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UNIDADE II - Lógica Jurídica e Hermenêutica

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PROF. LEONARDO DA CUNHA KURTZ
HERMENÊUTICA JURÍDICA
UNIDADE II – LÓGICA JURÍDICA E HERMENÊUTICA
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PRINCÍPIOS E REGRAS
A Lógica Jurídica tem por objeto o estudo dos princípios e regras relativos às operações intelectuais efetuadas pelo jurista na elaboração, interpretação e aplicação do Direito.
O ordenamento jurídico é composto por previsões distintas que qualificam valores ou condutas. Disso decorrem as noções básicas de princípios e regras. As regras e os princípios estão dentro do conceito de norma jurídica. 
Os princípios são as normas jurídicas de natureza lógica anterior e superior às regras e que servem de base para a criação, aplicação e interpretação do Direito.
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PRINCÍPIOS E REGRAS
Princípios são normas básicas, inquestionáveis.
Constituem as proposições primárias do direito e estão vinculados àqueles valores fundantes da sociedade, que exprimem o que foi eleito como justo.
Segundo Celso Antônio Bandeira de Melo, um princípio “ é o mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele”.
Princípio é a disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão.
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PRINCÍPIOS E REGRAS
Os princípios são as ideias centrais de um sistema, ao qual dão sentido lógico, harmonioso, racional, permitindo o entendimento de seu modo de organizar-se.
Os PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS são a síntese máxima de todo o ordenamento jurídico. Ex. cidadania- art. 1º inc. I CF/88; dignidade da pessoa humana- art. 1º, inc. III CF/88.
Os PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS são os princípios próprios do Ordenamento Constitucional, incluindo os fundamentais. Ex. ampla defesa- art. 5º inc. LV CF/88; contraditório- art. 5º inc. LV; presunção de inocência -art. 5º inc. LVII. 
Violar um princípio é muito mais que transgredir uma norma qualquer, pois implica ofensa a todo o sistema de comandos.
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PRINCÍPIOS E REGRAS
O caráter normativo dos princípios passou por um lento processo de evolução na doutrina, que identificou três fases:
 JUSNATURALISTA
 JUSPOSITIVISTA
PÓS-POSITIVISTA
 Nas duas primeiras fases não se conferia aos princípios a natureza de norma do direito. Não possuíam caráter normativo.
 
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PRINCÍPIOS E REGRAS
FASE JUSNATURALISTA- é a fase metafísica e abstrata dos princípios. 
Os princípios de justiça são constitutivos de um Direito ideal. Formam um conjunto de verdades objetivas derivadas da lei divina ou do espírito humano.
Existe uma verdadeira identidade entre o Direito e a Justiça, o que significa que não existe Direito injusto.
Para os jusnaturalistas o Direito é sempre uma busca de ser Direito Justo e nunca a materialização da injustiça, o que significa que a injustiça não é Direito.
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PRINCÍPIOS E REGRAS
FASE JUSPOSITIVISTA- Os princípios passam a ser considerados fontes normativas subsidiárias, uma válvula de segurança que garante o reinado absoluto da lei.
Mesmo quando inseridos no ordenamento jurídico os princípios não são reconhecidos como normas, não possuem relevância jurídica.
A concepção positivista sustenta basicamente que os princípios informam o Direito Positivo e lhe servem de fundamento.
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PRINCÍPIOS E REGRAS
FASE PÓS-POSITIVISTA- É a terceira fase da juridicidade dos princípios, que corresponde aos grandes momentos constituintes das últimas décadas do séc. XX.
O caráter normativo dos princípios é reconhecido nas constituições. São fontes axiológicas das quais derivam normas particulares.
A proclamação da normatividade dos princípios em novas formulações conceituais conduz à sua valoração e eficácia como normas-chaves de todo o sistema jurídico.
Ocorre a demonstração do reconhecimento da superioridade e hegemonia dos princípios na pirâmide normativa; supremacia que não é unicamente formal, mas, sobretudo material. 
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PRINCÍPIOS E REGRAS
REGRAS 
As regras são normas jurídicas destinadas a dar concreção aos princípios.
 São normas que prescrevem imperativamente uma exigência (impõem, permitem ou proíbem) que é ou não é cumprida.
São comandos jurídicos descritivos de condutas, cuja aplicação se opera na modalidade do tudo ou nada (Dworkin): ou a regra regula a matéria em sua inteireza ou é descumprida.
As regras devem ser aplicadas por completo, ou não são aplicáveis de modo absoluto.
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PRINCÍPIOS E REGRAS
As regras jurídicas regulam especificamente o comportamento e a conduta social, dizendo como devemos agir em determinadas situações, previstas por essas regras. Ex. art. 1.589 CC
As regras são elaboradas para um determinado número de atos ou fatos. Quando estes ocorrem, a regra tem incidência. Quando não ocorrem, não tem incidência. Ex. art. 1.061 CC
As regras oferecem segurança jurídica, têm previsibilidade, são objetivas. Ex. art. 104 CC
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DIFERENÇAS ENTRE PRINCÍPIOS E REGRAS
Princípios são pautas genéricas, estabelecem verdadeiros programas de ação para o legislador e para o intérprete. Ex. liberdade, igualdade, melhor interesse da criança, devido processo legal. 
Regras são prescrições específicas que estabelecem pressupostos e consequências determinadas. Ex. art.70 CC
Princípios derivam da ideia de justiça ou de direito. Ex. legalidade
Regras têm conteúdo meramente funcional. Ex. art. 205 CC
Princípios são fundamentadores, integradores e explicadores. Ex. respeito à privacidade
Regras apresentam um caráter proibitivo ou permissivo. Ex. art. 228 CC; art. 267 CC
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DIFERENÇAS ENTRE PRINCÍPIOS E REGRAS
Os princípios possuem conteúdo axiológico, e as regras conteúdo objetivo e descritivo.
Os princípios apresentam estrutura normativa voltada à interpretação e as regras à racionalização.
Na aplicação dos princípios prevalece a ponderação, na das regras é o tudo ou nada.
Os princípios entram em colisão mas não se excluem. As regras entram em conflito e se excluem.
Apesar das distinções, existe a possibilidade de haver “princípios-regras” ou “regras-princípios”. Ex. art.5º,I : regra+princípio da igualdade; art. 5º, VIII: regra+princípio da liberdade; art. 5º, II: regra+princípio da legalidade.
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LÓGICA JURÍDICA
LÓGICA 
O vocábulo Lógica tem sua origem no grego LOGOS (razão). Trata das formas do pensamento em geral.
É a parte da filosofia que busca determinar categorias racionais válidas para a apreensão da realidade. 
A Lógica procura encontrar as leis em relação às quais o nosso pensamento deve se submeter para que possa ser considerado válido.
Como o pensamento produz raciocínios, devemos analisar a essência do raciocínio para sabermos com exatidão do que falamos.
Aristóteles (considerado o pai da Lógica) determinou que a validade lógica de um raciocínio depende somente de sua forma ou estrutura, e não de seu conteúdo.
 
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LÓGICA JURÍDICA
LÓGICA FORMAL
A lógica formal (teórica, pura) interessa-se pelas formas mais gerais do pensamento, procurando que o pensamento seja coerente consigo mesmo. 
Ocupa-se das estruturas ou concatenação do pensamento, independente de seu conteúdo. Trata da consequência da argumentação.
No entanto a correção formal não implica a verdade. Ex. Como hoje é terça-feira, e depois de terça vem quarta, amanhã será quarta-feira. Está formalmente correto e é verdadeiro. 
Mas o pensamento pode ser correto e não ser verdadeiro. 
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LÓGICA JURÍDICA
LÓGICA FORMAL
Estuda as três operações do raciocínio: apreensão, juízo e proposição.
Raciocínio é o movimento da mente pelo qual, vindo de verdades conhecidas, ao compará-las entre si, chegamos a uma outra verdade inteligível como resultado. Ex. João é homem; o homem é bípede; logo, João é bípede.
Apreensão é aquele primeiro ato da nossa inteligência pelo qual ela capta algo sem afirmar ou negar nada. Trata-se do ato pelo qual obtemos as noções das coisas. 
Juízo é aquele segundo ato da nossa inteligência pelo qual atribuímos um
predicado, uma propriedade a um sujeito, afirmando ou negando. Ex. O leão é um animal. O trem não voa.
Proposição é o sinal da enunciação do juízo, é sua manifestação. 
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LÓGICA JURÍDICA
TIPOS DE RACIOCÍNIO
Indutivo é o raciocínio que parte de diversos casos particulares, menores, para chegar a uma conclusão geral. Parte de uma observação feita do mundo, de uma realidade, de um evento, de um fato. Ex. 
Dedutivo é o raciocínio que parte de uma premissa geral para chegar a outra mais específica. Nesta modalidade de raciocínio lógico, dada uma generalização, inferimos as particularidades. Ex.
Analógico é o raciocínio que se desenvolve a partir da semelhança entre casos particulares. Através dele não se chega a uma conclusão geral, mas só a outra proposição particular.Ex.
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LÓGICA JURÍDICA
O silogismo é um raciocínio dedutivo pelo qual passamos de princípios universais conhecidos a verdades que antes desconhecíamos, e estas verdades estão contidas na verdade mais universal da qual se deriva. 
Aristóteles designou a argumentação lógica perfeita como silogismo, constituída de três proposições declarativas que se conectam de tal modo que a partir das duas primeiras, chamadas premissas, é possível deduzir uma conclusão.
O silogismo, portanto, é uma dedução formal, composta por duas premissas que resultam numa conclusão. Ex. Todo homem é mortal. Fulano é homem, logo fulano é mortal.
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O silogismo jurídico é considerado prático, porque a norma jurídica é um juízo de valor. Sendo assim, ela não é uma verdade que se impõe, é uma verdade imposta. 
A estrutura de um silogismo jurídico seria dividida em três etapas: 
1- a apresentação de uma premissa maior, baseada na lei;
2- o caso concreto, ou seja, a apresentação dos fatos como ocorreram; 
3- e, por fim, a conclusão que consiste na aplicação da lei ao fato.
 Ex.: Matar uma pessoa é crime e um assassino deve ser punido. Ora, João matou uma pessoa. Logo, João deve ser punido. 
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LÓGICA JURÍDICA
LÓGICA MATERIAL
A lógica material ( aplicada, especial) trata das relações dos objetos com a realidade. 
Estuda os preceitos gerais das ciências em busca da verdade.
Determina as regras especiais ou os métodos adequados para serem estudados os diversos ramos do saber.
Ela não se ocupa da estrutura, concatenação ou forma da argumentação (lógica formal), mas da validade dos elementos que a constituem.
É a parte da lógica que examina a verdade ou o valor da argumentação. Ex. Com hidrogênio e oxigênio pode-se obter água. Logo, a água é um composto de hidrogênio e oxigênio. Esse é um argumento correto (coerente consigo mesmo) e verdadeiro (de acordo com a ciência).

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