Buscar

Aula_8_Gramsci

Prévia do material em texto

*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Antônio Gramsci 
Prof. Giorgio Romano
8ª aula
http://tidia.ufabc.edu.br:8080/
Membership: Prof. Giorgio Romano
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Antônio Gramsci – Século XX
Marx	1818-1883
Gramsci 	1891-1937
PSI único partido socialista que votou contra os orçamentos para a Guerra (1914)
1917/1918 Revoltas operárias em centros urbanos. Ocupação da Fiat em Turim
Gramsci, nascido na Sardenha, estuda em Turim e apóia o movimento grevista e os Conselhos de ocupação de Fábrica
Corrente Ordine Nuovo no PSI => 1921 PCI
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Antônio Gramsci – Século XX
Secretário-Geral do PCI
Fundador do diário L´Unità
Deputado Federal
1922 Mussolini 1º Ministro
1925 Cargo de Il Duce
1926 Início da cassação dos mandatos dos 
 	 deputados oposicionistas
1926 Gramsci preso e condenado a 20 anos de
 prisão
1937 Morre de tuberculose. 
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Antônio Gramsci – Século XX
1926 Carta do Gramsci ao Komintern expressando
 	 preocupação com a política de Stálin, em
 	 particular as expulsões do partido.
1929 Direito de escrever na prisão
1929-1934 
	 33 cadernos, 2.500 pág (4 com traduções)
1946 Publicação das cartas “Lettere del Carcere”
1948 Publicação “Cadernos do Carcere” pela
 	 Einaudi (não pela editora do PCI)
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Antônio Gramsci – Século XX
A primeira edição reagrupou as notas dos 29 cadernos em seis livros:
Materialismo Histórico e a Filosofia de Benedetto Croce
Os intelectuais e a organização da Cultura
O Risorgimento
Notas sobre Maquiavel, a Política e o Estado Moderno
Literatura e Vida Nacional
Passado e Presente
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Antônio Gramsci – Século XX
1975 “Edição crítica” de todos os Cadernos em
	 ordem cronológica (4 volumes, 3.400 pág.)
Início dos anos 1960 começou discussão sobre publicação de Gramsci no Brasil
A reflexão sobre o golpe de 1964 aumentou
 	interesse no pensamento do Gramsci =>
Entre 1966 e 1968, publicação de 4 livros
Meados dos anos 1970 reedição 
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
O Príncipe de Maquiavel na Filosofia de Praxis
O Príncipe como manifesto político: plano de
ação para levar um povo a fundação do novo
Estado
A figura do Príncipe “toma o lugar nas
consciências da divindade ou do imperativo
categórico” (Lembrete Kant: obrigação moral
incondicional/ uma obrigação que temos
independente da nossa vontade ou desejo)
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
O Príncipe de Maquiavel na Filosofia de Praxis
Qual á ação política proposta por Maquiavel?
Luta contra os resíduos do mundo feudal e pela
organização da monarquia nacional absolutista
para permitir/ facilitar o desenvolvimento das
forças produtivas burguesas =>
O Príncipe deve acabar com a anarquia feudal =>
para isso a ação do Príncipe será “militar
-ditatorial” ...”como se requer num período de
luta para fundação e a consolidação de um novo
poder” 
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
O Príncipe de Maquiavel na Filosofia de Praxis
Lembrete Schumpeter sobre ditadura do
proletariado:
tentativa da minoria de impor sua vontade 
ou
remoção das obstruções levantadas contra os
	desejos/ interesse do povo por instituições
 	controladas por grupos interessados em sua
 	preservação
Gramsci: Avaliar se é progressista ou não, só no
contexto histórico vigente.
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
O Príncipe de Maquiavel na Filosofia de Praxis
Mensagem do Maquiavel: 
É preciso uma “força jacobina eficiente” que
organize a vontade coletiva nacional-popular e
funde o Estado.
Pré-condição: entrada das massas de camponeses
na vida política. Isso seria o sentido de Maquiavel
insistir na reforma do exército. 
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
O Príncipe de Maquiavel na Filosofia de Praxis
Comentário sobre a crítica do Jean Bodin (sec16)
a Maquiavel: no fundo não se trata de
antimaquiavelismo, mas de exprimir “exigências
da sua época..condições diversas daquelas que
influíam sobre Maquiavel”. Bodin vivia na França
com o Estado já formado. O “Terceiro Estado” já
teve poder de impor condições, apresentar
exigências e tende a limitar o absolutismo =>
nesse contexto “Maquiavel já seria a reação”. 
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
O Príncipe e o “dever ser”
O Príncipe como homem de participação: 
pretensão de criar novas relações de força =>
surge o “dever ser” além do “ser” mas não em
sentido moralista. 
“dever ser”: necessário/ vontade concreta baseada
na realidade factual (não criada do nada)
É disso que trata o Príncipe de Maquiavel: 
mostrar concretamente como deveriam atuar as
forças históricas para se tornarem eficientes. 
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
O Príncipe e o “dever ser”
dever ser = “única interpretação realista e
historicista da realidade” => história em ação/
filosofia em ação:
“Aplicar a vontade à criação de um novo
equilíbrio das forças realmente existentes e
atuantes, baseando-se numa determinada força
que se considere progressista, fortalecendo-a
para levá-la ao triunfo...sempre mover-se no
terreno da realidade fatual, mas para dominá-la
e superá-la”.
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
O Príncipe como Mito
Maquiavel criou um mito =>
ideologia política para organizar a vontade
coletiva do povo disperso.
Por que mito? Em vez de princípios e
critérios, a formação de determinada
vontade coletiva (para um determinado fim
político) é representada como as qualidades/
deveres de uma pessoa concreta. 
Maquiavel baseia-se na ação concreta do homem
que, por suas necessidades históricas, atua e
transforma a realidade.
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
O Príncipe, de Maquiavel, na Filosofia de Praxis e a vontade coletiva
Mito político em Georges Sorel: força
	mobilizadora para ação por meio da intuição
Def. Gramsci vontade coletiva: 
	consciência atuante da necessidade histórica. 
Importância da análise histórico-econômica
	da estrutura social:
	“Quando é possível dizer que existem as
	condições para que possa surgir e desenvolver-se uma vontade coletiva nacional-popular.”
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Cesarismo (bonapartismo)
Marx “18 Brumário de Luís Bonaparte” 
Eventos históricos que culminaram numa grande personalidade heróica submetendo forças antagônicas em equilíbrio de modo catastrófico (risco de destruição recíproca). 
Significado depende da história concreta=>
Pode ser progressista ou reacionário 
Movimento cesarismo expressa dialética
revolução-restauração => saber qual prevalece 
Ex. Napoleão I progressista: fase histórica de passagem de um tipo de Estado para outro
	Napoleão III contra-revolução (pós Comune de Paris)
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
O Moderno Príncipe e a vontade coletiva
Moderno príncipe é o partido político
Ação política: concretização de uma vontade coletiva reconhecida
Orientar para metas concretas e racionais
Obs. Gramsci se refere a “aquele determinado
Partido que pretende (e está racional e
historicamente destinado a este fim) fundar um
novo tipo de Estado”.
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
O Príncipe de Maquiavel na Filosofia de Praxis e a vontade coletiva
Importância da reforma intelectual e moral: 
“criar o terreno para um desenvolvimento ulterior
da vontade coletiva nacional-popular no sentido
de alcançar uma forma superior e total de
civilização moderna”.
Mas: elevação civil das camadas mais baixas
exige reforma econômica: “programa de reforma
econômica é exatamente o modo concreto através
do qual se apresenta toda a reforma intelectual e
moral” => “força progressista da história”/
“concepção sistêmica do mundo”
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Primata da política
Natureza humana 
não existe em forma abstrata fixa, imutável
é“conjunto das relações sociais historicamente determinadas”
Noção “bloco histórico”
	Hegel: unidade natureza – espírito (razão)
	Gramsci/ Marx: unidade estrutura e superestrutura
	política como primeiro grau da superestrutura
Ação Política
	“se identifica com a economia” / “nasce no
	terreno permanente e orgânico da vida econômica”
	Mas: “tem sua distinção” e “obedece a leis diversas”
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Primata da política
Inovação de Maquiavel: a política é uma atividade
autônoma com princípios e leis diversas da moral
ou da religião.
Base de ciência política: relação governantes/
governados (dirigentes/ dirigidos)
questão da eficácia: dados certos fins / modo de dirigir
como preparar da melhor maneira os dirigentes
formas mais racional: menos resistências para alcançar obediências/ consenso
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Primata da política
Responsabilidade por parte dos dirigentes
Exemplo negativo: Cadornismo – Do general
Luigi Cadorna, chefe de estado-maior na Primeira
Guerra Mundial => Cadorna é visto por Gramsci
como um burocrata da estratégia: aquele que
sacrifica a realidade ao esquema e que, depois de
ter construído seu plano estratégico com hipóteses
“lógicas”, não hesita em dizer “tanto pior para a
realidade”. Neste tipo de estratégia, só cabe aos
indivíduos o destino de ser sacrificados e não tem
sentido falar de sacrifícios inúteis.
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Partido Político
Gramsci usa o conceito de partido político amplo: ex. imprensa pode ser estudado como “partidos, frações de partido ou funções de um determinado partido” => se apresenta como força dirigente a -política superior aos partidos
Outro ex. “libertários intelectuais” não são
	autônomos “mas vivem à margem dos outros
	partidos para educá-los” =>
Diferenciar “partido orgânico” e frações com nome de partido.
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Partido Político
O grandes industriais não têm um partido político
permanente: “utilizam alternadamente todos os
partidos existentes” => Característica classe dirigente
tradicional: muda homens e programas para retomar
controle que lhe fugiu. 
Partido deve ser analisada no contexto histórico:
grupo social do qual é expressão e setor mais
	avançado
quadro complexo do contexto social (e interferências internacionais)
momento em que um partido se torna “historicamente necessário” (condições – em formação - de seu triunfo/ da sua transformação em Estado)
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Partido político
Elementos fundamentais para a existência de um
partido:
homens comuns que participam com disciplina e fidelidade (exército)
elemento de coesão que centraliza (capitães) devem sempre estar preocupados com a preparação da sua sucessão
elemento médio que articula o primeiro com o segundo
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Partido Político
Def. Partido político
1) 	formação de vontade coletiva permanente
2) 	propor objetivos imediatos: linhas de ação
 	coletiva. 
Fórmula jacobino-revolucionária: revolução
	permanente: guerra de movimento
Formula de hegemonia civil: guerra de posição
Diferenciar 
vontade política – fim ao qual uma vontade
	determinada é aplicada
utopia – sem relação entre meio e fim
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Progresso x Reação
Defesa da ordem política e legal: progressista ou
reacionário?
Progressita: quando tende a manter na
órbita da legalidade as forças reacionárias
alijadas do poder e a elevar ao nível da
nova legalidade as massas atrasadas
Reacionário: quando tende a comprimir as forças
vivas da história e manter a legalidade
ultrapassada, anti-histórica
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Hegemonia
Conceito da hegemonia como alternativa à
ditadura do proletariado.
Pressupõe que se deva levar em conta os
interesses e as tendências dos grupos sobre os
quais a hegemonia será exercida => margens para
compromissos de ordem econômica-corporativa
Mas, não sem compromissos com o essencial: a
função decisiva que o grupo dirigente exerce no
núcleo decisivo da atividade econômica. 
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Crítica ao “economismo histórico” 
Economia só em última instância o motor da
história 
fato econômico relacionado a interesses
	pessoais ou de grupo x formação de classe
	econômica
desenvolvimento econômico reduzido à sucessão de modificações técnicas
descoberta novas matérias primas => “tem certamente grande importância porque pode modificar a posição dos Estados, mas não determina o movimento histórico”
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Crítica ao “economismo histórico” 
Pela lógica economismo histórico:
condições favoráveis fatalmente surgirão
iniciativas voluntárias, inúteis e danosas.
Análise de relações de poder devem levar em
	conta esfera da hegemonia e das relações ético-partidárias (não só poder econômico em si)
Não existem leis objetivas para o
	desenvolvimento histórico (com o mesmo caráter das leis naturais) 
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Interpretação materialismo histórico 
Gramsci: 
deve haver luta consciente e determinada 
iniciativa política apropriada é sempre necessária para libertar o impulso econômico dos entraves da política tradicional => criar novo bloco histórico (relação economia-política) 
Valorização do elemento voluntário: 
“a realidade como resultado de uma aplicação da
vontade humana”
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Materialismo histórico
Diferenciar
a) Materialismo mecanicista (vulgar)
Causalidade linear => não permite ao ser
humano nenhuma liberdade: ação humana
determinada pelas condições materiais das
quais não pode fugir.
b) Materialismo histórico/ dialético (marxista)
Fenômenos materiais como processos.
Consciência humana determinada pela matéria/
historicamente situada (não é pura passividade) => necessidade da ação humana
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Relação Estrutura - Superestrutura 
Essencial para poder analisar das forças que atuam
na história de um determinado período e a
definição da relação entre elas.
Princípios da análise:
1) 	o de que nenhuma sociedade assume encargos para cuja solução ainda não existam as condições necessárias e suficientes, ou que pelo menos não estejam em via de aparecer e se desenvolver
2) o de que nenhuma sociedade se dissolve e pode ser substituída antes de desenvolver e completar todas as formas de vida implícitas nas suas relações.
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Análise relação de força
1) estreitamente ligada à estrutura
objetiva, independente da vontade dos homens
“À base do grau de desenvolvimento das forças materiais
de produção estruturam-se os agrupamentos sociais, cada
um dos quais representa uma função e ocupa uma posição
determinada na produção”
esta análise permite verificar se na sociedade existem
as condições necessárias e suficientes para a sua
transformação 
2) relação das forças políticas
Avaliação do grau de organização de várias grupos sociais
3) relação forças militares
	a) técnico militar
	b) político militar
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Crise histórica x crise econômica
Relação crises históricas fundamentais x crises
econômicas
1) “ excluir que, de per si, as crises econômicas imediatas produzam acontecimentos fundamentais” => podem criar terreno favorável à difusão de determinadas maneiras de pensar (crise como oportunidade)
2) 	ruptura do equilibro entre as forças é essencialmente um processo que tem como atores os homens, a sua vontade e a sua capacidade.
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Ação Política
Ação Política = única atividade criadora do
progresso histórico =>
A existência de determinadas condições objetivas
potencializada politicamente pelos partidos e
pelos homens capazes. Na sua ausência: “as
premissas existem abstratamente, mas as
conseqüências nãose verificam porque falta o
fator humano”.
Processo indutivo: interpretada e adaptada
continuamente às necessidades => requer unidade
orgânica entre teoria e prática (papel do
intelectual)
*Giorgio Romano, 14.maio.2008
 
*
*
Ação Política
Pessimismo da inteligência, que pode ser
unida a um otimismo da vontade nos
políticos realistas ativos. 
=> pessimismo da razão, otimismo da vontade

Outros materiais