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CCJ0043-WL-B-AMRP-04-Aristóteles - O Sentido Polissêmico de Justiça

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1 
 
AULA 4 – Filosofia Geral e Jurídica 
Título da unidade:Fundamentos para uma Filosofia Jurídica 
Tema: Aristóteles: o sentido polissêmico de justiça (legalidade e equidade). 
Professor(a): Clara Brum 
 
Objetivos: 
 
Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de: 
 
 Conhecer em linhas gerais a importância de Aristóteles para tradição Filosófica; 
 Estudar os conceitos de igualdade, proporcionalidade, equidade, justiça distributiva 
e corretiva; 
 
Nesta aula estudaremos um dos filósofos mais importantes para a Ciência, a partir de uma 
breve apresentação de sua contribuição para o pensamento científico, compreenderemos a 
relação com o seu antecessor, Platão. Em seguida, verificaremos que Aristóteles elaborou duas 
obras fundamentais ao Direito: Ética a Nicômaco e Política. 
 
Ao contrário de Platão, não define o direito a partir da idéia de justiça, mas define a justiça em 
função do direito, sendo possível no interior da polis (definir este conceito. Polis ou cidade-
estado: nova forma de convivência centrada na ágora (praça pública) para o debate sobre 
interesses comuns. Neste contexto, surge a figura do cidadão, aquele que fazendo uso público 
de sua razão, delibera conjuntamente aos seus pares os destinos da cidade). Segundo o 
entendimento de Aristóteles, a política é ciência da felicidade humana, uma ciência prática 
que busca o conhecimento como meio para a ação e que se divide em ética e política. A 
felicidade, em seu modo de ver, significa certa maneira de viver específica do homem, ser 
social por natureza, destinado a desenvolver suas potencialidades na vida em sociedade. 
Segundo Paulo Nader (2003, p. 110) “Diferentemente de seu mestre, que situava as questões 
filosóficas em um plano de profunda abstração, Aristóteles procurava ligar-se mais aos fatos 
empíricos”. 
 
Vamos investigar a importância de Aristótelespara tradição Filosófica? 
Segundo Alysson Leandro Mascaro (2010, p. 63),o pensamento de Aristóteles (384-322 a.C.) 
representou o apogeu da filosofia grega e nos ofertou uma importante reflexão jusfilosófica 
sobre o direito e justiça.Foi discípulo de Platão, mas amenizou seu idealismo, quando 
introduziu a “experiência” em seu método. Era estrangeiro em Atenas, o que se desvela num 
pensamento político mais ponderado. 
Após seguir Platão por longos anos, bem como sua experiência como tutor de Alexandre da 
Macedônia, retornou a Atenas e fundou o seu Liceu, sua escola, para uma reflexão sobre 
diversas áreas de saber. Assim, foi denominado o sistematizador detoda a filosofia: Lógica, 
Biologia, Botânica, Zoologia, Sociologia, Ética, Política etc(MASCARO, 2010, p. 64). 
2 
 
Segundo Mascaro (2010, p. 64), Aristóteles pode ser considerado um dos maiores pensadores 
na área do direito e justiça. Em seu pensamento encontramos um estudo sistemático sobre 
várias constituições conhecidas em sua época e, assim, pode formular seu próprio projeto de 
constituição. Todavia,sua reflexão jurídico-política mais expressiva está contida na obra Ética a 
Nicômaco (Livro V) que para muitos estudiosos é a maior expressão do pensamento jurídico do 
mundo antigo.Destaque-se que há reflexões importantes sobre questões jurídicas nas obras 
Política e Retórica. Nesta última quando observa a argumentação jurídica. 
Segundo Mascaro (2010, p. 65), a grande excepcionalidade da filosofia do direito de Aristóteles 
se revela pela sua sistematização filosófica da justiça. As partes iniciais do Livro V da Ética a 
Nicômaco estão voltadas a essa questão. 
SegundoStefano Petrucciani (2008, p. 59), ao se referir ao pensamento de Aristóteles (E.N., I 
2, 1094b), observa que tanto para ele como para Platão, o bem é o objeto primeiro de uma 
reflexão sobre a política. Por quê? Porque o bem individual quando consiste na atividade da 
alma conforme a virtude, se afigura no horizonte da relação com os demais, ou seja, com o 
coletivo. Assim, procurar o bem “de uma pessoa é algo desejável, mas mais perfeito e divino 
consegui-lo para um povo e para cidades”. Trata-se de um bem pertinente à alma. 
É importante apresentar em linhas gerais o conteúdo do livro Política como o estudo das 
constituições das poleis.A obra está dividida em três partes, a saber: os livros I, II e III, que 
tratam da teoria do Estado em geral e da classificação das várias espécies de constituições; os 
livros IV, V e VI, em que se analisa a política prática, ou seja, estuda a natureza das 
constituições existentes e dos princípios para seu bom funcionamento; e os livros VII e VIII, em 
que se examina a política ideal. 
Na obra Ética a Nicômaco [A Ética a Nicômaco ou Nicomaquéia foi assim chamada por ter sido, 
provavelmente editada por Nicômaco, filho de Aristóteles. Ética a Eudemo, por ter sido 
editada ou redigida pelo seu discípulo deste nome, uma refundição da anterior. A Grande Ética 
ou Ética Maior, um resumo posterior (TRUYOL Y SERRA, p.132).] aprofunda os ensinamentos 
que retira de Platão (República), elabora sua teoria ética a partir das estruturas morais 
vigentes na comunidade grega do séc. V a.C. De um modo geral, podemos dizer que a sua 
teoria apresenta o procedimento do homem prudente como um valor, cuja opinião da 
experiência da vida e os costumes da cidade são condições objetivas para se filosofar 
politicamente. 
Diferentemente de Platão, Aristóteles humanizou o fim último na medida em que o tornou 
terreno, por isso, o ético em Aristóteles é entendido a partir do ethos (do costume), da 
maneira concreta de viver vigente na sociedade. 
 
O bem como felicidade 
O bem para o homem é a felicidade! 
Toda a arte e toda a indagação, assim como toda ação e todo 
propósito, visam a algum bem. (...) Parece que a felicidade, mais 
3 
 
que qualquer outro bem, é tida como este bem supremo, pois a 
escolhemos sempre por si mesma, e nunca por causa de algo 
mais(Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro 1:1-7). 
Para o pensador todas as atividades humanas visam a um bem e o estudo desse bem deve ser 
feito pela ciência do bem que é a Política. Admite, assim, quepara o ser humano, o bem é a 
felicidade. Esse bem deve ser final e autossuficiente – o bem supremo. Os seres humanos 
procuram muitos bens, mais o mais honrado é a felicidade, o objetivo da vida política. A 
felicidade é o fim a que visam as ações, disse Aristóteles!! 
Nesse contexto, qual a função própria do homem? 
Excluamos, portanto, as atividades vitais de nutrição e crescimento 
(...). Resta, então, a atividade vital do elemento racional do homem. 
Então, se a função do homem é uma atividade da alma por via da 
razão e conforme a ela, (...) o bem para o homem vem a ser o 
exercício ativo das faculdades da alma de conformidade com a 
excelência (Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro 1:8). 
Para Aristóteles,o homem feliz vive bem e se conduz bem na vida e neste ponto relacionou 
felicidade e excelência [virtude]. Assim, uma vida conforme a excelência é uma vida agradável 
em si. Acreditou, ainda que algumas coisas, cuja falta pode empanar a felicidade: boa estirpe, 
bons filhos, beleza...[ele era um homem de seu tempo]. 
Podemos aprender a ser felizes? Decorre do hábito? Da providência divina? Da sorte? 
Para Aristóteles, a felicidade parece estar entre as coisas mais divinas [perfeitas] e pressupõe 
uma excelência perfeita e uma existência completa. Para ele, a felicidade é algo permanente, 
não facilmente sujeito à mudança. Decorre da nossa atividade conforme à excelência, esta sim, 
dotada de permanência. Seráfeliz o homem engajado na prática constante do que é conforme 
à excelência. 
(...) as atividades de uma pessoa são um fator determinante na vida, 
(...) ela nunca praticará ações odiosas ou ignóbeis, pois sustentamos 
que as pessoas realmente boas e sábias suportarão todos os tipos de 
vicissitudes, e sempre agirão de maneira mais nobilitante possível 
(Aristóteles, Éticaa Nicômaco, Livro 1:10). 
Mas o que é excelência (virtude) em Aristóteles? 
 (...) há duas espécies de excelência [virtude]: a intelectual e a moral. 
Em grande parte a excelência intelectual deve tanto o seu 
nascimento quanto o seu crescimento à instrução (por isto ela requer 
experiência e tempo); quanto à excelência moral, ela é o produto do 
hábito, razão pela qual seu nome é derivado, com uma ligeira 
variação, da palavra ‘hábito’. É evidente, portanto, que nenhuma das 
várias formas de excelência moral se constitui em nós por natureza, 
pois nada que existe por natureza pode ser alterado pelo hábito. (...) 
4 
 
mas a natureza nos dá a capacidade de recebê-la, e esta capacidade 
se aperfeiçoa com o hábito (Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro 2). 
Neste aspecto, interessa mencionar que a sua ética compreende duas categorias de 
excelências (virtudes): as morais, fundamentadas na vontade, e as intelectuais, baseadas na 
razão. Como exemplo de excelências morais: a coragem, a generosidade, a magnificência, a 
doçura, a amizade e a justiça. As intelectuais ou dianoéticas [Diánoia: entendimento. Em 
Aristóteles é usada como um termo geral para atividade intelectual. Noético (gr) relativo ao 
pensamento; noetikos – inteligente.] são: a sabedoria, a temperança, a inteligência e a 
verdade. Para este pensador, uma ação pode ser considerada como justa quando realiza o 
equilíbrio das virtudes morais e quando alcança as virtudes intelectuais. 
E neste ponto, o objetivo da ação moral é a justiça, assim como, a verdade é o objetivo da ação 
intelectual. Em sentido lato, a justiça (Ética a Nicômaco, Livro 5) configura o exercício de todas 
as virtudes, observando-se a instância da alteridade, ao passo que em sentido estrito, 
encontra-se como uma virtude ética que implica o princípio da igualdade. Assim a justiça 
aparece como um valor ético que se desvela em nossos atos, logo “toda virtude e toda técnica 
nascem e se desenvolvem pelo exercício” (SALGADO, 1995, p. 33). 
 
As duas categorias de excelência (virtude), a saber: 
1. As excelências morais: coragem, generosidade, moderação, doçura, amizade e justiça. 
É produto do hábito e exige a prática, o que difere a boa constituição da má. Nossas 
disposições morais resultam de nossas atividades. Denotam o meio-termo! (Livros 2 e 
3) 
2. As excelências intelectuais: a sabedoria, a temperança, a inteligência e a verdade. 
Decorrem da instrução. (Livro 6) 
Vamos investigar o que ele entendeu por excelência moral? 
o homem que evita e teme tudo e não enfrenta coisa alguma torna-
se um covarde; em contraste, o homem que nada teme e enfrenta 
tudo torna-se temerário; da mesma forma, o homem que se entrega 
a todos os prazeres e não se abstém de qualquer deles torna-se 
concupiscente, enquanto o homem que evita todos os prazeres (...), 
torna-se de certo modo insensível; a moderação e a coragem, 
portanto, são destruídas pela deficiência e pelo excesso, e 
preservadas pelo meio-termo(Ética a Nicômaco, Livro 2:1-2). 
 
A excelência é o meio-termo 
Para este pensador excelência é o meio-termo: 
5 
 
É possível errar de várias maneiras (...), ao passo que só é possível 
acertar de uma maneira (também por esta razão é fácil errar e difícil 
acertar – fácil errar o alvo, e difícil acertar nele);também é por isso 
que o excesso e a falta são características da deficiência moral, e o 
meio termo é uma característica da excelência moral (Aristóteles, 
Ética a Nicômaco, Livro 2:6). 
A virtude [excelência], em Aristóteles, significa ação. Significa uma prática, e não uma 
natureza. O homem virtuoso, portanto, é o homem ativo, que aprendeu pela prática a 
desempenhar um papel social dentro da sua comunidade; ele é o homem político. (...) o 
Estado só é bom se seus cidadãos forem virtuosos (CHALITA, 2003, p. 32). 
E meio-termo??? 
Aristóteles (Ética a Nicômaco, Livro 2: 6) explica que: 
Por meio-termo quero significar aquilo que é equidistante em relação 
a cada um dos extremos, e que é único e o mesmo em relação a 
todos os homens; por meio-termo ‘em relação a nós’ quero significar 
aquilo que não é nem demais nem muito pouco, e isto não é único 
nem o mesmo para todos. 
Podemos dizer que para este pensador a excelência moral pressupõe que a ação seja praticada 
mediante escolha. Escolha que é resultado de uma deliberação, que é racional. Isto significa 
dizer que somos responsáveis por nossas más escolhas!!! 
Partindo da excelência moral, como podemos conceber a justiça? Que espécie de meio-
termo é a justiça? 
No livro 5 da Ética a Nicômaco, Aristóteles observou que: 
a justiça é a disposição da alma graças à qual elas se dispõem a fazer 
o que é justo, a agir justamente e a desejar o que é justo; de maneira 
idêntica, diz-se que a injustiça é a disposição da alma graças à qual 
elas agem injustamente e desejam o que é injusto (5:1) 
E mais! 
 Então a justiça neste sentido é a excelência moral perfeita, embora 
não o seja de modo irrestrito, mas em relação ao próximo. Portanto, 
a justiça é frequentemente considerada a mais elevada forma de 
excelência moral, e ‘nem a estrela vespertina nem a matutina é tão 
maravilhosa’; e também se diz proverbialmente que: na justiça se 
resume toda a excelência (Ética a Nicômaco, Livro 5:1) 
Por que a justiça é a forma perfeita de excelência moral? 
Por que é perfeita? 
6 
 
Porque para o pensador ela representa a prática efetiva da excelência moral. A perfeição está 
no fatode as pessoas justas poderem praticá-la não somente em relação a si mesmas, mas em 
relação ao próximo. É nesse sentido que a denomina de o “bem dos outros”.O melhor dos 
homens não é aquele quepensa apenas em relação a si mesmo, mas em relação aos outros.O 
justo é visto como o igual. O igual é o meio-termo que pressupõe dois elementos que devem 
estar entre dois extremos. 
Como classificoua Justiça? 
1. Justiça universal ou total: justiça no sentido amplo, conformidade ao nomos (erga 
omnes) – legalidade como garantia da coesão social. 
2. Justiça particular: hábito de realizar a igualdade. Divide-se em justo particular 
distributivo e corretivo. 
2.1. Justiça particular distributiva:desvela a igualdade na devida proporção. São 
as ações da sociedade política com seus membros. Igualdade proporcional. 
2.2. Justiça particular corretiva: regula as relações entre cidadãos e usa o critério 
do justo meio ou igualdade matemática. Subdivide-se em: comutativa e reparativa 
ou judicial. Igualdade matemática. 
2.2.1. Justo particular comutativa ou sinalagmáticas: âmbito das relações 
contratuais - voluntárias; 
2.2.2. Justo particular reparativo ou judicial: âmbito das relações 
involuntárias – repara-se um dano indevidamente provocado. 
O que podemos inferir da classificação ofertada por Aristóteles? 
Depois de uma análise cuidadosa da excelência moral, é interessante observar como 
Aristóteles distinguiu duas classes de justiça: a universal e a particular. A justiça universal 
significa a justiça em sentido amplo que pode ser definida como conformidade ao nomos 
(norma jurídica, costume, convenção social, tradição). Esta norma constituinte do nomos é 
dirigida a todos, e assim sendo toda ação deve corresponder a um tipo de justo que é o justo 
legal. O membro da polis se relaciona com todos os demais, ainda que virtualmente, e 
compartilha com todos os efeitos de sua atitude ou omissão. A justiça universal ressalta a 
importância da legalidade como um dos aspectos que fundamenta a coesão social. Logo a 
comunidade existe virtualmente na pessoa de cada membro, e o homem virtuoso é aquele 
cujo agir necessariamente observa o princípio neminemlaedere (não prejudique a ninguém). 
 
Podemos observar, então, que o justo pressupõe uma igualdade que deve considerar que seas 
pessoas não forem iguais, não terão participação igual, pois “aquilo que é distribuídoàs 
pessoas deve sê-lo de acordo com o mérito de cada uma (...), embora nem todos indiquem a 
mesma espécie de mérito” (EN, Livro 5:3).Ao justo liga-se o sentido de proporcionalidade que, 
segundo o autor, “a proporção é uma igualdade de razões(EN, Livro 5:3). 
7 
 
A justiça corretiva, justiça nas relações privadas desvela um tipo de igualdade numa proporção 
diferente, numa proporção aritmética. Vamos ver um exemplo? 
Aristóteles nos oferece um exemplo para justiça corretiva e sua igualdade na proporção 
aritmética: 
Com efeito, é irrelevante se uma pessoa boa lesa uma pessoa má, ou 
se uma pessoa má lesa uma pessoa boa, ou se é uma pessoa boa ou 
má que comete adultério; a lei contempla somente o aspecto 
distintivo da justiça, e trata as partes como iguais, perguntando 
somente se uma das partes cometeu e a outra sofreu a injustiça, e se 
uma infligiu e a outra sofreu um dano. (...) o juiz tenta restabelecer a 
igualdade, pois também no caso (...) e o juiz tenta igualizar as coisas 
por meio da penalidade, subtraindo do ofensor o excesso do ganho” 
(EN, Livro 5:4) 
a justiça corretiva, portanto, será o meio-termo entre perda e ganho. 
É por isto que, quando ocorrem disputas, as pessoas recorrem a um 
juiz, e ir ao juiz é ir à justiça, porque se quer que o juiz seja como se 
fosse a justiça viva; e elas procuram o juiz no pressuposto de que ele 
é uma pessoa equidistante, e em algumas cidades os juízes são 
chamados de mediadores, no pressuposto de que, se as pessoas 
obtêm o meio-termo, elas obtêm o que é justo (EN, Livro 5:4). 
O justo particular apresenta-se em duas formas distintas: o justo particular distributivo que 
assinala a justiça distributiva e o justo particular corretivo que apresenta a justiça corretiva. A 
idéia de justiçadistributiva surge no sentido de igualdade na devida proporção. Essa 
modalidade de justiça regula as ações da sociedade política com seus membros e tem por 
objeto a justa distribuição dos bens públicos: honras, riquezas, encargos sociais e obrigações. 
Essa prática também se fundamenta na igualdade que não se confunde com uma igualdade 
matemática e rígida, mas proporcional na medida em que observa o dever de dar a cada um o 
que lhe é devido; observa os dotes naturais do cidadão, sua dignidade, o nível de suas funções, 
sua formação e posição na hierarquia organizacional da polis. O princípio de igualdade que 
figura neste tipo de justiça exige uma desigualdade de tratamento, pois sendo diferentes 
segundo o mérito, os benefícios a serem atribuídos também devem ser diferentes. 
 
A outra modalidade de justiça particular é a justiçacorretiva ou sinalagmática, que se divide 
em comutativa e judicial. Trata-se de um tipo de justiça que regula as relações entre cidadãos 
e utiliza o critério do justo meio aritmético ou igualdade. Observa-se que este tipo não focaliza 
em primeiro plano as pessoas, mas sim as coisas. Medem-se os benefícios ou prejuízos que as 
pessoas podem experimentar, ou seja, as coisas e os atos no seu valor efetivo. Nos casos de 
ações que geram constrangimento para uma das partes, caberá ao juiz restabelecer a 
igualdade rompida através de uma sentença. Quando há a vontade dos interessados como 
elemento principal, chama-se justo comutativo (sinalagma) e, quando por decisão do juiz a 
vontade de um deles é contrariada, como o caso dos crimes, chama-se justo judicial ou justo 
reparativo. Neste último caso, o sujeito de uma injustiça é sancionado a reparar o dano 
8 
 
provocado indevidamente a outrem. Pode-se perceber que o princípio de igualdade que figura 
em seu pensamento recorda as especulações pitagóricas acerca da justiça. 
 
O justo político 
Segundo o pensamento político-jurídico de Aristóteles, a idéia de justiça política se refere 
aquela que organiza a vida comunitária e que, em particular, deve observar o processo 
deliberativo social. Nesse sentido, o justo político abrange duas outras formas de justiça: o 
justo natural e o justo legal. O justo natural significa o que será sempre o mesmo em toda 
parte, independe da vontade humana, ou melhor, para existir não precisa de qualquer decisão 
ou ato de positividade. O justo legal, que em princípio poderia ser cumprido de maneiras 
diferentes, passa a ser obrigatório por ser assumido pelo nomos vigente em uma polis. Esse 
tipo de justo decorre do ato legislativo e configura-se no conjunto de disposições vigentes na 
polis. Tanto o justo natural como o justo legal constituem a ordem normativa da cidade. O 
justo natural é constituído por noções e princípios comuns que encontram fundamento na 
própria natureza racional do homem. Há uma lei natural ou direito natural que desvela a 
natureza da comunidade política. O ponto de partida é o princípio da naturalidade da 
sociedade política; o homem, animal político é chamado a viver na polis por força de sua 
própria essência, e dessa forma sendo a cidade-estado uma realidade natural, exige-se, 
logicamente, que toda relação política esteja vinculada aos preceitos da razão, da legalidade e 
da igualdade. 
 
O justo legal encontra sua origem no justo natural. Essa relação se esclarece quando se 
percebe que se caminha do geral para o particular, ou seja, um princípio geral pode acarretar 
uma lei específica. O princípio neminemlaedere que significa que não devemos prejudicar as 
pessoas, um preceito da justiça natural, pode ser positivado em norma que prevê uma punição 
para atos como o homicídio, a injúria e etc. Os conflitos entre preceitos jurídicos legais e 
jurídicos naturais, segundo Aristóteles, não deveriam invalidar a ordem jurídica da polis, 
exceto em um sistema corrompido. Por isso que a eventual tensão entre a generalidade 
abstrata da lei e a singularidade concreta dos casos reais era mediada pela equidade 
(epieikéia), em atenção à justiça natural. 
 
O justo político divide-se em justo natural e justo legal. 
1. Justo natural:é universal, mutável. São noções, princípios que estão na natureza 
racional do homem. A lei natural para Aristóteles decorre da naturalidade da 
sociedade política e do homem. A natureza é um princípio dinâmico. 
2. Justo legal:é restrito à pólis, decorre da vontade humana legisladora. 
A justiça política é em parte natural e em parte legal; são naturais as 
coisas que em todos os lugares têm a mesma força e não dependem 
de as aceitarmos ou não, (...). As coisas que são justas apenas por 
convenção e conveniência são como se fossem instrumentos de 
medição; (...) não são as mesmas em todos os lugares (EN, Livro 5:7). 
9 
 
E a equidade? 
 Segundo Aristóteles, justiça e equidade representam a mesma coisa, embora considere a 
equidade algo melhor. O que quis dizer? Observou que o justo é o equitativo, mas não o justo 
segundo a lei, e “sim um corretivo da justiça legal”. Como assim? 
Para ele, “A razão é que toda lei é de ordem geral, mas não é possível fazer uma afirmação 
universal que seja correta em relação a certos casos particulares”. Então falha em algumas 
circunstâncias! Acrescenta: “Quando a lei estabelece uma regra geral, e aparece em sua 
aplicação um caso não previsto por esta regra, então é correto, onde o legislador é omisso e 
falhou por excesso de simplificação, suprir a omissão, dizendo o que o próprio legislador diria 
se estivesse presente. (...) Então o equitativo é, por sua natureza, uma correção da lei onde 
esta é omissa devido à sua generalidade” (EN, Livro 5:10). 
A equidade é pensada, portanto, como forma corretiva da justiça legal quando esta engendra 
certa injustiça pela própria generalidade de seus preceitos normativos. Conforme esse 
princípio, o julgador coloca-se como legislador, e opera a adaptação da lei ao caso concreto, 
portanto, o julgador assumindo a postura do legislador torna-se um homem preocupado com 
a correção ética da justiça, um homem équo, definido como aquele que não é rigoroso na 
aplicaçãoda justiça, quando esta se configura como a pior solução, mas que fundamenta seus 
juízos nos preceitos de uma ação justa racional. 
 
Para Aristóteles, “a ordem é a lei e o governo da lei é preferível ao de qualquer cidadão, porque 
a lei é a razão sem apetites”, pondera Aristóteles na Política. Se o objetivo da atividade 
humana é a vida na polis, esta deve ser anterior ao indivíduo. Aristóteles assevera que há no 
homem um impulso social que se desvela primeiramente na família, em seguida na aldeia, até 
alcançar a estrutura equivalente a uma polis. A cidade é por sua natureza uma unidade na 
diversidade, cuja lei escrita ou não escrita, o nomos, surge da experiência citadina e, portanto, 
é intrinsecamente superior a qualquer decisão individual por mais sábia que seja. Por ser o 
nomos, a razão desprovida de paixão, deve ser a suprema autoridade da sociedade política, e 
no Direito da polis há elementos naturais e permanentes, convencionais e mutáveis, pois 
sendo a razão comum a todos os homens, todos serão iguais, até porque o nomos é razão que 
realiza a igualdade jurídica formal. Destarte a lei comum seria uma lei natural-original, tendo 
validade geral, independente da opinião dos homens. 
 
 
Concluindo... 
• Compreendeu o homem como biopolitikós, por natureza, sendo a comunidade a sua 
lugar natural. A sociedade é o locus da ética. 
• O conhecimento ético para ele é aquele que trata do justo e do injusto, do bom e do 
mal e, nesse sentido, sua ética investiga o fim da ação humana. 
10 
 
• Destacou o valor do hábito na educação ética: Ética- ethos – hábito (reiteração da 
prática virtuosa). Ser justo significa praticar reiteradamente atos voluntários de justiça. 
• Excelência: não é um estado da alma, nem faculdade, mas qualidade do caráter 
internalizada pela educação, até que se torne hábito. 
• A pólis é uma realidade natural. Há intrínseca relação entre razão, lei e igualdade, pois 
a razão comum a todos os homens permite a igualdade jurídica. 
 
A justiça é a excelência mais completa exatamente porque sintetiza 
as outras excelências. Ela é ao mesmo tempo individual e coletiva. 
Não há possibilidade de ser justo comigo mesmo sem ser justo com o 
outro (CHALITA, 2003, p. 107) 
 
Mandamentos da Ética de Aristóteles(CHALITA, 2003) 
Fazer o bem 
Agir com moderação 
Saber escolher 
Praticar as virtudes 
Viver a justiça 
Valer-se da razão 
Valer-se do coração 
Ser amigo 
Cultivar o amor 
Ser feliz 
 
Referências 
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1996. Col. Os Pensadores. 
______. Política. Brasília: UNB, 1997. 
CHALITA, G. Os dez mandamentos da ética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. 
HÖFFE, O. Aristóteles. Porto Alegre: Artmed, 2008. 
MARCONDES, D. Iniciação á história da Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. 
MASCARO, A. L. Filosofia do direito. São Paulo: Atlas, 2010. 
NADER, Paulo. Filosofia do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2003. 
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