Buscar

a força do direito

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

A força do direito 
 
 A ciência do Direito na visão de Pierre Bourdieu precisa de uma nova reformulação que a torne distinta da tradicional ciência do Direito. Isso porque essa tradicional ciência jurídica está encharcada de formalismos que instrumentalizaram o direito e o colocaram a serviço de classes dominantes. Um exemplo desse tipo de teoria é a ciência jurídica proposta pelo jurista austríaco Hans Kelsen, na qual ele afasta efetivamente o direito da realidade social, por perseguir incansavelmente um formalismo jurídico alheio a realidade circuncidante. Essa teoria jurídica serve eminentemente como veículo para a sedimentação de forças dominantes que instrumentalizaram o direito tornando-o meio para o exercício de poder e dominação. 
Diferentemente, desse formalismo, a teoria Marxista deixou de evidenciar um elemento primordial para a compreensão da dominação que as estruturas de poder exerceram sob a égide do direito. As teorias marxistas negligenciaram efetivamente as estruturas dos sistemas simbólicos, elementos indispensáveis na compreensão do direito, pois como bem coloca Bourdieu " os marxistas ditos estruturalistas ignoraram paradoxalmente as estruturas dos sistemas simbólicos e, neste caso particular, a forma específica do discurso jurídico." Essa indiferença para com as estruturas simbólicas fez com que o direito fosse visto meramente como reflexo das reações de poder entre dominantes e dominados, deixando de visualizar com profundidade esse universo de extrema dominação. [2: BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p.210. ]
Ambas as teorias não conseguiram compreender a ciência do direito de maneira satisfatória, pois mesmo o direito possuindo uma estrutura interna própria, ele não está alheio as influências de outros sistemas. Como também, uma visão externalista não consegue captar a autonomia de um discurso jurídico e seu poder de estrutura simbólica. 
 2.2 A DIVISÃO DO TRABALHO JURÍDICO 
 
Para Pierre Bourdieu, o campo jurídico é permeado por conflitos entre agentes que querem dizer o que é direito para uma sociedade. Tal competência requer não apenas um conhecimento técnico, mas exige também legitimidade social para interpretar, dizer o que é direito ou não. O processo de racionalização do direito contribuiu para uma polarização e separação entre aqueles que possuem competência para interpretar o direito, os dito técnicos, e aqueles que o faz sem nenhuma autoridade, os profanos. 
 o campo jurídico é lugar de concorrência pelo monopólio de dizer o direito, quer dizer,a boa distribuição( nomos) ou boa ordem, na qual se defrontam agentes investidos da competência ao mesmo tempo social e técnica[...][3: BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p.212.]
 
A hermenêutica jurídica possui uma autonomia que a possibilita não ter sua finalidade voltada para fins práticos. A ordem jurídica promotora dessa autonomia, pressupõe que os intérpretes do Direito não produzam interpretações conflitantes, mas que restrinjam possíveis conflitos interpretativos. A interpretação jurídica é campo de lutas simbólicas entre intérpretes e suas interpretações. 
A estrutura hierárquica do direito eminentemente rígida cumpre a tarefa de harmonizar possíveis incongruências entre interpretações conflitantes produzidas pelos técnicos do direito. Essa rigidez proporciona a coesão do habitus, que desencadeia num processo chamado por Bourdieu de apriorização. Processo esse que possibilita á técnicos e profanos conceberem o direito como um fenômeno universal. A apriorização faz o uso de técnicas linguísticas com a finalidade de neutralizar os traços de subjetividade e pessoalidade da linguagem comum. De acordo com Bourdieu: 
 o efeito de apriorização, que está inscrito na lógica do funcionamento do campo jurídico, revela-se com toda clareza na língua jurídica que, combinando elementos diretamente retirados da língua comum e estranhos ao seu sistema, acusa todos os sinais de uma retórica de impessoalidade e da neutralidade.[4: BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p.215.]
 
No campo jurídico é latente um conflito entre "teóricos", aqueles que desenvolvem uma teoria para o Direito, e "práticos", que são os que aplicam a lei aos casos práticos, isto é, os juízes. Tal conflito ocorre entre aquilo que Bourdieu denomina "espécies diferentes de capital jurídico" e dão origem a divisão do trabalho jurídico. Essa luta de forças gera um processo de formalização e normalização do campo jurídico gerador da falsa ilusão de que os atos jurídicos possuem unicamente legitimidade em virtude de uma lei superior que lhe garante tal fundamentação. Esquecendo, assim de mencionar a violência simbólica que exerce o intérprete ao classificar esses atos jurídicos.
A decisão judicial é, portanto, resultado de uma luta simbólica entre os técnicos do direito, que através do estabelecimento de uma significação real para o direito, exercem efetivamente um poder simbólico. Tarefa essa nutrida pela a falsa ideia de que seu trabalho resulta na descoberta da voluntas legis ou na voluntas legislatoris e não na visão de mundo do juiz. 
 
A MONOPOLIZAÇÃO DO CAMPO JUDICIAL 
 
Os conflitos sociais quando transformados em problemas jurídicos precisam necessariamente dialogar com as regras e os procedimentos que o direito impõe. Os operadores do direito possuem a tarefa de coordenar a entrada de elementos profanos dentro do campo jurídico, com base nas regras que o próprio direito estabelece. Uma vez inseridos no campo jurídico através dos procedimentos formais requeridos, os fatos sociais transformam-se em fatos jurídicos. 
Essa redefinição dos fatos sociais em fatos jurídicos é o que Pierre Bourdieu denomina de "o poder de nomear", pois fixar sentidos normativos a fatos sociais consiste num autêntico exercício de poder simbólico, como bem nos diz Bourdieu: 
 O direito é, sem dúvida, a forma por excelência do poder simbólico de nomeação que cria as coisas nomeadas e, em particular, os grupos; ele confere a estas realidades surgidas das suas operações de classificação toda a permanência[...][5: BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p.237.]
 O poder simbólico que exerce o direito sobre os fatos sociais só logra êxito se o mesmo estiver respaldado na realidade social, pois o efeito mágico da sanção jurídica só se operacionaliza na força histórica imanente se essa legitimidade for produzida. A forma jurídica que os operadores do direito utilizam no enquadramento dos fatos sociais, viabiliza a suavização da contingencialidade das normas jurídicas, produzindo generalidades. Trata-se de estabelecer significações com a presunção de serão tidas como legítimas. É justamente na fixação de um sentido generalizante e universalizante que o poder simbólico é exercido. Tércio Sampaio Junior de maneira excelsa diz que esse poder : 
 Não se trata de coação, pois pelo poder de violência simbólica, o emissor não coage[...] Poder aqui é controle.[...].Por isso, ao controlar, o emissor não elimina as alternativas de ação do receptor, mas as neutraliza. [6: FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: Técnica, Decisão, Dominação – 4 ed. – São Paulo: Atlas, 2003, p.242.]
 
 Portanto, o poder de violência simbólica exercido pelos intérpretes do direito, os dito técnicos, é um poder exercido através de controles que neutralizam a multiplicidade dos pontos de vistas dos atores sociais. Fazendo com que apenas os significados generalizantes, fixados pelos técnicos sejam legitimados. 
 
 
A FORÇA DA FORMA
 
Entender o que o direito é, requer a compreensão da lógica do trabalho jurídico. Sua formalização e estruturação é constituída por relações objetivas, demasiadamente complexas e regidas por umalógica autônoma. 
A prática dos operadores do direito é resultado de uma latente proximidade entre os detentores do poder político, temporal ou econômico e os possuidores do poder simbólico. As escolhas feitas pelos agentes jurídicos consistem no desdobramento da proximidade entre esses poderes, resultando, assim, no estabelecimento de textos jurídicos que se adéquam e favorecem os anseios e objetivos das classes dominantes. 
 É notório salientar que os agentes jurídicos, na maioria das vezes, são oriundos de classes dominantes e, por isso, se vinculam devotamente a perpetuar seus interesses nas formas jurídicas. Entretanto, a eficácia do direito nó atinge somente aqueles a quem favorece, mas devido a natureza universalizante dos procedimentos jurídicos ela se estende para além dos favorecidos.
 
 Mas a eficácia do direito tem a particularidade de se exercer para além do círculo daqueles que estão antecipadamente convertidos, em consequência da afinidade prática que os liga a interesses e aos valores dos textos jurídicos e nas atitudes éticas e políticas dos que estão encarregados de o aplicar.[7: BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p.210]
 
 O domínio da ordem simbólica é logrado por meio da universalização prática que uniformiza as práticas jurídicas e garante a sistematização e racionalização de suas decisões. De acordo com Bourdieu: 
 
Numa sociedade diferenciada, o efeito de universalização é um dos mecanismos, e sem dúvidas dos mais poderosos, por meio dos quais se exerce a dominação simbólica, ou, se prefere, a legitimidade de uma ordem social. [8: BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p.246.]
 
A universalização exercida por meio das formas jurídicas e de suas práticas garantem a eficácia da coerção jurídica, gerando aquilo que Bourdieu denominou de "efeito de normalização". A própria universalidade do direito pressupõe uma generalização no estilo de vida das pessoas. Um fenômeno que encara o direito como instrumento de transformação das relações sociais. Seguindo a visão weberiana de que os agentes sociais seguem as regras que lhes são impostas quando o desejo de obedecê-las é superior ao desejo de desobediência, Bourdieu entende que as regras não são por completa eficazes. A noção de habitus surge justamente para mostrar que ao lado de todo procedimento racionalizante das normas jurídicas existem outros princípios promotores de práticas sociais.
 A criação jurídica comporta um campo de ação especializado no esforço de fazer uma representação social dos interesses das classes dominantes dentro da ordem jurídica. O direito é de acordo com Bourdieu "instrumento de normalização por excelência, enquanto discurso intrinsecamente poderoso ". Por isso, as regras jurídicas simplificam as ações dos agentes sociais em suas práticas sociais.[9: BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p.248.]
Os sistemas jurídicos de codificação possibilitaram a objetividade do direito, isto é, proporcionaram ao direito uma uniformização que propiciou a clarificação dos sentidos das normas jurídicas. Bourdieu caracteriza essa objetivação do direito como efeito de "homologação", que implica na racionalidade do direito por meio de um código explícito. A homologação das formas jurídicas permite que os agentes possam contar com uma norma coerente que lhes possibilite calcular e prever, tanto as consequências da obediência à regra como os efeitos da sua transgressão, isto é, viabiliza a previsibilidade e calculabilidade de suas ações.
 O campo jurídico possui uma função determinante na reprodução social dos sujeitos dominantes e dos dominados em uma sociedade. Isso faz com que as mudanças sociais ocorrentes na realidade social se estendam para o campo do direito, que através de sua dominação simbólica produz a ordem social. 
O direito é, portanto, para Bourdieu a forma por excelência da violência simbólica. Uma verdadeira arquitetura jurídica dotada de poder e autonomia promotora das ações dos agentes sociais em suas práticas. O direito constroi a definição do mundo com efetiva legitimidade, por isso, é em sua visão, o protótipo da violência simbólica. A força simbólica do direito é uma subespécie dos sistemas simbólicos que constituintes de uma realidade social que serve para governar e oprimir os grupos dominados. Destarte, o direito é socialmente aceito devido ao fato de responder, ao menos que aparentemente, as necessidades e interesses da sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O direito é na visão de Pierre Bourdieu o fulcro para o exercício da violência simbólica veiculada pelos discursos jurídicos. O mundo social é criador do direito e simultaneamente determinado por ele, numa inter-relação criadora de estruturas dominativas, nas quais o direito exercerá um papel nevrálgico na determinação das práticas dos agentes sociais. 
A força simbólica que exerce o direito é fundamental para a coesão das sociedades altamente complexificadas que necessitam da racionalidade das formas jurídicas para lograr a harmonia entre os grupos dominados e os dominantes de uma sociedade. De acordo com Bourdieu o "direito é a forma excelência do discurso atuante, capaz, por sua própria força, de produzir efeitos". [10: BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p.237.]
O ponto nevrálgico da compreensão de Bourdieu sobre o Direito está respaldado na necessidade do reconhecimento social da autonomia e da neutralidade dos juristas e do trabalho jurídico como condição social de funcionamento de toda a mecânica simbólica que se desenvolve no campo jurídico. A violência do Direito é, sobretudo, uma violência simbólica, que constrói e impõe uma determinada definição do mundo como legítima. 
Destarte, o direito, na compreensão de Bourdieu, é um discurso de poder simbólico revestido de uma racionalidade reproduzida por formas jurídicas garantidoras da uniformização e universalidade do fenômeno jurídico. 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS JURIDICAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO
SOCIOLOGIA GERAL E JURÍDICA
MARIA CAROLINE VIEIRA DUVIRGENS
A FORÇA DO DIREITO
João Pessoa
2016
MARIA CAROLINE VIEIRA DUVIRGENS
A FORÇA DO DIREITO
 
 
Trabalho apresentado como requisito parcial para obtenção de aprovação na disciplina Sociologia geral e jurídica, no Curso de Direito, na Universidade Federal da Paraíba. Prof.º: Severino Augusto dos Santos 
 
 
 João Pessoa
2016
REFERÊNCIAS 
 
 
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes