Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Curso: Engenharia de Produção Disciplina: Metodologia Científica Autor: Kelly Alonso Costa DI: Bruna Canabrava Aula 5 – Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa Meta Apresentar os diferentes tipos de pesquisa e suas classificações. Introduzir os principais instrumentos de coleta de dados e as técnicas mais utilizadas na engenharia. Objetivos Após esta aula, você será capaz de: 1. Selecionar o tipo de pesquisa mais adequado para atingir determinado objetivo 2. Selecionar e utilizar instrumentos de investigação de forma a preservar a integridade dos dados 3. Explicar o que acontece na etapa “Coleta de dados” e os cuidados que devem ser tomados ao executá-la. Introdução Você já imaginou como as indústrias descobrem o quê as pessoas querem em um produto? Ou como os pesquisadores descobrem soluções através das informações das pessoas ou de documentos? Ou como a experiência de uma única empresa pode ajudar a outras empresas a conseguir crescimento e qualidade? Bem, todas essas situações e muitas outras são possíveis através de pesquisas e seus instrumentos de coleta de dados. Toda pesquisa contém uma fase para coleta de dados em que instrumentos, também chamados de técnicas de pesquisa, estabelecidos na literatura são utilizados para esse fim. Nós aprendemos na aula passada o significado dessa fase e suas características, porém na aula de hoje vamos aprofundar o nosso 2 conhecimento e saber mais detalhes sobre as técnicas de coleta de dados e suas definições. Atualmente, a coleta de dados pode ter infraestrutura tecnológica facilitando a execução e apuração dos dados. A partir desse estudo podemos aprender a utilizar as técnicas de coleta de dados direcionadas para o tipo de pesquisa que queremos realizar. Contudo, para escolher adequadamente o tipo de pesquisa precisamos conhecer a classificação das pesquisas e suas características, o quê será realizado também nessa aula. Uma pesquisa pode ser classificada em relação a diversos fatores e pode estar associada ao tema do trabalho científico. Esse tópico é muito importante, pois você fará no final do seu curso de graduação um projeto final no qual terá que coletar dados e definirá o tipo de pesquisa do seu estudo. Então, vamos começar a coletar informações e investigar! Figura 5.1: Coleta de dados pela observação num laboratório Autor: University of Pittsburgh at Bradford Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Science_lab_in_Fisher_Hall.jpg 1- Classificação da pesquisa científica Como já estudamos, a pesquisa é uma construção do conhecimento, motivado pela busca de respostas, condicionada a procedimentos científicos que 3 justificam sua validação. As pesquisas podem ser empregadas em diversos assuntos e com diferentes objetivos. Desta forma, existem várias formas de classificar as pesquisas. Apresentaremos as formas clássicas de classificação com suas especificações para a aplicação com base nos estudos de autores renomados da área (GIL, 2008; LAKATOS, MARCONI, 2003; CERVO, BERVIAN, 2002). A pesquisa pode ser classificada quanto a sua natureza, seus objetivos, sua abordagem do problema, conforme a figura 5.2, e seus procedimentos técnicos, como veremos na 3ª seção. Figura 5.2: Classificação da pesquisa científica Fonte: Autor, adaptado de Turrioni e Mello (2012) 1.1 – Quanto a sua natureza Como vimos na figura 5.2, a pesquisa pode ser de 2 naturezas diferentes: básica ou aplicada. A pesquisa básica é aquela que busca o avanço científico 4 através da geração de novos conhecimentos. É a busca pelo saber que envolve interesses universais. É a pesquisa que procura a ampliação dos conhecimentos teóricos sem a preocupação de aplicá-los. Normalmente, pesquisas básicas são desenvolvidas por cientistas como físicos, biólogos ou antropólogos. Já os engenheiros, de um modo geral, se ocupam da pesquisa aplicada, que: é aquela que busca resultados práticos, direcionados para solucionar problemas específicos. Essa pesquisa pode gerar produtos ou processos que possuem uma finalidade imediata. Muitas vezes atende interesses locais e por isso é desenvolvida em um cenário particular. Cervo e Bervian (2002) sintetizam deforma clara as pesquisas básica e aplicada: “São pesquisas que não se excluem, nem se opõem. Ambas são indispensáveis para o progresso das ciências e do homem: uma busca a atualização de conhecimentos para uma nova tomada de posição, enquanto a outra pretende, além disso, transformar em ação concreta os resultados de seu trabalho.” Muitas vezes, a pesquisa aplicada investiga a aplicação do conhecimento produzido pela pesquisa básica para resolver problemas previamente identificados. Boxe de curiosidade A capa da invisibilidade Um exemplo dessa relação próxima entre os dois tipos de pesquisa é a contribuição dada tanto por físicos quanto engenheiros no desenvolvimento de metamateriais. Os físicos estudam as propriedades dos materiais e como manipulá-los para conseguir determinadas interações, os engenheiros estudam a aplicação deste conhecimento, por exemplo utilizando-o para cobrir um objeto e assim fazer com que ele não seja detectável num radar. Fim do boxe de curiosidade 1.2 – Quanto a seus objetivos Uma pesquisa também deve ser classificada de acordo com seus objetivos. 5 Pesquisa Exploratória é normalmente uma pesquisa preliminar que visa tornar o problema explícito, proporcionando uma proximidade com as suas questões ou ainda na estruturação das hipóteses. Geralmente, a pesquisa exploratória inclui levantamento bibliográfico, contato direto com indivíduos que possuem alguma experiência no campo estudado, possíveis visitas em ambientes relacionados com o tema e investigação de exemplos semelhantes ou correlacionados. É comum nesse tipo de pesquisa trabalhar com estudos de caso, que iremos caracterizar nessa aula no item de classificação quanto aos procedimentos! Num grau acima de complexidade, temos a Pesquisa Descritiva, que descreve as características de uma determinada população ou grupo de indivíduos direcionados para o estudo. Essa pesquisa também pode detalhar e correlacionar fenômenos ou variáveis envolvidas no assunto. Uma consideração importante é que na pesquisa descritiva, o pesquisador apenas observa e relata os dados de forma sistemática, no entanto não manipula e nem influencia nos resultados. De uma forma sintética, a pesquisa descritiva pode ser interpretada como um meio registrar dados ou fatos que podem ser econômicos, sociais, comportamentais, técnicos, entre outros. Temos ainda a Pesquisa Explicativa, que visa explicar leis, ampliar generalizações e aprofundar conhecimentos relacionados a realidade através da razão. Esse tipo de pesquisa frequentemente exige a interferência direta do pesquisador: criando situações artificiais onde a variável é isolada ou manipulando a variável para observar os efeitos dessa variância, por exemplo. Essa interferência deve ser realizada com muito critério para não comprometer os resultados obtidos. Para isso é crucial conhecer os instrumentos de coleta existentes, o que veremos mais adiante nesta aula. Só assim será possível selecionar o instrumento mais apropriado para atingir determinado objetivo, aplicá-lo adequadamente e adaptá-lo quando necessário. A pesquisa explicativa faz requere do pesquisador capacidade de síntese, teorização e reflexão, já que busca principalmente identificar os fatores que definem ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos.6 1.3 – Quanto a sua abordagem do problema Quanto à abordagem, existem 2 categorias: pesquisas quantitativas e qualitativas. Como o próprio nome já diz, a Pesquisa Quantitativa se refere a quantidades. Ela objetiva uma perspectiva contável para tudo que será estudado, ou seja, transformar as informações, inclusive as opiniões, em números para organizá-las e analisá-las. A pesquisa quantitativa foca a medição numérica de fenômenos. Essa pesquisa geralmente utiliza recursos e técnicas estatísticas (porcentagem, média, moda, mediana, desvio padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão, etc). Por outro lado, a Pesquisa Qualitativa visa analisar os dados de forma interpretativa conforme os seus resultados, observando os fenômenos com suas respectivas atribuições de sentidos e relevâncias. Os dados dessa pesquisa não têm tratamento estatístico e nela objetiva-se analisar dados não- mensuráveis e normalmente é utilizada nas ciências humanas, para estudar a um determinado grupo de indivíduos. No contexto da engenharia de produção, pesquisas qualitativas são particularmente úteis para identificar problemas relacionados à gestão de pessoas. Na academia, costuma-se optar por uma abordagem ou outra, mas na prática profissional, dada a complexidade dos desafios encontrados, muitas vezes utilizamos ambas as abordagens, que se complementam. Collis e Hussey (2005) conseguem explicitar como as pesquisas quantitativa e qualitativa nos fornecem dados complementares sobre um mesmo problema, nos dando uma visão mais abrangente sobre o problema: “Se você estivesse conduzindo um estudo sobre o estresse provocado por trabalho noturno e adotasse a visão quantitativa, seria útil coletar dados objetivos e numéricos, tais como taxas de absenteísmo, níveis de produtividade, etc. Todavia, caso adotasse uma visão qualitativa, você poderia coletar dados subjetivos sobre o estresse enfrentado por trabalhadores noturnos em termos de percepções, saúde, problemas sociais e assim por diante”. 7 2- Coleta de dados A fase de coleta de dados numa pesquisa científica corresponde ao momento em que usamos instrumentos específicos e técnicas de pesquisa, para reunir dados que serão analisados e interpretados conforme os objetivos do trabalho. É uma fase que exige bastante organização e procedimentos sistemáticos visando garantir a conformidade dos dados. Todo trabalho científico deve mencionar como a coleta de dados foi organizada e operacionalizada de acordo com o processo de pesquisa adotado. Todas as formas de coleta devem ser registradas no trabalho, inclusive as leituras também fazem parte desse procedimento. Não só as formas de coletas devem ser mencionadas, como também as suas respectivas fontes, o que tem ocasionado erros graves atualmente. O ambiente da coleta de dados também deve ser relatado, principalmente quando se trata de conclusões inferidas a partir de uma porção representativa de um todo. Uma pesquisa pode utilizar uma ou mais técnica de coleta de dados. A decisão será do pesquisador diante das necessidades identificadas da pesquisa. Início boxe multimídia A coleta de dados é parte fundamental de uma pesquisa, pois a partir desse banco de dados podemos realizar uma análise e obtermos informações de grande importância. E atualmente temos a parceria com a tecnologia que fornece diversas formas de organizar, controlar e agilizar a coleta de dados e sua análise. Podemos ter equipamentos do tamanho da mão para reunirmos “gigabytes” de informação! E o mais interessante é que a aplicação e os resultados gerados trazem benefícios para diversas áreas, como engenharia, saúde, social, econômica, entre outras. Para ampliar seus horizontes sobre a relevância da coleta de dados e como os seus resultados interferem em nossas vidas separamos para você dois vídeos de curta duração. O primeiro vídeo trata de uma reportagem sobre a Dengue e a disponibilidade da tecnologia como parceira na coleta de dados sobre esse problema de saúde pública. O link: https://www.youtube.com/watch?v=vkopGkwYwrQ. O segundo vídeo é 8 também uma reportagem sobre a coleta de dados do censo escolar para avaliar e melhorar o sistema de ensino do país. O link: https://www.youtube.com/watch?v=gJXNf5HNi34. Você pode observar através desses vídeos como a coleta de dados faz parte da construção de pesquisas associadas a temas do nosso cotidiano e também despertar para as oportunidades de pesquisa no seu curso de graduação! Fonte: http://www.freeimages.com/photo/584708] Fim Box Segundo Lakatos e Marconi (2003), “técnica é um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou arte; é a habilidade para usar esses preceitos ou normas, a parte prática. Toda ciência utiliza inúmeras técnicas na obtenção de seus propósitos”. A escolha dessas técnicas deve ser um processo realizado com base teórica e orientação. A técnica só fornece um bom resultado se a mesma for escolhida adequadamente para alcançar os objetivos da pesquisa e também se a sua aplicação for viável. O pesquisador precisa sempre estar atento a esse propósito. O planejamento e organização na coleta de dados são imprescindíveis para a qualidade e padronização dos dados. Podemos entender padronização como a uniformidade dos dados, ou seja, definir níveis de controle de qualidade a serem mantidos. Uma das formas de favorecer a padronização dos dados é estruturar um manual de procedimentos para a instrumentalização do trabalho 9 de campo e um plano para o treinamento das equipes visando a padronização das atividades. Esse guia também deve conter detalhes sobre: as informações gerais sobre o projeto, o detalhamento sobre a(as) equipe(s) de campo e suas responsabilidades, os instrumentos de coleta de dados e as instruções para o seu preenchimento e registro (MEDINA; OLIVEIRA, 1999). Há também pesquisadores que controlam a uniformidade dos dados através da verificação em campo no momento da coleta acompanhando todo o processo ou com softwares. O detalhamento e cuidado na coleta de dados está associada a fidedignidade dos dados e posteriormente aos resultados interpretados. Você não pode esquecer que são os dados coletados que darão recursos e informações para a análise do objeto pesquisado e as respostas às questões de seu estudo. É importante relatar que na engenharia de produção, em muitas situações utilizamos a estatística para coletar os dados. É uma poderosa ferramenta e na disciplina de estatística você aprenderá usar todo o seu potencial. A finalização da etapa de coleta de dados deve seguir o rigor metodológico pré definido no planejamento da pesquisa. “A coleta de dados deve ser dada como concluída quando a quantidade de dados e informações reduzir e/ou quando se considera dados suficientes para endereçar a questão da pesquisa” (MIGUEL, 2007). Para a finalização dessa etapa também são considerados outros aspectos pertinentes como a viabilidade de permanência no local, os prazos assumidos, a infraestrutura financeira, entre outros. É também recomendável que ao longo dessa etapa os dados sejam armazenados com segurança e com mais de uma cópia em diferentes lugares, principalmente tratando se de hardwares. A seguir, conheceremos e discutiremos as principais técnicas de coleta de dados nas pesquisas científicas e relevantes para a engenharia. As técnicas de coleta de dados mais comuns nos trabalhos científicos são realizadas através de leituras, documentação, entrevistas, questionários, entre outros. Vamos conhecê-las! 10 3- Procedimentos,técnicas e instrumentos para a coleta de dados São inúmeros os procedimentos e técnicas utilizados no desenvolvimento de pesquisas. Apresentaremos aqui os mais utilizados no ramo da engenharia. Figura 5.3 Alguns dos procedimentos de coletas de dados mais usados na engenharia Autoria própria 3.1 Pesquisa Bibliográfica O primeiro procedimento que utilizamos em qualquer pesquisa é o Levantamento Bibliográfico para nos interarmos do assunto e identificar possíveis caminhos por onde devemos seguir, além dos conceitos clássicos. Esse procedimento já foi amplamente discutido na aula 1 e não cabe repetirmos essas informações aqui. Vale apenas relembrar que Um dos grandes desafios nos dias atuais é o volume de informação e a credibilidade das fontes, por isso o pesquisador deve focar nas palavras-chave da sua busca, como aprendemos na aula 1, e também examinar origem dos dados para verificar a confiabilidade da informação. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS Pesquisa Bibliográfica Pesquisa Documental Estudo e Caso Levantamento Pesquisa Experimental Pesquisa-ação Pesquisa Ex-Post-Facto 11 3.2 Pesquisa Documental Muitas vezes confundido com a Pesquisa Bibliográfica é a Pesquisa Documental, que se trata da busca por informações, não em livros e artigos científicos, mas em documentos originais. Oliveira (2007) argumenta que a pesquisa documental “caracteriza-se pela busca de informações em documentos que não receberam nenhum tratamento científico”. Documentos tais como relatórios técnicos ou não, fotografias, mapas, tabelas estatísticas, atas, ofícios, decretos e projetos de Leis são considerados fontes primárias e são comumente encontrados em repartições públicas, centros de pesquisas, arquivos oficiais, entre outros. Podemos também utilizar as fontes secundárias, que são matérias divulgadas pela imprensa em geral e as obras literárias. Lakatos e Marconi (2003) apresentam um quadro em que podemos observar com mais compreensão o amplo universo da pesquisa documental a partir de três variáveis - fontes escritas ou não; fontes primárias ou secundárias; contemporâneas ou retrospectivas. Figura 5.2: Fontes para a pesquisa documental Fonte: Lakatos e Marconi, (2003) 12 3.3 Pesquisa Experimental Este tipo de pesquisa: objetiva reproduzir determinado fenômeno dentro de condições de controle pré-estabelecidas para observar as causas e os efeitos. A pesquisa experimental costuma ser muito utilizada tanto na pesquisa básica quanto na pesquisa aplicada das áreas tecnológicas e biomédicas, principalmente quando se tratam de pesquisas explicativas. Ela também utiliza em determinadas condições, quando necessário, aparelhos e instrumentos de precisão e medição, assim como simulações e métodos matemáticos. “Essencialmente, a pesquisa experimental consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto” (GIL, 2002). A pesquisa experimental também é usada para testar materiais, criar protótipos, realizar modelagens e simulações (através de um modelo que representa um sistema real para verificar as conseqüências geradas por possíveis modificações). 3.3.1 O papel da observação Uma parte significativa da pesquisa experimental se dá através da observação. Segundo Lakatos e Marconi (2003), a observação é aplicada “[...] para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar”. A observação a partir da perspectiva científica precisa conter um plano de pesquisa com objetivos e procedimentos sistemáticos em relação ao seu registro, ao seu controle e a sua validação. Na pesquisa científica há várias modalidades de observação, no entanto vamos nos limitar a quatro tipos de observações: estruturada, não estruturada, participante e não participante. 13 A observação estruturada ou sistemática é realizada dentro de condições controladas para obter dados que respondam a metas pré- estabelecidas (LAKATOS; MARCONI, 2003). Geralmente é usada quando há necessidade de descrições precisas dos fenômenos e o por isso o pesquisador precisa eliminar a sua influência sobre o que observar ou o que coleta. Podem ser utilizadas as anotações, quadros, escalas, entre outros. A observação não estruturada ou assistemática é realizada de forma espontânea e livre, em que o pesquisador não pré-determina as perguntas diretas ou controles pré fixados. Nessa técnica o pesquisador precisar estar atento aos fenômenos e também é recomendável que ele tenha treinamento e/ou experiência para discernir o que deve observar para recolher os dados. A observação participante consiste na integração do pesquisador com o fato observado junto aos indivíduos. O pesquisador participa e tem contato com as experiências do universo verificado para o estudo. O grande desafio do observador é manter a objetividade devido às influências sofridas e exercidas no grupo. A inclusão no grupo é uma forma de aproximação e conhecer a intimidade do comportamento dos indivíduos para vivenciar as circunstâncias necessárias. E na observação não participante o pesquisador é apenas um elemento sem exercer qualquer influência no sistema. Segundo Lakatos e Marconi (2003) “[...] o pesquisador toma contato com a comunidade, grupo ou realidade estudada, mas sem integrar- se a ela: permanece de fora”. Fonte: elaboração própria, baseada em Lakatos e Marconi (2003) 3.4 Estudo de Caso: Trata-se de um estudo profundo com poucos objetivos bem definidos e sobre todas as características essenciais pertinentes de um caso particular. O caso a ser estudado pode ser escolhido por ser uma situação-modelo, que pode ser 14 generalizada para outros contextos, ou o contrário, justamente um caso excepcional, para entendermos o porquê de não se encaixar num determinado padrão. O estudo de caso pode englobar a observação direta dos de acontecimentos, entrevistas e coleta de dados. O estudo de caso é utilizado em diversas áreas de estudo. 3.4.1 Entrevistas Por definição, a entrevista é uma interação dinâmica entre pessoas, ou seja, uma comunicação verbal entre duas pessoas ou mais pessoas. No entanto, a entrevista possui um objetivo maior que apenas uma simples conversa Os objetivos de uma entrevista podem ser: descobrir as opiniões e atitudes diante de fatos, percepção sobre informações, averiguar fatos, entre outros. A entrevista é uma técnica de coleta de dados muito utilizada por pesquisadores nas ciências humanas, podendo ser aplicada em todas as áreas, principalmente quando há dificuldades em encontrar dados através de registros e fontes documentais. O registro da entrevista, que pode ser por escrito, gravado em áudio ou ainda em vídeo, passa a ser uma fonte primária de informações. Conforme Lakatos e Marconi (2003) existem três tipos de entrevistas que são utilizadas de acordo com o escopo do entrevistador: padronizada ou estruturada, despadronizada ou não estruturada e painel. 15 ENTREVISTA PADRONIZADA OU ESTRUTURADA perguntas previamente definidas como num roteiro. o entrevistador não tem liberdade de alterar, adaptar ou aumentar o número de perguntas em seu programa. Geralmente, é feita com pessoas escolhidas de acordo com uma estratégia associada ao plano da pesquisa. Por ter perguntas padronizadas, é mais fácil comparar as respostas dos diferentes Apropriada quando há um grande número de entrevistados e, principalmente, quando há uma equipe de entrevistadores. ENTREVISTA DESPADRONIZADA OU NÃO ESTRUTURADA ausência de roteiro permite maior liberdade ao entrevistador, que pode desdobrar uma questão mais profundamente conforme o andamento da entrevista costuma ter mais perguntas abertas e pode ser conduzida de forma mais informal do que a estruturada. subcategorias dentro das entrevistas despadronizadas entrevista focalizada: realizada com indivíduos que viveram uma experiência específica entrevista clínica: estuda os motivos e a conduta das pessoas entrevista não-dirigida: o entrevistador é livre para improvisar e motivar o . determinado assunto, porém sem constrangê-lo. Essa pesquisa tenta captar impressões das pessoas sobre determinado assunto de forma expontânea sem que elas sejam influenciadas. ENTREVISTA PAINEL pode ser entendida como um desdobramento da entrevista estruturada as perguntas são repetidas, de tempos em tempos, às mesmas pessoas, para acompanhar a evolução das opiniões ao longo do tempo a redação das perguntas e o intervalo entre as entrevistas devem ser cuidadosamente definidos a fim de evitar respostas “viciadas” com essas repetições. 16 É importante ressaltar as vantagens de utilizar a entrevista, como por exemplo, a aplicação em qualquer segmento da população e a oportunidade de avaliar atitudes, condutas, podendo o entrevistado ser observado naquilo que diz e como diz: registro de reações, gestos, etc; contudo, também há desvantagens como dificuldade de expressão e comunicação entre as partes (do entrevistador e do respondente) e ocupa muito tempo e é difícil de ser realizada. Para o sucesso de uma entrevista enquanto instrumento de pesquisa, são necessários alguns cuidados na sua preparação e condução: conhecimento preliminar sobre o entrevistado ou as características requeridas; organização de tempo e local para a entrevista; garantia de sigilo sobre a identificação do respondente, quando isso for necessário para que ele se sinta mais a vontade para responder às perguntas francamente, principalmente quando se trata de um assunto sensível; postura amigável do entrevistador; apresentação e justificativa da pesquisa, por conseqüência a necessidade de contribuição do respondente; registro das respostas (assim como postura, gestos e atitudes) na hora da entrevista através de anotações ou um gravador; disponibilizar aos entrevistados os resultados da pesquisa. 3.5. Levantamento ou Pesquisa survey Semelhante à entrevista, um survey visa identificar e analisar características, comportamentos e ações relacionadas ao objetivo do estudo. Esse tipo de pesquisa pode ser conduzido ao vivo, ou se utilizando alguma mídia: tradicionalmente, questionários eram enviados pelo correio, hoje em dia é muito comum se utilizar a internet para este fim. Os dados costumam ser 17 analisados de forma descritiva para que se chegue a generalizações sobre determinados grupos. 3.5.1 Questionário como instrumento de pesquisa O uso de questionários configura uma forma prática e organizada de coletar dados para uma pesquisa independente da presença do entrevistador e pode ser distribuído aos respondentes pessoalmente, por correio ou, mais comumente hoje em dia, pela internet. O questionário pode ser entendido como um conjunto de questões orientadas a pessoas com determinadas características, ou não, para conseguir dados e informações sobre diversos assuntos (GIL, 2008). A construção de um questionário deve ser realizada após uma profunda reflexão sobre os objetivos da pesquisa; já que os mesmos serão transformados em questões específicas. É importante ressaltar a natureza do questionário que deve ser sempre impessoal para manter a uniformidade dos dados independente das situações. A precisão e a observância de normas também devem ser consideradas na elaboração de um questionário para consolidar sua eficácia e validade (LAKATOS; MARCONI, 2003). A forma, a seqüência, a extensão das perguntas, e o grau em que elas estão relacionadas com os objetivos geral e específicos da pesquisa podem afetar a qualidade e a confiabilidade das respostas. Gil (2008) define três tipos de perguntas quanto a forma: questões fechadas, questões abertas e questões dependentes. As questões fechadas são aquelas com um número limitado de respostas. Geralmente é apresentada uma lista de alternativas para que a pessoa escolha a opção que melhor representa sua opinião ou situação. Os questionários com questões fechadas são mais fáceis de processar, analisar e fornecem uma uniformidade as respostas, porém implicam riscos de não conterem as alternativas significativas para a pesquisa (GIL, 2008). Exemplos: 1) Você já possui algum curso de graduação? ( ) Sim ( ) Não 1) Da lista de atividades a seguir, o ( ) Ficar navegando na internet. 18 que você mais gosta de fazer com o seu tempo livre em sua residência? ( ) Ler um livro. ( ) Dormir. ( ) Fazer exercícios físicos. ( ) Ver televisão. 2) Sou favorável à política de cotas nas universidades públicas. ( ) Concordo plenamente. ( ) Concordo. ( ) Não tenho opinião. ( ) Discordo. ( ) Discordo plenamente. As questões abertas não restringem as respostas do informante. Ele pode expressar suas opiniões livremente e usar sua própria linguagem (LAKATOS; MARCONI, 2003). No aspecto da investigação, as respostas abertas possibilitam muitas perspectivas interessantes, porém há o inconveniente de não necessariamente conter informações relevantes para o foco da pesquisa. Além disso, pelas respostas não serem padronizadas, a análise e a interpretação para os resultados desse tipo de questão exigem uma maior dedicação e um cronograma mais longo. Exemplos: 1) Em sua opinião, por que a violência está crescendo no Brasil? 2) Qual é a sua opinião sobre a Lei do desarmamento no Brasil? Já as questões dependentes são aquelas que estão relacionas com a questão anterior e dentro de algum contexto. Segundo Gil (2008), “nesse caso, a pesquisa referente à opinião é dependente em relação à outra”. Vamos ver os exemplos: 1) Você pratica atividade física? ( ) Sim (responda a questão número 2) ( ) Não (responda a questão número 3) 2) Qual tipo de atividade física? ( ) Musculção ( ) Corrida ou caminhada ( ) Natação 19 ( ) Ciclismo ( ) Outro 3) Você já praticou atividade física no passado? ( ) Sim ( ) Não Recomendações para a elaboração de um questionário: Evite que um questionário não seja longo e cansativo; Pergunte dados pessoais como nome e número de documentos; Ordene as perguntas de forma que no início estejam as questões mais gerais e mais fáceis e vá gradualmente aumentando o grau de complexidade, deixando as questões mais específicas para o final; Tome cuidado com o tratamento gráfico do questionário, para que ele seja claro e motivante para o respondente; Dê instruções claras para preenchimento o questionário logo no início; Informe ao respondente sobre o objetivo da pesquisa ea organização responsável pelo levantamento de dados na abertura do questionário. Essa técnica constitui muitas vantagens como o baixo custo, a preservação da identidade do indivíduo, ausência da influência do indagador pode abranger variados temas em diferentes níveis, alcança grandes áreas geográficas, o respondente se sente mais confortável para escolher a hora mais conveniente para preencher o questionário, entre outras. No entanto, é uma técnica que também apresenta limitações como o baixo percentual de questionários devolvidos preenchidos, aproximadamente 25% (Lakatos e Marconi, 2003), exclui pessoas que não possuem alfabetização, não possui auxílio para elucidar dúvidas sobre questões mal compreendidas, os itens podem ter significados diferentes para cada indivíduo fornecendo resultados críticos em relação a objetividade (Gil, 2008). Após a elaboração do questionário recomenda-se que o mesmo seja testado em uma pequena amostra para evidenciar possíveis falhas e inconsistências 20 nas perguntas e nos prováveis resultados. Posterior a sua análise, o pesquisador decidirá por uma reformulação do questionário, caso julgue necessário. Para Lakatos e Marconi (2003), testar o questionário apresenta três elementos pertinentes para sua avaliação. a) Fidedignidade – os resultados sempre serão os mesmos, independente de quem aplique. b) Validade - os dados obtidos estão em conformidade com os objetivos da pesquisa. c) Operatividade – observar se o vocabulário está acessível e significado compreensível. 3.6. Pesquisa-Ação: contempla um estudo associado a uma específica ação ou a solução de um problema coletivo, geralmente em contato direto com o campo de investigação. Os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo coletando informações através de diferentes técnicas, porém o meio mais comum é a entrevista (THIOLLENT, 2002). É um tipo de pesquisa social de base empírica. 3.7. Pesquisa Ex-Post-Facto: o nome vem do latim e quer dizer “a partir do fato passado” ou “depois da ação”. Nessa pesquisa o experimento se realiza depois dos fatos. Os dados são coletados após a ocorrência dos eventos e geralmente é utilizada quando há impossibilidade de pesquisa experimental. Isso ocorre pois nem sempre é possível recriar o sistema para observar a relação de todas as variáveis ou simplesmente o pesquisador não tem controle sobre o fenômeno e se tornar apenas um observador. É um tipo de pesquisa muito usado na área de saúde – por exemplo, num caso-controle para associação de doenças infecciosas – ou na análise do impacto de uma nova fábrica em uma cidade, medindo tanto o desenvolvimento da região quanto os problemas decorrentes dessa implantação. 21 Início boxe multimídia Que tal assistir um filme que mostra as fases de uma pesquisa científica e a determinação em coletar dados e analisa-los para salvar a vida de um ser humano?! São os principais atrativos do filme O Óleo de Lorenzo (ou no original: Lorenzo´s Oil), baseado em fatos reais, o filme conta a história do menino Lorenzo e a busca determinada de seus pais pela descoberta de cura para os sintomas que aparecem no menino. A medicina tradicional não oferece resposta, então por conta própria os pais iniciam uma pesquisa profunda sobre o tema. Começam com a pesquisa bibliográfica e aprofundam através de experimentos. Direção: George Miller. Elenco: Peter Ustinov, Susan Sarandon, Kathleen Wilhoite, Margo Martindale, entre outros. EUA, 1993. Fim Box Conclusão A coleta de dados é uma fase imprescindível da pesquisa, pois através de técnicas definidas conseguimos informações essenciais para o desenvolvimento do estudo e seus resultados. O planejamento e a conduta durante a realização da coleta de dados interferem diretamente na precisão dos dados e por conseqüência nos resultados da pesquisa. É importante ressaltar que a escolha da técnica de coleta de dados deve estar alinhada aos objetivos do estudo. Diferentes tipos de pesquisa atendem diferentes objetivos e orientam a escolha dos instrumentos de investigação mais adequados. Agora, você já conhece todas as vertentes da pesquisa científica e pode fazer uma revisão das últimas aulas para obter uma perspectiva ampla de todos os conceitos fundamentais da metodologia científica! Resumo Na aula 5, aprendemos que a coleta de dados tem um grande impacto nos resultados de um estudo e existem recomendações importantes para a sua realização. Trabalhar com as técnicas de coleta precisa de planejamento e discernimento quanto a sua utilização para obtermos dados expressivos para o estudo. A pesquisa é classificada de acordo com seus usos para que o pesquisador possa delimitar seu estudo e prever seus possíveis resultados. A 22 classificação da pesquisa também serve para informar o critério usado para o desenvolvimento do estudo e suas diretrizes. Informações sobre a próxima aula Na Aula 6, você conhecerá os diferentes tipos de trabalhos científicos e suas características. Você também conhecerá as orientações principais de como fazer esse trabalhos que farão parte da sua vida acadêmica. Até lá! Referências CERVO, A.L.; BERVIAN, P.A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. 242 p. COLLIS, Jill; HUSSEY, Roger. Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de graduação e pós-graduação. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. GONSALVES, E. P. Conversas sobre iniciação à pesquisa científica. Campinas, SP: Alínea, 2001. LAKATOS, E. V.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 5ª ed., São Paulo: Editora Atlas, 2003. MEDINA, Norma Helen; OLIVEIRA, Márcia Benedita de. Trabalho científico: roteiro para o planejamento e cuidados preliminares. Arq. Bras. Oftalmol., São Paulo , v. 62, n. 5, Oct. 1999. 23 MIGUEL, Paulo Augusto Cauchick. Estudo de caso na engenharia de produção: estruturação e recomendações para sua condução. Prod., São Paulo , v. 17, n. 1, Apr. 2007. OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis, Vozes, 2007. THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2002. TURRIONI, João Batista; MELLO, Carlos Henrique Pereira. Metodologia de pesquisa em engenharia de produção. Itajubá: Universidade Federal de Itajubá, 2012.
Compartilhar