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01-OS CONCEITOS SOCIOANTROPOLÓGICOS DE INDIVÍDUO E SOCIEDADE

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FUNDAMENTOS DE CIÊNCIAS SOCIAIS
* OS CONCEITOS SOCIOANTROPOLÓGICOS DE INDIVÍDUO E SOCIEDADE
O objetivo das Ciências Sociais
Por Ciências Sociais , entende-se o conjunto de saberes relativos às áreas da Antropologia , Sociologia e Ciência Política.Assim o objetivo de estudo das Ciências Sociais é a sociedade em suas dimensões sociológicas ,antropológicas e políticas.
As Ciências Sociais fazem parte do grupo de saberes intitulados Ciências Humanas e apresentam métodos próprios de investigação dos fenômenos que analisam.
As áreas constitutivas das Ciências Sociais : Antropologia , Sociologia e Ciência Política.
Sociologia – A Sociologia estuda o homem e o universo sociocultural , analisando as inter-relações entre os diversos fenômenos sociais. Neste campo de conhecimento , a vida social é analisada a partir de diferentes perspectivas teóricas ,notadamente as que têm como base conceitual os estudos desenvolvidos por Émile Durkheim , Max Weber e Karl Marx . A partir dessas matrizes teóricas ,estudam-se os fatos sociais , as ações sociais ,as classes sociais ,as relações sociais ,as relações de trabalho ,as relações econômicas ,as instituições religiosas ,os movimentos sociais etc.
Antropologia – Na Antropologia privilegiam-se os aspectos culturais do comportamento de grupos e comunidades .Questões cruciais para o entendimento da vida em grupo , como alteridade ,diversidade cultural , etnocentrismo ,relativismo cultural ,são tratados por essa ciência ,que em seus primórdios estudava povos e grupos geográfica e culturalmente distantes dos povos ocidentais.Ao longo de seu desenvolvimento ,os antropólogos passaram a analisar grupos sociais relativamente próximos , buscando transformar o exótico ,o distante em familiar.
 
analisar grupos sociais relativamente próximos (Assim em sua história a Antropologia revelou estudos notáveis sobre sociedades indígenas e sociedade camponesa ,identificando suas diferentes visões de mundo, sistemas de parentesco ,formas de classificação ,cosmologias,linguagens etc. Também desenvolveu uma série de estudos sobre grupos sociais urbanos,enfatizando a diferenciação entre seus indivíduos,com base em critérios de raça ,cor ,etnia ,gênero,orientação sexual ,nacionalidade ,regionalidade , afiliação religiosa ,ideologia política ,sistemas de crenças e valores ,estilo de vida etc.
Ciência Política – Na Ciência Política analisam-se as questões ligadas às instituições políticas .Conceito de poder ,autoridade ,dominação são estudados por essa ciência. Analisam-se também as diferenças entre povo nação e governo ,bem como o papel do Estado como instituição legitimamente reconhecida como a detentora do monopólio da dominação e do controle de determinado território .Ao contrário de outras ciências ,as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade ,com fatos exteriores aos homens ,mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade.
A importância do estudo socioantropológico na compreensão da realidade.
O conhecimento científico da vida social não se baseia apenas no fato,mas na concepção do fato e na relação entre a concepção e o fato.Por estudar a ação dos homens em sociedade,de seus símbolos,sua linguagem ,seus valores e cultura ,das aspirações que os animais e das alterações que sofrem , as Ciências Sociais constituem ferramenta importante para o desenvolvimento da compreensão crítico-reflexiva da realidade.
Por essa razão as Ciências Sociais são utilizadas em diversos campos da atividade humana.
Campanhas publicitárias ,campanhas eleitorais ,elaboração de políticas públicas ,até mesmo a programação de redes de rádio e televisão levam cada vez mais em conta resultados de investigações socioantropológicas ,à medida que estas buscam entender as pessoas envolvidas em cada uma dessas atividades em suas crenças ,valores e idéias.
Com a velocidade das mudanças nos padrões morais das sociedades contemporâneas ,mais relevantes se tornam as análises que visam compreende-las.
Deslocamento de pessoas e grupos motivados pelo processo de globalização da economia que intensificou os fluxos migratórios em todo o planeta ,trocas culturais proporcionadas pelo estabelecimento de uma “ sociedade em rede” ,novos modelos de família e conjugalidade ,novas configurações no campo religioso ,entre outros ,constituem temas de trabalho de cientistas sociais contemporâneos.
Esses trabalhos são utilizados freqüentemente como fonte de reflexão por governos ,sociedade civil e indivíduos que buscam desenvolver sua capacidade de compreensão dos acontecimentos e planejamentos de ações com vistas à atuação na vida social.
O papel do indivíduo na sociedade.
A perspectiva socioantropológica aponta para uma relação dialógica entre indivíduo e sociedade. Não existem sociedades sem indivíduos e os indivíduos só se tornam verdadeiramente humanos por meio da socialização, processo pelo qual um indivíduo se torna um membro ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se de acordo com determinados atributos preconcebidos.
O indivíduo, assim, desempenha na realidade um papel duplo em relação à cultura. Segundo Ralph Linton (O indivíduo, a cultura e a sociedade), em circunstâncias normais, quanto mais perfeito seu condicionamento e conseqüente integração na estrutura social, tanto mais efetiva sua contribuição para o funcionamento uniforme do todo é mais segura sua recompensa. Entretanto, as sociedades existem e funcionam num mundo em perpétua mudança.
REFLEXÃO
“Como uma simples unidade no organismo social, o indivíduo perpetua o status quo. Como indivíduo, ajuda a transformá-lo quando há necessidade. Desde que nenhum ambiente se apresente completamente estacionário, nenhuma sociedade pode sobreviver sem o inventor ocasional e sem sua capacidade para encontrar soluções para novos problemas.”
Como nos ensina Albert Einstein (Por que o Socialismo ? )
O homem é ,simultaneamente,um ser solitário e um ser social.Enquanto ser solitário ,tenta proteger a sua própria existência e a daqueles que lhe são próximos,satisfazer os seus desejos pessoais e desenvolver as suas capacidades inatas.Enquanto ser social,procura ganhar o reconhecimento e afeição dos seus semelhantes,partilhar os seus prazeres ,confortá-los nas suas tristezas e melhorar as suas condições de vida.Apenas a existência destes esforços diversos e freqüentemente conflituosos respondem pelo caráter especial de um ser humano ,e a sua combinação específica determina até que ponto um indivíduo pode atingir um equilíbrio interior e pode contribuir para o bem-estar da sociedade.
É perfeitamente possível que uma força relativa destes dois impulsos seja ,no essencial ,fixada por herança.Mas a personalidade que finalmente emerge é largamente formada pelo ambiente em que um indivíduo acaba por se descobrir a si próprio durante o seu desenvolvimento,pela estrutura da sociedade em que cresce,pela tradição dessa sociedade ,e pelo apreço por determinados tipos de comportamento.O conceito abstrato de “ sociedade ” significa para o ser humano individual o conjunto das suas relações diretas e indiretas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas de gerações anteriores.O indivíduo é capaz de pensar ,sentir ,lutar e trabalhar sozinho ,mas depende tanto da sociedade -na sua existência física ,intelectual e emocional-que é impossível pensar nele,ou compreendê-lo ,fora da estrutura da sociedade.
É a “sociedade” que lhe fornece comida ,roupa ,casa ,instrumentos de trabalho ,língua ,formas de pensamento,e a maior parte do conteúdo do pensamento; a sua vida se tornou possível através do trabalho e da concretização dos milhões que já passaram e dos presentes.Tudo isso está escondido na pequena palavra “sociedade”.
É evidente portanto ,que a dependência do indivíduo em relação à sociedade é um fato da natureza que não pode ser abolido-tal como no caso de formigas e das abelhas.No entanto ,enquanto todo o processo de vida das formigase abelhas é reduzido ao menor pormenor por instintos hereditários rígidos ,o padrão social e as inter-relações dos seres humanos são muito variáveis e susceptíveis de mudança .
A memória ,a capacidade de fazer novas combinações,o dom da comunicação oral tornaram possíveis os desenvolvimentos entre os seres humanos que não são ditados por necessidades biológicas.Estes desenvolvimentos ,manifestam-se nas tradições ,instituições e organizações;na literatura;nas obras científicas e de engenharia; nas obras de arte.Isto explica a forma como,num determinado sentido ,o homem pode influenciar sua vida através de sua própria conduta e como neste processo o pensamento e a vontade consciente podem desempenhar um papel
Abaixo expomos a letra do samba intitulado “Chico Brito”, composto por Wilson Batista e Afonso Teixeira em 1949, popularizado na voz de Paulinho da Viola.
Clique aqui para ouvir a música. 
“Lá vem o Chico Brito, Descendo o morro nas mãos do Peçanha, É mais um processo! É mais uma façanha! Chico Brito fez do baralho seu melhor esporte, É valente no morro, Dizem que fuma uma erva do norte. Quando menino teve na escola, Era aplicado, tinha religião, Quando jogava bola era escolhido para capitão, Mas, a vida tem os seus reveses, Diz sempre Chico defendendo teses, Se o homem nasceu bom, e bom não se conservou, A culpa é da sociedade que o transformou”
A narrativa apresentada mostra o malandro Chico Brito, indivíduo que vive na criminalidade e é preso a toda hora. Os autores, porém, não atribuem sua condição a uma falha de caráter. Chico era, em princípio, “tão bom” como qualquer outra pessoa, mas o “sistema” não lhe deixara outra oportunidade de sobrevivência que não a marginalidade. 
Considerando a proposta da música e a leitura dos textos sugeridos, faça uma breve análise sobre a influência da sociedade em nossa vida. O homem faz a sociedade ou a sociedade faz o homem?  Pesquise em jornais, revistas, internet ou livros casos clássicos em que se evidencia a mudança de comportamento do indivíduo em virtude da influência do meio social em que vive. 
Por que Socialismo?[N1]
Albert Einstein
Maio 1949
�
É aconselhável que alguém que não é um especialista em assuntos econômicos e sociais expresse suas opiniões acerca do tema do socialismo? Creio, por uma quantidade de razões, que sim.
Consideramos primeiramente a questão desde o ponto de vista do conhecimento científico. Poderia parecer que não há diferenças metodológicas essenciais entre a astronomia e a economia: os cientistas de ambos os campos tentam descobrir leis de aceitabilidade geral para um grupo circunscrito de fenômenos com o objetivo de fazer a interconexão destes fenômenos tão claro quanto for possível. Mas na realidade tais diferenças existem. O descobrimento de leis gerais em economia se complica pela circunstância de que os fenômenos econômicos observados são freqüentemente influenciados por muitos fatores que são muito difíceis de avaliar separadamente. Além disso, a experiência que se acumulou desde o princípio do chamado período civilizado da história humana tem sido — como é sabido — grandemente influenciada e limitada por causas cuja natureza não são de nenhum modo exclusivamente econômicas. Por exemplo, a maior parte dos Estados na história devem sua existência à conquista. Os povos conquistadores se estabeleceram, legal e economicamente, como a classe privilegiada do país conquistado. Atribuíram-se o monopólio da posse da terra e designaram para o sacerdócio alguém de suas fileiras. Os sacerdotes, com o controle da educação, fizeram da divisão de classes da sociedade uma instituição permanente e criaram um sistema de valores mediante o qual dali em diante o povo foi, em grande medida inconscientemente, guiado em sua conduta social.
Mas a tradição histórica é, por assim dizer, de ontem; em nenhuma parte temos realmente superado o que Thorstein Veblen chamou de “a fase depredadora” do desenvolvimento humano. Os feitos econômicos observáveis pertencem a esta fase e suas leis não são aplicáveis a outras fases. [Primeiro] Dado que o propósito real do socialismo é superar e avançar além da fase depredadora do desenvolvimento humano, a ciência econômica em seu estado atual não pode deixar muita luz sobre a sociedade socialista do futuro.
Segundo, o socialismo está dirigido para um fim social-ético. A ciência, sem embargo, não pode criar fins nem, ao menos, induzí-los nos seres humanos. Mas os fins em si mesmos são concebidos por personalidades com elevados ideais éticos — estes propósitos não são rígidos senão vitais e vigorosos — são adotados e levados adiante por aqueles muitos seres humanos que — quase inconscientemente — determinam a lenta evolução da sociedade.
Por estas razões, deveríamos estar atentos a não sobrestimar a ciência e os métodos científicos quando se trata de problemas humanos, e não deveríamos assumir que os especialistas são os únicos que têm direito e expressar-se sobre as questões da organização da sociedade.
Inumeráveis vozes têm afirmado desde já algum tempo que a sociedade humana está passando por uma crise, que sua estabilidade está gravemente prejudicada. É característico desta situação que alguns indivíduos se sintam indiferentes, ou integrados, ou hostis ao grupo que pertencem, seja ele grande ou pequeno. Para ilustrar este ponto, deixem-me registrar aqui uma experiência pessoal. Recentemente discuti com um homem inteligente e bem disposto a ameaça de outra guerra, a que em minha opinião colocaria seriamente em perigo a existência da humanidade, e comentei que somente uma organização supranacional poderia proteger-nos daquele perigo. Depois, o homem, calmamente e friamente, me disse: “Por que você se opõe tão profundamente ao desaparecimento da raça humana?”
Estou seguro que apenas um século atrás ninguém teria afirmado tão levianamente algo semelhante. É a declaração de um homem que se esforçou em vão para alcançar um equilíbrio interior e basicamente perdeu a esperança de alcançá-lo. É a expressão de uma solidão e isolamento de que muita gente sofre hoje em dia. Qual é a causa? Tem uma saída?
É fácil fazer estas perguntas, mas é difícil respondê-las com alguma segurança. Devo tratar, contudo, da melhor maneira que se pode, mesmo eu sendo consciente da ação de nossos sentimentos e esforços que podem ser contraditórios e obscuros e que não podem ser expressados em fórmulas fáceis e simples.
O homem é, ao mesmo tempo, um ser solitário e um ser social. Como ser solitário, busca proteger sua própria existência e aqueles que são mais próximos, para satisfazer seus desejos pessoais e desenvolver suas habilidades inatas. Como ser social, busca conquistar o reconhecimento e o afeto de seus semelhantes para compartilhar o seu prazer, confortá-los com sua solidariedade e melhorar suas condições de vida. Só a existência destes esforços, freqüentemente em conflito, podem dar conta do caráter especial do homem, e sua combinação específica determina até que ponto um indivíduo pode alcançar o equilíbrio interior e contribuir para o bem estar da sociedade. É bem possível que a força relativa destes dois impulsos diversos esteja, basicamente, fixada pela herança. Mas a personalidade que finalmente emerge está em grande medida formada pelo entorno em que o homem se encontra durante o seu desenvolvimento, pela estrutura da sociedade em que cresce, pela tradição desta sociedade, e por sua valoração de diversos tipos de condutas. O conceito abstrato “sociedade” significa para o indivíduo a soma de suas relações, diretas e indiretas, desde os seus contemporâneos até as gerações anteriores. O individuo é capaz de pensar, sentir, atuar, e trabalhar por si mesmo, mas sua dependência da sociedade é tanta — em sua existência emocional e intelectual — que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora do marco da sociedade. É a “sociedade” quem lhe proporciona comida, roupas, ferramentas de trabalho, linguagem, as formas de pensamento, e a maior parte do conteúdo do pensamento;sua vida se faz possível graças ao trabalho e às conquistas dos muitos milhões, contemporâneos e antepassados, que estão escondidos detrás da pequena palavra “sociedade”.
É evidente então que a dependência do indivíduo pela sociedade é um feito natural que não pode ser abolido — exatamente como no caso das formigas e das abelhas. Sem dúvida, enquanto todas as ações das formigas e das abelhas estão fixadas até o menor detalhe por instintos rígidos e hereditários, os capatazes sociais e as interrelações dos seres humanos são muito variáveis e suscetíveis à mudança. A memória, a capacidade de realizar novas combinações, o dom da comunicação oral têm feito possíveis desenvolvimentos nos seres humanos que não são ditados por necessidades biológicas. Estes desenvolvimentos se manifestam nas tradições, nas instituições e nas organizações; na literatura; nos avanços científicos e nos engenhos; nas obras de arte. Isto explica como ocorre que, em certo sentido, o homem possa influir sobre sua vida através de sua própria conduta e que neste processo o pensamento e os desejos conscientes são muito importantes.
O homem adquire ao nascer, por meio de herança, uma continuação biológica que é fixa e inalterável, que inclui os impulsos naturais que são característicos da espécie humana. Ademais, adquire durante sua vida uma constituição cultural que adota da sociedade por meio da comunicação e através de muitas outras formas. É esta constituição cultural que, com o passar do tempo, está sujeita às mudanças e que determina em grande medida a relação entre o indivíduo e a sociedade. A antropologia moderna nos ensinou, usando o estudo das chamadas culturas primitivas, que o comportamento social dos seres humanos pode apresentar grandes diferenças, dependendo dos padrões culturais prevalecentes e dos tipos de organização que predominam na sociedade. É nisto que podem fundar suas esperanças aqueles que se esforçam em melhorar as condições dos homens: os seres humanos não estão condenados, por sua constituição biológica, a aniquilarem-se uns aos outros, ou à mercê de um destino cruel e de castigos.
Se nos perguntamos como deveriam ser transformadas a estrutura da sociedade e a atitude do homem para fazer a vida tão satisfatória como possível, deveríamos estar conscientes de que somos incapazes de modificar certas condições. Como foi mencionado antes, a natureza biológica do homem não está, a todos efeitos práticos, sujeita à mudanças. Ademais, as condições criadas pelos desenvolvimentos tecnológicos e demográficos dos últimos séculos chegaram para ficar. Nos locais com população relativamente densa, com os produtos que são necessários para sua existência, uma profunda divisão do trabalho e um aparato altamente centralizado são absolutamente necessários. Os tempos – que em perspectivas parecem tão idílicos – em que homens ou grupos pequenos podiam ser completamente auto-suficientes se foram para sempre. É apenas um leve exagero dizer que a humanidade já constitui uma comunidade planetária de produção e consumo.
É alcançado agora o ponto aonde posso indicar brevemente o que para mim constitui a essência da crise de nosso tempo. Está relacionado com o individuo e sua relação com a sociedade. O indivíduo está mais consciente do que nunca de sua dependência da sociedade. Mas não sente esta dependência como um traço positivo, como um laço orgânico, como uma força protetora, mas uma ameaça a seus direitos naturais, ou a sua existência econômica. Por outro lado, sua posição na sociedade é tal que os impulsos egocêntricos de sua constituição são constantemente acentuados, enquanto que seus impulsos sociais, naturalmente mais débeis, se deterioram progressivamente. Todos os seres humanos, em qualquer posição da sociedade, sofrem este deterioramento progressivo. Involuntários prisioneiros de seu próprio egocentrismo se sentem inseguros e privados do mais inocente e simples desfrute da vida. O homem só pode encontrar o sentido da vida, curta e perigosa como é, consagrando a sociedade.
A anarquia econômica da sociedade capitalista de hoje em dia é, em minha opinião, a verdadeira fonte dos males. Vemos diante de nós uma enorme comunidade de produtores cujos membros se esforçam incessantemente em privar o outro dos frutos de seu trabalho coletivo — não pela força mas cumprindo inteiramente as regras legalmente estabelecidas. A este respeito é importante dar-se conta de que os meios de produção — isto é: toda a capacidade produtiva necessária para produzir bens de consumo assim como bens de capital adicionais — podem ser — e em sua maioria o são efetivamente — a propriedade privada de alguns indivíduos.
Para simplificar, na discussão que se segue chamarei “trabalhadores” os que participam na propriedade dos meios de produção, apesar de isto não corresponder ao uso corrente do termo. Usando os meios de produção, o trabalhador produz novos bens que transformam-se em propriedade do capitalista. O ponto essencial deste processo é a relação entre o que o trabalhador produz e o que lhe pagam, ambos medidos em termos de valor real. Em quanto o contrato do trabalho é “livre”, o que o trabalhador recebe está determinado não pelo valor real dos bens que produz mas por suas necessidades mais básicas e pela necessidade de força de trabalho por parte dos capitalistas em relação ao número de trabalhadores competindo por empregos. É importante entender que nem sequer na teoria o salário do trabalhador é determinado pelo valor do que produz.
O capital privado tende a se concentrar em poucas mãos, em parte devido à competência entre os capitalistas, e em parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho alentam a formação de unidades maiores de produção em detrimento das menores. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia do capital privado cujo enorme poder não pode ser controlado efetivamente nem sequer por uma sociedade política democraticamente organizada. Isto é assim porque os membros dos corpos legislativos são selecionados pelos partidos políticos, em grande medida financiados ou de alguma maneira influenciados por capitalistas privados que, por todos efeitos práticos, separam o eleitorado da legislatura. A conseqüência é que os representantes do povo não protegem suficientemente os interesses dos grupos não privilegiados da população. Por outra parte, nas condições atuais os capitalistas privados controlam, direta ou indiretamente, as principais fontes de informação (imprensa escrita, rádio, educação). É então extremamente difícil, e por certo impossível na maioria dos casos, que cada cidadão possa chegar às conclusões objetivas e fazer uso inteligente de seus direitos políticos.
A situação prevalecente em uma sociedade baseada na propriedade privada do capital está então caracterizada por dois princípios mestres: primeiro, os meios de produção são propriedade de indivíduos, e estes dispõem deles como melhor lhes parecer; segundo, o contrato de trabalho é livre. Supostamente, não existe sociedade capitalista pura, neste sentido. Em particular, deve-se assinalar que os trabalhadores, por meio de grandes e amargas lutas políticas, tem conseguido uma forma um tanto melhorada do “livre contrato de trabalho” para certas categorias de trabalhadores. Mas, tomada como um todo, a economia atual não difere muito do capitalismo “puro”.
Esta mutilação dos indivíduos é o que considero o pior mal do capitalismo. Nosso sistema educativo como um todo sofre este mal. Uma atitude exageradamente competitiva se inculca no estudante, que é treinado para adorar o êxito da aquisição como uma preparação para sua futura carreira.
Estou convencido de que há somente uma forma de eliminar estes graves malefícios: através do estabelecimento de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educacional que seja orientado para fins sociais. Em tal economia, os meios de produção são propriedade da própria sociedade e utilizados de maneira planejada. Uma economia planejada, que ajuste a produção às necessidadesda comunidade, distribuiria o trabalho entre todos aptos a trabalhar e garantiria os meios de vida de todos, homem, mulher e criança. A educação do indivíduo, além de promover suas próprias habilidades inatas, intentaria desenvolver em um sentido de responsabilidade por seu próximo, em lugar da glorificação do poder e do êxito em nossa sociedade atual.
Sem embargo, é preciso recordar que uma economia planificada não é todavia o socialismo. Uma economia planificada como tal pode ser acompanhada pela completa escravização do indivíduo. A realização do socialismo requer a solução de alguns problemas sócio-políticos extremamente difíceis: “como é possível, considerando a muito abarcadora centralização do poder, conseguir que a burocracia não seja todo poderosa e arrogante? Como podem proteger os direitos do indivíduo e mediante ele assegurar um contrapeso democrático ao poder da burocracia?”
Ter claras as metas e problemas do socialismo é de grande importância nesta época de transição. Dado que, nas circunstâncias atuais, a discussão livre e sem travas destes problemas são um grande tabú, considero a fundação desta revista [N2] um importante serviço público.

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