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TÓPICO SOBRE IDENTIDADE
O artigo tem por objetivo discutir como a subjetividade, individualidade personalidade e identidade são compreendidas a partir da psicologia histórico-cultural.
A identidade é compreendida como metamorfose do eu, e foi elaborada numa tentativa, no Brasil, de substituir o termo personalidade por, supostamente, estar contaminado por correntes teóricas vinculadas a práticas reacionárias dentro da psicologia.
O último termo proposto para análise neste artigo é de identidade, uma
categoria elaborada teoricamente por Antonio da Costa Ciampa na década de
1980.
A década de 1980 foi um dos principais períodos na psicologia brasileira
de contestação das abordagens burguesas na psicologia, que não consideravam
as necessidades e peculiaridades sociais e históricas da sociedade brasileira (Carone, 2007). O grupo coordenado por Lane buscava acompanhar e elaborar teorias psicológicas que fossem críticas à realidade social, e parte desse grupo, inclusive Lane, encontrou nas obras de Leontiev e Vigotski caminhos para a
almejada criticidade, especialmente por estes autores usarem como fundamento
a epistemologia marxista.
Esse grupo buscava uma compreensão de eu histórica e socialmente determinada, que se modificava com as alterações do meio social em que o individuo estava inserido, e que não fosse estático ou pouco dinâmico, como as teorias psicológicas da época postulavam. Por essa compreensão, e pelo fato de a personalidade ser um termo tão caro à psicologia, Ciampa, orientando de Lane, elabora a categoria identidade como substituto à personalidade, mas que explicava (e explica) a constituição do eu de forma dinâmica, numa abordagem psicológica mais crítica. A partir da publicação do livro A estória do Severino e a história da Severina de Ciampa, em 1987, quase todos os estudos voltados para a constituição do “eu” coordenados por Lane, em seu grupo conhecido como aquele que estudava a psicologia sócio-histórica, adotaram a categoria identidade.
Dentro das epistemologias críticas, Ciampa não usou os fundamentos marxistas na sua elaboração teórica. De Marx, Ciampa (1987) usa a compreensão de
atividade, no sentido de atividade vital – trabalho – que promoveu o desenvolvimento da humanidade e é o núcleo do capitalismo, por meio da exploração do trabalho. As bases epistemológicas da categoria identidade estão especialmente em Habermas, mas também a menções a Hegel, Bosi e Stanislaviski. 
Para Ciampa (ibid.) identidade é metamorfose, um processo de constituição
do eu que promove constantes mudanças pelas condições sociais e de vida que o indivíduo está inserido. Nas palavras de Ciampa (ibid., pp. 241-242)
[...] identidade é identidade de pensar e ser (...). O conteúdo que surgirá dessa
metamorfose deve subordinar-se ao interesse da razão e decorrer da interpretação que façamos do que merece ser vivido. Isso é busca de significado, é invenção de sentido. É autoprodução do homem. É vida.
No processo de constituição da identidade, os papéis que o indivíduo
assume ao longo de sua vida fazem parte de sua construção, partindo de uma
identidade pressuposta (o que o outro ou a própria pessoa idealizava em relação
ao desempenho daquele papel), a vivida e a que será vivida enquanto projeto
de vida. Assim, a identidade é posta e reposta continuamente, pois o indivíduo vivencia ao mesmo tempo vários papéis, o que o torna um personagem da vida, que sempre se metamorfoseia de acordo com as condições históricas e sociais a que está submetido (ibid.).
Em cada momento da minha existência, embora eu seja uma totalidade, manifestase uma parte de mim como desdobramento das múltiplas determinações a que estou sujeito. Quando estou frente a meu filho, relaciono me como pai; com meu pai, como filho; nunca compareço frente aos outros apenas como portador de um único papel, mas como uma personagem (chamada por um nome, Fulano, ou por papel, o Papai, etc), como uma totalidade ... parcial. O mesmo pode ser dito de meu filho e de meu pai (ibid., p. 170)
Ciampa buscou a teoria de Habermas, especialmente sua elaboração teórica do agir comunicativo, para explicar como esses conteúdos participavam da formação da identidade. A partir de Habermas, Ciampa (ibid., p. 212) afirma que “a reprodução da vida precisa ser mediatizada pela interpretação do que merece ser vivido, sob as condições dadas”, sendo um dos elementos básicos para compreender o agir comunicativo. Ciampa ainda prossegue afirmando que 
[...] a despeito de diferentes pontos de partida sobre como a humanidade garantiu seu desenvolvimento – esquematicamente, o trabalho ou a socialização (dinâmica pulsional) –, há como que um princípio norteador levando a espécie a se elevar acima da existência animal, ou seja, pode-se perceber, através dos dois pensamentos comparados [de Marx e Freud], um movimento progressivo de humanização do homem, graças a um sistema de autoconservação da espécie (sociedade ou cultura), que no fundo é traduzível pelo interesse da razão. (p. 209)
O autor, nos seus estudos, trabalhou com processos de metamorfoses de
identidade que eram conscientes para o indivíduo, mas não descartou a possibilidade de muitos conteúdos envolvidos na metamorfose estarem no inconsciente, o que exigiria uma “interpretação das profundezas”.
O núcleo teórico da psicanálise, de qualquer vertente, é o inconsciente constituído por impulsos libidinais. São esses impulsos que determinam a
vida psíquica do indivíduo, a partir de interferências do meio social.
Há ainda outros elementos contraditórios da categoria identidade que
foram identificados por Castro (2009),12 como o idealismo hegeliano e algumas
concepções da fenomenologia, especialmente se considerarmos as colocações
de Marx e a intenção de dar à identidade um caráter material. No entanto,
aventa-se que os objetivos de Ciampa não eram construir uma teoria marxista,
mas crítica à realidade social brasileira em face das demandas possível de serem atendidas pela psicologia.
Mas é notório o fato de a categoria identidade ser usualmente utilizada em
conjunto com as categorias atividade e consciência nos estudos de autores brasileiros da psicologia que buscam nas bases marxistas a compreensão de sociedade e de homem, inclusive na sua dimensão psicológica, utilizando os trabalhos de Vigotski, Luria e Leontiev.
Tendo em vista as bases epistemológicas, não é possível conciliar teorias
tão diversas, que partem de concepções de mundo radicalmente opostas, como é o caso da psicanálise (que tem algumas influências em Habermas) e da teoria desenvolvida pelos autores soviéticos já mencionados. A própria proposição de Ciampa de tirar da psicanálise o positivismo, mecanicismo e a-historicismo é impossível, sem descaracterizar a própria psicanálise.

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