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1 Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica Caso concreto da aula: Caso 1 - O fato da violência no estado pré-jurídico e pós-jurídico 1. Em que situação, segundo Hobbes, há possibilidade de rompimento do contrato? 2. O retorno ao estado de natureza inviabiliza a existência de uma ordem jurídica? 3. O caso narrado caracteriza a incapacidade do Estado em manter a coesão e a ordem social? Se não, por quê? Se sim, que consequência prevê Hobbes para esta situação? AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica Caso concreto da aula: Caso 2 – Notícias STF Considerando o fato da violência urbana observada na notícia acima e a tese de Thomas Hobbes, responda: 1. O texto confirma as ideia de Hobbes sobre o homem no estado de natureza? Justifique. 2 . A solução hobbesiana poderia ser invoca nos dias de hoje? AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica A Filosofia do Direito Moderna marcou uma fase que se estende do Absolutismo ao movimento iluminista e revelou autores que influenciaram decisivamente esse momento histórico. Hobbes foi um deles. Como teórico do Absolutismo nos revela uma visão moderna que valoriza a racionalidade, liberta da fundamentação teológica. Vamos conhecê-lo? AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo Quando focalizamos o período moderno, pensamos numa filosofia do direito moderna que se estende do Séc. XV ao XVIII. Nessa fase, destacamos três movimentos importantes: 1.Renascimento; 2.Absolutismo ( Séc. XVI); 3.Iluminismo ( Séc. XVII e XVIII). ( MASCARO, 2010) AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo Segundo Alysson L. Mascaro (2010, p. 127-9), o período do Renascimento é marcado pelo debate teológico a partir do confronto entre católicos e protestantes. Neste cenário, a categoria liberdade assume lugar de destaque ao lado da retomada do clássicos gregos. O Renascimento representou a retomada dos clássicos e provocou um deslocamento do debate teológico para a questão da racionalidade, sendo conhecido também pelo nome de humanismo. AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo Neste momento, o homem é colocado no cerne do debate filosófico em rompimento com a tradição medieval. Mas a despeito dessa mudança de paradigma, alguns autores como Jean Bodin, por exemplo, resgataram em suas reflexões sobre o Estado algumas concepções que fortalecerão o advento do Absolutismo (MASCARO, 2010, p. 129-130). O que representou o Absolutismo nesta fase? AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo Segundo Mascaro, o Absolutismo representou uma solução político-jurídica interessante aos Reis. Resgatou-se a tese do poder temporal fundado no poder divino e que na Idade Média havia legitimado o poder do senhor feudal . Como contradição no interior do cenário renascentista, o Absolutismo legitima seu poder real com argumentos teológicos(MASCARO, 2010, p. 130-1). AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo Segundo Mascaro, o Absolutismo representou uma solução político-jurídica interessante aos Reis. Resgatou-se a tese do poder temporal fundado no poder divino e que na Idade Média havia legitimado o poder do senhor feudal . Como contradição no interior do cenário renascentista, o Absolutismo legitima seu poder real com argumentos teológicos(MASCARO, 2010, p. 130-1). Como ficou a Filosofia do Direito? AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo Ocorreu uma mudança de paradigma na Filosofia do Direito com a passagem da antiga percepção da filosofia voltada para a área da política prática, para o campo de uma fundamentação moral do poder (MASCARO, 2010). “O monarca não se justificava pela moralidade de cada um dos seus atos, mas sim por uma espécie de competência originária de poder que lhe era dado por Deus. O Absolutismo se afirma, então, teologicamente, como uma espécie de contrato de procuração ou mandato realizado entre Deus, o outorgante, e o Rei, o outorgado, com delegação total de poderes de um a outro” ( MASCARO, 2010, p. 131). AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo E a categoria “razão” resgatada pela tradição renascentista? O movimento iluminista, ou seja, movimento dos pensadores dos séc. XVII e XVIII, valorizaram a razão como a única possibilidade de leitura de mundo, uma razão oposta às crenças e costumes e se tornaram o contraponto ao Absolutismo (MASCARO, 2010, p. 133). A Filosofia do Direito e a Filosofia Política se tornam antiabsolutista. AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo Quais as características desse período moderno? 1. Surgimento e consolidação do capitalismo; 2. O Estado começa a ser exaltado; 3. Advento do individualismo e sua relação com interesse privado burguês; (MASCARO, 2010) AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo Segundo Mascaro (2010, p. 133-6), nesta fase o pensamento filosófico se envolve com o sentido do individualismo,a tese dos direitos subjetivos,a necessidade de limitação do Estado pelo direito, a concepção da universalidade dos direitos, o contratualismo e o movimento antiabsolutismo. Fundamentos do pensamento iluminista!!! AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo Segundo Mascaro (2010, p. 133-7), O individualismo implica a reflexão específica sobre as relações da sociedade e do Estado com o interesse privado burguês, (...) A filosofia do direito moderna iluminista é a exata medida da necessidade das revoluções liberais, burguesas. Os direitos naturais são os direitos necessários à burguesia contra os privilégios. AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo ATENÇÃO!!! Foi o Absolutismo que promoveu um grande elogio ao Estado, a unificação da sociedade. Sociedade que se tornou um bom mercado que propiciou o advento da classe burguesa que, mais adiante se uniu aos iluministas para uma crítica a esse Estado Absolutista. Para a burguesia, o estado deveria estar subordinado aos interesses individuais. AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo Como devemos compreender a relação entre individualismo e iluminismo? No pensamento clássico o paradigma era a concepção das virtudes políticas ( bom cidadão como homem bom). A ação virtuosa é política e não individual. O cristianismo inverte esse padrão. A filosofia medieval valorizou a individualidade, pois a salvação é individual. “Não importa, aos medievais, salvar o mundo, que é corrompido, e sim a conquista individual do mundo eterno” ( MASCARO, 2010, p. 138) AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo Contratualismo, individualismo e iluminismo. Como se interligam? Os teóricos do contratualismo defendem a tese segundo a qual o início da vida social é marcada pela presença de homens iguais por natureza. E em razão do indivíduo e seus interesses que se criou o Estado. Em particular, a propriedade privada. Novo paradigma na filosofia: o indivíduo como origem da experiência jurídica (MASCARO, 2010, p. 138) AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo A sociedade políticaé uma artifício para a garantia e manutenção da propriedade privada! Na filosofia política: o contratualismo; Na filosofia jurídica: o direito natural racionalista; No conhecimento: Empirismo e racionalismo AULA 6 CURSO DE DIREITO Contexto Histórico: do Renascimento ao Iluminismo Gregos antigos modernos A sociedade é o resultado da A sociedade é a união de natureza humana. O homem é indivíduos, uma ficção de que em naturalmente político.princípio, havia seres humanos isolados e, depois, decidiram viver em sociedade. A natureza humana é individual. A sociedade surge do contrato AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica Thomas Hobbes (1588-1679) •Defensor do absolutismo, mas numa vertente racional; •Obras importantes: Do cidadão (1642); Leviatã – ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil (1651); AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica •Para Hobbes, a vida é o bem maior. A justiça e a injustiça resultam de convenções. O homem é por natureza egoísta: homo hominis lupus ( violência generalizada) e bellum omnium contra omnes ( a guerra de todos contra todos). •Assim, sugere um pacto social em que o Soberano coloca-se acima do bem e do mal, acima de todas as instituições, com poder absoluto. Há a servidão no Estado: “todos os homens devem renunciar aos direitos do estado natural”. AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica Contrato social A tese de contrato de Hobbes se opõe à tese de Aristóteles. Para ele a vida social se revela aos homens artificialmente. Por conseguinte, não é a boa vontade que permite a convivência, mas o medo. A inclinação natural dos homens é a satisfação de seus desejos. AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica Hobbes (2002, p. 25) menciona que: “ A maior parte daqueles que escreveram alguma coisa a propósito das repúblicas ou supõe, ou nos pede ou requer que acreditemos que o homem é um criatura que nasce apta para sociedade. Os gregos chamam-no zoon politikon; e sobre este alicerce eles erigem a doutrina da sociedade civil como se, para se preservar a paz e o governo da humanidade, nada mais fosse necessário do que os homens concordarem em firmar certas convenções e condições em comum, que eles próprios chamariam, então, leis. Axioma este que, embora acolhido pela maior parte, é contudo sem dúvida falso – um erro que procede de considerarmos a natureza humana muito superficialmente.” AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica Hobbes (2002, p. 28) menciona que : “Devemos portanto concluir que a origem de todas as grandes e duradouras sociedades não provém da boa vontade recíproca que os homens tivessem uns com os outros, mas do medo recíproco que uns tinham dos outros.” Para Hobbes, a igualdade humana se revela na condição de medo. A paz é resultante do contrato que nasce do medo de um estado de guerra de todos contra todos. Por isso, o indivíduo transfere todo o seu poder a um homem, o soberano. Interessante que Hobbes inova quando fundamenta o poder absoluto no contrato social através do consenso e não no poder divino - pacto de submissão. AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica No estado de natureza de Hobbes, “todo homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros” (Leviatã, Parte I, Cap. XIV, p.82) Toda a humanidade tem “ uma inclinação geral” que ele caracteriza como “um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que somente cessa com a morte” (Leviatã, Parte I, Cap. XI, p.64) AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica Estado de Natureza = estado de guerra: “não haverá como negar que o estado natural dos homens, antes de ingressarem na vida social, não passava de guerra, e esta não ser uma guerra qualquer, mas uma guerra de todos contra todos” (HOBBES, 2002, p.33). Para Renato Janine Ribeiro (1999) Hobbes apresenta um absolutismo com um individualismo radical. Nesse sentido, temos que observar que o filósofo é um pensador de transição, ao mesmo tempo que é absolutista, busca fundamento diverso do fundamento teológico. É absolutista inovador. AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica •Hobbes é absolutista e contratualista; •A justiça se afigura no cumprimento das determinações do soberano pela força do contrato; •A submissão ao soberano não nega uma lei natural que decorre da razão, pois pela insuficiência do homem em realizá-la no estado de natureza, submete-se à lei civil; •Segundo Mascaro (2010), é uma espécie de jusnaturalista que tem por justo o direito estatal; •As leis naturais para Hobbes precedem a vida e o pacto social. AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica •Do Cidadão: “Portanto, a verdadeira razão é uma lei certa, que ( já que faz parte da natureza humana, tanto quanto qualquer outra faculdade ou afecção da mente) também é denominada natural. Por conseguinte, assim defino a lei na natureza: é o ditame da reta razão no tocante àquelas coisas que, na medida de nossas capacidades, devemos fazer, ou omitir, a fim de assegurar a conservação da vida e das partes do nosso corpo” (2002, p. 38). AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica •Leviatã: “As leis da natureza são imutáveis e terenas, pois a injustiça, a ingratidão, a arrogância, o orgulho, a iniquidade, a acepção de pessoas etc. jamais podem se tornados legítimos. Pois nunca poderá ocorrer que a guerra preserve a vida e a paz a destrua. (...) Ora, a ciência da virtude e do vício é a filosofia moral, portanto a verdadeira doutrina das leis da natureza é a verdadeira filosofia moral” (2008, p. 136). AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica •Acessamos a lei natural através da recta ratio; •Hobbes deslocou o sentido clássico de direito natural para o sentido de preservação/interesse; “O direito natural hobbesiano nada tem de natural no seu sentido de apreensão do todo da natureza e de suas leis. O que se possa chamar por natural no máximo está ligado a um pendor da natureza individual” ( MASCARO, 2010, p. 167). AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica •Para Hobbes, a lei natural não é lei jurídica, mas direito moral. “O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam jus naturale, é a liberdade que cada homem possui de usar o seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação da sua própria natureza, ou seja, da sua vida; e consequentemente de fazer tudo aquilo que o seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios mais adequados a esse fim” ( Leviatã, 2008, p. 168-9). AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica •Há exceção à submissão total: o direito à autodefesa; •O direito de autodefesa constitui a possibilidade de desobediência civil; •O paradoxo no pensamento de Hobbes está na submissão de indivíduos racionais ao poder exterior do soberano. AULA 6 CURSO DE DIREITO Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica Concluindo Hobbes: •O fato da violência no estado pré-jurídico; •A racionalidadeinstrumental = racionalidade prática (imperativo hipotético); •O uso da força legitimado para manter a ordem e a segurança; •Estado: fundamento está no contrato social, fruto da racionalidade instrumental; •A desobediência civil na hipótese de o soberano não cumprir o pacto. AULA 6 Referências BOBBIO, N. Thomas Hobbes. Rio de Janeiro: Campus, 1991. HOBBES, T. Do cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 2002. _______. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2008. MARCONDES, D. Iniciação á história da Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. MASCARO, A. L. Filosofia do direito. São Paulo: Atlas, 2010. SKINNER, Q. Razão e retórica na filosofia de Hobbes. São Paulo: UNESP, 1999. AULA 6
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