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Universidade Federal do ABC Primeiro Quadrimestre de 2013 Prof. Andre´ Lu´ıs da Silva Aula 12 Dia 11 de junho de 2013 Caracter´ısticas de Instrumentos de Medic¸a˜o 1 Introduc¸a˜o Na aula passada, foram definidos os conceitos de sensor, transdutor e instrumento de medic¸a˜o. Nesta aula, sa˜o apresentadas caracter´ısticas de instrumentos de medic¸a˜o, numa adaptac¸a˜o do texto da sec¸a˜o 1.5.2 da refereˆncia [1]. 2 Indicadores Os instrumentos podem apresentar um mostrador ou indicador. A indicac¸a˜o de um instrumento pode ser analo´gica (cont´ınua ou descont´ınua) ou digital. O instrumento de medic¸a˜o e´ denominado analo´gico quando o sinal de sa´ıda ou a indicac¸a˜o e´ uma func¸a˜o cont´ınua do mensurando ou do sinal de entrada. O instrumento de medic¸a˜o e´ denominado digital quando fornece um sinal de sa´ıda ou uma indicac¸a˜o em forma digital. Os termos “analo´gico” e “digital” sa˜o relativos a` forma de apresentac¸a˜o do sinal de sa´ıda ou da indicac¸a˜o e na˜o ao princ´ıpio de funcionamento do instrumento. O instrumento de medic¸a˜o ainda pode fornecer um registro da indicac¸a˜o analo´gico (linha cont´ınua ou descont´ınua) ou digital (memo´ria). A parte do instrumento de medic¸a˜o que apresenta uma indicac¸a˜o e´ denominada dispositivo mostrador ou indicador. Um dispositivo mostrador analo´gico fornece uma “indicac¸a˜o analo´gica”. A parte fixa ou mo´vel de um dispositivo mostrador, cuja posic¸a˜o em relac¸a˜o a`s marcas de escala permite determinar um valor indicado, e´ denominada ı´ndice. Por exemplo: ponteiro, ponto luminoso, superf´ıcie de um l´ıquido, pena de um registrador. A escala de um instrumento consiste no conjunto ordenado de marcas, associado a qualquer numerac¸a˜o, que faz parte de um dispositivo mostrador de um instrumento de medic¸a˜o. Cada marca e´ denominada marca de escala. Para um dada escala, o comprimento da escala e´ o comprimento da linha, real ou imagina´ria, compreendida entre a primeira e a u´ltima marcas; e´ expresso em unidades de comprimento, qualquer que seja a unidade do mensurando. A faixa de indicac¸a˜o consiste no conjunto de valores limitados pelas indicac¸o˜es extremas arre- dondadas ou aproximadas, obtidas com um posicionamento particular da configurac¸a˜o do instru- mento. Para um mostrador analo´gico, pode ser chamada de faixa de escala. A faixa de indicac¸a˜o e´ expressa nas unidades marcadas no mostrador, sendo normalmente estabelecida em termos de seus limites inferior e superior, por exemplo: 100oC a 200oC. A parte da escala compreendida entre duas marcas sucessivas quaisquer se denomina divisa˜o de escala, e a distaˆncia entre elas, medida ao longo da linha do comprimento da escala, e´ o comprimento de uma divisa˜o. A diferenc¸a entre os valores da escala correspondentes a duas marcas sucessivas e´ conhecida como valor de uma divisa˜o. 3 Caracter´ısticas de Instrumentos de Medic¸a˜o 2 A escala na qual o comprimento de uma divisa˜o esta´ relacionado com o valor de uma divisa˜o correspondente por um coeficiente de proporcionalidade constante e´ denominada escala linear. Uma escala linear cujos valores de uma divisa˜o sa˜o constantes e´ denominada “escala regular”. Em uma escala na˜o linear, cada comprimento de uma divisa˜o esta´ relacionado com o valor de uma divisa˜o correspondente por um coeficiente de proporcionalidade, que na˜o e´ constante ao longo da escala. Algumas escalas na˜o lineares possuem nomes especiais, como “escala logaritmica” e “escala quadra´tica”. 3 Caracter´ısticas de Instrumentos de Medic¸a˜o 3.1 Erros Alguns dos termos utilizados para descrever as caracter´ısticas de um instrumento de medic¸a˜o sa˜o igualmente aplica´veis a dispositivos de medic¸a˜o, transdutores de medic¸a˜o ou a um sistema de medic¸a˜o. O sinal de entrada de um sistema de medic¸a˜o pode ser chamado de est´ımulo e o sinal de sa´ıda pode ser chamado de resposta. O termo mensurando significa a grandeza aplicada a um instrumento de medic¸a˜o. Ao se executar a medic¸a˜o de uma varia´vel, utiliza-se um instrumento. Como esse instrumento foi constru´ıdo com componentes reais, e, ale´m disso, o procedimento e´ realizado em um ambiente sujeito a alterac¸o˜es de varia´veis na˜o controladas como umidade, temperatura, influeˆncia de campos eletromagne´ticos, entre outros, e´ de se esperar que a medida na˜o seja perfeita. De fato, o valor verdadeiro de uma medic¸a˜o e´ por natureza indeterminado, uma vez que ele somente seria obtido por uma medic¸a˜o perfeita. As imperfeic¸o˜es das medic¸o˜es da˜o origem aos erros. Por menores que sejam, os erros sempre estara˜o presentes em procedimentos experimentais. Da mesma maneira que o valor verdadeiro, e´ imposs´ıvel determinar um erro exatamente, sendo esse, portanto, um conceito idealizado. Segundo o VIM, o erro de medic¸a˜o e´ a diferenc¸a entre o valor medido de uma grandeza e um valor de refereˆncia. Quando existe um u´nico valor de refereˆncia, o que ocorre sempre que uma calibrac¸a˜o e´ realizada por meio de um padra˜o com um valor medido e com incerteza de medic¸a˜o desprez´ıvel, ou ainda se um valor convencional e´ fornecido, e´ poss´ıvel conhecer o erro de medic¸a˜o. Caso se suponha que um mensurando e´ representado por um u´nico valor verdadeiro ou um conjunto de valores verdadeiros de faixa desprez´ıvel, o erro de medic¸a˜o e´ desconhecido. Quando o valor verdadeiro na˜o pode ser determinado, utiliza-se, na pra´tica, um valor verdadeiro convencional. Quando for necessa´rio dintinguir “erro” de “erro relativo”, o primeiro e´ tambe´m denominado erro absoluto da medic¸a˜o. O guia Eurochem1/CITAC2 “Determinando a Incerteza nas Medic¸o˜es Anal´ıticas” (2002 - versa˜o brasileira 2. edic¸a˜o) afirma que o erro e´ constitu´ıdo por dois componentes principais, denominados aleato´rio e sistema´tico. O erro aleato´rio consiste no resultado de uma medic¸a˜o menos a me´dia que resultaria de um infinito nu´mero de medic¸o˜es do mesmo mensurando efetuadas sob condic¸o˜es de repetitividade. Erro aleato´rio e´ igual ao erro menos o erro sistema´tico. Uma vez que apenas um nu´mero finito de medic¸o˜es pode ser feito, e´ poss´ıvel apenas determinar uma estimativa do erro aleato´rio. Esse e´ geralmente originado por variac¸o˜es imprevis´ıveis de grandezas que influem no resultado da medic¸a˜o. 1 Eurochem e´ uma rede de organizac¸o˜es na Europa que tem por objetivo estabelecer um sistema de rastreabilidade internacional de medidas e promover pra´ticas para garantir a qualidade na a´rea de Qu´ımica. 2 CITAC - Cooperation on International Traceability in Analitical Chemistry. 3 Caracter´ısticas de Instrumentos de Medic¸a˜o 3 Esses efeitos aleato´rios da˜o origem a variac¸o˜es em observac¸o˜es repetidas do mensurando. Embora esse erro na˜o possa ser eliminado, ele pode ser reduzido aumentando-se o nu´mero de observac¸o˜es ou ensaios. O erro sistema´tico e´ a me´dia que resultaria de um infinito nu´mero de medic¸o˜es do mesmo mensurando, efetuadas sob condic¸o˜es de repetitividade, menos o valor verdadeiro do mensurando. Erro sistema´tico e´ igual ao erro menos o erro aleato´rio. Analogamente ao valor verdadeiro, o erro sistema´tico e suas causas na˜o podem ser completamente conhecidos. Para um instrumento de medic¸a˜o, o erro sistema´tico e´ denominado tendeˆncia, em ingleˆs, bias. A tendeˆncia de um instrumento de medic¸a˜o e´ normalmente estimada pela me´dia dos erros de indicac¸a˜o de um nu´mero apropriado de medic¸o˜es repetidas. O erro sistema´tico e´, portanto, um componente de erro que, no decorrer de um nu´mero de amostragens do mesmo mensurando, permanece constante ou varia de forma previs´ıvel. Esse erro e´ independente do nu´mero de medidas. Esse erro tambe´m na˜o pode ser totalmente eliminado, mas pode ser significativamente reduzido se o efeito for quantificado e aplicado um fator de correc¸a˜o. A figura 1 ilustra os conceitos de erro aleato´rio e erro sistema´tico.Supo˜e-se que uma medida foi realizada 6 vezes, sobre o mesmo mensurando, nas mesmas condic¸o˜es, os resultados sa˜o repre- sentados por Exp. 1, Exp. 2, ... Exp. 6. Estes valores da leitura do instrumento sa˜o as u´nicas informac¸o˜es sobre o valor real do mensurando, que e´ representado na figura pelo quadrado. Veja que o valor real e´ sempre o mesmo, devido ao experimento ser realizado nas mesmas condic¸o˜es. Ao tomar a me´dia de todas as medidas, obte´m-se o valor representado por um c´ırculo, que se assume ser o valor real mais erro sistema´tico. Quando o nu´mero de medidas e´ muito grande, por definic¸a˜o, a me´dia e´ constante e torna-se um valor uniforme, que provoca um desvio com respeito ao valor real, por isso o nome de tendeˆncia. Quanto a` parcela aleato´ria do erro, veja que, em cada experimento, ela assume um valor distinto, o qual na˜o e´ previs´ıvel. Este tipo de erro so´ pode ser caracterizado por me´tricas estat´ısticas, geralmente, uma func¸a˜o densidade de probabilidade. Exp. 1 Exp. 2 Exp. 3 Exp. 4 Exp. 5 Exp. 6 Valor real: mesmo em todos os experimentos. Legenda: Valor real mais erro sistemático: mesmo em todos os experimentos. Valor medido: contém o erro sistemático mais o aleatório. Devido à parcela aleatória, apresenta um valor distinto para cada experimento: 1, 2, ... 6. Fig. 1: Ilustrac¸a˜o sobre a natureza do erro aleato´rio e do erro sistema´tico. A figura 2, por sua vez, apresenta a propagac¸a˜o ao longo do tempo dos erros sistema´tico e aleato´rio para um certo mensurando, o qual e´ monitorado continuamente por um sensor. O sinal medido pelo sensor apresenta o formato errante da figura, caracterizado pelas variac¸o˜es aleato´rias. Note que, tomando uma me´dia mo´vel do valor lido pelo sensor, pode-se eliminar as variac¸o˜es aleato´rias, obtendo uma curva mais suave, onde constam a informac¸a˜o do valor real mais erro sistema´tico. Note que esta figura deixa bem clara a tendeˆncia do erro sistema´tico em desviar uniformemente a medida. Quanto a` parte aleato´ria, cabe uma informac¸a˜o muito importante: a propagac¸a˜o temporal de uma varia´vel aleato´ria e´ chamada de processo estoca´stico, o qual possui 3 Caracter´ısticas de Instrumentos de Medic¸a˜o 4 uma definic¸a˜o mais formal, que na˜o necessita ser apresentada neste momento. A a´rea do controle que trata sistemas estoca´sticos e´ chamada controle estoca´stico. Ele baseia-se na caracterizac¸a˜o estat´ıstica dos eventos, dando origem a te´cnicas de controle e filtragem. A te´cnica de filtragem mais conhecida e´ o filtro de Kalman, que serve para minimizar erros de sensor em sistemas com erro aleato´rio do tipo branco gaussiano na˜o correlacionado. Branco se refere ao espectro de frequeˆncias uniforme, como o da luz branca. Gaussiano representa a distribuic¸a˜o de probabilidade de Gauss, que tambe´m e´ chamada distribuic¸a˜o normal, muito usada em aplicac¸o˜es pra´ticas, por descrever processos que se originam de infinitas fontes uniformes. Na˜o correlacionado significa que o histo´rico temporal ate´ o instante atual na˜o tem relac¸a˜o com o histo´rico temporal ate´ um instante anterior. y(t) tempo Legenda: Valor real Valor real mais erro sistemático Medida: valor real mais erro sistemático mais erro aleatório Fig. 2: Ilustrac¸a˜o sobre a propagac¸a˜o no tempo do erro aleato´rio e do sistema´tico. Tambe´m e´ apropriado definir a incerteza de medic¸a˜o. Trata-se de um paraˆmetro na˜o ne- gativo, associado a valores que podem ser fundamentalmente atribu´ıdos a um mensurando. O paraˆmetro pode ser, por exemplo, um desvio padra˜o (ou um mu´ltiplo dele), ou a metade de um intervalo correspondente a uma probabilidade de abrangeˆncia estabelecida. A incerteza de medic¸a˜o corresponde, em geral, a muitos componentes. Alguns desses componentes podem ser estimados com base na distribuic¸a˜o estat´ıstica dos resultados das se´ries de medic¸o˜es e podem ser caracte- rizados por um desvio padra˜o experimental. Os outros componentes, que tambe´m podem ser caracterizados por desvio padra˜o, sa˜o avaliados por meio de distribuic¸a˜o de probabilidades assumi- das. Entende-se que o resultado da medic¸a˜o e´ a melhor estimativa do valor do mensurando e que todos os componentes da incerteza, incluindo aqueles resultantes dos efeitos sistema´ticos, como os componentes associados a correc¸o˜es e padro˜es de refereˆncia, contribuem para a dispersa˜o. Deve-se observar que a incerteza na˜o e´ sinoˆnimo de erro. Enquanto o erro e´ definido como a diferenc¸a entre um valor individual e o valor verdadeiro, ou seja, um valor u´nico, a incerteza assume uma faixa de valores. A princ´ıpio, o valor de um erro conhecido pode ser utilizado para corrigir um resultado. A incerteza na˜o serve para corrigir um resultado, mas sim para representar o resultado. Existem va´rios outros termos que relacionam os erros e a incerteza ao instrumento. Exatida˜o de um instrumento de medic¸a˜o e´ a aptida˜o de um instrumento para fornecer respostas pro´ximas a um valor verdadeiro, enquanto exatida˜o de medic¸a˜o e´ o grau de concor- daˆncia entre um valor medido e um valor verdadeiro do mensurando. Exatida˜o de medic¸a˜o na˜o e´ uma grandeza, e´ um conceito qualitativo que na˜o deve ser expresso numericamente. Uma medic¸a˜o e´ dita mais exata quando e´ caracterizada por uma incerteza de medic¸a˜o menor. O VIM chama a atenc¸a˜o de que o termo precisa˜o na˜o deve ser utilizado como exatida˜o. Observe que o 3 Caracter´ısticas de Instrumentos de Medic¸a˜o 5 termo exatida˜o esta´ diretamente relacionado a ambos os erros citados anteriormente: sistema´tico e aleato´rio. Apesar de ser citado em muitas refereˆncias, o termo precisa˜o de medic¸a˜o possui algumas peculiaridades. A versa˜o brasileira, em l´ıngua portuguesa (VIM 2007), disponibilizada pelo Inmetro na˜o apresenta definic¸a˜o para esse termo. No entanto, um documento na forma de uma nota te´cnica de 7/2008, constituindo uma traduc¸a˜o dos cap´ıtulos 1 a 5 do JCGM (Joint Committee for Guides in Metrology - Conceitos Fundamentais e Gerais e Termos Associados (VIM), terceira edic¸a˜o) reintroduz esse conceito. Esse documento te´cnico foi desenvolvido pelos profissionais da Divisa˜o de Merologia Mecaˆnica (DIMEC) da Diretoria de Metrologia Cient´ıfica e Industrial (DIMCI) do Inmetro - 2008. Assim, a precisa˜o de medic¸a˜o e´ definida como o grau de concordaˆncia entre indicac¸o˜es ou valores medidos, obtidos por medic¸o˜es repetidas, no mesmo ou em objetos similares, sob condic¸o˜es especificadas. A precisa˜o de medic¸a˜o e´ usualmente expressa na forma nume´rica por meio de medidas de dispersa˜o como o desvio padra˜o, a variaˆncia ou o coeficiente de variac¸a˜o, sob condic¸o˜es de medic¸a˜o especificadas. Essas “condic¸o˜es especificadas” podem ser, por exemplo, as condic¸o˜es de repetitividade, as condic¸o˜es de precisa˜o intermedia´ria ou as condic¸o˜es de reprodutibilidade. A figura 3 mostra intuitivamente os conceitos de exatida˜o e precisa˜o usando a analogia de um tiro ao alvo. Quanto mais pro´ximo do centro, mais exato e´ o disparo, quanto menos dispersos os disparos sa˜o entre si, mais preciso o atirador e´. Nessa situac¸a˜o, as ordens de exatida˜o e precisa˜o sa˜o: • Exatida˜o: (a)>(b)>(c)>(d); • Precisa˜o: (a)>(d)>(b)>(c). Note que, embora o caso (d) seja o segundo caso mais preciso, disparos mais coerentes entre si, ele e´ o menos exato, pois estes disparos sa˜o os mais distantes do centro. (a) (b) (c) (d) Fig. 3: Ilustrac¸a˜o sobre a comparac¸a˜o entre exatida˜o e precisa˜o. 3.2 Caracterizac¸a˜o de Instrumentos Nesta sec¸a˜o, apresentam-se outras caracter´ısticas importantes e gerais de instrumentos. A resoluc¸a˜o e´ definida como a menor variac¸a˜o da grandeza que esta´ sendo medida, que causa uma variac¸a˜o percept´ıvel na indicac¸a˜o correspondente. O termo resoluc¸a˜o de um dispositivo mostrador consiste na menor diferenc¸a entreindicac¸o˜es desse dispositivo que pode ser significa- tivamente percebida. Para um dispositivo mostrador digital ou mesmo para um registrador, a resoluc¸a˜o consiste na variac¸a˜o da grandeza de indicac¸a˜o ou de registro, quando o d´ıgito menos significativo varia de uma unidade. 3 Caracter´ısticas de Instrumentos de Medic¸a˜o 6 Exemplo 1: Se a resoluc¸a˜o de um determinado volt´ımetro digital e´ de 1mV, isso significa que o d´ıgito menos significativo na escala e´ da unidade de mV, ou seja, para o d´ıgito menos significativo ser alterado, a variac¸a˜o mı´nima da entrada deve ser de 1mV. O limiar de mobilidade consiste na maior variac¸a˜o no est´ımulo (grandeza medida) que na˜o produz variac¸a˜o detecta´vel na resposta (indicac¸a˜o) de um instrumento de medic¸a˜o, sendo a variac¸a˜o no sinal de entrada lenta e uniforme. O limiar de mobilidade pode depender, por exemplo, de ru´ıdo (interno ou externo) ou atrito. Pode depender, tambe´m, do valor do est´ımulo. Esse termo define a limitac¸a˜o percept´ıvel na entrada do dispositivo de medida. Por exemplo, em um mostrador digital com a indicac¸a˜o do tipo X,XXX unidades, e´ necessa´- ria uma variac¸a˜o da grandeza de entrada de no mı´nimo 0,001 unidade para se perceber alguma mudanc¸a (desconsiderando poss´ıveis interfereˆncias externas). O limiar de mobilidade define a resoluc¸a˜o de entrada, e a resoluc¸a˜o do mostrador, a resoluc¸a˜o de sa´ıda. Considerando a figura 4, esses paraˆmetros podem ser definidos quantitativamente como: LM% = 100 dxmin FEe , Limiar de mobilidade - Entrada (1) e RM% = 100 dymax FEs , Resoluc¸a˜o do mostrador - Sa´ıda (2) em que dxmin representa a variac¸a˜o mı´nima na entrada percept´ıvel na sa´ıda ou resoluc¸a˜o de en- trada, dymax representa o maior salto da medida em resposta a uma variac¸a˜o infinitesimal do mensurando, ou resoluc¸a˜o de sa´ıda. FEe e FEs representam os fundos de escala de entrada e de sa´ıda, respectivamente. dxmin dymax x y Fig. 4: Limiar de mobilidade e resoluc¸a˜o do mostrador. Sensibilidade (S): e´ a raza˜o da variac¸a˜o na sa´ıda (ou resposta ou indicac¸a˜o) pela variac¸a˜o da entrada (ou est´ımulo ou grandeza medida). Observa-se que a sensibilidade sera´ uma constante se a curva de resposta for linear. Caso contra´rio, sera´ uma determinada func¸a˜o, como ilustra a figura 5. Matematicamente, a sensibilidade e´ dada na equac¸a˜o 3. S = ∆s ∆e (3) onde ∆s e´ uma variac¸a˜o na sa´ıda e ∆e e´ a variac¸a˜o de entrada que a provoca. Quando essas quantidades tendem a zero, no limite, tem-se a derivada: S = ds de (4) 3 Caracter´ısticas de Instrumentos de Medic¸a˜o 7 1 2 3 4 5 10 20 30 40 50 relação linear: y=10x S=10 1 2 3 4 5 5 10 15 20 25 relação não linear: y=x2 S=2x Fig. 5: Sensibilidade de resposta linear e na˜o linear. Exemplo 2: Para uma relac¸a˜o sa´ıda versus entrada linear do tipo: y = λ1x1 + λ2x2 + λ3x3 + . . . (5) A sensibilidade com respeito a` entrada xk e´: Sxk = ∂y ∂xx = λk = constante (6) Exemplo 3: Para uma relac¸a˜o sa´ıda versus entrada na˜o linear do tipo: y = λ1x1(1 + λ2x 2 2) + λ3x 2 1x3 (7) A sensibilidade com respeito a` varia´vel de entrada x1 e´ dada por: Sx1 = ∂y ∂x1 = λ1(1 + λ2x 2 2) + 2λ3x1x3 (8) Note que, para uma relac¸a˜o entrada sa´ıda na˜o linear, o valor da sensibilidade pode depender do valor espec´ıfico do est´ımulo. Exemplo 4: A sensibilidade de um termoˆmetro pode ser 10mV/oC. Isso significa que, para cada oC variando na entrada, a sa´ıda apresenta 10mV de variac¸a˜o na tensa˜o. Geralmente a resoluc¸a˜o evidencia as limitac¸o˜es do hardware, como o nu´mero de d´ıgitos de um mult´ımetro ou o nu´mero de bits de um conversor analo´gico digital, enquanto a sensibilidade evidencia a caracter´ıstica do sensor ou transdutor, limitado pela sua pro´pria natureza, como por exemplo a variac¸a˜o da resisteˆncia em func¸a˜o da temperatura de um sensor do tipo PT100. Exemplo 5: Seja um conversor analo´gico digital de 8 bits com faixa de entrada de 0 a 5V. Considerando um termoˆmetro linear utilizando um PT100 devidamente condicionado, cuja sa´ıda varia linearmente de 0 a 1V para uma variac¸a˜o de temperatura de 0 a 100oC, calcule a resoluc¸a˜o em oC imposta pelo sistema. A resoluc¸a˜o do conversor AD (RAD) pode ser calculada por: RAD = Vfaixa entrada 2N. bits − 1 = 5 255 = 0, 0196V/bit (9) Como o problema diz que a faixa de sa´ıda de 0 a 1V tem relac¸a˜o linear com a faixa de variac¸a˜o de temperatura de 0 a 100oC, pode-se montar uma regra de proporcionalidade simples: 1V → 100oC 0, 0196 → XoC 3 Caracter´ısticas de Instrumentos de Medic¸a˜o 8 Assim, X pode ser calculado: X = 0, 0196× 100 = 1, 96oC. Observa-se, neste caso, que a resoluc¸a˜o do sistema e´ de 1, 96oC. Na pra´tica, esse resultado demonstra que a resoluc¸a˜o e´ muito pobre e que melhorias devem ser feitas. Por exemplo, o sinal do termoˆmetro poderia ser amplificado por 5 para utilizar toda a faixa de entrada do conversor AD, ou enta˜o o nu´mero de bits poderia ser aumentado, mas seria mantido o “desperd´ıcio” de grande parte de sua faixa de entrada. Agora, sa˜o introduzidos os conceitos de linearidade e conformidade. Linearidade: paraˆmetro que indica o ma´ximo desvio de uma curva representando a relac¸a˜o sa´ıda versus entrada da reta que melhor descreve os pontos reais. Geralmente a linearidade e´ obtida levantando-se uma curva me´dia que representa o comportamento do instrumento. Depois disso uma reta e´ enta˜o ajustada, de modo a adequar esses pontos a` nova equac¸a˜o. A linearidade pode ser quantificada por: Linearidade % = 100 Difmax FEs (10) em que Difmax indica a maior distaˆncia entre a reta e a curva real e FEs indica o fundo de escala da sa´ıda. Oberva-se que a linearidade so´ tem sentido se aplicada a um sistema projetado para ser linear. Em casos em que o sistema de medic¸a˜o possui resposta na˜o linear, pode-se definir a conformidade: paraˆmetro que indica o ma´ximo desvio da relac¸a˜o sa´ıda versus entrada do instrumento em relac¸a˜o a uma curva de refereˆncia. Analogamente ao caso linear, a conformidade pode ser calculada por: Conformidade % = 100 Difmax FEs (11) A figura 6 ilustra as definic¸o˜es de linearidade e conformidade para sistemas de medidas gene´- ricos. Difmax Linha de tendência linear Sinal Difmax Linha de tendência não linear Sinal (a) (b) Fig. 6: Linearidade e conformidade. Refereˆncias [1] Alexandre Balbinot e Valner Joa˜o Brusamarello. Instrumentac¸a˜o e Fundamentos de Medidas, volume 1. LTC, Rio de Janeiro, 2. ed edition, 2010.
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