Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
i^V ' X u -i •>-""' V '^ ' '^ -v a x ^ u |J"V\U'-;p*i-X'0f) '* '^°l <i* tM • ^ Copyright© £>yR oberto D aM atta D ireitos m u ndiais para a língua portuguesa re se rv ados c o m e x clusividade à E D IT O R A R O C C O L T D A . A v.Presidente W ilson,231 - 8° a ndar 20030-021 - R io de Janeiro - R J Tel.:(21) 3525-2000 - Fax: (21) 3525-2001 ro c c o@ rocco.com .br w w w .ro e c o .c o m .br Printedin B raziZ/Im presso n o B rasil CIP-Brasil.C atalogação n a fonte. Sindicato N acionaldos E ditores de Livros,RJ. D 168r D aM atta,R oberto R elativizando: u m a introdução à A ntropologia Social/ R oberto D aM atta. - Rio de Janeiro: R occo, 2 0 1 0 . IS B N 8 5 -3 2 5 -0 1 5 4 -0 1.A ntropologiaSocial.I.Título.II.Título:U m a Introdução àA ntropologia Social. 8 7 -0 6 3 6 C D D -306 C D U -5 7 2 :3 0 1 Para o s m eu s alunos,que m efizeram professor. P R IM E IR A P A R T E A a n tr op ol og ia n o Qu ad ro da s C iê nc ia s 1.Ciências n aturais e Ciências so ciais N enhum filósofo o u teórico da ciência deixou de se preocupar com as sem elhanças ediferenças entre as cham adas "ciênciasda n atureza" o u "ciências n aturais", co m a Física,aQuímica, a Bio logia, aAstronomia etc, e asdisciplinas voltadaspara o estudo da realidade hum ana e so cial,as cham adas "ciênciasda so cieda de", "ciências sociais", o u , ainda,as "ciênciashum anas".Como taisdiferenças sãolegião, não caberia aquiarrolá-las o u indicá- lasde u m ponto de vistahistórico.Isso seria u m atarefapara u m historiadorda ciência e não para u m antropólogo.A penasdese jaria ressaltar,jáque oponto m eparecebásicoquando sebusca situar a A ntropologia Social(ou Cultural) n o corpo das o utras ciências,que elasem geraltocam em doisproblem asfundam en tais edeperto relacionados.Um delesdiz respeito aofato deque as cham adas "ciências n aturais" e studam fatos sim ples, ev entos que presum ivelm ente têm causas simples e são facilmente iso- láveis. Tais fenôm enos se riam , por isso m e sm o , re c o rre ntes e sincrônicos,isto é, eles estariam o co rrendo agora m esm o , en quanto eu escrevo estaslinhas e você,leitor, aslê.A m atéria- •primada "ciência natural",portanto,étodo o conjuntodefatos que se repetem e têm um a constância verdadeiramente sistê mica,jáque podem servistos,isolados e,assim, reproduzidos dentro de condiçõesde controle razoáveis, n u m laboratório.Por isso se diz repetidam ente que o problema da ciência em geral não é o de desenvolver teorias, m as o de testá-las.E o teste que m elhor sepodeim aginar e realizaré aquelequepode serrepeti doindefinidam ente, atéquetodas as condições e exigênciasdos 2 0 R o be rt o D aM at ta ob se rv ad or es es te jam pr ee nc hi da s sa tis fa to ria m en te. Al ém dis so ,a sim pli cid ad e, a sin cro nia e a re pe titi vid ad ea ss eg ura m um ou tro ele me nto fun da me nta ld as " ciê nc ias na tu ra is" ,q ua ls eja: o fat od eq ue a pro va ou o tes te de um a da da teo ria po ssa se rfe i ta po rd ois ob se rv ad or es dif ere nte s, sit ua do se m loc ais div ers os e até m es m o co m pe rsp ect iva so po sta s. O lab ora tór io as se gu ra de ce rto m od ot al co nd içã od e" ob jeti vid ade ",u m ou tro ele me n to cr ític on a def ini ção da " ciê nci a" e da " ciê nci an atu ral ". As sim , um cie nti sta na tur al po de pre sen cia ro s m od os de re pro du ção de for mi ga s (já qu ep od et er um for mi gu eir o no se u lab ora tó rio ),p od ee stu dar os efe ito sd eu m dad oc on jun tod ea nti cor po s em ra tos e po de ,a ind a, an ali sar o qu an to qu ise ra co m po siç ão de u m da do ra io lu m in os o. Em co nt ra ste co m iss o, as ch am ad as " ciê nc ias so cia is" es tu da m fen ôm en os co m ple xo s, sit ua do se m pla no sd ec au sa lid ad ee de ter mi na ção co m pli cad os. No se ve nto sq ue co ns titu em a m até ria -pr im ad oa nt ro pó log o, do so ció log o, do his tor iad or, do cie nti s ta po líti co ,d oe co no m ist ae do psi có log o, nã oé fác ili so lar ca us as e m oti vaç ões ex clu siv as. Me sm oq ua nd oo " su jeito "es tá ap en as de seja ndo re ali za ru m a açã o ap are nte me nte ino cen te e ba sic a m en te sim ple s,c om o o ato de co m er um bo lo. Po isu m bo lo po de se r co m ido po rqu es e tem fom ee po de se r co m ido po r" m oti vo s so cia ise psi col ógi cos ":p ara dem on str ar so lid ari eda de a um a pes so a o u gr up o, pa ra co m em or ar u m a ce rt ad at a( com oo co rr e n u m an ive rsá rio ),p ara re ve lar qu eo bo lo fei to po rm am ãe ém elh or do qu eo bol of eito po rD .Y ola nda ,p ara ind ica rq ue se co nh e ce m bol os, pa ra just ific aru m a ce rta ati tud ee ,a ind a, po rto do s es se s m ot ivo sju nto s.P ara qu es e te nh a um a pro va cla ra de sta s co m pli caç ões ,b ast ap ara rd el er es se tre ch oe pe rgu nta ra um a pe sso ap róx im a: " Po rq ue se co m e um bo lo? "V erá o lei tor qu ea s re spo sta se m ge ral co loc am to da es sa pro ble má tic an a su pe rfíc ie, se nd od ifíc ild ese nv olv er um a teo ria qu ev en ha a de ter mi na rc om pre cis ão um a ca us a ún ica ou um a m ot iva çã oe xc lus iva . A m até ria -pr im a da s" ciê nc ias so cia is" ,a ss im ,s ão ev en to s co m de ter mi na çõ es co m pli ca da se qu ep od em oc or re r em am - R E L A T IV IZ A N D O 21 bi en tes di fe re nc iad os te ndo, po rc au sa dis so ,a po ss ib ili da de de m u da rs eu sig ni fic ad o de ac or do co m o at or , as re laç õe s ex is te nt es n u m da do m o m en to e, ai nd a, co m a su a po siç ão n u m a ca de ia de ev en to s an te rio re s e po ste rio re s. U m bo lo co m id o n o fin al de u m a re fe iç ão é al go qu ed en om in am os de " so br em es a" , te nd o o si gn if ic ad o so c ia l de " fe ch ar " o u a rr e m a ta r u m a re fe i çã o an te rio r, co n sid er ad ac o m o pr in cip al, co n st itu íd ad e pr at os sa lg ad os .O sa lg ad o, as sim ,a n te ce de o do ce ,s en do co n si de ra do po rn ós se pa ra do e m ais su bs tan cia lq ue os do ce s. Ag or a, u m bo lo qu eé co m id on o m ei od o di ap od es er sin al (ou sin to m a) de u m de sa rra njo ps ico lóg ico ,c om o ac on te ce co m as pe ss oa s qu e co m em co m pu lsi va m en te .F in al m en te ,u m bo lo qu e é o ce n tr o de u m a re u n ião ,q ue se rv e m es m o co m o m ot iv aç ão pa ra o co n v ite qu an do se diz :" v en ha co m er u m bo lo co m o Se rg in ho ", é u m bo lo co m u m sig ni fic ad o to do es pe cia l. Aq ui, el e se to rn a u m sím bo lo im po rta nt e, cu ja an áli se po de re ve lar lig aç õe s su r pr ee nd en te sc o m a pa ss ag em da id ad e, co m as re laç õe s en tr e ge ra çõ es ,i de nt id ad es se x u a is e tc . M as ,a lé m di ss o, o s ev en to s qu e se rv em de fo co ao " ci en tis ta so ci al " sã o fa to s qu e n ão e st ão m a is o c o rr e n do e n tr e n ós o u qu e n ão po de m se r re pr od uz id os em co n di çõ es co n tr ol ad as .D e fa to ,c o m o po de re m os n ós re pr od uz ir a fe sta do an iv er sá rio do Se rg in ho ? O u o rit ua ld o ca rn av al qu e o co rr eu em 19 77 n o R io de Ja ne iro ? M es m o qu e po ss am os re u n ir o s m es m os pe rs on a ge ns ,m ús ic as ,c o m id as ,v es te s e m o bi liá rio do pa ss ad o, ai nd a as sim po de m os di ze rq ue es tá fa lta nd o al gu m a co isa :a at m os fe ra da ép oc a, o cli m a do m om en to . En fim ,o co n jun to cr iad o pe la o ca siã o so ci al qu e de ce rt o m o do de co la de la e, re ca in do so br e el a, pr ov oc a o qu e po de m os c ha m ar de " so br ed et er m i- n aç õe s" ,c o m o a im ag em pr oje tad an u m a te la o u n u m es pe lh o. D ife re nt em en te de u m ra to re ag in do a u m an tic or po n u m la bo ra tó rio ,o an iv er sá rio (e to da s as o ca siõ es so ci ai sf ec ha da s) cr ia o se u pr óp rio pl an o so ci al ,p od en do se r di fe re nc ia do de to do so s o u tr os ,e m bo ra gu ar de co m el es em el ha nç as es tr ut ur ai s. Es se pl an o do re fl ex o, da c ir cu la ri da de e da so br ed et er m in a- 2 2 R o b erto D a M a tta ção m e parece e sse n cial n a definição do objeto da A ntropologia Social(e da Sociologia) e e u v oltarei a ele inúm eras v e z e s n o decorrer deste v olum e. A gora, basta que se a c e ntue o se u ca ráter de m odo ligeiro, so m e nte para re v elar c o m o as situações so ciais são c o m plexas e de difícil c o ntrole, quando as c o m pa ra m o s c o m o s laboratórios o nde o s biólogos,quím icos e físicos re alizam su a s experiências. R ealm ente, tudo indica que e ntre as Ciências Sociais e as Ciências N aturais tem os u m a relação invertida, a saber: se n as "ciências n aturais" o s fenôm enos po dem se rpercebidos,divididos, classificados e e xplicadosdentro de c o ndições de relativo c o ntrole e em co ndições de laborató rio, objetivamente, e xistem problem as form idáveis n o que diz re speito à aplicação e até m e sm o n a divulgação destes e studos. N a m aioria dos caso s, o cientista n atural re solve u m problem a sim plesm ente para criar tecnologiasindesejáveis e, a longo pra zo , m o rtíferas e daninhas ao próprio ser hum ano.Isso para não falarm os em descobertas que podem trazer am eaças diretas à própria vida e à dignidade do hom em por seu u so inescrupuloso n a área m ilitar.N ada m ais sim ples e bem -vindo do que o isola m e nto de u m vírus e n ada m ais co m plexo do que esse próprio isolam ento perm itindo a re alização de guerras bacteriológicas e de c o ntam inação. N o caso do cientista so cial, as c o ndições de percepção, clas sificação e interpretação são c o m plexas, m as o s re sultados e m geral não têm c o n seqüências n a m e sm a proporção da "ciência n atural".São poucas as teorias so ciais que a c abaram tornando- se c redosideológicos, c o m o o ra cism o e a luta de classes, adota dos por n ações e transform ados e m v alores n a cionais.A s m ais das v ezes, as cham adas teorias so ciais são racionalizações o u perspectivas m ais a c u radas para problem as que percebem os, ainda que tais problem as não sejam re alm ente "objetivados" c o m m uita clareza. N este se ntido, o cientista so cial tende a re duzirproblem as c o rre ndo m e sm o o risco de sim plificardem ais as m otivações de c e rtos e v e ntos observáveis n u m a so ciedade o u época histórica. M as ra ra m e nte seu s resultados podem ser R E L A T IV IZ A N D O 2 3 transform ados e m tecnologia e,a ssim ,podem atuardiretam en te sobre o m u ndo.Em geral, o resultado prático do trabalho do cientista so cialé visto fora do dom ínio científico e tecnológico, n a região das "artes": n o sfilm es,peçasde teatro, novelas, ro m an ces e co ntos, o nde as idéias de certas pesquisas podem ser "aplicadas",produzindo m odificações n o com portam ento social. M asé preciso observarqueé m aisfáciltrocarde autom óvel o u de televisão e aceitarinovações tecnológicas(taisinovaçõesfa zem partedo nosso sistem ade valores),doquetrocarde valores sim bólicos o u políticos. M as v oltem os ao pontojá colocado.Vim osque u m a dasdi ferençasbásicas entre o sdois ram o sde co nhecim ento era que o sfatos so ciais são,geralm ente,irreproduzíveis em co ndições co ntroladas.É claro que ações so ciaispodem ser reproduzidas n o teatro e n o cinem a, m a s aqui a distância que e xiste e ntre o ator e o personagem recriado é u m dado que v em m odifi c a r substancialm ente a situação.A lém disso, o s atores seguem u m texto explicitam ente dado, enquanto que nós, atores fora do palco, seguim os u m texto im plicitam ente dado que a pes quisa por cau sadisso m esm o desejadescobrir.O problem abá sico, assim , co ntinua: o s fatos so ciais são irreproduzíveis em condições co ntroladas e,porisso,quase sem pre fazem parte do passado.São eventos a rigorhistóricos e apresentados de m odo descritivo e n a rrativo, n u n c a n a form a de u m a e xperiên cia.R ealm ente, não posso v er e certam entejamais v erei u m a expedição de trocado tipokula,tão esplendidam ente descrita porM alinowski; o u u m ritodeiniciação dos Canela do Brasil CentralqueN im uendaju n arro u co m tanta m inúcia.D o m esm o m odo, não posso saberjamais co m o se sente alguém diante dos ev entos críticos da R evolução Francesa o u co m o foram o s dias que antecederam a proclam ação da República n o Brasil. Podem os, obviam ente,reco n struirtais realidades(ou pedaços de realidade), m asjamais clam arque n o ssa reco n strução é a "v erdadeira",quefoicapazdeincluirtodos o sfatos eque co m preendem os perfeitam ente bem todo o processo em questão. 2 4 R o b er to D aM at ta Ta lt ot al iz aç ão é im po ss ív el, em bo ra po ss a se r u m al vo de se jáv el pa ra m u ito s c ie nt is ta s so ci ai s. M as n ós sa be m os m u ito be m a di fe re nç a qu e ex ist e e n tr e a te or ia da s o n da s he rtz ia - n as e u m rá di o tra ns m iss or e re ce pt or ,q ue sã o ap ar el ho sq ue u m fís ico co nh ec e to ta lm en te e o s po de fab ric ar. Po ri sso éq ue ex ist e u m a lig aç ão di re ta en tr e ciê nc ias n at ur ais e te cn ol og ia. E a no ss a re laç ão co m u m ev en to co m pl ex o co m o a Re vo luç ão Ru ssa o u m es m o o pr ob lem a do in ce sto ,f ato s so cia is qu en ós po de m os co nh ec er be m, m as co m qu em an te m os se m pr e u m a re laç ão co m pl ica da ,c om o se ,e n tr e o ac o n te cim en to e nó s, ex is tis se m zo n as co n he ci da s e ár ea s pr of un da s, in so nd áv ei s. N os sa s re co n st ru çõ es ,a ss im ,d ife re nt em en te da qu el as re al iz ad as pe los cie nt ist as n at ur ais ,s ão se m pr e pa rc iai s, de pe nd en do de do cu m en tos ,o bs erv aç õe s, se ns ib ili da de e pe rsp ec tiv as .T ud o iss o qu e po de u til iz ar o s da do s di sp on ív ei so u so lic ita rn o v o s da do sa ind a nã o vis tos .É po rc au sa dis so qu e no ss as te or ias , dig am os ,d o inc es to, nã o sã o ca pa ze sd eg er ar um a te cn olo gia do inc es to. Po de m ge ra rt er ap ias ,m as , m es m o aq ui, no ss o co nh ec im en to co nt in ua fu nd ad o nu m pr oc es so co m ple xo ,n un ca n u m a re laç ão co m o aq ue la qu e ex ist e en tr e u m qu ím ico e as dr og as qu e po de fa br ic ar . O sf at os qu ef or m am a m at ér ia -p rim ad as " ciê nc ias so cia is" sã o, po is, fe nô m en os co m ple xo s, ge ra lm en te im po ss ív eis de se re m re pr od uz id os , em bo ra po ss am se r o bs er va do s. Po de m os ob se rv ar fu ne rai s, an ive rsá rio s, rit ua is de ini cia çã o, tro ca s co m er cia is, pr oc lam aç õe s de lei s e, co m u m po uc o de so rt e, he re sia s, pe rse gu içõ es ,r ev o lu çõ es e in ce sto s; m as , al ém de n ão po de rr ep ro du zir tai se ve nt os ,t em os de en fre nt ar a no ss a pró pr ia po siç ão ,h ist ór ia bio gr áfi ca ,e du ca çã o, in ter es se se pr ec on ce ito s. O pr ob lem a n ão é o de so m en te re pr od uz ir e o bs er va r o fe nô m en o, m as su bs ta nc ia lm en te o de co m o o bs er vá -lo .T od os o s fe nô m en os qu es ão ho je pa rte e pa rc el ad as ch am ad as ci ên cia ss oc iai ss ão fat os co nh ec ido sd es de qu ea pr im eir as oc ied ad e foi fu nd ad a, m as ne m se m pr ee xis tiu um a ciê nc ia so cia l. As sim , cla sse s de ho m en s div ers os ob se rv ar am fat os e o s re gi str ar am R E L A T IV IZ A N D O 2 5 de m od o div ers o, se gu nd o os se us int ere sse se m oti va çõ es; de ac or do co m aq uil oq ue julg ava m im po rta nte .O pr oc es so de ac u m ula çã o qu et ipi fic ao pro ce sso cie ntí fic o éa lgo len to em to do s o s ra m os do co nh ec im en to ,m as m ui to m ais le nt on as ch am ad asc iê nc ia s do ho m em . ? U m ad ife re nç a cr uc ial M as de to da se ss as dif ere nç as a qu ec on sid ero m ais fu nd am en tal é a se gu in te: na s ciê nc ias so cia is tra ba lha m os co m fen ôm en os qu ee st ão be m pe rto de nó s, po is pr ete nd em os es tu da re ve nt os hu ma no s, fat os qu en os pe rte nc em int eg ral me nte .O qu es ign i fi ca is so ? To me mo s um ex em plo .Q uan do eu es tu do ba lei as ,e stu do alg o ra dic alm en te dif ere nte de m im .A lgo qu ep oss o pe rce be r co m o dis tan te e co m qu em es tab ele ço fac ilm en te um a re laç ão de " ob jeti vid ade ". Nã o po sso Im ag ina ro un ive rso in ter io rd e um a ba lei a, em bo ra po ssa to m ar as ba lei as pa ra re ali za rc om ela s um ex er cíc io hu m an iza do r, sit ua nd o- as co m o oc or re no s de sen ho sa nim ad os e no s co nto sd ef ad as, co m o um a rép lic ad a so cie da de hu m an a. Em bo ra po ssa inc or po rar as ba lei as ao re i n o do hu m an o, po de rei im ag in ar o qu es en te m re alm en te es se s ce tác eo s? Éc lar o qu en ão .E ssa dis tân cia irr em ed iáv el da da ao fat od eq ue jam ais po de rei to rn ar -m e um a ba lei aé qu ep erm ite jog arc om a dic oto mi ac lás sic ad ac iên cia :a qu ela en tre su jeit o (qu ec on he ce o u bu sc ac on he ce r) e ob jeto (a ch am ad ar ea lid ad e o u o fe nô m en o so be sc ru tín io do cie nt ist a). As te or ias e o s m éto do sc ien tífi co ss ão ,n es ta pe rsp ec tiv a, os m ed iad ore sq ue pe rm i te m o pe ra re ss a ap ro xi m aç ão ,c on st ru in do u m a po nt ee n tr en ós e o m u n do da s ba le ia s. M as, ao lad od iss o, há um ou tro da do cr uc ial .É qu ee u po sso diz er tu do o qu eq uis er em re laç ão às ba lei as sa be nd oq ue ela s jam ais irã o m e co nt es tar .P od ere i, éc lar o, se r co nt es tad o po r u m o u tr o es tu di os o de ba lei as ,m as jam ais pe las ba lei as m es - 2 6 R o b e rto D a M a tta m a s.Estas c o ntinuarão a viver n o im enso o c e a n o de águas frias, n adando e m grupos e borrifando e spum a independentem ente das m inhas deduções e teorias.Isso significa sim plesm ente que o m e u c o nhecim ento sobre as baleias não se rájamais lido pe las baleias quejamais irão m odificar o se u c o m portam ento por c a u sa das m inhas teorias de m odo direto.M inhas teorias pode rão se r u sadas por m im m e sm o o u por terceiros para m odificar o c o m portam ento das balelas, m as elas n u n c a se rão u sadas di retam ente pelas baleias. Em o utras palavras, n u n c a m e torna rei u m c etáceo,do m e sm o m odo que u m c etáceo n u n c a poderá virar u m m e m bro da e spécie hum ana. E por c a u sa disso que teorias sobre baleias e sapos são teorias, isto é, c o nhecim en to objetivo, e xterno, independente de baleias, sapos e investi gadores. M as c o m o se passam as c oisas n o c a so das "ciências so ciais"? O ra, aquié tudo m uito m ais c o m plexo.Tem os, e m prim ei ro lugar, a interação c o m plexa e ntre o investigador e o sujeito investigado, a m bos - co m o disse Lévi-Strauss - situados n u m a m e sm a e sc ala.O u seja, tanto o pesquisadorquanto su a vítim a c o m partilham , e m bora m uitas v ezes não se c o m u niquem ,de u m m e sm o u niverso das e xperiênciashum anas.Se e ntre nós e o s ra tos as diferenças são irredutíveis, hom ens e ratos pertencem a e spéciesdiferentes, sabem os que o s hom ens não se separam por m eio de e spécies, m a s pela o rganização de su a s e xperiências, por su ahistória epelo m odo co m que classificam su a s re alidades internas e e xternas.Por c a u sa disso ninguém pode virarbaleia, rato o u leão, m a s todos podem os n o s transform ar e m m e m bros de o utras so ciedades, adotando se u s c o stum es, c ategorias de pensam ento e classificação so cial, c a sa ndo c o m su a s m ulheres e so cializando se u s filhos. R ezando a o s se u s e spíritos e deuses, aplacando a ira e agradecendo as bênçãos dos se u s a n c e strais, obedecendo o u m odificando su a s leis,falando bem o u m al s u a língua.A pesardas diferenças e por c a u sa delas, nós se m pre n o s re c o nhecem os n o s o utros e e u e stou Inclinado a a c reditarque a distância é o elem ento fundam ental n a percepção da igualdade R E L A T IV IZ A N D O 2 7 e ntre o s hom ens. D este m odo, quando v ejo u m c o stum e dife re nte é que a c abo re c o nhecendo, pelo c o ntraste, m e u próprio c o s tu m e . Quando e studei o s n o m e s pessoais e ntre o s A pinayé do N orte do E stado de G oiás e vi que, e ntre eles, o s n o m e s e ra m m e c a nism os para e stabelecer relações so ciais,foique pude re c o nhecer im ediatam ente o papel dos n o m e s e ntre nós. A qui, percebi, o s n o m es serv em para individualizar,para Isolar u m a pessoa das o utras e, assim fazendo, individualizar u m grupo (um a fam ília) de o utro. O n o m e c a ra cteriza o indivíduo, pois o s n o m e s são únicos e e x clusivos, c o m o term o x a rá dem ons trando a su rpresa que dois o u m ais n o m es idênticospodem cau sar.Lem bro que a palavra x a rá é de o rigem tupi e significava o riginalm ente "m eu n o m e". Ela tem assim a virtude de relacio n a r dois indivíduosc ujos n o m e s são c o m u n s,indicando,junto c o m a boa su rpresa, algo que talvez não devesse o co rrer,pois o n o m e te m u m c a ráter e x clusivo n a n o s s a s o ciedade. E ntre o s A pinayé e o sTim bira em geral,porém , o s n o m es não individua lizam m a s, m uito ao c o ntrário, e stabelecem relações m uito im portantes e ntre u m tio m aterno e o sobrinho,já que alio s n o m es são sistem aticam ente tran sm itidos dentro de c e rtas linhas de parentesco. O s genitoresjamais devem dar o s n o m e s ao s seu s filhos que se m pre o s devem re c eber de parentes situados em c e rtas posições genealógicas, e ntre as quais se destaca a do tio m atern o . D e a c o rdo ainda c o m e ssa lógica, o s n o m e s s e m pre devem passarde hom em parahom em e de m ulherpara m ulher, algo bem diferente do que o c o rre em n o sso m eio, o nde eles são transm itidos obedecendo a u m a lógica pessoal e fundada n u m a livre e sc olha.Se tirarm os o sobrenom e, o n o m e de fam ília,que legitim a direitos a propriedade, o n o m e próprio o u prim eiro n o m e é algo que pode v a riar m uito quando é escolhido e dado. D e fato,falam os e m "dar u m n o m e à c riança";quando n a so cie dade Tim bira é m uito m ais apropriado falar-se e m transm issão de n o m es, ato que rev ela m elhor o sistem ade n o m inação vigen te n aquela so ciedade.M as, além disso, o s n o m es Tim bira dão 2 8 R o b er to D aM at ta dir eit os a pe rte nc er a ce rto s gr up os ce rim on iai s m uit o im po r ta nt es , po is sã o gr up os qu e a tu am du ra nt e o s ri tu ai s e ta m bé m n as co rr id as ca rr eg an do to ra s, es po rte n ac io na l de sta s tr ib os . As sim ,p ap éis so cia is sã o tra ns m iti do s co m o s no m es pr óp rio s e gr up os de pe ss oa s co m o s m es m os no m es de se m pe nh am o s m e sm o s pa pé is . U m sis te m a de n o m es pr óp rio s, tã o co le tiv o co m o es se do s Ti m bir a, n o s faz pe ns ar de im ed iat o n as po ss ib ili da de s de u m sis tem a op os to, ist o é, nu m sis tem a de no m ina çã o em qu e os n o m es fo ss em ab so lu ta m en te pr iv ad os e in di vi du al iz ad os de ta l m od o qu ea ca da ind iví du o nã o só co rr es po nd es se um só no m e, m as qu et al no m e fo sse m es m o co m o qu e a ex pr es sã o de su a es sê nc ia in div idu al. Po is be m ,t al sis tem ap ar ec ee xi sti re n tr eo s Sa nu m ád o N or te da A m az ôn ia (cf .R am os ,1 97 7) o n de o s n o m es pr óp rio ss ão se gr ed o. Te mo s, po is, ne ste ex em plo ,o m od o ca ra ct er íst ico de pr oc ed er a co m pa raç ão em An tro po log ia So cia le , po rm eio de la, de sco bri r, re lat ivi za re pô re m re laç ão o n o ss o sis te m a (ou pa rte de le ), pe lo es tu do e co n ta to co m u m sis te m ad ife re nt e. Po is se o s n o m es do sT im bi ra sã o co let iv os e o s do sS an um áa bs ol ut am en te in di vi du ali za do s (at ém es m o ao lim ite de to rn ar em -se sig ilo so s), o no ss o sis tem af ica co m o qu e nu m a po siç ão in ter m ed iár ia, co m o u m co nju nto qu e, ao m es m o te m po qu e in di vi du ali za ,t am bé m pe rm ite a ap ro pr iaç ão e a ex pr es sã o do co let ivo .M as ép re cis o ob se rv ar qu e o no ss o sis te m a - co m o o do s Sa nu m á - pa re ce co n tr as ta r v io le nt am en te co m o Ti m bi ra ,n a m ed id a em qu e o se u ei xo es tá em ac en tu ar in di ví du os e gr up os ex clu siv os .S em o co n tr as te e a di stâ nc ia qu e o sis te m a de n o m in aç ão do s Ti m bi ra co lo ca , se ria di fíc il to m ar co ns ciê nc ia do no ss o sis tem a, nu m pr im eir o pa sso ,p ara po de rr ela tiv izá -lo ap ro pr iad am en te. A his tór ia da An tro po log ia So cia l, ali ás ,c om o ve re m os u m po uc o m ais ad ian te, éa his tó ria de co m o es se s dif ere nte s sis tem as fo ram pe rce bid os e in te rp re tad os co m o fo rm as alt er na tiv as - " so luç õe s" e " es co lha s" pa ra pr ob le m as co m un s co lo ca do s pe lo v iv er n u m a so ci ed ad e de ho m en s. E co m o es se tip o de en ca m in ha m en to se co n st itu i R E L A T IV IZ A N D O 2 9 n u m m o m en to Im po rta nt e n o se n tid od eu n ir o pa rti cu la rc o m o u n iv er sa lp el a co m pa ra çã o sis te m át ic ae cr ia tiv a: re la ci on ai e r e la ti vi za do ra . M as al ém da pr ob lem áti ca co lo ca da pe lo de slo ca m en to do s sis tem as (ou su bs ist em as ),d esl oc am en to qu ep erm ite a co m pa ra çã o e um a pe rce pç ão so cio lóg ica ,r ela tiv iza da o u de vié s, ex is te u m a o u tr a qu es tã o cr íti ca n es ta s di fe re nç as en tr e as " ci ên ci as so cia is" e as " ciê nc ias n at ur ais ". Tr ata -se do se gu in te: Qu and oe u te or izo so bre os no m es Ap ina yé ,i sto é, qu an do co n st ru o u m a in te rp re ta çã o pa ra es se su bs is te m a da so ci ed ad e Ap ina yé (ou Ti mb ira ), eu cr io um a áre a co m ple xa po rque ela po de at ua r em do is sis tem as di fe re nt es : o m eu e o de les .E m ou tra s pa lav ras ,q ua nd o eu int erp ret o o sis tem ad en om ina çã o A pi na yé , eu en tr o n u m a re la çã o de re fle xi vi da de co m o m eu sis te m ae ta m bé m co m o sis tem aA pi na yé .P os so ir al ém da m i n ha co m un id ad e de cie nt ist as ,p ar aq ue m es to u ev id en tem en te cr ia nd o e pr oc ur an do ap re se nt ar m in ha te or ia ,d isc ut in do m i nh as hip óte se s e te or ias co m os pr óp rio s Ap ina yé ! Es se é um da do fu nd am en tal e re vo luc ion ári o, po is foi so m en te a pa rti rd o iní cio de ste séc ulo qu en ós an tro pó log os so cia is tem os pr oc ur a do te st ar no ss as in ter pr eta çõ es n es se s do is ní ve is: n o da n o ss a so cie da de e cu ltu ra e tam bé m no nív el da so cie da de es tu da da , co m o pr óp rio n at iv o. Es ta at itu de ,q ue ce rt am en te u m ev ol u- ci on ist a v ito ria no do tip o Fr az er co n sid er ar ia u m a v er da de ira he re sia ac ad êm ica ,é qu e te m se rv id o - co m o v er em o s n o de co rr er de ste liv ro - pa ra sit ua ra An tro po lo gi a So cia ln o ce n tr o ep ist em oló gic o de to do um m ov im en to re lat ivi za do rq ue eu re pu to co m o o m ais fu nd am en tal do s últ im os te m po s. Po rq ue qu an do ap re se nt o m in ha te or ia ao m eu " ob jeto "e u n ão só es to u m e ab rin do pa ra um a re lat ivi za çã o do sm eu s pa râm etr os ep is- te m oló gic os ,c om o ta m bé m faz en do na sc er um pla no de de ba te in ov ad or :a qu el e fo rm ad o po ru m a di al ét ic ae n tr e o fa to in te rn o (as in ter pr eta çõ es Ap ina yé pa ra o s se us pr óp rio s no m es ), co m o fat o ex ter no (as m inh as int erp ret aç õe sd os no m es Ap ina yé ). E es sa dia lét ica ac ab a po ri nv en tar u m pla no co m pa rat ivo fu n- R o b erto D aM atta dado n a refiexividade, n a circularidade e n a crítica so ciológica, o que é radicalm ente diferente da co m paração bem -com porta- da, o nde a co n sciênciado observadorficainteiram ente de fora, co m o u m a espécie de c o m putador cósm ico, a ela se ndo atribuí da a c apacidade de a tudo dar se ntido se m n u n c a se c olocar n o seu próprio e squem a co m parativo. E essa possibilidade de dialogar co m o n ativo (informante) que perm ite ultrapassar o plano das co n v eniências preconcei- tuosas interessadas em desm oralizar o "outro".É elaque tam bém im pede a A ntropologia Social co ntem porânea de utilizar aqueles esquem as ev olucionistasfáceis,que situam o s sistem as sociais em degraus de atraso e progresso, colocando sem pre o "n o sso sistem a" co m o o m ais co m plexo, o m ais adiantado e o que,portudo isso, tem o direito sagrado (dado pelo tem po histórico legitim ador)de espoliai; explorar e destruir - tudo e m n o m e do cham ado "processo civilizatório".Podem os e ntão dizerque é n esta av enida aberta pela possibilidade do diálo go co m o inform ante quejaz a diferença crítica entre u m sa ber v oltado para as coisas inanim adas o u passíveis de serem subm etidas a u m a objetividade total(os objetos do m u ndo da "n atureza") e u m saber, com o o da A ntropologia Social, cons tituído sobre o shom ens em sociedade.Num caso, o objeto de estudo é inteiram ente opaco e m udo; noutro, ele é transpa rente e falante.No casodas "ciências sociais" o objetoé m uito m aisque isso, ele tem tam bém o seu centro, o seu ponto de vista e as su asinterpretaçõesque,aqualquer m om ento,podem c o m petir e c olocar de quarentena as n o ssas m ais elaboradas e xplanações. A raiz das diferenças e ntre "ciências n aturais" e "ciências sociais"fica localizada,portanto, n o fato deque a n atureza não pode falardiretam ente com o investigador; ao passo que cada sociedade hum ana conhecida é u m espelho onde a nossa pró pria e xistência s e reflete. R E L A T IV IZ A N D O 31 3.A ntropologias e A ntropologia Procurando definir u m "lugar" para a A ntropologia Social, é preciso não e squecer as relações da A ntropologia co m seu s o u tros ra m o s.Sabem os que n o ssa disciplina tem pelo m e n o s três e sferas de interesse claram ente definidas e distintas.U m a delas é o e studo do hom em e nquanto ser biológico, dotado de u m aparato físico e u m a carga genética, co m u m percurso ev olutivo definido e relações específicas co m o utras o rdens e espécies de se re s vivos. Esse é o dom ínio o u o c a m po da cham ada A ntro pologia Biológica,o utrora co nfinada, co m oA ntropologia Física, às fam osas m edições de c rânios e e squeletos, m uitas v e z e s n o afã de e stabelecer sinais diacríticos que pudessem se rvir c o m o diferenciadores das "raças" hum anas.Felizm ente, c o m o Irem os v e r c o m m ais v agar adiante, a n oção de "raça" c o m o u m tipo a c abado e stá totalm ente superada,de m odo que é u m absurdo pretender tirardo co n ceito qualquerim plicação de caráter so - ciocultural c o m o se fazia a ntigam ente.H oje, o e specialista e m A ntropologia Biológica dedica-se à análise das diferenciações hum anas utilizando e squem as e statísticos, dando m uito m ais atenção ao e studo das so ciedadesde prim atas superiores(como o s babuínos o u gorilas),à e speculação sobre a e v olução bioló gica do hom em e m geral - apreciando,por e x e m plo, a e v olução do cérebro o u do aparato n e rvo so e ósseo utilizado e m obilizado para a ndar; o u e stá dedicado ao e ntendim ento dos m e c a nism os e c o m binações genéticas fundam entais que perm itam e xplicar diferenciaçõesdepopulações e não m aisde raças! Claro e stáque aA ntropologiaBiológicalança m ão de m étodos e técnicas c o m u n s a o s o utros ra m o sda Biologia,da G enética e da Zoologia, além da Paleontologia,de m odo que o cientista a elade dicado deve terfam iliaridade c o m todas e ssa s o utras disciplinas, se ndo u m biólogo especializado n o estudo do hom em .N ahistória da A ntropologia,grande parte da popularidade da disciplina de c o rre de a chados científicos vindos desta e sfera de e studo. 3 2 R ob er to D aM at ta _ As egu nd ae sfe ra de tra bal ho da An tro po log ia Ge ral diz re s pe ito ao es tud od oh om em no tem po ,a tra vés dos m on um en tos re sto sd em or ada s,d ocu me nto s,a rm as ,o bra sd ea rte e re aliz a çõe st écn ica sq ue foi dei xan do no se u ca m inh oe nq ua nto civ ili za çõe sd ava m lug ara ou tra sn o cu rso da His tór ia. Ess ae sfe ra de tra bal ho an tro pol ógi co éc on hec ida co m o Arq ueo log iae co m o tal, eu ma su bdi sdp lina da An trop olo gia Ger ale ,m ais esp ecif i ca m en te da An tro pol ogi aC ultu ral (ou Soc ial), jáq ue se u ob jetiv oe che gar ao es tud od as so cie dad es do pas sad o. De fato o ar que ólo go es tái nte res sad oe m ped aço sd ec er âm ica ,ce m ité- no sm üen are sc ac os de ped rae re sto sd ea nim ais, en qua nto tais res ídu os per mit em ded uzi rm odo sc on cr eto sd ere laç ões so ciai s ah ex iste nte sA Arq ueo log ia, ass im, éu m aA ntro pol ogi aS ocia l so que esta deb ruç ada em cim ad oe stu do de um sLe ma de açã os oc ial jad esa par eci do. Par ac heg ara tée le, ad isc ipli na de se nv olv eu um a sér ied em éto dos e téc nic as des tina dos ao es tu do pre aso ed eta lha do dos res tos de um as oc ied ade ou cu ltur a- aqu ilo que foi cr ista liza do e per pet uad op elo ss eu s m em bro s' en qua nto atu aliz ava m ce rto sp adr ões de co m por tam ent oe spe -' i^u me T S1S T- T°d °SÍS tema S°CÍa lhU ™0 Pre ci-^ e ins tru me nto se ar tef ato sm ate ria is pa ra so bre viv er. Na re alid a- Ífín íi Jr ™ 1™ 5e obJ' etos - se ria iss ão elem ento s so ct a7h " ' ^ qUe ^ defí nem 3** *» * Con d^o e so oe dad eh um ana em opo siçã oa so cie dad esa nim ais. Ma se sse s ins tru me nto s,e m bor ate ndo oo bjet ivo de per mi tir ae xpl ora ção da na tur eza ,m ulti plic açã od afo rça ed op ode rio do hom em ou ar ea liza ção de algu ma tar efa esp ecia l,e stão det erm ina dos pe los m odo sa tra vés dos qua iso gru po se au tod efin ee co nc ebe Dai as ua va riab ilid ade .A ssim ,em bor aa agr icu ltur as ejau m a teo uça co m um a m uita ss oc ied ade s,n em tod as a pra tica m do m es m o m odo ,u tili zan do os m es m os ins tru me nto s, den tro do me sm or itm o,o up lan tan do os m es mo sp rod uto s.M esm oe m áre as geo grá fica sc om un s, co m o o Bra sil Ce ntra l,p or ex em plo en co ntr am os gru pos de líng ua Tup i,c om o os Te net eha ra pra tica ndo um a agr icu ltur af und ada na m an dio ca e bas ead ae m R E L A T IV IZ A N D O 3 3 té cn ic as a v a n ça da s; ao pa ss o qu e as po pu la çõ es de fa la Jê , n a m e sm a re gi ão , o pe ra va m (e a in da o pe ra m ) té cn ic as a gr íc ol as di fe re nt es , c o m o se u pr od ut o c u lti va do pr in ci pa l se n do u m a gr an de v a rie da de de in ha m es . O ar qu eó lo go e st ud a es se s re sí du os de ix ad os po ru m a so c ie da de ,d ep oi sq ue se u s m e m br os pe re c e ra m . E s u a ta re fa é a de re c o n st ru ir o si st em a a go ra qu e e le so m e n te e x is te po rm e io de a lg um as de su a s c ris ta liz aç õe s. Qu an do pe ns am os e m A rq ue ol og ia , pe ns am os fr eq üe nt e m e n te n o s e sp ec ia lis ta s de di ca do s ao e st ud o da s c ha m ad as gr an de s civ ili za çõ es (Eg ito ,í nd ia, M es op ot âm ia, Gr éc ia e Ro m a ), e st ud io so s qu e tê m c o m o m a te ri al de e st ud os ,n ão só in s tr um en to s de e x pl or aç ão da n a tu re za ,m a s fo rm as de so c ie da de be m c ri st al iz ad as c o m o o s m o n u m e n to s e o s pa lá ci os .M as é pr e ci so n ão e sq ue ce ro a rq ue ól og o de vo ta do ao e st ud o de pe qu en os gr up os de pe ss oa s qu e ta m bé m de ix ar am su a m a rc a e m a lg um a m bi en te ge og rá fic o, c u ja re c o n st ru çã o c o rr e ta é m u ito m a is di fíc ilm as ig ua lm en te bá sic ap ar a u m a v isã o co m pl et a da hi stó ria do ho m em n a T er ra .E é c u ri os o e im po rt an te s a be rc o m o se po de " fa ze r fa la r" e ss e s re sí du os pe la té cn ic a a rq ue ol óg ic a. A ss im , u m a a ld ei a a n tig a, c u jas c a sa s já fo ra m c o n su m id as pe lo te m po e pe la s in te m pé rie s, po de fo rn ec er u m pa dr ão de ha bi ta bi lid ad e qu e de no ta u m tip o e sp ec ia ld e a ld ea m en to ,p oi s as c a sa s po de m se r gr an de sou pe qu en as ;e st ar di sp os ta sd e m o do a le at ór io o u se gu in do u m de se nh o ge om ét ri co pr ec is o, c o m o u m qu ad ra do o u u m c ír cu lo .E a in fo rm aç ão é bá si ca po rq ue e x is te m so c ie da de s, c o m o as de lí ng ua Jê do B ra si lC en tr al (cf .M el at ti, 19 78 ; D aM at ta ,1 97 6) ,q ue c o n st ró em a ld ei as re do nd as ,c o m u m pá tio n o c e n tr o e as c a sa s si tu ad as ao re do r. Ta ld iv is ão re pr es en ta u m e sq ue m a bá si co e re v e la c o m o a di sp os iç ão e m cí rc ul o po de in di ca ra lg um a sp ec to bá si co da m u n di vi sã o da qu el a so c ie da de . A lé m di ss o, to da a a ld ei a po de te r u m de pó si to c o m u m de lix o e iss o pe rm iti rá de sc ob ri ro tip o de a lim en ta çã o da po pu la çã o, be m c o m o o tip o de m a te ri al qu e e ra m a is u sa do po r e la n o s se u s a fa ze re s c o tid ia no s. R es to s de a lim en to s po de m si gn ifi ca r e sq ue le to s d e a n im ai se iss o pe rm iti rá de sc ob ri ra s e sp éc ie sm a is R oberto D aM atta consumidas e até m esm o aquantidadeda alimentação e o m odo co.no os animaisforam m ortos.Poroutrolado,estainformação poderá sercrítica no equilíbriodadieta alimentarda aldeia e no pesoque a caça,a coleta e a agricultura teriam tido na sua vida econômica e socialAoladodestes resíduosde animais,pode o arqueólogodeduzir m uito sobre a estrutura socialsedescobrir planosde casasintactos com oque restoude suasdivisõesinter nas e externas.Tiposdefamíliapoderão viràluzdestesdados e apopulaçãoda aldeiapoderá ser até m esm o calculadapor m eiodeles.Cemitériosquefazem partedaimagem populardo arqueólogo com sua roupa caquiechapéude exploradorsãobá sicos.Um cemitério relativamenteintocadopodeindicarm uito sobrepopulação,distribuição sexualdestapopulação,fornecer oadossobretiposdem orteeformas.dedoença,explicarpadrões de casam ento e migração(pelo estudode esqueletosdiferen tes).Esqueletos enterrados em conjunto e com certos enfeites e aparatofuneráriolançariam luz sobre avida religiosa epolítica de um a aldeia,poisaoladode m ortosenterrados com simples enfeitespoder-se-iam encontrartambém pessoasenterradassós e com m uita riquezade aparatofunerário, oquefaz suspeitar de um a sociedade com hierarquias ediferenciações religiosas políticas o u e c o nôm icas. _ _O arqueólogo trabalhapor m eiode especulações ededu ções num abase comparativa,balizando sistematicamente seus achadosdopassado com o conhecimento obtidopelo conheci m ento contemporâneode sociedades com aquele m esm ograu de complexidade social.Seutrabalho segue,então,em linhas gerais,o m esm o ritmodaquele realizadopelo etnólogo ou an tropólogo social(ou cultural),sóque ele estuda um apopula ção que som ente existepelo quefoi capazde ter cristalizado em m ateriais nãoperecíveis.1Como ohomem é oúnico animal ;i~;6Tse ano,i¥d ,n,roduçs°devG"d™ — •£•*. R ELA TIV IZA N D O B IB L IO T E C A L eoniee C arneiro^ 3U que tem essa fantástica capacidade projetiva,pois ele efetiva m e nte se projeta (projeta se u s v alores e ideologias) e m tudo o que co n cretiza m aterialm ente,toda so ciedade hum ana deixa sem pre algum v estígio das su as relações so ciais e v alores n a quilo que u so u , n egociou, adorou e entesourou co m ganância, sabedoria o u generosidade ao longo dos tem pos. E porque o s hom ens são a ssim que a e sfera do c o nhecim ento a rqueológico é possível. Quando falam os e m A rqueologia,já tivem os que utilizar a idéia de m e c a nism os so ciais sistem atizados - que cham eide projetivos - para exprim ir o cam po de estudos desta disciplina dedicada à a nálise das form as que o s hom ens inventam , c opiam e c o n stróem de m odo a poderem operar su a s vidas individual e c oletivam ente segundo c e rtos v alores.Quando o tigre-den- tes-de-sabre desapareceu, foi-se co m ele todo o seu aparato adaptativo,do qual o dente-de-sabre e ra obviam ente u m a peça fundam ental.'M as quando a so ciedade T upinam bádesapareceu, ela deixou atrás de si todo u m c o njunto de objetos que havia elaborado, c opiado,inventado, c o n struído e fabricado, elem en tos que e ra m soluções para desafios u niversais e, m ais que isso, c o n stituíam e xpressões particulares dos Tupi re solverem tais desafios. A gora que desejo definir a terceira e sfera do c o nhecim ento A ntropológico,preciso c o n c eituar m elhor e sse s m e c a nism ospro jetivos que perm item atualizar v alores so ciais.Tradicionalm en te eles têm sido cham ados de cultura e é deles que precisam os falar quando pretendem os localizar o c a m po da A ntropologia Social,C ultural o u E tnologia.D e fato, o s n o m e s (que e stão re lacionados às tradições de e studos de c e rtos países) não n o s devem ofuscar, pois todos denotam , a m e sm a c oisa: o e studo do H om em e nquanto produtor e transform ador da n atureza. E m uito m ais que isso: a visão do H om em e nquanto m e m bro de u m a so ciedade e de u m dado sistem a de v alores.A perspectiva da so ciedade hum ana e nquanto u m c o njunto de ações o rdena dasde a c o rdo c o m u m plano e regrasque ela própria inventou e 3 6 R ob er to D aM at ta que éc apa zd er ep rod uzi re pro jeta rem tud oa qu ilo que fab ric a Ae sfe ra da An tro pol ogi aC ult ura l(o uS oci al) é,a ss im ,o pla no co m ple xo se gu nd oo qu al a cu ltu ra (eo se u irm ão gêm eo a so cie da de) na o és om en te um a re spo sta es pe cíf ica a ce rto sd esa fio s;r es po sta que so m en te o Ho me m foi ca paz de ar ticu lar .N ão Ess av isão ins tru me nta list ad ac ult ura co m o um tipo de re açã o deum ce rto an im al a um dad oa m bie nte físi co dev es er su bs titu ída por um a no ção m uito m ais co m ple xa e gen ero sa por um a vis ão re alm ent em uito ,m ais dia léti ca e hu ma na. Ad eq ue a cu ltu ra e a co ns ciê nci aq ue a vis ão so cio lóg ica ne la co nti da dev ei mp lica rs itu am o hom em m uit om ais do que um an im al qu ei nv en ta ob jeto s,c ha ma nd o ate nç ão pa ra o fat o cr ític o de que ele éu m an im alc apa zd ep ens ar o se u pró pri op ens am ent o Em ou tra sp ala vra s, so m en te o ho me m éc apa zd ec ria ru m a ling uag em da ling uag em ,u m a re gra -de -re gra s.U mp lan od eta l or dem re flex ivo que ele pod ev er -se a sip róp rio ne ste pla no Se alg un sa nim ais po dem inv en tar ob jeto s,o ho me m éo ún ico qu ei nv en ta as re gra sd ei nv en tar os ob jeto s.E as sim faz en do pod ed efim r-se en qua nto um se rq ue us a ali ngu age m, m as que tam bém tem co ns ciê nci ad al ing uag em .S eja por que a líng ua ar ticu lad ap erm ite um a m ult ipl icid ade de pro pós itos prá tico s se jap orq ue sa be qu es ua lín gu aé pa rtic ula re po rc au sa dis so pe rm ite um a ind ivi du ali za çã o dia nte de ou tra s so cie da de s O po nto es se nc ial éq ue o ho me m nã o inv ent au m a ca no a só po rqu ed ese jac ru za r o rio ou ve nc er o m ar , m as Inv en tan do a ca no a ele tom a co ns ciê nci ad om ar , do rio ,d ac an oa e de si m es m o. Se o ho me m faz -se a si. pró pri o, ép rec iso tam bé m nã o es qu ec er qu ee le as sim pro ce de po rqu ep od ev er -s e a si m es m o em tod os os des afi os qu ee nfr en ta e em tod os os ins tru me nto s qu e fa D ri ca . _ AA ntr opo log ia Soc ial (ou Cu ltu ral ),o u Etn olo gia ppr ml te de sco on ra dim ens ão da cu ltu ra e da so cie dad e, des tac and oo s se gu in te s pl an os : a)U mp lan oi nst rum ent al, dad on a m edi da em que um su jeit or es po nd ea um des afi o de um am bie nte ou de um ou tro R E L A T IV IZ A N D O gr up o. Se a te m pe ra tu ra da Te rr a m u do u, v ár io s a n im ai s a pe n a s de se nv ol ve ra m de fe sa s pa ra e ss e n o v o fa to .M as o s a n im ai s a pe na s de se nv ol ve m re sp os ta s in te rn as , pa rt e e pa rc el a do se u pr óp rio o rg an is m o, co m o pe le s, ga rr as e de nt es .S ua re sp os ta é in st ru m en ta l, di re ta ,n ão pe rm it in do to m ar c o n he ci m en to re fl e x iv o da re sp os ta m e sm a . N um a pa la vr a, a re sp os ta n ão se de st a ca do a n im al ,f az en do pa rt e do se u pr óp ri o c o rp o e a el e e st an do in tim am en te lig ad a se m re fl ex ão ao e st ím ul o. O pl an o in st ru m en ta lé u m pl an o da s co is as fe ita s o u da da se a su a c o n c e pç ão e im po rt ân ci a e st ão m u it o lig ad as à pe rs pe ct iv a se gu nd o a qu al o ho m em fo if ei to ao s po uc os : pr im ei ro o pl a n o fís ic o, de po is o pl an o so c ia l (o u c u ltu ra l). Pr im ei ro o pl an o in di vi du al , de po is o c o le tiv o. Pr im ei ro o s so n s qu e im ita va m a n a tu re za , de po is a lin gu ag em a rt ic ul ad a. H oje sa be m os qu e ta l v is ão qu e G ee rt z (1 97 8) c ha m ou de " e st ra tif ic ad a" n ão é m a is v ál id a. M ui to m a is im po rt an te é to m ar c o n sc iê nc ia de u m pl an o fr an ca m en te c u lt u ra l. b) N o pl an o cu ltu ra lo u so ci al ,q ue a Et no lo gi a, A nt ro po lo gi a So ci al e A nt ro po lo gi a C ul tu ra lp er m ite m to m ar c o n he ci m en to , o m u n d o h u m an o fo rm a- se d en tr o d e u m r it m o di al ét ic o c o m a n a tu re za . Fo ir e sp on de nd o à n a tu re za qu e o ho m em • m o di fi c o u -s e e a ss im in ve nt ou u m pl an o o n de pô de si m ul ta ne am en te re fo rm ul ar -s e, re fo rm ul an do a pr óp ri a n a tu re za . N es te n ív el , e st am os n a re gi ão da s re gr as c u ltu ra is (o u so ci ai s, a di st in çã o se rá e st ab el ec id a m a is ta rd e) ,q ua nd o n ós te m os u m a re sp os ta e ta m bé m u m re fl ex o de st a re sp os ta n o su jei to. A ss im , se a te m pe ra tu ra da T er ra m u do u, o s ho m en s in ve nt ar am c o be rt as e a br ig os .M as é fu nd am en ta lc o n si de ra rd e u m a v ez po rt od as qu e iss o n ão é tu do .P or qu e ta is co be rt as e a br ig os v a ri am . N ão po rq ue e x is tis se a lg um a ra z ão in te rn a (d en a tu re za ge né tic a o u bi ol óg ic a) ,m a s po rq ue a re sp os ta fo ip en sa da e m te rm os de re gr as ,c o m o a lg o e x te rn o e pe rc eb id o c o m o ta l. A pe na s po de m os di ze rq ue o ho m em de ve rá re sp on de r, m a s n ão po de m os pr ev er e fe tiv am en te c o m o se rá e ss a Te sp os ta .O ho m em ,a ss im ,é o ún i co a n im al qu e fa la de su a fa la ,q ue pe ns a o se u pe ns am ento ,q ue 3 8 R oberto D aM atta responde a suaprópria resposta,que reflete seupróprio reflexo equeé capazde sediferenciar m esm oquando está se adap tando a causas e estímulos com uns.Realmente,pode-se m esm o dizerque um tigre estáficando cada vez m aistigre,na m edida em que se adapta a um certo ambiente naturaledesenvolve cer tas característicasbiológicas.M as com ohomem as coisas são m uitodiferentes.Aqui,a noçãode adaptaçãoé m uito complica da,porque ela nãoindica um caminhode mãoúnica,indo ape nas nadireçãode urn mínimode atrito com a natureza com oé o casodos animais.No casodas sociedades,adaptaçõespodem significardestaquesdo ambiente,pelo usode um atecnologia avançada equebuscadominare controlara natureza; o usode um estilo,neutralizador,quando um a sociedadebuscaintegrar- s e n o a m biente. Vê-se,deste m odo,que a resposta culturalé m uitodiferente dainstrumental.Elapermite a superaçãoda necessidade etam bém o estabelecimentode um adiferenciaçãoporcausa m esm o da necessidade.E essepontoé crítico.Oshomens sediferencia ram porquetornaram -sehomens,etornaram -sehomensporque responderam de m odo específico a estímulos universais Porisso eque o estudodaAntropologiaSocialserá sempre o estudodas diferenças,plano efetivo e concreto em que a chamadaHumani dade se realiza e torna-se visível. Tomara cultura(e a sociedade) com o sendo um a espécie de elaborada resposta aodesafio naturalé um m odo m uito co m um de colocarem foco o objetodaAntropologia.Creioque minha visãoé m ais complexa e,m elhorqueisso,m aisadequa da ao conhecimento m oderno das sociedades edoshomens Poroutrolado,ela abandona, com o vimos,aperspectiva evo- lucionista m uito símplificadora,segundo aquala existência so cialfoirealizada em etapas:primeiro ofísico,depois o social- primeiro ogrito,depois afala;primeiro oindivíduo,depois ogrupo.A visão aquiapresentada, na m edida m esm o em que íamos revelando osplanosde atuaçãode cada antropologia foi ade m ostrar com o a sociedade nasceude um adialética com - R E L A T IV IZ A N D O 3 9 plexa e,por isso m esm o , reflexiva, o nde o desafio da n ature za e ngendrava u m a re sposta que,por su a v e z ,perm itia tom ar c o n sciência da c o n sciência(com su a s possibilidadesde re spon der), da n atureza e da própria re sposta dada. A plasticidade hum ana é que perm ite descobrir su a v a riabilidade,já que ela apenas indica o c a m inho de algum a re ação, m as não pode de term inar c o m precisão a re sposta.D e fato, n e ste se ntido, o ho m e m é r e alm en te livre. 4.O s planos da co n sciência a ntropológica D o que ficou c olocado a cim a, segue que tem os e m A ntropologia pelo m e n o s três planos de co n sciência.Incluiríam os co m satis fação u m quarto plano, o m ais fundam entalde todos, caso ele não fosse tão e specializado e n o sso c o nhecim ento c o m ele tão superficial.Quero m e referir ao plano da lingüística,do e studo da língua, e sfera de c o n sciência absolutam ente básico n a trans m issão,invenção e produção de todo o c o nhecim ento e c ultu ra .Elem ento o u m eio se m o qualtodos o s o utros não poderiam existir,já que se m u m a linguagem a rticulada se ria Im possível apreender o m u ndo,torná-lo c o nhecido e m a nipulávelpor m elo de u m e squem a de c ategorias o rdenadas. M as dentro dos três planos que destacam os e n o s quais in cluím os indiretam ente a linguagem se rá preciso destacar o s se guintes pontos: O e studo da A ntropologia B iológica situa a questão de u m a c o n sciência física n o e studo do H om em . Ela re m ete ao s parâ m etros biológicos de n o ssa e xistência, re v elando c o m o e stam os ligados a o m u ndo a nim al e a o s m e c a nism os básicos da vida n o planeta.N este plano,trabalham os n u m eixo tem poralde c a ráter v e rdadeiram ente planetário e cósm ico, n u m a e sc ala de m ilhões de a n o s, o nde é praticam ente im possíveldiscutir c o m algum a precisão o su rgim ento de e v e ntos bem m a rc ados. N o plano da c o n sciência que faz parte da A ntropologia Biológica, e specula- 4 0 R ob er to D aM at ta m os so bre m ud an ça si ntr íns ec as do co rpo e cé reb ro hu ma no s ap rec ian do po rc om pa raç ão co m os an im ais as co nq uis tas re a liz ad as po re ss e pri ma ta su pe rio rq ue ac abo ut ão dif ere nc iad o O fat o de o ho me m ter de sci do de ur na árv ore ,d et er de sen vo lvi do o bip eda lism op od es er o po nto de pa rtid ap ara um a se ne de tra nsf orm açõ es co rre lata s,t oda so co rrid as nu m es paç o de tem po int eir am en te inc on ceb íve lp ara a no ss a co ns ciê nci a fre qü ent em ent ec on fin ada a um a ex per iên cia ve rda dei ram ent e dim inu ta da du raç ão tem po ral .A ssim ,o bip eda lism oe stá as so cia do au m ad ifer enc iaç ão en tre os pés ea sm ãos ,es pec iali zaç ão ve rda dei ram ent eú nic a,, jáq ue os pri ma tas su pe rio res nã o de ra m um pas so tão dec isiv on es ta dir eçã o, se nd os ua s m ãos e pés or gao sc om um a m es m a es tru tur aa na tôm ica .T ald ife ren cia ção en tre a par te de cim ad oc or po e su a pa rte de bai xo (um ao po siç ão cla ra no hom em en tre alto e bai xo) lev ou a m uda nça sn a es tru tu ra do ro sto (co m os olh os vin do um po uc om ais àf ren te e o cr am o tom an do um a pa rte bem m aio rd ac abe ça) co m as m odi fic açõ es típ ica sn as cu rv atu ras da co lun av er teb ral (são trê sn o hom em )ep osi ção do for am en m agn um (ori fício na par te inf erio rd ac abe ça, na su a ar ticu laç ão co m a es pin ha dor sal ) na s ar ticu laç ões da bac ia e do fêm ur, co m as su as im plic açõ es bás ica sp
Compartilhar