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Desvendando o Direito das Obrigações 
O Equivalente. 
José Fernando Simão 
 
Em se tratando de Teoria Geral das Obrigações o Código Civil se utiliza, com 
frequência, do termo equivalente. A palavra aparece em diversos dispositivos e 
entre eles os artigos 234, 236, 239, 279, 418 e 410. 
Em recente ocasião, debatia com o Prof. Mauricio Bunazar o alcance do termo 
e seu real significado no tocante à extinção da obrigação de dar coisa certa. 
Isso porque, o artigo 234 do CC/02, reprodução fiel do art. 865 do CC/16, 
assim dispõe: 
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do 
devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida 
a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, 
responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. 
O dispositivo consagra a ideia que a prestação pode perecer por dois motivos: 
com ou sem culpa do devedor. 
1ª hipótese 
Caso pereça sem culpa do devedor, a saber, em decorrência do caso fortuito 
ou da força maior, a obrigação se extingue ou resolve-se. Como não houve 
culpa, não há que se falar em indenização e as partes retornam ao estado 
anterior (statu quo ante). Um exemplo ajuda a esclarecer a questão. 
João vende seu carro a José, que pelo veículo paga a quantia de R$ 
20.000,00, por meio de depósito na conta bancária do vendedor. No dia 
marcado para a entrega do carro, João pára no semáforo e é assaltado. Os 
ladrões fogem com o veículo e o vendedor fica impossibilitado de entregar a 
coisa. Como não houve culpa do devedor João, a obrigação se resolve e João 
restitui o dinheiro recebido com correção monetária, sem juros, e não responde 
por eventuais danos materiais ou morais sofridos por José. 
2ª hipótese 
Se a perda resultar de culpa do devedor, este responde pelo equivalente e 
mais perdas e danos. A segunda parte da fórmula legal não gera dúvidas: se o 
devedor foi culpado pela perda responderá por todos os danos decorrentes do 
inadimplemento da obrigação, a saber, danos materiais que se dividem em 
danos emergentes e lucros cessantes, bem como, danos morais, 
eventualmente sofridos. Em síntese, este é o alcance da expressão perdas e 
danos. 
Agora, qual seria o significado da expressão “equivalente”? A leitura da 
doutrina se faz necessária. 
Paulo Luiz Netto Lobo, em obra de excelência, afirma que o na hipótese de 
culpa do devedor este responderá “pelo valor da obrigação mais perdas e 
danos, devendo ainda restituir o que recebeu do credor” (Teoria Geral das 
Obrigações, 2005, p. 124). Note-se que o mestre se utiliza da ideia “valor da 
obrigação” para substituir o termo equivalente. 
Diz Maria Helena Diniz que o devedor responderá pelo equivalente, isto é, pelo 
valor que a coisa tinha no momento em que pereceu, mais perdas e danos 
(Curso, 2009, v. II, p. 79). 
Da obra clássica de Tito Fulgência depreende-se que “impossível a entrega da 
coisa certa, uma vez que se perdeu, em sua entidade real, a consequência da 
culpa é a entrega da coisa na sua entidade econômica, a sub-rogação no 
equivalente. Este sub-rogado da prestação devida não pode consistir senão em 
dinheiro, única matéria que, na linguagem das fontes, tendo uma publica e 
perpetua aestimatio, é denominador comum de todos os valores”. (Do direito 
das obrigações, 1958, p.74). 
Por fim, também expõe sue entendimento, por meio de um exemplo, Sílvio de 
Salvo Venosa “se o devedor se obrigou a entregar um cavalo e este vem a 
falecer porque não foi bem alimentado (...) deve o devedor culpado pagar o 
valor do animal, mais o que for apurado em razão de o credor não ter recebido 
o bem, como, por exemplo, indenização referente ao fato de o cavalo não ter 
participado de competição turfística já contratada pelo comprador” (Direito civil, 
2009, v. 2, p. 63). 
Diante das opiniões transcritas, qual o conceito de equivalente? Usemos como 
exemplo aquela situação da obra de Venosa. 
João vende a José um cavalo pela importância de R$ 2.000,00. José aluga o 
cavalo que lhe seria entregue em 10 dias para um rodeio em Jaguariúna. Antes 
da entrega, João, por negligência (culpa) esquece a porteira aberta e o animal 
escapa, desaparecendo definitivamente. Certamente, João responderá pelo 
lucro cessante de José referente ao aluguel do animal para o rodeio (perdas e 
danos). 
Agora, indaga-se: sendo o valor do cavalo de R$ 2.000,00, João deverá pagar 
esta importância a José? A resposta depende do caso concreto. Se o 
comprador já havia pago a importância de R$ 2.000,00 a vendedor, este fica 
obrigado a restituí-la acrescida de correção monetária e juros de mora, porque 
a perda se deu por culpa. 
Entretanto, se João nada recebeu de José, não será responsável pelo 
pagamento do valor do animal (equivalente!). Se o fosse, teríamos claro 
enriquecimento sem causa do credor. Assim vejamos. Se, no exemplo, José 
recebesse de João R$ 2.000,00 pela perda do cavalo, sem nada ter pago a ele, 
João ganharia um cavalo em sua entidade econômica, nas palavras de Tito 
Fulgêncio, ocorrendo claro enriquecimento sem causa. 
Qual seria, então, o alcance da expressão equivalente? Aquela constante na 
lição de Maria Helena Diniz. Se o credor havia pago pelo coisa, e esta perece 
antes da entrega, por culpa do devedor, o devedor responderá pelo valor da 
coisa na data em que se perdeu mais perdas e danos. Vamos, então, ao 
exemplo do cavalo. 
Se José pagou a João R$ 2.000,00 pelo cavalo que se perdeu por culpa de 
João, temos duas hipóteses: 
1. Se o cavalo se valorizou após o pagamento, porque houve uma doença 
mundial (gripe equina) que causou mortes a centenas de animais e, 
agora, vale R$ 5.000,00, João responde por R$ 5.000,00, qual seja, o 
equivalente. 
2. Se o cavalo se desvalorizou após o pagamento porque houve uma 
explosão demográfica de cavalos (superpopulação) e agora vale R$ 
1.000,00, João paga a José R$ 2.000,00, ou seja, R$ 1.000,00 referente 
ao equivalente e R$ R$ 1.000,00 de desvalorização referente às perdas 
e danos. 
 
 
Fonte: http://professorsimao.com.br/artigos_simao_cf0609.html

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