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O Espaço Urbano e as estratégias de planejamento e produção da cidade. Arlete Moysés Rodrigues1

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Publicado in Planejamento Urbano no Brasil – Conceito, diálogos e práticas 
Editora Argos – 2008 
p.110 a 126 
 
O Espaço Urbano e as estratégias de planejamento e produção da cidade. 
 Arlete Moysés Rodrigues1 
 
INTRODUÇÃO 
 O planejamento tenta criar um mundo como ele deveria ser e não como é. 
Propõe metas para o futuro Trata-se de uma condição da produção compulsiva 
e viciosa da modernidade é o planejamento. O planejamento setorial, territorial, 
urbano, rural, ambiental visa um mundo de ordem, de formas “adequadas” de 
apropriação do território, da produção do espaço. Tem como meta o 
desenvolvimento, o progresso. 
No planejamento tradicional os problemas existentes são tidos como 
desvios do modelo idealizado, que existe apenas nas matrizes discursivas do 
saber competente. 
O planejamento urbano tem como objetivo a cidade ideal, a ocupação 
harmônica e integrada das áreas urbanas, o progresso, o desenvolvimento das 
cidades. Raramente há ênfase à cidade real, à vida da população nas cidades. 
Os instrumentos de planejamento urbano obedecem a normas e diretrizes 
de propriedade da terra, aos interesses de mercado, às idéias de padrão de vida 
moderno, simplificando as possibilidades de compreensão. As contradições ficam 
ocultas para colocar “ordem” no traçado de ruas, avenidas, circulação, definição 
de lotes, mantendo sempre a propriedade da terra e das edificações. Os “pobres” 
devem ficar em lugares não visíveis para não atrapalhar a ordem prevista nos 
planos e metas. 
 
1
 -Professora Livre Docente- UNICAMP- IFCH e IG- Texto apresentado na Universidade 
Federal de Santa Catarina Planejamento urbano no Brasil e na Europa- Um diálogo Possível? - 
 
 A complexidade de relações societárias, as contradições, conflitos, de 
apropriação, posse e propriedade da terra não são considerados. Qualquer 
elemento que demonstre falta de ordem é um problema a ser resolvido com a sua 
exclusão. Os problemas são enunciados de forma simplista como: a população 
cresceu mais do que os equipamentos urbanos, as favelas são um câncer, os 
cortiços precisam ser erradicados, os “pobres” o devem ser. 
Mas o mundo não é ordenado e nem caótico. Ordem e desordem, 
contradições, conflitos, embates constituem a realidade das formas de 
apropriação, propriedade e posse do território, do espaço, das riquezas naturais, 
dos meios de produção e das relações societárias. 
 José Saramago no romance “Ensaio sobre a Cegueira” mostra como 
numa grande cidade as algumas pessoas ficam súbita e inexplicavelmente cegas. 
A cegueira é contagiante, assim o primeiro grupo de cegos é isolado com guardas 
para vigiá-los. Em poucos dias, porém, todos ficam cegos. A luta pela 
sobrevivência é acirrada, dolorosa e desconhecida. 
 São desventuras de uma sociedade que, acostumada a uma única forma 
de perceber o mundo é levada a depender dos demais sentidos para tentar 
sobreviver. O isolamento é semelhante ao que se faz com problemas como 
“favelas, cortiços, ocupações” que devem ser escondidos. A cegueira generalizada 
pode ser comparável com o planejamento simplificador que tem como base uma 
falsa harmonia. A cidade ideal é o local de troca, de realização de 
acontecimentos, da ciência, do conhecimento, planejada, sem pobres e sem 
pobreza, com alto padrão de qualidade de vida. 
Na cidade real, os agentes capitalistas da produção do espaço urbano têm, 
entre si, contradições e conflitos pois procuram obter a maior renda, lucro, juros. 
A produção e o consumo do espaço urbano, obedece à lógica dos agentes 
tipicamente capitalistas : os proprietários de terras; os promotores imobiliários; os 
setores industriais ligados aos insumos para a produção na e da cidade; a 
indústria de edificações, o setor de incorporação imobiliária e o capital 
financeiro. A segregação sócio-espacial, poluição da água, do ar, falta de moradia, 
saneamento ambiental, equipamentos de consumo coletivo, transportes coletivos, 
congestionamentos, moradias inadequadas, insalubres, constituem alguns 
elementos da cidade real. 
 O Estado, em geral, é mediador de conflitos, e o planejamento parece uma 
solução para resolver os problemas. Ao Estado capitalista, em suas diversas 
instâncias, cabe definir a propriedade da terra, as normas de apropriação e uso 
da terra e fornecer os meios para a produção ampliada do capital e para a 
reprodução da força de trabalho. 
 Quanto mais quanto mais cidade se produz, mais caro é o preço da terra e 
das edificações, tornando inacessível o ideal para a maior parte dos que moram 
nas cidades. A terra urbana e a cidade não são mercadorias elásticas. Não 
diminuem de preço quando há maior oferta de terras e de unidades de moradia. È 
o que se observa na expansão da área urbana dos municípios, na implantação de 
infra-estrutura e meios de consumo coletivo. Terras desocupadas, imóveis 
construídos vazios, são concomitantes ao déficit habitacional, à precariedade de 
moradias. 
 A morfologia do urbano real revela contradições e conflitos de classes e 
parcelas de classes que vivem da venda da força de trabalho ou do produto do 
seu trabalho sem acesso ao padrão de vida urbano e a urbanidade. 
 
CIDADE E URBANO 
O urbano é um conceito que qualifica um modo de vida, que hoje atinge a 
maioria da sociedade brasileira. As atividades urbanas extrapolam os limites das 
cidades, como é possível verificar em várias atividades como no agro-negócio, 
atividades turísticas, na utilização de áreas inundadas para produção de energia 
elétrica. 
A relação campo/cidade, rural/urbano na atual dinâmica precisa ser 
relativizada, tendo em vista as diferenças sócio-espaciais das regiões brasileiras. 
A sociedade rural se recria e requalifica, traz novos conteúdos necessários para a 
construção de novos paradigmas.O urbano não é uma realidade acabada mas 
um horizonte de transformações territoriais, sociais, políticas e econômicas que se 
difunde em fluxos materiais e imateriais. Campo e cidade, rural urbano não têm 
oposição, mas complementariedade 
A cidade deve ser compreendida como forma espacial e lugar de 
concentração da produção, circulação, consumo de bens e serviços. A cidade, 
que concentra e difunde o urbano, é um centro de decisão política. 
“A cidade intensifica, organizando a exploração de toda a 
sociedade. Isto é dizer que ela não é o lugar passivo da produção 
ou da concentração dos capitais mas sim que o urbano intervém 
como tal na produção” (Lefebvre, 1999 p. 57- grifos nossos). 
 
 Cidade é definida como a projeção da sociedade urbana num dado lugar. 
Política e territorialmente as cidades são sedes político-administrativas dos 
Municípios. 
Para compreender a dinâmica societária consideramos que conceito é 
aplicável ao urbano, exprimindo a complexidade do processo de urbanização, a 
extensão de um modo no de vida no espaço. Definição é aplicável à Cidade 
considerando que do ponto de vista da ação política permite analisar a 
concentração da população urbana nas metrópoles, grandes, pequenas, médias- 
concentração de população e que é - objeto do planejamento urbano. 
As cidades, como definição corresponde, ás áreas urbanas dos municípios. 
União, estados e municípios têm superposição de atribuições de planejar, 
estabelecer normas de uso do solo; as diversas esferas do capital investem onde 
podem obter maior renda, juros e lucros, independente das normas gerais. Há 
uma problemática que se refere a fragmentação do território brasileiro em 5.561 
municípios, cada um deles “planeja” sua área urbana na maioria das vezes sem 
atentar para o atendimento das reais necessidades da maioria da população. 
A criação de municípios, por desmembramento de outros, implica em 
delimitarnovas áreas urbanas, em instalar um arcabouço institucional que nem 
sempre corresponde à necessidade e à realidade econômica e social. Os 
empreendimentos privados ou públicos, interferem, delimitam, incentivam a 
ocupação de áreas urbanas com a instalação de distritos industriais, estradas 
intermunicipais, estaduais, vias de acesso, usinas hidroelétricas, entre outras. 
A dimensão mais problemática está relacionada aos agentes tipicamente 
capitalista da produção do espaço. È comum a ampliação “desnecessária” das 
áreas urbanas, pelo poder municipal, para obtenção de recursos advindos do 
Imposto Predial e Territorial Urbano. Mas a forma mais “usual” é ampliação da 
área urbana pela atuação dos promotores, especuladores imobiliários, 
proprietários de terra, que a utilizam como reserva de valor. Desde o final do 
século XX, verifica-se a implantação de condomínios “murados”, descontínuos do 
tecido urbano, destinados a uma camada de classe que se isola de outras 
camadas de classes, da vida na cidade, provoca aumento do preço nas áreas 
vazias, cristalização e/ou ampliação de espaços segregados nas cidades. 
 
 Domicílios Particulares Permanentes 
 por Situação 1991 e 2000 
Situação 1991 % 2000 % 
Área urbanizada de vila ou cidade 27.330.30977,237.240.29781,8 
Área não urbanizada 183.784 0,5 338.343 0,7 
Área urbanizada isolada 183.758 0,5 283.386 0,6 
Rural - extensão urbana 311.087 0,9 276.519 0,6 
Rural – povoado 697.391 2,0 781.014 1,7 
Rural – núcleo 43.476 0,1 35.644 0,1 
Rural – outros aglomerados 12.229 0,0 24.534 0,1 
Rural - exclusive aglomerados rurais 6.655.61918,8 6.527.77914,3 
Fonte:IBGE, Censo Demográfico 1991 e 2000. Elaborado por Rafael 
Faleiros de Pádua – 2004. 
 
 
 
 
PLANEJAMENTO URBANO 
 No planejamento urbano coexistem vários modelos e dimensões. 
 O Planejamento estratégico cria a imagem de cidade ideal que tenta 
mostrar a eficiência da administração pública e, assim, obter recursos financeiros, 
nacionais e internacionais. A cidade parece um organismo com vida própria, 
desvinculada dos citadinos, dos produtores e consumidores da e na cidade. 
O planejamento que antecede a produção e a ocupação – as cidades 
planejadas no qual está presente a delimitação de áreas a serem ocupadas por 
segmentos de classes sociais. Em poucos anos a cidade real extrapola e modifica 
o projeto ideal como ocorreu em Goiânia, Belo Horizonte, Brasília, Teresina. 
Planejamento setorial urbano – caracteriza-se pela intervenção de setores 
econômicos que intervem na dinâmica de ocupação e produção do espaço: 
indústrias, agroindústrias, exploração de minerais e fontes de energia, produção e 
distribuição de energia, vias de circulação, portos, aeroportos, moradias de 
interesse social, equipamentos específicos, infra-estrutura. 
Planos diretores urbanos, planos diretores estratégicos aparecem também 
como uma forma de “planejar” o futuro da área urbana. 
 Predomina a tendência de imaginar a cidade , as atividades econômicas, 
os equipamentos em sua potencialidade para o “desenvolvimento” sem considerar 
as contradições e conflitos e o fato de gerarem trabalhos temporários , geração 
de empregos permanentes, falta e precariedade de moradia, bairros, escolas, 
infra-estrutura, vias de circulação, abastecimento de água potável, saneamento 
ambiental e as contradições da apropriação, propriedade das terras urbanas. 
 
Os movimentos sociais urbanos e o Estatuto da Cidade 
 Nas décadas de 70 e 80 do século XX moradores de áreas periféricas, 
de favelas, de cortiços, lutam para obter o valor de uso da cidade. Inicialmente se 
organizam no local onde moram, tendo em vista as necessidades específicas de 
cada lugar. São movimentos fragmentados por local de moradia e tipo de 
reivindicação. 
No final da década de 80 se organizam, se agrupam, se aliam ao 
verificarem que têm uma luta semelhante para usufruir do valor de uso da cidade 
que trabalham para construir. No congresso constituinte apresentam a emenda 
popular da reforma urbana tendo como princípio a função social da cidade e da 
propriedade e instrumentos para sua aplicação em todas as áreas que não 
atendem aos interesses coletivos. 
 O Congresso Constituinte- 1988- aprova alguns instrumentos, porém, 
define que os planos diretores municipais delimitaram as áreas onde propriedades 
não cumprem sua função social. A função social é atrelada ao planejamento em 
municípios com mais de 20 mil habitantes. A aplicação só será efetivada após 
2001 com a aprovação da Lei 10.257/01 – O Estatuto da Cidade. 
O Estado não pretendia comprometer suas terras para a função social da 
cidade e da propriedade,porém, manifestação dos movimentos populares faz com 
as terras públicas sejam incluídas. Medida Provisória – 2020/01. 
O Estatuto da Cidade, Lei 10.257/01 : 
 “Estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da 
propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e bem estar dos 
cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental” (art.1o.) “a política urbana tem por 
objetivo ordenar o pleno funcionamento das funções sociais da cidade e da 
propriedade urbana...”.(art.2º). 
Salienta-se que os movimentos sociais urbanos nacionais e internacionais 
se articulam, na Conferência das Nações Unidas - Desenvolvimento e Meio 
Ambiente - CNUMAD-. Na Conferência das Nações Unidas sobre os 
Assentamentos Humanos (1996) - HABITAT II a participação de movimentos 
internacionais consegue que conste na agenda Habitat II, o direito á moradia 
como direto humano, com ressalvas. Consta também que os despejos forçados 
só poderão ocorrer quando estiverem fora da lei mas mesmo assim cabe ao 
Estado lhes dar assistência. 
Nos Fóruns Sociais Mundiais está em debate a carta mundial pelo Direito 
à Cidade que é, antes de tudo, um instrumento dirigido ao fortalecimento dos 
processos, reivindicações e lutas urbanas. A luta pelo direito à cidade não se 
restringe a construção, e obtenção de direitos individuais. O objetivo central é 
tornar o valor de uso predominante sobre o valor de troca e construir o direito 
coletivo. O processo de mobilização internacional dos movimentos referenciando 
direitos individuais propõe a coletivização dos direitos. 
Entre os princípios da luta pelo direito à cidade está a construção de 
direitos coletivos. A dimensão política é a premissa que permite caracterizar o 
lugar das escolhas e decisões coletivas. 
 
OS INTRUMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE APLICÁVEIS NO PLANO 
DIRETOR 
 No Estatuto da Cidade, para definir a função social da cidade e da 
propriedade, o plano diretor é obrigatório para os municípios com mais de 20 mil 
habitantes; para os incluídos em regiões metropolitanas; os de especial interesse 
turístico; e os que terão impactos ambientais de âmbito regional ou nacional por 
empreendimentos públicos e privados. 
O Estatuto reconhece que a cidade é produção coletiva. Deixa evidente 
que a população que recebe baixos ou nenhum salário, não é a causa dos 
problemas urbanos. Permite que a problemática da expansão urbana, da riqueza 
produzida, da escassez de urbanidade seja analisada na sua complexidade e 
inova ao fundamentar suas premissas na cidade real. 
Mas não há soluções que não se resolvam com uma lei, mesmo que 
debatida com a sociedade. Apontamos a seguir instrumentos que podem auxiliar 
o a que a cidade possa cumprir sua função social. 
 
Participação 
 A participação social é tida como fundamental para a elaboração do Plano 
Diretor. Mas é não possível afirmar que esteja sendo cumprido este preceito do 
Estatuto da Cidade. A participação deve ocorrer na etapa de levantamento, de 
definição de prioridades, na delimitação de áreas especiais para moradia e demaisinstrumentos contidos no Estatuto. Os planos deverão ser submetidos a 
audiência públicas pelo executivo e legislativo antes de ser transformada em Lei. 
 Uma lei específica - Estudo de Impacto de Vizinhança - definirá também 
quando deve haver participação e consulta em empreendimentos que alteram a 
vida cotidiana, coletiva. 
 
Reconhecimento do direito à moradia nas áreas ocupadas. 
O usucapião urbano – individual e coletivo- é aplicável nas áreas privadas 
que estão ocupadas para moradia por mais de 5 anos, no limite de 250 m2, para 
cada família, e que até a data do Estatuto da Cidade não tenha contestação do 
proprietário. 
A posse – individual e coletiva- é aplicada nas terras nas públicas, 
ocupadas para moradia familiar nas mesmas condições das terras privadas. 
 A população ocupante pode assim permanecer nas áreas ocupadas, ou 
seja, considera-se a realidade como ela é. 
As áreas ocupadas devem ser delimitadas no Plano Diretor como de 
especial interesse de habitação, denominada de ZEIS, que deve garantir a 
permanência em áreas ocupadas, e regularização fundiária, e definir outras áreas 
no tecido urbano para atender as necessidades dos trabalhadores. 
 Em terras públicas a regularização fundiária já estava em andamento 
através da Medida Provisória 292 mas como não foi votada, em tempo hábil, pelo 
legislativo, está sendo elabora um Projeto de Lei que permite a regularização 
fundiária nas terras da União. 
 A cidade real parece entrar na dinâmica do planejamento. 
 
Limites à especulação imobiliária 
O Estatuto reafirma a propriedade privada/individual e, ao mesmo tempo, 
impõe alguns limites à especulação. 
IPTU – progressivo no tempo A aplicação do IPTU se fará por um prazo 
de 5 anos, após o qual se o terreno não estiver cumprindo sua função social, 
haverá desapropriação por títulos de dívida pública . Este instrumento pode limitar 
a especulação. As áreas objeto de aplicação do IPTU progressivo no tempo 
precisam ser delimitadas no Plano Diretor. 
O Parcelamento Edificação e Utilização Compulsória do solo urbano 
não edificado, subutilizado, deverá também ser delimitada na lei do plano diretor. 
Com relação a subutilização há dificuldades em delimitar as propriedades 
quando estão parcialmente utilizadas, como se observa alguns lotes numa gleba, 
ou algumas unidades num edifício. 
O direito de preempção: preferência para aquisição quando o proprietário 
colocar à venda, pode ser utilizado quando o Poder Público necessitar de áreas 
para: regularização fundiária; execução de programas e projetos habitacionais de 
interesse social; ordenamento e direcionamento da expansão urbana; implantação 
de equipamentos urbanos e comunitários; criação de espaços públicos de lazer e 
áreas verdes; de unidades de conservação ou proteção de outras áreas de 
interesse ambiental e; áreas de interesse histórico, cultural ou paisagístico. 
Deve constar no plano diretor e ser elaborada uma lei específica para ser 
apresentada aos proprietários de propriedades que não cumprem sua função 
social. 
 
Direito de propriedade e garantia de rendas imobiliárias 
 Há instrumentos, como já dito, que reafirmam a propriedade e a obtenção 
de renda. 
Outorga onerosa do direito de construir: é aplicável em coeficientes de 
aproveitamento do solo nas zonas rurais e urbanas especificado nas leis de 
zoneamentos. O direito de construir acima do potencial com contrapartida também 
tem que contar com uma Lei Especifica. 
O direito de propriedade é garantido, bem como construir acima do 
coeficiente permitido, dependendo das condições de infra-estruturas. Em 
contrapartida o proprietário deverá fornecer recursos para uma atividade 
vinculada à função social da cidade. O poder público não poderá utilizar para 
outros fins. 
Operações urbanas: representam um conjunto de intervenções e 
medidas coordenadas pelo Município, com a participação dos proprietários, 
moradores, usuários permanentes e investidores privados. 
O objetivo é promover transformações urbanísticas estruturais e 
melhorias sociais. As operações consorciadas mostram que além da garantia da 
propriedade privada há também participação da iniciativa privada nas operações 
urbanas. 
As operações urbanas, além de serem demarcadas nos planos diretores, 
dependem de lei específica que deve explicitar a finalidade, a contrapartida dos 
proprietários, e investidores privados. A contrapartida será aplicada 
exclusivamente na própria operação urbana. 
Há muitos questionamentos sobre as operações urbanas que têm 
representado aumento do preço da terra e das edificações, provocado o 
deslocamento de trabalhadores para áreas mais distantes. 
Consorcio imobiliário Está relacionado às operações urbanas e é 
aplicável quando o proprietário de área que deverá ter parcelamento, edificação 
ou utilização compulsória poderá propor ao Município, como forma de viabilização 
financeira do aproveitamento do imóvel, a transferência de seu imóvel para o 
Poder Público, recebendo, após a realização das obras, como pagamento, 
unidades imobiliárias urbanizadas ou edificadas. 
Transferência do direito de construir: A transferência do direito de 
construir, estabelece condições para que o proprietário de imóvel urbano, privado 
ou público, aplique em outro local o direito de construir, quando o seu imóvel for 
necessário para fins de Implantação de equipamentos urbanos e comunitários; 
preservação, quando o imóvel for considerado de interesse histórico, ambiental, 
paisagístico, social ou cultural; servir a programas de regularização fundiária, 
urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda e habitação de 
interesse social. 
Quem doar ao Poder Público seu imóvel ou parte dele para os fins acima 
citados também poderá exercer em outro local ou alienar o direito de construir. 
O Direito de superfície: propicia que os proprietários concedam a 
outrem, de modo gratuito ou oneroso, o direito de superfície de seu terreno, por 
tempo determinado ou indeterminado. O direito de superfície abrange o direito de 
utilizar o solo, o subsolo ou o espaço aéreo relativo ao terreno, na forma 
estabelecida no contrato respectivo, atendida a legislação urbanística. 
 
Algumas ponderações. 
Apesar das intenções de considerar a cidade como bem coletivo, de ser um 
dos produtos dos movimentos sociais, ainda predomina o planejamento estático, 
setorial e que pensa o futuro e não o presente. Contribui para a continuidade do 
paradigma dominante o sombreamento de atribuições das unidades da federação 
e o fracionamento territorial. 
Há no Brasil 5.561 municípios, dos quais 1.070 foram criados entre 1991 
e 2002, com grande diversidade de atividades urbanas e rurais. Apesar dos planos 
diretores abrangerem a extensão dos municípios a maioria dos instrumentos do 
Estatuto é aplicável na área delimitada como urbana. 
Nº de Municípios Criados de 1940 a 2002
315
877
1186
39
500
1070
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1940-50 1950-60 1960-70 1970-80 1980-91 1991-2002
Períodos
Nº
 
de
 
M
u
n
icí
pi
o
s
 
Cada um dos municípios, independente de sua extensão territorial, de suas 
atividades, da população urbana e rural integra a federação brasileira. 
Um outro aspecto que dificulta pensar num planejamento calcado na 
realidade é o não reconhecimento institucional de Regiões Metropolitanas como 
unidade da federação. Não há obrigatoriedade de realizar planos conjuntos o que 
impossibilidade debater problemas comuns. 
 Após 1988 há uma proliferação de metrópoles e regiões metropolitanas 
que poderiam dar a idéia de agregar a fragmentação, porém na pratica não se 
concretiza a união de municípios , com raras exceções. 
A obrigatoriedade para elaboração dePlano Diretor é vinculada à 
população de mais de 20 mil habitantes, independente da extensão territorial das 
atividades econômicas, exceto nas áreas de especial interesse turístico. 
A população urbana está concentrada em pouco mais de mil municípios, o 
que demonstra que há um reconhecimento das características do processo de 
urbanização. Cerca de 27% dos municípios concentra 80,31% da população 
urbana. Do ponto de vista da população significa que a maior parte da população 
urbana poderá ser, pelo menos teoricamente, beneficiada do cumprimento da 
função social da propriedade e da cidade, excetuando-se as regiões 
metropolitanas que continuaram a realizar planos em separados. 
Considerando dimensão do número de municípios o Plano Diretor não é 
obrigatório para 72,96% dos municípios brasileiros que contam com apenas 
19,69% da população. Também não se considera a extensão territorial de 
municípios. Significa exclusão da população moradora nesses municípios de 
participar do planejamento como processo e da possibilidade e também a 
construção de um processo de planejamento territorial participativo. 
 O sombreamento de atribuições das unidades da federação limita a 
construção de um novo paradigmática. 
O Estatuto contém, de modo geral, germes da utopia do Direito à Cidade. 
Como diz Santos, “A utopia é a exploração de novas possibilidades e vontades 
humanas, por via da oposição da imaginação à necessidade do que existe, em 
nome de algo radicalmente melhor que a humanidade tem direito de desejar e 
porque merece a pena lutar” . 
Para construir a Utopia do Direito à Cidade, o urbano, deve ser 
compreendido como modo de vida não restrito aos limites das cidades. As 
dimensões da reprodução da vida, as culturais, as questões de gênero, de etnia, 
do trabalho, de emprego, do uso do espaço público, do espaço coletivo, da 
segurança também são fundamentais para compreender o processo de 
urbanização. 
A construção da Utopia do Direito à Cidade depende, fundamentalmente, 
da ação política da sociedade civil organizada e de estudos que possibilitem 
construir uma teoria geral dos tempos-espaços urbanos. 
O Estatuto da Cidade, decorrente das lutas sociais, aponta um novo 
paradigma de planejamento urbano e de gestão do território do município. 
 Pode ser considerado como diz Harvey (2003), a utopia de um processo 
social, resultado de um longo período de conflitos, de lutas e negociações, de 
pressões da sociedade civil organizada, dos movimentos sociais, condensa e 
sintetiza uma diversidade de idéias, ideologias e projetos coletivos de sociedade. 
Uma utopia não se concretiza numa lei, mas pode ser uma virtualidade 
utópica de pensar o espaço, a sociedade, o território, a produção do espaço. 
 O paradigma da função social da propriedade, da cidade pode ser uma 
virtualidade para atingir-se o Direito à Cidade. Mas ainda domina o planejamento 
estático, setorial e visando um ideário do que e como deveria ser o espaço 
urbano. 
 
Bibliografia citada 
Brasil . Governo Federal – Medida Provisória n. 2020 de 2001. 
 Estatuto da Cidade – Lei 10.257/01 – Governo Federal - 
Harvey, David – 2003- Espacios de esperanza- Ediciones Akal- Madri- Espanha 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Censo Demográfico de 1980 
 Censo Demográfico de 1991 
 Censo Demográfico de 2000 
Lefebvre, Henry - 1999 - A revolução Urbana – Editora UFMG- Minas Gerais 
Rodrigues, Arlete Moysés – 2005– Direito à Cidade e o Estatuto da Cidade –in 
 Revista Cidades –n.3- volume 2 
2004 -Nota técnica sobre conceito da Cidade – julho e novembro – edição 
 para Ministério das Cidades 
Santos, Boaventura Sousa – 1995- Pela Mão de Alice – O social e o Político na 
 Pós modernidade. Cortez Editora-SP 
Saramago, José – Ensaio sobre a Cegueira – Editora

Outros materiais