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Farmacologia da Junção Neuromuscular Prof. Dr. Stephen Hyslop Departamento de Farmacologia FCM – UNICAMP e-mail: hyslop@fcm.unicamp.br Organização da JNM ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Sistema nervoso periférico Sistema nervoso autônomo Sistema nervoso somático Simpático Parassimpático Transmissão adrenérgica Transmissão colinérgica Luta ou fuga Homeostáse Entérico TGI Músculo-esquelético: transmissão colinérgica TRANSMISSÃO COLINÉRGICA Transmissão química TIPOS DE NEUROTRANSMISSÃO Junção neuromuscular: - Sítio onde o neurônio motor encontra a fibra muscular - Anatomicamente consiste do a. Terminal nervoso (região pré-sináptica) b. Fenda sináptica c. Placa terminal motora (região pós-sináptica) ORGANIZAÇÃO DA JNM PRINCIPAIS TIPOS DE FIBRAS NERVOSAS PRINCIPAIS TIPOS DE FIBRAS NERVOSAS ORGANIZAÇÃO DA JNM ORGANIZAÇÃO DA JNM Inervação no sistema nervoso autônomo Características: -Não há placas terminais ou estruturas pós-sinápticas definidas -Não há bifurcações terminais (“pézinhos”) -Os nervos correm paralelo ao músculo sem contato direto -Os terminais nervosos são difusos e o NT tem que difundir até o músculo -Liberações múltiplas de NT ao longo do neurônio ORGANIZAÇÃO DA JNM Ionotrópicos RECEPTORES ENVOLVIDOS NA TRANSMISSÃO NEUROMUSCULAR Metabotrópicos CLASSIFICAÇÃO DE RECEPTORES COLINÉRGICOS Receptores colinérgicos Nicotínicos Muscarínicos NM NN M1 M2 M3 M4 M5 Ionotrópicos Metabotrópicos SNC Gânglios; SNC Coração Músculo liso; glândulas Músculo liso; glândulas RECEPTORES NICOTÍNICOS • Estruturas pentaméricas (αβγδε) que atuam como canais iônicos regulados por ligantes (16 membros: 9α, 4β, 1γ, 1δ, 1ε) • Tipo muscular: (α1)x2 + β1 + δ + ε • Tipo ganglionar: (α3)x2 + (β4)x3 • Tipo do SNC: (α4)x2 + (β2)x3; (α7)x5 RECEPTORES NICOTÍNICOS Receptores nicotínicos RECEPTORES NICOTÍNICOS Etapas da transmissão neuromuscular O potencial de ação (potencial pré-sináptico) desce o axônio e despolariza a membrana pré-sináptica A despolarização aumenta a permeabilidade da membrana pré- sináptica ao Ca2+ O nível aumentado de Ca2+ leva à exocitose das vesículas pré-sinápticas com liberação de neurotransmissor O neurotransmissor difunde através da fenda sináptica para se ligar reversivelmente ao seu receptor A ativação do receptor aumenta a permeabilidade iônica da membrana pós- sináptica Há formação de um potencial de placa terminal, com difusão elétrica e formação do potencial de ação pós-sináptica Remoção do neurotransmissor da fenda sináptica por recaptação ou degradação ETAPAS DA NEUROTRANSMISSÃO ETAPAS DA NEUROTRANSMISSÃO Relação entre canais de cálcio e receptores nicotínicos pós-sinápticos ETAPAS DA NEUROTRANSMISSÃO Funcionamento do receptor nicotínico Geração do potencial de ação (Em) mediado pelo fluxo de Na (gNa) e potássio (gK) Propagação do impulso ETAPAS DA NEUROTRANSMISSÃO Liberação da ACh - Sintetizada no citosol e estocada em vesículas (diam. 40 nm) iriundas do aparato de Golgi - Liberada por exocitose em “pacotes” ou “quanta”, sendo 1 vesícula = 1 quanta (10.000 moléculas de ACh) - Liberação em repouso = 1 vesícula que dá origem a um potencial em miniatura da placa motora (0,4 mV) Propagação do impulso ETAPAS DA NEUROTRANSMISSÃO Potencial de ação: O potencial sai de aprox. -80 mV e despolariza para +40-75 mV Término da ação da ACh: - Pela aceticolinesterase - Por difusão no espaço sináptico - Por recaptação da colina (endocitose vesicular) ETAPAS DA NEUROTRANSMISSÃO Relação entre o estímulo elétrico e a contração muscular: importância do cálcio Ca2+ Músculo esquelético RDHP RydR RS Troponina Ca2+ - Troponina Ca2+ Túbulo-T Membrana plasmática CONTRAÇÃO Canal de Na+ dependente de voltagem RDHP = receptor sensível à diidropiridina Receptor nicotínico Despol. ETAPAS DA NEUROTRANSMISSÃO Importância do cálcio na contração muscular Ca2+- ATPase (SERCA) Farmacologia da JNM TRANSMISSÃO NEUROMUSCULAR: PONTOS DE INTERFERÊNCIA 2. Inibindo a liberação de ACh 1.Afetando a síntese/armazenamento de ACh 3. Interferindo com a atuação pós-sináptica da ACh (receptores nicotínicos) COMO AS DROGAS PODEM INTERFERIR NA TRANSMISSÃO NEUROMUSCULAR? 1 2 3 1. Pré-sináptica 2. Fenda sináptica 3. Pós-sináptica Vesamicol Inibição da síntese/armazenamento de ACh - bloqueio da captação de colina - bloqueio do transporte vesicular Inibição da liberação de ACh - inibição do influxo de cálcio - inibição da fusão das vesículas Ca2+ Ca2+ Bloqueadores de canais de Ca2+ Inibição do influxo de Ca2+ e da fusão de vesículas Bloqueadores de canais de Ca2+ Botulina a-Latrotoxina Toxinas PLA2 pré-sinápticas Antagonismo de receptores nicotínicos - bloqueio competitivo (não-despolarizante) - bloqueio por despolarização • Índios da bacia amazônica: uso de veneno (curare) na extremidade das flechas • Paralisia e morte da caça • Ausência de sintomas de intoxicação e morte pelo consumo ANTAGONISTAS DE RECEPTORES NICOTÍNICOS • 1850: Claude Bernard demonstra efeito periférico (entre junção nervosa e muscular) • 1906: Langley sugere interação com “substância receptiva” na placa motora • 1935: elucidada estrutura da D-tubocurarina • 1942: Griffith e Johnson: uso clínico da D-tubocurarina na anestesiologia para relaxamento muscular durante cirurgia ANTAGONISTAS DE RECEPTORES NICOTÍNICOS • Chondrodendron tomentosum, Menispermaceae • Cissampelos pereirii, Menispermaceae • Strychnos sp., Loganiaceae • Aconitum napellus, wolfbane, Ranunculaceae • Acokanthera venenata, Apocynaceae • Antiaris toxica, Moraceae • Physostigma venenosum, Fabaceae • Abrus precatorius, rosary bean, Fabaceae CURARE Mistura de alcalóides de ocorrência natural encontrados em diversas plantas sul-americanas BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES Competitivos Despolarizantes Alcalóide natural Succinilcolina Decametônio Atracúrio Cisatracúrio Doxacúrio Mivacúrio Benzilisoquinolinas Esteróides de amônio D-Tubocurarina Pancurônio Pipecurônio Vecurônio Rocurônio Estrutura de bloqueadores de JNM Características gerais: 1. Todos têm semelhança à ACh (molécula “escondida” na estrutura maior) 2. As estruturas mais simples são as dos bloq. despolarizantes 3. Todas as outras têm estruturas volumosas 4. Todas têm um ou dois nitrogênios quaternários - pouco lipossolúvel - pouca entrada no SNC 5. Inativos por via oral. Usados por via parenteral Bloqueadores derivados da isoquinolina Estrutura de bloqueadores de JNM Bloqueadores derivados da isoquinolina “Estruturas” da ACh Estrutura de bloqueadores de JNM Bloqueadores neuromusculares esteróides Estrutura de bloqueadores de JNM “Estruturas” da ACh Bloqueadores neuromusculares esteróides Estrutura de bloqueadores de JNM N CH 2 O CH 3 CH 2 CH 2 CO(CH 2 ) 5 OCCH 2 CH 2 O O O CH 3 CH 3 CH 3 CH 3 N CH 2O O O O CH 3 CH 3 CH 3 CH 3 CH 3 O O N N CH 3 CH 3 H HCH3 H H H 3 CCO CH 3 OCCH 3 O O N N CH 3 CH 3 H HCH3 H H H 3 CCO OCCH 3 O O (CH 3 ) 3 N (CH 2 ) 10 N(CH 3 ) 3 (H 3 C) 3 (CH3)3NCH2CH2OCCH2CH2COCH2CH2N O O Succinilcolina Decametônio Atracúrio (os “cúrios”) (Benzilisoquinolona) Vecurônio (os “curônios”) (Esteróide de amônio) Pancurônio (Esteróide de amônio) + + + + + + + + + Estrutura de bloqueadores de JNM EFEITOS DE BLOQUEADORES DE JNM Fraqueza motora paralisia flácida total Pequenos músculos de contração rápida (olhos, maxilar, laringe), Músculos dos membros e do tronco, Músculos intercostais, Diafragma BLOQUEADORES DE JNM Modo de ação 1. Antagonistas nos receptores nicotínicos da placa terminal, ligando-se a uma ou ambas das unidades a do receptor 2. Competem com ACh, bloqueando o sítio de ligação 3. Produzem um estado de paralisia flácida MECANISMO DE AÇÃO: BLOQUEADORES COMPETITIVOS (NÃO-DESPOLARIZANTES) D-TUBOCURARINA E A TRANSMISSÃO NEUROMUSCULAR Influência de um bloqueador neuromuscular sobre a geração do potencial de ação BLOQUEADORES DE JNM Modo de ação BLOQUEIO DE FASE I 1. Abertura do receptor 2. Despolarização da placa terminal 3. Propagação e despolarização membrana adjacente 4. Contração muscular generalizada e desorganizada (fasciculação) MECANISMO DE AÇÃO: AGENTES DESPOLARIZANTES (I) 1. Ligam-se ao receptor nicotínico e atuam como um agonista, despolarizando-o 2. Bloqueio ocorre em duas fases BLOQUEIO DE FASE II A exposição continuada ao bloqueador resulta em: 1. Repolarização da membrana 2. Bloqueio do canal 3. Dessensibilização (menos sensível à ACh) MECANISMO DE AÇÃO: AGENTES DESPOLARIZANTES (II) INTOXICAÇÃO POR BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES Bloqueadores despolarizantes: respiração artificial Bloqueadores competitivos: inibidores de AChE Inibidores de AChE agravam o bloqueio Farmacologia comparativa dos bloqueadores de JNM Fármaco Inibidores da captação de colina Efeito no suprimento de ACh no terminal Efeito clínico Efeito da resposta muscular à ACh Efeito na quantidade de ACh liberada Efeito na amplitude do PPT Hemicolínio Bloqueadores de liberação de ACh Tx. botulínica [Ca2+] Agentes competitivos D-Tubocurarina Atracúrio Rocurônio Agentes despolarizantes Succinilcolina Decametônio Inibidores de AChE Neostigmina Organofosforados Paralisia Paralisia Paralisia Paralisia força e duração da contração _ _ _ _ _ _ _ _ _ EFEITOS ADVERSOS DE AGENTES COMPETITIVOS • D-tubocurarina – bloqueio ganglionar – liberação histamina (hipotensão, broncoconstrição) • Galamina – bloqueio muscarínico (taquicardia, hipertensão); não usada na clínica • Pancurônio – bloqueio de receptores muscarínicos (taquicardia); possivelmente agravado pela liberação de catecolaminas e bloqueio de recaptação (efeito menor e secundário) EFEITOS ADVERSOS DE AGENTES DESPOLARIZANTES 1. Bradicardia (estimulação dos receptores muscarínicos) 2. Paralisia prolongada (quando há alteração nos níveis de ButChE) 3. Hipertermia maligna (congênita rara) - Espasmo muscular ([Ca2+]i) e aumento súbito da temperatura corporal - A presença do agente despolarizante potencializa a liberação de cálcio (devido à maior abertura dos canais de cálcio no RS) - Dantroleno previne liberação de Ca2+ do RS (tratamento) 4. Liberação K+ (arritmias) Detecção de receptores nicotínicos em diafragma de camundongo usando 125I-neurotoxina (A). Em (B), marcação inespecífica com cardiotoxina. Ambas as toxinas são de Naja naja atra. Detecção de receptores nicotínicos usando 125I-a- bungarotoxina em hemidiafragma desnervado e não-desnervado de rato (metade esquerdo e direito, respectivamente, em cada painel) . 14 dias 60 dias DESNERVAÇÃO E PROLIFERAÇÃO DE RECEPTORES NICOTÍNICOS EFEITO DA SUCCINILCOLINA SOBRE A CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA DE K+ Liberação exacerbada de potássio por succinilcolina (suxametônio) após desnervação crônica OUTRAS AÇÕES DE BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES Gânglios Receptores Musc. Liberação de Hist. Succinilcolina estimulação estimulação leve Tubocurarina bloqueio nenhum moderada Metacurina bloqueio fraco nenhum leve Galamina nenhum bloqueio intenso nenhum Pancurônio nenhum bloqueio moderado nenhum Vecurônio nenhum nenhum nenhum Atracúrio nenhum nenhum leve Doxacúrio nenhum nenhum nenhum Pipecurônio nenhum nenhum nenhum Mivacúrio nenhum nenhum leve / moderado Fármaco Início (min) Duração (min) Modo de eliminação Succinilcolina 1 - 2 6 - 8 Hidrólise pela ButChE Tubocurarina 4 - 6 80 - 120 Rim, fígado Metacurina 4 - 6 80 - 120 Rim Galamina 4 - 6 80 - 120 Rim Pancurônio 4 - 6 80 - 120 Rim, fígado Vecurônio 2 - 4 30 - 40 Rim, fígado Atracúrio 2 - 4 30 - 40 Hidrólise pela ButChE Doxacúrio 4 - 6 90 - 120 Rim, fígado Pipecurônio 2 - 4 80 - 100 Rim, fígado Mivacúrio 2 - 4 12 - 18 Hidrólise pela ButChE Fármaco FARMACOCINÉTCA DOS BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES FARMACOCINÉTICA DOS BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES USOS CLÍNICOS DE AGENTES BLOQUEADORES DE JNM • Relaxamento muscular em intervenções cirúrgicas - facilitação das manobras operatórias • Ortopedia - correção de luxações e alinhamento de fraturas • Facilitar intubação - em casos de ventilação artificial mecânica • Facilitar exames internos - laringoscopia, broncoscopia, esofagoscopia • Prevenção de traumas - terapias com eletrochoque (distúrbios psiquiátricos) • Diagnóstico - miastenia grave (edrofônio) Anticolinesterásicos (neostigmina) - reversão do efeito de bloqueadores NM competitivos - prolongamento do efeito de agentes despolarizantes Bloqueadores de canais de Ca2+ (verapamil) - liberação de ACh Antibióticos (aminoglicosídeos, tetraciclinas) - competem com Ca2+ - liberação de ACh; estabilização de membrana Certos anestésicos gerais (halotano) - estabilização de membrana - aumento do fluxo sangüíneo (melhorar o bloqueio) INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES Leitura recomendada: 1. Goodman e Gilman (2007), 11ª edição, Cap. 9 2. Rang et al. (2008), 6ª edição, Cap. 10 3. Katzung (2008), 10ª edição, Cap 27
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