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CCJ0023-WL-OO-Apostila Direito do Consumidor - Ana Flávia Mori - 2012

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CURSO PREPARATÓRIO PARA 
PROCURADOR GERAL DO 
ESTADO DE GOIÁS E 
DO MUNICÍPIO 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
 
 
Professora: Ana Flávia Mori 
2012-1 
 
SUMÁRIO 
 
CAPÍTULO 1 ..................................................................................................................................6 
NORMAS DE ORDEM PÚBLICA E INTERESSE SOCIAL.......................................................6 
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DO CDC ........................................................................7 
CAPÍTULO 2 ..................................................................................................................................8 
A RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO ......................................................................................8 
1. O CONCEITO DE RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO ....................................................8 
2. O CONCEITO DE CONSUMIDOR .........................................................................................8 
3. O CONCEITO DE FORNECEDOR: ...................................................................................... 20 
4. O OBJETO DA RELAÇÃO DE CONSUMO ......................................................................... 23 
5. QUESTÕES DE CONCURSOS ............................................................................................. 27 
CAPÍTULO 3 ................................................................................................................................ 28 
POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ........................................................ 28 
1. CONCEITO DE POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ...................... 28 
2. OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ..................... 28 
3. PRINCÍPIOS DA POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO .................... 28 
4. OS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DE CONSUMO ................................... 34 
CAPÍTULO 4 ................................................................................................................................ 35 
OS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR............................................................................. 35 
1. NATUREZA DOS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR:............................................ 35 
2. DIREITOS BÁSICOS ELEMENTARES ............................................................................... 35 
3. NORMA DE INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE DEFESA DO CONSUMIDOR .................. 59 
4. A REGRA GERAL DA SOLIDARIDADE NA REPARAÇÃO DOS DANOS ....................... 59 
5. QUESTÕES DE CONCURSOS ............................................................................................. 60 
CAPÍTULO 5 ................................................................................................................................ 61 
DA PROTEÇÃO À SAÚDE E SEGURANÇA .............................................................................. 61 
1. O DEVER DE SEGURANÇA................................................................................................ 61 
2. RISCO NORMAL E PREVISÍVEL: PERICULOSIDADE INERENTE ................................. 62 
4. A PERICULOSIDADE INERENTE ...................................................................................... 62 
5. A PERICULOSIDADE ADQUIRIDA ................................................................................... 63 
6. A INFORMAÇÃO ADEQUADA .......................................................................................... 63 
7. PRODUTOS E SERVIÇOS COM CERTO GRAU DE PERICULOSIDADE ......................... 63 
8. PRODUTOS E SERVIÇOS COM ALTO GRAU DE PERICULOSIDADE ........................... 64 
CAPÍTULO 6 ................................................................................................................................ 67 
A RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO ................................... 67 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 2
1. A RESPONSABILIDADE OBJETIVA .................................................................................. 67 
2. A TUTELA DOS DANOS NO CDC ...................................................................................... 68 
3. VÍCIO, DEFEITO E FATO: DIFERENÇAS .......................................................................... 69 
4. A RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO ...................................................... 71 
5. FATO DO SERVIÇO............................................................................................................. 85 
6. CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO (BYSTANDER)...................................................... 96 
7. QUESTÕES DE CONCURSOS ............................................................................................. 97 
CAPÍTULO 6 .............................................................................................................................. 103 
A RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO ................................ 103 
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 103 
2. DISTINÇÃO ENTRE DEFEITO E VÍCIO ........................................................................... 103 
3. O DANO MORAL E O VÍCIO DO PRODUTO ................................................................... 104 
4. ESPÉCIES DE VÍCIOS NO CDC ........................................................................................ 105 
5. A RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DE QUALIDADE DO PRODUTO ...................... 105 
6. RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DE QUANTIDADE DO PRODUTO ....................... 113 
7. RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DE QUALIDADE DO SERVIÇO ........................... 115 
8. A OBRIGAÇÃO DE EMPREGAR COMPONENTES NOVOS NA REPARAÇÃO DO 
PRODUTO .............................................................................................................................. 118 
9. SERVIÇOS PÚBLICOS ...................................................................................................... 118 
10. A IGNORÂNCIA DOS VÍCIOS E A GARANTIA DE BOA QUALIDADE. ..................... 120 
13. GARANTIA LEGAL DE ADEQUAÇÃO E CLÁUSULAS EXONERATIVAS DE 
RESPONSABILIDADE........................................................................................................... 120 
14. VEDAÇÃO DE LIMITAÇÃO INDENIZATÓRIA E SOLIDARIEDADE ENTRE 
FORNECEDORES .................................................................................................................. 121 
15. A SOLIDARIEDADE DOS FORNECEDORES ................................................................ 122 
16. A DECADÊNCIA .............................................................................................................. 123 
17. A PRESCRIÇÃO ............................................................................................................... 134 
18. A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ........................................ 137 
19. QUESTÕES DE CONCURSOS ......................................................................................... 146 
CAPÍTULO 8 .............................................................................................................................. 149 
DAS PRÁTICAS COMERCIAIS ................................................................................................ 149 
1. O CONCEITO DE PRÁTICAS COMERCIAIS ................................................................... 149 
2. O MARKETING .................................................................................................................. 149 
3. O CONSUMIDOR EQUIPARADO ..................................................................................... 150 
4. A VINCULAÇÃO DA OFERTA ......................................................................................... 151 
5. A VERACIDADE DA OFERTA E DA APRESENTAÇÃO .................................................155 
6. GARANTIA DE PEÇAS DE REPOSIÇÃO DO PRODUTO ................................................ 156 
7. A IDENTIFICAÇÃO DO FABRICANTE NAS VENDAS À DISTÂNCIA ......................... 157 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 3
8. A SOLIDARIEDADE DO FORNECEDOR PELOS ATOS DE SEUS PREPOSTOS ........... 158 
9. A OBRIGAÇÃO DE CUMPRIR A OFERTA, APRESENTAÇÃO OU PUBLICIDADE ..... 158 
10. A PUBLICIDADE ............................................................................................................. 159 
11. A IDENTIFICAÇÃO PUBLICITÁRIA .............................................................................. 161 
12. O DEVER DE VERACIDADE DA FUNDAMENTAÇÃO ................................................ 163 
13. A PUBLICIDADE ENGANOSA ....................................................................................... 164 
14. A PUBLICIDADE ABUSIVA ........................................................................................... 165 
15. PUBLICIDADE ENGANOSA POR OMISSÃO ................................................................ 165 
16. A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ANUNCIANTE...................................................... 167 
17. SANÇÕES ADMINISTRATIVAS ..................................................................................... 168 
18. A CONTRAPROPAGANDA ............................................................................................. 169 
19. SANÇÕES PENAIS À PUBLICIDADE ENGANOSA OU ABUSIVA .............................. 169 
20. O ÔNUS DA PROVA NA PUBLICIDADE ....................................................................... 170 
21. AS PRÁTICAS ABUSIVAS ............................................................................................. 171 
22. ORÇAMENTO PRÉVIO OBRIGATÓRIO ........................................................................ 179 
23. PRODUTOS E SERVIÇOS SUJEITOS A TABELAMENTO ............................................ 180 
24. COBRANÇA VEXATÓRIA .............................................................................................. 181 
25. RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO ................................................................... 182 
26. BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES ....................................... 184 
27. CADASTROS DE FORNECEDORES ............................................................................... 201 
28. QUESTÕES DE CONCURSOS ......................................................................................... 202 
CAPÍTULO 9 .............................................................................................................................. 205 
A PROTEÇÃO CONTRATUAL ................................................................................................. 205 
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 205 
2. CONTRATO NA VISÃO CLÁSSICA TRADICIONAL: ..................................................... 205 
3. NOVA CONCEPÇÃO DE CONTRATO NO CDC (O DIRIGISMO CONTRATUAL) ........ 206 
4. FORMAS DE CONTRATAÇÃO ......................................................................................... 206 
5. CONTRATOS EM RELAÇÃO AO TEMPO DE DURAÇÃO.............................................. 208 
6. CONTRATOS NUMA PERSPECTIVA CIVIL-CONSTITUCIONAL ................................. 209 
7. OS PRINCÍPIOS QUE REGEM AS RELAÇÕES CONTRATUAIS .................................... 210 
8. O DEVER DE TRANSPARÊNCIA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO .............................. 217 
9. INTERPRETAÇÃO EM FAVOR DO CONSUMIDOR ....................................................... 218 
10. A VINCULAÇÃO PRÉ-CONTRATUAL .......................................................................... 218 
11. DIREITO DE ARREPENDIMENTO ................................................................................. 218 
12. A GARANTIA CONTRATUAL ........................................................................................ 219 
13. AS CLÁUSULAS ABUSIVAS .......................................................................................... 220 
14. PRESUNÇÃO RELATIVA DA VANTAGEM EXAGERADA .......................................... 230 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 4
15. A CONSERVAÇÃO DO CONTRATO .............................................................................. 231 
16. O CONTROLE DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS .............................................................. 231 
17. O CRÉDITO AO CONSUMIDOR ..................................................................................... 232 
18. COMPRA E VENDA À PRESTAÇÃO. ............................................................................. 234 
19. OS CONTRATOS DE ADESÃO. ...................................................................................... 237 
20. QUESTÕES DE CONCURSOS ......................................................................................... 239 
CAPÍTULO 9 .............................................................................................................................. 244 
DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS ...................................................................................... 244 
CAPÍTULO 10 ............................................................................................................................ 246 
DAS INFRAÇÕES PENAIS ........................................................................................................ 246 
 
 
 
 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 5
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
 
 
 
Érico de Pina Cabral 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “...Acontece que a tecnologia não está aí para distribuir sossego, mas 
para incrementar competição e produtividade, não só das empresas, mas 
dos corpos. Tudo sugere velocidade, urgência, nossa vida está sempre 
aquém de alguma tarefa. A tecnologia nos enfiou uma lógica produtiva de 
fábricas vivas, chips, pílulas para tudo. Temos de funcionar, não de viver. 
Por que tudo tão rápido? Para chegar aonde? (...) Estamos cada vez mais 
em trânsito, como carros, somos celulares, somos circuitos sem pausa, e 
cada vez mais nossa identidade vai sendo programada. O tempo é a 
invenção da produção. Não há tempo para os bichos. Se quisermos 
manhã, dia e noite, temos de ir morar no mato...” 
 
(Arnaldo Jabor, “Nosso dias melhores nunca virão?”. In: Jornal O 
Estado de São Paulo, Caderno 2, p. D8, 30.09.2003). 
 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 6
CAPÍTULO 1 
NORMAS DE ORDEM PÚBLICA E INTERESSE SOCIAL 
 
 
 
1. NORMAS DE ORDEM PÚBLICA E INTERESSE SOCIAL 
 
O legislador foi incisivo e não deixou dúvidas: o CDC é uma norma de ordem 
pública e interesse social, conforme estabelece o art. 1º. 
 
Art. 1º. O presente Código estabelece normas de proteção e 
defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, 
nos termos do art. 5º, inciso XXXII, 170, inciso V da 
Constituição Federal e artigo 48 de suas Disposições 
Transitórias. 
 
 
1.1. NORMAS DE ORDEM PÚBLICA 
 
 São aquelas normas que representam o conjunto de normas jurídicas 
cogentes, imperativas, que prevalecem sobre o universo das normas 
dispositivas, de direito privado. Impactam sobre o universo das relações 
jurídicas, de modo impositivo. 
 
São inafastáveis pela autonomia da vontade individual e se sobrepõem 
imperativamente nas relações privadas (se sobrepõem às outras 
normas da mesma hierarquia). 
 
EMENTA: “Agravo interno. Recurso Especial. Julgamento extra petita. Não 
ocorrência. Ausência de sucumbência. Falta de interesse processual. I – 
Questões de ordem pública contempladas pelo Cód. Defesa do Consumidor, 
independentemente de sua natureza, podem e devem ser conhecidas, de ofício, 
pelo julgador. Por serem de ordem pública, transcendem o interesse e se 
sobrepõem até a vontade das partes. Falam por si mesmas e, por isso, 
independemde interlocução para serem ouvidas. II – Por outro lado, não 
caracterizada, no ponto, a sucumbência, até faltaria ao recorrente interesse para 
o recurso. Agravo interno a que se nega provimento” (STJ – AgRg no REsp. 
703.558-RS – 3ª Turma – j. 29.03.2005 – rel. Min. Castro Filho, DJU 
16.05.2205, p. 349). 
 
 
3.2. NORMAS DE INTERESSE SOCIAL 
 
 As normas de interesse social ou LEIS DE FUNÇÃO SOCIAL – 
conforme explica Cláudia Lima Marques - são aquelas que têm a função de 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 7
transformar a realidade social, impor novas noções valorativas e conduzir a 
sociedade a um novo patamar de harmonia e respeito nas relações jurídicas.1 
 
São exemplos de Leis de função social, além do CDC, a Lei dos Planos de 
Saúde (Lei n. 9.656 de 12.06.2001), o Estatuto da Criança e do Adolescente 
(Lei n. 8.069 de 12.07.1990), o Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741 de 
1º/10/2002) etc. 
 
 
4. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DO CDC 
 
1) Art. 5º, inc. XXXII: 
 
A Constituição Federal estabeleceu como direito fundamental do cidadão, 
a defesa do consumidor: “o Estado promoverá, na forma de lei, a defesa 
do consumidor”. Ou seja, a CF separou as relações de consumo das 
outras relações jurídicas e as colocou sob a égide do CDC. A destinação 
do CDC é exclusiva e de ordem constitucional. 
 
2) Art. 170: 
 
Este dispositivo constitucional estabelece que “a ordem econômica 
fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por 
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça 
social, observado alguns princípios, dentre eles: inc. V: “defesa do 
consumidor”. 
 
3) Art. 48 da ADCT: 
 
Por este dispositivo “O Congresso Nacional, dentro de 120 dias da 
promulgação da Constituição, elaborará Código de Defesa do 
Consumidor”. Este prazo foi ultrapassado e, em 11.09.1990 foi 
promulgado o texto da Lei n. 8.078/90 – Código de Proteção e Defesa do 
Consumidor. 
 
Outros dispositivos constitucionais: 
 
a) O art. 150 da CF, que trata das limitações do poder de tributar por parte do 
Poder Público e no âmbito da União, Estados e Distrito Federal e Municípios, 
estabelece no seu § 5º que a “lei determinará medidas para que os 
consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre 
mercadorias e serviços”. 
 
b) O art. 24 da CF estabelece que “Compete à União, aos Estados e ao Distrito 
Federal legislar concorrentemente sobre: inc. V: produção e consumo.” 
 
1 MARQUES, Cláudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman V. e MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código de 
Defesa do Consumidor. 2ª ed. São Paulo: RT, 2006, p. 62. 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 8
CAPÍTULO 2 
A RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO 
 
 
1. O CONCEITO DE RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO 
 
 
 A RELAÇÃO JURÍDICA = representa uma situação em que duas ou 
mais pessoas (elemento subjetivo) se encontram a respeito de uns bens ou 
interesses jurídicos (elemento objetivo)  O conjunto desses elementos, mais um 
vínculo intersubjetivo que traduz o conjunto de poderes e deveres dos sujeitos constituem 
a chamada estrutura da relação jurídica (Francisco Amaral). 
 
 A relação jurídica traduz a regulamentação jurídica (aspecto formal) do 
comportamento dos indivíduos (aspecto material) no seu dia a dia, na disciplina de 
seus interesses, estabelecendo situações ativas (poderes) e situações passivas 
(deveres). (idem) 
 
 
 Podemos conceituar relação jurídica de consumo como o vínculo que o 
direito do consumidor estabelece entre um ou mais consumidores e 
fornecedores, que se encontram a respeito de produtos e serviços, atribuindo-
lhes poderes e deveres. 
 
  A relação jurídica de consumo representa uma situação jurídica de 
bilateralidade que se estabelece entre os sujeitos (consumidor e fornecedor), seja em 
posição de poder, seja na correspondente posição de dever. 
 
 O CDC não definiu o que é relação jurídica de consumo, mas 
definiu os seus elementos: a) o consumidor; b) o fornecedor e; c) 
o objeto (produtos e serviços). 
 
 
2. O conceito de consumidor 
 
2.1. OS CONCEITOS DE CONSUMIDOR NO CDC 
 
No CDC existem quatro conceitos de consumidor: 
 
2.1.1. CONSUMIDOR EM SENTIDO ESTRITO 
 
Art. 2º caput  consumidor standard, em sentido concreto e 
determinado (stricto sensu). 
 
Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire 
ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. 
 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 9
 
2.1.2. CONSUMIDOR EM SENTIDO COLETIVO 
 
Art. 2º, par. único  consumidor no sentido coletivo (bystander); 
 
Art. 2º. (...) Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a 
coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja 
intervindo nas relações de consumido. 
 
>> O dispositivo garante a tutela dos interesses coletivos (lato sensu) dos 
consumidores determinados ou indeterminados que direta ou indiretamente 
hajam participado das relações de consumo (situação concreta), cujos interesses 
podem ser defendidos pela via da ação coletiva (interesses difusos, coletivos stricto 
sensu ou individuais homogêneos) proposta por qualquer dos legitimados do art. 
82 do CDC. 
 
EMENTA: “O Ministério Público tem legitimidade para ingressar com ação civil 
pública visando a fixação e o pagamento de mensalidades escolares, pois os 
interesses e direitos daí decorrentes podem se considerados homogêneos, pode 
o órgão ministerial propor ação, eis que têm vinculação com o consumo, ou 
seja, podem os titulares do direito ser considerados consumidores, nos 
termos do art. 2º, parágrafo único, da Lei 8.078/1990” (STF – RE 
185.360-3/SP - 2ª Turma – rel. Min. Carlos Velloso – j. 17.11.1997 – RT 
752/116). 
 
 
2.1.3. CONSUMIDOR EQUIPARADO 
 
Art. 17  consumidor equiparado (bystander) – são as vítimas do 
evento danoso oriundo de uma relação de consumo: 
 
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equipara-se a consumidor 
todas as vítimas do evento. 
 
 O art. 17 do CDC estende a proteção do CDC ao terceiro, bystander, que, 
mesmo não tendo participado diretamente de uma relação de consumo venha 
sofrer danos à sua saúde, segurança e patrimônio extrínseco, em decorrência de 
uma atividade de fornecimento de produtos ou serviços no mercado de consumo 
(fato do produto ou do serviço). 
 
 EXEMPLO: são considerados consumidores equiparados, as pessoas que 
sofrem danos em razão de explosão ocorrida num shopping center, mesmo que 
não tenham adquirido nenhum bem de consumo. Neste sentido: “Em 
conseqüência do art. 17 do Código de Defesa do Consumidor, equiparam-se aos 
consumidores todas as pessoas que, embora não tendo participado diretamente 
da relação doe consumo, vem a sofrer as conseqüências do evento danoso, dada a 
potencial gravidade que pode atingir o fato do produto ou do serviço, na modalidade 
vício de qualidade por insegurança. Recurso especial não conhecido (STJ – REsp. 
181.580-SP 3ª Turma – j. 09.12.2003 – rel. Min. Castro Filho). 
 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 10
EMENTA: “Código de Defesa do Consumidor. Acidente aéreo. Transporte de 
malotes. Relação de Consumo. Caracterização. Responsabilidade pelo fato do 
serviço. Vítima do evento. Equiparação a consumidor. Art. 17 do CDC. I – Resta 
caracterizada relação de consumo se a aeronave que caiu sobre a casa das 
vítimas realizava serviço de transporte de malotes para um destinatário final, 
ainda que pessoa jurídica, uma vez que o artigo 2º do Código de Defesa do 
Consumidor não faz tal distinção, definindo como consumidor, para os fins 
protetivos da lei, “...toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto 
ou serviço como destinatário final”. Abrandamento do rigor técnico do critério 
finalista. II – Em decorrência, pela aplicação conjugada com o artigo 17 
do mesmo diploma legal, cabível, por equiparação, o enquadramento do 
autor, atingido em terra, no conceito de consumidor.Logo, em tese, 
admissível a inversão do ônus da prova em seu favor. Recurso Especial provido” 
(STJ – REsp. 540.235-TO – 3ª Turma – j. 07.02.2006 – rel. Min. Castro Filho, 
DJU 06.03.2006, p. 372). 
 
2.1.4. CONSUMIDOR ABSTRATO 
 
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se 
aos consumidores todas as pessoas, determináveis ou não, 
expostas às práticas nele previstas. 
 
Art. 29  consumidor abstrato (pessoas determináveis ou não) expostas à 
práticas comerciais abusivas, publicidade enganosa ou abusiva, e estipulações 
contratuais abusivas. Não há necessidade de que estas pessoas sejam determináveis, 
basta apenas que estejam expostas à práticas comerciais abusivas. Desta forma são 
considerados consumidores abstratos as pessoas que apenas assistem na TV a 
veiculação de uma publicidade abusiva ou enganosa. 
 
Exemplo: equipara-se a consumidor para fins de proteção do CDC, a pessoa, 
que mesmo sem ter adquirido nenhum produto ou serviço tem seu nome negativado 
indevidamente no serviço de proteção ao crédito. 
 
 
2.2. O CONCEITO ECONÔMICO DE CONSUMIDOR 
 
 
 Conceito econômico de consumidor: “todo indivíduo que se faz destinatário da 
produção de bens, seja ele ou não adquirente, e seja ou não, a seu turno, também 
produtor de outros bens” (Geraldo de Brito Filomeno). 
 
Entende Geraldo de Brito Filomeno, que o CDC adotou o conceito econômico de 
consumidor, abstraindo-se de tal conceituação componentes de natureza sociológica 
(referente a determinada categoria ou classe social), ou psicológica (referente às 
motivações internas que o levam ao consumo), bem como os componentes de ordem 
literária e até filosófica (Código de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do 
anteprojeto, 8ª ed. São Paulo: Forense Universitária, 2005, p. 27-28). 
 
 Entendemos, contudo, que não se pode afirmar que o conceito de consumidor do 
art. 2ª do CDC despreza o motivo da aquisição do produto ou serviço. O motivo ou a 
finalidade da aquisição é imprescindível para que se possa saber se o adquirente é o 
não destinatário final do produto ou serviço. 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 11
Para a economia, quem é considerado consumidor? 
 
 O conceito econômico é amplo e irrestrito e abrange não somente 
aquele que adquire para uso próprio, ou seja, como destinatário final, como 
também aquele que o faz na condição de intermediário, para repasse a outros 
fornecedores (João Batista de Almeida). 2 
 
Percebe-se a dificuldade de transplantar o conceito econômico para o 
campo jurídico. 
 
 No nosso entendimento: O art. 2º do CDC não adotou o 
conceito econômico de consumidor. 
 O art. 2º do CDC adotou um conceito jurídico de 
consumidor o qual exclui o intermediário da condição de 
consumidor.3 Intermediário não é destinatário final. 
 
 
2.3. O CONCEITO JURÍDICO DE CONSUMIDOR 
 
  No aspecto jurídico do conceito só é considerado consumidor quem 
adquire ou utiliza produtos como DESTINATÁRIO FINAL (sem o intuito de revenda 
ou transformação). 
 
Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica 
que adquire ou utiliza produto ou serviço como 
destinatário final. 
 
 
pessoa física – qualquer cidadão 
ou jurídica – empresas, entes despersonalizados etc. 
adquirir – à título oneroso ou gratuito 
utilizar – não precisa adquirir 
 
 
2.4. O DESTINATÁRIO FINAL 
 
 O CDC não define exatamente quem é destinatário final. Para sua 
identificação é mister que se considere a finalidade da aquisição do bem de 
consumo. Assim por exemplo, quando um consumidor adquire laranjas é 
necessário saber a finalidade de tal aquisição: se for para revenda o 
comprador não será destinatário final e não haverá relação de consumo; ao 
contrário, se for para fazer suco de laranja em casa (uso doméstico), o 
comprador será destinatário final e haverá relação de consumo. 
 
 DESTINATÁRIO FINAL – é quem retira o produto do ciclo de produção e 
comercialização sem o intuito de revenda ou transformação. 
 
 
2 A proteção jurídica do consumidor. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 36. 
3 Neste sentido: João Batista de Almeida (A proteção jurídica do consumidor. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 
2000, p. 36); Antonio Herman Vasconcelos e Benjamin (O conceito jurídico de consumidor. Revista dos 
Tribunais. São Paulo: RT, n. 628, 1988, fev., p. 78). 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 12
Exemplo: uma pessoa que compra uma panela para uso doméstico; uma pessoa 
que adquire laranjas para fazer suco em sua residência. 
Já o marceneiro que adquire madeiras para a fabricação de móveis não é 
destinatário final do produto, pois o produto será utilizado na transformação 
(ou manufatura) para uma nova comercialização. 
 
 Para saber se uma pessoa é destinatária final do produto ou serviço é necessário saber 
a FINALIDADE do bem adquirido. 
 
QUESTÃO: E, se alguém adquire o produto como destinatário final, mas este produto for 
utilizado no sistema de produção ? Ex: a empresa de transporte coletivo (pessoa 
jurídica) que adquire vários ônibus diretamente da fábrica é consumidora? 
 
 Este é um ponto polêmico na doutrina sobre o conceito de 
consumidor strictu sensu (standard) – art. 2º, caput do CDC: 
 
 
2.4.1. A FINALIDADE NA AQUISIÇÃO DO BEM DE CONSUMO 
 
 
Observa-se que os produtos e serviços podem ser adquiridos ou utilizados pelo 
DESTINATÁRIO FINAL para várias finalidades: 
 
a) para uso pessoal ou doméstico 
 como bem de consumo 
 
Ex: a aquisição de uma escova de dente, de alimentos ou remédio 
etc. 
 
b) para revenda ou transformação 
 como bem insumo 
 
Ex: a aquisição de laranjas para fazer suco na lanchonete ou a 
aquisição de madeiras para fabricação de tamboretes. 
 
c) para uso profissional 
 como bem de produção 
 
 Ex: aquisição de uma máquina de fotocópias pelo escritório de 
contabilidade, de um ônibus pela empresa de transporte coletivo, de um 
aparelho de raio x pelo médico ou hospital. 
 
 Quanto às hipóteses “a” e “b” não há divergência na doutrina e jurisprudência: 
 
a) quem adquire o bem para uso doméstico é sempre consumidor (destinatário 
final) tanto para minimalistas quanto para maximalistas; 
 
b) da mesma forma, quem adquire o bem para revenda ou transformação - 
atividade intermediária – não é considerado destinatário final e de 
consequência não será consumidor. 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 13
 
EMENTA: “Recurso Especial. Competência. Ação de revisão contratual. Empresa 
revendedora de veículos. Destinatária intermediária. Relação de consumo. Não 
configuração. Cláusula eletiva de foro. Validade. Dissídio jurisprudencial. Súmula 
83/STJ. 1 - Conforme orientação adotada por esta Corte, a aquisição de 
bens ou a utilização de serviços, por pessoa natural ou jurídica, com o 
escopo de implementar ou incrementar a sua atividade negocial, não se 
reputa como relação de consumo e, sim, como uma atividade de 
consumo intermediária. Por outro lado, a questão da hipossuficiência da 
empresa recorrente em momento algum foi considerada pelas instância 
ordinárias, não sendo lídimo cogitar-se a respeito nesta seara recursal, sob pena 
de indevida supressão de instância. 2 - Assim sendo, na esteira da 
jurisprudência deste Tribunal, a competência fixada pela cláusula de eleição de 
foro deve ser observada. Incidência da Súmula 83/STJ. 3 - Recurso não 
conhecido” (STJ – REsp. 701.370-PR – 4ª Turma – j. 16.08.2005 – rel. Min. 
Jorge Scartezzini – DJU 05.09.2005, p. 430) 
 
EMENTA: “1. No que tange à definição de consumidor, a Segunda Seção 
desta Corte, ao julgar, aos 10.11.2004, o REsp nº 541.867/BA, 
perfilhou-se à orientação doutrinária finalista ou subjetiva, de sorte 
que, de regra, o consumidor intermediário, por adquirir produto ou 
usufruir de serviço com o fim de, direta ou indiretamente, dinamizar ou 
instrumentalizar seu próprio negócio lucrativo, não se enquadra na 
definição constanteno art. 2º do CDC. (...)” (STJ – REsp. 660.026-RJ – 4ª 
Turma – j. 03.05.2005 – rel. Min. Jorge Sacartezzini, DJU 27.06.2005, p. 409). 
 
c) o problema se acentua quando a aquisição do bem é feita para uso 
profissional, como no caso da loja que presta serviço de revelar fotografias e 
que adquire o aparelho eletrônico de revelação instantânea. Pergunta-se: esta 
empresa é considerada destinatária final do produto? 
 
 Neste ponto, em relação ao conceito de consumidor standard, na 
condição de destinatário final, quando a aquisição é para USO 
PROFISSIONAL, a doutrina se divide em duas correntes: 
 
1  MINIMALISTAS – (finalistas) o artigo 2º do CDC deve ser interpretado de 
maneira restritiva: “destinatário final” é aquele que adquire ou utiliza o bem ou 
serviço em proveito próprio para satisfazer uma necessidade pessoal ou 
doméstica. 
 
 Cláudia Lima Marques: não basta retirar o bem da cadeia de produção, 
levá-lo para o escritório ou residência, é necessário também não adquiri-lo 
para revenda ou qualquer uso profissional (inclusive no sistema de produção). 
 
 Para os minimalistas CONSUMIDOR não é quem retira o bem do mercado, 
adquirindo-o ou utilizando-o, mas somente quem o utiliza ou adquire o bem para o 
uso doméstico ou não profissional. 
 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 14
2  MAXIMALISTAS – o artigo 2º do CDC deve ser interpretado de maneira 
ampla: “destinatário final” é aquele que retira o produto do mercado e o utiliza, o 
consome não só para uso pessoal, mas também par uso profissional. 
 
 
 Obs. A divergência entre as correntes minimalista e maximalista, 
se resume ao conceito strictu sensu de consumidor quando a 
aquisição do bem tem finalidade de uso profissional como bem de 
produção. 
Ente as duas correntes não há divergências quando não se 
considera destinatário final quem adquire para revenda ou 
transformação (bem de insumo) – situação denominada consumo 
intermediário. 
 
 
2.4.2. POSIÇÃO FINALISTA SUBJETIVA DO SUPERIOR TRIBUNAL 
DE JUSTIÇA QUANTO AO CONCEITO DE DESTINATÁRIO FINAL 
 
O Superior Tribunal de Justiça sempre teve uma tendência (repito: tendência) 
maximalista: 
 
 
EMENTA: “É de consumo, a relação entre o vendedor de máquina 
agrícola e compradora que a destina à sua atividade no campo” (STJ – 
REsp. 142.042/RS – 4ª T., Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar – j. 11.11.1997) 
 
EMENTA: “O fato de o arrendamento destinar-se a bem que será 
utilizado pela arrendatária nas suas atividades comerciais não retira a 
configuração abrangida pelo Código de Defesa do Consumidor. No caso a 
arrendatária é a consumidora final do bem arrendado, que com ela permanece, 
sendo diverso o serviço que presta ao público como transportadora” (STJ – 
REsp. 234.200/RS – 3ª T., Rel. Min. Carlos Alberto Menezes de Direito – j. 
09.02.2001) 
 
 
Entretanto, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA tem firmado posição 
jurisprudencial nem totalmente minimalista (finalista) e nem maximalista, mas uma 
posição FINALISTA SUBJETIVA ou subjetiva eclética, a qual admite um “certo 
abrandamento na interpretação finalista, na medida em que se admite, 
excepcionalmente, a aplicação das normas do CDC a determinados consumidores 
profissionais, desde que demonstrada, in concreto, a vulnerabilidade técnica, 
jurídica ou econômica” (STJ – REsp. 660.026-RJ – 4ª Turma – j. 03.05.2005 – rel. Min. 
Jorge Sacartezzini, DJU 27.06.2005, p. 409). 
Assim, “mesmo nas relações entre pessoas jurídicas, se da análise da 
hipótese concreta decorrer inegável vulnerabilidade entre a pessoa-jurídica 
consumidora e a fornecedora, deve-se aplicar o CDC na busca do equilíbrio entre 
as partes. Ao consagrar o critério finalista para interpretação do conceito de 
consumidor, a jurisprudência deste SJT também reconhece a necessidade de, em 
situações específicas, abrandar o rigor do critério subjetivo do conceito de 
consumidor, para admitir a aplicabilidade do CDC nas relações entre fornecedores 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 15
e consumidores-empresários em que fique evidenciada a relação de consumo” (STJ 
– REsp. 476.428-SC – 3ª Turma – j. 19.04.2005 – rel. Min. Nancy Andrighi, DJU 
09.05.2005, p. 390). 
 
 
 
2.4.2. POSIÇÃO FINALISTA SUBJETIVA DO STJ QUANTO AO 
CONCEITO DE CONSUMIDOR EQUIPARADO 
 
Neste sentido, a jurisprudência do STJ tem admitido também que a 
pessoa jurídica seja considerada consumidora não só quando evidenciada sua 
vulnerabilidade no caso concreto, mas também por equiparação (consumidor 
bystander), como nas hipóteses previstas no art. 17 e 29 do CDCC. Esta é a 
hipótese da emprese que é vítima de acidente de consumo (explosão de um 
produto, por exemplo). 
 
EMENTA: “Direito civil. Consumidor. Agravo no recurso Especial. Conceito de 
consumidor. Pessoa jurídica. Excepcionalidade. Não constatação. - A 
jurisprudência do STJ tem evoluído no sentido de somente admitir a 
aplicação do CDC à pessoa jurídica empresária excepcionalmente, 
quando evidenciada a sua vulnerabilidade no caso concreto; ou por 
equiparação, nas situações previstas pelos arts. 17 e 29 do CDC. Negado 
provimento ao agravo” (STJ – AgRg no REsp. 687.239-RJ – 3ª Turma – j. 
06.04.2006 – rel. Min. Nancy Andrighi, DJU 02.05.2006, p. 307). 
 
Exemplo: A empresa fornecedora de produtos que é indevidamente 
negativada no Serasa, sem ter adquirido nenhum bem no mercado de consumo 
que justificasse a negativação. 
 
2.5. STJ: QUEM PODE SER CONSIDERADO CONSUMIDOR 
 
2.5.1. PEQUENA EMPRESA – DESTINATÁRIA FINAL DE 
SERVIÇOS 
 
EMENTA: “Recurso Especial. Código de Defesa do Consumidor. Prestação de 
serviços. Destinatário final. Juízo competente. Foro de eleição. Domicílio do 
autor. 1. Insere-se no conceito de ‘destinatário final’ a empresa que se 
utiliza dos serviços prestados por outra, na hipótese em que se utilizou 
de tais serviços em benéfico próprio , não os transformando para 
prosseguir na sua cadeia produtiva. 2. Estando a relação de jurídica sujeita 
ao CDC, deve ser afastada a cláusula que prevê o foro de eleição diverso do 
domicílio do consumidor. 3. Recurso Especial conhecido e provido” (STJ – REsp. 
488.274-MG – 3ª Turma – j. 22.05.2003 – rel. Min. Nancy Andrighi, DJU ). 
 
2.5.2. PEQUENA EMPRESA – DESTINATÁRIA FINAL DE 
SERVIÇOS DE CARTÃO DE CRÉDITO 
 
EMENTA: “Processo civil. Conflito de competência. Contrato. Foro de eleição. 
Relação de consumo. Contratação de serviço de crédito por sociedade 
empresária. Destinação final caracterizada. – Aquele que exerce empresa 
assume a condição de consumidor dos bens e serviços que adquire ou utiliza 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 16
como destinatário final, isto é, quando o bem ou serviço, ainda que venha a 
compor o estabelecimento empresarial, não integre diretamente – por meio de 
transformação, montagem, beneficiamento ou revenda – o produto ou serviço 
que venha a ser ofertado a terceiros. – O empresário ou sociedade 
empresária que tenha por atividade precípua a distribuição, no atacado 
ou no varejo, de medicamentos, deve ser considerado destinatário final 
do serviço de pagamento por meio de cartão de crédito, porquanto esta 
atividade não integra, diretamente, o produto objeto de sua empresa” 
(STJ – CC 41.056-SP – 2ª Seção – j. 23.06.2004 – rel. p/ acórdão Min. Nancy 
Andrighi, DJU 20.09.2004, p. 181). 
 
2.5.3. PESSOA JURÍDICA – DESTINATÁRIA FINAL DE 
CONTRATO DE SEGURO 
 
EMENTA: “Consumidor. Recurso especial. Pessoa jurídica. Seguro contra roubo 
e furto de patrimônio próprio. Aplicação do CDC. - O que qualifica uma pessoa 
jurídica como consumidora é a aquisição ou utilização de produtos ou serviços 
em benefício próprio; isto é, para satisfação de suas necessidades pessoais, sem 
ter o interesse e repassá-los a terceiros, nem empregá-los na geração de outros 
bens ou serviços. - Se a pessoa jurídica contrata o seguro visando a 
proteção contra roubo e furto do patrimônio próprio dela e não o dos 
clientes que se utilizam dosseus serviços, ela é considerada 
consumidora nos termos do art. 2.° do CDC. Recurso especial conhecido 
parcialmente, mas improvido” (STJ – REsp. 733.560-RJ – 3ª Turma – j. 
11.04.2006 – rel. Min. Nancy Andrighi, DJU 02.05.2006, p. 315). 
 
 
3.5.4. O PRODUTOR RURAL 
 
A pauta de jurisprudências do STJ sobre a aquisição de insumos e bens de 
produção a serem utilizados na atividade produtiva rural, culminou na decisão do 
Ministro Castro Filho que considerou o agricultor como destinatário final na aquisição de 
qualquer bem móvel a ser utilizado na atividade produtiva: 
 
 
 
EMENTA: “Contratos bancários. Contrato de repasse de empréstimo externo 
para compra de colheitadeira. Agricultor. Destinatário Final. Incidência. Código 
de Defesa do Consumidor. Comprovação. Captação de recursos. Matéria de 
prova. Prequestionamento. Ausência. I – O agricultor que adquire bem 
móvel com a finalidade de utilizá-lo em sua atividade produtiva, deve 
ser considerado destinatário final, para os fins do artigo 2º do Código de 
Defesa do Consumidor. II – Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor às 
relações jurídicas originadas dos pactos firmados entre os agentes econômicos, 
as instituições financeiras e os usuários de seus produtos e serviços. III – 
Afirmado pelo acórdão recorrido que não ficou provada a captação de recursos 
externos, rever esse entendimento encontra óbice no enunciado n.º 7 da 
Súmula desta Corte. IV – Ausente o prequestionamento da questão federal 
suscitada, é inviável o recurso especial (Súmulas 282 e 356/STF). Recurso 
especial não conhecido, com ressalvas quanto à terminologia” (STJ – REsp. 
445.854-MS – 3ª Turma – j. 02.12.2003 – rel. Min. Castro Filho, DJU 
19.12.2003, p. 453). 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 17
 
2.5.5. O TAXISTA 
 
EMENTA: “Código de Defesa do Consumidor. Financiamento para aquisição de 
automóvel. Aplicação do CDC. O CDC incide sobre contrato de 
financiamento celebrado entre a CEF e o taxista para aquisição de 
veículo. A multa é calculada sobre o valor das prestações vencidas, não sobre o 
total do financiamento (art. 52, § 1º, do CDC). Recurso não conhecido” (STJ – 
REsp. 231.208-PE – 4ª Turma – j. 07.12.2000 – rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, 
DJU 19.03.2001, p. 114). 
 
 
2.5.6 O MUTUÁRIO DO SISTEMA FINANCEIRO DA 
HABITAÇÃO 
 
EMENTA: “Processo civil. Agravo de Instrumento. Negativa de Provimento. 
Agravo Regimental. Contrato de adesão. Sistema Financeiro de habitação. 
Associação de poupança e empréstimo. Cláusula de eleição de foro. Prejuízo à 
defesa do aderente. Nulidade absoluta. Aplicação do Código de Defesa do 
Consumidor. Desprovimento. 1 – Este Tribunal já proclamou o 
entendimento no sentido de ser aplicável o Código de Defesa do 
Consumidor aos contratos de adesão, inclusive àqueles submetidos às 
regras do Sistema Financeiro de Habitação, firmado por Associação de 
Poupança e Empréstimo, devendo ser reconhecida a nulidade da cláusula de 
eleição de foro diverso do domicílio do réu, por importar prejuízo à defesa do 
aderente. 2 – Precedentes das duas Turmas que compõem a Segunda Seção 
(AgRg Ag ns. 470.031/DF, 465.114/DF e REsp. 436.815/DF). 3 – Agravo 
Regimental conhecido, porém, desprovido” (STJ – AgRg no AG 497.979-DF – 4ª 
Turma – j. 05.10.2004 – rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU 22.11.2004, p. 348). 
 
 
2.5.7. O PODER PÚBLICO 
 
O poder público quando contrata, normalmente, estabelece relações jurídicas de 
direito público. Nas relações jurídicas de direito público para aquisição de bens não há 
relação de consumo e as relações jurídicas se inserem no âmbito do direito 
administrativo. Assim são, por exemplo, as aquisições de bens através de processo 
licitatório cujas contratações se dão com cláusulas exorbitantes. “É de sabença que as 
cláusulas exorbitantes são as que inexistem no Direito Privado e permitem ao Poder Público 
alterar as condições de execução do contrato, independentemente da anuência do 
contratado” (STJ - REsp n. 527.137-0/PR. – 1ª Turma – rel. Min. Luiz Fux. j. 11.05.2004, 
un.). 
 
A Lei de Licitações estabelece que o poder público contraente poderá servir-se 
das cláusulas exorbitantes do direito privado para melhor resguardar o interesse 
público. Neste passo, a aquisição de um avião pelo poder público, por exemplo, não 
pode se constituir numa relação de consumo, em face da necessidade desta aquisição 
ser precedida de concorrência pública, onde prevalece o princípio da supremacia do 
poder público e a utilização de cláusulas contratuais exorbitantes ao direito privado. 
 
Entretanto, é possível que o poder público adquira bens de consumo através de 
relações jurídicas de direito privado. E, para que o poder público seja considerado 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 18
consumidor e receba a proteção do CDC é necessário que a relação jurídica de 
aquisição de bens se forme sob a égide do direito privado comum, sem cláusulas 
exorbitantes e sem supremacia de poder. 
 
À guisa de exemplo, alguns órgãos públicos têm verba para despesas de 
expediente destinadas a pequenas aquisições de materiais de consumo e, desta forma, 
podem adquirir, sem processo licitatório, algumas poucas resmas de papel e pequenas 
quantidades de canetas esferográficas. Nesta hipótese, como se trata de contratação 
sem supremacia de poder e cláusulas exorbitantes, configura-se uma relação jurídica 
de direito privado, na qual, o poder público é destinatário final, é consumidor e o 
negócio jurídico é regulado pelo CDC. 
 
Para identificar se há relação de consumo ou não, é importante que se verifique 
o conteúdo do contrato. Se houver nele alguma cláusula exorbitante que expresse a 
supremacia contratual do poder público, a relação jurídica não será de consumo. 
 
EMENTA: “Administrativo - Contrato de prestação de serviços - Empresa de 
Correios e Telégrafos (ECT) - Licitação - Natureza administrativa - CF/1988, art. 
37, XXI. 1. Contrato de prestação de serviços firmado, após procedimento 
licitatório, entre a ECT e as recorrentes para a construção de duas agências dos 
Correios. Paralisação das obras. Alegação de desequilíbrio econômico-financeiro 
do contrato. Natureza da relação jurídica contratual entre a Empresa Brasileira 
de Correios e Telégrafos e as Construtoras prestadoras de serviços. 2. Pleito 
recursal visando a aplicação das normas de Direito Privado relativas ao Direito 
do Consumidor com o objetivo de evitar prática contratual considerada abusiva. 
3. A ECT é empresa pública que, embora não exerça atividade econômica, 
presta serviço público da competência da União Federal, sendo por esta 
mantida. 4. O delineamento básico da Administração Pública brasileira, seja 
direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, 
do Distrito Federal e dos Municípios, restou estabelecido no art. 37 da 
Constituição Federal, que no seu inciso XXI, fixou a licitação como princípio 
básico a ser observado por toda a Administração Pública. 5. A Lei de Licitações e 
Contratos estabelece que o contraente poderá servir-se das cláusulas 
exorbitantes do direito privado para melhor resguardar o interesse público. É de 
sabença que as cláusulas exorbitantes são as que inexistem no Direito Privado e 
permitem ao Poder Público alterar as condições de execução do contrato, 
independentemente da anuência do contratado. 6. À luz do art. 37, XXI, da 
Constituição Federal, a natureza do vínculo jurídico entre a ECT e as 
empresas recorrentes, é de Direito Administrativo, sendo certo que a 
questão sub judice não envolve Direito Privado, tampouco de relação de 
consumo. Aliás, apenas os consumidores, usuários do serviço dos 
correios é que têm relação jurídica de consumo com a ECT. 7. Consoante 
o acórdão a quo, a empresa contratada não logrou demonstrar qualquer 
ilegalidade cometida pela ECT em face da legislação que rege os contratos 
públicos quando da licitação, ou o efetivo desequilíbrio econômico na execução 
da obra, matéria estaque não pode ser revista nesta instância extraordinária, 
ante o óbice da Súmula n. 7. Sob essa ótica, resvala a tese sustentada pelas 
empresas recorrentes no sentido de que o acórdão recorrido malferiu os artigos 
6º, 29 e 51 do Código de Defesa do Consumidor, mercê de burlar as regras de 
revisão contratual destinadas ao equilíbrio financeiro do ajuste firmado entre as 
partes. 8. Recurso especial desprovido. (STJ – REsp. n. 527.137-0/PR. – 1ª 
Turma – rel. Min. Luiz Fux. j. 11.05.2004, un.) 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 19
2.6. STJ: QUEM NÃO PODE SER CONSIDERADO CONSUMIDOR 
 
 
2.6.1. O CONDÔMINO 
 
EMENTA: “(...) 1 – (...). 2 - A jurisprudência desta Corte é pacífica no 
sentido de que não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às 
relações jurídicas existentes entre condomínio e condôminos. 3 - In casu, 
a Convenção Condominial fixou a multa, por atraso no pagamento das cotas, no 
percentual máximo de 20%, permitido pelo art. 12, § 3º, da Lei 4.591/64, que 
tem validade para as cotas vencidas até a vigência do novo Código Civil, quando 
então passa a ser aplicado o percentual de 2%, previsto no art. 1.336, § 1º. 3 - 
(...). 4 – (...). 5 (...). 6 – (...). 7 – (...). 8 - Recurso conhecido e provido, em 
parte, para reduzir os juros moratórios à taxa legal de 0,5% ao mês, bem como 
limitar em 2% a multa moratória das parcelas vencidas a partir da 
vigência do novo Código Civil” (STJ – REsp. 679.019-SP – 4ª Turma – j. 
02.06.2005 – rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU 20.06.2005, p. 291). 
 
2.6.2. O LOCATÁRIO 
 
EMENTA: “Locação. Multa moratória. Redução. Código de Defesa do Consumidor. 
Inaplicabilidade. – Consoante interativos julgados desse Tribunal, as 
disposições contidas no Código de Defesa do Consumidor não são 
aplicáveis ao contrato de locação predial urbana, que se regula por 
legislação própria – Lei 8.245/91. Recurso Especial conhecido e provido (STJ 
– REsp. 399.938-MS – 6ª Turma – j. 18.04.2002 – rel. Min. Vicente Leal, DJU 
13.05.2002, p. 246). 
 
2.6.3. O USUÁRIO DO ESTACIONAMENTO DA ÁREA AZUL 
 
No estacionamento nas vias urbanas da chamada “área azul” há o pagamento de 
uma taxa (relação tributária) cujo fundamento é urbanístico e tem a finalidade de 
melhor otimizar a utilização dos espaços das vias urbanas. O usuário paga uma taxa 
para estacionar seu veículo, sem, contudo, receber qualquer contraprestação em forma 
de serviço. Se não há contraprestação de serviço, não há relação de consumo. 
 
Todavia, se o serviço de organização do estacionamento da área azul for 
terceirizado, com finalidade lucrativa, a cobrança não terá mais característica de taxa, 
mas de tarifa. Neste caso, haverá contraprestação e responsabilidade civil da empresa 
pela guarda e conservação dos veículos. Neste caso há relação de consumo. 
 
2.6.4. O HOSPITAL NA AQUISIÇÃO DE EQUIPAMENTO 
HOSPITALAR 
 
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça também não considera 
consumidor o hospital quando adquire equipamentos e aparelhos hospitalares com a 
finalidade de implementar sua atividade profissional. Ou seja, para ser considerado 
consumidor é necessário “que a aquisição de um bem ou a utilização de um serviço 
satisfaça uma necessidade pessoal do adquirente ou utente, pessoa física ou jurídica, e 
não objetive a incrementação de atividade profissional lucrativa” (CC 46.744-SP – 2ª 
Seção – j. 08.03.2006 – rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU 20.03.2006, p. 189). 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 20
EMENTA: “(...) 2. Na assentada do dia 10.11.2004, porém, ao julgar o REsp nº 
541.867/BA, a Segunda Seção, quanto à conceituação de consumidor e, pois, à 
caracterização de relação de consumo, adotou a interpretação finalista, 
consoante a qual reputa-se imprescindível que a destinação final a ser dada a 
um produto/serviço seja entendida como econômica, é dizer, que a aquisição 
de um bem ou a utilização de um serviço satisfaça uma necessidade 
pessoal do adquirente ou utente, pessoa física ou jurídica, e não 
objetive a incrementação de atividade profissional lucrativa. 3. In casu, o 
hospital adquirente do equipamento médico não se utiliza do mesmo 
como destinatário final, mas para desenvolvimento de sua própria 
atividade negocial; não se caracteriza, tampouco, como hipossuficiente 
na relação contratual travada, pelo que, ausente a presença do 
consumidor, não se há falar em relação merecedora de tutela legal 
especial. Em outros termos, ausente a relação de consumo, afasta-se a 
incidência do CDC, não se havendo falar em abusividade de cláusula de eleição 
de foro livremente pactuada pelas partes, em atenção ao princípio da autonomia 
volitiva dos contratantes” (STJ – CC 46.744-SP – 2ª Seção – j. 08.03.2006 – rel. 
Min. Jorge Scartezzi, DJU 20.03.2006, p. 189). 
 
3. O conceito de fornecedor: 
 
Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública 
ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes 
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, 
montagem, criação, construção, transformação, importação, 
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou 
prestação de serviços. 
 
 
FORNECEDOR >> PRODUTOS e SERVIÇOS 
 
FORNECEDOR  é quem exerce atividade econômica-jurídica de 
fornecimento de produtos e serviços no mercado de consumo. 
 
 
 A atividade do fornecedor é, em regra, exercida com 
habitualidade ou profissionalidade. Entretanto, é possível que a 
atividade seja eventual, desde que tenha caráter lucrativo e 
profissionalidade >> ex: o estudante que, eventualmente, vende 
chocolates para pagar seus estudos. 
 
 
atos jurídicos isolados que não constituem uma atividade 
não se inserem na relação de consumo. Ex: uma venda 
única venda de uma porção biscoitos, sem características de 
atividade. 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 21
3.1. QUEM PODE SER CONSIDERADO FORNECEDOR 
 
 
3.1.1. O PODER PÚBLICO 
 
 
O PODER PÚBLICO – também pode ser considerado FORNECEDOR 
 
somente quando presta serviços uti singuli 
 
 
 SERVIÇOS UTI SINGULI >> são serviços mantidos mediante 
cobrança de tarifa, individualmente aferidos para cada consumidor. 
Exemplo: serviços de água, energia elétrica, telefone etc. 
 
 SERVIÇOS UTI UNIVERSI >> são serviços mantidos mediante 
cobrança de impostos. Não são individualizados. Exemplo: serviço de 
iluminação pública, serviço de limpeza, segurança pública etc.4 
 
 Não há relação de consumo quando o serviço prestado pelo 
Poder Público é mantido pela cobrança de impostos. 
 
EMENTA: “Concessionária de rodovia. Acidente com veículo em razão de 
animal morto na pista. Relação de consumo. 1. As concessionárias de 
serviços rodoviários, nas suas relações com os usuários da estrada, 
estão subordinadas ao Código de Defesa do Consumidor, pela própria 
natureza do serviço. No caso a concessão é, exatamente, para que seja a 
concessionária responsável pela manutenção da rodovia, assim, por exemplo, 
manter a pista sem a presença de animais mortas na estrada, zelando, portanto, 
para que os usuários trafeguem em tranqüilidade e segurança. Entre o usuário 
da rodovia e a concessionária, há mesmo uma relação de consumo, com 
o que é de ser aplicado o art. 101, do Código de Defesa do Consumidor. 2. 
Recurso especial não conhecido” (STJ – REsp. 467.883-RJ – 3ª Turma - j. 
17.06.2003 – rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJU 01.09.2003, p. 281) 
. 
 
3.1.2. OS ENTES DESPERSONALIZADOS 
 
  ENTES DESPERSONALIZADOS: camelôs, grupo de pessoas, a família etc. 
ou quem se apresenta como fornecedor (teoria da aparência). 
 
 
3.1.3. OS PROFISSIONAIS LIBERAIS 
 
  O PROFISSIONAL LIBERAL – (médico, advogado, dentista, 
engenheiro) quando presta serviço remunerado é considerado fornecedor. 
 
  Se o serviço é prestado de forma gratuita (sem remuneração), sem 
vinculação com o marketing da atividade profissional do profissional liberal, não 
 
4 Os conceitostranscritos são de Hely Lopes Meirelles. Maria Sylvia Zanella Di Pietro conceitua os serviços uti 
singuli e uti universi de forma diferente. 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 22
há relação de consumo. Exemplo: o médico que realiza cirurgias de forma 
gratuita para pessoas carentes. Neste caso, a responsabilização pelos danos 
causados deve ser fundamentada no Código Civil. 
 
 Os profissionais liberais têm, em regra, o privilégio da 
responsabilização mediante verificação da culpa (responsabilidade subjetiva) – 
art. 14 § 4º - Porém, a responsabilidade será objetiva se a obrigação 
contratada for de resultado. 
 
 
3.1.3.1. OS SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS 
 
 Em relação aos serviços advocatícios não há mais posições divergentes 
na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: NÃO HÁ RELAÇÃO DE 
CONSUMO. 
 
EMENTA: “Inincidência do CDC sobre serviços advocatícios. Aplicabilidade de lei 
específica. Estatuto da OAB. (...) As relações contratuais entre clientes e 
advogados são regidas pelo Estatuto da OAB, aprovado pela Lei n. 
8.906/94, a elas não se aplicando o Código de Defesa do Consumidor 
(STJ – REsp. 532.377-RJ – 4ª Turma – j. 26.04.2005 – rel. Min. Aldir Passarinho 
Junior, DJU 30.05.2005, p. 383). 
 
EMENTA: “Processo Civil Ação de conhecimento proposta por detentor de título 
executivo. Admissibilidade. Prestação de serviços advocatícios. Inaplicabilidade 
do Código de Defesa do Consumidor. 
- O detentor de título executivo extrajudicial tem interesse para cobrá-lo pela via 
ordinária, o que enseja até situação menos gravosa para o devedor, pois 
dispensada a penhora, além de sua defesa poder ser exercida com maior 
amplitude. 
- Não há relação de consumo nos serviços prestados por advogados, 
seja por incidência de norma específica, no caso a Lei n. 8.906/94, seja 
por não ser atividade fornecida no mercado de consumo. 
- As prerrogativas e obrigações impostas aos advogados – como v.g., a 
necessidade de manter sua independência em qualquer circunstância e a 
vedação à captação de causas evidenciam natureza incompatível com a 
atividade de consumo. Recurso não conhecido. (STJ – REsp. 532.377- RJ – 4ª 
Turma – j. 21.08.2003 – rel. Min. César Asfor Rocha, DJU 13.1.2003, p. 373). 
 
 
3.1.4. OS PROFISSIONAIS AUTÔNOMOS 
 
  O profissional autônomo – pedreiro, encanador, eletricista etc, 
também é considerado fornecedor. 
 
 A responsabilidade civil pelos danos causados pelo profissional 
autônomo, ao contrário da dos profissionais liberais (subjetiva, quando a 
obrigação for de meio) será sempre objetiva, nos termos do art. 14, 
caput. 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 23
3.1.5. QUEM SE APRESENTA COMO FORNECEDOR 
 
 Por força da teoria da aparência, o STJ tem considerado como fornecedor 
quem se apresenta como tal no mercado de consumo, como por exemplo, um 
investidor, terceiro de boa-fé, está protegido pela teoria da aparência, “na 
medida em que entregava, mediante recibo, valores para aplicação no mercado 
financeiro ao agente notoriamente autorizado a captá-los em nome da 
recorrida, instituição financeira. Desta forma, a recorrida responde pelo desvio 
do numerário ocorrido” (STJ – REsp. 276.025-SP – 4ª Turma – j. 12.12.2000 – 
rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar). Neste sentido: 
 
EMENTA: “Processual civil. Consórcio. Teoria da aparência. Legitimidade 
reconhecida. A empresa que, segundo se alegou na inicial, permite a 
utilização da sua logomarca, de seu endereço, instalações e telefones, 
fazendo crer, através da publicidade e da prática comercial, que era 
responsável pelo empreendimento consorcial, é parte passiva legítima 
para responder pela ação indenizatória proposta pelo consorciado 
fundamentada nesses fatos. Recurso conhecido e provido” (STJ – REsp. 
139.400-MG – 4ª Turma – j. 03.08.2000 – rel. Min. César Asfor Rocha, DJU 
25.09.2000, p. 103). 
 
 
4. O OBJETO DA RELAÇÃO DE CONSUMO 
 
A relação de consumo tem por objeto: PRODUTOS ou SERVIÇOS 
 
Art. 3º (...) 
§ 1º. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou 
imaterial. 
§ 2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de 
consumo, mediante REMUNERAÇÃO, inclusive as de 
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo 
as decorrentes das relações de caráter trabalhista. 
 
Além de materiais ou imateriais, os produtos e serviços também podem 
ser duráveis ou não-duráveis, conforme o maior ou menor exaurimento da sua 
durabilidade. A distinção é importante para delimitação do prazo decadencial 
para que o consumidor faça a reclamação junto ao fornecedor pelos vícios 
qualidades: se duráveis, o prazo é de 90 dias; se não-duráveis, prazo é de 30 
dias. Sobre o assunto ver o art. 26 do CDC. 
 
os produtos e serviços podem ser: 
 
 DURÁVEIS – aqueles que não se extinguem com o simples uso 
(ex: eletrodomésticos em geral, serviço de ensino). 
 
NÃO DURÁVEIS – aqueles que deixam de existir com o simples uso 
(ex: alimentos, produtos de limpeza, remédios, serviço de corte de 
cabelo, lavagem de veículo) 
 *Sobre a importância da diferenciação, ver art. 26 do CDC 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 24
4.1. OS PRODUTOS 
 
 Na lição de Cláudio Bonatto produto “é toda coisa que, por ter valor 
econômico, entra no campo jurídico, sendo objeto de cogitação pelo homem, quando 
parte integrante de relação jurídica”.5 
 
Os bens materiais são aqueles que podem ser apreendidos, pesados ou 
medidos, por serem palpáveis. Possuem uma existência concreta e podem ser 
percebidos visualmente e podem ser apreendidos, como por exemplo, livros, 
eletrodomésticos, jóias etc. 
 
Os bens imateriais são, a contrariu sensu, aqueles que por não possuir 
existência tangível, não podem ser vistos, apreendidos e não são palpáveis. A energia 
elétrica, os direitos autorais, os programas de “software” e o crédito de passagem de 
ônibus contido no cartão magnético podem ser apontados como exemplos de produto 
imaterial. 
 
 
 
4.2. OS SERVIÇOS 
 
  Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo mediante 
REMUNERAÇÃO, incluindo os serviços de natureza bancária, financeira, de crédito e 
securitária, exceptuado os serviços decorrentes de relações trabalhistas. 
 
A “atividade” como sinônimo de prestação de serviço deve ter caráter 
econômico, ou seja, advir de uma ação profissional. A atividade é um complexo de atos 
direcionados a determinado objetivo, com fim de obtenção de resultado finalístico 
lucrativo, numa ação típica de empresa ou de empresário.6 
 
 
 
4.2.1. A REMUNERAÇÃO 
 
 O conceito de ‘serviço’ no CDC exige para a sua configuração, necessariamente, 
que a atividade seja prestada mediante remuneração (art. 3º, § 2º do CDC). Ou seja, a 
REMUNERAÇÃO É A PRINCIPAL CARACTERÍSTICA DOS SERVIÇOS. 
 
 A remuneração pode ser direta ou indireta. 
 
a) remuneração direta >> quando a remuneração do serviço é paga 
diretamente conforme orçamento apresentado ao consumidor. Ex: serviço 
de corte de cabelo, serviço de ensino, serviço de pintura etc. 
 
b) remuneração indireta >> quando a remuneração é embutida no preço dos 
produtos ou de outros serviços. Ex: Os estacionamentos de shopping 
 
5 Código de Defesa do Consumidor: cláusulas contratuais abusivas nas relações contratuais de consumo. 
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 26. 
6 Cláudio Bonatto. Código de Defesa do Consumidor: cláusulas contratuais abusivas nas relações contratuais 
de consumo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 27. 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 25
centers e supermercados; transporte gratuito de idosos, de estudantes; 
lavagem de carro grátis etc. 
 
 
4.2.2. O SERVIÇO PÚBLICO DE SAÚDE 
 
Os serviços públicos de saúde (educação, segurança pública, iluminação 
etc.), normalmente, são mantidos com verbas advindas da arrecadação de 
impostos. Não são remunerados por tarifa e por isso, não são objeto derelação 
de consumo. 
 
EMENTA: “Processual civil. Recurso Especial. Exceção de competência. 
Ação indenizatória. Prestação de serviço público. Ausência de remuneração. 
Relação de consumo não-configurada. Desprovimento. Recurso Especial. 
1.Hipótese de discussão do foro competente para processar e julgar ação 
indenizatória proposta contra o Estado, em face de morte causada por prestação 
de serviços médicos em hospital público, sob a alegação de existência de relação 
de consumo. 2. O conceito de ‘serviço’ previsto na legislação consumerista exige 
para a sua configuração, necessariamente, que a atividade seja prestada 
mediante remuneração (art. 3º, § 2º do CDC). 3. Portanto, no caso dos 
autos, não se pode falar em prestação de serviço subordinada às regras 
previstas no Código de Defesa do Consumidor, pois inexistente qualquer 
forma de remuneração direta referente ao serviço de saúde prestado 
pelo hospital público, o qual pode ser classificado como uma atividade 
geral exercida pelo Estado à coletividade em cumprimento de garantia 
fundamental (art. 196 da CF). 4. Referido serviço, em face das próprias 
características, normalmente é prestado pelo Estado de maneira universal, o que 
impede a sua individualização, bem como a mensuração de remuneração 
específica, afastando a possibilidade da incidência das regras de competência 
contidas na legislação específica. 5. Recurso especial desprovido” (STJ – REsp. 
493.181-SP – 1ª Turma – j. 15.12.2005 – rel. Min. Denise Arruda, DJU 
01.02.2006, p. 431). 
 
 
4.2.3. SERVIÇOS DE NATUREZA TRABALHISTA 
 
 Serviços decorrentes de relação trabalhista não são objeto de relação 
de consumo e não estão sob a égide do CDC - art. 3º, § 2º, parte final. 
 
4.2.4. SERVIÇOS DE NATUREZA BANCÁRIA 
 
  Os BANCOS exercem atividade comercial e são sempre considerados 
fornecedores quando do outro lado da relação há um consumidor DESTINATÁRIO 
FINAL. São considerados fornecedores quando oferecem no mercado serviços 
(cobrança, recebimento de contas, custódia etc.) e produtos (crédito etc.) para 
um destinatário final. 
 
 Um dos produtos comercializados pelo banco é o dinheiro que, 
segundo o art. 85 do novo CC, é bem juridicamente consumível, 
caracterizado, portanto, como produto para efeito de consumo. O crédito 
é outro produto de natureza imaterial comercializado pelo banco. 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 26
STJ: SÚMULA 297 – O Código de Defesa do Consumidor é 
aplicável às instituições financeiras. 
 
EMENTA: “Bancos. Sujeição ao regime do CDC. O CDC é aplicável a todas as 
operações bancárias, sejam elas os contratos de financiamento ou até 
mesmo os serviços oferecidos pelas instituições financeiras a seus 
clientes. O CDC incide sobre todas as relações e contratos pactuados 
pelas instituições financeiras e seus clientes e não apenas na parte 
relativa a expedição de talonários, fornecimento de extratos cobranças 
de contas, guarda de bens e outros serviços afins. As relações existentes 
entre os clientes e os bancos apresentam nítidos contornos de uma relação de 
consumo” (STJ – REsp. 213.825-RS – 4ª Turma – rel. Min. Barros Monteiro, j. 
22.08.2000, v.u.). 
 
EMENTA: “Código de Defesa do Consumidor. Bancos. Contrato de adesão. 
Relação de Consumo.Art. 51 da Lei 8.078/90) – Foro de eleição. Cláusula 
considerada abusiva – inaplicabilidade da súmula 33/STJ – Precedentes da 
segunda seção. I – Os bancos, como prestadores de serviços especialmente 
contemplados no art. 3.º, § 2.º, estão submetidos às disposições do Código de 
Defesa do Consumidor. A circunstância de o usuário dispor do bem 
recebido através de operação bancária, transferindo-a a terceiros, em 
pagamento de outros bens ou serviços, não o descaracteriza como 
consumidor final dos serviços prestados pela instituição. (...)" (REsp 
190.860/MG, DJ de 09/11/2000, rel. Min. Waldemar Zveiter, 3a. T.) 
 
4.2.5. O CRÉDITO BANCÁRIO 
 
Não há relação de consumo quando o crédito é tomado junto ao banco 
para incrementar o capital de giro da empresa. 
 
EMENTA: “Mútuo. Redução da Multa Contratual de 10% para 2%. Inexistência 
no caso de relação de consumo. Tratando-se de financiamento obtido por 
empresário, destinado precipuamente a incrementar a sua atividade 
negocial, não se podendo qualificá-lo, portanto, como destinatário final, 
inexistente é a pretendida relação de consumo. Inaplicação no caso do 
Código de Defesa do Consumidor. Recurso Especial não conhecido” (STJ – REsp. 
n. 218505/MG – 4ª Turma - Moauto Veículos, Peças e Serviços Ltda. versus 
Banco Progresso S/A – Re. Min. Barros Monteiro. Ac. 14.02.2000 – DJ, p. 41, 
j.u.). 
 
Na ementa acima, verifica-se que o STJ, mais uma vez, adota uma tendência 
finalista na conceituação de consumidor, ao reconhecer que a empresa mutuária não foi 
destinatária fática e econômica do bem mutuado. 
 
Porquanto, ao reconhecer que a empresa mutuária tomou o crédito junto à 
Instituição Financeira com a finalidade de utilizá-lo na implementação da sua atividade 
comercial restou afastada a caracterização da destinação final preceituada no art. 2º do 
CDC. 
 
 
 
 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 27
5. QUESTÕES DE CONCURSOS 
 
 
1) (MPF – 2002) Conforme o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, sobre os 
contratos bancários: 
 
a) aplica-se o Código de Defesa do Consumidor; 
b) não incide o Código de Defesa do Consumidor, salvo se se revestirem de natureza 
de leasing; 
c) a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, no caso, é subsidiária; 
d) incide o Código de Defesa do Consumidor no tocante à limitação das taxas de juros 
praticadas por instituições públicas ou privadas que integram o sistema financeiro 
nacional. 
 
2) (MPF – 2003) O conceito de consumidor adotado pelo código de defesa do 
consumidor é de caráter: 
 
(a) ( ) jurídico; 
(b) ( ) comercial; 
(c) ( ) misto e de sentido sociológico; 
(d) ( ) meramente econômico. 
 
 
3) (MPMT/2003) Assinale a alternativa correta: 
 
a) uma empresa que adquire alimentos preparados para fornecimento aos seus 
empregados o faz na condição de consumidor stricto sensu, pois é destinatária final 
econômica; 
 
b) A pessoa jurídica que adquire um produto ou serviço como insumo necessário à 
cadeia produtiva de sua atividade final é considerada consumidora stricto sensu no 
conceito standard, independentemente da vulnerabilidade; 
 
c) A pessoa jurídica não pode ser considerada consumidor stricto sensu; 
 
d) O Código de Defesa do Consumidor permite a inversão do ônus da prova em favor 
do consumidor, sempre que este for hipossuficiente e verossímil sua alegação; 
 
e) Nenhuma das alternativas está correta. 
 
RESPOSTAS: 
 
1 – A; 2 – d (*); 3 – a (**). 
 
(*) obs. Para nós, a resposta correta é a letra “a” , eis que o conceito de consumidor 
adotado pelo CDC é o conceito jurídico, limitado àquele que é destinatário final do bem. 
No conceito econômico tanto faz se a aquisição bem seja para uso próprio ou para 
revenda. 
 
(**) obs. Se a empresa adquire alimentos para seus empregados e não cobra deles a 
refeição, ela é destinatária final do produto. Entretanto, se ela cobra a alimentação dos 
empregados, ela não é destinatária final, mas consumidora intermediária. Os 
empregados é que são consumidores finais. Assim, a alternativa “a” estará correta se a 
empresa adquirente das refeições não repassar os custos aos seus empregados. 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 28
 
 CAPÍTULO 3 
 POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE 
CONSUMO 
 
1. CONCEITO DE POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO 
 
 
 
Significa filosofia de ação: os arts. 4º e 5º fixam as perspectivas e 
diretrizes gerais na busca da harmonia nas relações de consumo. 
 
Artigo 4º estabelece princípios (objetivos) 
Artigo 5º determina os meios para efetivá-los 
 
 O art. 4º estabelece os princípios gerais que regem o sistema de 
defesa do consumidor: princípio da vulnerabilidade, transparência, harmonia 
nasrelações de consumo, proteção governamental, boa-fé objetiva, equilíbrio 
nas relações de consumo, princípio da qualidade dos produtos e serviços, 
segurança, entre outros. 
 
2. OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO 
 
Art. 4º. A Política Nacional de Relações de Consumo tem por 
objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o 
respeito a sua DIGNIDADE, SAÚDE e SEGURANÇA, a proteção 
de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de 
vida, bem como a TRANSPARÊNCIA e HARMONIA das 
relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: 
 
3. PRINCÍPIOS DA POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE 
CONSUMO 
 
 
3.1. PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR 
 
I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no 
mercado de consumo; 
 
 Vulnerabilidade é o princípio que considera o consumidor a parte mais fraca 
nas relações de consumo, qualificando-o quanto à necessidade de amparo de uma 
legislação própria diferente do regime jurídico tradicional. Trata-se de um traço 
universal de todos os consumidores, ricos, pobres, educados ou ignorantes, crédulos ou 
espertos. Basta ser consumidor para ser considerado vulnerável. 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 29
 O princípio da vulnerabilidade é a razão da existência do CDC => seu 
fundamento básico. Não fosse o consumidor considerado vulnerável não haveria 
necessidade do CDC e todos usaríamos o CC. 
 
 
Todo consumidor pessoa física é considerado vulnerável  a presunção é 
absoluta. Com relação ao consumidor pessoa jurídica, a Jurisprudência do STJ 
tem ressalvado que na aquisição de produtos ou serviços para uso profissional, a 
vulnerabilidade que o qualifica como consumidor para fins de aplicação do CDC, 
deve ser verificada caso a caso. Portanto, não se pode mais falar em 
universalidade (presunção absoluta) do princípio da vulnerabilidade, porque se o 
consumidor é pessoa jurídica que adquire bens para uso profissional, a presunção 
de vulnerabilidade é relativa, verificável caso a caso (STJ – REsp. 701.370-PR – 4ª 
Turma – j. 16.08.2005 – rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU 16.08.2005, p. 430). 
 
 
3.2. PRINCÍPIO DA AÇÃO GOVERNAMENTAL 
 
II – ação governamental no sentido de proteger efetivamente o 
consumidor: 
a) por iniciativa direta; 
b) por incentivos à criação e desenvolvimento de 
associações representativas; 
c) pela presença do Estado no mercado de consumo; 
d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões 
adequados de qualidade, segurança, durabilidade e 
desempenho; 
 
3.3. PRINCÍPIO DA HARMONIA 
 
III – harmonização dos interesses dos participantes das relações 
de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a 
necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo 
a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica 
(art. 170, CF), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas 
relações entre consumidores e fornecedores; 
 
 = O dispositivo prega a harmonia (IGUALDADE e BOA-FÉ) entre os agentes das 
relações de consumo: fornecedores e consumidores. Esta harmonia significa a 
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento 
econômico e tecnológico. 
 
 A ORDEM ECONÔMICA (ART. 170 DA CF) fundada na (a) valorização 
do trabalho e (b) livre iniciativa (progresso econômico e tecnológico) deve 
assegurar a todos uma vida com dignidade humana e justiça social, limitada, 
entre outros pelos princípios da DEFESA DO CONSUMIDOR e livre concorrência 
(além de outros, como a defesa do meio ambiente, função social da 
propriedade etc.) 
 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 30
HARMONIA = DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO + DEFESA DO CONSUMIDOR 
 
  Os princípios da ordem econômica (art. 170 da CF) devem estar em 
harmonia com as diretrizes estabelecidas nos arts. 1º e 3º da própria Constituição 
Federal, principalmente em face da dignidade da pessoa humana e da 
solidariedade social (Eduardo Farah) 
 
 
3.4. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ (OBJETIVA) 
 
 O princípio da boa-fé, acolhido pelo CDC na sua concepção objetiva, 
tutela a confiança e a lealdade nas relações de consumo. Umbilicalmente ligado 
ao princípio da transparência, determina, a seu turno, comportamento leal e 
correto dos parceiros na relação de consumo.7 
 
 A Boa-fé objetiva é a expressão imediata da confiança nas 
relações jurídicas (Judith Martins Costa). 
 
A boa-fé objetiva não se confunde com boa-fé subjetiva. Esta 
significa o contrário de má-fé. Trata-se de um estado da consciência. É a 
convicção de estar agindo em conformidade com o direito. Não é princípio e é 
aplicada nos casos específicos elencados pela lei, como por exemplo, no 
casamento putativo, usucapião de boa-fé, na posse de boa-fé etc. 
 
A boa-fé objetiva não se vincula ao elemento vontade (elemento 
subjetivo). Focaliza sua atenção na comparação entre a atitude tomada e 
aquela que se poderia esperar de um homem médio, reticente, do bom pai de 
família. 
 
Boa-fé objetiva significa um padrão ético de conduta nas relações de 
consumo. Significa que os participantes das relações de consumo devem atuar 
com lealdade, probidade e honestidade. Tem mão dupla: aplica-se tanto 
para o fornecedor como para o consumidor. 
 
 Neste sentido, o STJ decidiu que “a boa-fé objetiva se apresenta como 
uma exigência de lealdade, modelo objetivo de conduta, arquétipo social pelo 
qual impõe o poder-dever de que cada pessoa ajuste a própria conduta a esse 
modelo, agindo como agiria uma pessoa honesta, escorreita e leal. Não tendo o 
comprador agido de forma contrária a tais princípios, não há como inquinar seu 
comportamento de violador da boa-fé objetiva.” (STJ - REsp. 803.481-GO – 3ª 
Turma – j. 28.06.2007 – rel. Min. Nancy Andrighi, DJU 01.08.2007, p. 462). 
 
 Boa-fé objetiva significa LEALDADE, PROBIDADE e HONESTIDADE. 
A boa-fé objetiva tem origem germânica (art. 242 do BGB) e significa 
lealdade e confiança no tráfego jurídico. 
 
 
7 BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e. Desafios à efetivação dos direitos de consumidor. Palestra 
proferida na XV Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Foz do Iguaçu, 04 a 08.09.94. In 
Revista de Direito do Consumidor. São Paulo: RT, n. 20, out/dez, 1996, p. 385. 
 Direito do Consumidor 
 
Professor Érico de Pina Cabral 31
 BOA-FÉ OBJETIVA = LEALDADE + CONFIANÇA 
 
Para Cláudia Lima Marques boa-fé objetiva “significa uma atuação 
refletida, pensando no parceiro contratual, respeitando seus interesses 
legítimos, suas expectativas razoáveis, seus direitos, agindo com lealdade, sem 
abuso, sem obstrução, sem causar lesão ou desvantagem excessiva, 
cooperando para atingir o bom fim das obrigações.”8 
 
No CDC a boa-fé vem positivada no art. 4º, inc. III, sob forma de 
princípio geral de observância necessária em toda relação de consumo, bem 
como no art. 51, inc. IV, como cláusula geral implícita a toda relação 
contratual de consumo. 
 
O princípio geral da boa-fé, insculpido no art. 4º, inc. III, atua de forma 
cogente sobre todo o sistema de defesa do consumidor, seja nas relações 
contratuais ou extracontratuais. Tem mão dupla: é padrão ético de conduta 
imposto a todos participantes das relações de consumo, tanto ao fornecedor 
quanto ao consumidor. Por ser uma norma de ordem pública e observância 
necessária, pode ser aplicada pelo juiz independente da vontade subjetiva das 
partes. 
 
 
3.4.1 O MOMENTO DE INCIDÊNCIA DA BOA-FÉ OBJETIVA 
 
A boa-fé objetiva tem incidência antes, durante e após as relações 
jurídicas de consumo. Incide antes da formação da relação contratual, a partir 
do convite para contratar (oferta, publicidade etc.), ainda nas tratativas, 
sustentando a idéia de responsabilidade pré-contratual; incide durante a 
execução do contrato como guardiã do equilíbrio das prestações e da conduta 
ética dos participantes; e incide até mesmo após o encerramento da relação 
contratual por força dos

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