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CCJ0023-WL-OO-Apostila Direito do Consumidor - 01 - 0000

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1 
 O DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
I - ORIGEM DO DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
Rudimentares normas jurídicas relativas a direito do consumidor existem 
desde tempos muito remotos na História da Humanidade. Na civilização 
mesopotâmica, o legislador babilônico, no Código do Rei Hamurábi, já eram 
fixadas regras com este conteúdo, tais como que, existindo vício na obra de 
embarcação, o construtor teria, por obrigação, que refazer com recursos próprios: 
 
235. Se um armador construir um barco para outrem, não fizer um bom serviço e 
durante o mesmo ano aquele barco ficar à deriva ou for seriamente danificado, o 
armador deverá consertar o barco às suas próprias custas. O barco consertado deve 
ser restituído ao dono intacto.1 
 
O código hindu, chamado Manu para homenagear um mítico muito 
respeitado na Índia, que vigorou entre os séculos II a.C. até II d. C., em seu livro 
oitavo, já configurava o ressarcimento por percas e danos, tendo em vista os vícios 
redibitórios, decorrentes de venda de produto cujo gênero tivesse sido adulterado 
ou a se o produto entregue fosse inferior ao outrora acertado. 
 
O Direito Romano também se preocupou com os prejuízos dos 
consumidores decorrentes de compra de produtos que continham vícios e, por 
isso, delegou ao fornecedor toda responsabilidade advinda dos vícios da coisa 
vendida, inclusive quando este não tinha tal conhecimento, deveria ressarcir o 
dobro do valor cobrado pela coisa para o consumidor. 
 
O Direito do Consumidor é considerado um direito moderno, tendo em vista 
que a primeira legislação feita direcionada à proteção dos consumidores foi em 
1910, na Suécia. Os direitos dos consumidores outrora tutelados eram postos 
 
1
 http://paginas.terra.com.br/arte/hammurabi/10.html - acesso em 02 de junho de 2007 
 2 
juntamente com outras legislações, como, exemplificadamente, demonstrou-se 
acima. 
 
Ocorre que este ramo do direito teve uma alavanca logo após a Revolução 
Industrial, que se iniciou na Inglaterra, com influência dos Iluministas, na metade do 
século XVIII. Durante este período, os trabalhadores tiveram seus lugares 
ocupados por máquinas, e a produção, que era artesanal, tornou-se uma produção 
em massa. 
 
Nesta época, o Estado não intervinha nas negociações comerciais, e a 
concorrência era feita de forma livre, ou seja, prevalecia a vontade das partes, uma 
vez que estas tinham autonomia e igualdade. A contraio sensu, a realidade fática 
era outra: a autonomia e a igualdade defendida pelos liberais não era respeitada, 
tornando-se, apenas, uma abstração ficta, uma vez que não configurava a 
realidade jurídica das relações comerciais. 
 
No final do século XIX, o liberalismo evolui, formando o Estado Social, 
decorrente das transformações sociais que estavam acontecendo. “O indivíduo é 
substituído pelo grupo; as sociedades comerciais, notadamente as sociedades 
anônimas, promovem a concentração dos meios produtivos; os produtores 
organizam-se, fazendo acordos – posteriormente denominados cartéis - a fim de 
limitar os efeitos da concorrência, vindo a criar situações de oligopólio e 
monopólio.” 2 
 
Desta forma, surge o capitalismo exagerado, submetendo à sociedade um 
novo modelo de consumo, ou seja, um novo processo econômico que dá início a 
surpreendentes modificações sociais. 
 
 
2
 DONATO, Maria Antonieta Zanardo – Proteção ao consumidor: Conceito e Extensão. São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 1999. 
 3 
Em conseqüência da evolução do liberalismo, que criou um novo modelo 
social e de consumo, a concorrência entre os produtores aumentou, fazendo com 
que estes desenvolvessem novas técnicas para conquistar os consumidores, 
demonstrando os benefícios e utilidades de seus produtos, aprimorando, ou seja, 
novas técnicas de marketing, assim como novas formas de créditos, para que na 
compra de seu produto pelo consumidor, este não desistisse da compra por não ter 
o valor total para realizá-la. 
 
Nesta perspectiva, o objetivo do comércio era vender e, por isto, voltava-se, 
diretamente, para o consumidor. Portanto, é natural a idéia de que o consumidor 
seria o maior beneficiário de todas as modificações que estavam ocorrendo na 
época. Ocorre que a realidade não era essa. Em decorrência de comércio 
fortalecido, o consumidor buscava cada vez mais produtos com melhor qualidade e 
que trouxesse a ele maiores benefícios. Por conta disto, aquele que deveria ser 
beneficiado por todas as mudanças que estavam acontecendo ocupava um lugar 
frágil na sociedade de consumo, tornando-se vulnerável aos fornecedores e às 
regras que estes impunham ao comércio. 
 
Os ideais defendidos pela Revolução Francesa, que aconteceu em 
decorrência da Revolução Industrial, ocupavam somente a realidade jurídica 
positiva, não fazendo parte da realidade de fato. Isto porque não compreendia a 
vivência da época igualdade, fraternidade e liberdade. Com a ascensão da classe 
burguesa, em razão de deter o poder econômico, os burgueses não se igualavam 
com os demais, regulavam a liberdade dos menos favorecidos economicamente, 
não sendo, desta forma, fraternos. 
 
Nos Estados Unidos, o crescimento da indústria foi ainda mais acelerado 
que nos países europeus em virtude da ascensão da indústria durante a Segunda 
Guerra Mundial. Para a produção de armas bélicas a serem utilizadas na guerra, a 
tecnologia evoluiu com maior rapidez. No pós-guerra, toda essa tecnologia criada 
teve reflexo nas indústrias, que aprimorou ainda mais seus produtos. O 
 4 
consumidor, na incansável busca pelo melhor produto, torna-se ainda mais fixo na 
posição vulnerável na relação de consumo. 
 
Frente a todas essas transformações ocorridas e suas inúmeras 
conseqüências, Maria Antonieta Zanardo Donado elucida que “não poderia o 
Direito – enquanto Ordem Jurídica – manter-se marginalizado e indiferente” 3, já 
que o consumidor tem a necessidade de ser protegido por normas jurídicas, de ter 
seus direitos garantidos pelo Estado. 
 
Atendendo a essa necessidade dos consumidores, em 1962, o então 
presidente dos Estados Unidos da América, John Fitzgerald Kennedy, consolidou 
as normas inerentes ao consumidor, o tão esperado Código de Defesa do 
Consumidor norte-americano. A partir disto, o consumidor passa a ser protegido 
pelo direito através de normas, que se caracterizam pelo uso de, entre outros, 
medidas preventivas, coercitivas e punitivas, tendo como finalidade a proteção à 
saúde, à segurança, à liberdade de escolha e à igualdade de condições nos 
contratos aos consumidores. 
 
1.2 - DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL 
 
Influenciado pelo Código de Defesa do Consumidor norte-americano, o 
Brasil, tendo a carência de normas regulamentadoras da relação de consumo, 
criou o seu próprio Código de Defesa do Consumidor. 
 
Antes da criação do Código do Consumidor, no Brasil não havia leis 
específicas para o consumidor. Tais leis faziam-se presentes somente na 
legislação esparsa que se encontrava no Direito Civil, que beneficiava a economia 
popular e a boa-fé do contratante. 
 
 
3
 DONATO, Maria Antonieta Zanardo – Proteção ao consumidor: Conceito e Extensão. São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 1999. 
 
 5 
Ocorre que, com a primazia na Doutrina Brasileira do Princípio da 
Autonomia da Vontade nas relações contratuais, o objeto protegido era a relação 
contratual, e não o resultado advindo em virtude dela. Em virtude disto, a relação 
de consumo era desequilibrada na maioria das vezes, sendo certo que, não muito 
raro, era o fornecedor que elaborava as cláusulas e condições para a contratação 
do serviço. Dependendo do serviço ou do bem, o consumidor acatava as condições 
estabelecidas pelo fornecedor, que, quase sempre, beneficiavam este em 
detrimento daquele, gerando, também, enriquecimento ilícito dos fornecedores de 
má-fé. 
 
Em 11 de setembrode 1990 foi sancionada no Brasil a Lei nº 8.078, 
chamada de Código de Defesa do Consumidor, o primeiro regramento do mercado 
de consumo no direito brasileiro, que tem por finalidade regular as relações de 
consumo. Esta moderna lei influenciou outros países da América Latina a criarem 
ou reformarem suas normas em defesa ao consumidor. 
 
Embora ainda não exista a plena consciência na sociedade consumidora a 
respeito de seus direitos, os órgãos de defesa ao consumidor – PROCON, IDEC, 
entre outros – a Ordem dos Advogados do Brasil, o Ministério Público e a 
imprensa, tanto escrita, quanto falada, prestam um serviço de valor inestimável, 
para a conscientização dos consumidores sobre seus direitos. 
 
1.3 - DIREITO DO CONSUMIDOR NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 
1988 
 
O Código de Defesa do Consumidor é amparado por garantias 
constitucionais 4 , o que não ocorria nas legislações anteriores dedicadas ao 
consumidor. 
 
4
 Art. 5º, XXXII da CF: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXII – o Estado promoverá na forma da lei a defesa do 
consumidor”. 
 6 
 
A defesa do consumidor, tendo como princípio o interesse público e, 
finalidade o bem-estar coletivo, por estar tutelada pela Constituição Federal, faz 
com que o Estado zele e atue como fiscal e aplicador da lei, utilizando seus órgãos 
competentes em suas atribuições cabíveis. 
 
Vestido de constitucionalidade, o Código de Defesa do Consumidor se faz, 
necessariamente, respeitável, em virtude de ser uma norma imperativa, obrigatória, 
auto-aplicável, não podendo ser revogada por lei ordinária, mas somente por 
reforma constitucional. 
 
Para poder igualar a relação de consumo, a Carta Magna protege, 
irredutivelmente os consumidores, o que resta explícito nos artigos 220, parágrafo 
3º, e 221, da Constituição Federal de 1988: 
 
“Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob 
qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o 
disposto nesta Constituição. (...) 
§ 3º - Compete à lei federal: 
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar 
sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários 
em que sua apresentação se mostre inadequada; 
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de 
se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o 
disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que 
possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente”. 
“Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão 
aos seguintes princípios: 
I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; 
 
Art. 129, III, da CF: “São funções institucionais do Ministério Público: (...) III - promover o inquérito civil e a 
ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses 
difusos e coletivos”; 
Art. 170 da CF: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por 
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes 
princípios: (...)V - defesa do consumidor”. 
 7 
II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que 
objetive sua divulgação; 
III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais 
estabelecidos em lei; 
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família. 
É facilmente perceptível que a Carta Magna colou o interesse público acima 
dos interesses privado, podendo, inclusive demonstrar através do entendimento do 
STF: 
“Em face da atual Constituição, para conciliar o fundamento da livre iniciativa e do 
princípio da livre concorrência com os da livre iniciativa do princípio da livre 
concorrência com os da defesa do consumidor e da redução das desigualdades 
sociais, em conformidade com os ditames da justiça social, pode o Estado, por via 
legislativa, regular a política de preços de bens e de serviços, abusivo que é o poder 
econômico que visa o aumento arbitrário dos lucros.” 5 
 
5
 Ementa do acórdão do STF de 30 de março de 1993. 
 
 8 
II - PRINCIPOLOGIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 
 
 
 
Princípios, conforme consta no Vocabulário Jurídico De Plácido e Silva6, 
significa, literis: 
 
“PRINCÍPIOS. No sentido, notadamente no plural, significa as normas elementares 
ou os requisitos primordiais instituídos como base, como alicerce de alguma coisa. 
E, assim, princípios revelam o conjunto de regras ou preceitos, que se fixam para 
servir de norma a toda espécie de ação jurídica, traçando, assim, a conduta a ser 
tida em qualquer operação jurídica. 
Desse modo, exprimem sentido mais relevante que o da própria norma ou regra 
jurídica. Mostram-se a própria razão fundamental de ser das coisas jurídicas, 
convertendo-as em perfeitos axiomas. 
Princípios jurídicos, sem dúvida, significam os pontos básicos, que servem de 
ponto de partida ou de elementos vitais do próprio Direito. Indicam o alicerce do 
Direito. 
E, nesta acepção, não se compreendem somente os fundamentos jurídicos, 
legalmente instituídos, mas todo axioma jurídico derivado da cultura jurídica 
universal. Compreendem, pois, os fundamentos da Ciência Jurídica, onde se 
firmaram as normas originárias ou as leis cientificas do Direito, que traçam as 
noções em que se estrutura o próprio Direito. 
Assim, nem sempre os princípios se inscrevem nas leis. Mas, porque servem de 
base ao Direito, são tidos como preceitos fundamentais para a prática do Direito e 
proteção aos direitos”. 
 
Assim, deduz-se que os Princípios são anteriores às normas jurídicas 
propriamente ditas, são as bases que foram consideradas para a elaboração 
destas, estando, então, interligados. A norma jurídica deve ser respeitada tanto 
quanto os princípios também devem. 
 
Cada ramo do Direito tem seus princípios basilares. No Direito do 
Consumidor, o professor Nelson Nery Junior ensina que “os princípios dividem-se 
em informativos e fundamentais, sendo aqueles considerados como axiomas 
(verdades) não necessitando de demonstração e, por isso, desprovidos de 
conteúdo ideológico: lógico, jurídico, político, econômico. Os fundamentais ou 
gerais são aqueles sobre os quais o sistema jurídico pode fazer opção, 
considerando aspectos políticos e ideológicos”. 7 
 
 
6
 SILVA, De Plácido e – Vocabulário Jurídico, Editora Forense, Rio de Janeiro: 2002. 
7
 NERY JUNIOR, Nelson – Princípios do Processo Civil na Constituição Federal, p. 21, Editora RT, 1992. 
 9 
A maior parte da doutrina admite que o Código de Defesa do Consumidor 
tem como escopo alguns princípios básicos e as demais normas são, desta forma, 
reflexos. As relações de consumo têm seus princípios elencados nos artigos 1º ao 
7º do Código. 
 
2.1 – PRINCÍPIO DA ISONOMIA 
 
Antes da vigência do Código de Defesa do Consumidor, não muito raro, o 
consumidor encontrava-se em desvantagem em relação ao fornecedor. Em seu 
artigo 4º, o Código admite tal vulnerabilidade do consumidor nas relações de 
consumo. 
 
O princípio da igualdade ou da isonomia está previsto na Constituição 
Federal, a qual determina “tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma 
desigual8”, ou seja, desigualar para igualar. 
 
Na relação de consumo, o consumidor configura a parte hipossuficiente, 
por isso que a vulnerabilidadeé a sua característica mais marcante, e, em 
decorrência disto, o principal motivo para a criação do Código de Defesa do 
Consumidor. 
“Por ter a vulnerabilidade do consumidor diversas causas, não pode o Direito 
 proteger a parte mais fraca da relação de consumo somente em relação a alguma ou 
 mesmo a algumas facetas do mercado. Não se busca uma tutela manca do 
 consumidor. Almeja-se uma proteção integral, sistemática e dinâmica. E tal requer o 
 regramento de todos os aspectos da relação de consumo, sejam aqueles pertinentes 
 aos próprios produtos e serviços, sejam outros que se manifestam como 
 verdadeiros instrumentos fundamentais para a produção e circulação destes 
 mesmos bens: o crédito e o marketing. 
É com os olhos postos nesta vulnerabilidade do consumidor que se funda a nova 
 disciplina jurídica. Que enorme tarefa, quando se sabe que esta fragilidade é 
 multifária, decorrendo ora da atuação dos monopólios e oligopólios, ora da carência 
 de informação sobre qualidade, preço, crédito e outras características dos produtos 
 e serviços. Não bastasse tal, o consumidor ainda é cercado por uma publicidade 
 crescente, não estando, ademais, tão organizado quanto os fornecedores.” 9 
 
 
8
 Artigo 4º, inciso I da Constituição Federal 
9
 GRINOVER, A.P., BENJAMIN, Antonio A. H. V., FINK, Daniel R, FILOMENO, José G. B, WATANABE, 
K., NERY JÚNIOR, N., DENARI, Z. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor; comentado pelos autores 
do anteprojeto, 6ª edição – Rio de Janeiro; Forense Universitária, 2000. 
 10 
Vulnerável significa: que se pode vulnerar ou penetrar; designativo do lado 
fraco de um assunto ou questão e do ponto por onde alguém pode ser atacado ou 
ferido. 10 
 
Desta forma, na relação de consumo, ser vulnerável designa ser o lado 
fraco dentro da relação. O Código de Defesa do Consumidor, no artigo 4º, inciso 
I 11 , reconheceu que ser vulnerável é estar em condição de inferioridade. O 
consumidor é parte hipossuficiente, uma vez que o fornecedor possui todas as 
informações referentes ao seu produto, bem como detém maior poder econômico, 
o que concede a ele diversas facilidades, entre elas, contratar melhores 
profissionais para lhe defender em juízo. 
 
2.2 – PRINCÍPIO DE ACESSO A JUSTIÇA. 
 
Princípio constitucional, previsto no artigo 5º, inciso XXXII da Constituição 
Federal: 
 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
 garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
 inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
 propriedade, nos termos seguintes: (...) 
XXXII - O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.” 
Outrossim, este princípio também tem respaldo no Código de Defesa do 
Consumidor, no artigo 5º, em todos seus incisos e no artigo 6º, incisos VII e VIII: 
 
“Artigo 5º. Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, 
 contará o Poder Público com os seguintes instrumentos, entre outros: 
I – manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor 
 carente; 
II – instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do 
 Ministério Público; 
 
10
 BUENO, Francisco da Silveira – Minidicionário da língua portuguesa, Editora FTD. São Paulo: 1996. 
11
 Artigo 4º: A Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades 
dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a 
melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos 
nos seguintes princípios: I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. 
 11 
III – criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de 
 consumidores vítimas de infrações penais de consumo; 
IV – criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas 
 para a solução de litígios de consumo; 
V – concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de 
 Defesa do Consumidor. 
Artigo 6º. São direitos básicos do consumidor: 
(...) 
VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou 
 reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, 
 assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; 
VIII – a facilidade da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da 
 prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a 
 alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de 
 experiências”. 
 
O consumidor, na qualidade de hipossuficiente, decorrente da 
vulnerabilidade reconhecida, encontra-se, na maioria das vezes, em situação de 
desamparo, socorre-se, então, às defensorias públicas, que possuem a importante 
função de orientação e de representação em juízo, caso haja necessidade. 
 
As promotorias de justiça de defesa do consumidor consagram-se na 
tarefa de defender o consumidor, seja no âmbito individual, com intuito de conciliar 
interesses, seja no coletivo, através da instauração do inquérito civil e proposituras 
de ações civis públicas, com fulcro na Lei nº 7.347/85. 
 
Ensina Cecília Matos que: 
 a inversão do ônus da prova é direito de facilitação da defesa e não pode ser 
 determinada senão após o oferecimento e valoração da prova, se e quando o 
 julgador estiver em dúvida. É dispensável caso forme sua convicção, nada 
 impedindo que o juiz alerte, na decisão saneadora que, uma vez em dúvida, se 
 utilizará das regras de experiências a favor do consumidor. Cada parte deverá 
 nortear sua atividade probatória de acordo com o interesse em oferecer as provas 
 que embasam seu direito. Se não agir assim, assumirá o risco de sofrer a 
 desvantagem de sua própria inércia, com a incidência das regras de experiência a 
 favor do consumidor. 12 
 
 
12
 GRINOVER, Ada Pellegrini, BENJAMIN, Antonio Herman de Vasconcellos e, FINK, Daniel Roberto, 
FILOMENO, José Geraldo Brito, WATANABE, Kazuo, NERY JÚNIOR, Nelson, DENARI, Zelmo. Código 
Brasileiro de Defesa do Consumidor; comentado pelos autores do anteprojeto, 6ª edição – Rio de Janeiro; 
Forense Universitária, 2000. 
 
 12 
Assim, com base no Princípio de Acesso a Justiça, o Código de Defesa do 
Consumidor não prevê somente que o consumidor tem direito a facilidade no 
acesso da justiça, mas como também tem o direito de inversão de prova, para que 
o fornecedor, detentor do poder econômico, produza provas a fim de demonstrar 
que o produto não continha vícios. Essa tutela se faz necessária para que haja 
isonomia na relação comercial e na busca de solução efetiva dos conflitos dela 
inerentes. 
 
2.3 – PRINCIPIO DA EFETIVA E INTEGRAL REPARAÇÃO DO DANO 
 
Princípio também tutelado pela Carta Magna no artigo 5º, inciso V.: 
 
 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
 garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
 inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
 propriedade, nos termos seguintes: 
 (...) 
 V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da 
 indenização por dano material, moral ou à imagem. 
 Princípio este também previsto no artigo 6º do Código de Defesa do 
Consumidor: 
 Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
 (...) 
 VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, 
 coletivos e difusos. 
 Este princípio se baseia na responsabilidade do fornecedor em reparar o 
dando causado pelo seu produto ao consumidor. Para poder seguir com este 
pensamento, antes é adequado esclarecer o conceito de responsabilidade e 
responsabilidade civil, conforme o Vocabulário Jurídico, literis: 
 13 
RESPONSABILIDADE: Forma-se o vocábulode responsável, de responder, do 
 latim respondere, tomado na significação de responsabilizar-se, vir garantindo, 
 assegurar, assumir o pagamento do que se obrigou ou do ato que praticou. 
Em sentido geral, pois, responsabilidade exprime a obrigação de 
responder por alguma coisa. Quer significar, assim, a obrigação de satisfazer ou 
executar o ato jurídico, o que se tenha convencionado, ou a obrigação de satisfazer 
a prestação ou de cumprir o fato atribuído ou imputado à pessoa por determinação 
legal. 
A responsabilidade, portanto, tem ampla significação, revela o dever 
jurídico, em que se coloca a pessoa, seja em virtude de contrato, seja em face de 
fato ou omissão, que lhe seja imputado, para satisfazer a prestação convencionada 
ou para suportar as sanções legais, que lhe são impostas. 
Onde quer, portanto, que haja a obrigação de fazer, dar ou não fazer 
alguma coisa, de ressarcir danos, de suportar sanções legais ou penalidades, há a 
responsabilidade, em virtude da qual se exige a satisfação ou o cumprimento da 
obrigação ou da sanção. 
A responsabilidade, desta maneira, tanto decorre da convenção como da 
norma ou regra jurídica, em face das quais a obrigação se exige ou o dever se 
impõe. 
Na linguagem comercial, é comum o emprego do vocábulo na significação 
de encargos, ônus, o que, em verdade, não se afasta do sentido originário de 
obrigação a cumprir. 
E nesta acepção entendem-se as expressões: O sócio Fulano tem a 
responsabilidade do escritório; o sócio Beltrano tem as responsabilidades da 
gerência; as responsabilidades são divididas entre os sócios. 
E daí porque responsabilidade, exprimindo etimologicamente a qualidade 
de ser responsável, a condição de responder, pode ser empregado em todo 
 14 
pensamento ou idéia, na qual se queira determinar a obrigação, o encargo, o 
dever, a imposição de ser feita ou cumprida alguma coisa. 
Na linguagem jurídica, há espécies de responsabilidade, que se 
apresentam devidamente determinadas: responsabilidade civil, responsabilidade 
penal, responsabilidade contratual, responsabilidade administrativa ou funcional 
etc. 
Todas elas, porém, não fogem ao sentido geral de obrigação, encargo, 
dever, compromisso, sanção, imposição. 
“RESPONSABILIDADE CIVIL: É a expressão usada na linguagem 
jurídica, em distinção à responsabilidade criminal ou penal.” 13 
Designa a obrigação de reparar o dano ou de ressarcir o dano, quando 
injustamente causado a outrem. 
Revela-se, assim, ou melhor, resulta da ofensa ou da violação de direito, 
que redunda em dano ou prejuízo a outrem. 
Pode ter como causa a própria ação ou ato ilícito, como, também, o fato 
ilícito de outrem, por quem, em virtude de regra legal, se responde ou se é 
responsável. 
O emprego da expressão universalizou-se, não somente para que se 
distinga da responsabilidade penal. Porque, embora derivada de crime ou delito, é 
a responsabilidade civil trazida à discussão em juízo civil, onde é indagada, litigada 
e decidida. 
Os princípios jurídicos em que se funda a responsabilidade civil, para 
efeito de determinar a reparação do dano injustificadamente causado, provém da 
velha máxima romana inserta no neminem laedere (não lesar a ninguém). 
 
13
 SILVA, De Plácido e – Vocabulário Jurídico, Editora Forense, Rio de Janeiro: 2002. 
 
 15 
Por vezes, empregam a expressão para designar a responsabilidade 
gerada da inexecução das obrigações, que se tenham assumido contratualmente. 
Esta responsabilidade é, propriamente, contratual ou convencional, 
distinguindo-se, por isso, da responsabilidade fundada no ato ilícito. 
A responsabilidade civil é a que se apura para que se possa exigir a 
reparação civil, que é a pena imposta ao agente ou responsável pelo ato ilícito. 
Vide: Reparação civil 
Ente uma e outra, há, no entanto, uma afinidade relativa à indenização do 
dano ou ressarcimento das perdas ou prejuízos trazidos à pessoa. 
Quando a responsabilidade decorre de ato próprio, diz-se direta. Quando 
de ato ou fato alheio, indireta. 14 
Analisando a responsabilidade civil prevista no Código de Defesa do 
Consumidor, encontramos excludentes da responsabilidade elencadas de forma 
taxativa nos artigos 12 e 14 do Código de Defesa do Consumidor: 
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o 
 importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação 
 dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, 
 fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou 
 acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou 
 inadequadas sobre sua utilização e riscos. 
(...) 
 § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será 
 responsabilizado quando provar: 
 I - que não colocou o produto no mercado; 
 II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; 
 III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
 
14
 SILVA, De Plácido e – Vocabulário Jurídico, Editora Forense, Rio de Janeiro: 2002. 
 
 16 
 Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de 
 culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos 
 à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas 
 sobre sua fruição e riscos. 
 (...) 
 § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: 
 I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; 
 II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
Em virtude de existir excludente de responsabilidades ao fornecedor no 
Código, alguns autores consideram que a responsabilidade civil objetiva é 
mitigada, mas, para o professor Nery Junior, “trata-se de responsabilidade 
absoluta, porque as excludentes não se referem nem decorrem do risco da 
atividade.” 15 
A reparação do dano ao consumidor é algo muito relevante para o Código 
de Defesa do Consumidor. Assim, em seu artigo 28 e parágrafos, prevê a 
desconsideração da personalidade jurídica do fornecedor, para que este não utilize 
artimanhas a fim de ludibriar o pagamento da indenização. Ou seja, ainda que o 
fornecedor dolosamente esconda seu patrimônio para frustrar o pagamento que é 
devido, em forma de indenização ao consumidor, este pode ingressar no 
patrimônio da pessoa física do fornecedor. 
Isto posto, notoriamente, é dever, salvo nas exceções anteriormente 
elencadas, do fornecedor arcar com os prejuízos sofridos pelo consumidor em 
decorrência de compra de produto ou de serviço, podendo, inclusive, na falta de 
patrimônio da pessoa jurídica do fornecedor, o consumidor ingressar na espera 
particular daquele, ou seja, nos bens que tange sua pessoa física. 
1.4 – PRINCÍPIO DA BOA-FÉ NA RELAÇÃO COMERCIAL 
 
15
 NOGUEIRA, Tânia Lis Tizzoni – A Prova no Direito do Consumidor, editora Juruá, 1ª edição. Curitiba: 
1999. 
 17 
Tendo em vista o artigo 170 da Constituição, que trata sobre a ordem 
econômica, o Código de Defesa do Consumidor se manifestou em seu artigo 4º, 
inciso III, e também no artigo 51, inciso IV: 
Art. 4° - A Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das 
necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de 
seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e 
harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: 
(...) 
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e 
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e 
tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da 
Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e 
fornecedores; 
Art. 51. São nulas de pleno direito,entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao 
fornecimento de produtos e serviços que: 
(...) 
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor 
em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade. 
Este princípio é necessário, decorrente do desrespeito dado ao 
consumidor. Ocupando este o posto de hipossuficiente na relação de consumo, 
bem como, acreditando em todas as vantagens oferecidas pelo produto e detentor 
de boa-fé, acabava por ser prejudicado, pois era ludibriado pelo fornecedor que 
sempre visava mais lucros, mesmo que fosse ilícito. Para que o consumidor fosse 
protegido e a sua boa-fé tutelada, o Código de Defesa do Consumidor o 
incorporou, uma vez que este princípio sempre existiu, mas por não ser respeitado, 
precisava de algo que exigisse este respeito, ou seja, de uma norma coercitiva 
para que o respeito devido fosse concedido. 
Desta forma, na elaboração do Código de Defesa do Consumidor, o 
legislador se preocupou em dar ao consumidor proteção à sua boa-fé, impondo 
sanções caso esta fosse desrespeitada, visando à harmonia entre as relações de 
consumo. 
 18 
III – PUBLICIDADE E PROPAGANDA 
 
 
3.1 - GENERALIDADES 
 
 A sociedade em que vivemos na era da globalização é marcada pelo corre-
corre do dia-a-dia, e, em virtude disto, para que os fornecedores tenham maior 
facilidade para apresentação de seus produtos aos consumidores, utilizam-se dos 
meios de comunicação através da publicidade e propaganda. Tendo em vista que 
estes meios influenciam significativamente o estado psicológico e emocional dos 
consumidores em massa, não importando se são o alvo ou não, destarte, diante 
deste quadro, percebe-se que a publicidade nos dias atuais é a natureza da 
sociedade de consumo. 
 
Para que a publicidade atinja seu fim, é necessário que chegue até os 
consumidores. Para isto, é necessário que sejam utilizados os meios de 
comunicação, que são de diversos tipos, como, por exemplo, imprensa escrita 
(jornais, revistas), rádio, televisão, publicidade ao ar livre (cartazes, faixas, 
“outdoors”). 
 
 A mensagem publicitária, a priori, tem como função a informação. Esta 
função, no entanto, foi distorcida pela função de influenciar, convencer o 
consumidor. Este, por sua vez, perde, em tese, a liberdade de construir sua própria 
opinião, já que recebe idéias e opiniões prontas através dos veículos de 
comunicação. 
 
 O destaque da mensagem do anúncio publicitário é invertido do produto 
para o consumidor, como, por exemplo, a propaganda da Coca-Cola: “Beba Coca-
Cola e Viva o Lado Bom da Vida”. 
 
 Desta forma, considera-se a publicidade e a propaganda formas de 
induzimento ao consumo, que são dirigidas aos consumidores de uma maneira 
 19 
geral para que estes tenham necessidade de possuir o produto em apreço, 
influenciando na sua escolha no ato da compra. 
 
3.2 – CONCEITO DE PUBLICIDADE E A SUA DISTINÇÃO DE PROPAGANDA 
 
 Publicidade e Propaganda, apesar de serem, no dicionário da língua 
portuguesa, sinônimos, no Código de Defesa do Consumidor, não foram adotadas 
com o mesmo significado. 
 
 Para o Código de Defesa do Consumidor, a publicidade tem objetivo 
comercial, com caráter lucrativo, uma vez que tem a finalidade de convencer o 
consumidor da necessidade de possuir tal produto. Já a propaganda tem a função 
de informação, com conteúdos culturais, sociais e educativos. 
 
 O que resta elucidado nos comentários do Código de Defesa do 
Consumidor: 
 
 Não se confundem publicidade e propaganda, embora, no dia-a-dia do mercado, os dois 
termos sejam utilizados um pelo outro. A publicidade tem um objetivo comercial (“la 
 finalité dún rendement économique par lê recrutement d’un public de consommateurs”), 
 enquanto a propaganda visa a um fim ideológico, religioso, filosófico, político, econômico 
 ou social. 
 
 A título exemplificativo, imagine, em primeiro momento, uma campanha do 
Estado para a conscientização da população em limpar suas casas para acabar 
com os focos do mosquito da dengue; e, em segundo, a veiculação de alguma 
empresa de inseticida com o mesmo conteúdo, mas com a finalidade de persuadir 
o consumidor a comprar uma marca específica. O primeiro caracteriza a 
propaganda, enquanto o segundo, a publicidade. 
 
3.4 – PRINCÍPIOS REGENTES DA PUBLICIDADE NA RELAÇÃO DE CONSUMO 
 
3.4.1 – PRINCÍPIO DA IDENTIFICAÇÃO DA PUBLICIDADE 
 20 
 
 A publicidade tem que ser identificada, sendo vedada a publicidade 
clandestina e a subliminar, uma vez que o Código de Defesa do Consumidor prevê, 
no artigo 36, que a publicidade tem que ser clara. Um exemplo de publicidade 
subliminar é, quando em algum filme, aparecem os personagens passando por 
determinada loja, lanchonete, mostrando a sua marca, mas sem fazer qualquer 
referência a ela. 
 
 Assim, a publicidade deve ser veiculada de forma clara o suficiente para que 
o consumidor compreenda a real mensagem. 
 
3.4.2 – PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO CONTRATUAL DA PUBLICIDADE 
 
 Conforme está previsto nos artigos 30 a 35 do Código de Defesa do 
Consumidor, o consumidor tem o direito de exigir do fornecedor o integral 
cumprimento do conteúdo do anúncio publicitário, pois se considera a publicidade 
negócio jurídico unilateral. 
 
3.4.3 – PRINCÍPIO DA VERACIDADE DA PUBLICIDADE 
 
 Este é um dos princípios fundamentais da publicidade, uma vez que tutela o 
consumidor da publicidade enganosa prevista no artigo 37, § 1º, do Código de 
Defesa do Consumidor. 
 
3.4.4 – PRINCÍPIO DA NÃO-ABUSIVIDADE DA PUBLICIDADE 
 
 Este princípio visa que a propaganda não distorça os conceitos da 
sociedade, não devendo ser, de qualquer maneira, discriminatória, vexatória ou 
prejudicial ao consumidor. 
 
 21 
 Diferentemente da propaganda enganosa, a abusiva não causa prejuízo ao 
bolso do consumidor, mas fere seus valores ínfimos. 
 
3.4.5 – PRINCÍPIO DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA 
 
 Tendo em vista a vulnerabilidade do consumidor frente ao fornecedor, 
aquele terá obstáculos, dificuldades em provar que foi enganado ou que foi 
influenciado por uma propaganda publicitária distorcida. 
 
 Quando existe prejuízo ao consumidor em relação à publicidade do produto, 
a inversão do ônus da prova é obrigatória, uma vez que alcança a veracidade do 
anúncio bem como o abuso deste. 
 
3.4.6 – PRINCÍPIO DA TRANSPARENCIA DA FUNDAMENTAÇÃO DA 
PUBLICIDADE 
 
 Ao anunciar seu produto, o fornecedor tem o dever, como fundamento, usar-
se de elementos fáticos e científicos, uma vez que o anunciante deve zelar pelo 
respeito para com o consumidor, bem como, fornecer apenas informações 
verídicas. 
 
3.4.7 – PRINCÍPIO DA CORREÇÃO DO DESVIO PUBLICITÁRIO 
 
 De acordo com a professora Ada Pellegrini, “uma vez que o desvio 
publicitário ocorra, ao lado de sua reparação civil e repressão administrativa e 
penal, impõe-se, igualmente, que os seus malefícios sejam corrigidos, ou seja, que 
seu impacto sobre os consumidores seja aniquilado”.16 
 
3.5 – DISPOSITIVOS SOBRE A DISCIPLINA CIVIL NA PUBLICIDADE NO 
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 
 
16
 
 22 
 
O Livro V do Código de Defesa do Consumidor, a partir do artigo 36, 
regulamenta a publicidade na relação de consumo empregada no Brasil. Além do 
Código, a publicidade também é regulamentada pelo Conar – Conselho Brasileiro 
de Auto-Regulamentação Publicitária, que, em conjunto com o Estado, fiscaliza os 
aspectos éticos e morais daquela. 
 
 O principal objetivo do legislador ao regulamentar a publicidade na relação 
de consumo foi tutelar a boa-fé dos consumidores em geral, não considerando o 
seu nível intelectual, uma vez que a publicidade é dirigida aos consumidores em 
massa, que são de todas as classes sociais, com diferentes experiências, culturas 
e níveis intelectuais. Sendo assim, o fornecedor é responsabilizado civilmente pela 
publicidade enganosa de seu produto, não importando se houve dolo ou culpa, 
uma vez que se considera o potencialde enganar o consumidor, mesmo que seja 
uma pequena quantidade, aparentemente insignificante. 
 
 Em razão desta preocupação, o legislador dispôs sobre publicidade 
enganosa, classificada em comissiva e omissiva, bem como sobre a abusiva, 
conforme está disposto na Lei 8.078/90, no artigo 37. 
 
3.5.1 – PROPAGANDA ENGANOSA 
 
 A propaganda enganosa está prevista no artigo 37, § 1º, no Código de Defesa do 
Consumidor, verbis: 
 Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. 
 § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira 
 ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir ao erro o 
 consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, 
 preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. 
 
 A propaganda enganosa ocorre quando induz o consumidor a comprar algo 
que, se ele soubesse das reais condições do produto, não compraria, ou se 
comprasse, não aceitaria pagar o valor estipulado. 
 23 
 
 Para caracterização da propaganda enganosa não é necessário a intenção 
do fornecedor de ludibriar o consumidor, assim como não precisa que seja 
comprovado o dano material ao receptor, bastando, apenas, a possibilidade de 
instigar o consumidor a erro. 
 
 Existem dois tipos de publicidade enganosa, a omissiva e comissiva (por 
ação). A publicidade enganosa omissiva ocorre quando são omitidas informações 
importantes ao consumidor que poderiam levar este a não adquirir tal produto ou 
serviço, ou, se adquirisse, não celebraria o negócio jurídico nas formas impostas 
pelo fornecedor. Sendo, então, esta omissão de informações imprescindíveis 
reprovada pelo Código, uma vez que é contrária ao princípio da transparência, 
identificação, veracidade e informação que são as bases da publicidade na relação 
de consumo, agredindo, desta forma, a boa-fé do receptor do anúncio, que 
configura a parte hipossuficiente da relação. 
 
 Exemplos de publicidade enganosa omissiva são facilmente perceptíveis 
nos anúncios feitos pelas empresas de telefones móveis, quando, na propaganda 
publicitária, diz que poderão ser feitas ligações de graça do aparelho até o final do 
ano, quando, na verdade, só serão gratuitas as ligações feitas para números da 
mesma operadora e em horários específicos. 
 
 A publicidade enganosa comissiva decorre de uma ação do anunciante, 
quando este disponibiliza no anúncio informação que não é condizente com a 
realidade fática do produto ou serviço. Ocorre também quando há exagero no 
anúncio, com a intenção de valorizar o produto, induzindo o consumidor a erro, 
sendo, então, considerada mensagem falsa, irreal, inverídica. 
 
 O exagero só não é tido como publicidade enganosa por comissão quando 
qualquer receptor do anúncio possa entender, possa perceber que se trata de 
mensagem fantasiosa, que tem impossibilidade de virar realidade. 
 24 
 
 Para encontrar um exemplo de publicidade enganosa por comissão não é 
preciso procurar muito. Apenas com o acesso a alguns anúncios de pacotes de 
turismos, poder-se-á perceber este tipo de ação enganosa para com o consumidor. 
As empresas de turismo, não raramente, distribuem panfletos publicitários, nos 
quais induzem o consumidor a acreditar que, se adquirir o referido pacote de 
turismo, ficará hospedado em um hotel de alto nível, com as alimentações inclusas, 
bem como todos os passeios. Mas, ao chegar ao destino, o hotel não é nem ao 
menos parecido com o qual a empresa divulgou, assim como fornece aos 
hóspedes somente cafés da manhã e somente os passeios públicos podem ser 
feitos gratuitamente. 
 
3.5.2 - PUBLICIDADE ABUSIVA 
 
 Esta modalidade de publicidade é regrada no artigo 37, § 2º, verbis: 
 Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. 
 § 2° É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que 
 incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de 
 julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja 
 capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua 
 saúde ou segurança. 
 
 De acordo com o exposto, publicidade abusiva é todo anúncio que visa, 
dolosamente, ou não, ofender valores morais da sociedade. Assim como na 
publicidade enganosa, não é necessário que seja ferido os valores sociais, apenas 
que estes valores sejam expostos, de maneira que haja apenas a possibilidade da 
concretização do dano. 
 
 Os casos elencados no artigo acima são meramente exemplificativos e não 
um rol taxativo, uma vez que os valores sociais estão em constante mudança e são 
distintos para a cada cultura regional do país. 
 
 25 
 Ressalta-se que este tipo de publicidade não tem a finalidade de enganar o 
consumidor sobre o produto e sim deturpar os valores éticos que a sociedade 
preserva. 
 
 A prática deste tipo publicitário é visível na veiculação de anúncios de tele-
sexo, pela televisão ou pelo rádio, em período matutino ou vespertino, uma vez que 
são horários nos quais as crianças estão assistindo à televisão ou escutando rádio, 
com maior probabilidade. A exposição a estes anúncios influencia o despertar 
prematuro da libido das crianças. 
 
 Assim, o legislador foi cauteloso no sentido de colocar limites aos anúncios 
publicitários, para que este não fuja do objetivo de induzir o consumidor a adquirir o 
produto, não permitindo, desta forma, que os valores da sociedade sejam 
deturpados, ofendendo a dignidade da pessoa humana, o meio-ambiente, e 
colocando em risco a segurança e a saúde do consumidor. Esta cautela faz-se 
necessária uma vez que o meio publicitário tem grande facilidade em induzir 
comportamentos, pensamentos, opiniões e valores, podendo, então, modificar as 
condutas sobre determinado assunto, que a sociedade busca preservar.

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