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50 Pensadores que formaram o mundo moderno - Cap 4 Hegel

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G
4
G. W. F. Hegel
27 de agosto de 1770 – 14 de novembro de 1831 
O maior criador de sistema na filosofia, cujo trabalho foi o ápice
do idealismo alemão e teve grande influência sobre Karl Marx. 
eorg Wilhelm Friedrich Hegel foi o último na linha de grandes filósofos
idealistas alemães, que incluía Fichte e Schelling. Seu objetivo era criar um
sistema para explicar tudo. Por tudo, ele realmente queria dizer tudo: de
sistemas solares a micróbios, de Deus ao homem. Hegel tentou alcançar um
sistema unificado de entendimento no qual a razão substituiria a fé – o
derradeiro esforço do Iluminismo. Sua busca era a mesma dos primeiros
filósofos, quando eles deixaram de lado a crença mitológica e aplicaram seus
poderes de raciocínio ao universo. Mais que qualquer filósofo desde
Aristóteles (384-322 a.C.), Hegel enfatizou a importância do raciocínio
dialético. Karl Marx alegava ser um hegeliano, embora rejeitasse o idealismo
do filósofo. Marx “ficou com Hegel na cabeça” e utilizou seu pensamento
para criar uma filosofia materialista que seria desenvolvida em um
materialismo dialético. Um dos maiores desafios ao encarar Hegel é sua
difícil leitura. A prosa dele é densa, os livros são longos. Em História da
filosofia ocidental (1945), Bertrand Russell, cujo alemão era muito bom, disse
sobre Hegel: “Ele é, devo dizer, o mais difícil de entender entre todos os
grandes filósofos”. 
Trabalhos-chave na obra hegeliana são: Fenomenologia do espírito
(1807), Ciência da lógica (1812-17), Enciclopédia das ciências filosóficas
(1817) e Princípios da filosofia do direito (1820), nos quais ele descreve
progressivamente um programa filosófico que começa com uma
compreensão da consciência individual e leva a uma descrição de como
indivíduos formam grupos e de quais são os deveres e responsabilidades de
indivíduos e Estado. Hegel alterou o modo como o homem era entendido em
relação a si mesmo, a outros e à história. Mas, por meio de sua influência
sobre Marx, Hegel também teve também enorme influência nas práticas
políticas dos séculos XIX e XX. 
Hegel foi a influência dominante na filosofia britânica até Bertrand
Russell e G. E. Moore (1873-58) rejeitarem o idealismo e adotarem o
logicismo de Gottlob Frege (1848-1925) e o atomismo lógico de Ludwig
Wittgenstein. Ele foi a força por trás do idealismo britânico – um termo de
certo modo enganoso, uma vez que muitos filósofos em universidades
britânicas eram seguidores de Hegel de uma forma ou de outra; seria mais
correto dizer, portanto, que, durante a segunda metade do século XIX, a
filosofia britânica era tão hegeliana quanto empírica. O idealista britânico
mais importante era F. H. Bradley (1846-1924), cujo Aparência e realidade
(1893) foi tema da tese de doutorado do poeta T. S. Eliot (1888-1965) em
Harvard. 
Historicismo hegeliano 
Nascido em uma família burguesa em Stuttgart, Hegel pensava que estava
destinado a fazer parte do clero; mas no seminário protestante ligado à
Universidade de Tübingen, ele fez dois amigos próximos com quem se
voltaria para outros interesses: o poeta Friedrich Hölderlin (1770-1843) e o
filósofo Schelling. Todos os três foram seguidores entusiastas da Revolução
Francesa (1789-99). Tinham fome de mudança. O caminho para uma nova
compreensão, segundo Hölderlin e Schelling, era por meio do estudo da obra
de Immanuel Kant e de sua doutrina do idealismo transcendental, o que
Hegel inicialmente relutou em fazer. 
Os três jovens pensadores eram membros centrais do movimento que
veio a ser conhecido como Romantismo alemão. Como todas as “escolas”
que contêm boa parcela de grandes talentos em várias disciplinas, a definição
torna-se confusa muito rapidamente. Mas, em geral, pode-se notar uma
resistência a explicações mecanicistas e racionalistas do mundo, e um foco
na importância do sujeito que o apreende (promovido pelo idealismo
transcendental de Kant) e, na Alemanha, um orgulho nacionalista do idioma
alemão e de seu povo (das Volk). 
Hegel obteve sua qualificação em teologia e foi trabalhar, entre 1793 e
1796, como o tutor particular de uma família rica em Berna. Durante o
período em que residiu na Suíça, Hegel estava preocupado com duas coisas:
cristianismo e história. Lá, em 1795, escreveu A vida de Jesus e A
positividade da religião cristã. Após um desentendimento com seu
empregador, Hegel se mudou para Frankfurt a fim de assumir outro cargo de
tutor. Ficou lá de 1797 a 1801, renovando sua amizade com Hölderlin e
escrevendo mais ensaios sobre cristianismo. Hegel foi atraído pela
humanidade de Cristo e pelo mistério de sua divindade por meio de Deus, o
Pai. Embora viesse depois a se referir a “Espírito” em vez de “Deus”, ele
atribuiria a “Espírito” um propósito teleológico. Nesses primeiros escritos
sobre cristianismo, podem-se encontrar as raízes do historicismo de Hegel,
que ele desenvolveria mais completamente em seu trabalho maduro. 
A filosofia da história de Hegel 
Em seu último ano de vida, em uma série de palestras dadas em 1830/31,
Hegel falou sobre a ideia de Deus e do propósito divino guiando a história
(essas palestras seriam publicadas após sua morte como Filosofia da história).
Ele falou de Deus como “não uma mera abstração, mas um princípio vital
capaz de realizar a si próprio”. Ainda mais longe, Deus determina a história:
“Deus governa o mundo; o trabalho real do seu governo – a realização de seu
plano – é a História do Mundo”. Não existem atos aleatórios ou acidentes para
Hegel. Tudo é planejado. “Ante a luz pura dessa Ideia divina – que não é
mero Ideal –, o fantasma de um mundo cujos eventos são um encontro
incoerente de circunstâncias fortuitas desaparece completamente.” 
É fácil enxergar como Marx remodelou a filosofia da história de Hegel
para adequá-la aos seus propósitos materialistas ao simplesmente substituir
“Deus” por “luta de classes”. O mais eloquente adversário do historicismo
hegeliano no século XX foi Karl Popper, que, em A sociedade aberta e os
seus inimigos (1945), apontou Hegel como um dos três antepassados do
totalitarismo, ao lado de Platão e Marx, porque – diz Popper – Hegel tomou
uma visão determinista da história. Pode-se argumentar igualmente que
Hegel tinha uma visão otimista da história e acreditava que o progresso real
era possível. 
O método de Hegel 
Em Fenomenologia do espírito (Phänomenologie des Geistes), Hegel joga
com o duplo significado da palavra alemã Geistes, que pode significar
“espírito” ou “mente” (o livro foi traduzido das duas maneiras em inglês).
Essa obra é a primeira parte da tentativa de Hegel de chegar a um relato do
conhecimento sistemático e científico. Seu subtítulo – Ciência da experiência
da consciência – deixa-nos saber que Hegel deseja levar o tema da
consciência para além do alcance da metafísica e para dentro do reino da
investigação científica. 
Em sua fenomenologia da mente, Hegel descarta as epistemologias de
pensadores do Iluminismo, de René Descartes (1596-1650) a Kant, por conta
do fundacionalismo destes (seu desejo de encontrar uma base firme sobre a
qual o conhecimento possa ser compreendido progressivamente). Ao tomar a
consciência por si mesma, assim como seus objetos – a consciência sendo
consciente de ter objetos –, Hegel descortina um novo caminho para a
compreensão do conhecimento. É neste contexto que seu famoso método
dialético entra em jogo. A formulação da tríade tese-antítese-síntese,
frequentemente mencionada em discussões a respeito de Hegel, foi na
verdade o trabalho do filósofo alemão e comentador hegeliano Heinrich
Moritz Chaly bäus (1796-1862). Essa tríade descreve o movimento pelo qual a
consciência, conforme estuda a si mesma, desloca-se em frente e
progressivamente, em direção a uma nova síntese. 
Para Hegel, a dialética é um processo sem fim, o primeiro motor do
pensamento. Mas sua caracterização diferia da de Chaly bäus, que usava os
termos abstrato-negativo-concreto. Esta formulaçãoé muito mais que a tese-
antítese-síntese, porque permite que todas as teses iniciais sejam falsas. Na
medida em que o abstrato move-se através do estágio negativo da dialética,
ele sofre um processo de mediação; só então chegamos ao concreto, ponto
em que todo o exercício recomeça. Hegel chamou o processo que impulsiona
este sistema de supressão. 
A chave para o pensamento de Hegel é sua elaboração da consciência
individual tornando-se consciente de si mesma e de seus objetos e de como
cada consciência individual torna-se ciente de outros seres conscientes. Ao
ser consciente do outro reconhecendo minha consciência, eu me torno um ser
social, e isto se transforma no fundamento de todas as relações sociais e a
precondição para a liberdade (que pode ser vista como o tema principal do
pensamento de Hegel). 
Na Fenomenologia, Hegel introduz o tema da dialética mestre/escravo.
Quando duas pessoas se encontram, há uma luta entre suas subjetividades,
com uma tentando ganhar ascendência sobre a outra. No fim, a relação
mestre/escravo se resolve porque ambas as partes reconhecem sua
interdependência. Nesta parábola, que Hegel denomina “Senhorio e
Servidão”, ele descreve como as subjetividades, confrontando-se entre si,
envolvem-se em uma “luta até a morte” pela ascendência sobre a outra. Mas
o mestre jamais consegue realmente ganhar ascendência sobre o escravo, do
qual ele depende para conseguir serviços, bens etc. Do mesmo modo, o
escravo enxerga em certo momento que não é um escravo, porque os frutos
de seu trabalho criam o mundo no qual ele e o mestre vivem. Na dialética
hegeliana, essas contradições são suprimidas na autoconsciência, que conduz
à intersubjetividade e a um mundo compartilhado, que é a base para a
organização social. 
Para Hegel, a Fenomenologia era um prelúdio para A ciência da lógica
(1812-17). Levando o idealismo transcendental de Kant mais longe, Hegel
defendeu na Fenomenologia que aquilo que chamamos de realidade é tão
influenciado por nossa percepção dela que, em última instância, ela é mente.
Tudo no mundo pode ser explicado pela ordem subjacente que a consciência
faz da realidade. Essa ordem é lógica. A ciência da lógica, para Hegel, é uma
tentativa de entender a estrutura subjacente do mundo que criamos. 
Filosofia do direito 
Em Princípios da filosofia do Direito (1820), Hegel combinou sua
compreensão da consciência e a lógica que organiza nosso mundo para se
dirigir ao negócio prático do direito e da política. O filósofo acreditava que o
direito tinha importância primordial na organização de uma sociedade que
deseja evitar o despotismo. Só enxergava a liberdade humana sendo realizada
por meio da participação como cidadão na vida cívica e social. 
Hegel identificava três esferas nas quais o “direito” opera: direito
abstrato, moralidade e eticidade. Direito abstrato diz respeito às nossas
relações com os outros, e Hegel identifica o princípio básico da “não
interferência” para descrever como deveríamos respeitar os direitos dos
outros (e o que esperamos em retribuição). Moralidade envolve nosso
entendimento da nossa própria subjetividade (ou “particularidade”), tal qual
descrito na Fenomenologia, como a base sobre a qual podemos reconhecer a
subjetividade dos outros e, assim, respeitar seus direitos como se eles fossem
nós. Hegel descreve três aspectos do problema da moralidade: propósito e
responsabilidade; intenção e bem-estar; e “o bem” da consciência. Na
terceira esfera, “eticidade”, Hegel sintetiza a experiência subjetiva do
indivíduo com os grupos progressivamente maiores nos quais ele ou ela
existe: a família, a sociedade civil, o Estado. É uma pesquisa particularmente
inclusiva sobre como o sujeito individual se relaciona com o resto do mundo. 
Hegel teve uma influência enorme no desenvolvimento do idealismo
britânico e da filosofia europeia ao longo dos séculos XIX e XX. Friedrich
Nietzsche desenvolveu o tema da moralidade do mestre e moralidade do
escravo em Genealogia da moral (1887). Eu e Tu (1923), de Martin Buber,
deve muito à dialética mestre/escravo, assim como Simone de Beauvoir fez
uso extensivo dela em O segundo sexo (1949), sua pesquisa sobre a posição
da mulher na história. Talvez a mais importante elaboração desse tema possa
ser encontrada na filosofia e psiquiatria do filósofo alemão Karl Jaspers, que
refina o conceito de subjetividades separadas e autoconscientes e sua relação
com outras subjetividades por meio do que ele denomina “luta amorosa”.
Talvez porque Hegel seja tão intimamente associado pelo senso comum à sua
apropriação por Marx, ele tenha sofrido o mesmo destino de Marx no mundo
pós-marxista e pós-comunista do século XXI. Mas, assim como a análise
marxista será revivida por pesquisadores em busca de uma solução para a
crise do capitalismo tardio, as ideias de Hegel sobre a consciência podem
oferecer um paliativo àqueles insatisfeitos com explicações excessivamente
redutoras de quem somos e de como nossas relações sociais são construídas. 
O objetivo, que é o Conhecimento Absoluto, ou o Espírito
conhecendo-se como Espírito, encontra seu caminho na lembrança
de formas espirituais (Geister), na medida em que elas estão em si
mesmas e em que cumprem a organização de seu reino espiritual.
Sua conservação, vista a partir da sua livre existência, aparecendo
na forma de contingência, é a História; vista a partir da sua
organização intelectualmente compreendida, é a Ciência dos
modos como o conhecimento aparece. Ambas reunidas, ou
História (intelectualmente) compreendida (begriffen), formam a
lembrança e o Calvário do Espírito Absoluto, a realidade, a
verdade, a certeza de seu trono, sem os quais ele era sem vida,
solitário e sozinho. 
G. W. F. Hegel, A Fenomenologia do espírito (1807) 
O fato é que o interesse, seja no conteúdo ou na forma da antiga
metafísica, ou em ambos, se perdeu. Tão notável quanto uma
pessoa que se tornou indiferente, por exemplo, ao seu direito
constitucional, às suas convicções, costumes morais e virtudes, é
uma pessoa que perde sua metafísica – quando o espírito
comprometido com sua essência pura não mais tem qualquer
presença real em sua vida. 
G. W. F. Hegel, A ciência da lógica (1832) 
Cada caminho que conduz à filosofia depende de determinadas
suposições subjacentes a respeito do que deve ser tomado como
ponto de partida. Mas e se não fizéssemos tais suposições? Seriam
todas as nossas perguntas, então, devoradas por dúvidas céticas e
reduzidas a nada? Hegel... achava que não. Sua resposta –
refrescante e revigorante – era que pouco importa onde
começamos ou se supomos alguma coisa; nossa jornada filosófica
será inevitavelmente um processo prolongado de autoinvestigação
no qual o pensamento questiona a si mesmo e sana suas
deficiências à medida que progride. 
Michael Allen Fox, The Accessible Hegel [Hegel acessível] (2005)

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