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CCJ0043-WL-A-AMRP-04-Aristóteles - O Sentido Polissêmico de Justiça

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AULA 4 – Filosofia Geral e Jurídica
Título da unidade: Fundamentos para uma Filosofia Jurídica
Tema: Aristóteles: o sentido polissêmico de justiça (legalidade e equidade). 
Professor(a): Clara Brum
Objetivos:
Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de: 
Conhecer em linhas gerais a importância de Aristóteles para tradição Filosófica; 
Estudar os conceitos de igualdade, proporcionalidade, equidade, justiça distributiva e corretiva;
Nesta aula estudaremos um dos filósofos mais importantes para a Ciência,  a partir de uma breve apresentação de sua contribuição para o pensamento científico, compreenderemos  a relação com o seu antecessor, Platão. Em seguida, verificaremos que Aristóteles elaborou duas obras fundamentais ao Direito: Ética a Nicômaco e Política. 
Ao contrário de Platão, não define o direito a partir da idéia de justiça, mas define a justiça em função do direito, sendo  possível no interior da polis (definir este conceito. Polis ou cidade-estado: nova forma de convivência centrada na ágora (praça pública) para o debate sobre interesses comuns. Neste contexto, surge a figura do cidadão, aquele que fazendo uso público de sua razão, delibera conjuntamente aos seus pares os destinos da cidade). Segundo o entendimento de Aristóteles, a política é ciência da felicidade humana, uma ciência prática que busca o conhecimento como meio para a ação e que se divide em ética e política. A felicidade, em seu modo de ver, significa certa maneira de viver específica do homem, ser social por natureza, destinado a desenvolver suas potencialidades na vida em sociedade. Segundo Paulo Nader (2003, p. 110) “Diferentemente de seu mestre, que situava as questões filosóficas em um plano de profunda abstração, Aristóteles procurava ligar-se mais aos fatos empíricos”.
Vamos investigar a importância de Aristóteles para tradição Filosófica? 
Segundo Alysson Leandro Mascaro (2010, p. 63), o pensamento de Aristóteles (384-322 a.C.) representou o apogeu da filosofia grega e nos ofertou uma importante reflexão jusfilosófica sobre o direito e justiça. Foi discípulo de Platão, mas amenizou seu idealismo, quando introduziu a “experiência” em seu método. Era estrangeiro em Atenas, o que se desvela num pensamento político mais ponderado.
Após seguir Platão por longos anos, bem como sua experiência como tutor de Alexandre da Macedônia, retornou a Atenas e fundou o seu Liceu, sua escola, para uma reflexão sobre diversas áreas de saber. Assim, foi denominado o sistematizador de toda a filosofia: Lógica, Biologia, Botânica, Zoologia, Sociologia, Ética, Política etc (MASCARO, 2010, p. 64).
Segundo Mascaro (2010, p. 64), Aristóteles pode ser considerado um dos maiores pensadores na área do direito e justiça. Em seu pensamento encontramos um estudo sistemático sobre várias constituições conhecidas em sua época e, assim, pode formular seu próprio projeto de constituição. Todavia, sua reflexão jurídico-política mais expressiva está contida na obra Ética a Nicômaco (Livro V) que para muitos estudiosos é a maior expressão do pensamento jurídico do mundo antigo. Destaque-se que há reflexões importantes sobre questões jurídicas nas obras Política e Retórica. Nesta última quando observa a argumentação jurídica.
Segundo Mascaro (2010, p. 65), a grande excepcionalidade da filosofia do direito de Aristóteles se revela pela sua sistematização filosófica da justiça. As partes iniciais do Livro V da Ética a Nicômaco estão voltadas a essa questão.
Segundo Stefano Petrucciani (2008, p. 59), ao se referir ao pensamento de Aristóteles (E.N., I 2, 1094b), observa que tanto para ele como para Platão, o bem é o objeto primeiro de uma reflexão sobre a política. Por quê? Porque o bem individual quando consiste na atividade da alma conforme a virtude, se afigura no horizonte da relação com os demais, ou seja, com o coletivo. Assim, procurar o bem “de uma pessoa é algo desejável, mas mais perfeito e divino consegui-lo para um povo e para cidades”. Trata-se de um bem pertinente à alma.
É importante apresentar em linhas gerais o conteúdo do livro Política como o estudo das constituições das poleis. A obra está dividida em três partes, a saber: os livros I, II e III, que tratam da teoria do Estado em geral e da classificação das várias espécies de constituições; os livros IV, V e VI, em que se analisa a política prática, ou seja, estuda a natureza das constituições existentes e dos princípios para seu bom funcionamento; e os livros VII e VIII, em que se examina a política ideal. 
Na obra Ética a Nicômaco [A Ética a Nicômaco ou Nicomaquéia foi assim chamada por ter sido, provavelmente editada por Nicômaco, filho de Aristóteles. Ética a Eudemo, por ter sido editada ou redigida pelo seu discípulo deste nome, uma refundição da anterior. A Grande Ética ou Ética Maior,  um resumo posterior (TRUYOL Y SERRA, p.132).] aprofunda os ensinamentos que retira de Platão (República), elabora sua teoria ética a partir das estruturas morais vigentes na comunidade grega do séc. V a.C. De um modo geral, podemos dizer que a sua teoria apresenta o procedimento do homem prudente como um valor, cuja opinião da experiência da vida e os costumes da cidade são condições objetivas para se filosofar politicamente. 
Diferentemente de Platão, Aristóteles humanizou o fim último na medida em que o tornou terreno, por isso, o ético em Aristóteles é entendido a partir do ethos (do costume), da maneira concreta de viver vigente na sociedade. 
O bem como felicidade
O bem para o homem é a felicidade!
Toda a arte e toda a indagação, assim como toda ação e todo propósito, visam a algum bem. (...) Parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este bem supremo, pois a escolhemos sempre por si mesma, e nunca por causa de algo mais(Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro 1:1-7).
Para o pensador todas as atividades humanas visam a um bem e o estudo desse bem deve ser feito pela ciência do bem que é a Política. Admite, assim, que para o ser humano, o bem é a felicidade. Esse bem deve ser final e autossuficiente – o bem supremo. Os seres humanos procuram muitos bens, mais o mais honrado é a felicidade, o objetivo da vida política. A felicidade é o fim a que visam as ações, disse Aristóteles!!
Nesse contexto, qual a função própria do homem?
Excluamos, portanto, as atividades vitais de nutrição e crescimento (...). Resta, então, a atividade vital do elemento racional do homem. Então, se a função do homem é uma atividade da alma por via da razão e conforme a ela, (...) o bem para o homem vem a ser o exercício ativo das faculdades da alma de conformidade com a excelência (Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro 1:8).
Para Aristóteles, o homem feliz vive bem e se conduz bem na vida e neste ponto relacionou felicidade e excelência [virtude]. Assim, uma vida conforme a excelência é uma vida agradável em si. Acreditou, ainda que algumas coisas, cuja falta pode empanar a felicidade: boa estirpe, bons filhos, beleza...[ele era um homem de seu tempo].
Podemos aprender a ser felizes? Decorre do hábito? Da providência divina? Da sorte?
Para Aristóteles, a felicidade parece estar entre as coisas mais divinas [perfeitas] e pressupõe uma excelência perfeita e uma existência completa. Para ele, a felicidade é algo permanente, não facilmente sujeito à mudança. Decorre da nossa atividade conforme à excelência, esta sim, dotada de permanência. Será feliz o homem engajado na prática constante do que é conforme à excelência.
(...) as atividades de uma pessoa são um fator determinante na vida, (...) ela nunca praticará ações odiosas ou ignóbeis, pois sustentamos que as pessoas realmente boas e sábias suportarão todos os tipos de vicissitudes, e sempre agirão de maneira mais nobilitante possível (Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro 1:10).
Mas o que é excelência (virtude) em Aristóteles?
 (...) há duas espécies de excelência [virtude]: a intelectual e a moral. Em grande parte a excelência intelectual deve tanto o seu nascimento quanto o seu crescimentoà instrução (por isto ela requer experiência e tempo); quanto à excelência moral, ela é o produto do hábito, razão pela qual seu nome é derivado, com uma ligeira variação, da palavra ‘hábito’. É evidente, portanto, que nenhuma das várias formas de excelência moral se constitui em nós por natureza, pois nada que existe por natureza pode ser alterado pelo hábito. (...) mas a natureza nos dá a capacidade de recebê-la, e esta capacidade se aperfeiçoa com o hábito (Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro 2).
Neste aspecto, interessa mencionar que a sua ética compreende duas categorias de excelências (virtudes): as morais, fundamentadas na vontade, e as intelectuais, baseadas na razão. Como exemplo de excelências morais: a coragem, a generosidade, a magnificência, a doçura, a amizade e a justiça.  As intelectuais ou dianoéticas [Diánoia: entendimento. Em Aristóteles é usada como um termo geral para atividade intelectual. Noético (gr) relativo ao pensamento; noetikos – inteligente.] são: a sabedoria, a temperança, a inteligência e a verdade.  Para este pensador, uma ação pode ser considerada como justa quando realiza o equilíbrio das virtudes morais e quando alcança as virtudes intelectuais. 
E neste ponto, o objetivo da ação moral é a justiça, assim como, a verdade é o objetivo da ação intelectual. Em sentido lato, a justiça (Ética a Nicômaco, Livro 5) configura o exercício de todas as virtudes, observando-se a instância da alteridade, ao passo que em sentido estrito, encontra-se como uma virtude ética que implica o princípio da igualdade. Assim a justiça aparece como um valor ético que se desvela em nossos atos, logo “toda virtude e toda técnica nascem e se desenvolvem pelo exercício” (SALGADO, 1995, p. 33).
As duas categorias de excelência (virtude), a saber:
As excelências morais: coragem, generosidade, moderação, doçura, amizade e justiça. É produto do hábito e exige a prática, o que difere a boa constituição da má. Nossas disposições morais resultam de nossas atividades. Denotam o meio-termo! (Livros 2 e 3)
As excelências intelectuais: a sabedoria, a temperança, a inteligência e a verdade. Decorrem da instrução. (Livro 6)
Vamos investigar o que ele entendeu por excelência moral?
 o homem que evita e teme tudo e não enfrenta coisa alguma torna-se um covarde; em contraste, o homem que nada teme e enfrenta tudo torna-se temerário; da mesma forma, o homem que se entrega a todos os prazeres e não se abstém de qualquer deles torna-se concupiscente, enquanto o homem que evita todos os prazeres (...), torna-se de certo modo insensível; a moderação e a coragem, portanto, são destruídas pela deficiência e pelo excesso, e preservadas pelo meio-termo(Ética a Nicômaco, Livro 2:1-2).
A excelência é o meio-termo
Para este pensador excelência é o meio-termo:
É possível errar de várias maneiras (...), ao passo que só é possível acertar de uma maneira (também por esta razão é fácil errar e difícil acertar – fácil errar o alvo, e difícil acertar nele); também é por isso que o excesso e a falta são características da deficiência moral, e o meio termo é uma característica da excelência moral (Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro 2:6).
A virtude [excelência], em Aristóteles, significa ação. Significa uma prática, e não uma natureza. O homem virtuoso, portanto, é o homem ativo, que aprendeu pela prática a desempenhar um papel social dentro da sua comunidade; ele é o homem político. (...) o Estado só é bom se seus cidadãos forem virtuosos (CHALITA, 2003, p. 32).
E meio-termo???
Aristóteles (Ética a Nicômaco, Livro 2: 6) explica que:
Por meio-termo quero significar aquilo que é equidistante em relação a cada um dos extremos, e que é único e o mesmo em relação a todos os homens; por meio-termo ‘em relação a nós’ quero significar aquilo que não é nem demais nem muito pouco, e isto não é único nem o mesmo para todos.
Podemos dizer que para este pensador a excelência moral pressupõe que a ação seja praticada mediante escolha. Escolha que é resultado de uma deliberação, que é racional. Isto significa dizer que somos responsáveis por nossas más escolhas!!!
Partindo da excelência moral, como podemos conceber a justiça? Que espécie de meio-termo é a justiça?
No livro 5 da Ética a Nicômaco, Aristóteles observou que: 
a justiça é a disposição da alma graças à qual elas se dispõem a fazer o que é justo, a agir justamente e a desejar o que é justo; de maneira idêntica, diz-se que a injustiça é a disposição da alma graças à qual elas agem injustamente e desejam o que é injusto (5:1)
E mais!
 Então a justiça neste sentido é a excelência moral perfeita, embora não o seja de modo irrestrito, mas em relação ao próximo. Portanto, a justiça é frequentemente considerada a mais elevada forma de excelência moral, e ‘nem a estrela vespertina nem a matutina é tão maravilhosa’; e também se diz proverbialmente que: na justiça se resume toda a excelência (Ética a Nicômaco, Livro 5:1)
Por que a justiça é a forma perfeita de excelência moral?
Por que é perfeita?
Porque para o pensador ela representa a prática efetiva da excelência moral. A perfeição está no fato de as pessoas justas poderem praticá-la não somente em relação a si mesmas, mas em relação ao próximo. É nesse sentido que a denomina de o “bem dos outros”. O melhor dos homens não é aquele que pensa apenas em relação a si mesmo, mas em relação aos outros. O justo é visto como o igual. O igual é o meio-termo que pressupõe dois elementos que devem estar entre dois extremos.
Como classificou a Justiça?
Justiça universal ou total: justiça no sentido amplo, conformidade ao nomos (erga omnes) – legalidade como garantia da coesão social.
Justiça particular: hábito de realizar a igualdade. Divide-se em justo particular distributivo e corretivo.
2.1. Justiça particular distributiva: desvela a igualdade na devida proporção. São as ações da sociedade política com seus membros. Igualdade proporcional.
2.2. Justiça particular corretiva: regula as relações entre cidadãos e usa o critério do justo meio ou igualdade matemática. Subdivide-se em: comutativa e reparativa ou judicial. Igualdade matemática.
2.2.1. Justo particular comutativa ou sinalagmáticas: âmbito das relações contratuais - voluntárias;
2.2.2. Justo particular reparativo ou judicial: âmbito das relações involuntárias – repara-se um dano indevidamente provocado.
O que podemos inferir da classificação ofertada por Aristóteles?
Depois de uma análise cuidadosa da excelência moral, é interessante observar como Aristóteles distinguiu duas classes de justiça: a universal e a particular. A justiça universal significa a justiça em sentido amplo que pode ser definida como conformidade ao nomos (norma jurídica, costume, convenção social, tradição). Esta norma constituinte do nomos é dirigida a todos, e assim sendo toda ação deve corresponder a um tipo de justo que é o justo legal. O membro da polis se relaciona com todos os demais, ainda que virtualmente, e compartilha com todos os efeitos de sua atitude ou omissão. A justiça universal ressalta a importância da legalidade como um dos aspectos que fundamenta a coesão social. Logo a comunidade existe virtualmente na pessoa de cada membro, e o homem virtuoso é aquele cujo agir necessariamente observa o princípio neminem laedere (não prejudique a ninguém). 
Podemos observar, então, que o justo pressupõe uma igualdade que deve considerar que se as pessoas não forem iguais, não terão participação igual, pois “aquilo que é distribuído às pessoas deve sê-lo de acordo com o mérito de cada uma (...), embora nem todos indiquem a mesma espécie de mérito” (EN, Livro 5:3). Ao justo liga-se o sentido de proporcionalidade que, segundo o autor, “a proporção é uma igualdade de razões(EN, Livro 5:3).
A justiça corretiva, justiça nas relações privadas desvela um tipo de igualdade numa proporção diferente, numa proporção aritmética. Vamos ver um exemplo?
Aristóteles nos oferece um exemplo para justiça corretiva e sua igualdade na proporção aritmética:
Com efeito, é irrelevante seuma pessoa boa lesa uma pessoa má, ou se uma pessoa má lesa uma pessoa boa, ou se é uma pessoa boa ou má que comete adultério; a lei contempla somente o aspecto distintivo da justiça, e trata as partes como iguais, perguntando somente se uma das partes cometeu e a outra sofreu a injustiça, e se uma infligiu e a outra sofreu um dano. (...) o juiz tenta restabelecer a igualdade, pois também no caso (...) e o juiz tenta igualizar as coisas por meio da penalidade, subtraindo do ofensor o excesso do ganho” (EN, Livro 5:4)
 a justiça corretiva, portanto, será o meio-termo entre perda e ganho. É por isto que, quando ocorrem disputas, as pessoas recorrem a um juiz, e ir ao juiz é ir à justiça, porque se quer que o juiz seja como se fosse a justiça viva; e elas procuram o juiz no pressuposto de que ele é uma pessoa equidistante, e em algumas cidades os juízes são chamados de mediadores, no pressuposto de que, se as pessoas obtêm o meio-termo, elas obtêm o que é justo (EN, Livro 5:4).
O justo particular apresenta-se em duas formas distintas: o justo particular distributivo que assinala a justiça distributiva e o justo particular corretivo que apresenta a justiça corretiva. A idéia de justiça distributiva surge no sentido de igualdade na devida proporção. Essa modalidade de justiça regula as ações da sociedade política com seus membros e tem por objeto a justa distribuição dos bens públicos: honras, riquezas, encargos sociais e obrigações. Essa prática também se fundamenta na igualdade que não se confunde com uma igualdade matemática e rígida, mas proporcional na medida em que observa o dever de dar a cada um o que lhe é devido; observa os dotes naturais do cidadão, sua dignidade, o nível de suas funções, sua formação e posição na hierarquia organizacional da polis. O princípio de igualdade que figura neste tipo de justiça exige uma desigualdade de tratamento, pois sendo diferentes segundo o mérito, os benefícios a serem atribuídos também devem ser diferentes. 
 
A outra modalidade de justiça particular é a justiça corretiva ou sinalagmática, que se divide em comutativa e judicial. Trata-se de um tipo de justiça que regula as relações entre cidadãos e utiliza o critério do justo meio aritmético ou igualdade. Observa-se que este tipo não focaliza em primeiro plano as pessoas, mas sim as coisas. Medem-se os benefícios ou prejuízos que as pessoas podem experimentar, ou seja, as coisas e os atos no seu valor efetivo. Nos casos de ações que geram constrangimento para uma das partes, caberá ao juiz restabelecer a igualdade rompida através de uma sentença. Quando há a vontade dos interessados como elemento principal, chama-se justo comutativo (sinalagma) e, quando por decisão do juiz a vontade de um deles é contrariada, como o caso dos crimes, chama-se justo judicial ou justo reparativo. Neste último caso, o sujeito de uma injustiça é sancionado a reparar o dano provocado indevidamente a outrem. Pode-se perceber que o princípio de igualdade que figura em seu pensamento recorda as especulações pitagóricas acerca da justiça.
O justo político
Segundo o pensamento político-jurídico de Aristóteles, a idéia de justiça política se refere aquela que organiza a vida comunitária e que, em particular, deve observar o processo deliberativo social. Nesse sentido, o justo político abrange duas outras formas de justiça: o justo natural e o justo legal. O justo natural significa o que será sempre o mesmo em toda parte, independe da vontade humana, ou melhor, para existir não precisa de qualquer decisão ou ato de positividade. O justo legal, que em princípio poderia ser cumprido de maneiras diferentes, passa a ser obrigatório por ser assumido pelo nomos vigente em uma polis. Esse tipo de justo decorre do ato legislativo e configura-se no conjunto de disposições vigentes na polis. Tanto o justo natural como o justo legal constituem a ordem normativa da cidade. O justo natural é constituído por noções e princípios comuns que encontram fundamento na própria natureza racional do homem. Há uma lei natural ou direito natural que desvela a natureza da comunidade política. O ponto de partida é o princípio da naturalidade da sociedade política; o homem, animal político é chamado a viver na polis por força de sua própria essência, e dessa forma sendo a cidade-estado uma realidade natural, exige-se, logicamente, que toda relação política esteja vinculada aos preceitos da razão, da legalidade e da igualdade. 
 
O justo legal encontra sua origem no justo natural. Essa relação se esclarece quando se percebe que se caminha do geral para o particular, ou seja, um princípio geral pode acarretar uma lei específica. O princípio neminem laedere que significa que não devemos prejudicar as pessoas, um preceito da justiça natural, pode ser positivado em norma que prevê uma punição para atos como o homicídio, a injúria e etc. Os conflitos entre preceitos jurídicos legais e jurídicos naturais, segundo Aristóteles, não deveriam invalidar a ordem jurídica da polis, exceto em um sistema corrompido. Por isso que a eventual tensão entre a generalidade abstrata da lei e a singularidade concreta dos casos reais era mediada pela equidade (epieikéia), em atenção à justiça natural. 
O justo político divide-se em justo natural e justo legal.
Justo natural: é universal, mutável. São noções, princípios que estão na natureza racional do homem. A lei natural para Aristóteles decorre da naturalidade da sociedade política e do homem. A natureza é um princípio dinâmico.
2. Justo legal: é restrito à pólis, decorre da vontade humana legisladora.
A justiça política é em parte natural e em parte legal; são naturais as coisas que em todos os lugares têm a mesma força e não dependem de as aceitarmos ou não, (...). As coisas que são justas apenas por convenção e conveniência são como se fossem instrumentos de medição; (...) não são as mesmas em todos os lugares (EN, Livro 5:7).
E a equidade?
 Segundo Aristóteles, justiça e equidade representam a mesma coisa, embora considere a equidade algo melhor. O que quis dizer? Observou que o justo é o equitativo, mas não o justo segundo a lei, e “sim um corretivo da justiça legal”. Como assim? 
Para ele, “A razão é que toda lei é de ordem geral, mas não é possível fazer uma afirmação universal que seja correta em relação a certos casos particulares”. Então falha em algumas circunstâncias! Acrescenta: “Quando a lei estabelece uma regra geral, e aparece em sua aplicação um caso não previsto por esta regra, então é correto, onde o legislador é omisso e falhou por excesso de simplificação, suprir a omissão, dizendo o que o próprio legislador diria se estivesse presente. (...) Então o equitativo é, por sua natureza, uma correção da lei onde esta é omissa devido à sua generalidade” (EN, Livro 5:10).
A equidade é pensada, portanto, como forma corretiva da justiça legal quando esta engendra certa injustiça pela própria generalidade de seus preceitos normativos. Conforme esse princípio, o julgador coloca-se como legislador, e opera a adaptação da lei ao caso concreto, portanto, o julgador assumindo a postura do legislador torna-se um homem preocupado com a correção ética da justiça, um homem équo, definido como aquele que não é rigoroso na aplicação da justiça, quando esta se configura como a pior solução, mas que fundamenta seus juízos nos preceitos de uma ação justa racional. 
Para Aristóteles, “a ordem é a lei e o governo da lei é preferível ao de qualquer cidadão, porque a lei é a razão sem apetites”, pondera Aristóteles na Política. Se o objetivo da atividade humana é a vida na polis, esta deve ser anterior ao indivíduo. Aristóteles assevera que há no homem um impulso social que se desvela primeiramente na família, em seguida na aldeia, até alcançar a estrutura equivalente a uma polis. A cidade é por sua natureza uma unidade na diversidade, cuja lei escrita ou não escrita, o nomos, surge da experiência citadina e, portanto, é intrinsecamente superior a qualquer decisão individual por mais sábia que seja. Por ser o nomos,a razão desprovida de paixão, deve ser a suprema autoridade da sociedade política, e no Direito da polis há elementos naturais e permanentes, convencionais e mutáveis, pois sendo a razão comum a todos os homens, todos serão iguais, até porque o nomos é razão que realiza a igualdade jurídica formal. Destarte a lei comum seria uma lei natural-original, tendo validade geral, independente da opinião dos homens.
Concluindo...
Compreendeu o homem como bio politikós, por natureza, sendo a comunidade a sua lugar natural. A sociedade é o locus da ética.
O conhecimento ético para ele é aquele que trata do justo e do injusto, do bom e do mal e, nesse sentido, sua ética investiga o fim da ação humana.
Destacou o valor do hábito na educação ética: Ética - ethos – hábito (reiteração da prática virtuosa). Ser justo significa praticar reiteradamente atos voluntários de justiça.
Excelência: não é um estado da alma, nem faculdade, mas qualidade do caráter internalizada pela educação, até que se torne hábito.
A pólis é uma realidade natural. Há intrínseca relação entre razão, lei e igualdade, pois a razão comum a todos os homens permite a igualdade jurídica.
A justiça é a excelência mais completa exatamente porque sintetiza as outras excelências. Ela é ao mesmo tempo individual e coletiva. Não há possibilidade de ser justo comigo mesmo sem ser justo com o outro (CHALITA, 2003, p. 107)
Mandamentos da Ética de Aristóteles (CHALITA, 2003)
Fazer o bem
Agir com moderação
Saber escolher
Praticar as virtudes
Viver a justiça
Valer-se da razão
Valer-se do coração
Ser amigo
Cultivar o amor
Ser feliz 
Referências
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1996. Col. Os Pensadores.
______. Política. Brasília: UNB, 1997.
CHALITA, G. Os dez mandamentos da ética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
HÖFFE, O. Aristóteles. Porto Alegre: Artmed, 2008.
MARCONDES, D. Iniciação á história da Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
MASCARO, A. L. Filosofia do direito. São Paulo: Atlas, 2010.
NADER, Paulo. Filosofia do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2003. 
PETRUCCIANI, S. Modelo de filosofia política. Buenos Aires: Amorrortu, 2008.
SALGADO, Joaquim C. A Idéia de Justiça em Kant. Belo Horizonte: UFMG, 1995. 
TROTTA, W.; OLIVEIRA, Clara Maria C. B. de. A dimensão política segundo Platão e a crítica de Aristóteles. In: Achegas.net – Revista de Ciência Política. Disponível em: <http://www.achegas.net/numero/32/clara_e_trotta_32.pdf> Acesso em: 24 ago 2011.

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