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Os advogados contra a ditadura

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – DCJ
DIREITO DOS GRUPOS SOCIALMENTE VULNERÁVEIS
ANDRÉA CARMO DA SILVA
KÁTIA SANTIAGO VENTURA
RESENHA SOBRE A SÉRIE
“OS ADVOGADOS CONTRA A DITADURA”
SANTA RITA – PB
2017
ANDRÉA DO CARMO DA SILVA
KÁTIA SANTIAGO VENTURA
RESENHA SOBRE A SÉRIE
“OS ADVOGADOS CONTRA A DITADURA”
Trabalho apresentado na disciplina Direito dos Grupos Socialmente Vulneráveis, 3º período do curso de Direito da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial da nota da Primeira unidade.
Professora: Ana Laura Silva Vilela
SANTA RITA - PB
2017
RESENHA SOBRE A SÉRIE
“OS ADVOGADOS CONTRA A DITADURA”
A série Os advogados contra a ditadura foi gravada em 2014, com direção de Silvio Tendler, e possui cinco episódios, com aproximadamente 52 minutos cada, nos quais são exibidos depoimentos de advogados que atuaram durante o período do regime militar no Brasil, cuja ação visava à defesa da democracia e dos direitos dos presos políticos. Em tais depoimentos, esses advogados relatam como eram as relações deles com as estruturas legais impostas na época.
Sabe-se que o regime de Estado ditatorial no Brasil durou de 1964 a 1985. A advocacia apoiou, inicialmente, o golpe; mas, em seguida, passou a defender os perseguidos políticos, com o objetivo de garantir os direitos individuais contra os abusos do autoritarismo que passaram a ocorrer. Diante disso, pode-se afirmar que a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, juntamente com os seus advogados, foram de suma importância para restabelecimento da democracia.
Nos episódios da série é possível identificar, além da participação estratégica das esferas militares durante a ditadura, a participação da sociedade civil. Nesse sentido, vale destacar o que Florestan Fernandes (2015) coloca, que a divisão entre Estado e sociedade civil é muito tênue. Ou seja, embora haja uma série de interesses e sentidos na atuação do Estado, é preciso considerar a participação de alguns setores privilegiados da sociedade civil durante o regime militar no país. É necessário atentar, também, para outro importante destaque trazido no texto de Fernandes (2015), e que pode ser visto na série Os Advogados Contra a Ditadura, de que na América Latina os regimes totalitários instituíram, dissimuladamente, regimes fascistas, com novas moldagens, uma vez que, no contexto latino-americano constata-se
uma forma de fascismo de menor refinamento ideológico, que envolve menor ‘orquestração de massa’ e um aparato de propaganda mais rudimentar, mas que se baseia fundamentalmente na monopolização de classe do poder estatal e em uma modalidade de ‘totalitarismo de classe' (FERNANDES, 2015, p. 34-35).
Ressalta-se, com isso, a necessidade de se refletir quanto às conseqüências as quais sofreram o Brasil com a implantação de um regime autoritário, dissimulando-se enquanto democracia pluralista, com o apoio da sociedade civil. Conseqüências essas que foram, em partes (diante das complexidades delas e da limitação de um documentário) relatadas em Os Advogados contra a ditadura.
Em um dos depoimentos da série, Gomes coloca que o golpe militar de 1964 foi colocado enquanto sendo o único escape para uma consolidação da democracia contra a subversão e o perigo comunista. De fato, essa era uma justificativa para a implantação dissimulada de regimes autoritários, sob a roupagem de novos moldes fascistas, como bem ressalta Fernandes (2015, p. 33-34):
Na verdade, a chamada ‘defesa da democracia' somente modificou o caráter e a orientação do fascismo, evidentes na rigidez política do padrão de hegemonia burguesa, no uso do poder político estatal para evitar ou impedir a transição para o socialismo (...).
Em um dos depoimentos da série, o advogado Modesto da Silveira, considerado o advogado que mais defendeu presos políticos na época da ditadura, relata que se deparou com muitas pessoas pedindo-lhe socorro, cujos parentes e amigos haviam sido seqüestrados e estavam desaparecidos, sem ao menos terem sido presas oficialmente para defender-se. Ou seja, nesses moldes de prisões ficava inviável a obtenção de informações a respeito das pessoas que desapareciam, e muito menos aos locais de detenção. Por isso, nos relatos do documentário, diz-se que a primeira coisa que os advogados poderiam fazer era solicitar Habeas Corpus, na tentativa de localizar tais presos políticos. 
Todavia, com o Ato Institucional 5 (AI-5), não se podia mais conceder o Habeas Corpus a favor de presos políticos, uma vez que fora suspenso. 
Modesto relata, ainda, que ele e os demais colegas advogados, inclusive, foram alvo de prisões, haja vista que sua atuação na defesa dos direitos dos presos políticos chegou a ser reconhecida por instituições internacionais, que o procuravam. Ele conta que por tal reconhecimento, não sofreu tortura física, mas sim psicológica.
É recorrente, nos discursos da série Os Advogados contra a ditadura, histórias que retratam um período no qual se perdeu o respeito às regras jurídicas, aumentou-se os mecanismos de repressão, além de um grande número de pessoas desaparecidas. Diante desse contexto, cada vez mais, o advogado ganhava uma importância para os presos e para suas famílias, uma vez que eram os únicos que ainda conseguiam (quando conseguiam) contato com tais presos. Relata-se, inclusive, que era um grande alívio quando se chegava a ser julgado, pois significava que não seria mais torturado ou morto. 
Com a decretação do AI-2, a justiça comum não poderia julgar os casos enquadrados na Lei de Segurança Nacional, ou seja, os crimes políticos. Com isso, a competência passou a ser da Justiça Militar, sendo o Rio de Janeiro a principal concentração de interesse político e militar, pois passou a receber os processos de todo o país.
A partir da série Os Advogados contra a ditadura, e dos relatos ali presentes, percebe-se o quão importante foi a atuação dos advogados nos casos de defesa aos presos políticos na época da ditadura. Colocaram-se enquanto personagens anônimos, mas que marcaram a história de busca e de conflitos pela redemocratização. Em alguns relatos da série confidencia-se que, muitas vezes, trabalhavam sem receber honorários, por serem os presos políticos pessoas humildes, que eram trabalhadores ou líderes dos sindicatos.
Para essa luta na tentativa de redemocratização, os depoimentos mostram algumas das estratégias utilizadas por esses profissionais, tais como denúncias a respeito das prisões ilegais, a defesa dos presos e a busca por apoio internacional como forma de pressionar o governo brasileiro. Ainda como estratégia relatada na série, para a defesa da vida desses presos políticos, e diante da restrição ao Habeas Corpus imposta pela AI-5, os advogados passaram a impetrar Habeas Corpus sem nome. Com isso, era protocolado tal pedido, do qual se recebia a resposta de que a pessoa estava presa, mas que por ser alguém perigoso, a solicitação era indeferida. Diante de tal registro e identificação do preso, este não poderia mais desaparecer, bem como a tortura era reduzida, uma vez que estava registrada, em documento oficial, a custódia de tal pessoa. 
Adicionalmente, em Os Advogados contra a ditadura, relatam-se o trabalho coletivo de tais profissionais. Eles conseguiam que, mediante a afinidade dos casos, os julgamentos fossem coletivos. A partir disso, nos julgamentos, o juiz permitia a ordem de fala de cada um, e, no final das falas da defesa, os advogados tentavam causar um grande impacto, chegando a ser teatral, para que se conseguisse impressionar os julgadores que, em sua maioria, eram leigos. Cada um dos advogados incumbidos pela defesa tinha sua especialidade, sua forma de defesa, e, enquanto um faria a introdução doutrinária sobre o caso, outros focavam no aspecto pessoal de cada cliente, encerrando as defesas dos clientes, que estavam como presos políticos, comuma reflexão a fim de para questionar o regime e descrever as noções clássicas de democracia.
Esse trabalho coletivo dos advogados, que tentava romper com a lógica autoritária do Estado de regime militar, lembra-nos as lições de Paulo Freire, em Pedagogia do Oprimido, nas quais o autor coloca que: 
Somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua ‘conivência’ com o regime opressor (FREIRE, 1987, p. 29, grifo nosso)
A ditadura declina com o início da crise econômica, acabando com o pacto empresarial e militar que a sustentava. Assim, a OAB assume o papel de principal responsável pela redemocratização. E o retorno da validação de Habeas Corpus passa a representar um retorno do diálogo entre o regime e a sociedade. 
Por fim, conclui-se que ao mesmo tempo em que denuncia os abusos do período do regime militar e a atuação profissional dos advogados, a série faz uma homenagem àqueles advogados que buscaram, através de sua atuação, a defesa da justiça e da liberdade presos políticos. Destaca-se, portanto, como grande importância de Os advogados contra a ditadura, a preservação e divulgação de importantes memórias dessas pessoas, que foram basilares na luta contra as diversas violências cometidas pelo Estado.
REFERÊNCIAS
FERNANDES, Florestan. Notas sobre o fascismo na América Latina. In: FERNANDES, Florestan. Poder e contrapoder na América Latina. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2015. p. 33-58. 
FREIRE, Paulo. Prefácio, Primeiras palavras, Justificativa da "pedagogia do oprimido". In: FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. Cap. 1, p. 05-29. Disponível em: <http://www.dhnet.org.n/direitos/militantes/paulofreire/paulo_freire_pedagogia_do_oprimido.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2016.
OS ADVOGADOS contra a Ditadura. Direção de Silvio Tendler. Brasil, 2014. (265 min.), son., color. Episódios 1 - 5. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=PEVSjWLRSXQ&t=935s>. Acesso em: 01 mar. 2017.

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