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Manual de Sociologia do Crime - Helena Machado

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MANUAL DE SOCIOLOGIA DO CRIME 
Helena Machado 
 
2008 
 
 
Manuscrito pré-publicação 
 
 
Versão editada: 
Machado, Helena (2008) Manual de Sociologia do Crime. Porto: Afrontamento 
 
i 
Índice 
NOTA INTRODUTÓRIA ............................................................................................. VI 
 
I. ORIENTAÇÕES GERAIS DA UNIDADE CURRICULAR E MÉTODOS DE ENSINO 
TEÓRICO E PRÁTICO ............................................................................................... XI 
 
CAPÍTULO 1 - OBJECTIVOS, PROGRAMA, APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO .............. 12 
1.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ....................................................... 14 
1.2. OBJECTIVOS E ORIENTAÇÃO GERAL ......................................................................... 15 
1.3. APRESENTAÇÃO GENÉRICA DO PROGRAMA ............................................................ 18 
1.4. ESTRUTURAÇÃO DAS SESSÕES DE TRABALHO ........................................................ 22 
1.5. MÉTODOS DE ENSINO TEÓRICO E PRÁTICO .............................................................. 23 
1.6. SISTEMA DE AVALIAÇÃO ............................................................................................. 26 
1.7. RECOMENDAÇÕES PARA O PLANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM .. 
 ................................................................................................................................... 27 
1.8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 28 
II. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICAÇÃO DO PROGRAMA E DOS SEUS CONTEÚDOS 29 
 
CAPÍTULO 2 – O CRIME COMO OBJECTO DA SOCIOLOGIA .................................... 30 
2.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ....................................................... 32 
2.2. A DEFINIÇÃO SOCIOLÓGICA DE CRIME ..................................................................... 33 
2.3. ACTIVIDADE FORMATIVA 1.......................................................................................... 39 
2.4. A ESPECIFICIDADE DA ABORDAGEM DA SOCIOLOGIA DO CRIME ........................... 40 
2.5. AS INTERROGAÇÕES DA SOCIOLOGIA DO CRIME .................................................... 42 
2.6. ACTIVIDADE FORMATIVA 2.......................................................................................... 45 
2.7. SÍNTESE ....................................................................................................................... 46 
2.8. TESTE FORMATIVO ...................................................................................................... 46 
2.9. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR ............................................................ 47 
2.10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ............................................................................. 48 
CAPÍTULO 3 – PRINCIPAIS MÉTODOS, TÉCNICAS DE PESQUISA E FONTES DE 
INFORMAÇÃO NA SOCIOLOGIA DO CRIME ............................................................ 49 
3.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ....................................................... 51 
3.2. MÉTODOS NA SOCIOLOGIA DO CRIME ...................................................................... 52 
ii 
3.3. TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO NA SOCIOLOGIA DO CRIME ...................................... 54 
3.3.1. INQUÉRITOS SOCIAIS ..................................................................................... 54 
3.3.2. ESTUDOS DE CASO ........................................................................................ 56 
3.3.3. OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE ....................................................................... 57 
3.3.4. ESTUDOS DE FOLLOW-UP ............................................................................. 58 
3.4. ACTIVIDADE FORMATIVA 3.......................................................................................... 59 
3.5. FONTES DE INFORMAÇÃO SOBRE O CRIME .............................................................. 60 
3.5.1. ESTATÍSTICAS CRIMINAIS .............................................................................. 60 
3.5.2. ESTATÍSTICAS DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE APOIO À VÍTIMA (APAV) . 
 ...................................................................................................................... 62 
3.5.3. RELATÓRIOS DE SEGURANÇA INTERNA ....................................................... 63 
3.5.4. INQUÉRITOS DE VITIMAÇÃO .......................................................................... 64 
3.6. ACTIVIDADE FORMATIVA 4.......................................................................................... 67 
3.7. SÍNTESE ....................................................................................................................... 67 
3.8. TESTE FORMATIVO ...................................................................................................... 67 
3.9. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR ............................................................ 69 
3.10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 72 
CAPÍTULO 4 – SOCIOGÉNESE DA SOCIOLOGIA DO CRIME..................................... 74 
4.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ....................................................... 76 
4.2. O PENSAMENTO SOBRE O CRIME NA ANTIGUIDADE................................................. 77 
4.3. A VISÃO ESPIRITUAL .................................................................................................... 79 
4.4. O RENASCIMENTO ...................................................................................................... 80 
4.5. A CRIMINOLOGIA CLÁSSICA ....................................................................................... 81 
4.6. ACTIVIDADE FORMATIVA 5.......................................................................................... 84 
4.7. O POSITIVISMO CRIMINOLÓGICO .............................................................................. 84 
4.8. ACTIVIDADE FORMATIVA 6.......................................................................................... 87 
4.9. SÍNTESE ....................................................................................................................... 87 
4.10. TESTE FORMATIVO ................................................................................................... 88 
4.11. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR .......................................................... 89 
4.12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 90 
CAPÍTULO 5 – A ABORDAGEM DO CRIME NOS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA ........ 91 
5.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ....................................................... 93 
5.2. INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DO CRIME ............................................ 94 
5.3. KARL MARX E A VISÃO DO CRIME NA SOCIEDADE CAPITALISTA .............................. 97 
5.4. DESENVOLVIMENTOS POSTERIORES DA ABORDAGEM MARXISTA .......................... 99 
5.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 7........................................................................................ 101 
iii 
5.6. O CONCEITO DE ANOMIA E A TESE DA NORMALIDADE E DA FUNCIONALIDADE DO 
CRIME EM DURKHEIM ................................................................................................ 102 
5.7. ACTIVIDADE FORMATIVA 8........................................................................................ 105 
5.8. SÍNTESE ..................................................................................................................... 105 
5.9. TESTE FORMATIVO ....................................................................................................105 
5.10. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR ........................................................ 106 
5.11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 107 
CAPÍTULO 6 – TEORIA DA ANOMIA DE MERTON E DA ESTRUTURA DAS 
OPORTUNIDADES ILEGÍTIMAS DE CLOWARD E OHLIN ......................................... 109 
6.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ..................................................... 111 
6.2. A TEORIA DA ANOMIA E DAS FORMAS DE ADAPTAÇÃO À SOCIEDADE SEGUNDO 
ROBERT MERTON ...................................................................................................... 112 
6.3. ACTIVIDADE FORMATIVA 9........................................................................................ 117 
6.4. AS SUB-CULTURAS DELINQUENTES E A ESTRUTURA DE OPORTUNIDADES 
ILEGÍTIMAS, SEGUNDO CLOWARD E OHLIN .................................................................... 117 
6.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 10...................................................................................... 120 
6.6. SÍNTESE ..................................................................................................................... 121 
6.7. TESTE FORMATIVO .................................................................................................... 121 
6.8. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR .......................................................... 122 
6.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 122 
CAPÍTULO 7 - A ESCOLHA DE CHICAGO: ESPAÇO URBANO, ECOLOGIA CRIMINAL E 
DESORGANIZAÇÃO SOCIAL ................................................................................. 124 
7.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ..................................................... 126 
7.2. CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA DE CHICAGO .. 
 ................................................................................................................................. 127 
7.3. A TEORIA DA ECOLOGIA HUMANA ........................................................................... 128 
7.4. A TEORIA DAS ZONAS CONCÊNTRICAS ................................................................... 129 
7.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 11...................................................................................... 132 
7.6. SÍNTESE ..................................................................................................................... 133 
7.7. TESTE FORMATIVO .................................................................................................... 133 
7.8. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR .......................................................... 134 
7.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 134 
CAPÍTULO 8 – TEORIAS DA SUBCULTURA DELINQUENTE ..................................... 136 
8.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ..................................................... 138 
iv 
8.2. O CONCEITO DE SUBCULTURA DELINQUENTE ....................................................... 139 
8.3. AS DIFERENTES PERSPECTIVAS DA SUBCULTURA DELINQUENTE ......................... 140 
8.4. ACTIVIDADE FORMATIVA 12...................................................................................... 143 
8.5. SÍNTESE ..................................................................................................................... 144 
8.6. TESTE FORMATIVO .................................................................................................... 145 
8.7. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR .......................................................... 146 
8.8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 146 
CAPÍTULO 9 – TEORIA DA ROTULAGEM ............................................................... 147 
9.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ..................................................... 149 
9.2. O DESVIO COMO O RESULTADO DE UMA ACÇÃO COLECTIVA .............................. 150 
9.3. ALGUNS AUTORES DA TEORIA DA ROTULAGEM ..................................................... 151 
9.4. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA TEORIA DA ROTULAGEM .................................... 153 
9.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 13...................................................................................... 156 
9.6. SÍNTESE ..................................................................................................................... 156 
9.7. TESTE FORMATIVO .................................................................................................... 157 
9.8. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR .......................................................... 158 
9.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 158 
CAPÍTULO 10 – GÉNERO E CRIME ........................................................................ 159 
10.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ................................................... 161 
10.2. TEMAS E DEBATES DA CRIMINOLOGIA FEMINISTA ............................................... 162 
10.3. AS DIFENTES CORRENTES DAS TEORIAS FEMINISTAS DO CRIME ........................ 164 
10.4. OS IMPACTOS DO GÉNERO NO CRIME .................................................................. 166 
10.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 13 ................................................................................... 168 
10.6. SÍNTESE ................................................................................................................... 168 
10.7. TESTE FORMATIVO ................................................................................................. 169 
10.8. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR ........................................................ 170 
10.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 170 
III. – PROBLEMÁTICAS, ORIENTAÇÕES E DEBATES ACTUAIS SOBRE O CRIME ... 172 
 
CAPÍTULO 11 – TENDÊNCIAS DA CRIMINALIDADE, SISTEMA PRISIONAL E POLÍTICAS 
CRIMINAIS ............................................................................................................ 173 
11.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ................................................... 175 
11.2. ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NA ABORDAGEM DAS ACTUAIS PROBLEMÁTICAS, 
ORIENTAÇÕES E DEBATES SOBRE O CRIME ......................................................... 176 
v 
11.3. GUIÃO DE AUTO-APRENDIZAGEM PARA «TENDÊNCIAS DA CRIMINALIDADE» .... 176 
11.3.1. NOTAS INTRODUTÓRIAS ........................................................................... 176 
11.3.2. ACTIVIDADE FORMATIVA 14 ...................................................................... 178 
11.3.3. LEITURAS E FONTES DE INFORMAÇÃO .................................................... 179 
11.4. GUIÃO DE AUTO-APRENDIZAGEM PARA «SISTEMA PRISIONAL» ......................... 181 
11.4.1. NOTAS INTRODUTÓRIAS ........................................................................... 181 
11.4.2. ACTIVIDADE FORMATIVA 15 ...................................................................... 184 
11.4.3. LEITURAS E FONTES DE INFORMAÇÃO .................................................... 184 
11.5. GUIÃO DE AUTO-APRENDIZAGEM PARA «POLÍTICAS CRIMINAIS»....................... 186 
11.5.1. NOTAS INTRODUTÓRIAS ........................................................................... 186 
11.5.2. ACTIVIDADE FORMATIVA 16 ...................................................................... 189 
11.5.3. LEITURAS E FONTES DE INFORMAÇÃO ....................................................190 
11.6. SÍNTESE ................................................................................................................... 191 
11.7. TESTE FORMATIVO ................................................................................................. 191 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 192 
vi 
NOTA INTRODUTÓRIA 
 
Este livro é um manual de ensino e de aprendizagem na área da Sociologia 
do Crime, segundo as novas metodologias pedagógicas preconizadas pelo 
denominado “Processo de Bolonha”. Trata-se de um texto que pode interessar 
tanto a estudantes, como a docentes do ensino superior, de áreas como a 
Sociologia, a Criminologia, o Direito, a Antropologia, a Psicologia Social, o Serviço 
Social, a Reinserção Social e a Animação Sócio-Cultural. 
Redigido numa linguagem acessível, oferece um instrumento pedagógico de 
organização de uma unidade curricular em Sociologia do Crime. Propõe e expõe 
alguns dos principais conteúdos programáticos centrais ligados a esta área do 
saber, aponta actividades formativas a desenvolver em grupo e na sala de aula, 
apresenta testes formativos destinados à auto-aprendizagem e auto-avaliação e 
indica leituras e fontes de informação. 
A selecção de conteúdos vai de encontro aos principais eixos temáticos, 
perspectivas teóricas e abordagens metodológicas da Sociologia do Crime, 
tentando-se alcançar um equilíbrio entre o tratamento geral do crime e a 
discussão de temas mais específicos da criminalidade. Sempre que possível, 
apresentam-se casos retirados da realidade portuguesa e recorre-se às 
experiências e conhecimentos próximos das realidades vividas e conhecidas pelos 
próprios estudantes, procurando mostrar a relevância da Sociologia do Crime 
para a sua análise, desconstrução crítica e interpretação. 
A construção deste texto nasceu num contexto de expressiva mudança do 
ensino superior em Portugal, conduzido pelo “Processo de Bolonha”. De facto, ao 
mesmo tempo que ainda se assiste hoje nas Universidades Portuguesas a uma 
reduzida atenção face às questões especificamente pedagógicas, é agora 
convocada a necessidade de substituir as anteriores pedagogias “transmissivas”, 
centradas no saber e autoridade institucionalmente legitimado do docente, que 
encontrava na sala de aula o cenário adequado à expressão ritualizada da 
transmissão da informação. 
vii 
Novos modelos pedagógicos impõem-se no quadro de uma emergente 
sociedade do conhecimento, em que a própria informação científica especializada 
está disponível, para docentes e discentes, na Internet. 
A função que a Universidade assumiu durante séculos, de repositório 
privilegiado do conhecimento e de instância por excelência da sua transmissão, 
vê-se agora confrontada com novos desafios. Estes exigem a substituição do 
paradigma da transmissão e absorção passiva do conhecimento, por um novo 
paradigma de aprendizagem, no qual o aluno detém autonomia para construir a 
sua própria aprendizagem. Parte-se do pressuposto basilar que o saber 
transmitido na sala de aula não é a fonte única de informação que determina o 
esforço pedido ao aluno. Neste contexto, o que se exige ao docente é sobretudo a 
capacidade de poder agir como um guia no processo de aprendizagem, criando 
situações que valorizem o trabalho autónomo do aluno e que reconheçam a 
pluralidade das fontes de conhecimento no contexto do actual ambiente 
tecnológico e social. Nos moldes exigidos pelas reformas conducentes à 
construção de um espaço europeu de ensino superior, leva-se mais longe o 
imperativo de adequar os métodos de ensino teórico e prático ao paradigma 
emergente da aprendizagem guiada mas autónoma por parte do aluno, em que 
este é um construtor da própria aprendizagem. 
O manual está estruturado em onze capítulos, que correspondem a distintas 
unidades de aprendizagem. 
O primeiro capítulo apresenta uma proposta de programa de uma unidade 
curricular em Sociologia do Crime, apontando uma planificação das sessões de 
trabalho e das principais orientações pedagógicas, de ensino, de aprendizagem e 
de avaliação. 
O segundo capítulo inaugura a exposição de conteúdos programáticos, 
incide sobre o problema da definição e construção do crime como objecto da 
Sociologia e da sua relação com os diferentes modos como este é definido 
noutras áreas do conhecimento, tais como as ciências jurídicas, as ciências 
biológicas e as ciências psicológicas e psiquiátricas. Discute-se o que pode ser o 
contributo específico da Sociologia para a abordagem do crime, começando pela 
própria definição do conceito, procedendo-se a uma diferenciação entre a 
viii 
definição jurídico-legal de crime e a definição sociológica e salientando-se a 
complexidade inerente a este passo introdutório ao nível dos estudos sociais do 
fenómeno criminal. Por fim, formulam-se as principais questões dirigidas à 
realidade social que a Sociologia do Crime suscita. 
O terceiro capítulo explana as principais metodologias e técnicas de 
investigação social no domínio do crime, apontando as respectivas 
potencialidades e lacunas. Remete-se ainda os leitores para as principais fontes 
de informação sobre criminalidade, nos planos nacionais e internacionais, 
sublinhando a necessidade de adoptar uma atitude crítica face às mesmas. 
O quarto capítulo expõe as principais características do pensamento sobre o 
crime – a sua natureza e causas – em diferentes períodos históricos. Remete-se 
ainda para as possíveis implicações político-criminais subjacentes a uma postura 
de acentuação das responsabilidades da sociedade perante o criminoso, por um 
lado, contraposta a uma posição de defesa face ao crime, sentido como ameaça, 
por outro lado. 
O quinto capítulo enuncia as principais teorias sociológicas do crime que 
poderão ser abordadas no âmbito de uma unidade curricular de Sociologia do 
Crime e discute principalmente os contributos dos Clássicos da Sociologia para o 
estudo do crime, em particular a obra de Karl Marx e Émile Durkheim. 
Apresentam-se ainda, as principais coordenadas de diferenciação das diversas 
teorias sociológicas do crime, a saber: (i) a distinção entre teorias etiológico-
explicativas e teorias da reacção social; (ii) a demarcação entre teorias do 
consenso e do conflito. 
O sexto capítulo centra-se na teoria da anomia e nas modalidades de 
adaptação à sociedade, desenvolvidas por Robert Merton. A contradição entre a 
estrutura cultural e a estrutura social é apresentada como o factor desencadeador 
de comportamentos desviantes, nomeadamente do crime. Autores como Cloward 
e Ohlin conferem continuidade a essa perspectiva, apontando os factores que 
diferenciam a posição dos indivíduos no contexto das subculturas delinquentes, 
nomeadamente a existência de uma estrutura social de oportunidades ilegítimas, 
produtora de desigualdades sociais, tal como ocorre na estrutura social legítima. 
ix 
O sétimo capítulo expõe-se as principais coordenadas filosóficas, teóricas e 
metodológicas da abordagem do crime desenvolvida pela Escola de Chicago. 
Apresenta-se a visão da cidade desenvolvida pelos vários autores e os 
desenvolvimentos conferidos, em particular, à teoria da ecologia humana e das 
zonas concêntricas. Referem-se ainda as principais críticas a apontar a esta 
corrente de pensamento. 
O oitavo capítulo apresenta algumas perspectivas sobre o conceito de 
subcultura delinquente, tendo-se procurado definir o conceito, percebendo o seu 
conteúdo, génese, funções e tipo de relações desenvolvidas com a cultura 
dominante. 
O nono capítulo desenvolve a teoria da rotulagem. Apresentam-se os 
pressupostos gerais da abordagem do desvio,explicitam-se os contributos 
específicos de alguns teóricos mais representativos desta corrente de 
pensamento e sintetizaram-se os principais conceitos utilizados pelas teorias 
interaccionistas do desvio. 
O décimo capítulo centra-se na abordagem feminista da criminalidade. 
Aponta-se a necessidade de considerar as relações sociais de género na 
abordagem da criminalidade e do sistema de justiça criminal. Explicitam-se os 
contributos específicos para a Sociologia do crime produzidos pelas distintas 
correntes feministas e apontam-se pistas de análise para a explicação das 
diferenças entre homens e mulheres nas relações estabelecidas com o crime. 
Por fim, o décimo primeiro capítulo privilegia a componente de auto-
aprendizagem dos estudantes, exigindo níveis e competências de autonomia na 
recolha e organização de informação, com vista à construção do conhecimento 
sobre as seguintes temáticas: (i) tendências evolutivas da criminalidade, em 
termos macro e micro; (ii) dimensões de análise privilegiadas nos estudos 
prisionais; (iii) diversidade de políticas criminais e articulação com os distintos 
legados científicos das teorias sociológicas do crime. 
Este manual foi construído tendo em atenção que é imperativo adequar os 
contextos de aprendizagem ao duplo constrangimento de, por um lado, as 
actividades de docência se realizarem maioritariamente no espaço da sala de aula 
e, por outro lado, a necessidade desta ter um perfil motivador que convide os 
x 
estudantes à procura autónoma de informação complementar para a resolução 
dos casos práticos apresentados. 
Não obstante a ênfase colocada para a acção e relação pedagógicas, a 
exposição que se segue reflecte ainda outras preocupações que passam, 
nomeadamente, pelo desenvolvimento de um conjunto seleccionado de 
conteúdos científicos e pela projecção de uma reflexão e incentivo a uma prática 
situada, da parte de docentes e estudantes, que vá de encontro aos desafios que 
nos apresentam as sociedades actuais, crescentemente confrontadas com o 
fenómeno criminal nas suas mais diversas vertentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
I. ORIENTAÇÕES GERAIS DA UNIDADE 
CURRICULAR E MÉTODOS DE ENSINO 
TEÓRICO E PRÁTICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 - OBJECTIVOS, PROGRAMA, APRENDIZAGEM E 
AVALIAÇÃO 
 
13 
SUMÁRIO 
 
1.1. Resultados esperados de aprendizagem 
1.2 Objectivos e orientação geral 
1.3. Apresentação genérica do programa 
1.4. Estruturação das sessões de trabalho 
1.5. Métodos de ensino teórico e prático 
1.6. Sistema de avaliação 
1.7. Recomendações para o planeamento e organização da aprendizagem 
1.8. Referências bibliográficas 
14 
1.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
No final do processo de aprendizagem desta unidade programática, o 
estudante deverá estar apto a: 
▪ identificar os objectivos gerais da unidade curricular; 
▪ reconhecer a importância científica e social do estudo sociológico do crime; 
▪ enunciar os principais pontos do programa; 
▪ explicitar o método de ensino teórico e prático; 
▪ explanar os distintos momentos de avaliação e respectivos requisitos; 
▪ reconhecer os diversos procedimentos destinados a melhorar a qualidade da 
aprendizagem. 
15 
1.2. OBJECTIVOS E ORIENTAÇÃO GERAL 
A aprendizagem das principais abordagens realizadas ao nível dos estudos 
sociológicos do crime justifica-se desde logo pela relevância social que ocupa o 
fenómeno da criminalidade nas sociedades actuais. De facto, a preocupação com 
a evolução da criminalidade ocupa hoje, no conjunto dos países desenvolvidos, 
um lugar central nos discursos social, político, mediático e quotidiano. 
Nas últimas décadas, e na generalidade dos países desenvolvidos e em vias 
de desenvolvimento, o desmesurado crescimento dos centros urbanos tem-se 
feito acompanhar de efeitos de exclusão e de marginalização de importantes 
segmentos da sua população. A cidade aparece, assim, como o espaço para o 
qual todas as crises, todas as conflitualidades da sociedade parecem convergir, 
embora não sejam desprezíveis os sinais destas conflitualidades em zonas com 
características mais rurais e junto de populações mais isoladas. 
A compreensão do fenómeno criminal exige no entanto, que a sua leitura 
seja feita no quadro de uma problemática social e política mais vasta do que a da 
criminalidade, situando-a no campo da análise da insegurança e violência que 
caracteriza as sociedades actuais, assim como no quadro das políticas públicas 
de prevenção da criminalidade, que por força das características da governança 
actual têm sobretudo canalizado esforços para o acréscimo da eficácia da acção 
policial e outras medidas de carácter repressivo. Com efeito, a questão da 
insegurança e, em particular, da insegurança urbana - expressão utilizada para 
designar quer o medo do crime, quer a falta de adesão ao sistema normativo da 
sociedade, isto é, a manutenção da ordem social - ascendeu à categoria de 
preocupação nacional em todos os países desenvolvidos. 
Diversos autores referem mesmo uma obsessão pública com o crime, que se 
terá iniciado nos anos 80 do século XX e evolui nas décadas seguintes, podendo-
se dizer que neste início do século XXI, temas como o crime, a delinquência juvenil 
e a justiça criminal se encontram entre as preocupações mais salientes dos 
cidadãos e governantes (Flanagan e Longmire, 1996), podendo-se mesmo falar 
de uma visão dramatizada do crime e insegurança, projectada sobretudo pelo 
poder político, assumindo-se hoje estes temas como importantes questões de 
preocupação e debate públicos (Machado, 2004). 
16 
A unidade curricular de Sociologia do Crime almeja dotar os alunos de 
instrumentos teóricos e metodológicos básicos que lhes permitam uma autonomia 
crescente no seu processo de aprendizagem e de aplicação prática dos 
conhecimentos. Esta necessidade é sobretudo premente ao nível da realização do 
estágio curricular ou seminário de investigação, geralmente realizado no último 
semestre dos cursos de ensino superior. Destaque-se, deste modo, a vocação 
específica desta unidade curricular para o processo de formação dos estudantes 
que desejem realizar estágio curricular ou desenvolver actividade profissional em 
contextos prisionais, gabinetes de atendimento e apoio a vítimas de crime, 
tribunais, institutos de reinserção social, instituições policiais, escolas e centros de 
acolhimento e reinserção social de delinquentes. 
O programa da unidade curricular de Sociologia do Crime está organizado 
em três blocos através dos quais se procurará facultar os elementos necessários 
para um processo de aprendizagem que atinja o objectivo geral de permitir aos 
estudantes adquirir as noções teóricas e metodológicas básicas necessárias à 
análise sociológica do crime, como alicerce fundamental ou para a prática de 
investigação científica nesse domínio, ou para a intervenção social em contexto 
profissional. 
Para que seja atingido o objectivo geral, o estudante deverá atingir os 
seguintes objectivos específicos: 
▪ No final do primeiro bloco programático, o aluno está familiarizado com os 
conceitos básicos, técnicas de investigação principais e fontes de informação no 
domínio da Sociologia do Crime, assim como consegue identificar as principais 
etapas da evolução histórica do pensamento social sobre o crime e a 
especificidade da Sociologia nesta área do social; 
▪ No final do segundo bloco programático, o aluno conhece as principais 
correntes teórico-metodológicas da análise sociológica do crime, adquirindo 
competências de discussão crítica comparativa das diferentes opçõesteóricas e 
metodológicas e de compreensão das condições sociais e teóricas que estão na 
base da emergência das distintas correntes ou escolas de pensamento, podendo 
perspectivar as respectivas implicações político-criminais; 
17 
▪ No final do terceiro bloco programático, o aluno adquire conhecimento 
sobre as problemáticas, orientações e debates actuais no domínio do crime, 
estando habilitado a desenvolver uma abordagem crítica dos usos sociais e 
políticos dos discursos e práticas desenvolvidos em torno da criminalidade, 
insegurança e violência. 
18 
1.3. APRESENTAÇÃO GENÉRICA DO PROGRAMA 
O programa da unidade curricular de “Sociologia do Crime” está organizado 
em três blocos programáticos, por sua vez sub-divididos em unidades ou módulos 
de aprendizagem: (i) o crime como objecto da Sociologia; (ii) teorias sociológicas 
do crime e (iii) problemáticas, orientações e debates actuais na Sociologia do 
crime. 
 O primeiro ponto programático incide sobre o problema da definição e 
construção do crime como objecto da sociologia e da sua relação com os 
diferentes modos como este é definido noutras áreas do conhecimento, como as 
ciências jurídicas, as ciências biológicas e as ciências psicológicas; assim como 
em diferentes contextos e domínios da vida social. Procura-se, nesta parte, 
explorar e definir o que pode ser o contributo específico da Sociologia para a 
abordagem do crime, começando pela própria definição do conceito: neste 
âmbito, procede-se a uma diferenciação entre a definição jurídico-legal de crime e 
a definição sociológica, salientando-se a complexidade inerente a este passo 
introdutório ao nível dos estudos sociais do fenómeno criminal. Na prossecução 
lógica da definição sociológica do conceito de crime, procede-se a uma 
explicitação das principais metodologias e técnicas de investigação social neste 
domínio, remetendo-se, de igual modo, para as principais fontes de informação 
sobre criminalidade, nos planos nacionais e internacionais. Com o intuito de 
destacar o que pode ser a especificidade da abordagem sociológica do crime, 
procede-se ainda a uma tipificação de outros modos científicos de análise e 
estudo do fenómeno criminal, nomeadamente apontando as características das 
denominadas abordagens biológicas e psicológicas. 
De seguida e para encerrar o primeiro bloco programático, que tem como 
objectivo principal proporcionar uma introdução global à abordagem sociológica 
do crime, procede-se a um esboço histórico de distintas abordagens do fenómeno 
criminal, desde a Antiguidade, passando pela Idade Média, Renascimento, 
Iluminismo e culminando nas amplas repercussões do positivismo do Séc. XIX. 
Com isto, procura-se traçar um panorama das distintas abordagens do crime e de 
que modo estas têm variado consoante as épocas históricas e o manancial de 
conhecimentos teóricos e empíricos disponíveis. 
19 
O seguinte bloco programático confere amplo desenvolvimento e discussão 
ao que se optou por denominar como “teorias sociológicas do crime”, expondo as 
principais coordenadas do tratamento do crime nos clássicos da Sociologia e em 
abordagens mais recentes. A exposição de diferentes perspectivas teóricas e 
metodológicas do fenómeno criminal aqui apresentada, não segue sempre uma 
sequência cronológica, antes se privilegia o desenvolvimento da argumentação de 
acordo com as continuidades e descontinuidades dos legados teóricos e dos 
temas privilegiados pelos distintos autores e escolas de pensamento. 
O último ponto do programa da unidade curricular de “Sociologia do Crime” 
debruça-se sobre as problemáticas, orientações e debates actuais no contexto 
desta área da vida em sociedade. Num primeiro momento, apontam-se as 
principais tendências evolutivas da criminalidade nos países europeus, mormente 
em Portugal, apresentando-se ocasionalmente uma perspectiva comparativa com 
alguns países cujos altos índices de criminalidade necessariamente despertam a 
atenção dos analistas sociais do crime, nomeadamente os E.U.A. e o Brasil. O 
aparelho de controlo social é igualmente objecto de análise e problematização, 
destacando-se a abordagem sociológica do sistema prisional, privilegiando-se a 
análise de situações empíricas concretas que envolvem relações sociais passíveis 
não só de estudo científico, mas também de intervenção social. Por fim, expõem-
se alguns dos rumos actuais das políticas criminais, discutindo-se as distintas 
abordagens da criminalidade que lhe estão subjacentes e apontando-se os 
factores que interferem ou condicionam os processos de tomada de decisão no 
âmbito das políticas públicas nesta área do social. 
Antes da apresentação e desenvolvimento de cada um dos conteúdos, 
formulam-se os resultados esperados de aprendizagem em relação a cada um dos 
pontos do programa. Após a explicitação dos conteúdos de cada unidade de 
aprendizagem, apresenta-se uma síntese, propõe-se actividades formativas, um 
teste formativo e indicam-se leituras obrigatórias e leituras e fontes de informação 
complementares. 
Apresenta-se a seguir o enunciado dos tópicos do programa da unidade 
curricular de Sociologia do Crime: 
 
20 
Programa da Unidade Curricular de Sociologia do Crime 
 
1.O crime como objecto da Sociologia 
 
1.1. A definição sociológica de crime 
 1.1.1. O problema do objecto de estudo 
 1.1.2. O conceito jurídico e sociológico de crime 
 1.1.3. A relação entre crime e desvio 
1.2. As bases das explicações científicas do crime 
 1.2.1. As diferentes ciências criminais: Biologia, Psicologia, Psiquiatria e 
Sociologia. 
 1.2.2. A especificidade da abordagem sociológica do crime. 
1.3. Métodos e técnicas de investigação em Sociologia do Crime 
 1.3.1. Métodos quantitativos e qualitativos na Sociologia do Crime 
1.3.2. Técnicas de investigação na Sociologia do Crime 
1.3.2.1. Inquéritos sociais 
1.3.2.2. Estudos de caso 
1.3.2.3. Observação participante 
1.3.2.4. Estudos de follow-up 
1.4. Fontes de informação sobre o crime 
1.4.1. Estatísticas criminais 
1.4.2. Estatísticas da associação de apoio à vítima (APAV) 
1.4.3. Relatórios de segurança interna 
1.4.4. Inquéritos de vitimação 
 
2. Teorias sociológicas do crime 
 
2.1. Sociogénese da Sociologia do crime 
2.1.1. A antiguidade 
2.1.2. A idade média 
2.1.3. O renascimento 
2.1.4. O Iluminismo 
2.1.5. O positivismo criminal 
2.2. Os clássicos 
2.2.1. A abordagem marxista 
2.2.2. O legado de Durkheim 
2.3. As teorias funcionalistas 
2.3.1. A teoria da anomia 
2.3.2. A teoria da estrutura de oportunidades ilegítima 
2.4. A Escola de Chicago: 
2.4.1. Espaço urbano e criminalidade 
2.4.2. A teoria da ecologia humana 
2.4.3. A teoria das zonas concêntricas 
2.4.4. O controlo social secundário 
2.5. Teorias da subcultura delinquente 
2.5.1. O conceito de sub-cultura 
 2.5.2. Subcultura e cultura dominante 
21 
 2.5.3. Grupos de referência e efeitos de status 
2.6. Teorias da rotulagem 
2.6.1. O desvio como acção colectiva 
2.6.2. A acção criminosa e a reacção social 
2.6.3. As instâncias de controlo e as audiências 
2.6.4. O pluralismo axiológico e o relativismo 
 
3. Temas e debates actuais na sociologia do crime 
 
3.1. Configurações e dinâmicas da criminalidade nas sociedades actuais 
3.1.1. O imaginário actual da criminalidade 
 3.1.2. Incidência de crimes e variações 
 3.1.3. Abordagens macro e micro 
3.2. As abordagens sociológicas do sistema prisional 
 3.2.1. Os estudos clássicos e contemporâneos 
 3.2.2. Dimensões de análise do meio prisional 
3.2.3. Caracterização do sistema prisional: tendências nacionais e 
europeias 
3.3. Rumos actuais das políticas criminais 
 3.3.1. As políticas repressivas e preventivas 
 3.3.2. A descriminalizaçãoe neocriminalização 
 3.3.3. Implicações político-criminais das teorias sociológicas do crime
22 
1.4. ESTRUTURAÇÃO DAS SESSÕES DE TRABALHO 
Existe uma planificação prévia e estruturada das sessões de trabalho de 
contacto directo entre o docente e os alunos, indicando-se a semana lectiva, 
sessão, o módulo de aprendizagem e respectivos conteúdos programáticos e 
actividades formativas. 
 
Quadro 1 – Planificação das Sessões de Trabalho 
Semanas Sessões Módulos Conteúdos 
1. 
Aula 1 
--- Apresentação. Programa. Bibliografia. Regras de funcionamento 
e avaliação. 
1. Aula 2 1 A definição sociológica de crime. Actividade formativa 1 
2. Aula 3 1 As bases das explicações científicas do crime. 
2. Aula 4 1 Actividade formativa 2 
3. Aula 5 2 Métodos e técnicas de investigação em Sociologia do Crime 
3. Aula 6 2 Actividade formativa 3 
4. Aula 7 2 Fontes de informação 
4. Aula 8 2 Actividade formativa 4 
5. Aula 9 3 Sociogénese da Sociologia do crime 
5. Aula 10 3 Actividade formativa 5 e 6 
6. Aula 11 4 A abordagem marxista 
6. Aula 12 4 Actividade formativa 7 
7. Aula 13 5 A teoria da anomia de Durkheim 
7. Aula 14 5 Actividade formativa 8 
8. Aula 15 6 As teorias funcionalistas 
8. Aula 16 6 Actividade formativa 9 e 10 
9. Aula 17 7 A Escola de Chicago 
9. Aula 18 7 Actividade formativa 11 
10. Aula 19 7 Teorias da subcultura delinquente 
10. Aula 20 7 Actividade formativa 12 
11. Aula 21 8 Teorias da rotulagem 
11. Aula 22 8 Actividade formativa 13 
12. 
Aula 23 
9 Organização e planificação das actividades formativas relativas a 
problemáticas, orientações e debates actuais sobre o crime 
12. Aula 24 9 Tendências actuais da criminalidade: Actividade formativa 14 
13. 
Aula 25 
9 A abordagem sociológica do sistema prisional: Actividade 
formativa15 
13. Aula 26 9 Rumos actuais das políticas criminais: Actividade formativa 16 
14. Aula 27 9 Colóquio – Actividade formativa 17 
14. Aula 28 9 Seminário – Actividade formativa 18 
 
23 
1.5. MÉTODOS DE ENSINO TEÓRICO E PRÁTICO 
Factores de natureza sócio-institucional influenciaram as opções 
pedagógico-didácticas da unidade curricular de Sociologia do Crime, a saber: 
(i) exigências criadas à docência pela emergência da sociedade do 
conhecimento e disseminação crescente das novas tecnologias de 
informação e comunicação em diferentes esferas da vida em sociedade; 
(ii) imperativos de adopção de novas metodologias de ensino e aprendizagem 
que permitam ultrapassar o tradicional e ainda dominante paradigma da 
transmissão passiva e absorção do saber, e pôr em prática um paradigma 
de aprendizagem guiada mas autónoma e activa, que requer um elevado 
envolvimentos dos estudantes, como sujeitos construtores do próprio 
processo de aprendizagem; 
(iii) coexistência de práticas e pedagogias tradicionais, alimentadas por um 
sistema que (ainda) privilegia ou quase que exclusivamente contabiliza as 
horas de trabalho por referência às horas de contacto. 
O método de ensino adoptado resultou da tentativa de equilibrar vários 
elementos: não só os mencionados constrangimentos sócio-institucionais, a que 
não são alheias imposições administrativas quanto a regime de aulas e dimensão 
da equipa docente, como de igual modo a tomada em consideração das 
aspirações sócio-profissionais e perfis de procura de saberes na população de 
estudantes do ensino superior. 
Adoptou-se sobretudo a estratégia de combinar procedimentos 
diversificados, ainda que antecipadamente organizados e dados a conhecer aos 
alunos, no sentido proposto por Madureira Pinto (1997), quando afirma que “São 
constrangimentos de natureza muito variada e eminentemente mutáveis, que, 
portanto, desaconselham quaisquer tentativas para encontrar soluções universais 
ou fórmulas mágicas no plano didáctico.” (Pinto, 1997: 50). 
Para um período lectivo de catorze semanas decorrem 28 horas de sessões 
teóricas e 28 horas de sessões teórico-práticas. 
As aulas teóricas são predominantemente expositivas, de acordo com os 
conteúdos contemplados no programa da unidade curricular. No entanto, os 
estudantes são convocados a intervir sempre que julgarem oportuno, sendo 
24 
disponibilizados os materiais necessários para que essa interpelação seja 
fundamentada e produtiva para todos os intervenientes e elementos presentes na 
sala de aula. 
Antes de cada sessão teórica e semanalmente, o docente disponibiliza um 
documento que contém os seguintes elementos: enunciação e explicitação 
sumária dos principais conceitos e problemáticas a abordar na sala de aula, 
indicação de bibliografia específica e complementar referente a um ponto 
específico do programa e apresentação da actividade formativa a desenvolver na 
aula téorico-prática. 
As sessões teórico-práticas destinam-se à execução de actividades 
formativas previamente definidas e que se realizam em grupos de três ou quatro 
alunos. Os grupos reúnem na primeira hora da sessão teórico-prática e o porta-
voz do grupo apresenta oralmente as conclusões do trabalho na segunda hora, 
proporcionando-se contextos para debate e troca de ideias relacionadas com a 
situação concreta proposta para análise. 
O tempo reservado à exposição oral do trabalho de grupo é 
antecipadamente definido em função do número de grupos e da necessidade de 
reservar os últimos vinte minutos da sessão teórico-prática para o debate geral. 
Uma semana após a sessão teórico-prática e apresentação oral do trabalho 
de grupo, deverá ser entregue à docente o respectivo relatório escrito, que não 
deverá exceder as cinco páginas dactilografadas a espaço e meio. 
Resta assinalar que uma das sessões teórico-práticas relativas ao último 
bloco programático – Temas e debates actuais na sociologia do crime – é sempre 
reservada à organização de um seminário ou colóquio científico, que conta com a 
participação de especialistas convidados. No início do ano lectivo, o docente dá a 
conhecer aos alunos o tema seleccionado e os oradores envolvidos. Os 
estudantes são incentivados a preparar o debate com antecedência, através da 
pesquisa de materiais relacionados com a temática que vai ser apresentada nesse 
encontro científico. A actividade formativa relacionada com este elemento 
específico da metodologia de ensino consiste no envolvimento e participação 
activa no debate decorrente do evento científico e produção de um relatório 
escrito relativo aos assuntos apresentados e problematizados nesse contexto. 
25 
O objectivo da organização deste tipo de encontros e incorporação dos 
mesmos na metodologia de ensino em Sociologia do Crime é, por um lado, 
facultar aos alunos o contacto com a realidade exterior por via dos discursos e 
práticas de especialistas, e por outro lado, incentivar a responsabilização e 
envolvimento activo da parte dos estudantes, confrontando-os com as tarefas 
específicas associadas à organização de eventos científicos e preparação de 
debates. 
 
26 
1.6. SISTEMA DE AVALIAÇÃO 
A avaliação constitui um elemento regulador do processo de 
ensino/aprendizagem. No sentido de contemplar o objectivo de integrar 
metodologias de ensino/aprendizagem de natureza diversa e orientadas para a 
intervenção activa do aluno, o tipo de avaliação adoptado na unidade curricular de 
Sociologia do Crime é a avaliação contínua. 
Os momentos de avaliação são dois: a realização de um teste individual no 
final do semestre, com uma ponderação de 50%; e a realização das actividades 
formativas em grupo, com apresentação oral nas aulas teórico-práticas (10%) e 
produção de relatório (40%) que não deverá ultrapassar a cinco páginas 
dactilografadas a espaço e meio. 
Os critérios de avaliação do teste individual serão os seguintes: (i) qualidadeda escrita e organização da argumentação (0-3 valores); (iii) capacidade de 
apreciação e relacionação dos diversos conceitos e elementos solicitados no 
enunciado das questões (0-7 valores). 
Os critérios de avaliação dos trabalhos de grupo serão os seguintes: (i) 
qualidade da apresentação oral das conclusões do grupo (0-2 valores); (ii) clareza 
e organização do relatório (0-2 valores); (iii) capacidade de apreciação e avaliação 
das diversas vertentes do tema em causa (0-6 valores). A nota final deste 
momento de avaliação produz-se pela média aritmética de todos os relatórios das 
sessões teórico-práticas. 
 
27 
1.7. RECOMENDAÇÕES PARA O PLANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA 
APRENDIZAGEM 
O sucesso do processo de aprendizagem depende da adopção de algumas 
práticas de planeamento e organização de tarefas da parte dos alunos. 
Recomenda-se a preparação semanal de um calendário de actividades, 
conjugando as tarefas individuais com as tarefas de grupo. 
Além das aulas, os alunos deverão contar com tempo necessário à 
realização das seguintes tarefas: 
 
Tarefas de carácter individual 
 Na segunda semana de aulas o aluno deverá estar inserido num grupo de 
trabalho de 3 a 4 alunos; 
 No início das aulas é facultado um conjunto de bibliografia obrigatória, que o 
aluno deverá adquirir e organizar o mais cedo possível; 
 No final de cada unidade de aprendizagem o aluno deve responder aos 
testes formativos e corrigi-los; 
 Semanalmente o aluno deverá consultar os documentos fornecidos pelo 
docente, fazendo-se munir dos elementos necessários para estar habilitado 
por um lado, a colocar dúvidas e questões relativas à exposição teórica e, 
por outro lado, a desenvolver adequadamente a actividade formativa 
proposta em grupo; 
 O aluno deverá participar assídua e activamente nas reuniões de grupo de 
trabalho, lembrando-se que o grupo é mais importante que os membros 
individuais e que todos os elementos são responsabilizados pelos resultados; 
 O aluno deverá consultar o docente sempre que tenha necessidade de tirar 
dúvidas, no horário de atendimento. 
 
28 
Tarefas de grupo 
 O grupo de trabalho deverá reunir semanalmente para elaborar o relatório 
escrito da actividade formativa desenvolvida na aula teórico-prática, 
decidindo com antecedência o local, horário e duração da reunião; 
 A distribuição dos diferentes papéis dos membros do grupo deverá ser feita 
de modo rotativo e ser antecipadamente programada para todo o semestre. 
Há que contar com o papel de porta-voz das conclusões do grupo, a 
desempenhar oralmente na parte final das aulas teórico-práticas e de relator 
(elemento do grupo encarregue de redigir por escrito o relatório da 
actividade formativa e de entregar o trabalho à docente, por email ou em 
suporte de papel, dentro do prazo estipulado). 
 O contacto com o docente deve ser regular no sentido do grupo ser 
informado sobre o andamento da avaliação das actividades formativas; 
 
1.8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Flanagan, Timothy; Longmire, Dennis (1996) (eds.), American view crime and 
justice: a national public opinion survey, Thousand Oaks, Sage. 
Machado, Carla (2004), Crime e insegurança. Discursos do medo e imagens do 
outro, Lisboa, Editorial Notícias. 
Pinto, José Madureira (1997) Propostas para o ensino das ciências sociais, Porto: 
Afrontamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
II. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICAÇÃO DO 
PROGRAMA E DOS SEUS CONTEÚDOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2 – O CRIME COMO OBJECTO DA SOCIOLOGIA 
 
 
31 
 SUMÁRIO: 
 
2.1. Resultados esperados de aprendizagem 
2.2. A definição sociológica de crime 
2.3. Actividade formativa 1 
2.4. A especificidade da abordagem da Sociologia do Crime 
2.5. Actividade formativa 2 
2.6. As interrogações da Sociologia do Crime 
2.7. Síntese 
2.8. Teste formativo 
2.9. Leituras e informação complementar 
2.10. Referências bibliográficas 
32 
2.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
No final do processo de aprendizagem desta unidade programática, o 
estudante deverá estar apto a: 
 definir o conceito de crime, distinguindo a conceptualização júridico-legal da 
abordagem sociológica; 
 entender as diferenças entre os conceitos de crime e de desvio, captando o 
seu carácter complexo e relativo, do ponto de vista cultural e histórico; 
 identificar algumas das mais importantes abordagens do crime na óptica da 
biologia e da psicologia, sendo capaz de caracterizar a especificidade do 
pensamento sociológico; 
 expor as principais questões que orientam a investigação e reflexão sobre o 
crime. 
 
33 
2.2. A DEFINIÇÃO SOCIOLÓGICA DE CRIME 
 
O problema do objecto de estudo 
Desde tempos imemoriais que o crime tem sido objecto de reflexão e 
especulação, embora possamos situar no século XIX o início da abordagem 
científica do crime. O termo criminologia (entendido como ciência que estuda o 
crime) terá sido utilizado pela primeira vez pelo antropólogo francês Topinard, em 
1879 (Dias e Andrade, 1997:7). 
Não existe consenso em relação à utilização da designação de Criminologia, 
de Sociologia do Crime ou ainda de Sociologia Criminal, ao nível da abordagem 
sociológica do crime: enquanto para alguns autores a Criminologia como ciência 
que estuda o crime deve convocar saberes provenientes de diversas áreas do 
conhecimento (Psicologia, Psiquiatria, Biologia e Sociologia); outros autores 
defendem que a denominação de Criminologia pode servir para referenciar a 
especialização da Sociologia que se debruça sobre o crime. 
Parte das reflexões e pesquisas sobre o que podemos designar como 
comportamentos criminosos, desviantes ou delinquentes, consoantes as 
perspectivas teóricas, centram-se na explicação das causas do crime, procurando 
perceber os motivos porque determinados indivíduos parecem mais vulneráveis ou 
predispostos a cometer delitos do que outros (Ferreira, 2004). Neste âmbito, a 
questão fundamental para os estudiosos do crime será porque é que as pessoas 
(ou algumas pessoas) cometem crimes? 
As respostas a esta questão nuclear têm sido diversas e geralmente pouco 
consensuais e ainda hoje inconclusivas, variando não só consoante as épocas 
históricas, mas também de acordo com as perspectivas das diferentes ciências 
que se têm debruçado sobre o fenómeno criminal, desde a Biologia, ao Direito, à 
Filosofia, à Ética, à Psicologia, à Antropologia e à Sociologia. 
Num primeiro momento histórico, a explicação das causas do crime remetia 
para factores sobrenaturais, ou para supostas características intrínsecas dos 
indivíduos, que os conduziriam a um estado mais ou menos acentuado de 
incapacidade de integração na sociedade, predispondo-se para a prática do 
“mal”. O século XIX assistiu ao nascimento das primeiras abordagens científicas 
34 
do crime, que passam a preocupar-se em identificar e medir as variáveis que 
poderão estar na origem do comportamento criminoso e que poderão ser 
encontradas em causas biológicas, psicológicas e sociais. Contudo, a premência 
da procura das causas da ocorrência do crime manteve-se praticamente 
inalterável até aos dias de hoje nas principais correntes criminológicas. 
Abordagens recentes, nomeadamente provenientes da área da Sociologia, 
têm vindo a reconfigurar a formulação dessa questão, defendendo que outros 
prismas de análise do fenómeno criminal são possíveis e mesmo desejáveis e 
invocando a necessidade de reconfigurar o sentido e as vias da explicação 
criminológica. 
Podemos assim confrontar uma criminologia tradicional, que busca as 
causas do crime e se integra desse modo num paradigma «etiológico-explicativo»,com uma criminologia crítica de raiz interaccionista, que combate o alegado 
determinismo da primeira, centrando-se antes no domínio da «reacção social» ao 
crime e, deste modo, alarga o elenco de actores sociais envolvidos na construção 
social do crime, desde o criminoso tout court, aos processos de selecção e de 
estigmatização dos criminosos desenvolvidos e consolidados pelas instâncias 
formais e informais de controlo social. Nesta última perspectiva, em vez da 
questão clássica sobre as causas do crime, outras questões podem ser 
enunciadas, tais como sobre quais os critérios que ancoram a selecção e a 
estigmatização de certas pessoas e quais as consequências dessa rotulagem 
(Dias e Andrade, 1997: 160). 
Sintetizando, podemos supor que o que distingue no essencial as diferentes 
perspectivas sociológicas do crime é a formulação da questão de partida dirigida à 
realidade criminal: a sociedade tem os criminosos que «merece» (criminologia 
tradicional) ou os criminosos que «quer» (nova criminologia ou criminologia 
crítica)? 
Os modos de formulação das interrogações à realidade criminal remetem 
indubitavelmente para a própria definição do conceito de crime, na medida em 
que as próprias divergências no conceito de crime reflectem modos diversificados 
de pensar, teorizar e agir em relação a esta problemática. De facto, a definição do 
objecto de estudo – neste caso, o crime – resulta do que se quer saber sobre o 
35 
fenómeno em análise. Neste sentido, o crime constitui um conglomerado histórico 
de elementos sociológicos, jurídicos, éticos e de senso comum ou estereótipos, 
embora a definição jurídico-legal, por razões históricas e culturais, tenda a ser a 
dominante. 
 
O conceito de crime 
A definição jurídico-legal de crime define-o como todo o comportamento – e 
só esse – que a lei tipifica como tal. Paul Tappan (1947), eminente criminologista, 
sociólogo e jurista, levou a cabo uma defesa extremada dessa conceptualização 
do crime, por considerar que se tratava de um conceito objectivo, preciso e 
operacional, defendendo que só se deveria considerar crime aqueles 
comportamentos que resultassem de condenações judiciais. 
A operacionalidade do conceito puramente legalista de crime é evidente, 
tanto mais que as estatísticas criminais oficiais reflectem essa perspectiva. 
Contudo, aceitar acriticamente a definição jurídico-legal de crime, implicaria em 
última instância supor que a criminalidade oficial corresponde integralmente à 
criminalidade efectivamente cometida. Do mesmo modo, aceitar a posição 
defendida por Tapplan de que o crime corresponde ao que é condenado como tal 
nas instâncias judiciais significa pressupor, por exemplo, que a aplicação da lei é 
sempre objectiva e neutra, havendo uma correspondência total e absoluta entre a 
denominada law in books (legislação) e a law in action (aplicação da lei). 
Não sendo a definição de crime algo auto-evidente e unitário, torna-se 
importante perceber a diversidade de elementos que podem estar associados a 
este conceito, assim como o relativismo cultural e histórico que lhe está 
subjacente. 
Pode-se considerar que existem três elementos básicos a considerar na 
definição de crime: (1) os danos, que remetem para a natureza, dimensão e 
severidade dos prejuízos e males causados e que tipo de vítimas foram atingidas; 
(2) o consenso social sobre os impactos criados pela ocorrência do crime; (3) as 
respostas oficiais, que implicam a existência de legislação criminal que especifica 
as circunstâncias em que um acto danoso pode ser classificado como crime e 
quais as sanções a dirigir a quem o cometeu. 
36 
A definição de crime de Durkheim 
Émile Durkheim, um dos clássicos da Sociologia que marcou decisivamente 
os primórdios da análise sociológica do crime, apresenta na obra De la division du 
travail social (1895), uma definição de crime como sendo “Todo o acto que, num 
qualquer grau, determina contra o seu autor essa reacção característica a que se 
chama pena” (Durkheim, 1977: 87). Esta focagem na dimensão da resposta oficial 
surge articulada com questão do consenso social, na medida em que o autor não 
só define a pena como sendo uma “reacção passional, de intensidade graduada, 
que a sociedade exerce por intermédio de um corpo constituído sobre aqueles 
dos seus membros que violaram certas normas de conduta” (id. ibid.: 116), como 
acrescenta que “um acto é criminoso quando ofende os estados fortes e definidos 
da consciência colectiva” (id. ibid.: 99) pelo que “não se deve dizer que um acto 
ofende a consciência comum porque é criminoso, mas que é criminoso porque 
ofende a consciência comum.” (id. ibid.: 100). 
A definição durkheimiana de crime remete para o comportamento que é 
definido como tal pela lei e que recebe a respectiva sanção jurídico-penal. Nesta 
perspectiva, não há crime sem lei, do mesmo modo, que não há lei criminal sem 
existência de dano ou prejuízo. Em suma, para Durkheim o crime consiste numa 
transgressão em relação ao que é definido ao nível de estados fortes e definidos 
da consciência colectiva, suscitando como tal reacções intensas que se projectam 
pelas sanções previstas no direito criminal. Na perspectiva deste autor, a 
característica comum aos crimes residiria no facto de constituírem actos 
universalmente reprovados pelos membros de cada sociedade. 
 
A definição de crime de Sellin 
Thorsten Sellin, criminologista Americano e especialista em estatísticas 
criminais, distinguiu-se por pretender libertar o conceito de crime da perspectiva 
jurídico-legal, advogando a necessidade de uma “definição sociológica” do 
conceito, na sua obra Culture Conflict and Crime publicada pela primeira vez em 
1938. De acordo com o autor, as exigências metodológicas e epistemológicas da 
criminologia (ciência que tem como objecto de estudo o crime) e a diversidade 
cultural a que assistimos nas sociedades modernas, remetem para uma 
37 
perspectiva multicultural do crime, que pode ser definido como sendo a 
transgressão a dois tipos de normas: as normas de conduta e as categorias 
universais. As normas de conduta são criadas pela sociedade e podem variar de 
grupo para grupo social. Já as categorias universais de crime (como por exemplo, 
o homicídio) assumem um significado similar em diferentes sociedades. 
Na perspectiva de Sellin, a criminologia deveria ter um objecto de estudo 
com uma natureza objectiva e universal, valorativamente neutro e que não 
estivesse sujeito ao relativismo espácio-temporal, de modo a ser possível isolar e 
classificar as normas de conduta segundo categorias universais. Segundo este 
autor, as normas jurídico-penais apenas projectam a estrutura normativa dos 
grupos culturalmente dominantes, reflectindo deste modo os valores e interesses 
dos grupos sociais que controlam o aparelho legislativo. Isto faz com que possa 
haver conflitos culturais entre os «fazedores de leis» e as normas de conduta que 
regulam as vivências e situações sociais específicas dos grupos desfavorecidos, 
que tendem a aumentar com o processo de modernização da sociedade, na 
medida em que este potencia a heterogeneidade cultural. 
Os críticos de Sellin consideram que este falhou o objectivo de apresentar 
uma definição unívoca de categoria universal de crime e que não elabora 
propriamente um conceito sociológico de crime, mas apenas contrapõe dois 
universos normativos: as normas de conduta em gera e as normas jurídico-penais, 
convertendo as primeiras em objecto de estudo da criminologia. 
 
A relação entre crime e desvio 
Ainda hoje se assiste a tentativas de definir o crime em termos sociológicos, 
distinguindo-o da definição jurídico-penal. A generalidade dosautores pretende 
que o conceito de desvio é mais adequado à abordagem sociológica, embora as 
definições existentes não sejam coincidentes. Pode-se afirmar que o conceito de 
desvio assenta em dois pressupostos básicos: (i) engloba comportamentos que 
violam as expectativas da maioria dos membros da sociedade; (ii) suscita 
reacções negativas, considerando-se que é um acto que deve estar sujeito a 
sanções. 
38 
A abordagem do fenómeno criminal como um desvio implica entrar em 
ruptura com o conceito jurídico de «crime» e a perspectiva positivista que lhe é 
inerente, em função da qual se estudava o crime essencialmente ou mesmo 
exclusivamente pelo criminoso e pela perspectivação das causas que conduziriam 
à prática do crime. A opção por encarar o crime como um acto desviante remete 
para um alargamento da focagem de análise que exige estudar as condições 
sócio-históricas da produção social dos desvios, o funcionamento dos 
mecanismos informais de regulação social, as interacções entre os desviantes e 
os aparelhos de controlo social e os impactos da reacção social sobre o sujeito 
definido como desviante. 
Para uma clarificação da distinção entre os conceitos de «crime» e de 
«desvio» parece-nos fundamental reter a seguinte ideia de Herbert Blumer: “é o 
processo social em grupo que cria e suporta as normas e não as normas que 
criam e suportam a vida em grupo” (Blumer, 1969: 19). Ou seja, uma abordagem 
sociológica do crime deve ultrapassar a visão estritamente jurídica, devendo ser 
abordada como uma construção social que nunca deixará de estar associada à lei 
e ao controlo social formal e informal. 
Temos assim que o conceito de desvio se aplica às condutas que 
transgridem as normas de uma dada sociedade, remetendo por isso a análise 
para as operações de classificação e definição social, que variam em termos 
espácio-temporais. 
Subjacente ao conceito de desvio, encontramos o conceito de controlo 
social, que envolve mecanismos de socialização e internalização de normas e 
valores, mas também de aplicação de sanções a quem transgride as regras. 
Se nem todo o desvio é crime e nem todo o crime representa desvio, a 
conceptualização sociológica do crime como desvio apresenta a vantagem de se 
demarcar de uma visão puramente legalística da problemática criminal. De facto, 
a perspectivação do crime como desvio exige a compreensão das estruturas 
sociais mais amplas em que este se insere. Implica, de igual modo, encarar o 
crime como sendo simultaneamente um problema social enquanto constituindo 
um desvio às expectativas socialmente criadas, que provoca reacções negativas; 
39 
e um problema sociológico por implicar um estudo científico das relações sociais 
envolvidas. 
 
2.3. ACTIVIDADE FORMATIVA 1 
 “Nem todo o desvio é crime, nem todo o crime implica desvio” 
Considerem esta ideia e desenvolvam a seguinte actividade em grupo, 
elaborando uma descrição em tópicos, não ocupando mais do que uma página 
A4: 
1. Listem exemplos de a) comportamentos que são desviantes, mas não 
constituem crimes; b) comportamentos que em períodos históricos passados 
foram considerados desviantes, mas que não o são actualmente; c) 
comportamentos criminosos que, em determinados contextos, podem não 
ser considerados negativos ou “merecedores” de punição. 
2. Listem três comportamentos que consideram “crimes graves” e três 
comportamentos que avaliam como “crimes pouco graves”. Fundamentem a 
vossa escolha. 
 
 
 
40 
2.4. A ESPECIFICIDADE DA ABORDAGEM DA SOCIOLOGIA DO CRIME 
 
As diferentes ciências criminais 
São diversas as ciências que se têm debruçado sobre o fenómeno criminal, 
pretendendo-se neste âmbito, sintetizar os principais traços de cada uma das 
perspectivas dominantes, com o objectivo último de apontar a especificidade da 
abordagem sociológica. 
O século XIX assistiu ao nascimento do denominado positivismo 
criminológico, que ao postular a neutralidade axiológica e a separação entre a 
ciência e a moral, advoga que os comportamentos criminosos podem ser 
explicados por factores biológicos, psicológicos e sociais específicos, susceptíveis 
de observação e medição. 
No campo da Biologia, até sensivelmente meados do séc. XX, com base em 
estudos genéticos e evolutivos, foi dominante a perspectiva de que o 
comportamento criminoso resultava de atavismos físicos e intelectuais de tipo 
hereditário, reminiscente de estágios mais primitivos da evolução humana. Já no 
âmbito da Psicologia e Psiquiatria a abordagem do crime remeteu para traços da 
personalidade individual, o que sustentou estudos e programas de tratamento e 
de adaptação mais ou menos forçada da personalidade do criminoso às 
exigências da vida em sociedade. Por fim, a Sociologia do séc. XIX, 
nomeadamente por via dos trabalhos de Émile Durkheim (1895, 1897) e Gabriel 
Tarde (1886, 1890), advoga que as causas da ocorrência do crime se encontram 
na própria sociedade, nomeadamente em resultado de pressões e tensões sociais 
que acompanham a evolução das sociedades. 
Ainda hoje persistem diferenças entre as perspectivas teóricas e 
metodológicas associadas a cada área científica, pese ainda que dentro do 
mesmo campo disciplinar podemos igualmente encontrar distintos 
posicionamentos. 
Podemos sintetizar os principais pressupostos de cada uma das abordagens 
científico-explicativas do crime, distinguindo entre: (i) teorias bioantropológicas; (ii) 
teorias psicodinâmicas e psico-sociológicas ; (iii) teorias sociológicas. 
 
41 
A perspectiva da Biologia 
As teorias bioantropológicas do crime centram-se em factores de cariz 
individual que se considera pertencerem ou serem características do organismo. 
Procura-se atingir a compreensão das determinantes biológicas do crime, 
nomeadamente o papel da genética. Mas enquanto as teorias clássicas afirmavam 
a exclusividade e definitividade das características físicas, as versões mais 
recentes sustentam que os factores bioantropológicos interagem continuamente 
com variáveis de índole sociológica e ambiental. 
 
A perspectiva da Psicologia e Psiquiatria 
No campo das teorias psicodinâmicas dá-se continuidade ao estudos das 
variáveis individuais que explicam a prática do crime, mas em vez de focarem a 
constituição biológica, centram-se nos percursos biográficos dos indivíduos, que 
remetem para processos dinâmicos de formação da personalidade, procurando 
identificar os níveis de sucesso e insucesso na sua formação, aprendizagem e 
socialização. Estes estudos partem de um postulado básico da existência de 
impulsos naturais, que podem entrar em conflito com as resistências criadas pelo 
processo de socialização e decorrentes mecanismos de indução de 
comportamentos normais (a sociedade repressiva e punitiva). As teorias 
psicodinâmicas englobam uma vasta diversidade de perspectivas, sendo que as 
teorias psicanalíticas do crime e as teorias do condicionamento são das mais 
conhecidas e aplicadas ao nível das práticas de tratamento e reabilitação de 
delinquentes. 
As teorias psico-sociológicas centram-se sobretudo no comportamento 
considerado normal e que surge conforme as prescrições previstas na lei e nas 
normas de conduta da sociedade. Só após o estudo da «conformidade», isto é, da 
indagação da natureza e força dos vínculos que unem o indivíduo à sociedade, e 
que o conduzem a superar os impulsos naturais e obedecer às regras, é que se 
procede ao estudo do comportamento desviante e delinquente. 
 
42 
A perspectiva da Sociologia 
Não obstante a heterogeneidade e diversidade apresentada pelas teorias 
sociológicas do crime, importa apontar e compreender a especificidade desta 
áreado saber. A abordagem sociológica do crime tende a ser globalizante, 
preocupando-se não só em explicar porque se cometem crimes, mas também em 
problematizar a própria ordem social, compreender as implicações político-
criminais e delinear moldes, conteúdos e alcances de práticas de associação 
entre a teoria e a prática, nomeadamente, ao nível da reinserção social e 
prevenção da delinquência. 
Aceitando a proposta apresentada por Edwin Sutherland (1939), 
criminologista e sociólogo integrado na corrente de pensamento do 
interaccionismo simbólico, considerado por muitos o pai fundador da Criminologia 
Americana, a abordagem sociológica do crime pode ser realizada em três 
dimensões de análise: (i) pelo estudo da produção e feitura de leis, mormente ao 
nível do que se tem vindo a designar como “Sociologia do Direito”; (ii) pelo estudo 
da violação das leis e das suas causas, sendo esta uma área que tem convocado 
o interesse de diversos saberes e especializações, provenientes não só do campo 
da Sociologia, como também da Antropologia, Psicologia, Psiquiatria, Economia e 
Ciência Política; (iii) pelo estudo da reacção social ao crime, sendo esta uma 
dimensão de análise marcadamente sociológica, e que pode englobar diferentes 
aspectos da realidade social, desde a observação das consequências e fontes de 
legitimidade das reacções ao crime, à pesquisa dos determinantes sociais da 
criação das normas de conduta ou perspectivação da opinião pública 
relativamente a determinados actos criminosos. 
 
2.5. AS INTERROGAÇÕES DA SOCIOLOGIA DO CRIME 
 
Principais questões de partida 
Todos os paradigmas teóricos têm em comum algumas questões de partida 
(interrogações dirigidas à realidade empírica, que servirão de fio condutor ao 
processo de pesquisa) dirigidas ao fenómeno criminal, e que podem ser 
formuladas do seguinte modo: 
43 
 Que visão da natureza humana suscita o fenómeno do crime? 
 De que modo o crime representa um desafio ou uma transgressão à ordem 
social? 
 O crime é um fenómeno natural, social ou legal? 
 Qual a extensão e distribuição social do crime? Trata-se de um fenómeno 
geral e normal em qualquer sociedade ou de uma actividade marginal e 
excepcional? Toda a gente comete crimes ou os crimes são praticados por 
grupos ou indivíduos específicos? 
 Quais são as causas do crime? 
 Quais as implicações político-criminais das diferentes visões do crime? 
 As respostas a estas questões de partida direccionadas para o fenómeno 
do crime têm implícitas determinadas dicotomias, que aliás têm estado 
presente em todo o pensamento sociológico e teorização do social, desde a 
modernidade. 
 
As dicotomias das teorias do social 
Podemos sintetizar as principais dicotomias que têm trespassado as diversas 
teorias do social, aplicando-as à temática do crime, do seguinte modo: 
 Natureza humana: voluntarismo versus determinismo 
O envolvimento na prática do crime resulta de um acto de livre vontade 
(voluntarismo) ou é primordialmente condicionado/guiado por forças que escapam 
ao controlo do criminoso/a ou de que ele/ela não têm consciência (determinismo)? 
 Ordem social: consenso versus conflito 
Todas as teorias sociológicas do crime remetem para o conceito «contrário» 
de ordem social. Esta tanto pode ser encarada como estando baseada no 
consenso da maioria da sociedade (embora uma minoria possa ser coagida), ou 
com base no conflito – latente ou manifesto – pelo qual uma minoria privilegiada 
impõe pela coerção os seus interesses e valores. 
 Definição do crime: legal versus social 
O crime tanto pode ser encarado como a transgressão à lei (definição legal), 
como a transgressão aos códigos normativos de uma determinada sociedade 
44 
(definição social). Estas definições tanto podem ser complementares e mesmo 
coincidentes, como descoincidentes: por exemplo, a fuga aos impostos pode ser 
crime do ponto de vista legal, mas pode ser um acto que não sofre reprovação da 
parte da maioria da população. 
 Extensão e distribuição do crime: limitada versus extensiva 
Um dos problemas fulcrais da Sociologia do Crime reside na dificuldade em 
usar e interpretar as estatísticas oficiais da criminalidade. Estas reportam que 
apenas um grupo restrito de grupos ou indivíduos cometem crimes. Mas será que 
nos transmitem a realidade? A actividade criminal estará limitada a um grupo 
restrito ou, pelo contrário, envolverá uma extensa parte da população? 
 Causas do crime: individuais versus sociais 
As causas do crime podem ser procuradas no indivíduo (personalidade, 
características biológicas, biografia) ou na sociedade e meio social envolvente. 
Por exemplo, a prática de violação pode ser percepcionada como um 
comportamento que resulta de uma desordem biopsíquica ou mesmo genética, 
enquanto que um sociólogo afecto às correntes feministas do crime explicará a 
ocorrência como resultado da sociedade patriarcal que incentiva ou desculpabiliza 
a violência sexual exercida sobre a mulher. 
 Implicações político-criminais: punição versus tratamento ou reinserção 
A perspectivação teórico-metodológica do crime e do criminoso acarreta 
implicações de ordem político-criminal. Por exemplo, se o crime é encarado como 
resultado de um acto voluntário, a tónica será direccionada para o 
castigo/punição. Se pelo contrário, se entender que o acto criminoso resulta 
essencialmente da força das estruturas sociais, a orientação político-criminal 
guiar-se-á pelos princípios do tratamento (campo da psicologia e psiquiatria) ou da 
reinserção social (sociologia e serviço social). 
45 
2.6. ACTIVIDADE FORMATIVA 2 
Desenvolvam a seguinte actividade em grupo, elaborando uma descrição em 
tópicos, não ocupando mais do que uma página A4: 
 
Após terem visionado o filme “Laranja mecânica” do realizador Stanley Kubrick 
(1971), baseado na obra homónima de Anthony Burgess (1962), apontem as 
principais representações veiculadas da “personalidade criminal”. De que modo 
a tipificação de criminoso exposta no crime se afasta dos princípios subjacentes 
a uma abordagem sociológica do crime? Que perspectivas de política criminal 
subjazem à história relatada? 
 
 
 
46 
2.7. SÍNTESE 
O primeiro ponto programático incide sobre o problema da definição e 
construção do crime como objecto da Sociologia e da sua relação com os 
diferentes modos como este é definido noutras áreas do conhecimento, tais como 
as ciências jurídicas, as ciências biológicas e as ciências psicológicas e 
psiquiátricas. Discute-se o que pode ser o contributo específico da Sociologia para 
a abordagem do crime, começando pela própria definição do conceito, 
procedendo-se a uma diferenciação entre a definição jurídico-legal de crime e a 
definição sociológica e salientando-se a complexidade inerente a este passo 
introdutório ao nível dos estudos sociais do fenómeno criminal. Por fim, formulam-
se as principais questões dirigidas à realidade social que a Sociologia do Crime 
suscita. 
 
2.8. TESTE FORMATIVO 
Destina-se à auto-avaliação do aluno, tendo como objectivo proporcionar os 
elementos necessários para que o aluno possa aferir o progresso dos seus 
conhecimentos em cada unidade de aprendizagem. 
1. Que significa afirmar que o crime constitui um conglomerado histórico de 
elementos sociológicos, jurídicos, éticos e de senso comum ou 
estereótipos? 
2. Em que consiste a definição jurídico-legal de crime? 
3. Quais os três elementos básicos a considerar na definição de crime? 
4. Qual a importância do consenso social na definição de crime que 
Durkheim apresenta? 
5. O que distingue o conceito de desvio do conceito de crime? 
6. Aponte as principais características da abordagem

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