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CCJ0013-WL-D-AMMA-10-Modalidades das Obrigações III-02

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DIREITO CIVIL II
Profa. Dra. Edna Raquel Hogemann
AULA 10
MODALIDADES DAS 
OBRIGAÇÕES III
AULA 10
CONTEÚDO DE NOSSA AULA
2. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER:
1.1. Conceito e objeto
1.2. Descumprimento culposo das obrigações de não 
fazer
3. OBRIGAÇÃO DE MEIO, OBRIGAÇÃO DE
RESULTADO E OBRIGAÇÃO DE GARANTIA.
Conceito da obrigação de não fazer
• Trata-se de uma obrigação negativa cujo 
objeto da prestação é uma omissão ou 
abstenção. Os romanos chamavam de 
obrigação ad non faciendum.
• As obrigações de não 
fazer tem por objeto 
uma prestação negativa, 
um comportamento 
omissivo do devedor, ou 
seja, uma abstenção de 
um ato, por parte do 
devedor, em benefício 
do credor ou de terceiro. 
Pode resultar da lei, de 
sentença ou de 
convenção das partes.
• Regulada pelos artigos 245 e 246. A este 
último se acresceu o parágrafo único, que 
permite ao credor, em caso de urgência, 
sem autorização judicial, desfazer ou 
mandar desfazer o que se realizou em 
detrimento da lei, sem prejuízo de 
posterior ressarcimento.
• O devedor vai ter que sofrer, tolerar ou se abster 
de algum ato em benefício do credor. Exemplos: 
o engenheiro químico que se obriga a não 
revelar a fórmula do perfume da fábrica onde 
trabalha; o condômino que se obriga a não criar 
cachorro no apartamento onde reside; o 
professor que se obriga a não dar aula em outra 
faculdade; o comerciante que se obriga a não 
fazer concorrência a outro, etc. Pode haver 
limite temporal para a obrigação (1.147).
• Como na autonomia privada a 
liberdade é grande, as 
obrigações negativas podem 
ser bem variadas, mas 
obrigações imorais e anti-
sociais, ou que sacrifiquem a 
liberdade das pessoas, são 
proibidas, ex: obrigação de 
não se casar, de não 
trabalhar, de não ter religião, 
etc. Tudo é uma questão de 
bom senso, ou 
de razoabilidade.
A violação da obrigação negativa se 
resolve em perdas e danos, então 
se o engenheiro divulgar a fórmula 
do perfume terá que indenizar a 
fábrica. Mas se for viável, o credor 
poderá exigir o desfazimento pelo 
devedor (ex: José se obriga a não 
subir o muro para não tirar a 
ventilação do seu vizinho João, 
caso José aumente o muro, João 
poderá exigir a demolição, 
251). No caso do perfume não há 
como desfazer a revelação do 
segredo, então uma indenização 
por perdas e danos é a solução 
(389).
Obrigação de não fazer X Obrigação negativa
• Para Washington de Barros Monteiro não se confunde “a 
obrigação de não fazer, de natureza especial, com a 
obrigação negativa, de caráter geral, correlata aos direitos 
reais. 
• Pela primeira, o próprio devedor diminui por força de sua 
vontade sua liberdade e atividade. O direito surge da 
relação obrigacional estabelecida entre credor e devedor; 
obriga-se este, especificamente, a não praticar certo ato, 
que, de outra forma, poderia realizar, não fora o vínculo a 
que deliberadamente se submeteu. 
• Pela segunda, ao inverso, ninguém vê 
particularmente delimitado seu campo de ação; 
apenas se impõe a todos os membros da 
coletividade, abstratamente considerados, o 
dever de respeitar o direito alheio, posição que 
constitui normalidade para a vida jurídica... Os 
traços distintivos são, pois, característicos: a 
obrigação de não fazer é de natureza particular 
ou especial, a obrigação negativa inerente aos 
direitos reais, geral e abstrata.
• Para MONTEIRO, a 
proibição geral seria caso 
de obrigação negativa, 
imponível a toda a 
coletividade, enquanto por 
obrigação de não fazer 
dever-se-ia entender 
apenas aquela assumida 
voluntariamente pelo 
devedor, privando-se por 
conta própria de seu direito.
Descumprimento culposo das 
obrigações de não fazer
Pablo Stolze Gagliano apresenta o exemplo de uma situação 
em que o devedor se obrigou a não praticar determinada 
conduta, mas, por sua culpa, a realizou no plano concreto. 
Diz o autor: “ O fato, depois de realizado, não pode ser 
apagado da face da Terra, pois as palavras proferidas são 
como flechas desferidas, que não voltam atrás. É o caso, 
por exemplo, da estipulação contratual de uma obrigação 
de não revelar um segredo. Uma vez tornado público o 
conteúdo que se queria sigiloso, não há como retirar do 
conhecimento da comunidade correspondente o domínio 
de tal saber.” Assim como no caso das obrigações de fazer, 
deve ser considerado se há a possibilidade da restituição 
das coisas ao status quo ante ou, se for o caso, se o credor 
tem interesse em tal situação.
• Em assim sendo, este poderá intentar a 
pertinente ação judicial visando o 
cumprimento da obrigação de não fazer, 
sem prejuízo das perdas e danos, com 
base no art. 251, do CC e no art. 461, do 
CPC.
Atenção!!!
• No exemplo do muro, se José se mudar, o novo 
morador terá que respeitar a obrigação? Não, pois 
quem celebrou o contrato não foi ele. Mas se João, ao 
invés de um simples contrato de obrigação negativa, 
fizer com José uma servidão predial, todos os futuros 
proprietários da casa não poderão aumentar o muro 
(1.378). Servidão predial é assunto de outra disciplina, e 
por se tratar de um direito real, já se percebe sua maior 
força em relação a um direito obrigacional. Enquanto 
uma obrigação vincula pessoas (João a José), uma 
servidão predial vincula uma pessoa a uma coisa, então 
a segurança para o credor é bem maior. 
• Ainda tratando do exemplo do muro, e se 
a Prefeitura obrigar José a aumentar o 
muro por uma questão de estética ou 
urbanismo? José terá que obedecer e 
João nada poderá fazer, pois o Direito 
Público predomina sobre o Direito Privado 
(250 – é o chamado “Fato do Príncipe”, em 
alusão aos soberanos que governavam os 
países na Europa medieval).
Obrigação de meio, obrigação de 
resultado e obrigação de garantia.
Obrigações de Meio
• são classe de obrigação que um contratante faz para 
com outro de prestar um serviço com o melhor de sua 
força física, mental, intelectual, bem como com a 
responsabilidade normal que se espera de um 
profissional qualificado para o desenvolvimento daquela 
tarefa contratada. 
• Uma obrigação de meio indica que há um 
comprometimento de um esforço pessoal com vista ao 
melhor resultado, mas sem a obrigação de conseguir o 
que é o desejo e, até mesmo, o fim da contratação. 
• No caso concreto de n° 2 
: lembra-se do socorro a 
uma pessoa gravemente 
acidentada: haverá o 
esforço do médico ou do 
hospital, mas não 
necessariamente a 
obrigação de salvar a vida. 
Ou no caso dos serviços 
advocatícios, deve-se 
lembrar que um litígio ao 
representar uma vitória para 
um lado estará, 
automaticamente, 
representando uma derrota 
para a parte adversa.
• Em um conceito mais técnico, obrigações 
de meio são as que o contratado assume 
não com o fito de obter uma finalidade 
certa e desejada, mas pelas quais se 
compromete a exercer com zelo, 
prudência, esforço, dedicação e diligência, 
além da inteligência em benefício do 
objeto do contrato, na execução de uma 
tarefa a ele confiada pelo contratante.
• Os exemplos típicos são os contratos com os 
profissionais liberais, como médicos, dentistas e 
advogados. Tais profissionais, ao assumirem uma 
missão, fazem o compromisso de aplicar todo o esforço, 
o conhecimento e a dedicação possíveis para a 
obtenção do melhor resultado. Mas não se 
comprometem a atingir, necessariamente, o resultado 
esperado pelo contratante. Um médico, ao fazer uma 
cirurgia tem o compromisso máximo de dedicar, com a 
maior competência possível, mas não pode garantir, 
com absoluta certeza, de que tudo sairá conforme se 
espera.
• Adimplir uma obrigação de meio é cumprir a 
combinação com a dedicação possível que se 
esperado melhor profissional. Não é, 
necessariamente, conseguir êxito na tarefa.
• Sendo assim, uma vezcumprida a obrigação, 
ainda que o êxito não seja o melhor 
possível,encontra-se extinta a obrigação. Não 
se contrata, em obrigações de meio, uma 
condição de vitória, mas de trabalho normal.
Obrigação de Resultado 
• Na obrigação de resultado existe o compromisso do 
devedor (contratado) com um resultado específico, que 
é o objetivo da própria obrigação, sem o qual não 
haverá o cumprimento desta. O contratado compromete-
se a atingir objetivo determinado, de forma que quando 
o fim almejado não é alcançado ou é alcançado de 
forma parcial, tem-se a inexecução da obrigação. Nas 
obrigações de resultado há a presunção de culpa, com 
inversão do ônus da prova, cabendo ao acusado provar 
a inverdade do que lhe é imputado (Inversão do ônus da 
Prova). 
Obrigação de garantia
• No contrato de garantia o dever do contratado é assumir 
um determinado risco em favor do contratante. Não se 
pode garantir que o fato não ocorrerá, mas que haverá a 
tentativa de evitar, isto sim. Pode-se ter como exemplo o 
guarda-costas que acompanha uma personalidade de 
destaque com a função zelar pela sua integridade física. 
A simples presença dos seguranças – normalmente 
armados, equipados e treinados para defesa pessoal e 
de outrem – ao redor de uma pessoa protegida, por si 
só, já é um empecilho para que seja evitado um 
seqüestro, por exemplo. 
• Mas, apesar de todo o esquema montado para a 
proteção, se ocorrer o seqüestro do exemplo, não é 
motivo de os seguranças ou a empresa que ofertou o 
serviço venha a ser objetivamente responsabilizada. Isto 
porque o contrato visava a segurança, e não a absoluta 
certeza de que não viria a acontecer o pior resultado. 
Nesse caso, se a parte interessada provar que o 
acontecimento deu-se por negligência, imperícia, 
imprudência ou falta de dedicação das pessoas ou 
empresas que se comprometeram a oferecer a 
segurança, há, sim, que se falar em responsabilidade.
• Quanto ao tipo de garantia 
propriamente dita, e que se 
caracteriza como contrato de 
resultado, o exemplo facilmente 
encontrado é o seguro. A 
seguradora assume o risco e 
deverá cumprir a obrigação ainda 
que o indesejado – e, por isso, 
objeto do seguro – venha a 
acontecer pelas mais diversas 
causas: caso fortuito, força maior, 
participações de terceiros, causas 
não identificadas, etc. Tal tipo de 
obrigação é conhecido, dentre os 
doutrinadores, como garantia 
pura.
Gabarito dos casos
CASO CONCRETO 1
Carlos Alberto morou durante quatro anos num apartamento 
alugado e durante todo este tempo foi juntando dinheiro, até 
que conseguiu comprar seu próprio imóvel, uma casa com dois 
quartos e um lindo jardim, numa ruazinha arborizada localizada 
num bairro próximo ao Centro de Fortaleza. Ocorre que seu 
dinheiro não foi suficiente para devolver ao dono o 
apartamento devidamente pintado, como previa o contrato de 
locação, razão pela qual seu senhorio interpôs ação na Justiça 
obtendo êxito em seu pedido e a sentença prolatada e 
transitada comina a obrigação de fazer a Carlos Alberto para 
este pintar o apartamento. 
Bruno Leonardo, amigo de Carlos Alberto, o orienta a se recusar 
a cumprir a ordem judicial, alegando que ninguém o pode 
obrigar a fazer o que não quer.
Há alguma verdade na afirmação de Bruno Leonardo?
Sugestão de gabarito – Há, sim, quando há o inadimplemento de 
uma obrigação de fazer, é comum, tendo em vista a liberdade 
individual, não ser possível exigir coercitivamente a prestação 
de fazer do devedor.
Se Carlos Alberto seguir o conselho de seu amigo o que 
acontecerá?
Diferente do que se observa na obrigação de dar, na qual o 
devedor efetivamente pode ser compelido a entregar a coisa 
(conforme dita o art. 461-A §3°c/c § 5° do CPC que prevê as 
medidas a serem tomadas) ou quando esta se externa 
impossível de ser cumprida ou de alcançar o seu resultado 
prático equivalente, poderá ser convertida em perdas e danos, 
consoante o disposto no art. 461-A § 3° cumulado com o § 1°
do art. 461 do código processual civil.
CASO CONCRETO 2
As tentativas foram muitas, mas não houve como os paramédicos 
salvarem a vida do Sr. Adamastor Teobaldo, vítima de um 
atropelamento no cruzamento da Av. Ipiranga com a Av. São 
João, no coração da cidade de São Paulo, em razão da 
gravidade dos ferimentos sofridos.
Os dois filhos da vítima, bem como sua esposa não conseguem 
se conformar com esta tragédia que se abateu sobre eles e 
exigem uma reparação pela perda da vida de seu ente querido.
Como não conseguiram identificar o motorista que praticou o ato 
ilícito, vão processar os dois paramédicos, pois, acreditam que 
estes teriam a obrigação de salvar a vida de seu pai e esposo 
querido.
Ao chegar ao seu escritório de advocacia, a esposa do falecido 
Adamastor lhe faz as seguintes perguntas:
É possível atribuir a responsabilidade pela salvaguarda da vida 
do acidentado ao paramédico? Por quê?
Sugestão de gabarito – Não necessariamente. No que pertine ao 
socorro a uma pessoa gravemente acidentada: haverá o 
esforço do médico ou do hospital, mas não necessariamente a 
obrigação de salvar a vida.
O que é uma obrigação de meio? Quem pratica obrigação de 
meio?
Sugestão de gabarito – obrigações de meio são as que o 
contratado assume não com o fito de obter uma finalidade 
certa e desejada, mas pelas quais se compromete a exercer 
com zelo, prudência, esforço, dedicação e diligência, além da 
inteligência em benefício do objeto do contrato, na execução 
de uma tarefa a ele confiada pelo contratante.
• Os exemplos típicos são os contratos com os 
profissionais liberais, como médicos, dentistas e 
advogados. Tais profissionais, ao assumirem uma 
missão, fazem o compromisso de aplicar todo o esforço, 
o conhecimento e a dedicação possíveis para a 
obtenção do melhor resultado. Mas não se 
comprometem a atingir, necessariamente, o resultado 
esperado pelo contratante.
O que diferencia uma obrigação de meio de uma obrigação 
de resultado?
Sugestão de gabarito – Nas obrigações de meio, o 
devedor, ao assumir uma missão, fazem o compromisso 
de aplicar todo o esforço, o conhecimento e a dedicação 
possíveis para a obtenção do melhor resultado. Mas não 
se comprometem a atingir, necessariamente, o resultado 
esperado pelo contratante, como é o caso das 
obrigações de resultado.
QUESTÃO OBJETIVA 1
(TJ/PR/03)As perdas e danos nas obrigações de fazer:
A. São devidas, quando a prestação do fato se tornar 
impossível por culpa do devedor.
B. São necessárias conseqüências do seu inadimplemento.
C.Estão excluídas, mesmo havendo recusa ou mora do 
devedor, se o credor mandar executar o fato por terceiro, à 
custa do devedor.
D.São devidas mesmo sem culpa do devedor.
Ficamos por aqui
Não esqueça de ler o material didático para a próxima aula 
e de fazer os exercícios que estão na webaula.

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