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DIREITO CIVIL II PROFA. DRA. EDNA RAQUEL HOGEMANN SEMANA 3 AULA 5 TÍTULO - MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES. 1. Classificação básica: 1.2 Obrigação de dar coisa certa 1.2.1 Características; 1.2.2 Reflexos jurídicos; 1.2.3 Riscos e responsabilidade; CASO CONCRETO 1 José Roberto firmou com Paulo Antonio, seu amigo de infância e parceiro nas baladas da noite de Fortaleza, cidade onde nasceram e sempre residiram, dois negócios distintos, em razão dos quais se obrigou a pagar a este as quantias de R$ 1.000,00 e de R$ 500,00, sendo a primeira dívida onerada pela fixação de juros moratórios, e a segunda, apenas pelo estabelecimento de multa. Vencidas as dívidas, José, que só dispunha de R$ 600,00, razão pela qual propôs pagar parte do capital da primeira dívida, já que esta era a mais onerosa. Encontrou, no entanto, resistência de Paulo. José Roberto apelou para a amizade entre os dois, mas não logrou êxito, pois o amigo escudou-se no Código Civil. Diante do caso acima descrito, responda: a) Quais os argumentos utilizados por Paulo Antonio em sua recusa? b) Por que não cabe pagamento em consignação? • OBRIGAÇÃO DE DAR Conceito: Importa na entrega de coisa, ou melhor, no compromisso de entrega de coisa móvel ou imóvel. • Entrega significa: A) transferir a propriedade, objeto da prestação: Essa obrigação surge, geralmente, do contrato de compra e venda, onde o vendedor se compromete a transferir a propriedade, objeto da prestação, para o comprador. O contrato de compra e venda em si não transmite a propriedade, mas apenas cria a obrigação de transferi-la, mesmo que o preço haja sido pago. Há uma obrigação, um compromisso de transferir o domínio, pela entrega da coisa. Deixando o vendedor de entregar o bem, não pode o comprador requerer-lhe a reivindicação, por faltar-lhe o domínio que ainda pertence ao vendedor. O comprador tem somente o direito de mover ação de indenização nos termos do art. 389 do CC: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”. Se for um bem móvel, o cumprimento da obrigação se dará pela tradição (entrega) real do bem, surgindo, então, um direito real de propriedade para o credor. “A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição” (CC, art. 1.267). Vale dizer, só o contrato não transfere a propriedade; é preciso, além do contrato, a ”tradição”, ou seja, a entrega do bem. É que, somente o vínculo obrigacional não tem o condão de fazer adquirir a propriedade; tratando-se de um móvel, é preciso, ainda, a entrega do bem. • B) ceder a posse do objeto da prestação: Numa obrigação de dar, o devedor pode, apenas, comprometer-se a transferir a posse do bem. Assim, seja para transferir a propriedade, seja para ceder a posse da coisa, o adquirente será simples credor antes da tradição. O proprietário de um imóvel que se compromete a alugar sua propriedade, só se exonera da obrigação, mediante a entrega do imóvel para o uso do locatário (posse direta). Antes da posse, o senhorio será apenas um devedor da prestação da coisa. C) restituir o objeto da prestação: Se alguém ocupa um prédio a título gratuito, por empréstimo, surge um contrato de comodato. Ao vencer o prazo, o comodatário (devedor) deve devolver o que já é do credor. Somente com a entrega do imóvel é que a obrigação é cumprida pelo comodatário. O que se destaca na obrigação de restituir coisa certa é que a coisa determinada pertence ao credor, diferentemente da obrigação de dar coisa certa, esta pertencente ao devedor. • Espécies de obrigação de dar O nosso Código Civil trata de três espécies de obrigação de dar: obrigação de dar coisa certa, de dar coisa incerta e de restituir. OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA (arts. 233 / 242) É a obrigação na qual o devedor se compromete a entrega de coisa determinada. O objeto da prestação é uma coisa individualizada, delimitada, distinta de todas as outras da mesma espécie. PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE VIGORAM NAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA Na obrigação de dar coisa certa, o devedor se compromete a entregar ou restituir coisa individualizada, determinada, distinta das outras coisas. Conseqüentemente, não poderá entregar coisa diversa, ainda que seja mais valiosa, para se desobrigar da obrigação assumida. Este é considerado o mais importante princípio que orienta o sistema da obrigação de dar coisa certa. Princípio da acessoriedade (art. 233 – vide tb. art. 92) Outro princípio que também rege a obrigação de dar coisa certa é o consignado pelo art. 233 do Código Civil, in verbis: “A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título, ou das circunstâncias do caso”. O Código, portanto, abre duas exceções: 1.ª - se o contrário resultar do título, as partes poderão pactuar expressamente a exclusão dos acessórios. Se alguém se obriga a entregar, por exemplo, um automóvel contendo um rádio, implicitamente obrigou-se a entregar também o acessório, o rádio. Para que o rádio seja excluído da obrigação, é necessário que cláusula especial e expressa conste do contrato. 2.ª -se o contrário resultar das circunstâncias do caso,isto é, se as circunstâncias do negócio demonstram a exclusão dos acessórios, não se aplica a regra constante do art. 233. Ex.: No caso de venda de uma casa pode ou não estar implícita também a entrega do armário embutido. Se do contrato constar expressamente essa entrega, nenhuma dúvida poderá ser levantada. Em caso contrário, recorre-se às circunstâncias do caso, ou seja, recorrer aos usos e costumes. Nesse caso, - será imprescindível que se deixe esclarecido no contrato, ou se esse for omisso, a decisão deverá basear-se em provas e nos usos e costumes locais. • INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA Se a perda da coisa certa ocorrer no espaço de tempo entre a constituição do vínculo obrigacional e a tradição prometida pelo vendedor (devedor), independentemente de culpa do possuidor, a obrigação de entregar ficará resolvida para o devedor, e o dono da coisa sofrerá o prejuízo, conforme o velho princípio romano: res perit domino (a coisa perece para o dono). Como a transferência do domínio depende da tradição e esta não se deu, o vendedor arcará com o prejuízo, devolvendo a quantia que, por acaso, tenha recebido. • Assim, se uma casa se incendeia por causa de um raio ou se uma coisa é roubada, a execução da obrigação se torna impossível devido à existência de caso fortuito, ou de força maior, ele não responde, exceto se ele (devedor) se responsabilizou, expressamente, pelo advento do fortuito, ou se estiver em mora (CC, art. 399). • Caso fortuito ou força maior tem o seu conceito no parágrafo único do art. 393 do Código Civil: “O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir”. “Entende-se por caso fortuito o acontecimento natural, sem controle pela vontade ou pela força humana. Exemplo clássico é o raio do céu, puro evento de origem natural, assim excludente do encargo indenizatório” (in RT 702/67). • Se o devedor agiu com culpa (negligência, imprudência ou imperícia), ou com dolo (intenção de prejudicar), motivando o desaparecimento do objeto da prestação antes da tradição, responderá pelo equivalente e mais as perdas e danos. Se na obrigação de entregar, a coisa se perde apenas parcialmente (deterioração), antes da tradição, devemos distinguir duas hipóteses: a culpa ou não por parte do devedor. 1) Não havendo culpa, o credor poderá optar entre:a) resolver a obrigação e, se já pagou o preço, recebê-lo de volta; b) aceitar a coisa no estado em que ficou, abatido no seu preço o valor que perdeu (CC, art. 235). • Portanto, o legislador concede a escolha ao credor, porque a coisa alterada já não é a mesma originária e, ainda, há o principio pelo qual o credor não é obrigado a recebê- la. Receberá se houver interesse (situação subjetiva). 2) O inadimplemento culposo acarreta a responsabilidade do devedor. Quem não cumpre obrigação responde por perdas e danos. Se houver culpa do devedor, portanto, este arcará ainda com perdas e danos, e o credor poderá optar entre: a) exigir o equivalente mais a indenização de perdas e danos; b) aceitar a coisa no estado em que se acha e reclamar a indenização pelas perdas e danos RESPONSABILIDADE PELA PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA NA OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR MELHORAMENTOS / ACRÉSCIMOS / FRUTOS NA COISA CERTA Até o momento da entrega da coisa, os melhoramentos e acrescidos pertencem ao Devedor, que poderá exigir aumento no preço (art. 237, 1ª parte) Exceção: frutos pendentes (art. 237, parágrafo único) Caso não haja concordância por parte do Credor, a obrigação poderá ser resolvida (art. 237, 2a parte) • “Até à tradição, - diz o art. 237 do CC - pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação”. Como a res debita não é a mesma da ocasião da construção da obrigação, porque mudou no estado físico para melhor, e considerando-se que o devedor não está obrigado a entregar outra coisa certa ainda que mais valiosa, bem como o credor também não é obrigado a receber outra, a lei autoriza ao devedor exigir aumento de preço correspondente à valorização. Caso o credor não concorde, o devedor poderá desfazer o contrato, voltando-se a situação no estado anterior. A parte final do artigo acima transcrito é de uma clareza tão ofuscante que não admite dúvida: “se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação”, exceto se o devedor agir com má-fé, promovendo melhoramento ou acréscimo para ter maior proveito na hora da tradição, não se aplicando a regra aqui exposta. Ficamos por aqui Não esqueça de ler o material didático para a próxima aula e de fazer os exercícios que estão na webaula. Tchau!!!
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