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Ética utilitarista de Bentham

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TRABALHO INDIVIDUAL DE CONCLUSÃO DO CURSO
CONHECIMENTO E ÉTICA
PROF. DR. LUIS ALBERTO PELUSO
DISCENTE: QUELI CRISTINA JONAS GARCIA – RA: 21006910
ABRIL 2011
ÉTICA UTILITARISTA DE BENTHAM
 				Utilitarismo é a teoria desenvolvida na filosofia liberal inglesa, corresponde à cultura iluminista, especialmente em Bentham (1748-1832) e Stuart Mill (1806-1873), que considera a boa ação ou a regra de conduta caracterizáveis pela utilidade e pelo prazer que podem proporcionar a um indivíduo e, em extensão, à coletividade, como suposição de uma complementaridade entre a satisfação pessoal e coletiva. Também pode ser classificado como uma doutrina ética que prescreve a ação (ou inação) a fim de otimizar o bem-estar do conjunto de indivíduos: “Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar”.
 				O utilitarismo de Bentham teve origem em seus estudos sobre ciência do direito, como resposta à insatisfatória teoria do direito natural que defendia a existência de um contrato original que justificasse a obrigação dos homens no cumprimento de um contrato, especialmente na relação entre cidadão e Estado. Para Bentham, a obediência só se justifica porque proporciona mais felicidade do que a desobediência.
 				O princípio é assim evidenciado por Bentham:
 				“Por princípio da utilidade entende-se aquele princípio que aprova ou desaprova qualquer ação, segunda a tendência que tem a aumentar ou a diminuir a felicidade da pessoa cujo interesse está em jogo, ou, o que é a mesma coisa em outros termos, segundo a tendência a promover ou a comprometer a referida felicidade. Digo qualquer ação, com o que tenciono dizer que isto vale não somente para qualquer ação de um indivíduo particular, mas também de qualquer ato ou medida de governo.” (p. 04 - Jeremy Bentham – Uma introdução aos princípios da moral e da legislação – São Paulo: Nova Cultural, 1989).
 				A teoria utilitarista credita ao indivíduo no governo de seus atos a obediência a dois senhores: a dor (infelicidade) e o prazer (felicidade), considerando-se sempre nesta atuação a maximização do seu próprio prazer e a mitigação de seu sofrimento; prazer e dor são vinculados ao que é certo e errado, e, são as causas das ações humanas ou as bases de um critério normativo da ação.
 				“A natureza colocou o gênero humano sob o domínio de dois senhores soberanos: a dor e o prazer. Somente a eles compete apontar o que devemos fazer, bem como determinar o que na realidade faremos. Ao trono desses dois senhores está vinculada, por uma parte, a norma que distingue o que é reto do que é errado, e, por outra, a cadeia das causas e dos efeitos.” (p. 03 – Jeremy Bentham – Uma introdução aos princípios da moral e da legislação – São Paulo: Nova Cultural, 1989).
 				O principal objetivo de Bentham é o de erigir uma ciência da ação humana, atribuindo à ética um caráter científico.
 				O utilitarismo apresenta cinco princípios: consequencialismo, ou seja, ele avalia uma ação unicamente em função de suas consequências; de bem-estar, o objetivo em toda ação moral se constitui pelo bem-esar; agregação, ou seja, a avaliação se concentra no saldo positivo de compensação: é válido o sacrifício de uma minoria em prol do aumento de bem-estar geral; otimização: maximização do prazer, como um dever, e, universalidade: o bem-estar de cada pessoa tem o mesmo peso no cálculo do bem-estar geral.
 				A teoria utilitarista tem como característica o racionalismo empírico (a razão humana dá conta da conduta humana). Neste sentido, somente a experiência pode comprovar se as instituições e as leis atendem aos objetivos a que se propõem. Por isto, o direito à livre discussão e à crítica às instituições.
 				O conhecimento provém da experiência e a racionalidade é capaz de fazer cálculos, previsões e antecipações das conseqüências das ações e é o que tem a capacidade de conduzir o homem à felicidade.
 				Para Bentham determinados sentimentos têm prevalência sobre outros, devendo-se levar em consideração as circunstâncias do prazer. Bentham estabeleceu sete circunstâncias para o cálculo dos prazeres: intensidade (grau de desfrute do prazer); duração (extensão do tempo do início até o término do prazer); certeza ou incerteza (probabilidade do prazer acontecer); proximidade no tempo ou longinquidade (intervalo de tempo que decorre do prazer satisfeito); fecundidade (probabilidade do prazer ou a dor multiplicarem-se respectivamente em outros prazeres e dores); pureza (probabilidade que o prazer ou a dor têm de não serem seguidos de sensações opostas) e extensão (o número de pessoas que serão afetadas pelo prazer ou pela dor). A felicidade geral é o resultado de um cálculo hedonístico.
 				Bentham ainda disciplina quatro fontes distintas que ocasionam dor e prazer: física, política, moral e religiosa. Trata-as por sanções, já que emprestam força obrigatória a qualquer lei ou regra de conduta. Se o prazer ou a dor se espera na vida presente e no curso ordinário da natureza, então, o prazer é denominado sanção física; se for esperado de pessoa particular ou de um grupo da comunidade, sob o nome de juiz, pode-se dizer que o prazer e a dor derivam da sanção política; caso o poder e a dor estejam nas mãos de pessoas que ocupem um lugar de destaque na comunidade, segundo disposição espontânea, pode-se dizer que o prazer e a dor derivam de sanção moral; se dependerem da mão imediata de um ser superior invisível, quer na vida presente, quer na futura, então é derivado da sanção religiosa.
 				A partir destas fontes, Bentham nomeia os tipos de sofrimento que uma vítima pode sofrer: calamidade (sofrimento que a pessoa sofre no decurso natural dos acontecimentos); punição (tipo de sofrimento imposto por uma lei); recusa de uma ajuda amigável (sofrimento imposto por uma sanção moral, ocorre devido a uma má conduta) e providência particular (sofrimento acontece pela interposição direta de uma providência particular, é uma punição que deriva de sanção religiosa).
 				O objetivo de Bentham com esta classificação é facilitar o conhecimento dos valores do prazer e da dor, a fim de que possam ser melhor medidos e assim fornecer resposta às condutas dos indivíduos. A minúcia do autor em dissecar e analisar as ações humanas, e, seus motivos, também serviram a este mesmo fim.
 				A contribuição de Bentham na Inglaterra pré-vitoriana foi revolucionária, propondo soluções em vários campos científicos: foi dele o primeiro projeto previdenciário em que dispôs sobre a racionalização para cuidar dos pobres; como expoente do liberalismo econômico, escreveu sobre economia política; era a favor da reforma da educação: objetivava o estudo pago pelo Estado para todos; pensou um novo esquema para o sistema penitenciário; desenvolvimento do regime democrático através da introdução do sufrágio universal, foi defensor do voto feminino; batalhou pela reforma constitucional na Inglaterra; era a favor da liberdade de expressão e a não interferência do governo quando o comportamento individual não prejudicasse outras pessoas (como ardoroso discípulo de Adam Smith, insistia na aplicação lógica extrema dos princípios formulados pelo “pai” da economia política). Todas estas propostas, radicais para sua época, tinham base na ética utilitarista, já que essenciais à felicidade e bem-estar, tanto para o comportamento do indivíduo quanto para a legislação social.
 				Na tradição utilitarista houve, em geral, maior reflexão sobre a questão das alternativas de comportamento em relação a muitas pessoas, por isso tinha um sentido eminentemente político.
 				Algumas críticas lançadas ao utilitarismo precisam ser mencionadas. Para alguns autores o utilitarismo reduziu à soma (adições e subtrações de felicidade e dor) as questões, e, esgotou em partes de felicidade a sociedade quando propôs que a ente social é como um “corpo fictício”, cujos membros são as pessoas individuais e a felicidade das pessoas.
 				Outros defendem que a concepção ética utilitarista, que considera bem o que traz vantagens para muitos,é pragmática: deixam-se de lado as questões teóricas de fundo, apelando-se para os resultados práticos.
 				Há, ainda, os que argumentam que o utilitarismo é a ideologia do capitalismo, pois ele permite o crescimento da economia como tal, sem dar moralmente conta daquilo que diz respeito a questões de partilha.
 				No tocante ao cálculo de decisão do utilitarismo, segundo o qual cada questão moral complexa, aparece abstratamente, como perfeitamente solúvel, há o contra-argumento de que esta vantagem é técnica, não moral. Este cálculo implica em que poderíamos conhecer todas as conseqüências, mas também nos basearíamos na falsa sustentação de que os desejos e aversões dos afetados são comensuráveis e que se omite a questão dos direitos especiais.
 				Para os críticos, o utilitarismo tem apenas uma plausibilidade: somente pode ser criticado em suas conseqüências.
 				Outros questionam, ainda, o princípio de justiça proposto por Bentham, que não representa direitos iguais, pois na soma da felicidade a ser calculada, o bem-estar de ninguém pode valer mais do que o bem-estar de outro. Ele não representa direitos iguais. (“everybody to count for one, nobody for more than one”). Para os opositores, este princípio é voltado contra o sistema feudalista e o valor diverso atribuído aos seus indivíduos. Este princípio foi ideal, nesta perspectiva, como ideologia da burguesia.
 				Quanto à promoção do princípio da utilidade, baseado em benevolência ou boa vontade, necessidade de estima dos outros, desejo de receber amor, religião e os instintos de auto-preservação, de prazer, de privilégio e de poder, como explicar que os homens deixam-se conduzir em função da felicidade de todos? Não é evidente a verdade desse princípio.
 				Como toda a ciência, o utilitarismo não chega à verdade absoluta, mas é um suporte consistente para os questionamentos éticos, desde a época pré-vitoriana até nossos dias.
Referências bibliográficas:
BENTHAM, Jeremy; Uma introdução aos princípios da moral e da legislação – São Paulo: Nova Cultural, 1989.
TUGENDHAT, Ernst; Lições sobre ética – Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
PELUSO, Luis Alberto – Filosofia Política Contemporânea – O utilitarismo – O Projeto de Construir Uma Ética Racional – mp3 MPEG Audio stream (http://www.4shared.com/audio/juAKrqXd/Luis_Alberto_Peluso_-_Filosofi.html)

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