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Universidade Federal do Oeste da Bahia Genômica e Genética do Câncer (Capítulo 16 – THOMPSON) O câncer é fundamentalmente uma doença genética. O câncer não é uma doença única, mas um nome usado para descrever as mais virulentas formas de neoplasia. Entretanto, para que um neoplasma seja um câncer, ele deve também ser maligno. Os tumores que não invadem ou metastatizam não são cancerosos, mas são referidos como tumores benignos; Existem três formas principais de câncer: Dentro de cada um dos grupos principais, os tumores são classificados de acordo com o local, o tipo de tecido, a aparência histológica e o grau de malignidade. BASE GENÉTICA DO CÂNCER A neoplasia é um acúmulo anormal de células que ocorre devido a um desequilíbrio entre a proliferação celular e o desgaste celular. As células proliferam à medida que passam pelo ciclo celular e sofrem mitose. O desgaste, devido à morte celular programada, remove células de um tecido. Processo de doença caracterizado por proliferação celular descontrolada, que leva a uma massa ou tumor (neoplasma) Significa que o seu crescimento não é mais controlado e o tumor é capaz de progredir invadindo tecidos vizinhos ou espalhando-se (metastatizando) para locais mais distantes, ou ambos. Sarcomas: Tumor surge em um tecido mesenquimal, como o osso, músculo, tecido conjuntivo ou no sistema nervoso. Carcinomas: Se originam de tecido epitelial, como as células que revestem os intestinos, os brônquios ou os ductos da mama. Neoplasmas malignos hematopoéticos e linfóides: Como as leucemias e os linfomas, que se espalham por toda a medula óssea, pelo sistema linfático e pelo sangue periférico. 1Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. O desenvolvimento do câncer (oncogênese) resulta de mutações em um ou mais do vasto arranjo de genes que regulam o crescimento celular e a morte celular programada. A ativação de oncogenes ou genes antiapoptóticos é dominante e necessita apenas um único alelo mutante. As mutações em genes supressores de tumor são recessivas; quando ambos os alelos estão mutados ou inativados, o crescimento celular é desregulado ou a integridade genômica é comprometida. A perda de genes pró-apoptóticos pode ocorrer através da perda de ambos os alelos ou através de uma mutação negativa dominante em um alelo. Em uma síndrome de câncer hereditário, a mutação inicial causadora do câncer é herdada através de linhagem germinativa e, portanto, já presente em cada célula do corpo. Entretanto, a maioria dos cânceres é esporádica porque as mutações ocorrem em uma única célula somática, que então se divide e prossegue para desenvolver um câncer. O que distingue as mutações oncogênicas é que, por sua natureza, elas permitem que uma célula mutante se desenvolva em uma doença que ameaça a vida. Uma vez iniciado, um câncer progride por acúmulo adicional de danos genéticos através de mutações em genes de manutenção, que codificam a maquinaria celular que repara o DNA danificado e mantêm a normalidade citogenética. Universidade Federal do Oeste da Bahia 2Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. Os genes nos quais as mutações causam câncer são classificados em duas categorias distintas: Iniciação do Tumor: Os diferentes tipos de alterações genéticas são responsáveis pela iniciação do câncer. Estas mutações incluem: mutações ativadoras ou de ganho de função, incluindo a amplificação gênica, as mutações de ponto e as mutações promotoras que mudam um alelo de um proto- oncogene para um oncogene; mutações ectópicas e heterocrônicas (Cap. 11) de proto-oncogenes; translocações cromossômicas que causam a má expressão de genes ou criam genes quiméricos que codificam proteínas com novas propriedades funcionais; perda de função de ambos os alelos ou mutação negativa dominante de um alelo do TSG. Progressão tumoral: Uma vez iniciado, o câncer progride pelo acúmulo de danos genéticos adicionais, por meio de mutações ou silenciamento epigenético, de genes de manutenção que codificam a maquinaria que repara os danos ao DNA e mantêm a normalidade citogenética. Oncogenes: Um oncogene é um alelo mutante de um proto- oncogene, uma classe de genes normais que codificam proteínas que promovem o crescimento e a sobrevivência das células. Os oncogenes facilitam a transformação maligna por estimularem a proliferação ou a inibição da apoptose. Genes supressores tumorais (TSGs) TSGs controladores: controlam o crescimento celular. Os genes controladores bloqueiam o desenvolvimento do tumor regulando a transição das células nos pontos de checagem (“portões”) no ciclo celular ou promovendo a morte celular programada e, portanto, controlando a divisão celular e a sobrevivência celular. TSGs de manutenção: protegem a integridade do genoma. A perda de função dos genes de manutenção permite mutações para acumular em oncogenes e genes controladores, as quais, em combinação, iniciam e promovem o câncer. Oncogenes codificam proteínas tais como: proteínas das vias de sinalização para a proliferação celular; fatores de transcrição que controlam a expressão dos genes promotores de crescimento; inibidoras da maquinaria de morte celular programada. Os TSGs controladores codificam: os reguladores de vários pontos de checagem do ciclo celular; os mediadores da morte celular programada. Os TSGs de manutenção codificam: proteínas responsáveis pela detecção e pelo reparo das mutações; proteínas envolvidas na disjunção normal dos cromossomos durante a mitose; componentes da maquinaria da morte celular programada. Universidade Federal do Oeste da Bahia 3Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. CÂNCER EM FAMÍLIAS Muitas formas de câncer têm uma incidência mais alta em parentes de pacientes que na população em geral. Extensos estudos epidemiológicos mostram que algumas famílias têm um risco acima da média de câncer, mesmo na ausência de um padrão óbvio de herança mendeliana. Por exemplo, uma incidência aumentada de câncer, na faixa de duas a três vezes, tem sido observada em parentes de primeiro grau de pacientes com a maioria das formas de câncer, o que sugere que muitos cânceres são características complexas que resultam tanto de fatores genéticos quanto ambientais. A identificação de uma base genética para o câncer hereditário tem grande importância: 1. Tratamento clínico dessas famílias; 2. A compreensão das formas hereditárias da doença fornece informações cruciais dos mecanismos da doença que vão além das próprias formas hereditárias. ONCOGENES Os oncogenes ativados codificam proteínas que agem em muitas etapas na via que controla o crescimento celular, incluindo os fatores de crescimento que estimulam a divisão celular, os receptores e proteínas citoplasmáticas que traduzem esses sinais, os fatores de transcrição que respondem aos sinais traduzidos e as proteínas que impedem a morte celular programada (apoptose). Uma história familiar de câncer em vários parentes de primeiro ou segundo grau de um paciente deve levantar a suspeita no médico do risco aumentado de câncer no paciente. Os oncogenes têm um efeito dominante a nível celular; isto é, quando ele é ativado ou hiperexpresso, um único alelo mutante é suficiente para iniciar a mudança do fenótipo de uma célula, de normal para maligno. A sinalização desregulada do fator de crescimento pode ser devida a mutações emgenes que codificam (1) os próprios fatores de crescimento, (2) seus receptores e (3) vias de sinalização intracelular. Os alvos seguintes dos fatores de crescimento incluem os fatores de transcrição (4) cuja expressão pode tornar-se desregulada. Tanto a telomerase (5) quanto as proteínas antiapoptóticas que agem nas mitocôndrias (6) podem interferir na morte celular e levar à tumorigênese. Universidade Federal do Oeste da Bahia 4Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. Oncogenes Ativados nas Síndromes do Câncer Hereditário Adenomatose Endócrina Múltipla, Tipo 2 A adenomatose endócrina múltipla, tipo 2 (MEN2), em sua variante mais comum, o tipo A, é um distúrbio autossômico dominante caracterizado por uma alta incidência de carcinoma medular da tireóide, que em geral, mas nem sempre, está associado ao feocromocitoma, ao adenoma benigno de paratireóide, ou ambos. Pacientes com a rara variante tipo B, denominada MEN2B, possuem, além dos tumores observados em pacientes com a MEN2A, o espessamento dos nervos e o desenvolvimento de tumores neurais benignos, conhecidos como neuromas, na mucosa superficial de boca e lábios. As mutações responsáveis por MEN2 estão no gene RET, que codifica um receptor tirosina quinase. Mutações em RET na MEN2A e MEN2B são mutações de ponto específicas que ativam o receptor, fazendo com que ele fosforile a tirosina, mesmo na ausência de ligação pelo ligante. Embora se saiba, a partir da natureza hereditária do carcinoma medular de tireóide, que as mutações em RET são a causa subjacente do câncer, nem todas as células parafoliculares da tireóide tornam-se de fato cancerosas. É sabido que ocorrem outras mutações cromossômicas e genômicas, como a perda de uma parte do cromossomo 1p nos carcinomas medulares da tireóide na MEN2A. Esses eventos secundários surgem em múltiplos locais nos genomas das células individuais, cada um dos quais está se dividindo e se desenvolvendo em um tumor que se origina de uma única célula e, portanto, conhecido como clonal. O gene RET é expresso em muitos tecidos do corpo e é necessário para o desenvolvimento embrionário normal dos gânglios do sistema nervoso autônomo e do rim. Ainda é completamente desconhecido por que as mutações ativadoras na linhagem germinativa nesse proto-oncogene resultam em um determinado câncer, de tipo histológico característico e restrito a tecido específico, enquanto em outros tecidos, nos quais o oncogene é expresso, não ocorre o desenvolvimento de tumores. Universidade Federal do Oeste da Bahia 5Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. O qual funciona como receptor para dois ligantes: 1. O fator de crescimento derivado da linhagem celular glial; 2. A neurturina. Isso indica que os próprios oncogenes não são suficientes para causar a doença Oncogenes Ativados no Câncer Esporádico Muitos oncogenes mutados, incluindo RET e MET, foram identificados em cânceres esporádicos, através de estudos moleculares de linhagens celulares derivadas desses tumores. Um dos primeiros oncogenes ativados descobertos foi o gene RAS mutante, derivado de uma linhagem celular de carcinoma de bexiga. Uma mutação de ponto em uma célula somática, leva à síntese de uma proteína Ras anormal que é capaz de sinalizar, continuamente, mesmo na ausência de GTP ligado. O RAS mutante estimula o crescimento da linhagem celular, transformando-a, portanto, em um tumor. ATIVAÇÃO DE ONCOGENES POR TRANSLOCAÇÃO CROMOSSÔMICA Nem sempre os oncogenes são resultados de uma mutação do DNA. Em alguns casos, um proto-oncogene é ativado por uma mutação cromossômica, geralmente através de translocação. Em outros casos, a translocação ativa um oncogene colocando-o em seguida a um forte promotor constitutivo, que pertence a outro gene. Dois exemplos bem conhecidos são a translocação entre os cromossomos 8 e 14 no linfoma de Burkitt e a translocação envolvendo o cromossomo 18 no linfoma de células B. Universidade Federal do Oeste da Bahia 6Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. O RAS codifica as Proteínas G Em alguns casos, os pontos de quebra das translocações são dentro dos íntrons de dois genes, fusionando dois genes em um gene anormal que codifica uma proteína quimérica com novas propriedades oncogênicas. O exemplo mais bem conhecido é a translocação entre os cromossomos 9 e 22 que é observada na leucemia mielóide crônica. Translocação no cromossomo Philadelphia t(9;22)(q34;q11). O cromossomo Philadelphia (Ph1) é o cromossomo derivativo 22, que trocou parte do seu braço longo por um segmento do cromossomo 9q que contém o oncogene ABL. A formação de um gene quimérico BCR-ABL no cromossomo Ph1 é o evento genético crítico no desenvolvimento da leucemia mielógena crônica. Leucemia Mielóide Crônica A anomalia citogenética observada, o tão conhecido cromossomo Philadelphia (Ph1), é produto da translocação entre os cromossomos 9 e 22. A translocação move o proto- oncogene ABL, uma tirosina quinase, de sua posição normal no cromossomo 9q para a “região de grupo de ponto de quebra” do gene (BCR), um gene de função desconhecida no cromossomo 22q. A justaposição das sequências BCR e das sequências ABL permite a síntese de uma proteína quimérica que é maior do que a proteína ABL normal e que tem a atividade de tirosina quinase aumentada. O aumento da atividade da tirosina quinase da nova proteína codificada pelo gene quimérico constitui-se no evento primário que causa a leucemia crônica; Uma nova e altamente eficiente terapia para a leucemia mielóide crônica tem sido desenvolvida com a droga imatinibe e é baseada na inibição dessa atividade da tirosina quinase. Linfoma de Burkitt É um tumor de células B da mandíbula que tem uma distribuição geográfica incomum. Na maioria dos tumores desse tipo, o proto-oncogene MYC é translocado de sua posição cromossômica normal em 8q24 para uma posição distal ao locus de cadeia pesada da imunoglobulina em 14q32. A função da proteína Myc ainda não é totalmente conhecida, mas parece ser um fator de transcrição com efeitos potentes na expressão de vários genes envolvidos na proliferação celular como também na expressão da telomerase. Linfoma de Célula B Folicular A hiperexpressão de uma proteína antiapoptótica em linhagens de linfócitos pode resultar em uma grande expansão das populações de linfócitos, contribuindo, assim, para a patogênese do linfoma. Em quase todos os linfomas de célula B do tipo folicular, um gene, o BCL2, localizado em 18q21, foi encontrado ativado por uma translocação cromossômica t(14;18) que colocou o gene sob um forte promotor e acentuador do gene de cadeia pesada de imunoglobulina, localizado em 14q32. A proteína codificada pelo BCL2 é uma proteína de membrana interna mitocondrial com potentes efeitos antiapoptóticos nas células B. A expressão prolongada e inapropriada desse gene, ativada pelo promotor de imunoglobulina, resulta em expansão maciça de células B, não por causa da proliferação aumentada, mas porque a apoptose normal dessas células está inibida. Universidade Federal do Oeste da Bahia 7Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. A TELOMERASE COMO UM ONCOGENE Um outro tipo de oncogene é o gene que codifica a telomerase, uma transcriptase reversa que é necessária para sintetizar a repetição hexamérica TTTAGG, como um componente dos telômeros, nas extremidades dos cromossomos. À medida que as células se diferenciam, a atividade da telomerase diminui em todos os tecidos do corpo, exceto nascélulas altamente proliferativas dos tecidos que sofrem auto-renovação, como a medula óssea. À medida que a função da telomerase é perdida, os telômeros encurtam. Após centenas de divisões celulares, as extremidades dos cromossomos ficarão danificadas. Por sua vez, o dano ao DNA faz com que as células parem de se dividir e entrem na fase G0 do ciclo celular; finalmente as células entram em apoptose. Em muitos tumores, a expressão da telomerase persiste e permite às células tumorais proliferarem indefinidamente. Em alguns casos, o surgimento da atividade da telomerase é resultado de mutações cromossômicas ou genômicas que hiperexpressam diretamente o gene da telomerase; em outros casos, a telomerase pode ser apenas um dos muitos genes cuja expressão é alterada por um oncogene transformante, como o MYC. A expressão persistente da telomerase não tem sido mostrada como um evento primário que inicia um câncer humano, mas parece ser uma importante etapa subsequente que permite a sobrevivência das células cancerosas, apesar da divisão celular contínua; Devido ao papel das telomerases no aumento da proliferação celular, a inibição da telomerase está sendo ativamente buscada como uma nova abordagem no tratamento do câncer. GENES SUPRESSORES DE TUMOR Enquanto as proteínas codificadas pelos oncogenes promovem o câncer, as mutações nos genes supressores de tumor (TSGs) contribuem para a malignidade por um mecanismo diferente, isto é, através da perda de função de ambos os alelos de um gene. TSGs controladores: suprimem realmente os tumores por regularem o ciclo celular ou por causarem a inibição do crescimento pelo contato célula-célula. Regulam diretamente o crescimento celular TSGs de manutenção: envolvidos no reparo de danos ao DNA e na manutenção da integridade genômica. A perda de ambos os alelos de genes que estão envolvidos no reparo de danos ao DNA ou quebras cromossômicas leva indiretamente ao câncer, pois permite que mutações secundárias adicionais se acumulem ou em proto-oncogenes ou em outros TSGs. Como os TSGs e seus produtos são por natureza protetores contra o câncer, espera-se que o entendimento a seu respeito possa levar a métodos melhores na terapia anticâncer. Universidade Federal do Oeste da Bahia 8Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. Os Dois Eventos da Origem do Câncer Prediz que duas mutações (uma germinativa e outra somática) devem inativar cada alelo de um gene para desenvolvimento de um câncer. Ex: Os indivíduos que herdam o gene para uma doença qualquer (forma hereditária) tem a primeira mutação (germinativa) num dos alelos desse gene em todas as suas células. Entretanto, para que se manifeste, deve ocorrer outra mutação (somática) adquirida ao longo da vida. O modelo dos “dois eventos” é amplamente aceito como uma explicação para muitos cânceres familiares (retinoblastoma, polipose de cólon familiar, câncer de mama familiar, neurofibromatose tipo 1 (NF1), carcinoma hereditário não-polipose de cólon e uma forma rara de câncer familiar conhecida como síndrome de Li-Fraumeni). GENES SUPRESSORES TUMORAIS PROTETORES NAS SÍNDROMES DE CÂNCER AUTOSSÔMICAS DOMINANTES Retinoblastoma É um raro tumor maligno da retina, em crianças, com uma incidência de cerca de 1 em 20.000 nascimentos. O diagnóstico de retinoblastoma deve normalmente ser seguido pela remoção do olho afetado, embora em tumores menores, diagnosticados em estágio inicial, possam ser tratados por terapia local, de modo que a visão possa ser preservada. Cerca de 40% dos casos de retinoblastoma são de forma hereditária, na qual a criança herda um alelo mutante no locus de retinoblastoma (RB1), através da linhagem germinativa. Uma mutação somática, ou outra alteração em uma única célula da retina, leva à perda da função do alelo normal restante iniciando, assim, o desenvolvimento de um tumor; A chance de um segundo evento na forma hereditária é muito grande e os heterozigotos para o distúrbio são sempre afetados. A ocorrência do segundo evento é uma questão de chance e não ocorre em 100% das vezes; portanto, a penetrância do retinoblastoma, embora alta, é incompleta. Os outros 60% dos casos de retinoblastoma não são hereditários (esporádicos); nesses casos, ambos os alelos RB1, em uma única célula da retina, foram inativados independentemente. Universidade Federal do Oeste da Bahia 9Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. Comparação das formas mendeliana e esporádica de cânceres como o retinoblastoma e a polipose familiar do cólon. Perda da Heterozigose Os geneticistas, que estudam os polimorfismos do DNA na região próxima ao locus RB1, fizeram uma descoberta genética pouco comum: Indivíduos com retinoblastoma heterozigotos nos loci polimórficos próximos ao RB1 em tecidos normais, tais como nos seus leucócitos, tinham tumores que continham alelos de apenas um dos seus dois cromossomos 13 homólogos, revelando a perda da heterozigose (LOH) na região do gene. A LOH pode ocorrer por deleção intersticial, mas existem outros mecanismos, tais como a recombinação mitótica ou a não-disjunção. O gene RB1 é mapeado no cromossomo 13, na banda 13q14. O produto do gene RB1 (p110 Rb1) é uma fosfoproteína que é hipofosforilada e depois hiperfosforilada em diferentes estágios do ciclo celular. No seu estado hipofosforilado, bloqueia a progressão do ciclo celular no limite entre as fases G1 e S, inibindo, assim, a entrada na fase S pela ligação aos fatores de transcrição e inativando esses fatores que promovem a síntese de DNA; À medida que se torna progressivamente mais fosforilada, libera seus parceiros de ligação à proteína, permitindo a entrada da célula na fase S. A perda do gene RB1 priva as células de um importante ponto mitótico de checagem e permite a proliferação descontrolada. O gene RB1 é, portanto, um típico TSG controlador (gatekeeper). Universidade Federal do Oeste da Bahia 10Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. Os mecanismos cromossômicos que podem levar a uma perda de heterozigose de marcadores de DNA no gene supressor tumoral, ou perto dele, em uma pessoa heterozigota para uma mutação herdada na linhagem germinativa. A figura descreve os eventos que constituem o “segundo evento” que leva ao retinoblastoma. Entretanto, os eventos locais, tais como mutação, conversão gênica ou silenciamento transcricional, podem causar a perda de função de ambos os RB1 sem produzir perda da heterozigose. + é alelo normal, rb é o alelo mutante. Síndrome de Li-Fraumeni Existem “cânceres familiares” raros nos quais há uma história marcante de muitas formas diferentes de câncer (incluindo várias espécies de sarcoma de osso e de tecidos moles; câncer de mama, tumores cerebrais, leucemia e carcinoma adrenocortical), que afetam vários membros da família, em idade incomumente jovem, herdados em padrão autossômico dominante. Esse fenótipo altamente variável é conhecido como síndrome de Li-Fraumeni (LFS). Como o TSG TP53, que codifica a proteína p53, está inativado nas formas esporádicas de muitos dos cânceres encontrados na LFS, o TP53 foi considerado um candidato para o gene defeituoso na LFS. O gene TP53 pode, portanto, ser também considerado um TSG controlador. Neurofibromatose Tipo 1 A NF1 é um distúrbio autossômico dominante relativamente comum que afeta primariamente o sistema nervoso periférico e é sempre caracterizado por um grande número de neurofibromas. O crescimento celular anormal observado na NF1 sugere que o gene normal pode funcionar na regulação da divisão celular no tecido nervoso. Certos neoplasmasmalignos raros são observados com frequência aumentada em uma minoria de pacientes com NF1. Esses neoplasmas malignos incluem neurofibrossarcoma, astrocitoma, cânceres de células de Schwann e leucemia mielóide crônica da infância, os quais são extremamente raros em pacientes sem a NF1. O gene NF1 foi mapeado no braço longo proximal do cromossomo 17 através de estudos de ligações de famílias; O produto do NF1 normal interage com um membro desconhecido da família do gene RAS para regular a atividade proliferativa em células normais. O gene mutante NF1 falha na regulação do crescimento em células normais, a partir das quais se originam os neurofibromas, levando a um crescimento inapropriado e à formação de tumores; Em alguns, mas não em todos os casos de tumores malignos de células de Schwann e leucemia mielógena juvenil, a LOH do alelo normal do NF1 tem sido demonstrada nos tecidos do tumor, mas não nos tecidos normais que o circundam. Universidade Federal do Oeste da Bahia 11Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. A proteína p53 é uma proteína de ligação ao DNA que parece ser um componente importante da resposta celular aos danos no DNA. Além de ser um fator de transcrição que ativa a transcrição de genes que cessa a divisão celular e permite o reparo de danos ao DNA, a p53 parece, também, estar envolvida na indução de apoptose de células que tenham sofrido danos irreparáveis ao DNA. Portanto, a perda de função da p53 permite que as células com DNA danificado sobrevivam e se dividam, propagando, assim, as mutações potencialmente oncogênicas. GENES DE MANUTENÇÃO EM SÍNDROMES AUTOSSÔMICAS DOMINANTES Câncer de Mama Familiar devido a Mutações em BRCA1 e BRCA2 Os estudos de ligação genética em famílias com câncer de mama familiar de início precoce levaram à descoberta de mutações em dois genes que aumentam a suscetibilidade ao câncer de mama, o BRCA1 no cromossomo 17q21 e o BRCA2 no cromossomo 13q12.3. As mutações em BRCA1 e BRCA2 também estão associadas a um aumento signi ficativo no risco de câncer de ovário em mulheres heterozigotas; as mutações em BRCA2, mas não em BRCA1, também respondem por 10% a 20% de todos os cânceres masculinos de mama, que afeta cerca de 0,1% dos homens. Os produtos dos genes BRCA1 e BRCA2 são proteínas nucleares contidas dentro do mesmo complexo multiprotéico. Esse complexo foi implicado na resposta celular à quebra do filamento duplo do DNA, como normalmente ocorre durante a recombinação homóloga ou anormalmente como resultado da lesão ao DNA. Como deve ser esperado de qualquer TSG, o tecido tumoral de heterozigotas para mutações em BRCA1 e BRCA2 demonstra, frequentemente, LOH com perda do alelo normal. Outros fatores genéticos ou ambientais podem ter um papel na penetrância final de mutações em BRCA1 e BRCA2 em mulheres heterozigotas para essas mutações (Discrepância, famílias com múltiplas ocorrências X triagem da população sem história familiar). Câncer de Cólon Familiar Polipose de Cólon Familiar O câncer colorretal, uma malignidade do epitélio do cólon e do reto, é uma das formas mais comuns de câncer. Uma pequena proporção dos casos de câncer de cólon é devida à condição autossômica dominante polipose adenomatosa familiar (FAP) e sua subvariante, a síndrome de Gardner. Nos heterozigotos para FAP, numerosos pólipos adenomatosos, que em si são crescimentos benignos, desenvolvem- se no cólon durante as primeiras duas décadas de vida. Em quase todos os casos, um ou mais pólipos tornam-se malignos. A FAP e a síndrome de Gardner ocorrem devido a mutações em no gene APC. O gene APC codifica uma proteína citoplasmática que regula a proteína bifuncional conhecida como β-catenina. A β-catenina funciona como uma ligação entre a porção citoplasmática das moléculas transmembranares de adesão celular (como as caderinas) e o citoesqueleto de actina e é também um ativador de transcrição. Universidade Federal do Oeste da Bahia 12Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. Os pacientes com síndrome de Gardner têm, além dos pólipos adenomatosos com transformação maligna observados na FAP, outras anomalias que incluem os osteomas da mandíbula e desmóides, que são tumores que surgem nos músculos da parede abdominal. Não se sabe por que alguns pacientes com mutações em APC desenvolvem FAP e outros desenvolvem a síndrome de Gardner. Sob condições normais a maioria das β-cateninas está presente em um grande complexo protéico com a E-caderina. O APC induz a fosforilação e subseqüente degradação de qualquer β-catenina não-ligada, mantendo assim baixos níveis de β- catenina livre na célula. A perda de APC leva ao acúmulo de β-catenina citoplasmática livre, que é translocada para o núcleo, onde ativa a transcrição de genes de proliferação celular, incluindo MYC (o mesmo gene que é hiperexpresso no linfoma de Burkitt). Universidade Federal do Oeste da Bahia 13Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. O gene APC é, portanto, um TSG controlador. Câncer Hereditário Não-polipose do Cólon O câncer hereditáro não-polipose de cólon (HNPCC) é caracterizado por herança autossômica dominante de câncer de cólon que ocorre durante a vida adulta, mas em idade relativamente jovem e sem os pólipos adenomatosos observados na FAP. O HNPCC é um grupo de cinco síndromes de câncer familiar similares (HNPCC1 a HNPCC5), causadas por mutações em um dos cinco genes diferentes de reparo de DNA responsáveis pela reparação de segmentos do DNA nos quais não ocorreu pareamento correto de bases de DNA. Embora todos os cinco genes tenham sido implicados em HNPCC em famílias diferentes, o MLH, o MSH2 e o MSH6 são, em conjunto, responsáveis pela grande maioria de HNPCC; Os genes HNPCC são protótipos de genes TSGs de manutenção. Em nível celular, o fenótipo mais marcante de células que perdem ambos alelos de um desses genes é um aumento enorme nas mutações de ponto e na instabilidade dos segmentos de DNA que contêm repetições de sequências simples, como (A)n ou polimorfismos de microssatélites, por todo o genoma. Acredita-se que o DNA microssatélite seja particularmente vulnerável ao mau pareamento porque o desalinhamento do filamento sendo sintetizado no filamento- molde pode ocorrer mais prontamente quando curtas repetições de DNA em série são sintetizadas. Essa instabilidade referida como fenótipo erro positivo de replicação (ou RER+). O fenótipo RER+ é facilmente visto no DNA como três, quatro ou mesmo mais alelos de um polimorfismo de microssatélite em um único DNA do tumor do indivíduo. GENES DE MANUTENÇÃO EM SÍNDROMES DE INSTABILIDADE CROMOSSÔMICA AUTOSSÔMICAS RECESSIVAS Os distúrbios autossômicos recessivos como o xeroderma pigmentoso, a ataxia- telangiectasia, a anemia de Fanconi e síndrome de Bloom são devidos à perda de função de proteínas necessárias para a replicação ou o reparo normais do DNA. Assim, os genes que são defeituosos nas síndromes de instabilidade cromossômica podem ser considerados como TSGs de manutenção. Perda de Função dos Genes Controlador (Gatekeeper) e de Manutenção (caretaker) em Câncer Esporádico TP53 e RB1 em Cânceres Esporádicos Embora a síndrome de Li-Fraumeni, causada pela herança de mutações na linhagem germinativa em TP53, seja uma síndrome familiar rara, a mutação somática que causa uma perda de função de ambos os alelos de TP53 é uma das alterações genéticas mais comuns observadas no câncer esporádico. As mutações do gene TP53 ou a deleção do segmento do cromossomo 17p (banda p13.1) que inclui TP53, ou ambos, são frequente e repetidamente vistas em uma ampla gama de cânceres esporádicos. Estesincluem o de mama, de ovário, de bexiga, cervical, esofagiano, colorretal, de pele e carcinomas pulmonares; glioblastoma do cérebro; sarcoma osteogênico e carcinoma hepatocelular. O gene RB1 do retinoblastoma está freqüentemente mutado em muitos cânceres, incluindo o câncer de mama. Por exemplo, a LOH 13q14 observada em cânceres de mama humana está associada à perda do mRNA RB1 nos tecidos do tumor; BRCA1 e BRCA2 em Câncer de Ovário e Mama Esporádicos Em câncer de mama esporádico, a perda de um alelo do BRCA1 ou do BRCA2 é vista apenas em, aproximadamente, metade dos tumores, e, mesmo quando um alelo está mutado, a LOH que envolve o outro alelo não está presente. nas formas mais malignas de câncer, há expressão reduzida de BRCA1 e BRCA2; A expressão reduzida pode estar associada a alterações epigenéticas, como a metilação do promotor ou alterações no padrão de recomposição dos genes. Portanto, a expressão reduzida desses TSGs pode ser um contribuinte importante na patogênese de câncer de mama esporádico através da combinação de mutação e expressão reduzida. LOH foi encontrada em várias regiões cromossômicas, incluindo 1p, 3p, 11p, 13q, 16q e 17p, o que sugere que podem existir muitos genes importantes para a progressão do tumor de mama. Universidade Federal do Oeste da Bahia 14Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. CÂNCER HEREDITÁRIO NÃO-POLIPOSE DE CÓLON E GENES DA POLIPOSE ADENOMATOSA FAMILIAR EM CÂNCER DE CÓLON ESPORÁDICO Existe uma ampla evidência que sustenta um grande envolvimento dos genes responsáveis pelo câncer de cólon familiar, como o MLH1, MSH2 e APC, no câncer de cólon esporádico. 70% dos casos - perda de ambas as cópias de APC no adenoma, mas não nos tecidos normais vizinhos. 30% restantes - mutações no gene que codifica a β-catenina e que bloqueiam a sua fosforilação e degradação. Fenótipo RER+, com mutação associada ou silenciamento transcricional de ambos os alelos de um ou mais genes de reparo de mau pareamento (relatado em até 12% do câncer de cólon esporádico). As mutações ativadoras de um membro da família do gene RAS (KRAS), bem como a perda de ambas as cópias do TP53, são também frequentemente encontradas no câncer de cólon esporádico. Perda de expressão de um gene em 18q21, chamado de DCC. Mutação no gene SMAD4 (envolvido na sinalização posterior do receptor II TGF). A maioria dos cânceres de cólon esporádicos não tem fenótipo RER+. Em vez disso, esses tumores têm, geralmente, mutações cromossômicas e genômicas que refletem defeitos, ou no reparo da quebra do filamento duplo ou na manutenção da fidelidade de como os cromossomos se alinham durante a mitose. QUESTÕES EM ANÁLISE PARA AS MUTAÇÕES NA LINHAGEM GERMINATIVA QUE CAUSAM O CÂNCER HEREDITÁRIO Análises em BRCA1 e BRCA2 A identificação de uma mutação em BRCA1 ou BRCA2 em uma linhagem germinativa em uma paciente com câncer de mama é de importância óbvia para a consulta genética e o controle do risco de câncer para as crianças, irmãos e outros parentes do paciente. Variáveis genéticas e clínicas analisadas para se fazer um sequenciamento BRCA1 ou BRCA2: idade no início da doença, a história familiar de câncer de ovário ou de mama, os valores de penetrância dos diferentes alelos mutantes de BRCA1 e BRCA2 e a expressão do receptor de estrogênio e do oncogene HER2, na biópsia do tecido maligno. Em homens, a frequência de mutações na linhagem germinativa em genes do câncer de mama hereditário, particularmente BRCA2, é de 16%. Portanto, todos os pacientes masculinos com câncer de mama poderiam ser candidatos ao sequenciamento genético para BRCA1 e BRCA2 Universidade Federal do Oeste da Bahia 15Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. Análise da Mutação da Linhagem Germinativa em HNPCC Os geneticistas precisam equilibrar o alto custo e o baixo rendimento do sequenciamento de genes de reparo de mau pareamento, em cada paciente com câncer de cólon, contra a importância óbvia de se achar tal mutação para a família de um paciente. Critérios clínicos: idade precoce no início (antes dos 50 anos de idade), a localização do tumor em porções mais proximais do cólon, a presença de um segundo tumor ou história de câncer colorretal, uma história familiar de câncer colorretal ou outros cânceres (particularmente câncer endometrial) e câncer em parentes mais jovens do que 50 anos de idade. Critérios moleculares: evidência de um fenótipo RER+, evidência da ausência da proteína MLH1, MSH2 ou MSH6, através de marcação do anticorpo no tumor. Linfoma Hereditário com Perda de Expressão de Genes Supressores Tumorais Pró- apoptóticos Síndrome Linfoproliferativa Auto-imune Rara condição autossômica dominante caracterizada por intensa linfadenopatia e esplenomegalia, particularmente na infância, e desenvolvimento de fenômenos auto- imunes como a trombocitopenia mediada por anticorpo e anemia hemolítica. A anomalia primária está no mecanismo de apoptose de linfócito, mediada pelo receptor Fas e seu ligante, o Fas-ligante. Mutações dominantes negativas em um alelo de ambos os genes que codificam essas moléculas causam a perda de função do receptor ou do seu ligante, resultando na deficiência da sinalização apoptótica e intensa expansão de linfócitos T imaturos. MUDANÇAS CITOGENÉTICAS NO CÂNCER Aneuploidia e Aneussomia Uma vasta gama de anomalias é vista em todos os cânceres. Algumas anomalias são vistas apenas ocasionalmente em algumas amostras de tumor e podem ser aberrações aleatórias; outras são encontradas repetidamente em cânceres de mesmo tipo histológico. Anomalias citogenéticas encontradas repetidamente em um certo tipo de câncer estão provavelmente envolvidas na iniciação ou na progressão de uma neoplasia maligna. Um foco atual na pesquisa do câncer é a definição molecular e citogenética dessas anomalias, muitas das quais já se sabe estarem relacionadas com proto-oncogenes ou a TSGs e provavelmente resultam da expressão aumentada de proto-oncogenes ou da perda de alelos dos TSGs. Universidade Federal do Oeste da Bahia 16Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. Amplificação Gênica Fenômeno no qual existem muitas cópias adicionais de um segmento do genoma presente na célula. A amplificação gênica é comum em muitos cânceres, incluindo neuroblastoma, carcinoma de células escamosas da cabeça e do pescoço, câncer colorretal e os glioblastomas malignos do cérebro. Detecção de segmentos amplificados de DNA por hibridização genômica: diminutos duplos (cromossomos acessórios muito pequenos) e regiões de coloração homogênea, que normalmente não são bandeadas e contêm múltiplas cópias amplificadas de um segmento em particular do DNA. Regiões amplificadas incluem cópias extras de proto-oncogenes, tais como os genes que codificam Myc, Ras e o receptor para o fator de crescimento epitelial, que estimulam o crescimento celular ou bloqueiam a apoptose, ou ambos. A amplificação do proto-oncogene MYCN que codifica N-Myc é um importante indicador clínico de prognóstico no câncer infantil neuroblastoma. PROGRESSÃO TUMORAL Nas síndromes de câncer familiar, o padrão de herança indica que um defeito em um único gene, tal como um proto-oncogene ativado ou a perda de função de um TSG, herdado na linhagem germinativa, é capaz de iniciar um processo de várias etapas que levam ao câncer. As etapas adicionais ocorrem quando as células evoluem para uma neoplasia maligna clinicamente evidente. Os cânceres esporádicos podem constituir um problema mais difícil para analisar as etapas que levam à doença. Embora algunsdos mesmos genes responsáveis pelas síndromes do câncer hereditário sejam encontrados mutados nos cânceres esporádicos, muitas outras mutações, anomalias citogenéticas e alterações epigenéticas já estão presentes no momento em que o câncer está clinicamente evidente. Conseqüentemente, é sempre difícil determinar a ordem na qual muitas das alterações ocorreram e de identificar qual delas realmente iniciou o processo de malignidade. Quaisquer que sejam os eventos iniciadores, o câncer evolui ao longo de múltiplas linhagens como alteração mutacional, e eventos epigenéticos danificam a maquinaria para a manutenção da integridade genômica, levando a mais alterações genéticas, em um círculo vicioso de mais mutações, aumentando a aneuploidia e piorando o controle do crescimento celular. O câncer é um processo complexo, tanto no interior do tumor quanto entre o tumor e os tecidos normais que o cercam. APLICANDO A GENÔMICA PARA INDIVIDUALIZAR A TERAPIA DO CÂNCER A genômica já tem um grande impacto na precisão do diagnóstico e na otimização da terapia do câncer. O perfil de expressão está sendo usado para orientar o diagnóstico e o tratamento. Universidade Federal do Oeste da Bahia 17Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. O Perfil de Expressão Genética e o Agrupamento para Criar Assinaturas A medida da expressão de mRNA em uma amostra compreende o perfil de expressão genética específico para aquela amostra. Usando esses instrumentos, podem-se organizar os dados para encontrar grupos de genes cuja expressão parece se correlacionar. A reunião de genes, através de seus padrões de expressão entre as amostras, é chamada de agrupamento. Os grupos de genes cuja expressão se correlaciona entre si e com um grupo particular de amostras constituem uma assinatura de expressão característica daquelas amostras. Aplicação das Assinaturas Genéticas Aumentam a capacidade de se discriminarem diferentes tumores. Assinaturas diferentes podem ser correlacionadas com resultados clínicos que são conhecidos em um conjunto de amostras, tais como prognóstico, resposta à terapia ou qualquer outro resultado de interesse. O agrupamento pode revelar previamente conexões desconhecidas de importância funcional entre os genes envolvidos em um processo de doença. A Expressão dos Perfis Genéticos no Tratamento de Pacientes com Câncer Expressão do Perfil Genético no Diagnóstico de Linfomas Ex: linfoma de Burkitt X linfoma difuso de grandes células B. Esses dois linfomas são diferenciados pela aparência histológica, pela expressão de proteínas de superfície celular e pela translocação t(8;14), mas esses parâmetros podem ser discriminadores imperfeitos. A aplicação de assinaturas de expressão genética deve ser superior aos métodos anteriormente empregados para a distinção entre essas duas formas de linfoma (para tratamento mais adequado). Universidade Federal do Oeste da Bahia 18Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. Perfil de Expressão Genética no Prognóstico do Câncer de Mama A melhor caracterização para cada câncer do paciente, como o risco de recorrência e o potencial metastático, poderia ser claramente benéfica para a decisão de procedimentos cirúrgicos e de quimioterapia mais ou menos agressivos. Combinação de dados clínicos e de expressão: fornecer estimativas melhores de prognóstico e para orientar a intensidade da terapia necessitada. Cada câncer de uma pessoa é um distúrbio único. *Perfil de RNA Não-codificante: Existe uma evidência de que as assinaturas que recaem na expressão de RNA não-codificante podem ser informativas, ou mesmo mais informativas para a classificação de diferentes tipos de tumor. CÂNCER E AMBIENTE O risco de câncer mostra uma variação significativa entre populações diferentes e dentro da mesma população em diferentes ambientes. Em alguns casos, os agentes ambientais atuam como mutágenos que causam mutações somáticas; as mutações somáticas, por sua vez, são responsáveis pela carcinogênese. Radiação A radiação ionizante é conhecida por aumentar o risco de câncer. O risco é dependente da idade, sendo maior para crianças com menos de 10 anos e para os idosos. Todos nós estamos expostos a algum grau de radiação ionizante pela radiação ambiental (que varia muito de um local para outro) e exposição médica. Ainda existem grandes áreas de incerteza sobre a magnitude dos efeitos da radiação, especialmente a radiação de baixo nível, nos riscos de câncer. Carcinógenos Químicos Incluem o tabaco, os componentes da dieta, os carcinógenos industriais e os dejetos tóxicos. Carcinoma hepatocelular: Ocorre devido à ingestão da aflatoxina B1, um potente carcinógeno produzido por um fungo encontrado no amendoim. A aflatoxina modifica uma base particular em TP53 TSG (p53 da Li-Fraumeni). Cigarros: O tabagismo aumenta o risco de câncer de pulmão e câncer de garganta, bem como de outros cânceres. Alguns fumantes desenvolvem câncer de pulmão enquanto outros não. Embora as bases genéticas e bioquímicas exatas para as diferenças aparentes na suscetibilidade ao câncer, dentro da população normal, ainda não tenham sido determinadas, estas associações podem ter consequências na saúde pública e podem, eventualmente, indicar uma maneira de identificar as pessoas que estão, geneticamente, em um risco maior de desenvolvimento de câncer. Universidade Federal do Oeste da Bahia 19Thomás R. Campos NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008.
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