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RESENHA- 
O Processo Civilizador é um livro grande e recheado de exemplos e análises e mais exemplos e mais análises. Eu não acredito que conseguiria fazer uma resenha muito linear ou, até mesmo, seguir os passos do próprio autor e começar a citar seus milhares de exemplos com páginas de livros sobre boas maneiras que Elias utiliza pra provar sua argumentação, mas tentarei dar um pitaco básico.
O Processo Civilizador – Norbert Elias
O ponto de partida do livro é entender as diferenças dos conceitos de civilização e cultura. Os dois não são universais e não são atemporais. Ambos os conceitos lidam com as realizações da sociedade, com a sua organização política, com sua estrutura econômica, com suas tecnologias e etc, mas há dois movimentos notáveis e contrários: cultura se refere a um plano intelectual, abstrato, enquanto civilização está ligada a um plano mais prático e concreto. Cultura, também, se refere à especificidade (a cultura de um povo ou de uma sociedade é uma cultura única e específica), já civilização se refere a um princípio de universalização, civilização é aquilo que todas as sociedades alcançariam num dado momento, é um movimento da “Humanidade”. Civilização é algo em comum a todas as sociedade – é o potencial dessas sociedades.
Estes conceitos, por mais difícil que seja imaginar, tiveram um momento de nascimento que localizou socialmente seus usos. Basicamente, essa sociogênese dos conceitos começa com a análise de Elias da burguesia alemã.
Civilização e Cultura
A época analisada é a da aristocracia de corte. Neste período, a burguesia alemã detinha força política, não conseguia cargos relevantes na administração do Estado e também não tinha acesso à sociedade de corte.
A sociedade de corte era composta por aqueles que participavam das rotinas da corte, assim como participam de seus eventos e se submetiam às suas regras. O que Elias análise com um enfoque poderoso são os “modos”. A etiqueta da corte. Os comportamentos e as relações que sua vigência têm.
A aristocracia alemã rejeitava a sua própria língua. A língua refinada era o francês e as cortes utilizam esta língua. Há um aspecto duplo: evitar as classes dominadas e estabelecer um princípio de distinção. A burguesia alemã, por sua vez, tentava aprender o idioma francês, na esperança de ter algum reconhecimento e conseguir alcançar posições mais privilegiadas na estrutura social. Entretanto, com todas as limitações que recaiam sobre esta classe, a única brecha encontrada foi a intelectual.
A burguesia alemã rejeitava a aristocracia de corte, rejeitava seus comportamentos “refinados”, mas sempre superficiais, não conseguia posições importantes na organização do Estado e não tinha nenhum poder político, entretanto, as universidades eram sua saída. Elias percebe que uma intelligentsia é formada na Alemanha tendo como núcleo os escritores, artistas, filósofos, poetas e etc e etc que saíram das fileiras burguesas. A rejeição à aristocracia de corte começa a se firmar institucionalmente com a formação de um corpo de intelectuais que reforçavam todo o campo cultural e intelectual do país e a termo cultura se firma como um termo que valoriza aquilo que é único. O termo cobre as estruturas econômicas, políticas, as invenções, as tecnologias, mas está sempre em uma esfera intelectual, em um profundidade de conhecimento e em um princípio de distinção. A “cultura” é o termo que a classe burguesa alemã usa para legitimar sua diferença imiscível com a aristocracia. É um termo de autoafirmação.
Processo civilizador escrito por Norbert Elias
Norbert Elias
Enquanto civilizado era o sujeito superficial, burro, mas controlado, culto era o sujeito do conhecimento, o detentor do saber.
Por sua vez, civilização tem um processo longo dentro das classes dominantes francesas.
A mudança do termo é demarcada por Elias em transformações históricas que podem ser vistas nas passagens dos termos distintivos das classes dominantes de cortês, polido até civilizado. Estas transformações são demarcadas por novos padrões de refinamento e controle dos instintos. Não preciso dizer que Elias observa esta transformação como algo mais ou menos homogêneo por toda a Europa. Não necessariamente em todas as cortes, mas, pelo menos, no ideal que estas cortes trazem para o que deveria se tornar uma sociedade de corte.
Em um dado momento, um dado termo começa a ser espalhado para o restante da sociedade, após ser um símbolo de distinção das classes dominantes. Quando isso acontece, é hora de encontrar um novo símbolo de distinção. Para Elias, o fato dos comportamentos de consumo (como a etiqueta à mesa) ter sido notável se deve pela aristocracia de corte ser uma das classes dominantes mais ligadas ao consumo e menos ligada à produção. Com base nisso, como o processo civilizador teria como objeto os meios de produção? Isso só ocorreria com a tomada de poder plena da burguesia.
A aristocracia utiliza o termo de civilização exatamente para se afastar das classes dominadas, para se diferenciar destas classes. O termo não é neutro, mas exibe um passo além dentro do “caminho”, ou da história, da humanidade.
O processo
O interessante no estudo de Elias é que, tomando como objeto os variados tipos de comportamentos das sociedades de corte, tomando como objeto de análise os livros e manuais de comportamentos, de bons modos, ele percebe que, de um perspectiva histórica, de um ponto de vista a longo prazo, há um movimento de controle cada vez maior dos instintos. Esse é o processo civilizador. Um processo onde as estruturas emocionais incorporam controles instituais cada vez maiores e se modificam de acordo com as transformações que acontecem na própria sociedade.
É uma análise sociogenética e psicogenética daquilo que ele chama de processo civilizador, o processo de afastamento cada vez maior da “naturalidade”, ou, uma caminhada ao controle dos impulsos infindável.
Neste processo, por exemplo, Elias localiza historicamente a estrutura psicológica descrita por Freud. Ego, Id e Superego fazem parte de uma estrutura que só poderia realmente ter nascido em tempo de alto controle e repressão. Esta é uma interpretação da estrutura psíquica que faz sentido e que explica os indivíduos da sociedade por ser uma estrutura que tem lugar cativo para as contradições cada vez maiores de impulso, de gozo e de refinamento, de repressão, de controle.
A estrutura social e a estrutura de personalidade, ou estrutura psíquica, são resultados de uma inter-relação interminável entre elas próprias. Elias demonstra como determinadas práticas comuns em um dado momento da história se transformavam em práticas horrendas em outro e em práticas indescritíveis em nossa época.
Processo civilizador norbert elias comer à mesa
Como comer à mesa
Em exemplo curioso são as chamadas “funções corporais”. Uma das regras em um livro de etiqueta era “falar com alguém que está defecando é sinal de falta de educação. Ande pela pessoa como se ela não estivesse no local”. Entenda, se há uma regra para isso, então é muito lógico de que essa não era uma prática incomum. Entretanto, em nossa sociedade moderna [ou pós-moderna] nem mesmo se fala sobre este tipo de coisa.
Em relação às crianças, à sua educação, temos uma surpresa enorme em perceber que os hábitos das crianças foram se tornando mais rígidos com o aumento das demandas por controle e, em dados momentos, regras escritas para adultos já estavam tão enraizadas nos hábitos diários que eram somente escritas e impostas às crianças. A criança precisava incorporar um processo civilizador de séculos em somente alguns anos. Um processo que custou milhares de transformações precisava ser absorvido em um curto período de tempo. Isso não significa que crianças de outras épocas não precisavam incorporar nenhuma regra, mas o aumento das exigências de controle e repressão foi tão acentuado no período estudado que este acúmulo de regras já podia ser visto nas diferenças no tratamento das crianças, agora submetidas a regras que antes não eram nem imaginadas. Ao mesmotempo, adultos já não “precisavam” destas regras. Já eram “naturais”.
Isso deixa também claro que as explicações médicas, racionalizadas e ultracientíficas sobre nossos atuais hábitos não são explicações irredutíveis. São, na verdade, explicações que acontecem depois da escolha dos hábitos vigentes, ou melhor, são explicações localizadas historicamente que legitimam um dado hábito completamente arbitrário. Um hábito que estabelece relações de dominação e hierarquiza a sociedade.

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