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Aula 12 SIA - Civil II - 2013

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Curso de Direito Civil II 
Prof. Ciro Ferreira dos Santos
Aula 12 – INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES
1. Inadimplemento
a. Inadimplemento absoluto
b. Inadimplemento Culposo
c. Inadimplemento Fortuito
2. Inadimplemento relativo - Mora
a. Mora do devedor
b. Mora do Credor
c. Purgação e cessação da mora
3. Violação positiva do contrato
Estudadas as modalidades de pagamento, passa-se à análise do inadimplemento das obrigações que deve ser sempre considerado uma exceção, uma vez que a regra é que as obrigações sejam pontualmente e espontaneamente cumpridas.
Ensinam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2008, p. 376) que o adimplemento representa então a efetividade da autonomia privada à luz do princípio constitucional da solidariedade (art. 3º., I, da CF), de forma a garantir que a relação obrigacional preserve a igualdade material de seus partícipes e, consequentemente, a sua liberdade (art. 421, CC).
Então, se o adimplemento é a realização do conjunto de interesses previsto numa relação obrigacional, inadimplemento, segundo Paulo Nader (2010, p. 432-433), é o descumprimento, total ou parcial, de uma obrigação de dar, fazer ou não fazer; é o não pagamento de dívida nas condições fixadas em negócio jurídico. [...]. 
Adimplemento ocorre apenas quando a satisfação do credor se faz com o objeto da prestação previsto no negócio jurídico, no lugar e no prazo previstos. É indiferente para a caracterização da inadimplência, que o pagamento se faça pelo devedor propriamente ou por terceiro, interessado ou não.
O inadimplemento das obrigações pode ser absoluto quando a obrigação não foi cumprida (total ou parcialmente) e nem poderá sê-lo de forma útil ao credor; relativo que são considerados os casos de mora, ou seja, a prestação, ainda que cumprida tardiamente, tem utilidade para o credor; e ainda pode decorrer de violação positiva do contrato. 
O inadimplemento pode ser total quando se refere à totalidade do objeto; e pode ser parcial
quando a prestação não foi cumprida em um ou vários de seus aspectos.
Sobre o inadimplemento absoluto, dispõe o art. 389, CC, que não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. 
Pressupõe, portanto, o não cumprimento voluntário da obrigação (inadimplemento culposo ou voluntário). Sobre a responsabilidade contratual aqui prevista, é necessário observar que a intensidade da culpa não afeta a valoração das perdas e danos, restringindo-se sua importância na análise do descumprimento se se tratar de contrato benéfico ou oneroso segundo o art. 392, CC: nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.
Ainda sobre o inadimplemento absoluto, ensinam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2008, p. 391-392) que no que concerne à impossibilidade do objeto da prestação, o inadimplemento absoluto poderá ser total ou parcial, conforme ocorra o perecimento ou apenas a deterioração da coisa. [...]. Mas o inadimplemento absoluto também pode decorrer de fato relativo ao interesse do credor, ou seja, a mora do devedor faz com que a prestação cumprida tardiamente já não seja mais útil ao credor, equiparando-se o atraso do devedor ao descumprimento definitivo da prestação. 
No entanto, salientam os autores (2008, p. 393) que não basta uma diminuição do interesse do credor pela prestação, em face da infração ao combinado; fundamental é a completa perda da necessidade e utilidade da coisa em face do descumprimento. A viabilidade da prestação sempre será aferida pelo ângulo do interesse econômico do credor em receber, não do devedor em prestar.
Sobre a utilidade da prestação complementa Inácio de Carvalho Neto (2009, p. 361): ?Agostinho Alvim levanta duas questões importantes: 
a) Se o devedor deixar de solver a obrigação por longo espaço de tempo após a caracterização da mora, o inadimplemento relativo passa a ser absoluto, ainda que a obrigação seja útil ao credor; 
b) E se o devedor não cumprir a obrigação simplesmente porque assim não quis e que não pretende adimpli-la no futuro? 
Caso qualquer dessas indagações tivesse resposta afirmativa, o fundamento para a diferenciação entre a mora e o inadimplemento absoluto estaria sendo modificado da utilidade da prestação para o tempo de atraso ou para o elemento volitivo do devedor. 
Em ambas as situações acima, havendo utilidade ao credor no cumprimento do atrasado da obrigação, há mora e não adimplemento absoluto. O que importa é apenas o critério econômico de possibilidade de recebimento atrasado útil ao credor?.
O inadimplemento absoluto pode decorrer de causas imputáveis ao devedor e de causas que não lhe podem ser imputadas. Tecnicamente, só se pode falar em inadimplemento nas primeiras situações, enquanto nas segundas o mais correto é falar em descumprimento da obrigação.
No entanto, a doutrina costuma falar em inadimplemento fortuito ou involuntário quando o descumprimento decorre de caso fortuito e força maior. 
Nesses casos, circunstâncias estranhas à vontade das partes determinam a impossibilidade da prestação. Assevera o art. 393, CC, que o devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior se expressamente não se houver por eles responsabilizado e se não estiver em mora (art. 399, CC).
O Código Civil não diferenciou caso fortuito e força maior porque seus efeitos são os mesmos, mas, em geral, considera-se: 
a) caso fortuito designa fato alheio à vontade das partes, ligado ao comportamento humano, ou ao risco da atividade...; 
b) força maior são acontecimentos externos ou fenômenos naturais. 
As duas categorias são marcadas pela inevitabilidade e por serem estranhos à vontade das partes (fora dos limites da culpa).
Deve-se lembrar que são requisitos para a verificação do caso fortuito e da força maior: 
a) naturalidade do evento, ou seja, é necessário que o acontecimento seja natural; 
b) imprevisibilidade do evento; 
c) inevitabilidade do evento; 
d) irresistibilidade do evento; 
e) ausência de culpa do agente (Inácio de Carvalho Neto, 2009, p. 363). 
Já o inadimplemento de obrigações negativas ocorre no momento em que o devedor pratica o ato do qual deveria se abster (art. 390, CC), independente de notificação ou interpelação. Em todas as hipóteses haverá inadimplemento absoluto, uma vez que o simples ato de fazer o que deveria não fazer já caracteriza o descumprimento.
Então, pressupostos do inadimplemento: a) existência de obrigação válida; b) falta de pontualidade; c) liquidez do crédito.
Vale lembrar que o patrimônio do devedor é a garantia do cumprimento da obrigação (art. 391, CC), excluindo-se apenas os bens impenhoráveis e os de família que não respondem por dívidas pessoais (via de regra). No entanto, deve o professor destacar que há uma forte tendência em acautelar-se o devedor com a necessidade de preservação de um patrimônio mínimo composto por bens vitais e necessário à manutenção das necessidades essenciais do ser humano (Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, 2008, p. 381).
Ensina Luiz Edson Fachin (2006, p. 271-281) que “mínimo” e “máximo” podem não ser duas espécies do gênero “extremo”. São as barreiras que fixam a essência de cada coisa e delimitam o seu poder e as propriedades. 
A sustentação do mínimo não quantifica nem qualifica o objeto. [...]. É de equilíbrio que se vale este texto. De uma quantidade suscetível de diferentes grandezas ou de uma grandeza suscetível de vários estados, em que o mínimo não seja o valor menor, ou o menor possível, e o máximo não seja necessariamente o valor maior, ou o maior possível. Próximos ou distintos, os conceitos jurídicos e as categorias não jurídicas podem dialogar. [...]. 
É um conceito apto à construção do razoável e do justo aocaso concreto, aberto, plural e poroso ao mundo contemporâneo.?
MORA
Mora é o retardamento ou o imperfeito cumprimento da obrigação ou ainda a recusa injusta do credor em receber a prestação. Trata-se de modalidade de inexecução da obrigação decorrente de culpa do credor ou do devedor e conhecida como inadimplemento relativo.
Modalidades de mora (art. 394, CC):
1. Mora do devedor (mora “solvendi” ou mora “debitoris”): ocorre a mora do devedor quando este atrasa a entrega da coisa devida por culpa própria ou, ainda, quando realiza pagamento defeituoso, mas a prestação ainda remanesce proveitosa para o credor.
a. Para caracterizar a mora do devedor é preciso que a dívida seja exigível; que haja atuação culposa do devedor (elemento subjetivo) (art. 396, CC), do preposto ou do mandatário do devedor; que haja viabilidade do cumprimento
tardio.
b. Em alguns casos de mora de devedor será necessário interpelá-lo previamente, como é o caso de obrigações que não tenham termo certo para o cumprimento (art. 397, CC).
c. Vale lembrar que o devedor pode afastar os efeitos da mora com a demonstração da onerosidade excessiva, matéria que será abordada em Direito Civil III.
2. Mora do credor (mora “accipiendi” ou mora “creditoris”): a mora do credor pressupõe que haja impedido injustamente o devedor de adimplir; ou que tenha recusado uma oferta real de pagamento; ou ainda que o tenha exigido pagamento superior ou diverso do ajustado.
Advertem Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias (2008, p. 402) que mora não se confunde com os vícios de prestação (evicção e vício redibitório). 
A mora importa em um retardamento no ato de prestar em si próprio, sem qualquer consideração com a qualidade ou a origem jurídica do objeto dessa mesma prestação. 
Vale dizer, mesmo que o objeto tenha padrão qualitativo satisfatório e seja proveniente do verdadeiro proprietário, incidirá a mora caso se constate o atraso em seu cumprimento. Já o vício redibitório (art. 441, CC) e a evicção (art. 447, CC) relacionam-se com problemas na qualidade da própria coisa recebida ou em sua origem, sem vinculação nenhuma ao ato de prestar. 
Portanto, uma coisa é o imóvel não ser entregue ao comprador na época ajustada; outra, complemente diferente, é a entrega tempestiva da coisa com graves problemas de infiltração ou a constatação do fato de o vendedor não ser o verdadeiro proprietário.
a. A mora do credor não exonera o devedor da obrigação.
b. São requisitos da mora do credor: vencimento da obrigação; oferta real da prestação; recusa injustificada em receber.
c. A doutrina diverge sobre o elemento culpa na mora do credor. Uma corrente equipara a mora do credor à do devedor e, por isso, a culpa seria essencial à caracterização. 
Uma segunda corrente afirma que a recusa em receber o pagamento é suficiente para caracterizar a mora do credor. Uma terceira corrente afirma que a mora do credor está intimamente ligada à oferta válida do pagamento. Paulo Nader (2010), ao contrário de Carvalho de Mendonça, entende que a culpa é também componente da mora do credor porque do contrário o credor seria responsável pelo não recebimento da coisa ainda que a impossibilidade tenha resultado de caso fortuito ou força maior.
3. Mora recíproca ou conjunta: devedor e credor agiram simultaneamente culposamente e, por isso, as culpas se compensam e se anulam. Não é prevista pelo Código Civil.
a. Não se confunde com mora sucessiva ou alternativa. Nestes casos, os danos que a mora de cada uma das partes haja causado a outra não se compensam, conservando cada um seus direitos quanto ao período em que o outro esteve em mora.
4. Mora “ex re” (em razão de fato ou da coisa): arts. 397 e 398, CC.
a. Quando a prestação deve se realizar em termo prefixado e se trata de dívida portável o devedor incorrerá em mora ?ipso iure? desde o momento do vencimento. Aplica-se o brocardo ?dies iterpellat pro homine?.
b. No entanto, quando a dívida for quesível, ainda que tenha termo, não haverá mora do devedor enquanto o credor não se dirigir a ele para buscar o pagamento.
c. Nos débitos derivados de ato ilícito (extracontratual) a mora começa no momento em que o ato foi praticado. Trata-se de mora presumida (art.398,CC) para os casos de responsabilidade objetiva.
- Súmula 54, STJ: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.
d. Quando o devedor houver declarado por escrito que não pretende cumprir a obrigação.
e. Nas obrigações negativas a mora se confunde com o próprio inadimplemento (art. 390, CC).
5. Mora ?ex persona? (art. 397, parágrafo único, CC): ocorre nos demais casos não previstos nos arts. 397 e 398, CC. Nestas situações, para a constituição da mora será necessário interpelar ou notificar a parte mora.
a. O termo interpelar é utilizado pelo Código Civil em sentido amplo, ou seja, configura-se em qualquer forma de convocação do devedor para o cumprimento da obrigação. A lei não impõe forma específica.
São efeitos da mora:
1. A mora do devedor conduz à responsabilidade pelos prejuízos causados ao credor, além dos juros, atualização monetária e honorários advocatícios (art. 395, CC).
a. Se a prestação se tornou inútil ao credor será caso de inadimplemento absoluto e gerará direito às perdas e danos.
2. A mora do devedor pode conduzir à resolução ou resilição do contrato.
3. Se o devedor está em mora quando sobrevém a impossibilidade causal da prestação, responderá ele por todos os danos ocorridos, ainda que decorrentes de caso fortuito ou força maior, salvo se demonstrar que os danos teriam acontecido ainda que a obrigação tivesse sido cumprida (art. 399, CC).
4. A mora do credor isenta o devedor de responsabilidade pela inexecução da obrigação,
salvo hipótese de culpa recíproca.
5. A mora do credor confere ao devedor o direito de consignar em pagamento.
a. Advertem Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias (2008, p. 410) que o art. 337, CC, posterga o momento da cessação dos juros para o momento do depósito. Mas, ?a incompatibilidade é apenas aparente, pois a oferta regular da prestação exonera o devedor dos juros moratórios, mas não dos juros remuneratórios, devidos em razão da manutenção do capital do credor com o devedor, devendo aquele ser remunerado pelos frutos civis incidentes até o período do depósito do preço?.
6. A mora do credor inverte o risco da conservação da coisa, salvo os danos causados por dolo do devedor (art. 400, CC). Além disso, as despesas realizadas pelo devedor com a conservação da coisa deverão ser suportadas pelo credor após a caracterização da sua mora e, neste caso, o devedor terá direito de retenção até ser ressarcido dessas
despesas.
7. A mora do credor sujeita-o a receber a prestação pela estimação mais favorável ao devedor.
Cessação e Purgação da Mora
1. Purgação da mora (art. 401, CC): ?I- por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta; II- por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora ate a mesma data?.
a. Se a mora for devedor e a purgação for extrajudicial caberá a ele ir ao encontro do credor para oferecer o pagamento, ainda que a obrigação seja quesível. Se houver recusa injustificada do credor em aceitar a purgação, haverá inversão do ônus da mora.
b. A mora pode ser purgada após o ajuizamento da ação de cobrança desde que ainda seja proveitosa ao credor, veja, por exemplo, art. 62, II, da Lei de Locações. No entanto, não se admite o pedido de purgação acompanhado de
contestação.
c. A purgação pode ocorrer por acordo entre as partes, inclusive com a concessão de moratória (seu efeito deve ser previsto pelas partes ? ?ex tunc? ou ?ex nunc?).
d. Terceiros podem purgar a mora nas mesmas condições em que podemadimplir, desde que suportem os mesmos encargos.
2. Cessação da mora: não depende de nenhum comportamento ativo do contratante moroso. Decorre, portanto, de extinção da obrigação (ex.:por novação, remissão, renúncia...). A cessação produz efeitos pretéritos.
VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO
Com o alargamento do conceito de adimplemento, passou-se a considerá-lo como a realização dos interesses do credor e não apenas como a entrega da prestação avençada. Então, o ato de adimplir abarca, também, deveres ligados à boa-fé objetiva, impostos para garantir o bom desenvolvimento da relação obrigacional.
O descumprimento dos deveres anexos, portanto, caracteriza-se como forma de inadimplemento que gerará o direito à reparação e/ou à resolução do vínculo ou oposição da exceptio non adimpleti contractus.
Deveres anexos (ou laterais) são, nas palavras de Teresa Negreiros (1998, p. 440), deveres que se referem ao exato processamento da relação obrigacional, isto é, à satisfação dos interesses globais envolvidos, em atenção a uma identidade finalística, constituindo o complexo conteúdo da relação que se unifica funcionalmente. São deveres diretamente decorrentes do princípio da boa-fé objetiva que se destinam ao bom desempenho da relação obrigacional.
Assim, por exemplo, o princípio da confiança seria realizado juntamente com os deveres instrumentais (anexos ou laterais) como o de cooperação mútua, de informação e aviso, de colaboração recíproca, de esclarecimentos, de cuidado, de previdência, de proteção e cuidado, de segurança, de sigilo, deveres que atuam autonomamente em relação à obrigação principal, mas que devem obrigatoriamente ser sempre observados pelas partes contratantes como forma de manter íntegro o contrato e os fins a que se destina.
A não observação desses deveres, independente de culpa, pode levar à violação positiva do contrato, também forma de inadimplemento obrigacional, conforme interpretação da função integrativa do princípio boa-fé objetivo contido no art. 422, CC.
Afirmam Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias (2008, p. 420) que no campo da violação positiva do contrato, é possível também inserir a interessante figura do inadimplemento antecipado da obrigação, também chamada quebra antecipada do contrato.
Paulo Roberto Nalin leciona que aponta esta modalidade de descumprimento para a possibilidade real de um dos contratantes revelar, expressamente, ou por meio de seus atos, que descumprirá (no futuro portanto) a parcela obrigacional a que está adstrito.[...]. A recusa antecipada ao cumprimento da obrigação é também uma forma de violação ao princípio da boa-fé, pois a conduta que denota a falta de interesse de uma das partes em cumprir o dever de prestar é certamente uma lesão ao dever de confiança que inspira qualquer relação negocial. A quebra antecipada do contrato também permite, portanto, o direito de resolver a obrigação com fundamento em indícios inequívocos de antecipação do inadimplemento.
Assim, tão importante quanto o cumprimento da prestação na forma, local e prazo avençados é a observação dos deveres anexos durante todas as fases do vínculo obrigacional.
Caso Concreto 1
(XXIV Concurso da Magistratura/RJ) O contrato de venda de um jet ski, com cláusula de improrrogabilidade, tem como objeto a entrega do mesmo ao comprador para um certo dia, sob pena de rescisão contratual. O vendedor, alegando que não pode fazê-lo naquela data, insiste que seja aceito na semana seguinte, uma vez que a competição local de Jet Ski vai ser realizada na terceira semana seguinte. Trata-se de mora ou inadimplemento absoluto? Por quê? Justifique sucintamente, apontando o dispositivo legal ou princípio jurídico pertinente.
Gabarito:
Em virtude da existência da cláusula resolutória pouco importa se a competição já ocorreu ou não. Trata-se, portanto, de inadimplemento absoluto nos termos dos arts. 389, 474 e 475, CC
Caso Concreto 2
(OAB-SP 2a. fase Concurso 130) Por força de um contrato escrito, Caio, fazendeiro no Mato Grosso do Sul, deveria restituir o cavalo de José (cujo sítio encontra-se no interior de São Paulo) no dia 02 do mês de julho. Até o mês de agosto, Caio ainda não o havia restituído por pura desídia, quando uma forte chuva causou a morte do cavalo, o que foi inevitável devido à altura atingida pela água, bem como à sua força. Analise o caso a partir dos seguintes tópicos: a) Há no caso mora ou inadimplemento? b) Pode Caio ser responsabilizado pela morte do cavalo, ou poderia alegar, com sucesso, alguma causa excludente de responsabilidade?
Gabarito:
Ocorrendo o perecimento do objeto emprestado durante a mora, impõe-se ao devedor o dever de responder pelo equivalente mais perdas e danos (art. 399, CC). Trata-se, portanto, de inadimplemento absoluto e a única maneira de isentar-se de responsabilidade seria provar que o dano sobreviria ainda que a obrigação tivesse sido oportunamente cumprida.
Questão Objetiva
(CESPE TRF 5a. Região 2011) A respeito do adimplemento, do inadimplemento e da extinção das obrigações, assinale a opção correta.
a) Havendo dois débitos da mesma natureza, líquidos e vencidos, o devedor pode imputar pagamento parcial de um deles, independentemente de convenção.
b) A mitigação do pacta sunt servanda pelo novo Código Civil permite que o juiz imponha ao credor a dação em pagamento, conforme as circunstâncias do caso concreto.
c) Podendo o terceiro não interessado pagar débito em nome do devedor, pode ele também compensar o débito alheio com aquilo que o credor lhe dever.
d) Havendo recusa do credor em receber o pagamento, o depósito da coisa devida é suficiente para elidir a mora.
e) O usufrutuário cujo direito real tenha sido registrado após a hipoteca do imóvel pode remir a hipoteca sub-rogando-se no direito do credor.
Gabarito: Letra “E”.
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_1033206012.doc

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