	 titular	 -	 o	 empresário	 -	 efetivamente	 organize	 o	 trabalho	 de	 terceiros,	 numa	 clara
organização	 dos	 meios	 de	 produção,	 que	 nada	 mais	 é	 do	 que	 o	 elemento	 de	 empresa,	 também
chamado	 de	 empresarialidade"	 (Manual	 de	 direito	 comercial,	 p.	 13).	 Já	 Ricardo	 Fiuza,	 em	 outra
variante,	considera	que,	se	a	atividade	intelectual	possuir	natureza	econômica,	estará	caracterizado
o	 elemento	 de	 empresa,	 quando	 assevera	 que	 "se	 o	 exercício	 da	 profissão	 intelectual	 constituir
elemento	 de	 empresa,	 isto	 é,	 estiver	 voltado	 para	 a	 produção	 ou	 a	 circulação	 de	 bens	 e	 serviços,
essas	 atividades	 intelectuais	 enquadram-se	 também	 como	 sendo	 de	 natureza	 econômica,	 ficando
caracterizadas	como	atividades	empresariais"	(Novo	Código	Civil	comentado,	p.	967).
Não	me	parecem	acertadas	essas	opiniões,	com	todo	respeito.	Em	primeiro	lugar,	vale	insistir	que
é	precisamente	da	atividade	intelectual	organizada	com	finalidade	econômica	que	cuida	a	primeira
parte	 do	 enunciado	 do	 parágrafo	 único	 do	 art.	 966	 para	 afastá-la	 do	 conceito	 do	 empresário;	 se
econômica	e	organizada	não	fosse,	já	estaria	excluída	no	próprio	caput.
O	segundo	dado	importante	a	considerar	é	que	se	está	a	tratar	do	empresário	individual	e	não	da
sociedade	 empresária.	 Ao	 rejeitar	 as	 atividades	 intelectuais	 da	 composição	 do	 conceito	 de
empresário,	 a	 norma	 não	 está	 tratando	 de	 sociedade,	 mas	 de	 pessoa	 natural	 que	 as	 exerce.	 A
sociedade,	 independentemente	de	 tamanho,	estrutura	e	organização,	 será	empresária	 sempre	que
tiver	 por	 objeto	 o	 exercício	 de	 atividade	 própria	 de	 empresário	 (art.	 981).	 O	 estar	 a	 sociedade
organizada,	ou	não,	é	uma	situação	de	fato	que	não	tem	como	ser	levada	em	conta	no	momento	de
sua	constituição.
A	 regra	 sob	 análise	 está	 inspirada	na	 do	 art.	 2.238	 do	 Código	 Civil	 italiano,	 que	não	 figura	no
capítulo	relativo	à	empresa.	Toda	matéria	ligada	à	atividade	laboral	está	inserida	no	Livro	V	daquele
Código,	que	trata	"Del	Lavoro"	("Do	Trabalho"),	destinado	a	regular	as	relações	de	trabalho	em	geral.
Por	isso,	além	do	empresário	comercial	(arts.	2.188	e	ss.),	ali	se	encontram	a	empresa	agrícola	e	as
parcerias	(arts.	2.135	e	ss.),	a	representação,	o	trabalho	sob	subordinação	hierárquica	(arts.	2.095	e
ss.;	 2.239	 e	 ss.)	 e	 o	 trabalho	autônomo	 (arts.	 2.222	 e	 ss.).	As	profissões	 intelectuais	 constituem	um
capítulo	do	trabalho	autônomo,	onde	há	uma	série	de	normas	especiais	a	elas	relativas,	dispondo,	de
modo	 detalhado,	 sobre	 a	 atuação	 do	 profissional	 como	 pessoa,	 suas	 relações	 com	 o	 cliente,	 as
condições	de	cumprimento	do	seu	munus,	com	especial	relevância	à	personalidade	do	prestador	do
serviço	intelectual	(arts.	2.229	e	ss.).	Como	qualquer	outro	trabalhador	autônomo,	o	intelectual	não
é,	de	modo	algum,	submetido	ao	regime	jurídico	do	empresário.
Exatamente	 por	 isso,	 por	 não	 ter	 o	 trabalho	 intelectual	 nenhuma	 vinculação	 com	 a	 matéria
tratada	 no	 capítulo	 da	 empresa,	 dispôs	 o	 referido	 Código	 que,	 "se	 o	 exercício	 da	 profissão
(intelectual)	constituir	elemento	de	uma	atividade	organizada	em	forma	de	empresa",	serão	também
aplicáveis	as	normas	a	esta	relativas	(art.	2.238).	Ou	seja,	a	profissão	intelectual,	no	sistema	italiano,
não	tem	qualquer	vinculação	com	a	matéria	relativa	à	empresa;	se	ela	for	exercida	como	parte	de
uma	atividade	empresarial,	continuará	subordinada	às	regras	do	capítulo	que	lhe	é	próprio,	sendo-
lhe	aplicáveis,	então,	complementarmente,	as	disposições	referentes	à	empresa.
Isso	 vem	 confirmado	 pela	 doutrina	 italiana.	 Como	 disse	 Francesco	 Galcano,	 o	 art.	 2.238,	 n.	 1,
"sujeita	 os	 profissionais	 intelectuais	 às	 normas	 que	 dizem	 respeito	 ao	 empresário	 somente	 'se	 o
exercício	da	profissão	constituir	elemento	de	uma	atividade	organizada	sob	forma	de	empresa'.	Em
si	 considerada,	 portanto,	 a	 atividade	 dos	 profissionais	 intelectuais	 não	 é,	 pelo	 nosso	 código	 civil,
atividade	de	empresa"	(Diritto	commerciale	-	Le	società,	n.	1.6,	p.	9).	Em	outra	de	suas	obras,	foi	mais
didático	ainda	para	eliminar	qualquer	dúvida:	 "As	normas	sobre	empresa	não	se	aplicam,	porém,
aos	bens	organizados	pelo	profissional	intelectual	para	o	exercício	da	sua	profissão.	Mesmo	quando
os	escritórios	profissionais	apresentam,	sob	muitos	aspectos,	 semelhanças	com	a	empresa;	mesmo
que,	 na	 prática,	 essas	 semelhanças	 tendam	 a	 se	 acentuar,	 na	 medida	 em	 que	 cresce	 o	 espírito
'mercantil'	 de	 muitos	 profissionais	 intelectuais,	 e	 os	 conceitos	 de	 'aviamento',	 de	 'clientela',	 de
'cessão'	 do	 escritório	 profissional	 e	 de	 'preço	 da	 cessão'	 sejam	 frequentemente	 utilizados	mesmo
nesse	campo,	resta,	porém,	o	fato	de	que	os	profissionais	intelectuais	não	são,	pelo	nosso	código	civil,
empresários	e	que	sua	atividade	profissional	não	é	legislativamente	qualificada	como	atividade	de
empresa"	(Diritto	commerciale	-	L'imprenditore,	n.	1.12,	p.	31).
Nos	textos	transcritos,	Galgano	utiliza	as	expressões	azienda	e	impresa	como	sinônimas;	a	primeira
delas,	aliás,	tem	significado	multívoco	e	é	traduzida	para	o	vernáculo	por	"administração	de
patrimônio,	casa	de	comércio,	indústria,	empresa,	negócio	etc."	(Spinelli	e	Cassanta,	Dizionario
completo	italiano-portoghese	(brasiliano)	e	portoghese	(brasiliano)-italiano,	v.	1,	verbete	azienda,	p.	73).
O	anteprojeto	do	nosso	Código	Civil	tinha	dado	ao	parágrafo	único	do	art.	966	(então	art.	1.027),
redação	 muito	 parecida	 com	 a	 utilizada	 pela	 fonte:	 "salvo	 se	 o	 exercício	 da	 profissão	 constituir
elemento	 de	 atividade	 organizada	 em	 empresa".Ao	 ser	 aprovado	 pela	 Câmara	 dos	 Deputados,
contudo,	 teve	 essa	 frase	 simplificada	 com	 a	 supressão	 das	 palavras	 "atividade	 organizada	 em",
tornando-o,	com	isso,	mais	lacônico.
De	 toda	 maneira,	 ser	 "elemento	 de	 atividade	 organizada	 em	 empresa"	 ou,	 simplesmente,
"elemento	de	empresa"	significa	ser	parcela	dessa	atividade	e	não	a	atividade	em	si,	 isoladamente
considerada.	Evidencia-se,	assim,	que	"a	única	possibilidade	de	enquadrar	a	atividade	intelectual	no
regime	 jurídico	 empresarial	 será	 considerando-a	 como	 parte	 de	 um	 todo	 mais	 amplo	 apto	 a	 se
identificar	 como	 empresa	 -	 ou,	 mais	 precisamente,	 como	 um	 dos	 vários	 'elementos'	 em	 que	 se
decompõe	determinada	empresa".	Esse,	realmente,	"é	o	sentido	a	ser	dado	à	ressalva	(da	ressalva)
contida	no	referido	preceito,	de	tal	sorte	que	a	atividade	intelectual,	de	natureza	científica,	artística
ou	 literária,	 nunca	 poderá	 ser	 tomada	 isoladamente	 para	 identificar	 uma	 atividade	 capaz	 de
subordinar	quem	a	 exerça	 ao	 regime	 jurídico	próprio	do	 empresário.	 É	preciso	que	 ela	 seja	 vista
como	um	elemento,	isto	é,	como	um	componente	do	conjunto	que	identifica	uma	empresa"	(do	autor,
Lições	de	direito	societário,	v.	1,	n.	47,	p.	116-117).
Parece	ter	sido	essa	a	conclusão	da	comissão	do	direito	de	empresa,	quando	assentou:	"A	expressão
'elemento	de	empresa'	demanda	interpretação	econômica,	devendo	ser	analisada	sob	a	égide	da
absorção	da	atividade	intelectual,	de	natureza	científica,	literária	ou	artística,	como	um	dos	fatores	da
organização	empresarial"	(III	Jornada	de	direito	civil,	Enunciado	n.	195,	p.	61).	Para	conciliar	uma
aparente	antinomia	com	o	Enunciado	n.	194	("Os	profissionais	liberais	não	são	considerados
empresários,	salvo	se	a	organização	dos	fatores	de	produção	for	mais	importante	que	a	atividade
pessoal	desenvolvida".),	a	organização	dos	fatores	de	produção	neste	último	indicada	há	de	ser
entendida	como	relativa	a	uma	atividade	econômica	complexa,	na	qual	um	dos	ingredientes	é	o	labor
intelectual.
Sujeita-se	às	disposições	do	direito	de	empresa	e,	portanto,	considera-se	empresário	o	intelectual
que	contribui	com	seu	trabalho	profissional	para	a	feitura	ou	a	circulação	de	um	produto	ou	serviço
diverso	 e	 mais	 complexo	 do	 que	 aquele	 que	 se	 insere	 em	 sua	 habilitação,	 situação	 em	 que	 se
encontram,	 dentre	 outros,	 (i)	 o	 contabilista	 em	 uma	 atividade	 de	 consultoria,	 cujos	 contornos
exigem	auditoria,	marketing	etc.,	(ii)	o	médico	que	agrega	à	prática	da	medicina	um	spa,	onde	ao	seu
paciente	oferece	repouso	e	refeições,	(iii)	o	veterinário	que,	além	do	seu	ofício,	hospeda	animais	na
viagem	de	seus	donos,	(iv)	o	engenheiro	calculista	que	mantém	um	empreendimento	de	construção
civil,	(v)	um	técnico	em	informática	que	agrega	à	sua	atividade	intelectual	a	exploração	comercial	de
softwares	e	assim	por	diante.	Veja-se	que	Sylvio	Marcondes,	depois	de	asseverar	que	as	pessoas	de
profissão	 intelectual	 não	 podem	 ser	 consideradas	 empresárias,	 ressalva	 as	 situações	 em	 que	 se
vestem	de	empresários;	e	cita,	como	"exemplo	bem	claro	a	posição	do	médico,	o	qual,	quando	opera,
ou	 faz	 diagnóstico,	 ou	 dá	 a	 terapêutica,	 está	 prestando	 um	 serviço	 resultante	 da	 sua	 atividade
intelectual,	e	por	isso	não	é	empresário.	Entretanto,	se	ele	organiza	fatores	de	produção,	isto	é,	une
capital,	 trabalho	 de	 outros	 médicos,	 enfermeiros,	 ajudantes	 etc.,	 e	 se	 utiliza	 de	 imóvel	 e
equipamentos	para	a	instalação	de	um	hospital,	então	o	hospital	é	empresa	e	o	dono	ou	titular	desse
hospital,	 seja	 pessoa	 física,	 seja	 pessoa	 jurídica,	 será	 considerado	 empresário,	 porque	 está,
realmente,	 organizando	 os	 fatores	 da	 produção,	 para	 produzir	 serviços"	 (Questões	 de	 direito
mercantil,	p.	11.	Os	grifos	não	estão	no	texto.).	Aí,	por	óbvio,	o	trabalho	do	médico	no	exercício	da
sua	profissão,	passa	a	integrar,	como	um	de	seus	elementos,	a	empresa	"hospital"	-	estrutura	na	qual
a	 prática	 da	 medicina	 vê-se	 agregada	 às	 atividades	 de	 hospedagem,	 aquisição	 e	 venda	 de
medicamentos,	prestação	de	serviços	de	apoio,	locação	de	equipamentos	etc.
Aliás,	a	doutrina	italiana	é	fértil	nos	exemplos	ao	se	referir	a	uma	atividade	organizada	que	se
realiza	 com	 a	 colaboração	 do	 trabalho	 do	 intelectual,	 costumando	 citar	 o	 mesmo	 exemplo,	 do
médico	que	exerce	a	medicina	em	um	hospital,	o	do	engenheiro	que	faz	cálculos	em	uma	empresa
de	construção	civil	e	assim	por	diante	(sobre	o	tema,	Tullio	Ascarelli,	Corso	di	diritto	commerciale,	p.
168-171).
A	matéria	respeitante	à	natureza	da	sociedade	que	é	constituída	para	o	exercício	de	atividade
intelectual	tem	outro	enfoque	e	está	tratada	nos	comentários	ao	art.	982	(n.	95	infra).
Art.	967.	É	obrigatória	a	inscrição	do	empresário	no	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis	da
respectiva	sede,	antes	do	início	de	sua	atividade.
COMENTÁRIOS
6.	A	inscrição	do	empresário
A	inscrição,	de	que	trata	esse	dispositivo,	é	a	espécie	de	registro	que	contém	os	dados	relativos	ao
empresário;	ela	é	exigida	para	o	início	regular	do	exercício	de	uma	atividade	empresária	e	nela	são
anotados,	posteriormente,	os	principais	 fatos	de	 interesse	do	empresário	 inscrito	e	que	devam	ser
conhecidos	 pelas	 pessoas	 que	 com	 ele	 contratam,	 como	 a	 mudança	 de	 sua	 sede,	 a	 alienação	 do
estabelecimento,	a	criação	de	uma	filial,	a	constituição	de	representantes,	a	alteração	do	seu	estado
civil	etc.
O	 empresário	 individual	precisa	 fazê-la	mediante	o	preenchimento	de	uma	declaração	 com	as
exigências	do	art.	968.
A	inscrição	da	sociedade	empresária	sujeita-se	a	outras	normas	e	será	vista	nos	comentários	ao	art.	985.
O	desenvolvimento	histórico,	as	espécies	e	outros	dados	a	respeito	do	registro	de	empresas	mercantis,
estão	nos	comentários	aos	arts.	1.150	e	ss.
No	 sistema	 da	 Lei	 8.934/1994,	 o	 empresário	 individual	 não	 promovia	 nenhuma	 inscrição;
elaborava	 a	 declaração	 de	 sua	 firma	 individual,	 segundo	 os	 parâmetros	 legais	 mínimos
estabelecidos,	 os	 quais,	 uma	 vez	 preenchidos	 (art.	 35	 da	 referida	 Lei),	 conduziam	 ao	 seu
arquivamento	no	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis.
Pelo	 critério	 então	 adotado,	 com	 o	 arquivamento	 da	 declaração	 de	 empresa	 individual
(impropriamente	 chamada	 de	 ato	 constitutivo),	 a	 Junta	 Comercial	 incumbida	 de	 realizar	 o
correspondente	registro	gerava	um	número	de	identificação	desse	novo	empresário	para	localizá-lo
no	sistema	denominado	"Número	de	Identificação	do	Registro	de	Empresas	-	Nire"	(art.	35,	parágrafo
único),	e	organizava	seu	prontuário,	destinado	a	armazenar	todos	os	documentos	a	ele	relativos	(art.
38).
Esse	 procedimento	 interno	 de	 controle,	 enviado	 ao	 Departamento	 Nacional	 do	 Registro	 do
Comércio	 para	 ser	 inserido	 no	 Cadastro	Nacional	 das	 Empresas	Mercantis	 (art.	 4.º,	 IX,	 da	mesma
Lei),	 continua	 vigorando,	 com	 as	 adaptações	 necessárias	 ao	 cumprimento	 das	 disposições
codificadas.	A	declaração	da	 firma	 individual	 é,	 apenas,	 substituída	pela	 inscrição	do	empresário.
Baseada	 nos	 dados	 da	 inscrição,	 a	 Junta	 Comercial	 continuará	 fornecendo	 o	 número	 do	 Nire	 e
repassando	ao	DNRC	os	dados	necessários	para	a	atualização	do	Cadastro	Nacional	das	Empresas
Mercantis.
A	 Instrução	 Normativa	 92/2002,	 do	 Departamento	 Nacional	 do	 Registro	 do	 Comércio,	 na
adaptação	 dos	 registros	 a	 cargo	 das	 Juntas	 Comerciais	 às	 normas	 do	 Código	 Civil,	 substituiu	 a
Declaração	de	Firma	Mercantil	Individual	pelo	Requerimento	de	Empresário	(art.	3.º,	II).
O	modelo	de	requerimento	de	empresário	figurou,	posteriormente,	no	Anexo	da	Instrução	Normativa
DNRC	95/2003	e	a	Instrução	Normativa	DNRC	97/2003	continha	o	Manual	de	Atos	de	Registro	de
Empresário.	Hoje	ambas	estão	contidas	nos	anexos	da	Instrução	Normativa	DREI	10/2013.
7.	Natureza	da	inscrição
A	inscrição	do	empresárioindividual	é,	em	princípio,	um	ato	declaratório,	visto	que	tem	por	fim
dar	 publicidade	 à	 condição	 jurídica	 de	 quem	 exerce	 a	 atividade	 econômica	 reputada	 passível	 de
registro	 perante	 o	 Registro	 Público	 de	 Empresas	Mercantis.	 Incidem	 em	 erro	 palmar	 aqueles	 que
acham	ser	a	inscrição	constitutiva	da	qualidade	de	pessoa	jurídica	do	empresário.	Essa	inscrição	não
cria	 nenhuma	 nova	 figura	 jurídica	 distinta	 da	 pessoa	 natural	 do	 empresário.	 O	 empresário,	 sua
empresa	individual,	a	então	denominada	firma	individual	não	são	nem	em	algum	momento	foram
alçadas	à	condição	de	pessoa	jurídica.	Personalidade	jurídica	é	tema	que	diz	respeito	às	sociedades
em	geral,	como	será	visto	adiante,	nos	comentários	ao	art.	985	(n.	86	infra)	e,	mais	recentemente,	à
empresa	individual	de	responsabilidade	limitada	(n.	57	infra).
Ao	 tratar	do	 tema,	procurei	 esclarecer	o	assunto:	 "Costuma-se	dizer	que	a	 firma	 individual	 é	pessoa
jurídica.	Isso	não	é	verdade,	pois,	segundo	a	concepção	do	ordenamento	pátrio,	pessoa	jurídica	é	um	ente
que	se	comporta	perante	o	direito	como	se	fosse	uma	pessoa	natural;	daí	se	lhe	reconhecer	personalidade.
Ora,	o	comerciante	individual	é	uma	só	pessoa	tanto	em	família	como	na	frente	de	seus	negócios.	Quem
age	 é	 ele	 e	 não	 um	 ente	 por	 ele,	 sujeito	 de	 direitos	 ou	 obrigações	 diversas.	 De	 resto,	 o	 Código	 Civil	 [a
referência	era	ao	Código	Civil	de	1916],	nos	seus	arts.	14	e	16,	enumera	as	pessoas	jurídicas:	as	de	direito
público	 (União,	Estados-membros,	Distrito	Federal	e	Municípios,	 incluídas	as	autarquias)	e	as	de	direito
privado	(sociedades	civis	e	mercantis,	associações	e	fundações)."
"Fosse	o	comerciante	individual	-	se	se	preferir,	a	firma	individual	-	pessoa	jurídica,	ter-se-ia	de	admitir
o	absurdo	de	a	pessoa	natural	do	comerciante	envolver-se	em	relações	 jurídicas	com	sua	própria	 firma
individual.	Por	exemplo:	celebrar,	com	ela,	um	contrato	de	compra	e	venda,	outorgar-lhe	procuração	etc.
"Assim	como	o	profissional	liberal	é	uma	só	e	mesma	pessoa	quando	pratica	atos	de	interesse	pessoal
ou	quando	atua	na	sua	profissão,	também	o	comerciante,	em	casa	ou	em	sua	loja,	não	pode	ser	enfocado
com	dupla	personalidade.
"A	 confusão	 surgiu	 por	 força	 da	 legislação	 tributária	 que,	 para	 melhor	 determinar	 suas	 fontes	 de
receita,	 impôs	 ao	 comerciante	 individual	 um	 critério	 de	 lançamento	 de	 imposto	 semelhante	 àquele
previsto	 para	 as	 pessoas	 jurídicas.	 Apenas	 para	 fins	 fiscais,	 a	 firma	 individual	 foi	 equiparada	 à	 pessoa
jurídica.	O	que	o	legislador	prescreveu,	aí,	foi	o	seguinte:	a	firma	individual,	por	não	ser	pessoa	jurídica,
fica	a	 ela	equiparada	 para	 efeito	de	 sobre	 ela	 incidirem	as	 regras	 específicas	de	 tributação	aplicáveis	 à
pessoa	jurídica.
"Bem	se	vê	que	isso	não	é	tornar	a	firma	individual	uma	pessoa	jurídica	-	vale	dizer,	reconhecê-la	como
um	ente,	diverso	da	pessoa	 física	que	a	exerce,	 capaz	de	direitos	 e	obrigações	próprios	da	vida	 civil.	O
titular	da	firma	individual	é	o	comerciante	que	a	exerce	e	assim	continuará	sendo	considerado	perante	o
direito,	do	mesmo	modo	que	o	titular	de	um	escritório	de	advocacia	é	o	advogado	que	o	movimenta"	(do
autor,	Apontamentos	de	direito	comercial,	n.	69,	p.	174-175).
Com	 a	 criação	 da	 empresa	 individual	 de	 responsabilidade	 limitada	 foi-lhe	 atribuída	 personalidade
jurídica	(CC,	art.	44,	IV)	para	dotá-la	de	patrimônio	próprio,	diverso	do	de	seu	titular.	Essa	nova	figura	não
altera	 as	 considerações	 acima	 expostas,	 feitas	 em	 relação	 ao	 empresário,	 isto	 é,	 à	 pessoa	 natural	 que
exerce	pessoal	e	isoladamente	a	atividade	empresarial.
O	empresário,	como	 já	explicado	nos	comentários	ao	artigo	anterior,	é	empresário	por	exercer
atividade	econômica	organizada,	e	não	por	estar	inscrito.	Exercendo	atividade	econômica	na	forma
descrita	pelo	art.	966,	está	sujeito	à	inscrição.	Essa	inscrição,	mesmo	devendo	anteceder	o	exercício
da	 atividade,	 não	 é	 constitutiva	 da	 qualidade	 de	 empresário.	 Assim,	 se	 alguém	 faz	 sua	 inscrição
perante	 a	 Junta	 Comercial	 como	 empresário	 individual,	 mas	 não	 exerce	 nenhuma	 atividade
econômica,	ou	exerce	atividade	econômica	que	não	é	própria	de	empresário,	não	será	considerado
como	tal.
No	 entanto,	 o	 Código	 Civil	 faculta	 ao	 rurícola	 (empresário	 rural)	 obter	 equiparação	 ao
empresário	 se	 optar	 pela	 sua	 inscrição	no	Registro	 Público	 de	Empresas	Mercantis	 (arts.	 971).	Aí,
sim,	tal	inscrição	será	constitutiva	da	qualidade	de	empresário	porque	se	erige	em	ato	determinante
de	 sua	 sujeição	ao	 regime	 jurídico	do	direito	de	empresa.	A	pessoa	natural	que	explora	atividade
rural	não	se	subordina	a	registro	algum.	Mas,	pode	ter	interesse	na	obtenção	de	registro	para	gozar
das	 prerrogativas	 do	 empresário,	 possuir	 um	 nome	 para	 identificação	 do	 seu	 negócio,	 obter
proteção	 em	 relação	 a	 ele,	 sujeitar-se	 à	 falência	 e	 à	 recuperação	 de	 empresas	 que	 lhe	 conferem
tratamento	 especial	 etc.	 Por	 isso,	 o	Código	Civil	 outorgou-lhe	o	direito,	 antes	 inexistente,	 de	optar
pelo	regime	jurídico	empresarial.
Na	vigência	do	sistema	anterior,	a	doutrina	sempre	foi	categórica	em	afirmar	que	o	"registro	dos
atos	 de	 comércio	 não	 é	 constitutivo	 de	 direitos.	 Assim,	 por	 exemplo,	 a	 inscrição	 de	 uma	 firma
individual,	ou	do	contrato	social,	não	assegura	a	qualidade	de	comerciante	pelo	só	efeito	do	registro"
(Rubens	Requião,	Curso	de	direito	comercial,	 v.	 1,	 n.	 68,	 p.	 109).	 Já	nos	 sistemas	 suíço	 e	 alemão,	 a
inscrição	pode	ser,	em	determinados	casos,	atributiva	da	qualidade	de	empresário	ou	comerciante
(sobre	o	assunto,	ver,	também,	Darcy	Arruda	Miranda	Júnior,	Curso	de	direito	comercial,	n.s	4.3	e	4.4,
p.	107-108).
8.	Distinção	de	figuras	afins
A	inscrição	não	é	a	restauração	da	antiga	matrícula,	prevista	no	art.	4.º	do	Código	Comercial	e,
então,	constitutiva	da	qualidade	de	comerciante,	que	fora	posteriormente	abandonada	e	atualmente
resta	restrita	a	algumas	categorias	de	empresários.	Embora	o	Código	Civil	não	a	mencione,	nem	por
isso	 foi	 abolida.	 Ela	 persiste	 no	 sistema	 da	 Lei	 8.934/1994,	 porém,	 sem	 aplicação	 geral,	 reservada
exclusivamente	 para	 leiloeiros,	 tradutores	 públicos	 e	 intérpretes	 comerciais,	 trapicheiros	 e
administradores	de	armazéns	gerais	 (art.	32,	 I).	A	matrícula	é,	portanto,	outra	espécie	de	registro,
próprio	e	exclusivo	das	categorias	acima	indicadas.
Também	não	é	a	inscrição	um	ato	de	arquivamento.	O	arquivamento	consiste	no	armazenamento
de	documentos	no	órgão	registrador,	para	fins	probatórios,	ao	passo	que	a	inscrição	é	um	termo	de
abertura	 do	 registro	 do	 empresário.	 O	 Requerimento	 do	 Empresário,	 de	 que	 trata	 a	 Instrução
Normativa	95/2003,	do	DNRC,	é	arquivado	na	Junta	Comercial.	A	inscrição	corresponde	ao	cadastro
do	empresário,	feito	a	partir	daquele	documento.
Fatos	 posteriores	 à	 inscrição	 são	 objeto	 de	 averbação	 à	 sua	 margem,	 isto	 é,	 de	 anotação	 no
cadastro,	 ficando	 os	 documentos	 que	 os	 motivarem	 arquivados	 na	 repartição	 responsável	 pela
prestação	desse	serviço	(no	caso,	a	Junta	Comercial	onde	inscrito	o	empresário).
As	distinções	entre	os	diversos	atos	compreendidos	no	registro	de	empresas	mercantis	(inscrição,
matrícula,	averbação,	arquivamento,	autenticação	e	assentamentos)	são	feitas	mais	adiante,	nos
comentários	ao	art.	1.151.
9.	Ausência	de	inscrição
A	inscrição	do	empresário	no	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis,	consoante	o	enunciado	do
art.	 967,	 é	 obrigatória.	 Isso	 significa	 que	 o	 empresário	 não	 pode	 exercer	 sua	 empresa	 sem	 estar
inscrito	no	registro	que	lhe	é	próprio,	a	cargo	da	Junta	Comercial	do	local	de	sua	sede.
Se	 descumprir	 essa	 obrigação,	 não	 deixa	 de	 ser	 empresário,	 porquanto	 "a	 inscrição	 do
empresário	 ou	 sociedade	 empresária	 é	 requisito	 delineador	 de	 sua	 regularidade,	 enão	 de	 sua
caracterização"	(Enunciado	n.	199	da	Comissão	de	Direito	de	Empresa,	III	Jornada	de	Direito	Civil,	p.
62).	No	entanto,	não	promovendo	sua	inscrição,	sujeita-se	a	responder	por	perdas	e	danos	perante
eventuais	prejudicados,	consoante	o	estatuído	no	art.	1.151,	§	3.º,	do	Código	Civil,	que	será	objeto	de
análise	mais	adiante	(n.	677	infra).
Mas	não	é	 só	essa	a	 sanção,	visto	que	o	empresário	não	 inscrito	perante	o	Registro	Público	de
Empresas	Mercantis	jamais	conseguirá	exercer	regularmente	sua	atividade.	De	fato,	sem	inscrição,
não	 tem,	 sequer,	 condições	de	obter	 sua	 inscrição	no	 cadastro	nacional	de	pessoas	 jurídicas,	nem
junto	às	diversas	entidades	fiscais	para	o	recolhimento	dos	tributos	que	incidem	sobre	sua	atividade.
Terá	de	praticar	seu	ofício	sem	notas	fiscais,	sem	abrir	conta	bancária	para	sua	empresa	e	assim	por
diante.
Além	disso,	 fica	exposto	o	empresário	a	uma	série	de	outras	 sanções	 indiretas,	 como	a	de	não
poder	autenticar	seus	livros	(CC,	art.	1.181),	a	de	nada	lhe	ser	dado	provar	com	sua	escrituração	(CC,
art.	226),	a	de	não	poder	requerer	a	falência	de	outro	empresário	seu	devedor	(Lei	11.101/2005,	art.
97,	§	1.º)	 e	a	de	 lhe	 ser	vedada	a	 recuperação	empresarial,	 judicial	ou	extrajudicial,	 se	estiver	em
estado	de	insolvência	(arts.	48,	51,	V,	e	70,	§	1.º,	e	161	da	mesma	Lei).	Em	se	tratando	de	sociedade
empresária,	como	se	verá	no	momento	próprio,	os	sócios	não	gozam	dos	benefícios	relativos	ao	tipo
escolhido	(CC,	art.	986)	e	os	respectivos	dirigentes	podem	ser	responsabilizados	por	omissão	perante
os	sócios	ou	acionistas	(CC,	art.	1.016;	Lei	6.404/1976,	art.	158,	§	2.º).
Art.	968.	A	inscrição	do	empresário	far-se-á	mediante	requerimento	que	contenha:
I	-	o	seu	nome,	nacionalidade,	domicílio,	estado	civil	e,	se	casado,	o	regime	de	bens;
II	-	a	firma,	com	a	respectiva	assinatura	autógrafa;
III	-	o	capital;
IV	-	o	objeto	e	a	sede	da	empresa.
§	 1.º	 Com	as	 indicações	 estabelecidas	neste	 artigo,	 a	 inscrição	 será	 tomada	por	 termo	no	 livro
próprio	do	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis,	e	obedecerá	a	número	de	ordem	contínuo	para
todos	os	empresários	inscritos.
§	 2.º	 À	 margem	 da	 inscrição,	 e	 com	 as	 mesmas	 formalidades,	 serão	 averbadas	 quaisquer
modificações	nela	ocorrentes.
§	3.º	Caso	venha	a	admitir	sócios,	o	empresário	individual	poderá	solicitar	ao	Registro	Público	de
Empresas	 Mercantis	 a	 transformação	 de	 seu	 registro	 de	 empresário	 para	 registro	 de	 sociedade
empresária,	observado,	no	que	couber,	o	disposto	nos	arts.	1.113	a	1.115	deste	Código.
COMENTÁRIOS
10.	Conteúdo	da	inscrição
A	 inscrição	 é	 o	 cadastro	 no	 qual	 figuram	 os	 principais	 dados	 relativos	 ao	 empresário,	 como
discriminados	na	norma.	Ela	é	feita	no	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis,	a	cargo	das	Juntas
Comerciais.	Na	harmonização	das	disposições	relativas	ao	registro,	previstas	no	Código	Civil	e	na	Lei
8.934/1994,	 o	Departamento	Nacional	do	Registro	do	Comércio,	pela	 Instrução	Normativa	97/2003,
aprovou	o	Manual	de	Atos	de	Registro	do	Empresário	(individual).
Foi	 suprimida	 a	 declaração	 de	 firma	 individual,	 onde	 os	 dados	 previstos	 neste	 artigo	 eram
informados	e	arquivados	na	Junta	Comercial.	Agora,	é	exigido	o	preenchimento	de	um	formulário
contendo	tais	exigências	legais	e	outros	dados	complementares,	de	que	necessitam	ter	informação	as
Juntas	Comerciais.
Assim,	para	obter	sua	 inscrição	no	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis,	deve	o	empresário
requerê-la	no	formulário	impresso,	indicando:
a)	 seus	 dados	 de	 identificação	 pessoal	 (nome,	 sexo,	 inscrição	 no	 cadastro	 de	 pessoas	 físicas,
nacionalidade,	estado	civil	e,	se	casado,	o	regime	de	bens);
b)	 o	 nome	 empresarial,	 isto	 é,	 o	 nome	 que	 irá	 utilizar	 no	 negócio	 para	 se	 identificar	 e	 se
distinguir	de	outros	empresários	(a	firma	individual,	com	sua	assinatura	de	próprio	punho,	cf.	n.	692
infra);
c)	 o	 capital	 afetado	 ao	 empreendimento,	 constituído	 pela	 somatória	 do	 valor	 em	 dinheiro	 do
patrimônio	que	irá	destinar	à	empresa,	composto	dos	bens	e	direitos	necessários	ou	úteis	para	o	seu
desenvolvimento;
d)	o	ramo	da	atividade	econômica	a	que	se	irá	dedicar	e	que	se	traduz	no	objeto	de	sua	empresa,
de	modo	preciso	e	completo	(Lei	8.934/1994,	art.	35,	III;	Decreto	1.800/1996,	art.	53,	III,	b);
e)	o	endereço	onde	irá	exercer	sua	atividade	e	implantar	seu	estabelecimento	empresarial,	mais
precisamente	a	sede	de	sua	empresa;
f)	 uma	 declaração	 de	 desimpedimento	 para	 exercer	 atividade	 empresária	 (art.	 972)	 e	 de	 não
possuir	outra	inscrição	de	empresário.
Não	 é	 prevista	 a	 anexação	 de	 comprovantes,	 nem	 mesmo	 do	 estado	 civil	 do	 declarante,	 na
suposição	de	que	não	está	a	prestar	uma	declaração	falsa,	embora	possa	ser	exigida	a	apresentação
para	conferência.
No	entanto,	há	documentos	que,	em	certas	situações,	devem	instruir	o	requerimento,	por	impor	a
lei	seu	arquivamento	e	averbação	à	margem	da	inscrição.	Dentre	estes,	encontram-se	o	da	prova	da
emancipação	do	menor	ou	o	da	autorização	para	o	 incapaz	exercer	a	atividade	empresarial	 (arts.
976	 e	 974),	 bem	 como	 os	 pactos	 e	 declarações	 antenupciais	 do	 empresário,	 o	 título	 de	 doação,
herança,	ou	legado,	de	bens	clausulados	de	incomunicabilidade	ou	inalienabilidade	(art.	979).
A	 indicação	 do	 capital	 nesse	 formulário	 tem	 a	 função	 de	 proporcionar	 aos	 interessados	 a
dimensão	do	empreendimento;	é,	na	expressão	de	Mario	Cozza,	um	dado	"meramente	referencial,
servindo	apenas	para	que	seja	corretamente	aquilatado	o	potencial	econômico	de	seus	negócios	por
aqueles	que	lhe	concederem	créditos"	(Novo	código	civil	do	direito	de	empresa,	n.	15,	p.	22).	É	que,
para	 fins	 de	 responsabilização	 pessoal,	 responde	 o	 empresário	 com	 todo	 o	 seu	 patrimônio,	 sem
qualquer	distinção	entre	aquele	afetado	ao	exercício	de	sua	atividade	profissional	e	o	que	reserva
para	 seu	 desfrute	 pessoal,	 ressalvadas	 as	 exclusões	 legais	 (como	 os	 bens	 absolutamente
impenhoráveis),	pouco	importando	as	fontes	de	suas	obrigações.
O	 rol	 do	 art.	 968	 não	 deve	 ser	 considerado	 exaustivo,	 sendo	 permitido	 ao	 empresário	 que
acrescente	 outros	 dados	 que	 considerar	 relevantes	 para	 sua	 empresa.	 A	 falta	 de	 espaço	 no
formulário	 pode	 dificultar	 outras	 menções,	 mas	 o	 órgão	 registrador	 não	 pode	 impedir	 tais
acréscimos,	contanto	que	digam	respeito	à	atividade	a	ser	desenvolvida.	É	o	que	se	dá,	v.g.,	com	o
título	do	estabelecimento	de	que	 se	 irá	utilizar	para	 identificar	 sua	 loja,	que	pode	 ser	 inserido	ao
lado	 do	 nome	 empresarial,	 com	 a	 finalidade	 de	 constituir	 prova	 futura	 da	 anterioridade	 de	 sua
adoção	(n.	686	infra).
Se	ao	empresário	é	facultado	ampliar	a	lista	de	documentos	suscetíveis	de	averbação,	os	órgãos
registradores,	por	força	do	que	dispõe	o	art.	7.º	da	Lei	11.598/2007	(que	fixou	diretrizes	e
procedimentos	para	a	simplificação	e	integração	do	processo	de	registro	e	legalização	de	empresários	e
criou	o	Redesim),	são	proibidos	de	instituir	"qualquer	tipo	de	exigência	de	natureza	documental	ou
formal,	restritiva	ou	condicionante,	que	exceda	o	estrito	limite	dos	requisitos	pertinentes	à	essência	de
tais	atos",	nomeadamente,	no	que	se	relaciona	com	o	tema	ora	versado,	"quaisquer	documentos
adicionais	aos	requeridos	pelos	órgãos	executores	do	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis	e
Atividades	Afins	e	do	Registro	Civil	de	Pessoas	Jurídicas,	excetuados	os	casos	de	autorização	legal
prévia"	(inc.	I).
11.	Termo	no	livro	próprio
Diz	o	§	1.º	do	art.	968	que	a	inscrição	do	empresário	será	reduzida	a	termo	no	livro	próprio	do
Registro	Público	de	Empresas	Mercantis.	Não	se	deve	tomar	a	determinação	em	seu	sentido	literal.
Livros	não	são	mais	utilizados	para	controle	dessa	natureza	pela	dificuldade	de	comportarem	todos
os	atos	que	ali	devem	ser	anotados.	Já	faz	bastante	tempo	queos	livros	foram	substituídos	por	folhas
numeradas,	 suscetíveis	 de	 receber	 anexos	 ou	 alongues.	 Em	verdade,	 o	 que	 se	 extrai	 da	 regra	 é	 a
exigência	de	que	as	Juntas	Comerciais	mantenham	um	cadastro	das	inscrições	sob	severo	controle.
Foi	essa	interpretação,	aliás,	que	o	Departamento	Nacional	do	Comércio	deu	à	regra,	adequando
tal	 previsão	 ao	 que	 já	 era	 praticado	 no	 sistema	 anterior.	 O	 requerimento	 de	 inscrição	 (capa)	 é
acompanhado	de	um	formulário	padrão	com	os	dados	exigidos	pela	lei	e	com	base	neles	é	aberta	a
inscrição	 no	 cadastro	 próprio	 que	 as	 Juntas	 Comerciais	 possuem	 para	 tal	 fim.	 O	 documento	 de
inscrição,	que	se	materializa	no	próprio	formulário	preenchido	pelo	requerente,	recebe,	assim,	uma
numeração	sequencial	 -	o	mesmo	Nire	 "Número	de	 Identificação	do	Registro	de	Empresas"	 criado
pela	Lei	 8.934/1994	 (art.	 35,	 parágrafo	único),	 com	o	qual	 a	 Junta	Comercial	 organiza	 seu	 sistema
interno	 de	 controle	 e	 o	 repassa	 ao	 DNRC	 para	 alimentar	 o	 Cadastro	 Nacional	 das	 Empresas
Mercantis.
Embora	a	norma	refira-se	à	numeração	em	ordem	contínua	para	todos	os	empresários	inscritos,
o	Nire	estende-se,	também,	às	sociedades	empresárias	e	às	cooperativas.
12.	Averbações	à	margem	da	inscrição
A	 inscrição	 é	 destinada	 a	 resumir	 a	 vida	 do	 empresário	 e,	 com	 isso,	 precisa	 retratar	 sua
realidade.	 Se	 há	 requisito	 a	 ser	 observado	 para	 a	 inscrição,	 como	 a	 emancipação	 do	menor	 ou	 a
autorização	 para	 o	 incapaz	 exercer	 atividade	 empresária,	 o	 comprovante	 próprio	 deve	 ser
arquivado	 no	 Registro	 Público	 de	 Empresas	Mercantis	 e,	 desde	 logo,	 averbado	 junto	 à	 respectiva
inscrição.
Feita	 a	 inscrição,	 podem	 surgir	 mutações,	 como,	 v.g.,	 a	 criação	 de	 filial	 (art.	 969),	 eventual
revogação	 da	 autorização	 (art.	 976),	 uma	 separação	 judicial	 (art.	 980),	 a	 alienação	 do
estabelecimento	 empresarial	 (art.	 1.144)	 etc.	 Esses	 fatos	 também	 devem	 ser	 levados	 à	 averbação
para	 que	 a	 inscrição	 mantenha	 sempre	 os	 dados	 atualizados	 e	 para	 que	 possam	 ser	 opostos	 a
terceiros	interessados.
Por	 outro	 lado,	 o	 próprio	 empresário	 pode	 mudar	 o	 ramo	 de	 sua	 atividade,	 aportar	 mais
patrimônio	para	o	empreendimento	ou	transferir	seu	negócio	para	outro	local.	Em	qualquer	dessas
hipóteses,	 terá	 de	 prestar	 nova	 declaração,	 indicando	 o	 novo	 objeto,	 o	 novo	 capital	 ou	 o	 novo
endereço	 de	 sua	 empresa.	 Tal	 declaração	 deve	 ser	 levada	 a	 arquivamento	 na	 Junta	 Comercial	 e
averbada	à	margem	de	sua	inscrição.
Se	 o	 empresário	 mudar-se	 para	 outro	 Estado-membro	 da	 Federação,	 deve	 fazer	 uma	 nova
inscrição	 perante	 a	 Junta	 Comercial	 daquele	 Estado	 e	 proceder	 ao	 cancelamento	 da	 inscrição
anterior.	Abrindo	filial,	procede	na	forma	do	art.	969.
13.	Convolação	da	figura	do	empresário	para	a	de	sociedade	empresária
O	empresário	que	exerce	regularmente	sua	atividade	pode	optar	pela	constituição	de	sociedade
empresária	para	 com	ela	prosseguir,	 bastando	que	angarie	 sócios.	 Isso	ocorrendo,	 é-lhe	 facultado
pedir	 ao	 Registro	 Público	 de	 Empresas	 Mercantis,	 onde	 estiver	 inscrito,	 a	 substituição	 de	 sua
inscrição	 de	 empresário	 pela	 de	 sociedade	 empresária,	 dispensadas	 outras	 formalidades	 (CC,	 art.
968,	§	3.º).
Trata-se	 da	 previsão	 criada	 pelo	 art.	 10,	 da	 Lei	 Complementar	 128/2008,	 com	 o	 propósito	 de
simplificar	as	exigências	de	registração.	Nela	se	lê	"transformação	do	registro",	sendo	determinada	a
observância	 dos	 arts.	 1.113	 a	 1.115	 do	 Código	 Civil	 para	 sua	 obtenção.	 No	 entanto,	 não	 há,	 aí,
minimamente,	uma	operação	de	transformação.	A	transformação,	de	que	cuidam	referidos	preceitos
legais,	 diz	 respeito	 a	 tipo	 societário	 e	 não	 a	 registro;	 e,	 no	 caso,	 está-se	 diante	 de	 empresário
individual	e	não	de	 sociedade.	Tecnicamente,	 como	sabido,	 transformação	é	a	operação	pela	qual
uma	sociedade	muda	de	um	tipo	para	outro	sem	dissolução	ou	liquidação;	nela	não	há	mudança	de
ente	nem	sucessão,	como	no	caso	ocorre.
Em	 verdade,	 o	 que	 vem	 regulado	 no	 preceito	 sob	 exame	 é	 a	 possibilidade	 de	 substituição	 de
registros	 sem	 necessidade	 de	 atendimento	 das	 formalidades	 que	 seriam	 exigidas	 para	 o
cancelamento	 da	 inscrição	 (registro)	 do	 empresário	 e	 para	 a	 obtenção	 da	 inscrição	 (registro)	 da
sociedade,	quando	esta	é	constituída	pelo	empresário	e	por	terceiros	com	o	propósito	de	manter	a
atividade	econômica	organizada	que	aquele	antes	exercia	individualmente.
Não	se	dá	a	manutenção	do	mesmo	registro	porque	são	distintas	as	pessoas	do	empresário	e	da
sociedade	empresária,	assim	como	as	respectivas	inscrições,	variando,	inclusive,	a	numeração	do	NIRE
em	relação	a	cada	qual.	É	possível,	no	entanto,	que	seja	preservado	o	mesmo	número	do	CNPJ,	uma	vez
que,	perante	o	órgão	expedidor,	sociedade	e	empresa	individual	(esta	por	equiparação)	são	tratadas
como	pessoas	jurídicas	(sobre	o	tema,	ver	nota	de	texto	do	n.	7	supra).
As	normas	a	observar	são,	portanto,	as	relativas	à	constituição	da	sociedade	empresária	por	essas
pessoas	assim	constituída	-	ou	seja,	celebrada	entre	o	empresário	e	terceiros,	para	a	qual	o	primeiro
aporta	o	conjunto	de	bens	e	direitos	que	identificavam	sua	empresa,	contribuindo	os	outros	com	os
bens	ou	serviços	que	se	obrigaram	a	prestar	para	a	formação	do	capital	social	(CC,	art.	981).
As	 disposições	 atinentes	 à	 transformação,	 a	 que	 se	 reporta	 a	 norma,	 senão	 redundantes,	 são
incompatíveis	com	a	situação	por	ela	contemplada.	De	fato,	o	empresário	individual	não	se	dissolve
nem	se	 liquida,	sabendo-se	que	a	empresa	 individual	por	ele	desenvolvida	 integra	seu	patrimônio
pessoal,	de	modo	que	a	regra	do	art.	1.113	do	Código	Civil	não	tem	como	ser	a	ele	dirigida,	senão	na
sua	segunda	parte,	que	determina	sejam	observadas	as	normas	de	constituição	e	inscrição	próprias
do	 tipo	 societário	 a	 ser	 constituído.	 Na	 formação	 da	 sociedade,	 por	 outro	 lado,	 é	 indispensável	 o
consentimento	 de	 todos	 os	 futuros	 sócios,	 não	 possuindo	 qualquer	 utilidade	 para	 a	 operação	 o
conteúdo	do	art.	1.114,	muito	menos	na	parte	em	que	faculta	ajuste	capaz	de	afastar	o	consenso	de
todos.	Já	o	art.	1.115,	que	dispõe	sobre	os	direitos	dos	credores,	não	tem	como	ser	aplicado	ao	caso,
porquanto	os	credores	de	sócio,	anteriores	à	constituição	de	qualquer	sociedade,	seja	ela	constituída,
ou	não,	 com	o	aproveitamento	de	bens	e	direitos	antes	afetados	à	atividade	empresarial	 exercida
sob	 forma	 individual,	 continuam	com	os	mesmos	direitos	que	antes	de	 sua	 criação	possuíam.	E	o
parágrafo	 único	 desse	 dispositivo	 legal	 supõe	 a	 existência	 de	 sociedade	 anterior,	 inexistente	 na
operação	objeto	destes	comentários.
Nos	comentários	ao	art.	1.113,	o	tema	é	abordado	entre	as	situações	em	que	não	há	transformação	(n.
534	infra).
Ver	a	Instrução	Normativa	DNRC	118/2011,	que	regulamentou	o	procedimento	para	a	operação	de	que
trata	o	parágrafo	único	do	art.	968.
É	possível,	também,	segundo	penso,	que	o	empresário	faça-se	substituir	no	seu	negócio	por	uma
empresa	 individual	 de	 responsabilidade	 limitada,	 por	 aplicação	 analógica	 da	 norma	 contida	 no
preceito	sob	análise,	visto	que	as	situações	são	idênticas	do	ponto	de	vista	da	troca	de	titularidade	do
empreendimento.	Trata-se,	tão	só	de	alterar	o	protagonista	da	atividade,	que	antes	era	o	empresário,
por	 uma	pessoa	 jurídica	 apta	 a	 exercê-la	 e,	 portanto,	 a	 dar	 continuidade	 ao	 seu	negócio.	 Como	 a
EIRELI	 foi	 introduzida	 no	 direito	 brasileiro	 pela	 Lei	 12.441/2011,	 que	 é	 posterior	 ao	 preceito	 sob
comento,	 tal	 fato	não	se	mostra	suficiente	para	excluí-la	da	opção	de	que	se	cuida	aqui	 (ver	n.	55
infra).
Por	 aplicação	 analógica	 deste	mesmo	 preceito	 sob	 comentário,	 há	 possibilidade	 de	 a	 empresa
individual	de	responsabilidadelimitada	assumir	as	vestes	de	uma	sociedade	empresária	aliando-se
a	outra	ou	a	um	ou	mais	futuros	sócios,	pessoas	naturais	ou	jurídicas.	A	diferença	está	em	que,	nessa
hipótese,	a	EIRELI	 (ou	mais	de	uma)	envolvida	extingue-se	 sem	dissolução	e	 liquidação,	passando
seu	titular	a	figurar	como	sócio	da	sociedade	assim	constituída	(n.	67	infra).
Art.	969.	O	empresário	que	 instituir	sucursal,	 filial	ou	agência,	em	 lugar	sujeito	à	 jurisdição	de
outro	Registro	 Público	 de	 Empresas	Mercantis,	 neste	 deverá	 também	 inscrevê-la,	 com	a	 prova	da
inscrição	originária.
Parágrafo	 único.	 Em	 qualquer	 caso,	 a	 constituição	 do	 estabelecimento	 secundário	 deverá	 ser
averbada	no	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis	da	respectiva	sede.
COMENTÁRIOS
14.	Abertura	de	novos	estabelecimentos	do	empresário
Do	ponto	de	vista	 legal,	 sucursal,	 filial	e	agência	são	expressões	sinônimas.	A	doutrina	não	 faz
distinção	entre	as	figuras,	por	inexistir	conceito	preciso	(Hernani	Estrella,	Curso	de	direito	comercial,
n.	 125,	 p.	 255),	 apesar	 de	 "a	 intuição	 do	 comércio"	 estar	 "acentuando	 a	 maior	 importância	 da
sucursal	 sobre	 a	 filial"	 (Rubens	 Requião,	 Curso	 de	 direito	 comercial,	 25.	 ed.,	 v.	 1,	 n.	 159,	 p.	 277);
devem	ser	tomadas	no	sentido	de	estabelecimentos	secundários	do	empresário,	como	o	esclarece	o
parágrafo	único	do	artigo	sob	análise	(sobre	o	conceito	de	estabelecimento,	sua	natureza	e	espécies,
ver	adiante	os	comentários	aos	arts.	1.142	e	1.143).
Pontes	de	Miranda,	com	base	na	doutrina	estrangeira	e	tendo	em	conta	as	normas	que	dispunham
sobre	a	criação	de	filiais,	sucursais	ou	agências	de	sociedades	estrangeiras	no	Brasil,	sustentava	que	a
filial	gozava	de	autonomia	em	relação	à	denominada	sociedade-mãe,	podendo	alçar-se	à	condição	de
pessoa	jurídica	distinta,	nisso	diferenciando-se	da	sucursal	e	da	agência,	que	seriam	dependências	da
firma	individual	ou	da	sociedade	que	as	criasse	(Tratado	de	direito	privado.	t.	L,	§	5.310,	p.	272	e	ss.)	No
entanto,	para	os	propósitos	do	dispositivo	em	análise	essa	distinção	não	se	verifica.
Para	a	identificação	de	uma	filial	(sucursal	ou	agência),	contudo,	é	preciso	que	haja	um	mínimo
de	autonomia	para	o	exercício	da	atividade	empresária,	a	ponto	de	nela	poder	ser	identificado	um
estabelecimento	(um	conjunto	de	bens	predispostos	ao	exercício	da	atividade	empresarial	por	essa
unidade).	 Um	 escritório	 de	 representação	 que	 não	 exerça	 a	 atividade	 empresária	 nem	mantenha
fluxo	de	 clientela	não	caracteriza	um	estabelecimento	 secundário	e,	por	 isso,	não	 se	enquadra	na
determinação	legal.
Para	os	propósitos	do	artigo	em	análise	a	sede,	declarada	pelo	empresário	no	ato	de	inscrição	de
sua	 empresa	 individual,	 é	 o	 estabelecimento	 principal.	 As	 unidades	 que	 forem	 posteriormente
constituídas	serão	seus	estabelecimentos	secundários.
Nem	 sempre,	 porém,	 a	 sede	 da	 empresa	 é	 tida	 como	 principal	 estabelecimento.	 A	 doutrina,
quando	 trata	 do	 vocábulo	 "sede"	 na	 perspectiva	 do	 foro	 para	 a	 decretação	 da	 falência	 do
empresário,	 insiste	em	afirmar,	com	toda	razão,	que	é	com	base	na	análise	de	cada	caso	concreto
que	se	define	o	principal	estabelecimento	do	devedor.	Para	tanto,	deve-se	reputar	como	tal	aquele
no	 qual	 o	 empresário	 centraliza	 os	 seus	 negócios,	mesmo	 que	 não	 o	 tenha	 indicado	 na	 inscrição
como	sendo	a	sede	de	sua	empresa.
O	 critério	 legal	 para	 se	 determinar	 o	 principal	 estabelecimento	 do	 empresário	 -	 como	 ensina
Rubens	 Requião	 -	 "não	 leva	 em	 conta	 a	 dimensão	 física	 dos	 seus	 diversos	 estabelecimentos.
Conceitua-se	o	principal	estabelecimento	tendo	em	vista	aquele	em	que	se	situa	a	chefia	da	empresa,
onde	efetivamente	atua	o	empresário	no	governo	ou	no	comando	de	seus	negócios,	de	onde	emanam
as	 suas	ordens	e	 instruções,	 em	que	 se	procedem	as	operações	 comerciais	 e	 financeiras	de	maior
vulto	e	em	massa.	Nesse	estabelecimento,	por	ser	o	centro	das	decisões	da	empresa,	contabilizam-se
as	suas	contas	e,	por	isso,	aí	se	encontram	os	livros	comerciais,	sobretudo	os	livros	obrigatórios	e	os
livros	 fiscais"	 (Curso	 de	 direito	 comercial,	 25.	 ed.,	 v.	 1,	 n.	 159,	 p.	 277).	 Haverá	 sempre	 um	 único
estabelecimento	principal,	sendo	os	demais	identificados,	por	exclusão,	como	secundários.
15.	O	registro	da	criação	e	da	extinção	de	filial
Se	a	filial	é	criada	na	mesma	circunscrição	da	Junta	Comercial	em	que	está	inscrito	o	empresário,
deve	ser	feita	a	averbação	de	sua	constituição	à	margem	de	sua	inscrição,	segundo	o	procedimento
do	Manual	de	Atos	de	Registro	de	Empresário	(item	4.1),	baixado	pela	Instrução	Normativa	97/2003
do	DNRC.
Em	 se	 tratando	 de	 filial	 a	 ser	 aberta	 em	 unidade	 da	 Federação	 diversa	 da	 de	 sua	 sede,	 seu
registro	é	mais	complexo.	O	empresário	deve,	nessa	hipótese,	promover	a	inscrição	da	filial	na	Junta
Comercial	 do	 Estado	 onde,	 até	 então,	 não	 possuía	 registro	 algum.	 Feita	 essa	 inscrição,	 dita
secundária	ou	suplementar,	há,	ainda,	a	obrigatoriedade	de	sua	averbação	à	margem	da	 inscrição
originária,	no	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis	mantido	na	Junta	Comercial	de	sua	sede.
Tratando-se	de	simples	escritório	de	representação,	não	há	necessidade	do	cumprimento	dessas
formalidades	 porque,	 como	 visto	 no	 item	 anterior,	 não	 se	 caracteriza,	 aí,	 um	 estabelecimento
secundário	 do	 empresário.	 Contudo,	 embora	 sem	 promover	 a	 inscrição	 do	 escritório	 na	 Junta
Comercial	 de	 outro	 Estado,	 quando	 lá	 o	 constituir,	 nada	 impede	que	 o	 empresário	 proceda	 à	 sua
averbação	à	margem	de	sua	 inscrição	originária,	por	 interesse	próprio,	para	fins	de	publicidade	e
eventual	produção	de	efeitos	em	relação	a	terceiros.
A	inscrição	da	filial	em	outra	Junta	Comercial	deve	preencher	todos	os	requisitos	exigidos	para
uma	 inscrição	 originária.	 Além	 disso,	 há	 de	 fazer	 "prova	 da	 inscrição	 originária",	 mencionando
expressamente	 onde	 foi	 feita	 e	 fornecendo	 inclusive	 o	 respectivo	 número	 (Nire).	 Já	 a	 averbação
junto	 à	 inscrição	 originária	 deve	 conter	 os	 dados	 essenciais	 para	 a	 identificação	 da	 filial,	 como	o
nome	completo	do	empresário,	 seu	nome	empresarial,	 o	 endereço	em	que	 irá	atuar	a	 filial	 etc.	A
indicação	do	 capital	 representando	o	patrimônio	afetado	à	 filial	não	 traduz	exigência	 legal	 e,	 por
isso,	é	facultativa.
Como	a	inscrição	tem	por	fim	retratar	a	vida	do	empresário	(n.	10	supra),	também	a	extinção	de
qualquer	 filial	 que	 ele	 tenha	 constituído	 é	 ato	 sujeito	 a	 registro.	 Embora	 a	 lei	 não	mencione	 esse
acontecimento,	a	interpretação	teleológica	deve	aí	prevalecer	para	que	a	inscrição	mantenha-se	fiel
à	realidade.
Extinta	a	filial,	é	preciso,	portanto,	que	seja	averbado	o	ato	de	extinção	à	margem	da	inscrição	do
empresário.	Se	a	filial	a	ser	extinta	localiza-se	em	circunscrição	pertencente	a	outra	Junta	Comercial
(em	outro	Estado-membro	da	Federação),	 faz-se	necessário,	 também,	o	 cancelamento	da	 inscrição
secundária	nela	realizada.
A	 averbação	 de	 criação	 ou	 de	 extinção	 de	 um	 estabelecimento	 secundário	 do	 empresário	 é
realizada,	 em	 regra,	 em	momento	 posterior	 ao	 fato:	 o	 empresário	 cria	 ou	 extingue	 fisicamente	 a
filial	com	observância	das	exigências	burocráticas	para	tanto	estabelecidas	e,	na	sequência,	averba	a
declaração	de	criação	ou	extinção	no	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis,	observado	o	prazo	de
30	 (trinta)	dias	para	a	 retroação	dos	efeitos	à	data	da	ocorrência	 (CC,	art.	 1.151,	 §	1.º).	É	 lícito,	no
entanto,	 que	 a	 averbação	 anteceda	 a	 criação	 ou	 extinção,	 se	 a	 declaração	 do	 empresário	 assim	 o
estabelecer	(v.g.,	criação	de	uma	filial	para	funcionar	em	data	futura).	Também	pode	haver	dispensa
de	 averbação	 da	 extinção,	 se	 a	 declaração	 do	 empresário	 previr	 prazo	 certo	 de	 funcionamento,
porquanto	aí	a	extinção	está	determinada	e	ocorrerácom	o	só	advento	do	termo	final	de	duração.
Art.	970.	A	lei	assegurará	tratamento	favorecido,	diferenciado	e	simplificado	ao	empresário	rural
e	ao	pequeno	empresário,	quanto	à	inscrição	e	aos	efeitos	daí	decorrentes.
COMENTÁRIOS
16.	Dispositivo	inútil
Não	é	de	boa	 técnica	 legislativa	a	 lei	 determinar	que	outra	 lei	 de	mesma	hierarquia	disponha
sobre	algo	que	a	primeira	pode	dispor.	O	Código	Civil	não	é	constituição	nem	lei	complementar.	A
redação	dessa	norma	veio	com	uma	emenda	legislativa,	que	lhe	tirou	todo	o	sentido.
De	 fato,	 o	 empresário	 rural	 é	 referido	neste	 art.	 970	 inadvertidamente,	 visto	 que	 sua	 situação
jurídica	 é	 regulada	 no	 dispositivo	 seguinte,	 no	 art.	 971,	 que	 o	 submete	 ao	 direito	 de	 empresa
somente	se	proceder	à	sua	inscrição	no	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis.
Já	 no	 que	 se	 refere	 ao	 pequeno	 empresário,	 não	 há	 nenhum	 critério	 para	 identificá-lo,	 dado
necessário	para	se	saber	quem	é	o	destinatário	do	anunciado	tratamento	especial.	E	quanto	a	esse
tratamento,	há	apenas	mais	uma	referência,	no	Código	Civil,	estatuindo	ser	o	pequeno	empresário
dispensado	de	manter	o	 sistema	de	contas	exigido	dos	demais	empresários	 (art.	1.179,	§	2.º).	Mas,
quem	 é	 ele?	 A	 essa	 indagação	 fundamental,	 o	 Código	 Civil	 não	 a	 deu	 resposta	 que	 é	 atualmente
definido	pelo	art.	68	da	LC	123/2006,	na	redação	que	hoje	lhe	dá	a	LC	139/2011.
17.	Origem	da	previsão	legal
O	 anteprojeto	 do	 Código	 de	 Obrigações,	 de	 1965,	 cuja	 versão	 também	 se	 havia	 inspirado	 no
Código	Civil	 italiano	de	 1942,	 adotara	o	 critério	de	 submeter	 à	disciplina	do	direito	de	 empresa	o
empresário	 comercial,	 isto	 é,	 o	 empresário	 que	 exercesse	 determinadas	 atividades	 reputadas
próprias	 de	 sua	 profissão,	 arroladas	 no	 seu	 art.	 1.106.	 Porém,	 já	 quando	 da	 apresentação	 do
anteprojeto	 do	 Código	 Civil	 à	 consideração	 do	Ministro	 da	 Justiça	 nos	 idos	 de	 1972,	 o	 novo	 texto
abandonara	a	distinção	entre	empresários	comerciais	e	demais	empresários	(dentre	eles	os	rurais)
para	optar	por	uma	definição	geral	de	empresário,	dela	excluindo,	apenas,	os	que	se	dedicassem	a
profissões	intelectuais	(art.	1.027	e	parágrafo	único).
Ficaram,	porém,	resquícios	da	antiga	versão.	E	um	deles	estava	no	art.	1.031	desse	anteprojeto,
que	 previa	 a	 possibilidade	 de	 o	 empresário	 rural	 e	 o	 pequeno	 empresário	 serem	 dispensados	 de
inscrição	 no	 então	 denominado	 Registro	 das	 Empresas	 e	 das	 restrições	 e	 deveres	 impostos	 aos
empresários	inscritos.
A	norma	estava	assim	redigida:	"São	dispensados	de	inscrição	e	das	restrições	e	deveres	impostos	aos
empresários	 inscritos:	 I	 -	 O	 empresário	 rural,	 assim	 considerado	 o	 que	 exerce	 atividade	 destinada	 à
produção	 agrícola,	 silvícola,	 pecuária	 e	 outras	 conexas,	 como	 a	 transformação	 ou	 a	 alienação	 dos
respectivos	 produtos,	 quando	 pertinentes	 aos	 serviços	 rurais;	 II	 -	 O	 pequeno	 empresário,	 tal	 como
definido	 em	 decreto,	 à	 vista	 dos	 seguintes	 elementos,	 considerados	 isoladamente	 ou	 em	 conjunto:	 a)
natureza	 artesanal	 da	 atividade;	 b)	 predominância	 do	 trabalho	 próprio	 e	 de	 familiares;	 c)	 capital
efetivamente	 empregado;	 d)	 renda	 bruta	 anual;	 e)	 condições	 peculiares	 à	 atividade,	 reveladoras	 da
exiguidade	da	empresa	exercida."
No	que	se	refere	ao	empresário	rural,	a	regra	do	artigo	subsequente	(1.032)	conferindo-lhe	o	direito	de
requerer	 inscrição	 no	 Registro	 das	 Empresas	 para	 equiparar-se	 ao	 empresário,	 tirava	 todo	 sentido	 do
inciso	I,	porquanto	se	empresário	sujeito	a	registro	não	era,	impossível	dispensá-lo	de	qualquer	obrigação
a	este	inerente.	Esse	tema	será	tratado	nos	comentários	ao	art.	971.
Quanto	ao	pequeno	empresário,	os	 indicativos	do	 inciso	 II	 são	os	mesmos	que	 figuravam	no	art.	1.º,
parágrafo	único,	do	Dec.-lei	486/1969,	o	qual,	sem	abolir	a	obrigatoriedade	do	registro	na	Junta	Comercial,
dispensava	da	escrituração	e	dos	livros	mercantis	o	então	denominado	pequeno	comerciante.
A	desnecessidade	de	registro	(inscrição)	dos	pequenos	empresários,	constante	desse	anteprojeto,
abeberou-se	 no	 Código	 Civil	 italiano	 (art.	 2.202).	 Lá	 definidos	 como	 "os	 exploradores	 diretos	 do
fundo,	 os	 artífices,	 os	 pequenos	 comerciantes	 e	 aqueles	 que	 exercem	 uma	 atividade	 profissional
organizada	principalmente	com	o	trabalho	próprio	e	com	o	dos	componentes	da	família"	(art.	2.083),
os	 pequenos	 empresários	 também	 ficaram	dispensados	 da	 exigência	 de	manter	uma	 escrituração
regular	(art.	2.214)	e	excluídos	dos	processos	de	falência	e	de	concordata	preventiva	(art.	2.221).
Aprovado	na	Câmara	dos	Deputados	 com	essa	 redação,	 o	projeto	 foi	 ao	 Senado	Federal.	 Sob	a
justificativa	de	que	um	Código	Civil,	que	pretende	ser	duradouro,	não	deve	conter	regras	mutáveis,	o
Senador	 Gabriel	 Hermes	 apresentou	 emenda	 substitutiva	 do	 dispositivo	 visando	 "estabelecer	 um
delineamento	genérico	e	programático,	a	fim	de	que	a	lei	ordinária	prescreva	as	normas	adequadas
para	cada	caso	e	cada	época."
Trata-se	 da	 Emenda	 n.	 68,	 do	 Senado	 Federal,	 que	 propôs	 esta	 redação:	 "A	 lei	 assegurará
tratamento	 favorecido,	 diferenciado	 e	 simplificado	ao	 empresário	 rural	 e	 ao	pequeno	 empresário
quanto	à	inscrição	e	deveres	impostos	aos	empresários	inscritos."	Ela	foi	acolhida	pelo	Relator	Geral,
Senador	 Josaphat	 Marinho,	 que,	 aceitando	 a	 ideia,	 alterou-lhe	 a	 parte	 final	 a	 oração	 final	 para
substituir	 "e	 deveres	 impostos	 aos	 empresários	 inscritos"	 por	 "e	 aos	 efeitos	 daí	 decorrentes",
resultando	o	dispositivo	na	versão	contida	no	art.	970	do	Código	Civil.
18.	Obrigatoriedade	de	inscrição	do	pequeno	empresário
Como	 se	 observa,	 na	 alteração	 havida,	 não	 foi	 mais	 feita	 menção	 à	 dispensa	 de	 inscrição	 no
Registro	 Público	 de	 Empresas	 Mercantis,	 nem	 se	 indicaram	 quaisquer	 critérios	 para	 identificar
adequadamente	 a	 figura	 do	 pequeno	 empresário.	 O	 que	 ficou	 prescrito	 foi,	 exclusivamente,	 um
tratamento	 favorecido	 e	 simplificado	 ao	 empresário	 rural	 e	 ao	 pequeno	 empresário	 "quanto	 à
inscrição	e	aos	efeitos	daí	decorrentes".
Ou	 seja,	 o	 pequeno	 empresário	 é	 considerado,	 para	 todos	 os	 efeitos,	 um	 empresário,	 com
tratamento	 diferenciado	 no	 que	 diz	 respeito	 à	 sua	 inscrição	 e	 aos	 efeitos	 daí	 decorrentes.	 Isso
significa	que	a	dimensão	do	negócio	do	empresário	não	é	critério	para	sua	exclusão	do	registro	que
lhe	 é	 próprio.	 Enquadrando-se	no	 conceito	do	 art.	 966	 e	não	 sendo	 excluído	pelo	disposto	no	 seu
parágrafo	 único	 nem	pela	 regra	 do	 art.	 971,	 todo	 e	 qualquer	 empresário	 é	 obrigado	 a	 promover,
portanto,	sua	inscrição	perante	a	Junta	Comercial	de	sua	sede.
A	regra	dirige-se,	também,	ao	empresário	rural,	mas	este	continua	dispensado	da	inscrição,	por	força
do	art.	971,	como	se	verá	nos	respectivos	comentários.	Ele	terá	o	tratamento	favorecido,	que	e	quando
vier	a	se	instituído,	se	optar	pela	sua	inscrição	no	Registro	Público	de	Empresas	Mercantis.
19.	Quem	é	pequeno	empresário
O	texto	do	Código	Civil,	ao	simplificar	o	enunciado	da	norma	que	originariamente	 figurava	no
seu	projeto,	deixou	o	conceito	de	pequeno	empresário	absolutamente	vago,	exigindo	lei	para	defini-
lo.	Pequeno	empresário	tanto	podia	ser	uma	pessoa	dedicada	à	exploração	de	atividade	econômica
sem	 os	 pressupostos	 do	 art.	 966,	 como	 alguém	 que	 organizadamente	 a	 explorasse,	 porém	 em
dimensões	reduzidas.
Na	busca	de	uma	solução	para	identificá-lo,	sustentaram	alguns	autores,	dentre	eles	Fábio	Ulhoa
Coelho,	 que,	 "à	 falta	 de	 definição	 da	 lei,	 deve-se	 considerar	 a	 expressão	 uma	 referência	 geral	 ao
micro	empresário	e	ao	empresário	de	pequeno	porte"	(Curso	de	direito	comercial,	v.	1,	n.	4.5,	p.	76).
Foi	a	orientação	que	prevaleceu	na	III	Jornada	de	Direito	Civil	promovidapelo	Conselho	Nacional	de
Justiça,	consoante	se	vê	do	Enunciado	n.	235:	"O	pequeno	empresário,	dispensado	da	escrituração,	é
aquele	previsto	na	Lei	9.841/1999".
Entretanto,	à	 luz	das	normas	então	vigentes,	com	o	devido	respeito,	não	se	podia	chegar	a	essa
compreensão.	 A	 legislação	 relativa	 às	 microempresas	 e	 empresas	 de	 pequeno	 porte	 adveio	 em
cumprimento	da	norma	constitucional	que	determinava	à	União,	aos	Estados,	ao	Distrito	Federal	e
aos	 Municípios	 que	 dispensassem	 "às	 microempresas	 e	 às	 empresas	 de	 pequeno	 porte,	 assim
definidas	em	lei,	tratamento	jurídico	diferenciado	visando	a	incentivá-las,	pela	simplificação	de	suas
obrigações	administrativas,	tributárias,	previdenciárias	e	creditícias,	ou	pela	eliminação	ou	redução
destas	 por	 meio	 de	 lei"	 (CF/1988,	 art.	 179).	 Assim,	 as	 Leis	 9.317/1996,	 e	 9.841/1999,	 que	 vieram
atender	à	determinação	constitucional,	nada	continham	de	"tratamento	favorecido,	diferenciado	e
simplificado	quanto	à	inscrição	e	aos	efeitos	daí	decorrentes",	como	previsto	pelo	art.	970	do	Código
Civil	para	o	pequeno	empresário	e	não	supriam,	portanto,	a	exigência	de	lei	especial	reclamada	por
esse	preceito	(Alfredo	de	Assis	Gonçalves	Neto,	Lições	de	direito	societário,	1.	ed.,	n.	42,	p.	103).
Reforçava	 esse	 entendimento	 o	 art.	 7.º,	 §	 1.º,	 da	 Lei	 9.317/1996,	 que,	 embora	 dispensando	 a
microempresa	 e	 a	 empresa	 de	 pequeno	 porte	 da	 obrigação	 de	 realizar	 escrituração	 comercial,
impunha	que	mantivessem,	em	boa	ordem	e	guarda	e	enquanto	não	decorrido	o	prazo	decadencial	e
não	prescritas	 eventuais	 ações	que	 lhes	 sejam	pertinentes,	 dois	 livros:	 o	 Livro	Caixa	 e	 o	Livro	de
Registro	de	Inventário,	bem	como	todos	os	documentos	e	demais	papéis	que	servissem	de	base	para
as	respectivas	escriturações.
Essas	disposições	não	se	harmonizavam	minimamente	com	as	regras	que	o	Código	Civil	reservou
para	o	pequeno	empresário	(e	não	para	a	sociedade	empresária),	visto	que	microempresa	e	empresa
de	 pequeno	 porte,	 além	 de	 poderem	 apresentar-se	 sob	 diversos	 tipos	 societários,	 não	 estavam
dispensadas	das	exigências	de	escrituração,	embora	autorizadas	a	realizá-la	de	forma	especial	(CC,
art.	1.179,	§	2.º).
Recorde-se	que	o	Código	Civil,	ao	empregar	o	vocábulo	"empresário"	refere-se	sempre	ao	empresário
individual,	em	contraste	com	a	"sociedade	empresária"	-	o	que	reforçava	o	argumento	de	que	se
inspirou	na	legislação	existente	à	época	da	elaboração	do	seu	anteprojeto,	que	não	abrange	as
microempresas	e	as	empresas	de	pequeno	porte	estruturadas	sob	forma	societária.
O	pequeno	empresário,	pessoa	natural,	dispensado	de	manter	qualquer	escrituração	regular	e	de
elaborar	 os	 balanços	 de	 final	 de	 exercício	 (CC,	 arts.	 970	 e	 1.179,	 §	 2.º),	 portanto,	 estava	 ainda	 a
depender	de	lei	para	identificar-se.
A	LC	123/2006,	que	 implantou	o	Estatuto	Nacional	da	Microempresa	e	da	Empresa	de	Pequeno
Porte,	pôs	fim	à	discussão.	A	partir	de	sua	vigência,	"considera-se	pequeno	empresário,	para	efeito
de	aplicação	do	disposto	nos	arts.	970	e	1.179	da	Lei	10.406,	de	10	de	janeiro	de	2002,	o	empresário
individual	caracterizado	como	microempresa	na	forma	desta	Lei	Complementar,	que	aufira	receita
bruta	anual	de	até	R$	60.000,00	(sessenta	mil	reais)"	(art.	68,	na	redação	que	lhe	deu	a	LC	139/2001).
Desse	 enunciado,	 extrai-se	 que	 não	 se	 enquadram	 no	 conceito	 de	 pequeno	 empresário:	 a)	 os
empresários	de	pequeno	porte;	b)	as	sociedades	em	geral,	simples	e	empresárias,	qualquer	que	seja
seu	 movimento	 financeiro;	 c)	 os	 microempresários	 individuais	 que	 possuam	 faturamento	 bruto
anual	superior	a	R$	60.000,00.
O	art.	18-A,	introduzido	na	LC	123/2006	pelo	art.	3.º,	da	LC	128/2008	e	modificado	pelo	art.	2.º	da
LC	 139/2011,	 cuidou	 da	 figura	 do	 microempreendedor	 individual	 (MEI),	 definindo-o	 em	 seu
parágrafo	 primeiro	 como	 "o	 empresário	 individual	 a	 que	 se	 refere	 o	 art.	 966	 da	 Lei	 10.406,	 de
10.01.2002	 (Código	 Civil),	 que	 tenha	 auferido	 receita	 bruta,	 no	 ano-calendário	 anterior,	 de	 até	 R$
60.000,00	(sessenta	mil	reais),	optante	pelo	Simples	Nacional	e	que	não	esteja	impedido	de	optar	pela
sistemática"	 de	 recolhimento	 de	 impostos	 e	 contribuições	 em	 valores	 fixos	 mensais,
independentemente	 da	 receita	 bruta	 por	 ele	 auferida	 no	 mês.	 Assim,	 o	 microempreendedor	 é	 o
pequeno	empresário	optante	do	sistema	simplificado	de	tributação,	a	quem	é	outorgado	o	direito	de
proceder	ao	recolhimento	dos	tributos	na	forma	acima	indicada.	Sobre	o	tema,	ver	quadro	resumo
de	Mônica	Gusmão	(Lições	de	direito	empresarial,	p.	45).
É	 pequeno	 empresário,	 em	 suma,	 e	 exclusivamente,	 aquele	 que	 exerce	 microempresa
individualmente,	com	receita	bruta	limitada	ao	teto	anual	indicado.
O	pequeno	empresário,	assim	definido,	 tem	a	obrigação	de	se	 inscrever	no	Registro	Público	de
Empresas	 Mercantis,	 porém	 com	 as	 facilidades	 previstas	 na	 mencionada	 Lei	 Complementar,	 e	 é
dispensado	da	utilização	de	qualquer	livro	para	controle	de	suas	contas	(arts.	970	e	1.179,	§	2.º).
Em	linguagem	pouco	técnica,	aquele	estatuto	assegura	aos	microempresários	e	empresários	de
pequeno	porte,	dentre	outros,	o	direito	de	contar	com	o	apoio	dos	"órgãos	e	entidades	envolvidos	na
abertura	e	fechamento	de	empresas"	para	lhes	oferecer,	"de	forma	presencial	e	pela	rede	mundial	de
computadores,	informações,	orientações	e	instrumentos,	de	forma	integrada	e	consolidada,	que
permitam	pesquisas	prévias	às	etapas	de	registro	ou	inscrição,	alteração	e	baixa"	de	sua	empresa	(LC
123/2006,	art.	5.º).	Também	lhes	assiste	o	direito	à	simplificação,	racionalização	e	uniformização	das
exigências	de	segurança	sanitária,	metrologia,	controle	ambiental	e	prevenção	contra	incêndios,
estabelecidas	para	a	abertura	e	fechamento	de	suas	empresas	(art.	6.º),	bem	como	à	obtenção	de	alvará
municipal	de	funcionamento	provisório	para	darem	início	às	suas	atividades	imediatamente	após	o
registro	(art.	7.º).	Ao	cabo,	há	a	unificação	dos	tributos	pelo	sistema	Simples	Nacional	(art.	12),	do	qual	é
afastada,	porém,	a	micro	e	pequena	empresa	"que	tenha	por	finalidade	a	prestação	de	serviços
decorrentes	do	exercício	de	atividade	intelectual,	de	natureza	técnica,	científica,	desportiva,	artística	ou
cultural,	que	constitua	profissão	regulamentada	ou	não,	bem	como	a	que	preste	serviços	de	instrutor,
de	corretor,	de	despachante	ou	de	qualquer	tipo	de	intermediação	de	negócios"	(art.	17,	XI).
Além	 de	 todas	 as	 prerrogativas	 que	 o	 Estatuto	 Nacional	 da	 Microempresa	 e	 da	 Empresa	 de
Pequeno	Porte	 oferece	 aos	 seus	 destinatários	 em	 geral,	 aos	 pequenos	 empresários,	 designados	 de
microempreendedores	 individuais,	 conquanto	 devam	 manter	 os	 documentos	 relativos	 aos	 seus
negócios	 (art.	 26,	 II),	 são	 autorizados	 a	 comprovar	 sua	 receita	 bruta	 mediante	 a	 simples
apresentação	 do	 registro	 de	 vendas	 ou	 de	 prestação	 de	 serviços,	 sem	 necessidade	 de	 emissão	 do
documento	fiscal	(art.	26,	I),	ressalvadas	as	hipóteses	de	emissão	obrigatória,	previstas	pelo	Comitê
Gestor	regrado	naquele	estatuto	(LC	123/2006,	art.	26,	§	1.º,	com	as	alterações	introduzidas	pelo	art.
3.º	da	LC	128/2008).
O	que	merece	ser	destacado	para	os	propósitos	destes	comentários	é	que	o	registro	da	empresa
individual	do	pequeno	empresário,	de	suas	alterações	e	de	sua	extinção	passa	a	ser	autorizado	de
forma	simplificada,	como	prevê	o	art.	970	do	CC,	"independentemente	da	regularidade	de	obrigações
tributárias,	previdenciárias	ou	trabalhistas,	principais	ou	acessórias"	(LC	123/2006,	art.	9.º),	vedadas
outras	 exigências	 adicionais	 (LC	 123/2006,	 arts.	 10	 e	 11).	 E,	 como	 não	 foram	 reproduzidas	 as
disposições	do	art.	 7.º	 da	Lei	 9.317/1996,	que	 impunham	a	manutenção	da	 escrituração	dos	 livros
Caixa	e	de	Registro	de	 Inventário,	o	pequeno	empresário	 (mas	não	os	demais	microempresários	e
empresários

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