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O CURRÍCULO COMO INSTRUMENTO CENTRAL DO PROCESSO 
EDUCATIVO: UMA REFLEXÃO ETIMOLÓGICA E CONCEITUAL 
 
GOMES, Ângela de Castro Correia - PUC/SP 
angelacastroc@ibest.com.br 
 
VIEIRA, Leociléa Aparecida – PUC/SP 
leocilea.vieira@uol.com.br 
 
Eixo Temático: Cultura, Currículo e Saberes 
Agência Financiadora: Não contou com financiamento 
 
 
Resumo 
 
A intenção desse ensaio é descrever como o currículo vem sendo ‘costurado’ ao longo do 
processo de ensino formalizado, ou seja, como esse importante instrumento, que serve de guia 
ao processo ensino-aprendizagem, vem manifestando-se e evoluindo ao longo do espaço-
tempo históricos, resgatando a etimologia da palavra e demonstrado como diferentes 
concepções e conceitos vêm sendo construídos. A complexidade das dimensões do currículo 
exige que se pense nas metas a serem atingidas; nos conteúdos que propiciarão os fins 
desejados; na importância e responsabilidade sobre o que está sendo ensinado e para quem 
está sendo direcionado o ensino; nos modos de se chegar ao conhecimento requerido; nos 
recursos materiais, financeiros e humanos, e nas decisões necessárias à sua concretização 
prática; nos modos de transmissão da cultura necessária à formação técnica e humana do 
sujeito; na reflexão de tempo-lugar históricos onde ele se realiza, além de outros aspectos. 
Inserido na escola, o aluno transcorre por um longo caminho escolar, nesse ínterim está o 
currículo, repleto de conteúdos culturais que norteiam as ações que levam ao progresso e 
evolução do sujeito pela escolaridade. Desse modo, este texto discute a etimologia da palavra, 
historiciza sobre a origem e diferentes concepções do curriculum e conclui que sua 
conceituação depende de marcos variáveis e os conceitos estão direcionados para diferentes 
aspectos: aos resultados escolares observáveis e pretendidos, à práxis, ao aluno e suas 
experiências, o que é expresso e visível e o que está na linguagem e é invisível, nexo ou 
veículo de comunicação entre professor-aluno, escola-sociedade, representação cultural, 
dentre outros. 
 
Palavras-chave: Etimologia de currículo. Concepções de currículo. Currículo no tempo-lugar 
históricos. 
 
 
3224 
1. Introdução 
O currículo vem sendo conceituado de diversas formas, entendido em diferentes 
aspectos, enquanto nexo entre a sociedade e a escola, o sujeito e a cultura, o ensino e a 
aprendizagem. Apresenta-se como um projeto escolar, um plano educativo formalizado, a 
cultura objetivada, sob um determinado formato, com conteúdos previamente definidos, mas 
também reflete práticas, experiências cotidianas, ideologias, crenças, valores; uma linguagem 
simbólica. 
A intenção desse ensaio é descrever como o currículo vem sendo ‘costurado’ ao longo 
do processo de ensino formalizado e, como diferentes conceitos vêm sendo construídos, 
manifestando-se e evoluindo ao longo do espaço-tempo históricos até a atualidade. 
2. Etimologia da Palavra Currículo 
Etimologicamente, curriculum é uma expressão latina significando pista ou circuito 
atlético – tinha ressonâncias similares com “ordem como seqüência” e “ordem como 
estrutura” (HAMILTON, 1992, p. 10). Gimeno Sacristán (2000) frisa que o termo vem da 
palavra latina currere, referindo-se à carreira, um percurso a ser atingido. Enquanto a 
escolaridade é um caminho/decurso, o currículo é considerado seu recheio, seu conteúdo e 
guia que levam ao progresso do sujeito pela escolaridade. 
Forquin (1993, p. 22), reporta que a riqueza semântica da palavra inglesa curriculum, 
vai além de designar apenas uma “categoria específica de objetos pertencentes à esfera 
educativa (...) do que uma abordagem global dos fenômenos educativos, uma maneira de 
pensar a educação, que consiste em privilegiar a questão dos conteúdos e a forma como estes 
conteúdos se organizam nos cursos”. 
Forquin (1993, p. 22), acrescenta que currículo escolar no vocabulário anglo-saxão é 
um percurso educacional, um conjunto contínuo de situações de aprendizagem 
(“learning experiences”) às quais um indivíduo vê-se exposto ao longo de um dado 
período, no contexto de uma instituição de educação formal. Por extensão, a noção 
designará menos um percurso efetivamente cumprido ou seguido por alguém do que 
um percurso prescrito para alguém, um programa ou um conjunto de programas de 
aprendizagem organizados em cursos. 
 
3225 
Gimeno Sacristán (2000) também menciona que o debate sobre o que ensinar centrou-
se na tradição anglo-saxã e o currículo, nesse momento, foi entendido considerando os fins e 
conteúdos do ensino, ampliando-se seu conceito posteriormente. Salienta também a 
existência, na história do pensamento científico curricular, de uma corrente dominante que 
dividiu os temas (conteúdos do ensino) sobre o currículo da instrução (ação para desenvolver 
os temas, por meio de atividades práticas). 
Historicizando sobre as origens do curriculum, Hamilton (1992, p. 41) relata que a 
mesma é escassa. Atribui ao Oxford English Dictionary o mérito de ser a fonte bibliográfica 
mais antiga em que localizou o termo “curriculum”, nos registros de 1633 da Universidade de 
Glasgow. Relata que “a palavra aparece num atestado concedido a um mestre quando de sua 
graduação; e está vazada numa forma que, assim o afirma a reimpressão feita no século XIX, 
tinha sido promulgada ‘logo após’ que Universidade tinha sido reformada pelos protestantes 
em 1577”. Em 1582 a palavra aparece nos registros da Universidade de Leiden (uma 
instituição fundada pelos Calvinistas). 
Hamilton menciona, ainda, que “(...) existe a possibilidade de que o termo educacional 
“curriculum” tenha originado, não em Genebra, mas no discurso latino de suas congregações 
derivadas, do final do século XVI”. “Um ‘portador’ da idéia de curriculum (se não o termo) 
pode ter sido o escocês Andrew Melville”, professor na Academia de Genebra de 1569-1574 
(HAMILTON, 1999, p. 46) 
Hamilton (1992, p. 10), questiona se “seria o caso de que ‘curriculum’ tenha trazido 
para a prática educacional calvinista o mesmo tipo de ordem que ‘disciplina’ tinha trazido 
para a prática social calvinista?” Pergunta essa que ele mesmo responde ao sintetizar sobre a 
origem do termo educacional curriculum, escrevendo que o mesmo: 
emergiu na confluência de vários movimentos sociais e ideológicos. Primeiro, sob a 
influência das revisões de Ramus1, o ensino de dialética ofereceu uma pedagogia 
geral que podia ser aplicada a todas as áreas de aprendizagem. Segundo, as visões de 
Ramus sobre a organização do ensino e da aprendizagem tornou-se consoante com 
as aspirações disciplinares do calvinismo. E, terceiro, o gosto calvinista pelo uso 
figurado de “vitae curriculum” – uma frase que remonta a Cícero (morte: 43 a.C.) – 
foi ampliado para englobar as novas características de ordem e de seqüência da 
escolarização do século XVI (HAMILTON, 1999, p. 47). 
 
1
 Peter Ramus (1515-1572) – professor da Universidade de Paris que reafirmou os aspectos sequenciais do 
método dialético, enfatizando a generabilidade intelectual e relevância pedagógica desse método, “argumentando 
 
3226 
Hamilton (1999, p. 43), especifica que o “curriculum” trouxe “um sentido maior de 
controle tanto ao ensino quanto à aprendizagem”. Gimeno Sacristán (1999, p. 205), menciona 
que o currículo “é o ‘texto’ educativo que contém os “textos” culturais da reprodução” e relata 
que: 
o protótipo de currículo da modernidade pedagógica tem suas raízes na concepção 
de paidéia ateniense que era elitista, porque a formação era para a classe dominante. 
Depois incorporou o legado do humanismo renascentista, igualmente minoritário, 
destruído mais tarde pela orientação realista, própria do desenvolvimento da ciência 
moderna, iniciada nos séculos XVII e XVIII. (...) Com os ideais da Revolução 
Francesa e, mais tarde,com os movimentos revolucionários dos séculos XIX e XX, 
há uma incorporação das dimensões moral e democrática, segundo as quais a 
educação redime os homens, cultiva-os para o sucesso de uma nova sociedade e 
forma-os como cidadãos; por isso, deve estar à disposição de todos e tornar-se 
universal. 
Pelas leituras, percebe-se que, universalmente, a palavra curriculum não tem o mesmo 
significado. Por exemplo, na língua inglesa o termo de syllabuses (programas escolares) tem a 
mesma conotação que no vocabulário francês se aplica ao termo “currículo”.2 
Pode-se notar que a idéia de currículo foi evoluindo e/ou modificando conforme os 
padrões vigentes na sociedade, por exemplo, nos anos 60, com o predomínio da abordagem 
“tecnológica” da educação, “a qual privilegia a pesquisa de objetivos operacionais e 
avaliáveis e a execução de meios racionais com vista a atendê-los” (FORQUIN, 1993, p. 23), 
e nas acepções mais recentes, podemos observar que o currículo congrega uma dimensão mais 
dinâmica ao pensarmos em sua realização, seu exercício, sendo transferida a idéia/percepção 
de apenas projeto para a idéia de projeto e seu desenvolvimento prático. 
3. Algumas Concepções Existentes sobre Currículo 
O tratamento do currículo, na contemporaneidade, pressupõe, segundo Gimeno 
Sacristán (2000), que se observe sua problemática a partir da reflexão sobre: que objetivo se 
pretende atingir, o que ensinar, por que ensinar, para quem são os objetivos, quem possui o 
melhor acesso às formas legítimas de conhecimento, que processos incidem e modificam as 
 
que ele era apropriado não apenas para as artes filosóficas, mas para todo ‘assunto que desejemos ensinar fácil e 
claramente’” (HAMILTON, 1992, p. 44). 
2
 No vocabulário francês se prefere utilizar as expressões “Plano de estudos” ou de “Programa de estudos” para o 
termo curriculum (FORQUIN, 1993, p. 22). 
 
3227 
decisões até que se chegue à prática, como se transmite a cultura escolar, como os conteúdos 
podem ser inter-relacionados, com quais recursos/materiais metodológicos, como organizar 
os grupos de trabalho, o tempo e o espaço, como saber o sucesso ou não e as conseqüências 
sobre esse sucesso da avaliação dominante, e de que maneira é possível modificar a prática 
escolar relacionada aos temas. 
John Kerr, citado por Forquin (1993, p. 23), define o currículo como “toda 
aprendizagem organizada ou conduzida pela escola, que se efetua no contexto de um grupo de 
maneira individual, no interior ou no exterior da escola”. Nesta mesma concepção, Paul Hirst, 
também citado por Forquin (1993, p. 23), conceitua currículo como “um programa de 
atividades dos professores e dos alunos, concebido de maneira que os alunos alcancem na 
medida do possível certos fins ou certos objetivos educativos”, onde se nota o entendimento 
de que existe uma estrutura organizada, disposta sequencialmente, com fins predeterminados. 
Pode-se apreender que as definições de currículo são distintas. Alguns autores 
enfatizam o aspecto prescritivo e intencional do currículo, outros, o plano afetivo e social. 
Stenhouse, citado por Forquin (1993, p. 23), menciona que “não seria o mesmo definir o 
currículo como um programa de estudos ou de aprendizagem regularmente prescrita por uma 
instituição de educação formal e defini-lo como aquilo que acontece objetivamente ao aluno 
como resultado da escolarização enquanto experiência de vida”, com isso, entende-se que o 
currículo extrapola o aspecto da formalidade e se expressa também por meio da prática. 
Os enfoques sobre a concepção de currículo também são diversas: ideológicas, 
sociológicas, antropológicas, entre outras. Gimeno Sacristán (1998), por exemplo, vê no 
currículo uma forma de se ter acesso ao conhecimento, e que por isso não se pode esgotar seu 
significado em algo estático, mas por meio das condições em que se realiza e se converte 
numa maneira particular de entrar em contato com a cultura. 
O referido autor salienta que “as funções que o currículo cumpre como expressão do 
projeto de cultura e socialização são realizadas através de seus conteúdos, de seu formato e 
das práticas que cria em torno de si. Tudo isso se produz ao mesmo tempo: conteúdos 
(culturais e intelectuais e formativos), códigos pedagógicos e ações práticas através dos quais 
se expressam e modelam conteúdos e formas” (GIMENO SACRISTÁN, 1998, p. 16), além 
disso, o currículo expressa também o equilíbrio de interesses e forças que gravitam sobre o 
sistema educativo em determinada circunstância/ocasião e, por meio dele, realizam-se os fins 
da educação no ensino escolarizado. 
 
3228 
Em outro momento, em que ele também aborda o currículo sob o enfoque da cultura, 
explicita que “o currículo é uma determinação da ação e da prática, assim como o são as 
valorizações sobre o que é cultura apropriada” (GIMENO SACRISTÁN, 1998, p. 48). 
Relacionando a cultura com o sistema educacional institucionalizado, aponta que a 
“escolaridade será vista como uma cultura” (GIMENO SACRISTÁN, 1999, p. 180) e que a 
“(...) a educação é reprodução e também aposta na construção de um projeto para os sujeitos, 
para a sociedade e, portanto, ela mesma é criadora de cultura no sentido de transformar a 
cultura existente [assim] (...) educar requer um projeto com uma direção (...)”. Acrescenta, 
ainda, que “a educação serve não só para reproduzir realidades, mas para reconstruir a 
tradição que compõem a cultura, ou as culturas, e alcançar um ideal de vida, que é o desafio 
do futuro” (GIMENO SACRISTÁN, 1999, p. 181), entendendo-se aqui que a educação é 
cultura, constrói cultura, reproduz o real/objetivo e reconstrói a memória. 
Ainda visto sob a ótica da cultura o currículo, se apresenta sob as seguintes 
concepções: ‘tradicional’, aquele que valoriza os conteúdos; ‘progressista’ aquele que valoriza 
o que o sujeito representa; a utilitarista, modulação essa acrescentada pela modernidade 
(GIMENO SACRISTÁN, 1999, p. 169). 
Forquin (1993, p. 25), cita alguns autores que corroboram com Gimeno Sacristán ao 
mencionar o currículo sob o enfoque da cultura. Dentre eles, podem-se citar: Musgrave para 
quem “o currículo é um dos meios essenciais pelos quais se acham estabelecidos os traços 
dominantes do sistema cultural de uma sociedade”. Lawton que propõe “utilizar o termo 
currículo para designar tais seleções feitas pelas escolas no interior da cultura”, e quando se 
trata de decidir/escolher o que é ou não prioritário e o que deve ser colocado em prática, a 
técnica é denominada de processo de organização de currículo. 
Vislumbrando o currículo como ferramenta primordial no âmbito escolar, Taylor e 
Richards, citados por Forquin (1993, p. 24), aludem que “o currículo está no centro do 
empreendimento educativo, é o meio pelo qual o ensino se cumpre. Sem um currículo o 
ensino não teria veículo nenhum através do qual transmitir suas mensagens, encaminhar suas 
significações, transmitir seus valores”, ressaltando-se aqui a percepção de currículo como um 
condutor de conteúdos, significados e valores (mensagem) ao receptor (aluno) por meio de 
um intermediário (o professor). 
Em se tratando do currículo oculto, Forquin (1999, p. 23), explicita que este também é 
denominado de “programa latente”. Esse conceito é utilizado para diferenciar o que “é 
 
3229 
explicitamente perseguido pela escola e o que é efetivamente realizado pela escolarização 
enquanto desenvolvimento das capacidades ou modificação dos comportamentos nos alunos”. 
O autor acrescenta que: 
O “currículo oculto” designará estas coisas que se adquirem na escola (saberes, 
competências, representações, papéis, valores) sem jamais figurar nos programas 
oficiais ou explícitos, seja porque elas realçam uma “programação ideológica”tanto 
mais imperiosa quanto mais ela é oculta (como o sugerem por exemplo, as 
abordagens “críticas radicais” como as de Illich ou dos teóricos da “reprodução”), 
seja porque elas escapam, ao contrário, a todo controle institucional e cristalizam-se 
como saberes práticos, receitas de “sobrevivência” ou valores de contestação 
florescendo nos interstícios ou zonas sóbrias do currículo oficial. 
A respeito do currículo oculto na discussão sobre a cultura na escolarização, Gimeno 
Sacristán (1999, p. 155), menciona que “na admissão do currículo oculto existe um dos 
motivos de desestabilização da idéia moderna de cultura na escola, fonte de suspeita diante 
das boas intenções declaradas na medida em que tal currículo age, em muitos casos 
claramente, contra as declarações bem intencionadas”. O autor acrescenta também que “o 
currículo é uma construção peculiar dentro do âmbito escolar, mas não sempre um produto 
construído pela pedagogia ou pela psicologia, como às vezes, a crítica à degradação da 
qualidade do ensino quer fazer parecer” (GIMENO SACRISTÁN, 1999, p. 156). 
Apple (2006, p. 103) descreve o currículo como um mecanismo de controle social 
(políticas educacionais e culturais). Aponta que o mesmo não é neutro e nem aleatório e, que 
para decifrarmos o porquê de determinado conhecimento fazer parte do plano da escola e 
representar os interesses de determinado grupo, é necessário que compreendamos quais são 
seus interesses sociais, tendo em vista que estes frequentemente guiaram a seleção e 
organização do currículo. Esses interesses “incorporavam compromissos para com 
determinadas estruturas econômicas e políticas educacionais, as quais, quando postas em 
prática, contribuíam para a desigualdade”. O autor afirma, ainda, que o controle social e 
econômico “ocorre nas escolas sob a forma de disciplina, comportamentos que ensinam 
(regras, rotinas, currículo oculto - obediência e manutenção da ordem) e por meio das formas 
de significado que a escola distribui”, assim, as escolas controlam as pessoas e o significado. 
O autor, acima citado, afirma, ainda, que o poder e a cultura estão dialeticamente 
entrelaçados e que “os conhecimentos formal e informal ensinados nas escolas, os 
procedimentos de avaliação, etc., precisam ser analisados em conexão com outros aspectos, 
 
3230 
ou não perceberemos boa parte de sua real significação. Essas práticas cotidianas da escola 
estão ligadas a estruturas econômicas, sociais e ideologias que se encontram fora dos prédios 
escolares” (APPLE, 2006, p, 105). É preciso considerar, assim, todo um contexto externo à 
escola que interfere em suas atividades, decisões, e, consequentemente, no currículo. 
Walker, citado por Gimeno Sacristán (1998, p. 21), expõe que “os fenômenos 
curriculares incluem todas aquelas atividades e iniciativas através das quais o currículo é 
planejado, criado, adotado, apresentado, experimentado, criticado, atacado, defendido e 
avaliado, assim como todos aqueles objetivos materiais que o configuram, como são os livros-
texto, os aparelhos e equipamentos, os planos e guias do professor, etc”. 
Na contextualização do currículo é considerado, então, não somente seu conteúdo, sua 
forma de apresentação, estrutura, mas todo um aparato necessário à sua realização, desde o 
material didático e de apoio, à estrutura física disponível para que ele se concretize. Nesse 
contexto, Gimeno Sacristán, (1998, p. 22), comentando King, afirma que 
o significado último do currículo é dado pelos próprios contextos em que se insere: 
a) um contexto de aula, no qual encontramos uma série de elementos como livros, 
professores, conteúdos, crianças; b) outro contexto pessoal e social, modelado pelas 
experiências que cada pessoa tem e traz para a vida escolar, refletidas em aptidões, 
interesses, habilidades, etc., além do clima social que se produz no contexto de 
classe; c) existe, além disso, outro contexto histórico escolar criado pelas formas 
passadas de realizar a experiência educativa, que deram lugar a tradições 
introjetadas em forma de crenças, reflexos institucionais e pessoais, etc., porque 
cada prática curricular cria, de alguma forma, incidências nas que a sucederão; d) 
finalmente, se pode falar de um contexto político, à medida que as relações dentro de 
classe refletem padrões de autoridade e poder, expressão de relações do mesmo tipo 
na sociedade exterior. 
Gimeno Sacristan (1999) propõe um currículo universalizador com: componente 
cultural universalizado e linguagem universalizada de fato; “valores dados como válidos, 
universalmente, como meta na construção das sociedades e do indivíduo” e “um lugar para o 
específico, sem obsessão comunitarista” (GIMENO SACRISTÁN, 1999, p.189) que consiste 
em reconhecer que a identidade cultural é secundária, ser iguais é a base da identidade 
cultural e entender as identidades coletivas em torno de características, como formas abertas, 
dialogando umas com as outras. 
 
3231 
Considerações Finais 
Verifica-se que a conceituação de currículo depende de marcos variáveis e os 
conceitos estão direcionados para diferentes aspectos: aos resultados escolares observáveis e 
pretendidos, à práxis, ao aluno e suas experiências, o que é expresso e visível e o que está na 
linguagem e é invisível, nexo ou veículo de comunicação entre professor-aluno, escola-
sociedade, representação cultural, dentre outros. 
O currículo nos dá assim uma visão de cultura apresentada na escola, um projeto ou 
processo historicamente construído no tempo e lugar históricos, portanto, pela sociedade, e se 
construído é culturalmente elaborado; expressa ideologias, idéias, ao mesmo tempo em que é 
manifestação prática. 
 
REFERÊNCIAS 
APPLE, Michael W. Ideologia e currículo. Porto Alegre: Artmed, 2006. 
FORQUIN, Jean-Claude. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do 
conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. 
GIMENO SACRISTÁN J. O currículo: os conteúdos do ensino ou uma análise prática. In: 
_______.; PÉREZ GÓMEZ, A. I. Compreender e transformar o ensino. 4. ed. Porto 
Alegre: ArtMed, 2000. Cap. 6, p. 119-148. 
_______. Aproximação ao conceito de currículo. In: _______. O currículo: uma reflexão 
sobre a prática. Porto Alegre: ArtMed, 1998. Cap. 1, p. 13-87. 
_______. A cultura para os sujeitos ou os sujeitos para a cultura? O mapa mutante dos 
conteúdos na escolaridade. In: _______. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: 
ArtMed, 1999. Cap. 4, p. 147-206. 
HAMILTON, David. Sobre as origens dos termos classe e curriculum. Teoria & Educação, 
n. 6, p. 33-51, 1992. 
_______. Mudança social e mudança pedagógica: a trajetória de uma pesquisa histórica. 
Teoria & Educação, n. 6, p. 3-31, 1992.

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