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1 Curso: Engenharia de Produção Disciplina: Metodologia Científica Autor: Kelly Alonso Costa DI: Bruna Canabrava Supervisão DI: Renata Vittoretti Aula 3 – Método e Técnica Meta Apresentar os conceitos fundamentais sobre métodos e suas características quando forem de cunho científico. Mostrar o desenvolvimento ao longo da história dos métodos científicos e suas definições. Objetivos Após esta aula, você será capaz de: 1. identificar os conceitos chaves relacionados a método e a sua presença no nosso cotidiano; 2. distinguir os aspectos principais do desenvolvimento histórico dos métodos científicos; 3. reconhecer as etapas principais do método científico e identificar os diferentes tipos de métodos utilizados para a ciência. Introdução Toda descoberta que pretende tornar-se um fato científico busca sua comprovação e caracterização por métodos científicos. Contudo, você precisa saber que nem todos os ramos de estudos que empregam esses métodos são ciências! Por outro lado, não há ciência sem o emprego pautado em métodos científicos (LAKATOS; MARCONI, 2003). 1- Método e Técnica 2 O conhecimento científico é o resultado do questionamento contínuo e das investigações sistemáticas dos fenômenos naturais. A sistematização dessas investigações levaram ao desenvolvimento do chamado método científico. Podemos dizer que um método é um conjunto de conceitos, regras e procedimentos que podem ser aplicados em diferentes contextos para alcançar determinado objetivo. BOX DE CURIOSIDADE O cubo de Rubik é um brinquedo que há décadas fascina pessoas por todo o mundo. Você já tentou resolvê-lo? Uma rápida busca na internet revela as mais variadas estratégias para encontrar a solução, dê uma olhada e veja se consegue descobrir o que elas têm em comum. Fonte: http://www.freeimages.com/photo/468027 - Sarah Williams FIM DE BOX DE CURIOSIDADE A investigação científica depende de um método, ou seja, “um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos” para que seus objetivos sejam atingidos (GIL, 1999). Então, você precisa aprender os métodos que farão parte da sua investigação ao longo do seu curso de Engenharia e principalmente no seu projeto final de graduação. Inicialmente vamos aprender sobre a evolução do método, conhecer seus diferentes tipos e mais tarde falaremos sobre técnica. Início boxe multimídia Para iniciar o seu estudo sobre métodos, vou te convidar para uma viagem na história que mostra a importância do método científico para alcançar resultados 3 que viraram os avanços que temos hoje a nossa disposição. O vídeo se chama O método científico e está no link: http://www.youtube.com/watch?v=4Caqk4BkP88. Vale a pena observar através desse vídeo como o método científico impulsionou a ciência. Fonte: http://www.freeimages.com/photo/1041242 - Svilen Milev Fim Box 1.1 – O que é Método? Fazemos uso de métodos em várias situações do cotidiano. Por exemplo, quando seguimos uma receita ou desenvolvemos rotinas que otimizam atividades que repetimos todos os dias, como botar o café para fazer enquanto tomamos banho para que esteja pronto na hora certa, sem precisarmos esperar. Na realidade, esses métodos nos auxiliam a tomar decisões e definir um caminho para alcançar um objetivo! Ao longo da história, muitos cientistas e pesquisadores utilizaram métodos científicos para observar e medir o funcionamento de fenômenos naturais ou de comportamentos humanos. Início boxe multimídia Esse vídeo é divertido e ao mesmo tempo interessante para observar os riscos de uma investigação sem método! O vídeo se chama Wildebeest e está no link: https://www.youtube.com/watch?v=JMJXvsCLu6s. 4 Fonte: http://www.freeimages.com/photo/1426118 Autor: Eva Schuster Fim Box Nosso objetivo é reconhecer o desenvolvimento da Ciência e sua contribuição para a história da humanidade em diversas áreas, possibilitando novas revelações que favoreceram as formulações dos métodos científicos da Ciência. Então, vamos conhecer inicialmente a origem etimológica da palavra e suas características. A palavra de origem grega - metá (reflexão, raciocínio, verdade) + hódos (caminho, direção). Portanto: Méthodes refere-se ao caminho que permite chegar a um fim. A palavra método, segundo Ruiz (1996), significa “o conjunto de etapas e processos a serem vencidos ordenadamente na investigação dos fatos ou na procura da verdade”. Um método é criado a partir das necessidades que surgem e de problemas que precisam de soluções, ou seja, o método está relacionado ao objetivo do questionamento. Atualmente, as investigações são baseadas em técnicas, precisão e previsão, por isso os métodos também evoluíram com as exigências das pesquisas e podem ser aplicados em qualquer campo de estudo, tanto nas ciências humanas como nas exatas. Segundo Lakatos e Marconi (2003), (...) o método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos e verdadeiros 5 -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. Galliano (1986) diz que “qualquer pessoa civilizada é uma espécie de ilha cercada de métodos por todos os lados, ainda que nem sempre tenha consciência disso”. Dessa forma podemos entender que o método faz parte do conhecimento humano e sua busca por respostas ao longo da história. É interessante observar que ao transportarmos esse conceito para a aquisição do conhecimento em ciência, teremos um método chamado científico. Conforme Cartoni (2009), os métodos científicos requerem uma clareza de raciocínio para organizar a pesquisa. Só assim, é possível definir o escopo da investigação: em que premissas ela se baseia, e até que ponto os resultados são válidos e extrapoláveis para outras situações. O método não é a única opção e nem uma receita infalível para o cientista obter a verdade dos fatos, pois o método também tem os seus limites. Ele apenas tem a intenção de validar e facilitar o planejamento, investigação, experimentação e conclusão de um determinado trabalho científico (SILVA e TAFNER, 2004). Verbete Validar é tornar ou declarar válido; legitimar; confirmar. fim do verbete Então podemos entender que os métodos científicos são aliados a nossa busca pelo conhecimento, seja num curso de graduação, num laboratório de pesquisa ou mesmo num experimento em nosso cotidiano. O que distingue o conhecimento científico dos outros conhecimentos é a possibilidade de verificação dos seus resultados. O método científico permite sua comprovação, pois identifica clara e objetivamente os raciocínios, organizações, planejamentos e técnicas utilizados (CARTONI, 2009). 1.2 – O Método e o seu desenvolvimento histórico 6 A busca pelo conhecimento tem sido uma força motriz para o desenvolvimento científico da humanidade ao longo da história. Como as explicações mágicas ou sem comprovação não bastavam para compreender os fenômenos, os seres humanos finalmente evoluíram para a busca de respostas através de caminhos que pudessem ser comprovados e validados, como já citado na aula 2. A partir do século XVI, como consequência do crescente mercantilismo e do nascimento de uma sociedade capitalista, as explicações oferecidas pela igreja já não tinham a mesma força que antes. (JEZINE, 2007). Então se procurou a explicação dos acontecimentos através da observação científica aliada ao raciocínio e assimnasceu o conceito de cientificidade. Conforme Jezine (2007), Galileu foi o primeiro estudioso do método experimental. Ele usou a filosofia e a matemática para sistematizar suas idéias e observações, e desenvolveu o que hoje chamamos de indução experimental. BOX DE CURIOSIDADE Termômetro de Galileu – este termômetro funciona relacionando a densidade do líquido e a temperatura do ambiente. Pesquise e descubra como Galileu chegou a essa solução! Fonte: http://www.freeimages.com/photo/553884 - Thad Zajdowicz 7 BOX DE CURIOSIDADE Francis Bacon, contemporâneo de Galileu, parte do pressuposto de que o conhecimento científico é o único caminho seguro para a verdade dos fatos. Mas Descartes, com a obra “Discurso do Método”, se afasta dos processos indutivos, originando o método dedutivo. Para ele, chega-se à certeza através da razão, princípio absoluto do conhecimento humano (JEZINE, 2007). Através do pensamento analítico, Descartes busca respostas em princípios racionais como a matemática absoluta. Segundo Seabra (2001), a visão cartesiana domina grande parte do pensamento científico atual, que coloca o homem como observador externo da natureza. René Descartes Pensamento lógico é o caminho para a verdade. Racionalismo Francis Bacon Observação empírica é o caminho para a verdade. Empirismo Galileu Galilei Racionalismo + Empirismo Indução científica Figura 3.1: Diferentes caminhos em busca da verdade nos séculos XVI e XVII Autor: André Dahmer Com o desenvolvimento das pesquisas foram surgindo novos métodos e muitos deles foram sofrendo modificações associadas às transformações ao longo da história da sociedade. Podemos citar entre eles a metodologia de Newton. Atualmente, adota-se o conceito de método científico como a teoria da investigação e o autor Bunge (1980) caracteriza etapas a serem cumpridas: “a) descobrimento do problema ou lacuna num conjunto de conhecimentos. Se o problema não estiver enunciado com clareza, passa-se à etapa seguinte; se o estiver, passa-se à subseqüente; 8 b) colocação precisa do problema, ou ainda a recolocação de um velho problema, à luz de novos conhecimentos (empíricos ou teóricos, substantivos ou metodológicos); c) procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema (por exemplo, dados empíricos, teorias, aparelhos de medição, técnicas de cálculo ou de medição). Ou seja, exame do conhecido para tentar resolver o problema; d) tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados. Se a tentativa resultar inútil, passa-se para a etapa seguinte; em caso contrário, à subseqüente; e) invenção de novas idéias (hipóteses, teorias ou técnicas) ou produção de novos dados empíricos que prometam resolver o problema; f) obtenção de uma solução (exata ou aproximada) do problema com auxílio do instrumental conceitual ou empírico disponível; g) investigação das conseqüências da solução obtida. Em se tratando de uma teoria, é a busca de prognósticos que possam ser feitos com seu auxílio. Em se tratando de novos dados, é o exame das conseqüências que possam ter para as teorias relevantes; h) prova (comprovação) da solução: confronto da solução com a totalidade das teorias e da informação empírica pertinente. Se o resultado é satisfatório, a pesquisa é dada como concluída, até novo aviso. Do contrário, passa-se para a etapa seguinte; i) correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obtenção da solução incorreta. “Esse é, naturalmente, o começo de um novo ciclo de investigação." (BUNGE, 1980). As etapas assim se apresentam, de forma esquemática (LAKATOS e MARCONI 2003): 9 Figura 3.2: Etapas da investigação Fonte: LAKATOS; MARCONI, 2003. 1.3 – Os Métodos Científicos 10 Na realidade, o método científico possui etapas fundamentais que exercitamos no nosso dia a dia. Geralmente, há um questionamento sobre uma determinada situação e precisamos buscar respostas que possam ser verificadas para usarmos como solução. Podemos citar um exemplo simples como a recomendação médica sobre dormir de oito a dez horas por noite. Vamos imaginar que você durma no máximo 5 horas por noite e tem se sentido muito cansado ultimamente; e resolve testar essa recomendação e observa na manhã seguinte que você acordou mais disposto e também teve um melhor rendimento durante o dia. Faz o mesmo procedimento durante quinze dias e verifica que se sente muito mais ativo e produtivo. Então, você concluiu que o conselho médico é validado. Na verdade essa recomendação médica já foi validada cientificamente há muito tempo, mas você realizou as etapas de um método de forma geral. Conforme Galliano (1986), em linhas gerais, o método científico é um instrumento para a investigação da realidade e envolve etapas distintas: 1. Definição da pergunta a ser respondida; 2. Elaboração de uma hipótese (a partir do conhecimento prévio); 3. Testes, observações ou medições com experimentos; 4. Conclusões sobre os resultados encontrados, que validam ou não a hipótese. PERGUNTA HIPÓTESES OBSERVAÇÃO OU EXPERIMENTO CONCLUSÃO Figura 3.3: Principais etapas do método científico Início boxe multimídia Para você observar um exemplo simples com todas as etapas do método científico, indicamos esse vídeo para você! É uma forma interessante de 11 observar as plantas através do método científico. O vídeo está no link: https://www.youtube.com/watch?v=B8YK-zmLaZA. Fim Box Existem métodos que podem ser usados para elaborar um trabalho acadêmico, como uma dissertação, uma tese, trabalho final de graduação, entre outros. A escolha do método que mais se aproxima dos interesses e/ou objetos de estudo deve ser feita pelo aluno (através de um orientador) ou do próprio pesquisador. Para os nossos estudos, vamos nos ater aos seguintes métodos: indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo, e dialético. Mais tarde falaremos um pouco sobre os métodos específicos das Ciências Sociais. 1.3.1 – Método Indutivo “A indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal” (LAKATOS e MARCONI 2003). De forma geral, a indução é um tipo de raciocínio lógico que parte de unidades pequenas e concretas de conhecimento para generalizações cada vez mais amplas. Ela parte do princípio que se cada uma das premissas é verdadeira, podemos tirar conclusões abrangentes que provavelmente serão verdadeiras também. (JEZINE, 2007) Exemplo: Cobre conduz energia; Zinco conduz energia; Prata conduz energia; Cobre, zinco e prata são metais. Portanto conclui-se que todo metal conduz energia! 12 Segundo Lakatos e Marconi (2003), devemos considerar três etapas fundamentais para toda indução: a) Observação dos fenômenos; b) Descoberta da relação entre eles; c) Generalização da relação. Exemplo: Carlos é mortal; André é mortal; Fábio é mortal; Então, observo que Carlos, André, Fábio, etc. são mortais; verifico a relação entre ser homem e ser mortal; generalizo dizendo que todos os homens são mortais. 1.3.2 – Método Dedutivo Este método explica o conteúdo das argumentações que, diante de proposições verdadeiras, chegará necessariamente a conclusões verdadeiras. Isto se dá devido a uma sequência de raciocínio lógico que deduz a partir da análise das premissas maiores para a análise das premissasmenores, chegando em uma conclusão verdadeira das argumentações propostas (SILVA e TAFNER, 2004). Verbete Premissa é um argumento ou princípio reconhecido como verdadeiro. fim do verbete Exemplo: X é igual a Y; Y é igual a Z; Então, a conclusão é que X é igual a Z. Aplicar o método dedutível é dissecar dada informação até interpretar os motivos determinantes da mesma, o motivo que gerou a informação. Porém; em regra, ambos os modos dedutível e indutivo têm inicialmente como fundamento basilar o raciocínio argumentativo de premissas, isto é, observação de fatos (JEZINE, 2007). 13 Lakatos e Marconi (2003) fornecem dois exemplos interessantes para observarmos a diferença entre argumentos dedutivos e indutivos: Dedutivo: Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os cães são mamíferos. Logo, todos os cães têm um coração. Indutivo: Todos os cães que foram observados tinham um coração. Logo, todos os cães têm um coração. Segundo Salmon (1978) apud Lakatos e Marconi (2003), as duas características básicas que distinguem os argumentos dedutivos dos indutivos são: DEDUTIVOS INDUTIVOS I. Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira. II. Toda a informação ou conteúdo fatual da conclusão já estava, pelo menos implicitamente, nas premissas. I. Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é provavelmente verdadeira, nas não necessariamente verdadeira. II. A conclusão encerra informação que não estava, nem implicitamente, nas premissas Figura 3.4: Argumentos dedutivos e indutivos Fonte: LAKATOS; MARCONI, 2003. 1.3.3 – Método Hipotético-dedutivo O método Hipotético-Dedutivo confronta as idéias originadas pelos métodos indutivo e dedutivo, ou seja, empirismo versus racionalismo no que diz respeito à maneira de se obter conhecimento. Ambos buscam o mesmo objetivo, mas enquanto os empíricos se baseiam nas experiências dos sentidos (a verdade 14 natural), os racionais se norteiam pela razão ou intuição humana (SILVA e TAFNER, 2004). O método hipotético-dedutivo inicia por uma percepção de uma lacuna nos conhecimentos, formula hipóteses que são conduzidas a um processo de inferência dedutiva, testa e controla a hipótese da ocorrência de fenômenos abrangidos pela hipótese (JEZINE, 2007). Ainda, conforme Lakatos e Marconi (2003), Karl R. Popper definiu que o método científico se desdobra a partir de um problema (P1), oferecendo-lhe um tipo de solução inicial, Teoria Tentativa (TT), em seguida iniciando uma crítica a esta solução, objetivando a Eliminação do Erro (EE). Dialeticamente, esse processo renova-se a si mesmo continuadamente, fazendo surgir o aparecimento de outros novos Problemas (P2). P1 ----------------TT---------------------EE------------------P2 E o esquema das etapas do método pode ser apresentado como: Figura 3.5: Etapas do método hipotético-dedutivo Fonte: LAKATOS; MARCONI, 2003. Ilustração: Favor redesenhar o esquema acima. 1.3.4 – Método Dialético 15 Figura 3.6: “Escola de Atenas”, afresco pintado por de Rafael cerca de 1510 retrata Platão e Aristóteles numa cena imaginada na Grécia Antiga (cerca 400 a.c.) Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Raphael_School_of_Athens.jpg Na Grécia antiga, o conceito de dialética era equivalente ao de diálogo para debater idéias e suas contradições. No entanto, esse conceito sofreu muitas alterações, absorvendo as concepções de vários pensadores ao longo do tempo. Esta fase dialética está norteada pelos estudos de Engels, Marx e Hegel, que acreditam que tanto o pensamento quanto o mundo material estão em constante mutação, influenciando e modificando um ao outro. Este método traduz uma interpretação dinamizada e totalitária da realidade; tendo em vista que deve considerar os fatos dentro de um contexto social, político e tantos outros necessários (CARTONI, 2009). No método dialético não se deve analisar cada elemento isoladamente, pois os fenômenos naturais estão interligados por meio dos princípios da conexão universal de objetos e fenômenos (JEZINE, 2007). Conforme Lakatos e Marconi (2003), as quatro leis fundamentais do método dialético são: 16 a) Ação recíproca, unidade polar ou "tudo se relaciona" As coisas não são analisadas de forma acabada, não existe um “fim”, mas o início de outra coisa, uma transformação, inexistência da qualidade estática, pois tudo sempre estará em movimento. Por exemplo, ao observarmos um automóvel que acabou de sair da linha de montagem dizemos que ali está o produto final, o automóvel. Mas se analisarmos com a visão da dialética, sob a lei da ação recíproca, veremos que o automóvel é apenas uma parte do processo, pois estaremos diante de vários questionamentos como: quem fez, materiais usados, tempo de fabricação, técnicas utilizadas, resistência, validade dos equipamentos etc. Todos esses questionamentos são na realidade processos que vem acontecendo um após o outro; o projeto do automóvel realizado por uma equipe, próximo processo: a montagem de uma equipe especializada, funções e responsabilidades de cada um, feito isso, passa-se para o próximo processo: a escolha dos materiais e equipamentos; próximo processo: controle de qualidade e pronto, o automóvel. Mas ai é que está a continuação da lei da ação recíproca, não termina ai, terá várias atividades relacionadas ao automóvel, como a parte comercial, fiscal, manutenção etc. Tudo está relacionado a tudo, não há um fim, mas uma transformação para um novo processo; o fim de um processo inicia outro processo. b) Mudança dialética, negação da negação ou "tudo se transforma” O desdobramento dialético é feito através de negações baseadas em transformações de fatos e/ou idéias. E a mudança da dialética é entendida como a negação da negação. Esse processo de dupla negação pode gerar novas alternativas e propriedades, ou seja, nada é absoluto e tudo é dinâmico, está em transformação. Vocês fizeram o trabalho científico? Paulinho: sim, eu fiz. Martinha: não fiz. Ana: não não fiz. Quantos fizeram o trabalho? Dois, Paulinho e Ana. No caso da Ana, ao negar uma resposta negativa, estaremos dando uma resposta positiva, ou seja, dizer 17 não ao não é o mesmo que dizer sim. Proibir que se faça algo proibido é o mesmo que liberar o que antes era proibido. Ocorre uma transformação de proposições, uma mudança. c) Passagem da quantidade à qualidade ou mudança qualitativa Uma mudança brusca na quantidade pode ocasionar numa mudança qualitativa; por exemplo, num processo de ebulição, que ocorre devido ao aumento de temperatura da água de 0ªC a 100ºC, atingindo temperaturas superiores a esta última a água entrará no estado gasoso, ou ainda se abaixarmos a temperatura abaixo do 0ªC, haverá mudança do estado líquido para o sólido, mudança qualitativa. Deve-se lembrar que, em regra, a mudança qualitativa sempre estará relacionada a mudança quantitativa; existe ainda mudanças qualitativas ocasionadas por mudanças qualitativas graduais, como ocorre com a transformação de uma língua. d) Interpenetração dos contrários, contradição ou luta dos contrários Literalmente é um ponto de equilíbrio para tudo o que existe, ou seja, é o equilíbrio dos antágonos. È enxergarmos a claridade como sendo a ausência de escuridão, e esta, como ausência de claridade; o estático como a dinâmica parada, e a dinâmica como o estático em movimento. A idéia de estar sempre em movimento é que para a ocorrência de um fato,necessariamente finda a existência/ocorrência do seu antagônico, o fim de um é o início do outro, e assim sucessivamente. 18 Figura 3.7: Esquema das 4 leis do método dialético. 1.3.5 – Métodos Específicos das Ciências Sociais Segundo Lakatos e Marconi (2000) apud Silva e Tafner (2004), dentro das ciências sociais pode-se acrescentar aos métodos de abordagem já descritos, técnicas procedimentais, ora chamadas de métodos, que são aplicadas em fins mais restritos, não se prestando a generalizações do fenômeno. Dessa forma, é oportuno distinguir, método e técnica. “Entendemos como método o dispositivo ordenado, o procedimento sistemático, em plano geral. Já a técnica é a aplicação do plano metodológico e a forma especial de o executar” (CERVO E BERVIAN, 2002). O método se relaciona com o cumprimento de um objetivo (o que fazer); a técnica, ao modo de cumprir tal objetivo (como fazer) (FACHIN, 2003). Essas técnicas e/ou métodos de procedimentos são freqüentemente utilizados de forma associada, podendo ser descritas segundo Jezine (2007), como: 19 “Histórico - consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje; Comparativo - é utilizado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os atuais e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento; Monográfico - consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, instituições, condições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações; Estatístico - significa a redução de fenômenos sociológicos, políticos, econômicos, etc. em termos quantitativos. A manipulação estatística permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado; Tipológico - apresenta certas semelhanças com o método comparativo. Ao comparar fenômenos sociais complexos, o pesquisador cria tipos ou modelos ideais (que não existam de fato na sociedade), construídos a partir da análise de aspectos essenciais do fenômeno; Estruturalista - o método parte da investigação de um fenômeno concreto, eleva-se, a seguir, ao nível abstrato, por intermédio da construção de um modelo que represente o objeto de estudo, retornando por fim ao concreto, dessa vez como uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social”. (JEZINE, 2007) Fim do recuo Início boxe multimídia Uma dica interessante para observarmos e trabalharmos a dedução, a indução, as hipóteses e a observação científica é assistir ao filme O NOME DA ROSA, baseado na obra do filósofo Umberto Eco. É ainda podemos ganhar como aula a transformação do pensamento científico medieval para o pensamento moderno. Direção: Jean-Jacques Annaud. Elenco: Sean Connery, Christian Slater, Valentina Vargas, etc. Alemanha, França e Itália, 1986. Fim Box 20 Conclusão Agora que você já conhece quais são os métodos científicos e suas vertentes, está na hora de refletir sobre a aplicação deles nas suas disciplinas ao longo do seu curso e também nas atividades diárias. Lembre-se que a pesquisa na engenharia está fundamentada em comprovações científicas. Resumo Em nossa terceira aula aprendemos sobre o conceito de método e sua aplicação em nossas atividades diárias. Vimos como a validação diferencia o método científico e como a ciência o utiliza em desenvolvimento das pesquisas. Observamos também como os diferentes métodos surgiram ao longo da história para benefício da sociedade em relação a filosofia e tecnologia. Ao longo da aula entendemos as etapas elementares de um método científico e os principais métodos que norteiam a nossa área: indutivo, dedutivo, hipotético- dedutivo e dialético. O emprego racional dos métodos científicos é uma prática constante nas engenharias como validação de suas hipóteses. Informações sobre a próxima aula Na Aula 4, serão apresentados os conceitos e as finalidades sobre a pesquisa científica para a construção da ciência através de suas descobertas. Referências BUNGE, Mário. Epistemologia: curso de atualização. São Paulo: T. A. Queiroz/EDUSP, 1980. CARTONI, D.M. Ciência e conhecimento científico. Anuário da Produção Acadêmica Docente,Vol. I, Nº. 5, Ano 2009. CERVO, A.L.; BERVIAN, P.A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. 242 p. 21 FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 195 p. GALLIANO, A. G. O Método Científico: teoria e prática. São Paulo: Harbra, 1986. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1999. JEZINE, Edineide. Metodologia do trabalho científico. Licenciatura em matemática – EAD. Universidade Federal da Paraíba, Editora Universitária UFPB, 2007. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. V. Fundamentos de metodologia científica. 5ª ed., São Paulo: Editora Atlas, 2003. POLITZER, Georges. Princípios elementares de filosofia. 9. ed. Lisboa: Prelo,1979. RUIZ, João Alvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 4 ed. São Paulo : Atlas, 1996. 186 p. SEABRA, Giovanni de Farias. Pesquisa científica: o método em questão. Brasília. Editora da UnB, 2001. SILVA, Renata; TAFNER, Elisabeth. P. Apostila de metodologia científica. Brusque: ASSEVIM. Associação Educacional do Vale do Itajaí-Mirim, fev. 2004. (mimeo)
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