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Aula 21 - O Pacto Imperial Origens do Federalismo no Brasil - Dolhnikoff M.

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O Pacto Imperial, Origens do Federalismo no Brasil 
 Bruno Gabriel Witzel de Souza 
Miriam Dolhnikoff 
 
 Conquistada a Independência, surgiam ao Brasil inúmeras possibilidades para sua composição enquanto 
nação: no plano da organização política, temos projetos que vão do republicanismo à monarquia; no plano da estrutura 
de poderes, temos do Estado unitário ao federalismo. As possibilidades que se colocavam evidenciam dois aspectos 
dicotômicos que resultaram da evolução histórica daquela sociedade: se é verdade que um por lado as regiões 
provinciais eram relativamente autônomas entre si, pouco ligadas tanto política quanto economicamente (o que 
poderia ter permitido o sucesso da visão federalista e, inclusive, da fragmentação territorial), também é fato existir o 
interesse de manter a unidade com vistas a fortalecer a instituição escravocrata vigente em todo o vasto território. 
 A historiografia convencional tende a observar o projeto federalista como fracassado, seja quando se 
considera a Constituição de caráter unitarista outorgada em 1824, seja pelo Regresso Conservador dos idos de 1840, 
quando as reformas liberais, muitas das quais imbuídas de um caráter federalista, foram revistas. A idéia principal é 
que, em 1824 e 1840, a centralização vencera o federalismo, de modo que uma elite nacional distanciada dos 
interesses provinciais alcançara efetivamente o poder. 
 A autora, porém, opor-se-á a este ponto de vista convencional. Em sua abordagem, os verdadeiros vitoriosos 
foram os federalistas, embora tivessem de realizar algumas concessões para alcançar seus objetivos. 
 Seu argumento principal pode ser sumarizado no seguinte parágrafo: “A unidade de todo o território da 
América lusitana sob a hegemonia do governo do Rio de Janeiro foi possível não pela neutralização das elites 
provinciais e pela centralização, mas graças à implementação de um arranjo institucional por meio do qual essas elites 
se acomodaram, ao contar com uma autonomia significativa para administrar suas províncias e, ao mesmo tempo, 
obter garantias de participação no governo central através de suas representações na Câmara dos Deputados”. Ou seja, 
as elites provinciais não foram excluídas do processo de formação do Estado nacional naquele período, mas obtiveram 
benefícios da constituição unitária do Estado porque o poder, da maneira pela qual se organizou, permitia-lhes 
suficiente autonomia regional. Assim, seus diversos interesses provinciais estiveram articulados, durante todo o 
Império, ao Estado, não emergindo a partir do nada para tomarem o poder quando da proclamação republicana. 
 A participação dos federalistas no processo da formação do Estado brasileiro pode ser acompanhada durante 
todo o Império. É verdade que a outorga da Constituição em 1824 significou um rude golpe nos federalistas, mas 
longe de significar seu fim, foi o estopim para que uma revolta de vulto como a Confederação do Equador estourasse. 
 A Câmara dos Deputados, que voltou a se reunir em 1826, após a dissolução por D. Pedro, também 
demonstrava ser um forte reduto federalista, a qual mostraria seu poder ainda mais a partir da abdicação de D. Pedro: 
as reformas liberais da década de 1830 assumiram, em alguns contextos, um caráter profundamente federalista. Por 
elas garantiu-se autonomia provincial na arrecadação tributária (o que fornecia autonomia às províncias, já que 
podiam desfrutar de maior autonomia econômica), nas decisões sobre os empregos provinciais, sobre as obras públicas 
e sobre a força policial. Vale ressaltar, porém, que esta maior autonomia estava muito longe de um caráter 
confederativo: conforme salientara o Senador Vergueiro, defendia-se a federação que pretendesse ser “aquela que 
combinava unidade nacional, dirigida por um centro com instrumentos para se impor a todo o território, com 
províncias munidas de autonomia para gerir seus negócios”. 
 Tem-se claro, portanto, que as elites provinciais estiveram presentes em todo o processo de consolidação do 
Estado brasileiro, defendendo a unidade territorial desde que garantidas alguma autonomia que entendiam necessária 
às províncias. Esta elite tinha objetivos comuns que permitiam a manutenção do corpo central do Estado, como os já 
salientados interesses escravocratas, mas estava longe de ser formada por indivíduos interessados apenas no bem do 
poder central, como acredita a historiografia convencional. 
 Do outro lado, temos que os defensores do Estado unitário centralizado haviam sido inspirados sobretudo pelo 
pensamento pombalino, como é o caso típico de José Bonifácio. Seu projeto de nação defendia reformas políticas e 
sociais de caráter civilizador, com a inclusão de diversos segmentos populacionais, o que se poderia fazer apenas 
mediante um Estado centralizado de modo a conter possíveis arroubos daquela que era considerada uma sociedade 
ainda bárbara. Já os federalistas objetivavam a ampliação da representatividade política apenas para que pudessem 
defender seus interesses, não estando ligados, de qualquer maneira, à busca da expansão destes direitos aos demais 
segmentos da sociedade. 
 Assim, a formação do Estado nacional a partir principalmente dos interesses federalistas excluiria por 
completo quaisquer objetivos de alterações mais profundas na esfera social ou política. “O arranjo institucional 
consagrado pelas reformas da década de 1830 e pela revisão dos anos 1840 foi resultado de um processo no interior do 
qual as elites provinciais se constituíram como elites políticas comprometidas com o novo Estado, evitando assim a 
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fragmentação. Como requisito da vitória da unidade nacional, o modelo implementado na década de 1830 significou a 
derrota de um projeto de inclusão social. Foi o preço pago pela unidade”.

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