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Belfagor o Arquidiabo

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Belfagor, o Arquidiabo
	Existe uma antiga crônica florentina, em torno das orações, observou que inúmeras almas predestinadas ao inferno, longe da graça divina, culpando por essa infelicidade ao casamento. Minos, Radamento e outros juízes infernais se espantavam com isso, não acreditando no que ouviam, que incriminavam as mulheres. Relato esse feito a Plutão, resolveu analisar a matéria com os príncipes infernais, para resolver de forma mais cuidadosa e verdadeira do caso. 
	De uma forma elucidatório, Plutão procurou esclarecer tal queixa que todos os homens traziam ao reino, atribuindo às mulheres; como isso lhe parecia impossível, convocou seus conselheiros querendo evitar as levianas ou injustas declarações, cujo o seu reino teria vivido sem tais questões até então.
	Tiveram a ideia de enviar ao mundo um diabo na forma humana para tirar a limpo esta dúvida, para isso teriam que torturar algumas almas. Mas não encontraram um voluntário para a missão, resolveram recorrer a sorte. Sendo assim escolhido Belfagor, que tinha o título de arquidiabo porque antes da sua perdição fora arcanjo. 
	Embora não aceitando este trabalho, Belfagor foi ordenado por Plutão a cumprir o comando diabólico, recebendo cem mil ducados, deveria visitar o mundo na forma de homem, casar-se e viver com a esposa por dez anos, depois deveria fingir sua morte, retornar ao inferno e relatar aos seus superiores quais eram o ônus e os inconvenientes do matrimônio. Neste período estaria a todas as circunstâncias submetido ao que afligem os homens. 
	Com o dinheiro em mãos, Belfagor foi ao mundo. Junto a um séquito entrou com todas as honrarias em Florença. Seu nome era Rodrigo de Castela, alugou uma casa e dizia que ser espanhol, vivido anteriormente na Síria, onde juntou sua fortuna. Visitando a Itália para procurar uma esposa em um país mais civilizado. Homem de trinta anos e de rara beleza, demonstrando tal riqueza, muitos nobres que tinham filhas se apresentavam e as ofereciam, dentre todos Rodrigo escolheu uma bela jovem que se chamava Honesta, filha de Américo Donati, tinha mais outras três filhas, e três filhos, já de idade adulta. 
	Rodrigo saído do inferno, se sujeitou a todas paixões humanas, começou a se entusiasmar com as honrarias deste mundo. Levando a Honesta a luxúria, casa nova, um orgulho que o próprio Lúcifer desconhecera. Tão logo que sentiu a influência que tinha sobre seu marido, Honesta começou a dominá-lo, e a dar ordens sem qualquer respeito ou piedade, causando grande perturbação e desconforte a ele.
	Devido a tal consideração que tinha ao seu sogro, começou a ajudar os cunhados, família, bem como pelo dever matrimonial. Comprava para sua esposa vestidos da moda e luxos que a cidade lhes proporcionava, tudo isso para viver em paz com sua esposa. Além de ajudar suas cunhadas a casarem se, não poupou esforços e nem dinheiro. Honesta queria sempre mais, tanto que nas grandes festas exigia que seu esposo fizesse uma maior ainda, sempre para sobressair na sociedade florentina. 
	Rodrigo se submetia a tudo que era obrigado, para que sempre ficasse na tranquilidade no ambiente familiar, aguardando sua falência que seria inevitável. Não havia criados que se mantivessem mais que dias, não havendo assim pessoas de sua confiança para cuidarem de suas coisas; os outros diabos que trouxe consigo para o mundo, preferiam retornar ao fogo do inferno do que viver no mundo sob as ordens de Honesta.
	Vivendo nesse mundo tumultuado, tinha ainda que ajudar os cunhados que contribuíam com o seu declínio financeiro, com isso tudo surgiu os cobradores. Rodrigo bolou um plano de fuga, mas seus credores foram atrás, recorrendo aos magistrados e conclamando o povo a perseguir o foragido. Em sua escapada saiu da estrada para tentar despistá-los, era difícil continuar a cavalo, foi a pé. Chegando numa casa, pertencia a João Mateus de Brica, que trabalhava para João de Bene. Teve a sorte de encontrar o próprio João Mateus, que estava preparando a comida dos animais, se apresentou prometendo que o faria rico para sempre se ele o salvasse dos que o perseguiam. Não tendo nada a perder o camponês, João Mateus o escondeu num monte de estrume, sob ramos secos que tinha juntado para fazer fogo.
	Não se passou muito tempo e chegaram os perseguidores; por mais que tentassem e ameaçassem João Mateus, não tiveram êxito na sua busca. Voltaram para Florença, sem encontrar Rodrigo ou Belfagor.
	Depois de o perigo se afastar, João ajudou Rodrigo a deixar o esconderijo, cobrando a sua promessa. Rodrigo lhe disse: “Meu irmão, devo-te muito e quero testemunhar meu reconhecimento; por isso, para que não duvides da minha palavra, dir-te-ei quem sou” (Machiavelli, Niccolò, 1994, p.64.). Revelou a sua origem, e suas obrigações designadas ao deixar o inferno, seu casamento em Florença. Falou que a maneira que iria enriquecer João Mateus, quando ele ouvisse falar que uma mulher estivesse possuída pelo demônio saberia que seria ele, Rodrigo e que só deixaria o corpo da infortunada quando João Mateus viesse exorciza lo, abrindo a oportunidade de cobrar o valor que quisesse pelo serviço.
	Dias após correu em Florença o boato de que uma das filhas de Messer Ambrósio Amadei, cassada com Bonaiuto Tebalducci, estava possuída pelo demônio. Os pais deram todos os remédios que sabiam, cobrindo-a com a cabeça de São Zenóbio e o manto de São João Gualberto – mas nada incomodava Rodrigo. Para mostrar que não era uma simples fantasia ou fruto da imaginação, falava em latim e discutia questões filosóficas, revelava pecados alheios, causando perplexidade geral. Messer Ambrósio já havia perdido as esperanças de curar a filha, foi quando João Mateus procurou Messer e falou que a curaria mediante o pagamento de quinhentos florins para comprar umas terras em Perétola. Messer Ambrósio aceitou e João, depois de algumas orações e cerimônias para embelezar o ritual, sussurrou no ouvido da jovem: “Rodrigo, vim procurar te para que cumpras a promessa feita” (Machiavelli, Niccolò, 1994, p.64). Rodrigo respondeu: “está bem. Mas isso não basta, para que fique rico. Logo que sair daqui entrarei no corpo de outra filha do rei Carlos, de Nápoles, do qual não sairei sem tua interferência. Aproveitara para pedir a recompensa que quiseres. Depois espero que me deixes tranquilo” (Machiavelli, Niccolò, 1994, p.64). Abandonou o corpo da jovem para surpresa de toda Florença. 
	Sem passar muito tempo toda Itália já sabia o que acontecera com a filha do rei Carlos. Não conseguindo curá la, e ouvindo de João Mateus, mandou chama lo em Florença, ele foi a Nápoles e com algumas cerimônias a libertou do diabo. Antes de partir falou para João: “Como vês, cumpri minha promessa de enriquecer te; nada mais te devo. Aconselho te, portanto, a não aparecer mais à minha frente porque, assim como até aqui te fiz o bem, doravante poderei fazer te o mal” (Machiavelli, Niccolò, 1994, p.65).
	Regressou a Florença riquíssimo João Mateus, o rei lhe deu mais de cinquenta mil ducados. Começou posteriormente o rumor de uma das filhas do rei Luís VII tinha sido possuída pelo demônio. O assunto deixou João Mateus interessado, pensando em todo o benefício que teria se resolvesse mais esta infeliz, e também das ameaças feitas por Rodrigo. Sem a cura da princesa, seu pai resolver mandar um de seus serviçais buscar João, contatando até o governo de Florença, que obrigou o pedido do rei.
	Rumo a Paris, João explicou ao rei que já havia curado algumas jovens, isto dependia de região para região, tentando ludibriar o rei. O mesmo lhe disse, que não realizando tal feita iria mandar enforcar a pessoa que fizesse tal desaforo. Chegando perto da enferma diz para Rodrigo que havia sofrido ameaça de morte por não realizar o comando do rei. 
	Vindo de imediato a resposta de Belfagor: “O que, vil traidor! Não tens medo de aparecer à minha frente? Tu te vanglorias de haver enriquecido graças a mim? Vou mostrar – a ti e a todos – que eu posso dar e retirar a meu bel prazer: antes que possas escapar vou providenciar paraque sejas enforcado”.
	Nessa situação muito comprometedora, João Mateus se afasta da mulher possuída. Fala para a majestade que existem vários níveis de perturbação e o pede para chamar os barões e clérigos da cidade, na praça de Notre Dame, um altar no meio e todos com ouros e melhores vestimentas. No lado pediu que estivessem músicos com trompetes, trombas, cornamusas e demais instrumentos de sopro. 
	O rei mandou providenciar tudo o que havia sido exigido pelo curandeiro. Se fez pensante Rodrigo de tamanho desaforo feito a ele, achando que se assustaria com tanto alarde, mentalizando o castigo merecido pelo traidor. João chegou bem perto e falou da sua impotência no momento de sua vida estar em risco, mas mesmo assim o arquidiabo avisa que o punirá. Neste momento pedi desculpas para Rodrigo, e utilizando sua última alternativa diz para o demônio que sua mulher está vindo para busca lo. A surpresa foi tanta, que Rodrigo se sente acuado, e verifica que a ideia pode ser verdadeira. Abando o corpo da princesa preferindo enfrentar o inferno ao ter que viver conjugalmente. 
Fonte:
MACHIAVELLI, Niccolò. A arte da guerra. A vida de Castruccio Castracani. Belfagor, o arquidiabo. 3. ed. Brasília, DF: Ed. da UNB, 1994. 66 p.

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