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FATEB FACULDADE DE TELÊMACO BORBA Credenciada pela Portaria 875 de 23/06/2000 – DOU de 27/06/2000 CNPJ 00.904.138/0001-15 1 DIREITO TRIBUTÁRIO II – AULA 09 OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA – RESPONSABILIDADE 1. RESPONSABILIDADE ASPECTOS INTRODUTÓRIOS Após verificarmos a disposição do art. 121 do CTN, o qual identifica o responsável como sujeito passivo da obrigação principal, tendo como responsabilidade a obrigação de pagar tributo ou penalidade, desde que a lei o vincule a obrigação principal, passaremos a analisar a responsabilidade no Código Tributário Nacional. Assim como o contribuinte, o responsável também se vincula a obrigação principal de pagar tributo ou penalidade. Sua obrigação decorre de previsão expressa de lei. Com base nessa disposição o CTN trouxe um capítulo dedicado à responsabilidade, organizando-a em: a) responsabilidade dos sucessores; b) responsabilidade de terceiros; e c) responsabilidade por infrações. No início desse capítulo, traz o Código, em seu art. 128 que a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação. Ainda em comparação aos dois dispositivos, o art. 121 estabelece que qualquer pessoa poderá ser o responsável pelo cumprimento da obrigação tributária, desde que não esteja direta e pessoalmente relacionado com a situação que constitua o respectivo fato gerador. Noutro giro, o art. 128 restringe esse alcance quando elenca como responsável pessoa vinculada ao fato jurídico tributário. Assim, não é qualquer pessoa que pode ser considerada responsável na relação jurídica tributária, mas somente aqueles que possuem vínculo com o fato. Destaca o doutrinador Luciano Amaro que não é qualquer tipo de vínculo com o fato gerador que pode ensejar a responsabilidade de terceiro. Para isso ser possível, é necessário que a natureza do vínculo permita a esse terceiro, elegível como responsável, fazer com que o tributo seja recolhido sem onerar seu próprio bolso1. Ainda em mesmo bojo, exemplifica a situação do tabelião, o qual pode ser compelido a recolher o imposto sobre transmissão, como responsável, mas ele tem a condição de não lavrar o ato sem que o interessado recolha o tributo. Nos dizeres de Hugo de Brito Machado, essa responsabilidade há de ser atribuída a quem tenha relação com o fato gerador, isto é, a pessoa vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação (CTN, art. 128). Não uma vinculação pessoal e direta, pois em assim sendo configurada está a condição de contribuinte. Mas é indispensável uma 1 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005, pp. 312. FATEB FACULDADE DE TELÊMACO BORBA Credenciada pela Portaria 875 de 23/06/2000 – DOU de 27/06/2000 CNPJ 00.904.138/0001-15 2 relação, uma vinculação, com o fato gerador para que alguém seja considerado responsável, vale dizer, sujeito passível indireto2. Dessa forma, ao mesmo tempo em que a autoridade tributária escolhe uma pessoa, vinculada ao fato jurídico tributário, para ser responsável, concede a ela dispositivos que permitam o exercício dessa responsabilidade sem que seja onerada por isso. Além disso, o art. 128 dispõe que eleito o responsável, o contribuinte será excluído de sua responsabilidade ou responderá supletivamente pelo cumprimento total ou parcial da referida obrigação. Pode a lei eleger o responsável e excluir o contribuinte da relação jurídica tributária. Como também pode colocá-lo como subsidiário nessa mesma relação. No primeiro caso, o responsável fica obrigado ao pagamento integral da obrigação, excluindo-se o contribuinte. No segundo, o Fisco poderá cobrar tanto do responsável como do contribuinte. Sacha Calmon Navarro Coelho3 classifica a responsabilidade com base na doutrina de Rubens Gomes de Sousa. Para o brilhante autor, a responsabilidade ocorre por transferência ou substituição. Esta terminologia não consta do Código Tributário, mas sim da criação doutrinária. A primeira ocorre quando a obrigação tributária depois de ter surgido contra uma pessoa determinada (que seria o sujeito passivo direto), entretanto, em virtude de um fato posterior, transfere-se para outra pessoa diferente. Como exemplo, tem-se que José pratica o fato gerador e deve pagar o imposto. Contudo, em virtude de fato posterior (morte, negócio jurídico, falência, inadimplemento ou insolvência etc), a lei determina que a um terceiro seja transferido o dever de pagar. Este terceiro, que podemos chamar de Roberto, torna-se por lei responsável pelo tributo, originariamente devido por José. A segunda ocorre quando, em virtude de uma disposição expressa de lei, a obrigação tributária surge desde logo contra uma pessoa diferente daquela que esteja em relação econômica com o ato, o fato ou negócio tributado. Nesse caso é a própria lei que substitui o sujeito passivo direto por outro indireto. Outro exemplo, quando José pratica o fato gerador, e Roberto, por isso, deve pagar o tributo. A norma não é alterada. A lei prevê desde logo que, se José pratica um fato jurídico tributário, Roberto deve pagar. Em termos jurídicos, não há transferência de dever entre sujeitos passivos. Feitas essas considerações, passamos a analisar cada uma das formas de responsabilidade trazida pelo CTN. 2 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 23. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Malheiros, 2003, pp 148. 3 COLELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 10ª ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2009, pp 634 – 635. FATEB FACULDADE DE TELÊMACO BORBA Credenciada pela Portaria 875 de 23/06/2000 – DOU de 27/06/2000 CNPJ 00.904.138/0001-15 3 2. DA RESPONSABILIDADE POR SUCESSÃO - TRANSFERÊNCIA A responsabilidade por sucessão é uma modalidade de responsabilidade por transferência, em que o sujeito passivo da obrigação tributária principal é sucedido no pólo passivo. O art. 129 do CTN adverte que as normas sobre sucessão são aplicadas aos créditos tributários definitivamente constituídos ou em curso de constituição à data dos atos nela referidos, e aos constituídos posteriormente aos mesmos atos, desde que relativos a obrigações tributárias surgidas até a referida data. Os dispostos sobre responsabilidade por sucessão são aplicados aos créditos definitivamente constituídos. Isso significa que a obrigação tributária definitivamente constituída pelo lançamento subsume-se à aplicação dessas regras. Também será aplicada aos créditos em curso de constituição, ou seja, aos impostos que ainda não foram lançados, mas o fato jurídico tributário já ocorreu. Por último, será aplicada referente aos atos posteriormente constituídos, mas que os fatos jurídicos tributários tenham ocorrido antes da sucessão. O que o dispositivo quer transmitir é que às vezes há a subsunção do fato à hipótese de incidência, mas ainda não foi providenciada a constituição definitiva desse tributo. Nesse caso, também há a responsabilidade por transferência. Assim, a responsabilidade dos sucessores aplica-se tanto aos créditos definitivamente constituídos, quanto aos em curso de constituição, até a data em que ocorreu a sucessão. Ou seja, o sucessor responde também pelos créditos que ainda não foram constituídos, desde que o direito do Fisco ainda não tenha decaído4. O art. 130 do CTN traz que oscréditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria, sub-rogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a prova de sua quitação. O valor do imposto cujo fato jurídico tributário seja a propriedade, o domínio útil ou a posse do bem imóvel, assim como as taxas de prestação de serviços inerentes a esse bem, ou a contribuição de melhoria, sub-rogam-se na pessoa do adquirente. Assim, na aquisição de imóvel, se existir algum imposto, taxa e contribuição de melhoria, o sujeito passivo da obrigação principal será o novo adquirente do imóvel. O parágrafo único do art. 130 inclui a arrematação em hasta pública como forma de transmissão da responsabilidade pelo pagamento do tributo. A pessoa que adquire um imóvel nessas condições, fica responsável pelo pagamento do crédito, sendo este incluído no preço. 4 FABRETTI, Láudio Camargo. Código Tributário Nacional Comentado – com as alterações da LC nº 104/2001. 3ª ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Atlas, 2001. pp.161. FATEB FACULDADE DE TELÊMACO BORBA Credenciada pela Portaria 875 de 23/06/2000 – DOU de 27/06/2000 CNPJ 00.904.138/0001-15 4 O art. 131 do mesmo código dispõe sobre a pessoalidade da responsabilidade, quando estabelece que são pessoalmente responsáveis pelo crédito tributário: a) o adquirente ou remitente (aquele que faz o resgate do bem), pelos tributos relativos aos bens adquiridos ou remidos; b) o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data de partilha ou adjudicação (transferência do bem penhorado ao credor) limitada esta responsabilidade ao montante do quinhão do legado ou da meação; e c) o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura da sucessão. No item ‘a’, quando a pessoa adquire um bem, fica pessoalmente responsável pelos tributos relativos ao bem adquirido. No caso da remição, o código trata da situação em que ocorre o pagamento da dívida por terceiro, o qual é denominado remitente, e por esse pagamento adquire a propriedade do bem remido. Em ambos os casos os tributos referentes ao bem passam a ser da responsabilidade dele. O item ‘b’, nos casos de inventário e arrolamento, os tributos devidos pelo de cujus até a data da partilha ou adjudicação são de responsabilidade pessoal dos sucessores, herdeiros ou legatários, e do cônjuge meeiro. Contudo, a responsabilidade pessoal está limitada ao quinhão ou adjudicação. Quanto ao espólio, seus bens e rendas continuam a ser tributados, e a responsabilidade perdura até a abertura de seu inventário. Os artigos 132 e 133 disciplinam a responsabilidade pela sucessão tributária das pessoas jurídicas de direito privado e de empresas individuais. O art. 132 prevê que a pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação ou incorporação de outra ou em outra, é responsável pelos tributos devidos até a data do ato pelas pessoas jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas ou incorporadas. Nos dizeres de Luciano Amaro5, a pessoa jurídica que resulta da fusão de outras responde pelos tributos devidos pelas pessoas jurídicas fundidas, assim como a incorporadora responde pelos tributos da incorporada. O dispositivo refere também a transformação de pessoa jurídica, mas, nesta hipótese, não existe extinção da pessoa jurídica nem sucessão; a empresa continua devedora dos tributos que ela mesma já devia antes de mudar. O parágrafo único do referido artigo adiciona que o disposto aplica-se aos casos de extinção de pessoas jurídicas de direito privado, quando a exploração da respectiva atividade seja continuada por qualquer sócio remanescente ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual. Extinta a pessoa jurídica de direito privado, se um dos sócios continuar a exploração da mesma atividade econômica, sob a mesma ou outra razão social, ou sob 5 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005, pp. 322. FATEB FACULDADE DE TELÊMACO BORBA Credenciada pela Portaria 875 de 23/06/2000 – DOU de 27/06/2000 CNPJ 00.904.138/0001-15 5 firma individual, ficará responsável pelo pagamento dos tributos referentes à pessoa jurídica anterior. O art. 133 regula a sucessão tributária na hipótese de aquisição de estabelecimento para a continuação da exploração de atividade comercial, industrial ou profissional. Nos dizeres do artigo, a pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até a data do ato. Essa responsabilidade será integral quando o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade. Por outro lado, será subsidiária com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses, a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. Portanto, a sucessão é uma das modalidades de transferência de responsabilidade pelo crédito tributário. 3. DA RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS – SUBSTITUIÇAO O art. 134 traz a responsabilidade de terceiros caso não se possa cobrar do sujeito passivo da obrigação tributária. O terceiro escolhido pela lei assume a posição do sujeito passivo da relação jurídica tributária, de forma solidária, e a exigibilidade do crédito segue voltada para ele. A disposição do art. 134 alude que nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis: a) os pais; b) os tutores e curadores; c) os administradores de bens de terceiros; d) o inventariante; e) o síndico e o comissário; f) os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício; e g) os sócios. Os pais serão responsáveis pelos tributos devidos por seus filhos menores. Se o filho menor adquiriu renda, ou prestou serviço, o pai ficará como responsável solidário pelos impostos IR e ISS gerados da ocorrência do fato jurídico tributário. Os tutores e curadores também respondem solidariamente pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados. Os administradores de bens de terceiros respondem pelos tributos devidos por estes. Se uma pessoa está como administradora dos bens de outra pessoa, e existem tributos a serem pagos, estes ficam de responsabilidade do administrador, em caso de não ser possível a cobrança do proprietário dos bens. FATEB FACULDADE DE TELÊMACO BORBA Credenciada pela Portaria 875 de 23/06/2000 – DOU de 27/06/2000 CNPJ 00.904.138/0001-15 6 O inventariante torna-se responsável pelos tributos devidos pelo espólio. Tal disposição já encontrava guarida no art. 131, quando atribuiu responsabilidade pessoal ao espólio pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura da sucessão. No artigo seguinte, a responsabilidade passa a ser do inventariante. O síndico e o comissário são responsáveis pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário. Essas figuras foram substituídas com a lei 11.101/2005, com a estipulação da lei de falênciae recuperação judicial, a qual extinguiu a concordata. Onde está síndico, deve-se entender administrador judicial. Os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício ficam responsáveis pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício. Lançado o tributo pelo tabelião, se o contribuinte não recolher, fica aquele responsável pelo seu pagamento. Os sócios são responsáveis pelos tributos gerados pela atividade econômica da sociedade quando de sua liquidação. Com o fim da sociedade, os sócios ficam responsáveis pelo pagamento dos tributos inerentes a ela. O artigo 135 estabelece que são pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes às obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração da lei, contrato social ou estatutos: a) as pessoas referidas no art. 134; b) os mandatários, prepostos e empregados; e c) os diretores, gerentes ou representantes de pessoa jurídicas de direito privado. O artigo exclui a figura do contribuinte como sujeito passivo da obrigação principal, quando determina que as pessoas elencadas em seus incisos respondam pessoalmente pelo pagamento do crédito. Para que isso ocorra, necessário se faz o cumprimento de um requisito: a prática de atos com excesso de poderes ou infração a lei, contrato social ou estatutos. Se não existirem essas tipificações de condutas não cabe a ocorrência da responsabilidade pessoal dita pelo artigo 135. Percebe-se que o legislador buscou colocar mais pessoas no pólo passivo para que o Fisco adquirisse um leque maior de devedores e pudesse satisfazer o crédito tributário. Para o próximo estudo, abordaremos a responsabilidade por infrações. QUESTÕES 1) Discorra sobre a responsabilidade trazida pelo artigo 128 do CTN. 2) Qual a divisão didática trazida pela doutrina para tipificar a responsabilidade? Explique cada uma. 3) Discorra sobre a responsabilidade por sucessão. 4) Discorra sobre a responsabilidade de terceiros e a responsabilidade pessoal de terceiros. 5) Como ocorre a responsabilidade da pessoa jurídica de direito privado? Explique sua resposta.
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