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Unidade 5 Conservação do momento linear e colisões 5.1 Movimento do centro de massa Até agora os objetos foram tratados como se fossem partículas, ou seja, possuíssem massa, mas não tendo dimensões. Isto não é problema para o caso do movimento de translação de um corpo rígido, pois qualquer um de seus pontos, à medida que o tempo passa, sofre o mesmo deslocamento que qualquer outro ponto, de tal maneira que o movimento de uma partícula representa o movimento de todo o corpo. A situação parece ficar mais complicada quando o corpo roda ou vibra enquanto se desloca, e ainda mais complicada se, em vez de um corpo, descrevemos o movimento de um sistema de partículas. Veremos, nesta unidade, que há um ponto denominado centro de massa, que se desloca da mesma maneira que se deslocaria uma única partícula, sujeita ao mesmo sistema de forças externas. Assim, o movimento de qualquer corpo ou sistema de partículas pode ser descrito em termos do movimento do centro de massa. Vamos considerar, inicialmente, um sistema simples de duas partículas com massas 1m e 2m a distâncias 1x e ,2x respectivamente, de uma origem ,O sobre o eixo .x A posição do centro de massa do sistema é dada por: . 21 2211 mm xmxm xCM (5.1) De (5.1) nota-se que o centro de massa tem a seguinte propriedade: o produto de sua distância à origem pela massa total do sistema ),( 21 mmM é igual à soma dos produtos de cada uma das massas pela sua respectiva distância à origem; isto é, . )( 2211 21 xmxm xMxmm CMCM (5.2) Para um sistema com n partículas, ,...,,, 21 nmmm ao longo de uma linha reta, por definição, o centro de massa destas partículas, em relação a uma origem, é: , ... ... 21 2211 i ii n nn CM m xm mmm xmxmxm x (5.3) onde nxxx ..,.,, 21 são as distâncias das massas à origem em relação a qual cmx foi medido. Para um grande número de partículas num plano, o centro de massa estará em CMx e ,CMy dados por: iiCM iiCM ym M y xm M x 1 1 (5.4) em que )( imM é a massa total do sistema. Podemos generalizar o problema para um grande número de pontos materiais distribuídos no espaço. As coordenadas ,CMx ,CMy ,CMz do centro de massa são definidas pelas relações: iiCM iiCM iiCM zm M z ym M y xm M x 1 1 1 (5.5) A posição do centro de massa é independente do sistema de coordenadas usado para localizá-lo. O centro de massa de um sistema de pontos materiais depende somente das massas dos referidos pontos e das posições relativas destas. No caso de um corpo rígido, que pode ser imaginado como um sistema de pontos materiais agrupados muito juntos, as coordenadas do centro de massa são dadas por: dmz M z dmy M y dmx M x CM CM CM 1 1 1 (5.6) Escrevendo a equação (5.3) como nnCM xmxmxmxM ... 2211 e diferenciando duas vezes em relação ao tempo obtemos: nxnxx n n CM amamam dt xd m dt xd m dt xd m dt xd M ... ... 2211 2 2 2 2 2 22 1 2 12 2 (5.7) na qual xa1 é o componente x da aceleração da primeira partícula, etc., e 2 2 dt xd CM é o componente x da aceleração do centro de massa. Sendo xF1 o componente segundo o eixo dos x da força resultante atuante sobre a primeira partícula, então, pela segunda lei de Newton, ,111 xx amF ,222 xx amF etc. A equação (5.7) pode ser escrita da seguinte maneira: ,...21 nxxxx FFFaM (5.8) em que xa é o componente x da aceleração do centro de massa. Equações semelhantes podem ser consideradas para os componentes y e .z As três equações escalares podem ser resumidas numa única equação vetorial: ....21 nCM FFFaM (5.9) A equação (5.9) mostra que a massa total do conjunto de pontos materiais, multiplicada pela aceleração do seu centro de massa é igual à soma vetorial de todas as forças que atuam sobre o conjunto. No entanto, entre todas estas forças existem as forças internas exercidas pelos próprios pontos materiais entre si e, pela terceira lei de Newton, estas forças atuam em pares do tipo ação-reação e não contribuem para a soma em (5.9), que pode ser escrita como: extCM FaM (5.10) O resultado expresso em (5.10) assegura que o centro de massa do sistema de pontos materiais se move como uma partícula de massa imM sob a influência da resultante das forças externas atuando sobre o sistema. Logo, o movimento do centro de massa representa o movimento de translação de todo o corpo. Este, na verdade, é o procedimento implícito em todos os diagramas de forças e resolução de problemas. 5.2 Conservação do momento linear O momento linear, também chamado de quantidade de movimento linear (ou momentum1) de uma partícula é definido como o produto de sua massa pela sua velocidade, ou seja, .vmp (5.11) Se, ao invés de uma única partícula tivermos um sistema de n partículas de massas ,...,,, 21 nmmm o momento linear total será dado por: ....21 npppP (5.12) Tomando a taxa de variação de (5.12) em relação ao tempo, obtém-se: ....21 extn F dt Pd FFF dt Pd (5.13) De (5.10) tem-se que: CMext vM dt d F (5.14) de modo que: 1 A expressão momentum (plural momenta) foi cunhada por Newton com o significado de “inércia em movimento”. Em português é traduzida para quantidade de movimento. No entanto, alguns livros trazem o termo momento linear ou, simplesmente, momento. Aqui vamos usar o termo momento linear. .CMvM dt d dt Pd (5.15) ou seja, ,CMvMP (5.16) Indicando que o momento linear total de um sistema de pontos materiais é igual ao produto da massa total do sistema pela velocidade do seu centro de massa. Se a resultante das forças externas que atuam em um sistema for nula, então da segunda lei de Newton: constante.0 P dt Pd dt Pd Fext (5.17) O resultado expresso por (5.17) mostra que se a resultante das forças externas que atuam em um sistema de partículas é nula, o vetor momento linear do sistema permanece constante. Este resultado simples, mas realmente geral, é chamado princípio de conservação do momento linear. O momento linear individual das partículas que compõem o sistema pode sofrer variações, mas a sua soma permanece constante, se a resultante das forças externas é nula. As partículas podem interagir entre si, mas estas interações não irão modificar o momento linear do sistema, pois as forças de interação mútua entre duas partículas constituem um par ação- reação, não contribuindo para mudar o momento linear total do sistema de partículas. Do princípio de conservação do momento linear tem-se que um sistema não pode deslocar oseu CM sob a ação puramente de força internas. Além disso, o resultado obtido na equação (5.17) leva a uma generalização da lei da inércia: se a resultante das forças externas que atuam sobre um sistema se anula, o CM do sistema permanece em repouso ou em movimento retilíneo uniforme. 5.3 Energia e momento linear Agora que já sabemos que tanto a energia cinética quanto o momento linear dependem do movimento, é bom deixar bem claro que são grandezas físicas diferentes. Enquanto a energia cinética é uma grandeza escalar, o momento linear é uma grandeza vetorial. Outra diferença entre energia cinética e o momento linear é a dependência em relação à velocidade: o momento linear é proporcional à velocidade ( vmp ) e a energia cinética é proporcional ao quadrado da velocidade ( 2 2 1 vmK ). Isto faz toda a diferença. Vamos considerar o caso de uma bola com g500 de massa com velocidade igual a ,4 sm e uma pedra de g50 com velocidade de .40 sm Os momentos lineares da bola e da pedra são: smkgsmkgpbola 24500,0 e: .240050,0 smkgsmkgppedra Entretanto, sabemos que se alguém for atingido pela pedra o “estrago” será maior do que se for atingido pela bola. Por que isto acontece se ambos possuem a mesma quantidade de movimento? Vamos calcular a energia cinética da bola e da pedra: JsmkgKbola 44500,0 2 1 2 e: ,4040050,0 2 1 2 JsmkgK pedra ou seja, a pedra tem 10 vezes mais capacidade de realizar trabalho! O momento linear fornece apenas impacto, enquanto a energia produz os danos. 5.4 Sistemas de massa variável Os resultados obtidos até aqui parecem implicar que o deslocamento de um corpo só é possível se existirem forças externas capazes de impulsioná- lo. Assim, somos capazes de caminhar porque empurramos o solo para trás e o atrito com o solo nos impele para frente. Entretanto, existe outro método de propulsão de grande importância prática, exemplificado pelo recuo de um canhão: mesmo na ausência de atrito com o solo, o canhão se deslocará para trás ao disparar a bala. Isto é possível porque a massa inicial (canhão + bala) diminui após o disparo, se for considerado só o deslocamento do canhão (o CM do sistema canhão + bala permanece em repouso). Assim, se a massa de um corpo é variável, ele pode ser impulsionado sob a ação puramente de forças internas. Supondo que num instante t (Figura 5.1) um astronauta estivesse flutuando no espaço, longe de qualquer campo gravitacional ( 0 extF ). Ele estaria se deslocando em movimento retilíneo uniforme com velocidade v em relação a um referencial inercial. O astronauta segura um revólver, e no instante t dispara uma bala de massa .m Se a massa do astronauta + revólver (vazio) é ,m a massa inicial do sistema é: .)( mmtm (5.18) Figura 5.1 – Astronauta estivesse flutuando no espaço, longe de qualquer campo gravitacional. Fonte: Nussenzveig, 2002, p.159. Seja ev a velocidade com que a bala escapa em relação ao revólver. A velocidade 2v da bala em relação ao referencial inercial é dada por: .2 evvv (5.19) Num instante tt após o disparo, a massa do astronauta + revólver é: mttm )( (5.20) e sua velocidade é: .)( vvttv (5.21) Como 0 extF por hipótese, o momento linear total do sistema, ,P se conserva. Assim: ,)()( vmmtP (5.22) ,)( evvmvvmttP (5.23) de forma que a conservação do momento linear implica: ,)()(0 evmvmtPttPP (5.24) o que dá: .ev m m v (5.25) A variação de massa do sistema cuja velocidade variou de v é: ,)()( mmtmttm (5.26) ou seja, é negativa (o sistema do astronauta perdeu a massa da bala). A equação (5.25) pode então ser rescrita como: .ev m m v (5.27) Se agora o astronauta substituir o revólver por uma pistola de jato, que ejete material (água ou gás) continuamente, a massa do astronauta (nela compreendida a massa da pistola) varia continuamente com o tempo, e pode-se chamar de )(tm a massa no instante .t Supondo que a velocidade de ejeção ev em relação à pistola é uma característica da mesma, permanecendo constante, a equação (5.27), que se aplica à variação de velocidade v do astronauta durante um intervalo de tempo ,t permite chegar à equação: .ev t m t v m (5.28) Passando ao limite em que ,0t obtém-se: ,rele v dt dm v dt dm am dt vd m (5.29) onde erel vv é a velocidade relativa de ejeção de material em relação à pistola. Se 0dtdm é constante durante certo período, então ev também é constante, de modo que o segundo membro de (5.29) equivale (no sentido de amF ) a uma força constante exercida sobre o astronauta. Esta “força” chama-se o empuxo devido à ejeção de massa. Entretanto, como )(tmm é variável em (5.29), o segundo membro não corresponde à taxa de variação temporal do momento linear do astronauta. Com efeito, como )()()( tvtmtp é a expressão do momento linear, tem-se que: ,relv dt dm v dt dm dt vd mv dt dm dt pd (5.30) onde foi utilizado o resultado expresso em (5.29). Logo, ,relvv dt dm dt pd (5.31) onde a expressão entre parênteses, pela (5.19), representa a velocidade da massa ejetada em relação ao referencial inercial adotado. Neste referencial, o segundo membro de (5.30) também equivale a uma força, no sentido de .dtpdF Se, além das forças internas já consideradas, atuam também forças externas, basta acrescentá-las em (5.29) e (5.30): . , extrel extrel Fvv dt dm dt pd Fv dt dm dt vd m (5.32) Embora deduzida no caso particular do astronauta, a equação de movimento de um sistema de massa variável, em qualquer das duas formas em (5.31), se aplica a situações bem mais gerais. Nestas expressões, relv sempre representa a velocidade relativa ao sistema de massa variável dos elementos de massa dm dele removidos (ou a ele acrescentados, num caso em que a massa esteja crescendo) (NUSSEZVEIG, 2002). 5.5 Impulso e momento linear Se uma força externa F atua sobre um ponto material durante um intervalo de tempo muito pequeno ,dt segue da Segunda Lei de Newton que: .dtFpd dt pd F (5.33) A variação no momento linear (momentum ou quantidade de movimento) ,vmp durante um dado intervalo de tempo ,if ttt em que a força externa F atua sobre o ponto material é dada por: f i f i p p t t if dtFpdppp , (5.34) onde os índices i (= inicial) e f (= final) se referem aos instantes “antes” e “depois” da força externa F ter agido sobre o ponto material. A integral definida em (5.34) é denominada de impulso, ,J da força externa .F Em consequência, a variação do momento linear de um corpo sobre o qualatua uma força impulsiva é igual ao impulso .J Uma força impulsiva tem como característica o fato de ser extremamente intensa, porém atuando durante um intervalo de tempo extremamente curto, o “tempo de colisão”. 5.6 Colisões elásticas e inelásticas Uma colisão entre duas partículas é um processo em que uma é lançada contra a outra, podendo trocar energia e momento linear em consequência da interação entre as partículas (Figura 5.2). As “partículas” podem ser corpos macroscópicos ou pertencer à escala atômica ou subatômica. O resultado da colisão pode ser extremamente variado. Podem emergir as mesmas duas partículas, caso em que o processo é denominado de espalhamento, como na colisão entre duas bolas de sinuca. Por outro lado, pode emergir um sistema muito diferente: uma só partícula, duas partículas diferentes das iniciais (reações químicas, reações nucleares) ou mais de duas partículas (fragmentação, colisões de alta energia entre “partículas elementares”). Figura 5.2 – Processo de colisão: (a) configuração inicial. (b) Processo de colisão. (c) Configuração final. Fonte: Nussenzveig, 2002, p.169. A energia total do sistema de partículas sempre se conserva numa colisão, como em qualquer processo físico, embora uma parte da energia mecânica possa converter-se em outras formas de energia, como o calor. Entretanto, mesmo nas colisões em que a energia mecânica se conserva (forças de interação conservativas), parte da energia cinética pode converter-se em energia potencial, ou vice-versa. Quando numa colisão a energia cinética final é igual à energia cinética inicial, esta é dita ser uma colisão elástica. Qualquer outra colisão é uma colisão inelástica. Numa colisão inelástica a energia cinética final poder ser maior ou menor que a inicial. Um exemplo em que é maior é a explosão de uma granada ao colidir com o solo. Neste caso, energia química armazenada no explosivo se converte em energia cinética dos fragmentos. Em geral, as colisões nem são perfeitamente elásticas nem completamente inelásticas, mas podem enquadrar-se entre estes extremos. A colisão entre duas bolas de sinuca não é perfeitamente elástica. Quando elas se chocam, ouvimos um som: logo, parte da energia é convertida em vibrações, que dão origem a ondas sonoras. Há também um (ligeiro) aquecimento da superfície de contato, ou seja, conversão parcial de energia mecânica em calor. Entretanto, a perda total de energia cinética é pequena – tipicamente, da ordem de 3% ou 4%, e pode-se desprezá- la com boa aproximação, tratando a colisão como se fosse elástica. É sempre possível caracterizar a dissipação de energia de uma colisão especificando um único número ,e chamado de coeficiente de restituição, que representa a razão das velocidades relativas antes e depois da colisão. Colocada em termos matemáticos, o coeficiente de restituição é dado por: . 21 21 ff ii vv vv e (5.35) De (5.35) é evidente que para uma colisão perfeitamente elástica, .1e Para uma colisão perfeitamente inelástica, .0e 5.7 Colisões elásticas unidimensionais Sejam duas partículas que se movem ao longo de uma reta e colidem elasticamente. Sejam 1m e 2m as massas, e iv1 e iv2 as velocidades iniciais antes da colisão. A velocidade relativa deve satisfazer à condição: 021 ii vv (5.36) para que haja colisão. Supondo que esta condição seja satisfeita e que as partículas estão sujeitas apenas às forças internas de interação que atuam durante a colisão, de modo que o momento linear total do sistema se conserva: .2121 fffiii PppppP (5.36) Como por hipótese a colisão é elástica, a energia cinética total também se conserva. Convém exprimi-la em termos dos momentos lineares das partículas: . 2222 2 2 2 1 2 1 2 2 2 1 2 1 f ffii i K m p m p m p m p K (5.37) Dada a configuração inicial ),,( 21 ii pp (5.36) e (5.37) são duas equações nas duas incógnitas ),,( 21 ff pp que determinam a configuração final. Para resolvê-las, (5.36) pode ser escrita na forma: ,1122 fiif pppp (5.38) e (5.37) como: ,21212222 fiif pppp (5.39) onde foi introduzido o parâmetro adimensional: . 1 2 m m (5.40) Dividindo membro a membro (5.39) por (5.38) obtém-se: fiif pppp 1122 (5.41) As equações (5.38) e (5.41) constituem um sistema de duas equações lineares nas duas incógnitas ., 22 fi pp A equação (5.41), expressa em termos das velocidades das partículas, dá: ,111 1 2 222 ifif vvm m m vvm ou seja, .1212 iiff vvvv (5.42) Isto significa que a velocidade relativa entre as duas partículas se inverte em consequência da colisão, o que é característico de uma colisão elástica em uma dimensão. Resolvendo o sistema formado pelas equações (5.38) e (5.41) obtém-se: iif iif ppp ppp 212 211 1 1 1 2 1 2 1 1 (5.42) As equações (5.42) podem ser escritas em termos das velocidades (bastando usar mvp ): . 2 , 2 2 21 21 1 21 1 2 2 21 2 1 21 21 1 iif iif v mm mm v mm m v v mm m v mm mm v (5.43) Casos particulares: i) massas iguais Neste caso, ,112 mm e (5.42) e (5.43) dão: , ,, 12 21 ,12 21 if if if if vv vv pp pp (5.44) ou seja, as partículas trocam entre si os momentos lineares e as velocidades. ii) Alvo em repouso Neste caso, ,022 ii pv (5.45) o que elimina os últimos termos do 2o membro em (5.42) e (5.43). Nesta situação, têm-se dois casos extremos: a) 21 mm As equações (5.43) dão, neste caso, .2 , 11 2 1 2 11 iif ff vv m m v vv (5.46) Logo, quando uma partícula muito leve colide com outra muito pesada em repouso, a partícula leve é praticamente refletida para trás com velocidade igual e contrária à incidente, ao passo que a partícula pesada sofre um recuo com velocidade muito pequena (tanto menor quanto menor a razão das massas). Um exemplo é a colisão elástica de uma bola com a superfície da Terra: o recuo sofrido pela Terra é desprezível. b) 21 mm Neste caso, as equações (5.43) dão: .2 , 12 11 if if vv vv (5.47) Logo, na colisão elástica de uma partícula muito pesada com outra muito leve em repouso, a partícula pesada quase não é freada (“ignora” a presença da outra partícula), mas a leve é lançada para frente com o dobro da velocidade da partícula incidente. Um exemplo é o que ocorre quando uma bola bate num dos pinos no jogo de boliche (NUSSENZVEIG, 2002). 5.8 Colisões unidimensionais totalmente inelásticas Numa colisão totalmente inelástica entre duas partículas a energia cinética final não se anula, mas assume o menor valor possível, que é o valor da energia cinética associada ao movimento do centro de massa (CM). Com efeito, as forças que atuam na colisãosendo forças internas, o CM tem de permanecer em movimento retilíneo e uniforme, e o valor mínimo da energia cinética é aquele correspondente a esse movimento. A conservação do momento linear dá agora: ,212211 ffiii PvmmvmvmP (5.48) o que determina :fv . 21 2211 CM ii f v mm vmvm v (5.49) Logo, a conservação do momento linear basta para determinar a configuração final de uma colisão totalmente inelástica (NUSSENZVEIG, 2002). 5.9 Colisões elásticas bidimensionais O tratamento de colisões em mais de uma dimensão será restringido ao caso em que o alvo está em repouso, já que este é o caso mais frequente na prática. Além disso, se iv2 é a velocidade do alvo antes da colisão, basta passar para um referencial em movimento com essa velocidade (que é também inercial) para reduzir a situação à anterior, de forma que ela não envolve restrição de generalidade. Para fixar as ideias, seja o caso, ilustrado na Figura 5.2, da colisão entre duas bolas de sinuca, com o alvo (massa 2m ) inicialmente em repouso e a partícula incidente (massa 1m ) tendo uma velocidade inicial .1iv O momento linear do sistema na configuração inicial é então: .111 iii vmpP (5.50) Entretanto, para caracterizar a configuração inicial, os dados acima não são mais suficientes. É preciso ainda a que distância a partícula incidente passaria da outra se não houvesse colisão. Essa distância b chama-se o parâmetro de impacto. Na Figura 5.2, é a distância entre a linha de movimento inicial do centro da partícula incidente e o centro O do alvo. O resultado da colisão é muito diferente conforme o valor de .b Por exemplo, para ,0b tem-se uma colisão frontal, que é essencialmente unidimensional; se o parâmetro de impacto b é maior que a soma dos raios das duas bolas, não há colisão. Figura 5.3 – Colisão elástica bidimensional. Fonte: Nussenzveig, 2002, p.176. Se fp1 e fp2 são os momentos lineares finais das duas partículas, o momento linear do sistema na configuração final é: .211 ffi ppp (5.51) Esta relação mostra que os três vetores pertencem ao mesmo plano, que se chama plano de colisão. A equação (5.51) equivale a duas equações escalares para os componentes x e y dos vetores: 0sensen coscos 2211 12211 ff iff pp ppp (5.52) As energias cinéticas inicial e final são dadas por: , 2 1 2 1 m p K ii (5.53) . 22 2 2 2 1 2 1 m p m p K ff f (5.54) Como a colisão é elástica, ,fi KK ou seja: . 222 2 2 2 1 2 1 1 2 1 m p m p m p ffi (5.55) Na realidade, o sistema formado pelas duas equações (5.52) e por (5.55) representam três equações escalares nas quatro incógnitas ,1 fp ,2 fp 1 e .2 Isto significa que não é possível, em geral, determinar a configuração final sem fornecer mais um dado (isto foi possível no caso unidimensional porque 01 ou e 02 neste caso). O dado extra pode ser o parâmetro de impacto ,b se as forças de interação são conhecidas, pois isto permite, em princípio, calcular as trajetórias. Considerando primeiro o caso particular de uma colisão elástica entre partículas de mesma massa. a) Massas iguais Seja .21 mmm Neste caso, (5.55) dá então: .22 2 1 2 1 ffi ppp (5.56) Elevando ao quadrado ambos os membros de (5.51) (ou seja, tomando o produto escalar dos vetores por eles mesmos), obtemos: ,2 212221212121 ffffffffi ppppppppp (5.57) o que representa a lei dos cossenos aplicada ao triângulo formado pelos vetores ,1ip fp1 e .2 fp Comparando as equações (5.56) e (5.57), conclui-se que: . 2 0 2121 ff pp (5.58) O resultado expresso em (5.58) indica que as direções de movimento de duas partículas de massas iguais, após uma colisão elástica bidimensional com uma inicialmente em repouso, são perpendiculares. b) Caso geral No caso geral em que 1m e 2m são diferentes, (5.55) se escreve como: ,212122 fif ppp (5.59) onde, . 1 2 m m (5.60) Por outro lado, (5.51) dá: ,cos2 1112121 2 11 2 2 fififif ppppppp (5.61) que também representa a lei dos cossenos aplicada ao triângulo formado pelos vetores ,1ip fp1 e .2 fp Igualando (5.59) e (5.61), obtém-se: .01cos21 21111 2 1 ifif pppp (5.62) que é uma equação do 2o grau na incógnita ,1 fp cujas raízes são: .1coscos 1 2 1 2 1 1 1 i f p p (5.63) Para que as raízes em (5.63) sejam reais deve-se ter: ,01cos 212 (5.64) ou seja, .0sen1cos 122212 (5.65) i) 12 mm Neste caso, ,1 de maneira que (5.65) é sempre satisfeita, qualquer que seja ,1 .0 1 Por outro lado, o radical em (5.63) é sempre 1cos para ,1 de modo que só é aceitável a solução com sinal positivo. ii) 12 mm Neste caso, ,1 e (5.65) leva a: ,1sensen 1 2 max11 m m (5.66) ou seja, existe um valor máximo do ângulo .: max111 Em particular, se ,1 também é ,1max1 de modo que uma partícula pesada que colide elasticamente com uma partícula leve em repouso quase não sofre deflexão. Para ,1 as duas raízes em (5.63) são aceitáveis (dão 01 fp ); pode-se verificar que elas correspondem a valores diferentes de 2 (colisões com parâmetros de impacto diferentes). Exercício 5.1 Sejam duas partículas separadas por uma distância .d Onde está localizado o centro de massa nas seguintes situações: (a) ;21 mm (b) 221 mm e (c) ?2 21 mm Respostas: (a) ; 2 d xCM (b) ; 3 2d xCM (c) . 3 d xCM Exercício 5.2 Três bolas A, B e C, com massas de kgkg 0,1,0,3 e ,0,1 kg respectivamente, são conectadas por hastes de massas desprezíveis. As bolas estão localizadas como na figura a seguir. Quais são as coordenadas do centro de massa? Resposta: .4,1;0,2 mymx CMCM Exercício 5.3 Uma pedra é deixada cair em .0t Uma segunda pedra, com massa duas vezes maior, é deixada cair do mesmo ponto em .100mst (a) Supondo que as pedras ainda não tenham atingido o solo em ,300mst a que distância do ponto inicial de queda está o centro de massa das duas pedras? (b) Qual é a velocidade do centro de massa das duas pedras nesse instante? Respostas: (a) myCM 28,0 (b) smvCM 3,2 Exercício 5.4 Um projétil é lançado a ,20 sm fazendo um ângulo de 30o com o horizonte. Durante o seu movimento, explode, dividindo-se em duas partes, uma das quais sendo o dobro da massa da outra. Os dois fragmentos atingem o solo ao mesmo tempo. O fragmento mais leve bate num ponto a m20 do lançamento, na direção do tiro inicial. Onde fica o ponto de impacto do outro fragmento? Resposta: m43 Exercício 5.5 Um carro de kg1000 está parado em um sinal de trânsito. No instante em que osinal abre, o carro começa a se movimentar com uma aceleração constante de .0,4 2sm No mesmo instante, uma caminhonete de ,2000kg movendo-se no mesmo sentido com velocidade constante de ,0,8 sm ultrapassa o carro. (a) Qual é a velocidade entre o CM do sistema carro-caminhonete e o sinal de trânsito em ?0,3 st (b) Qual é a velocidade do CM nesse instante? Respostas: (a) mxCM 22 (b) smvCM 3,9 Exercício 5.6 (a) Vimos que o centro de massa comporta-se como se toda a massa estivesse concentrada nesse único ponto e todas as forças externas que atuam no corpo estivessem aplicadas nesse ponto. É, então, necessário existir massa no centro de massa? (b) Imagine a situação de uma pessoa em pé na popa de uma canoa parada num lago de águas calmas e sem vento. Em dado momento, a pessoa caminha em direção à proa e observa que a canoa recua em direção contrária. Explique este fato com base no princípio de conservação do momento linear. (c) Com base na lei de conservação do momento linear, explique por que toda arma recua após disparar. Exercício 5.7 Uma pessoa de massa kgm 80 se agarra a uma escada de corda pendurada na parte de baixo de um balão de massa kgM 320 (incluindo o passageiro na cesta). O balão está inicialmente em repouso em relação ao solo. (a) Se essa pessoa começar a subir a escada com velocidade smv 50,0 (em relação à escada), em que direção e com que velocidade (em relação ao solo) o balão se moverá? (b) Qual a velocidade escalar do balão depois que a pessoa para de subir a escada? Respostas: (a) Para baixo com velocidade smu 10,0 (b) O balão ficará estacionário. Exercício 5.8 Um estudante em férias decide fazer um passeio de canoa num lago tranquilo. Durante o passeio decide parar num bar que fica numa plataforma flutuante para tomar um refrigerante. Ao encostar a proa da canoa na plataforma flutuante para sair percebe um problema. Quando caminha da popa para a proa, a canoa se move em sentido contrário afastando-se do flutuante, dificultando sua saída. Desprezando o atrito entre a canoa e a água, e supondo que o estudante, com kg70 de massa, tenha caminhado m00,3 da popa para a proa da canoa que possui kg100 de massa, qual será o afastamento (em metros) da canoa em relação ao flutuante? Resposta: m10,2 Exercício 5.9 Uma metralhadora atira balas de g50 com velocidade de .1000 sm O atirador, segurando a metralhadora com suas mãos, pode exercer uma força de ,180N sobre a arma. Determine o número máximo de balas que ele pode atirar por minuto. Resposta: 216. Exercício 5.10 Considere um foguete que está no espaço sideral e em repouso em relação a um referencial inercial. O motor do foguete é acionado por certo intervalo de tempo. Determine a razão de massa do foguete (razão entre as massas inicial e final) neste intervalo para que a velocidade original do foguete em relação ao referencial inercial seja igual (a) à velocidade de exaustão dos gases (em relação ao foguete) e (b) duas vezes à velocidade de exaustão? Respostas: (a) 7,2fi mm (b) 4,7fi mm Exercício 5.11 Um foguete, situado no espaço longínquo e inicialmente em repouso em relação a um sistema inercial, tem uma massa de ,1055,2 5 kg da qual kg51081,1 é de combustível. O motor do foguete fica então ligado por ,250 s durante os quais se consome combustível a uma taxa de .400 skg A velocidade dos produtos de exaustão em relação ao foguete é de .27,3 skm (a) Qual o empuxo do foguete após estar ligado por ?250 s (b) Qual a massa e a velocidade escalar do foguete? Resposta: (a) .1031,1 6NE (b) kgM f 51000,1 e .1004,3 3 smv f Exercício 5.12 Um jogador de futebol chuta uma bola com massa de g450 que se encontra em repouso. O pé do jogador fica em contato com a bola por ms0,3 e a força do chute é dada por ,])100,2()100,6[()( 296 NtttF para ,100,30 3st onde t está em segundos. Determine a intensidade (a) do impulso sobre a bola devido ao chute, (b) da força média do pé do jogador sobre a bola durante o contato, (c) da força máxima exercida pelo pé do jogador sobre a bola durante o contato e (d) da velocidade da bola imediatamente após perder o contato com o pé do jogador. Respostas: (a) sNJ 0,9 (b) NF 3100,3 (c) NFmáx 3105,4 (d) .20 smv Exercício 5.13 O bloco A (com massa de kg6,1 ) desliza em direção ao bloco B (com massa de kg4,2 ) ao longo de uma superfície sem atrito. Os sentidos das velocidades antes (i) e depois (f) da colisão estão indicados na figura a seguir. As velocidades são: ;5,5 smv iA smv iB 5,2 e .9,4 smv fB Determine: (a) o módulo e (b) o sentido da velocidade do bloco A após a colisão. (c) A colisão é elástica? Respostas: (a) smv fA 9,1 (b) Continua movendo-se para a direita. (c) Sim. Exercício 5.14 Uma bala de g10 que se move verticalmente para cima a sm1000 se choca com um bloco de kg0,5 inicialmente em repouso, passando pelo seu centro de massa. A bala deixa o bloco movendo-se verticalmente para cima a .400 sm Que altura máxima o bloco atinge em relação à posição inicial? Resposta: cm3,7 Exercício 5.15 Um bloco de madeira de kg00,1 está ligado a uma mola de constante elástica mN200 e repousa sobre uma superfície lisa. Uma bala de g0,20 atinge o bloco e comprime a mola de .3,13 cm (a) Calcular a velocidade da bala antes da colisão. (b) Que fração da energia mecânica inicial se perde na colisão? Respostas: (a) .95 smv (b) 98,1%. Exercício 5.16 Uma bola de aço de g500 está presa a uma corda de cm0,70 de comprimento e é solta quando a corda está horizontal. Na parte inferior de sua trajetória choca-se contra um bloco de metal de kg50,2 que está inicialmente em repouso em uma superfície horizontal sem atrito. A colisão é elástica. Encontre a velocidade da bola e do bloco, imediatamente após o impacto. Resposta: ;47,2 smvbola .23,1 smvbloco Exercício 5.17 O bloco 1 de massa 1m desliza, a partir do repouso, ao longo de uma rampa sem atrito de uma altura mh 50,2 e colide com o bloco 2 de massa ,2 12 mm Inicialmente em repouso. Após a colisão, o bloco 2 desliza em uma região onde o coeficiente de atrito cinético vale 500,0 e para depois de percorrer uma distância d nessa região. Qual o valor da distância d se a colisão é (a) elástica e (b) perfeitamente inelástica? Resposta: (a) md 22,2 (b) md 556,0 Exercício 5.19 O próton 1, com uma velocidade de sm500 colide com o próton 2, inicialmente em repouso. Depois do choque, os dois prótons se movem em trajetórias perpendiculares, com a trajetória do próton 1 fazendo 60º com a direção inicial. Após a colisão, quais são as velocidades escalares (a) do próton 1 e (b) do próton 2? Resposta: (a) smv f 4331 (b) smv f 2502 Exercício 5.19 Um objeto com kg12 de massa, que está inicialmente se movendo para leste, com velocidade de ,8 sm colide com outro corpo cuja massa é de ,20kg e cuja velocidade inicial é de sm12 para o norte. A colisão é elástica. Depois do impacto, o primeiro objeto move-se para o nordeste, e seu vetor velocidade forma um ângulo de 45o com o eixo x positivo (suposto apontar para o leste). Ache o módulo, a direção e o sentido de ambos os vetores velocidade depois da colisão. Resposta: smv 8,151 o451 smv 61,52 .1092 o Exercício 5.20 A bola B, que se move no sentido positivo do eixo x com velocidade ,v colide com a bola A, inicialmente em repouso na origem. As duas bolas têm massas diferentes. Após a colisão, a bola B se move no sentido negativo do eixo y com velocidade escalar de .2v (a) Qual é a orientação da bola A após a colisão? (b) Mostre que a velocidade da bola A não pode ser determinada a partir das informações fornecidas. Resposta: (a) o27
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