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direito internacional privado 2016 1

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GRADUAÇÃO
 2016.1
DIREITO 
INTERNACIONAL 
PRIVADO
AUTORES: LUIZ GUILHERME MORAES REGO MIGLIORA E FLAVIA MARTINS DE AZEVEDO
Sumário
Direito Global II
I. IntRODUÇÃO e ObjetIvOS DO CURSO ................................................................................................................... 03
 Dificuldades e desafios ................................................................................................................. 03
 Metodologia................................................................................................................................. 04
II. PlAnOS De AUlAS .......................................................................................................................................... 06
 Bloco 1. IntroDução ao DIreIto InternacIonal PrIvaDo ........................ 06
 aula 1: Qual a função do Direito Internacional Privado?.............................................................. 06
 anexo 1 – aula 1 ......................................................................................................................... 09
 anexo 2 – aula 1 ......................................................................................................................... 13
 aula 2. tratados Internacionais e conflitos com a constituição Federal e leis internas ................. 19
 aula 3. lei Global? ...................................................................................................................... 22
 anexo – aula 3 ............................................................................................................................ 24
 Bloco II – conFlIto De leIs - Qual a leI aPlIcável?.......................................... 30
 aula 4 – regras de conexão ......................................................................................................... 30
 aula 5 - Método conflitual .......................................................................................................... 31
 anexo – aula 5 ............................................................................................................................ 32
 aulas 6 e 7 – limites à aplicação da regra de direito estrangeiro ................................................... 35
 anexo – aulas 6 e 7 ..................................................................................................................... 38
 aula 8 – autonomia das partes na escolha da lei aplicável aos contratos ....................................... 40
 Bloco III– conFlIto De JurIsDIção - onDe acIonar? ...................................... 41
 aula 9 – caso Yahoo! ................................................................................................................... 41
 aula 10 - competência Internacional ........................................................................................... 43
 aula 11 – cláusula de eleição de Foro ......................................................................................... 45
 anexo – aula 11 .......................................................................................................................... 47
 right and wrong choices in the market for justice ....................................................................... 51
 aula 12 - arbitragem ................................................................................................................... 52
 aula 13 — Imunidade de jurisdição ............................................................................................. 54
 anexo I – Questões do exame da oab/rj ...................................................................................... 57
 anexo II – legislação compilada .................................................................................................. 66
Sumário
Direito Internacional Privado
DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO
FGV DIREITO RIO 3�FGV DIREITO RIO
DIREITO GlObal II
I. IntroDução e objetIvos Do Curso
cada estado tem o poder de criar as suas próprias leis que são aplicáveis dentro do seu território. Quando 
todos os elementos de uma relação jurídica privada estiverem ligados a apenas um desses estados, é inquestioná-
vel que ela será regida pelas respectivas leis e que qualquer litígio será submetido ao juiz competente de acordo 
com as normas processuais internas.
Pode ocorrer que determinadas relações jurídicas estejam vinculadas a mais de um sistema de direito, seja 
por envolverem partes naturais ou domiciliadas em diferentes estados, seja porque as obrigações são cumpridas 
em lugares diferentes dos da celebração dos negócios, ou do domicílio das partes.
este é o caso, por exemplo, (a) do download de uma música de um site localizado na Índia para um compu-
tador na austrália; (b) da realização de apostas em jogos de azar por brasileiro em site localizado em las vegas, 
eua; (c) a compra de gás natural na Bolívia para entrega no Brasil; (d) a venda de soja e sua exportação por 
produtor brasileiro para compradores chineses; (e) os investimentos realizados por brasileiros no exterior e a 
possibilidade de bloqueio e repatriação deles pelas autoridades brasileiras; e (f ) o casamento entre um brasileiro 
e uma alemã realizado na França.
os avanços no desenvolvimento dos sistemas de transporte mundiais, o aumento da circulação de infor-
mações, a redução dos preconceitos entre os povos e a globalização têm contribuído, consideravelmente, para 
aumentar a quantidade das relações conectadas a mais de um sistema jurídico. 
neste ponto, começam a surgir os problemas. a legislação exprime as necessidades especiais de cada povo. 
ela reflete as características sociais, culturais e econômicas de cada grupo numa determinada fase da sua história. 
logo, o que é permitido numa determinada soberania pode ser proibido em outra. o fato que constitui crime 
numa certa sociedade pode ser lícito em outra.
essa diversidade de normas levou aristóteles a afirmar que “o direito não é como o fogo, que arde do mes-
mo modo na Pérsia e na Grécia.” 
DificulDaDes e Desafios
Quando uma determinada relação de ordem privada se liga a mais de um sistema jurídico, ou a mais de 
um estado, surge a função da matéria que se irá estudar. É o Direito Internacional Privado que define qual a 
regra de direito que incide na solução dos litígios emergentes dessas relações e quais os tribunais competentes 
para decidi-los. 
o Direito Internacional Privado não estabelece a norma de direito material aplicável ao caso concreto (se 
a tem direito de cobrar de B indenização pelos prejuízos decorrentes do acidente de carro). limita-se a definir 
em que ordenamento jurídico o aplicador da lei deverá buscar as normas materiais incidentes no caso concreto 
(v.g. a disputa entre a e B deve ser resolvida de acordo com as leis da suíça), quando a relação jurídica abranger 
mais de um ordenamento. É o que se chama de conflito de leis. 
também cabe ao Direito Internacional Privado definir que tribunal – de que sistema jurídico – deverá 
decidir as questões relativas a determinada relação jurídica multiconectada, aplicando a lei material incidente no 
caso. É o que se chama de conflito de jurisdição.
assim, a aplicação das regras de Direito Internacional Privado pode levar à conclusão de que uma disputa 
existente entre um francês e um brasileiro, relativa aos danos sofridos por este, em decorrência da aquisição de 
queijos na França, seja decidida pelos tribunais brasileiros, aplicando a lei francesa.
em geral, cada sistema jurídico contém um conjunto de regras de Direito Internacional Privado que define 
estas questões. Diz-se, em doutrina, que o Direito Internacional Privado constitui um “direito do direito” ou so-
DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO
FGV DIREITO RIO 4�FGV DIREITO RIO
DIREITO GlObal II
bredireito. Devido ao aumento exponencial das relações internacionaise da circulação de pessoas, os professores 
de direito, juízes, promotores, procuradores e advogados terão que, cada vez mais, estar familiarizados com esse 
conjunto de regras para enfrentar os problemas relacionados ao Direito Internacional Privado.
o projeto do curso oferece uma proposta de estudo que atualiza o programa tradicional de Direito Inter-
nacional Privado, fazendo-o abranger o desenvolvimento da matéria, calcado nas mais recentes contribuições da 
doutrina e de tribunais. a intenção é conjugar os conceitos, doutrinas e definições tradicionais com a proposta 
da FGv Direito, que se dispõe a oferecer um programa atualizado, decorrente de uma posição que tem como 
objetivo, mais do que ensinar a matéria, o comprometimento de apresentar aos alunos os problemas do mundo 
contemporâneo, por meio de casos concretos, dando-lhes as ferramentas necessárias para analisá-los e buscar as 
soluções adequadas para eles.
MetoDologia
o curso será dividido em seis blocos.
no primeiro deles, a Introdução, estudaremos o conceito, a função e as fontes do Direito Internacional 
Privado. nesta parte, a questão central será a viabilidade e a necessidade da uniformização de regras e princípios 
que facilitem as relações internacionais.
numa conferência sobre conseqüências sociais da Globalização, proferida em nova Delhi, na Índia, em 
1996, o então presidente Fernando Henrique cardoso expôs judiciosamente a questão:
“a globalização também conduz a uma crescente uniformidade do arcabouço institucional e do quadro regu-
latório em todos os países. Pois, para que possa desenvolver-se a globalização da produção, é preciso que as regras 
nos diferentes países sejam similares, de modo que não venham a prevalecer, em qualquer país, vantagens ‘artificiais’. 
exemplo desta tendência é a introdução, na organização Mundial do comércio, de padrões internacionais para os 
direitos de propriedade intelectual e para as regras de investimento. temas que, no passado eram considerados como 
de competência interna de cada país estão sujeitos a regimes multilaterais de regras. naturalmente que há limites a 
essa crescente uniformização de padrões, em razão das próprias diferenças nacionais. e é complexa a interação entre 
as tendências globais no sentido da homogeneidade e as identidades nacionais” (https://www.planalto.gov.br/pu-
bli_04/colecao/GloBa2.HtM)
o debate em sala se dará em torno das vantagens e desvantagens de se ter uma “lei global”. a idéia de um 
direito só no mundo é possível ou mera utopia? Quais as áreas do direito que poderiam ser globalizadas? 
Privilegiando a corrente anglo-saxônica da disciplina, cada um dos três próximos blocos do curso tratará, 
distintamente, das seguintes questões nucleares do Direito Internacional Privado: (a) qual a lei aplicável; (b) em 
que local acionar; e (c) como executar atos e decisões estrangeiras.
assim, no bloco dois (qual a lei aplicável?) explicaremos o método conflitual de definição da lei aplicável 
à relação jurídica, suas regras e as novas tendências da disciplina.
no bloco três (onde acionar?) examinaremos as questões do direito processual internacional, as regras re-
lativas à competência internacional, concorrente e exclusiva. são os chamados conflitos de jurisdição, chamados 
de conflitos de competência em muitos sistemas de direito positivo.
o bloco quatro (como executar atos e decisões estrangeiras?) tratará da necessidade de cooperação entre 
os poderes judiciários de diferentes estados. analisaremos as regras relativas ao reconhecimento, no Brasil, das 
decisões judiciais estrangeiras e a necessidade de efetivação de decisões brasileiras no exterior, como ocorreu, 
recentemente, no caso da recuperação judicial da varIG.
no quinto bloco, trataremos das questões relativas à condição jurídica do estrangeiro e a lei determinadora 
do estatuto pessoal.
DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO
FGV DIREITO RIO 5�FGV DIREITO RIO
DIREITO GlObal II
ao enfrentar o problema dos conflitos de lei e de jurisdição o aluno descobrirá a existência de sistemas 
jurídicos com características diferentes do brasileiro, com os quais ele necessariamente interagirá ao longo de 
sua vida profissional.
no sexto e último bloco, em linha com a proposta da FGv Direito, este curso propõe-se a apresentar aos 
alunos as diferenças básicas entre os dois principais sistemas jurídicos existentes no mundo atual, o da Civil Law 
e o da Common Law.
nele também cuidaremos da relevância e utilidade do direito comparado. trata-se do ramo da ciência 
jurídica que estuda as diferenças e as semelhanças entre os ordenamentos de diferentes estados.
a utilidade do direito comparado é destacada por rené David e John Brierley:
“Comparative law has a primary role to play in the science of law. It can enlighten the understanding of the place 
and significance of law by drawing upon the experience of all nations. At a more practical level, it can contribute to the 
better organization of international society by showing where agreement is within reach and by suggesting modes of inter-
national co-operation. Finally, with respect to national or internal law, it broadens the perspective of those seeking ways to 
bring about its improvement by inviting them to consider new ideas.” (Major Legal Systems in the World Today, 2ª ed., 
The Free Press, nova Iorque, 1978, p. 16)
o direito comparado desempenha um papel essencial no estudo dos diferentes sistemas jurídicos, na even-
tual aproximação de suas regras e até mesmo da uniformização das leis, visando à simplificação das relações 
internacionais.
acreditamos que essa divisão da matéria permitirá aos alunos compreender a relevância do Direito Inter-
nacional Privado e lhes dará as ferramentas necessárias para trabalhar com as questões que ele suscita nos dias 
de hoje.
DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO
FGV DIREITO RIO 6�FGV DIREITO RIO
DIREITO GlObal II
II. Planos De aulas
Bloco 1. introDução ao Direito internacional PrivaDo
aula 1: Qual a função Do Direito internacional PrivaDo?
nota ao aluno
Quando uma relação jurídica é celebrada entre partes nacionais e domiciliadas no 
mesmo país, no qual o ato é praticado e seus efeitos são produzidos, parece bastante claro 
que qualquer questionamento sobre tal relação jurídica deverá ser submetido aos tribunais 
daquele estado, que julgarão o caso de acordo com as leis nacionais.
ocorre que, conforme exposto na introdução acima, o aprimoramento dos meios de 
transporte e comunicação e a globalização têm gerado um aumento exponencial nas rela-
ções privadas internacionais, conectadas a mais de um sistema jurídico.
esse tipo de relação introduz algumas polêmicas, como, por exemplo, no que diz res-
peito à lei aplicável ao contrato e quais juízes (de que países) deverão conhecer e decidir as 
disputas relativas a ele. outro ponto relevante a destacar, é saber se a decisão proferida pelo 
tribunal de um determinado país poderá produzir efeitos em outros.
cabe ao Direito Internacional Privado responder essas perguntas.
nesta primeira aula examinaremos, de uma forma geral, alguns problemas gerados 
pelas relações jurídicas conectadas a mais de um sistema jurídico, por meio da análise do 
caso abaixo.
caso 
Pedro, cidadão brasileiro, domiciliado no rio de Janeiro, viajou para os estados uni-
dos, onde se hospedou no Trump Taj Mahal Casino Resort, em atlantic city.
ao se registrar, ele solicitou, e lhe foi concedido, um crédito no valor de us$ 
500.000,00 (quinhentos mil dólares) para jogar no cassino do hotel, quantia que deveria 
ser paga ao final de sua estadia.
nos três dias subseqüentes, Pedro apostou e perdeu a quantia que lhe foi concedida de 
crédito. não tendo condições de arcar com o pagamento da dívida, Pedro deixou imediata-
mente o hotel e embarcou para o Brasil, sem pagar o valor devido.
o Trump Taj Mahal Casino Resort propôs ação de cobrança contraPedro nos estados 
unidos. Pedro foi devidamente citado para a ação, mas não ofereceu nenhuma defesa.
Julgado procedente o pedido, o autor requereu ao superior tribunal de Justiça a ho-
mologação da sentença* proferida nos estados unidos, na medida em que todos os bens de 
Pedro se encontram no Brasil.
Pergunta
Deve-se conceder autorização para que a sentença proferida nos estados unidos pro-
duza efeitos no Brasil?
* Conforme estudaremos mais 
adiante, a homologação de 
sentença é o processo pelo 
qual o Superior Tribunal de 
Justiça concede ou nega auto-
rização para que uma sentença 
proferida em país estrangeiro 
produza efeitos no brasil.
DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO
FGV DIREITO RIO 7�FGV DIREITO RIO
DIREITO GlObal II
ao analisar o caso acima proposto, o aluno deverá observar os seguintes dispositivos legais:
Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941
(…)
Das contravençÕes relatIvas À PolÍcIa De costuMes
art. 50. estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público, mediante o pagamento de 
entrada ou sem ele:
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, de dois a quinze contos de réis, estendendo-se os efeitos da 
condenação à perda dos moveis e objetos de decoração do local.
Decreto-Lei nº 9.215, de 30 de abril de 1946
Proíbe a prática ou exploração de jogos de azar em todo o território nacional
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da constituição, e 
considerando que a repressão aos jogos de azar é um imperativo da consciência universal; 
considerando que a legislação penal de todos os povos cultos contém preceitos tendentes a êsse fim; 
considerando que a tradição moral jurídica e religiosa do povo brasileiro e contrária à prática e à exploração e jogos 
de azar; 
considerando que, das exceções abertas à lei geral, decorreram abusos nocivos à moral e aos bons costumes; 
considerando que as licenças e concessões para a prática e exploração de jogos de azar na capital Federal e nas 
estâncias hidroterápicas, balneárias ou climáticas foram dadas a título precário, podendo ser cassadas a qualquer 
momento: 
decreta:
art. 1º Fica restaurada em todo o território nacional a vigência do artigo 50 e seus parágrafos da lei das contraven-
venções Penais (Decreto-lei nº 3.688, de 2 de outubro de 1941). 
art. 2º esta lei revoga os Decretos-leis nº 241, de 4 de Fevereiro de 1938, n.º 5.089, de 15 de Dezembro de 1942 
e nº 5.192, de 14 de Janeiro de 1943 e disposições em contrário. 
art. 3º Ficam declaradas nulas e sem efeito tôdas as licenças, concessões ou autorizações dadas pelas autoridades 
federais, estaduais ou municipais, com fundamento nas leis ora, revogadas, ou que, de qualquer forma, contenham 
autorização em contrário ao disposto no artigo 50 e seus Parágrafos da lei das contravenções penais. 
art. 4º esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Código Civil
(…)
art. 814. as dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que vo-
luntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.
§ 1o estende-se esta disposição a qualquer contrato que encubra ou envolva reconhecimento, novação ou fiança de 
dívida de jogo; mas a nulidade resultante não pode ser oposta ao terceiro de boa-fé.
§ 2o o preceito contido neste artigo tem aplicação, ainda que se trate de jogo não proibido, só se excetuando os 
jogos e apostas legalmente permitidos.
§ 3o excetuam-se, igualmente, os prêmios oferecidos ou prometidos para o vencedor em competição de natureza 
esportiva, intelectual ou artística, desde que os interessados se submetam às prescrições legais e regulamentares.
Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-Lei nº 4.707, de 04/09/1942).
art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.
§ 1º Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, 
admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.
DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO
FGV DIREITO RIO 8�FGV DIREITO RIO
DIREITO GlObal II
§ 2º a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente.
(…)
art. 15. será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reuna os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; 
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi profe-
rida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado; 
e) ter sido homologada pelo supremo tribunal Federal.
Parágrafo único. não dependem de homologação as sentenças meramente declaratórias do estado das pessoas.
(…)
art. 17. as leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no 
Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
Bibliografia obrigatória:
strenGer, Irineu. Direito internacional privado. são Paulo: ltr, 2006, 6ª ed., pp. 25-39
anexo 1 - sentença estrangeira contestada 5.404-4 (relatório e voto do Ministro sepúlveda Pertence).
anexo 2 - carta rogatória cr 10.415 (Decisão monocrática do Ministro Marco aurélio)
DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO
FGV DIREITO RIO 9�FGV DIREITO RIO
DIREITO GlObal II
anexo 1 – aula 1
18/05/2005 TRIBUNAL PLENO
SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA 5.404-4 ESTADOS UNIDOS DA
AMÉRICA
RELATOR : MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
reQuerente : truMP taJ MaHal assocIates
aDvoGaDo : roBerto corrÊa De Mello
aDvoGaDo : sanDra BárBara caMIlo lanDI
reQuerIDo : MIGuel nIcolau DuaIlIBe neto
aDvoGaDo : rIcarDo taDeu BuGarIn DuaIlIBe e outro
EMENTA: Homologação de sentença estrangeira: deslocamento
da competência do stF para stJ (ec 45/04), que não afeta, contudo, a competência remanescente do primei-
ro para homologar a desistência do pedido, quando iniciado o julgamento e manifestada a desistência antes da 
alteração constitucional.
acÓrDão
vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do supremo tribunal Federal, em sessão 
plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, em homologar a 
desistência, ressalvada a posição do senhor Ministro Marco aurélio, que considerava incompetente o tribunal.
Brasília, 18 de maio de 2005.
ellen GracIe - PresIDente
sePÚlveDa Pertence - relator
relatÓrIo
O SENHOR MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE - trump taj Mahal associates, antes trump taj 
Mahal casino resort, sociedade norte americana, com sede na cidade de West trenton, estado de new Jersey, 
requer a homologação de sentença proferida pela corte superior do mesmo estado de new Jersey, condado de 
atlantic, estados unidos da américa, pela qual Miguel nicolau Dualibe neto, também conhecido por Miguel 
Dualibe, foi condenado a pagar-lhe a quantia de “US$415.000,00, juntamente com os juros de US$ 84.733,90, 
totalizando US$ 499.733,90, acrescidos dos custos da ação a serem cobrados pelo Tribunal” (fls.59).
narra o requerente que, em ação de cobrança que propôs contra o réu, as partes celebraram transação, 
homologada pelo tribunal superior de nova Jersey, eua, pela qual ficou estipulado o pagamento pelo réu ao 
autor da quantia total de us$ 470.000,00, na forma acordada (f. 49/50).
como o réu pagou us$ 55.000,00, mas deixou de pagar us$415.000,00, ficou caracterizado o inadim-
plemento, permitindo ao autor, nos termos da cláusula 2 do mencionado acordo, obter a sentença cuja homo-
logação ora pleiteia (f. 58/59).
Juntou os documentos de f. 10/11 (Procuração - trad. fls.7/9 ), 14/15, 17 (Deliberação ref. a autorização 
para contratos e compromissos - trad. f. 12/13), 18 (trad. f.16), 19/48 (contrato da sociedade alterado e refor-
mulado), 53/56 (sentença de homologaçãoda transação - trad. f. 49/52), 61/62 (trad. f. 58/60 - sentença que 
condenou o réu por inadimplemento).
DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO
FGV DIREITO RIO 1010FGV DIREITO RIO
DIREITO GlObal II
citado mediante carta de ordem (f. 100), o requerido contestou, alegando: a) falha na formação da peça 
citatória, além de falta em algumas das peças que a acompanharam do visto consular brasileiro; b) que a sentença 
é ofensiva da ordem pública e dos bons costumes (rIstF, art. 216), uma vez que se cuida de débito proveniente 
de dívida de jogo e aposta, cuja cobrança não é contemplada no ordenamento jurídico brasileiro (c. civil, art. 
1.477 e ss) (f. 108/109).
replicou o requerente (f. 125/131). argumentou que o réu não pode invocar a origem do débito, já que 
se trata de “transação manifestada em procedimento próprio, segundo as formalidades da legislação americana”, ato 
jurídico de natureza bilateral, comutativa, que só poderia ser anulado, se demonstrada a ocorrência de um dos 
vícios de vontade capitulados nos arts. 86 a 113 do código civil. “Ainda que se invocasse a origem do débito” 
- afirmou -, “tal fato não eximiria o réu do cumprimento da obrigação que se lhe impunha, em razão da licitude da 
dívida em território americano, obedecido o princípio da territorialidade previsto no artigo 9º da Lei de Introdução 
ao Código Civil” (“Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”).
o Ministério Público Federal, pelo indeferimento da sentença, dado cuidar-se originariamente de dívida 
de jogo, e caracterizar ofensa à ordem pública brasileira (f. 134). 
o requerente voltou aos autos para responder ao parecer, dada a aplicação ao caso do artigo 9º da lei de 
Introdução. nessa linha juntou acórdãos do tribunal de alçada civil de são Paulo.
sustentou ainda que a condenação de que se cuida resultou de não ter o réu honrado o acordo firmado e 
homologado pela corte de new Jersey e que não se trata de dívida exclusivamente de jogo, mas que “a verba 
advinda do crédito havido pelo réu foi utilizada livremente pelo Sr. Dualibe nas dependências do hotel (restaurante, 
casino, etc.)”.
É o relatório.
voto
o senHor MInIstro sePÚlveDa Pertence - (relator): 
I.
Improcede a preliminar de defeito na instrução da carta de ordem de citações. nada impõe que nela se con-
tenha cópia integral de todos os documentos que acompanhem a petição inicial (c.Pr.civ., art. 202, II, a contra-
rio, e § 1º); acaso não trasladados papéis relevantes, deles tomará ciência o citado, mediante vista dos autos, à sua 
disposição por todo o prazo de contestação, que, por isso mesmo, se conta da juntada da carta de ordem.
De resto - se é certo que à carta de ordem não se juntaram cópia dos originais dos documentos estrangeiros 
- das cópias das peças essenciais, dela constantes, se verifica a autenticação consular dos originais. 
rejeito a preliminar.
II
É deste teor o parecer da Procuradoria Geral, da lavra do ilmo. subprocurador-Geral Miguel Frauzino e 
subscrito pelo em. titular da chefia do MPF:
“Pretende-se a homologação de sentença prolatada pelo tribunal superior de nova Jersey, condado de atlan-
tic, que condenou o requerido a pagar débito decorrente de dívida de jogo.
o pedido encontra obstáculo no art. 216 do r.I. na legislação brasileira, as dívidas de jogo não obrigam a 
pagamento (arts. 1.477 e 1.478 do código civil).
DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO
FGV DIREITO RIO 1111FGV DIREITO RIO
DIREITO GlObal II
Discorrendo sobre a matéria, doutrina silvio rodrigues:
‘a repulsa do legislador à tavolagem vai mais longe, pois torna ineficaz não só qualquer negócio que encubra 
ou envolva reconhecimento, novação ou fiança de dívida de jogo, como também declara incobráveis as dívidas re-
sultantes de empréstimos destinados à aposta ou ao jogo, feitos na hora de apostar ou de jogar (art. 1.478).
a primeira dessas duas medidas se funda na idéia de que não pode o legislador consentir em que se alcance, 
indiretamente, o resultado que ele diretamente proíbe. se a lei isenta o devedor da obrigação de pagar a dívida de 
jogo, não pode compeli-lo a efetuar tal pagamento só porque as partes se valeram de um procedimento indireto, tal 
a novação ou a transação.’ (Direito civil, saraiva, 1994, volume III, 22ª ed., pg. 365, item 174).
O tema já foi enfrentado por essa Eg. Suprema Corte, ao indeferir o exequatur na CR 7.424 (DJ de 01-08-96).
Embora ninguém possa invocar em seu benefício a própria torpeza, a sentença homologanda não pode ser recebida 
em nosso mundo jurídico em respeito aos princípios da nossa ordem pública.
Opinamos, assim, pelo indeferimento do pedido.”
correto o parecer.
De que se trata, no caso, de sentença executória de transação novatória de dívida de jogo, é indício ex-
pressivo que, para o seu pagamento, além das prestações mensais enumeradas, de valor relativamente pequeno, 
estipulou-se, na alínea b, da cláusula 1 - f. 50:
“b) além dos pagamentos previstos no item (a) acima, o réu pagará ao autor o seguinte, antes da saída do réu 
do cassino do autor em qualquer viagem respectiva:
(1) 50% de todos os ganhos de jogadas a vista (“cash play”) no cassino do autor;
(2) 50% de todos os ganhos de jogada de torneio no cassino do autor; e
(3) o valor integral de todos os reembolsos de viagem e/ou convites (“cash comps”) recebidos pelo réu do 
autor.”
não é, em lugar algum, modalidade usual de pagamento de despesas hoteleiras não ligadas à jogatina: 
muito menos em atlantic city a uma empresa exploradora de cassino.
De resto, alegada na contestação ser o débito original oriundo de jogo, não o negou a requerente no mo-
mento próprio - o da réplica à contestação que ofereceu (f. 125) - mas apenas - e ainda aí genérica e parcialmente 
- ao comentar o parecer da Procuradoria Geral, momento já inoportuno para suscitar a controvérsia de fato (f. 
139).
na réplica, preferiu a requerente apegar-se à licitude e exigibilidade da dívida de jogo no país onde con-
traída, o que, sustenta, à vista do art. 9º lIcc, elidiria a oposição da ordem pública brasileira à homologação 
da sentença.
Invoca, nessa linha, decisões do tribunal de alçada civil de são Paulo (apelações 577331 e 570426).
o argumento não convence.
certo, não se desconhece que, a teor do art. 9º lIcc, “para qualificar e regular as obrigações, aplicar-se-á a lei 
do país em que se constituírem”. É dado que não se desconhece do direito internacional privado brasileiro, mas que 
nada tem a ver, data venia, com a ressalva da ordem pública: “o direito estrangeiro” - ensinou o grande amilcar de 
castro (Direito Internacional Privado, Forense, 1956, I/331 -, “que deve ser imitado por força do sistema indígena 
de direito internacional privado, deixa de o ser, por ofensivo à ordem pública internacional. Em proteção da ordem 
pública internacional, levanta-se no fórum um anteparo da imitação do direito estrangeiro”. “E isso acontece” - expli-
cou o mestre de Minas com a inexcedível clareza de sempre - “porque o direito internacional privado contempla os 
direitos primários em abstrato, isto é, fazendo abstração de suas disposições, tomando-as como símbolos, sem examinar o 
sentido, ou o efeito, de seus dizeres; e por isso mesmo, em caso concreto, o direito estrangeiro que, pelo direito internacio-
nal privado indígena, só foi considerado em abstrato, pode ser insuportável, inconvenientíssimo ao meio social nacional, 
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contrário à moralidade média do povo, ao seu sentimento religioso, à sua economia, ou à sua organização política, e 
para controle de efeitos do direito especial mantém-se essa válvula de segurança, esse meio de defesa da sociedade, 
que é o poder de rejeitá-lo confiado ao juiz. Assim como não é permitida a entrada de estrangeiros doentes de moléstia 
infecto-contagiosa no territórionacional, assim também não se permite no meio social indígena a manutenção de usos 
jurídicos que lhe sejam política, econômica, moral, religiosa ou socialmente prejudiciais. Pode-se dizer que a autorização 
para rejeitar direito estrangeiro ofensivo da ordem pública internacional é modalidade do poder de polícia: O Poder 
Judiciário cuida de afastar o que pode ser nocivo à população que se encontra sob sua jurisdição”.
claro, aí se cogita da ordem pública internacional brasileira como obstáculo à aplicação - rectius, imitação 
– do direito estrangeiro no fórum, ou seja, pelo juiz brasileiro
Mas, na conformidade do art. 17 lIcc, ofensa à ordem pública e aos bons costumes não é obstáculo opo-
nível apenas à eficácia no Brasil de leis ou atos estrangeiros, mas também da sentença estrangeira, a ser verificada 
precisamente neste juízo de homologação.
ser a sentença estrangeira derivada de dívida de jogo tem sido considerado no tribunal motivo bastante 
à sua inexequibilidade no Brasil (cf. por último, cr 5332, 26.5.93, Gallotti, DJ 2.6.93; cr 7424, 25.6.96, 
celso de Mello, DJ 1º.8.96; cr 7426, 7.10.96, Pertence, DJ 15.10.96): se assim se tem decidido para indeferir 
simples rogatória de citação, a fortiori, a circunstância inviabiliza a homologação da sentença estrangeira.
e a qualificação impeditiva do exequatur se estende, conforme o parág. único do art. 1477 c. civ., a 
ato ou contrato que “envolva reconhecimento, novação e fiança de dívida de jogo”, como o da transação de cujo 
inadimplemento resultou a sentença homologanda.
Indefiro a homologação: é o meu voto.
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anexo 2 – aula 1
Processo
cr 9970 / eu - estaDos unIDos Da aMerIca
carta roGatÓrIa
Relator(a)
Min. Marco aurÉlIo
Partes
Just.roG. : tribunal do Distrito dos estados unidos para o Distrito de new Jersey 
IntDo. : osMar ZaMBarDIno 
DIlIG. : cItação
Julgamento
18/03/2002
Publicação
DJ 01/04/2002 P - 0003
Despacho
DecIsão DÍvIDa De JoGo - atIvIDaDe lÍcIta na orIGeM - ação - conHecIMento - 
carta roGatÓrIa - eXecução DeFerIDa. 
1. trata-se de carta rogatória originária do tribunal do Distrito dos estados unidos para o Distrito de new 
Jersey, nos estados unidos da américa, com o objetivo de citar osmar Zambardino, a fim de que responda a 
processo ajuizado por trump Plaza associates. segundo consta do documento de folha 21 a 23, o interessado 
teria perdido, em jogo, no cassino, o montante de us$ 50.000,00 (cinqüenta mil dólares), vindo então a efetuar 
o pagamento por meio de cheques, ao fim devolvidos em face da falta de fundos. À folha 58, determinei que 
se procedesse à intimação do interessado, consoante previsto no artigo 226 do regimento Interno desta corte, 
estando certificado, à folha 64, que não se conseguiu localizar o destinatário. o parecer do Procurador-Geral da 
república, de folha 68, é pelo indeferimento da execução - por implicar atentado à ordem pública brasileira -, 
devendo ser devolvida, assim, a carta à Justiça de origem. 
2. após pedir vista dos autos da sentença estrangeira contestada nº 5.404, relatada pelo ministro sepúl-
veda Pertence, cujo julgamento encontra-se suspenso, tive oportunidade de refletir sobre a espécie e elaborei 
voto que não cheguei a proferir, mediante o qual: na assentada em que teve início a apreciação do pedido de 
homologação de sentença estrangeira, pronunciou-se o relator, Ministro sepúlveda Pertence, no sentido da 
incidência, na espécie, do disposto na parte final do artigo 17 da lei de Introdução ao código civil: art. 17, 
as leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, 
quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. 
considerou o relator a circunstância de as dívidas de jogo ou aposta não obrigarem a pagamento - artigo 
1.477 do código civil. Pedi vista dos autos para maior reflexão sobre a matéria e exame das peculiaridades do 
caso. sr. Presidente, de há muito os brasileiros somos estigmatizados por uma tão suposta quanto propalada 
malemolência, secundada pelo não menos famoso “jeitinho”, traduzido, na maior parte das vezes, como um 
atalho ilegal ou pouco ético com vistas à rápida obtenção de algo que demandaria mais esforço se conseguido 
pelas vias normais. não passa de lenda, sem a mínima comprovação, a frase atribuída a De Gaulle, no sentido 
de este não ser um país sério. 
entretanto, tal folclore bem revela a visão debochada que têm de nós outros países nem sempre assim tão 
prósperos: a pouca seriedade de propósitos, o hedonismo generalizado no comportamento das massas populares 
(consoante o qual toda bem-aventurança advém tão-somente do prazer, e nele se resolve), uma quase atávica 
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passividade teriam engendrado paulatinamente o epíteto de “país do samba, suor e cerveja”, de recanto exótico 
do carnaval e do futebol. eis a imagem do Brasil no exterior. 
no campo da antropologia, houve quem propagasse, como que para reforçar a já baixíssima auto-estima 
brasileira, que tantas mazelas resultaram da fatalidade de termos descendido de degredados, expatriados, enfim, 
bandidos de toda sorte, miscigenados inicialmente com tribos e mais tribos de índios ignorantes e preguiço-
sos, e ao depois com contingentes de negros inconformados, macambúzios e insurretos. tal ideologia foi-nos 
ministrada em lentas, mas contínuas e eficazes doses durante séculos, a exemplo das distorcidas lições sobre 
História colonial, aplicadas ainda hoje, já no curso primário. Pois bem, chegamos às portas do terceiro milênio 
conquistando a duras penas o direito de pelo menos sermos considerados com respeito. Pagamos, com imen-
sos sacrifícios e durante séculos, o tributo da miséria, do medo, do servilismo. curvamo-nos seguidamente à 
prepotência dos poderosos, à ambição desmedida dos mais fortes, e por várias vezes tivemos que engolir a seco 
humilhações profundas à nossa soberania nacional. sobrevivemos a ditaduras subservientes e à exploração ga-
nanciosa de todos os nossos valores - materiais e morais. não obstante, superando uma história de privações e 
abusos, com muito trabalho e criatividade, com o sacrifício de gerações inteiras - relembre-se a perdida década 
de 80 - estamos conseguindo impor-nos como país livre, democrático, em plena maturidade civil. ainda que 
não tenhamos atingido a desejada democracia econômica, o estado de bem-estar social, lentamente, mas a pas-
sos firmes, estamos chegando à tão sonhada inserção na ordem econômica mundial, haja vista a incontestável 
liderança brasileira entre os países sul-americanos. somos a oitava economia do mundo, o quarto exportador 
de alimentos. sim, a duras penas vamos conquistando nosso espaço. repita-se: com o sacrifício de milhões que 
viveram e morreram à míngua de alguma assistência do estado. É preciso ressaltar um ponto de supina impor-
tância. nesta quadra de festejada globalização - cujo verdadeiro nome é hipercapitalismo -, a credibilidade vem 
da segurança. nos dicionários, as duas palavras se entrelaçam. 
e aí chegamos ao ponto nevrálgico desta discussão aparentemente banal, mas em cujo âmago residem 
valores caros à sociedade brasileira. caberia à suprema corte do País dar como que um bill de indenidade, 
referendar um álibi de modo a tornar impune o comportamento irresponsável e amoral de inescrupulosos para 
quem a dignidade é valor menor? 
Há poucos dias, sr. Presidente, v. exa. manifestava preocupação ante as repercussões de uma possível gre-
ve de juízes na imagem do País. Guardadas as devidas proporções, sustento também neste caso que a honra de 
uma nação não pode ficar comprometida, sequer arranhada, por obra e graça, em última análise, da desfaçatez 
sem peias de playboys inconseqüentes: não esqueçamos em momento algumque, na hipótese ora examinada, 
houve o reconhecimento consciente - até com o pagamento de uma primeira parcela - de uma dívida licitamente 
contraída, de acordo com a lei do local em que avençado o débito. a mim parece que, numa época na qual o 
famigerado hipercapitalismo corrói todos os valores, à suprema corte não cabe emprestar aval a procedimento 
escuso de quem se pendura nas filigranas obscuras da letra fria - quiçá morta - da lei, mormente se o texto legal 
padece de notória longevidade. À data em que engenhado o texto civil em comento - 1916 - objetivou-se prote-
ger, em derradeira instância, os alimentos dos mais necessitados contra a insanidade trazida pelo vício hediondo, 
a corromper inexoravelmente perdulários irresponsáveis. 
entrementes, hoje, o que temos? Grassa no nosso País a oficialização da jogatina. Às escâncaras, jogos de 
azar - bingos e loterias em incontáveis e inimagináveis formas - são abundantemente oferecidos em todas as 
esquinas, a cada dia de uma maneira mais surpreendente, com ilusórios atrativos, mil chamarizes. a antinomia, 
na hipótese, é flagrante: a proibição de antigamente contrasta com a habitualidade dos jogos patrocinados pela 
administração Pública (em todas as esferas - federal, estadual e municipal) porque somente aos mais cínicos 
é possível diferenciar os azares da roleta dos reluzentes números - anunciados até pela mídia, em propaganda 
explícita de incentivo, na maioria das vezes de reconhecida qualidade - relacionados com loterias, bingos, “ras-
padinhas” e outros concursos de igual jaez, nos quais também se manipula e explora o contexto de esperança 
num possível revés da sorte. 
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atente-se para o agravante de que, nas roletas e cassinos, normalmente adentram os mais aquinhoados, 
cujas dívidas são supostamente incobráveis segundo o arbítrio da velha lei, o que não ocorre na jogatina oficial: 
quem paga um jogo de loteria com cheque destituído de provisões de fundo é processado e sumariamente exe-
cutado, sem poder usar os argumentos ora articulados pelo requerido. 
Por outro lado, imagine-se o rebuliço que adviria se o Governo, escancarando as cortinas da hipocrisia, e 
encastelando-se na jurisprudência que agora se almeja recrudescida, retrucasse em brado altissonante: não posso 
pagar o prêmio prometido porque se trata de dívida de jogo, incobrável, portanto. ainda que se abandone tal 
argumento, tido talvez por extremado, não se há de recusar que os tempos mudaram bastante de 1916 para cá: 
a impostura, o imediatismo, o despudor, enfim, os escândalos são maiores e dissociam-se em muito do verdadei-
ro espírito que norteou a elaboração da lei que agora, em meio a sofismas e falso tecnicismo, pretende-se fazer 
valer. vale repisar: a intenção do legislador não foi no sentido de resguardar esbanjadores tão inconseqüentes 
quanto argutos, e assim, por vias transversas, prejudicar a imagem desgastada, vilipendiada do País, com dano 
irreparável. se o vezo, o mau costume pega, não há quem controle a repercussão dessa nefasta jurisprudência, 
mormente nos dias de hoje, em que a notícia é sempre tão on line no mundo inteiro. não será inverídica, então, 
a notícia de que no Brasil é possível gastar-se no exterior sem arcar com custos, isso com o endosso definitivo, 
irrecorrível do supremo tribunal Federal. 
close para o devedor que, displicentemente, explica, mascando chicletes: devo, não nego, mas não pago por-
que a legislação do meu país protege pessoas como eu. senhor Presidente, é preciso que seja observado um mínimo 
de decoro, principalmente se a questão envolve o respeito a normas legítimas de outros países. Frisemos, subli-
nhando, que a harmonia só acontece ante o absoluto respeito ao direito de outrem. veja-se, por absurdo, a seguinte 
hipótese. até recentemente, a venda de pílulas anticoncepcionais era terminantemente proibida no Japão. vamos 
imaginar que um determinado cidadão japonês houvesse comprado de nossa indústria farmacêutica algumas tone-
ladas desse medicamento e faturasse a operação. recebida a partida, na hora de pagar, retruca: esse contrato é nulo 
porque a origem da transação é obscura e rechaçada no meu país. Por isso, não pago e muito menos devolvo o que 
adquiri. a hipótese beira as raias do ridículo, de tão absurda se afigura aos olhos do homem mediano. 
no entanto, rechaçamos a mesma lógica no caso em tela, em que o requerido adquiriu bens e serviços, 
usufruiu de um crédito, participou de uma atividade lícita pela qual se comprometeu a pagar. Daí a minha per-
plexidade e um certo inconformismo diante de situação que reputo das mais esdrúxulas. assumindo a postura 
do Juiz atento à almejada Justiça, sem menosprezo à lei e ao Direito, concluo de forma diversa da externada pelo 
relator, vinculada a vetusta jurisprudência - e estou certo não fosse isso, à mercê de grande sensibilidade, outro 
seria o voto de s. exa. sobre o real alcance das normas de regência. 
aliás, pesquisa realizada nos anais da corte mostrou-se infrutífera. não encontrei um único acórdão do 
Plenário sobre o tema. os precedentes dizem respeito a decisões da Presidência da corte negando o exequatur, 
sendo que nestas não foi analisada a questão relativa à observância do artigo 9º da lei de Introdução ao código 
civil. confira-se com os processos de concessão de exequatur nºs 5332-1, 7424-7 e 7426-3. 
conclamo a corte a uma reflexão sobre o tema, mormente nesta quadra em que o artigo 1.477 do código 
civil ganha contornos mitigados, revelando ser fruto de proibição relativa. ninguém desconhece a inexistência, 
no ordenamento jurídico nacional, de ação para cobrar dívida de jogo ou aposta proibidos. 
todavia, não se está diante, em si, de ação ajuizada com o fito de impor ao requerido sentença condena-
tória de pagamento. o caso é diverso. o requerido contraiu, nos estados unidos da américa do norte, obri-
gação de satisfazer a quantia de quatrocentos e setenta mil dólares em prestações sucessivas, havendo honrado o 
compromisso somente no tocante a cinqüenta e cinco mil dólares. a origem do débito mostrou-se como sendo 
a participação em jogos de azar, mas isso ocorreu nos moldes da legislação regedora da espécie. no país em que 
mantida a relação jurídica, o jogo afigura-se como diversão pública propalada e legalmente permitida. 
ora, norma de direito internacional, situada no mesmo patamar do artigo regedor da eficácia das sentenças 
estrangeiras, revela que “para qualificar e reger as obrigações aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem” 
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- cabeça do artigo 9º da lei de Introdução ao código civil. esse dispositivo apenas é condicionado, quando a 
obrigação deva ser executada no Brasil, à observância de forma essencial, mesmo assim admitidas as peculiarida-
des da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato - § 1º do aludido artigo 9º. Portanto, não cabe, no 
caso, aplicar, relativamente à obrigação contraída e objeto de homologação em juízo, o artigo 1.477 do código 
civil, mas ter presente o direito estrangeiro. 
É certo estar a homologação de sentença estrangeira subordinada à ausência de desrespeito à soberania 
nacional, à ordem pública e aos bons costumes. entretanto, na espécie não concorre qualquer dos obstáculos. 
Dos três, todos previstos no artigo 17 da lei de Introdução ao código civil, o que aqui se faz merecedor de 
análise é o concernente à ordem pública, porquanto impossível é cogitar-se, em se buscando homologação 
de sentença estrangeira, de afronta à soberania nacional e aos bons costumes, no que envolvem conceitos 
flexíveis. 
ora, sob o ângulo do direito internacional privado, tem-se como ordem pública a base social, política e 
jurídica de um estado, considerada imprescindível à própria sobrevivência. É o casode indagar-se, à luz dos va-
lores em questão: o que é capaz de colocar em xeque a respeitabilidade nacional: a homologação de uma sentença 
estrangeira, embora resultante de prática ilícita no Brasil, mas admitida no país requerente, ou o endosso, pelo 
próprio estado, pelo Judiciário, de procedimento revelador de torpeza, no que o brasileiro viajou ao país-irmão 
e lá praticou o ato que a ordem jurídica local tem como válido, deixando de honrar a obrigação assumida? a res-
posta é desenganadamente no sentido de ter-se a rejeição da sentença estrangeira como mais comprometedora, 
emprestando-se ao território nacional a pecha de refúgio daqueles que venham a se tornar detentores de dívidas 
contraídas legalmente, segundo a legislação do país para o qual viajarem. 
uma coisa é assentar-se que o jogo e a aposta, exceto as loterias federal e estadual, a quina, a supersena, a 
megasena, a loteria esportiva, a lotomania, a trinca, as diversas formas de raspadinha e os bingos, não são atos 
jurídicos no território nacional, ficando as dívidas respectivas no campo do direito natural, na esfera da moral. 
Quanto a isso, a disciplina pátria não permite qualquer dúvida. 
outra diversa é, olvidando-se a regra de sobredireito do artigo 9º da lei de Introdução ao código civil 
- a afastar a normatização pelas leis do Brasil da prática implementada e segundo a qual, para qualificar e reger 
as obrigações há de ser aplicada a lei do país em que se constituírem - vir-se a recusar a prevalência de sentença 
prolatada consoante as normas do país em que situado o órgão julgador. nem se diga que a homologação da 
sentença estrangeira ganha, em si, aspectos ligados a um verdadeiro julgamento. 
as situações são díspares. enquanto, defrontando-se com uma ação, o julgador deve apreciá-la na extensão 
total que possua, relativamente à homologação de sentença estrangeira cumpre perquirir tão-só a existência de 
situação válida e a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e aos bons costumes. 
aliás, aqui mesmo no Brasil, restando prolatada sentença sobre dívida de jogo ou aposta ilegais e transitada 
em julgado (ante o fato de não se haver percebido a origem da dívida), admite-se a execução do título respectivo 
que, enquanto não desconstituído, tem força de sentença transitada em julgado. a hipótese equipara-se a ação 
versando sobre os jogos admitidos no Brasil. ninguém se atreveria a dizer carecedor da ação alguém que viesse 
- e muitos já o fizeram - a demandar visando a receber prêmio de uma das nossas múltiplas loterias. somente o 
que passível de ser rotulado como contravenção é que não gera a possibilidade de exigir-se em juízo. 
repita-se: o jogo nos estados unidos está em tudo igualizado àqueles jogos endossados pela nossa ordem 
jurídica. concluindo, as regras do artigo 9º da lei de Introdução ao código civil e do artigo 1.477 do código 
civil são incompatíveis. a primeira exclui a incidência da segunda, revelando lícito o jogo praticado na américa 
do norte, como, aliás, é o que, no Brasil, tem cunho oficial, sendo que a participação do estado abre margem, 
por isso mesmo, a questionamentos na Justiça. aqui, somente conflita com os bons costumes o jogo ligado à 
contravenção, não aquele revelado pelos bingos e loterias supervisionados pelo estado. conclui-se, assim, sob 
pena de flagrante incoerência, estar o jogo gerador da dívida constante da sentença que se quer homologada em 
tudo equiparado aos permitidos no solo pátrio. 
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Fora isso, é sofismar; é adotar postura em detrimento da melhor brasilidade; é enveredar por caminho 
tortuoso; é solapar a respeitabilidade de nossas instituições, tornando o Brasil um país desacreditado no cenário 
internacional, porque refúgio inatingível de jogadores pouco escrupulosos, no que, após perderem em terras 
outras, para aqui retornam em busca da impunidade civil, da preservação de patrimônio que, por ato próprio, 
de livre e espontânea vontade, em atividade harmônica com a legislação de regência - do país-irmão (artigo 9º 
da lei de Introdução ao código civil) -, acabaram por comprometer. 
em última análise, peço vênia ao nobre Ministro relator para entender que, relativamente à obrigação que 
deu margem à sentença, cumpre observar não o disposto no artigo 1.477 do código civil, mas a regra do artigo 
9º da lei de Introdução dele constante, que direciona ao atendimento da legislação do país em que contraída a 
obrigação. 
com isso, afasto algo que não se coaduna com a carta da república, que é o enriquecimento sem causa, 
mormente quando ligado ao abuso da boa-fé de terceiro, configurado no que o requerido se deslocou do Brasil 
para a américa do norte, vindo a praticar jogos de azar legitimamente admitidos, e até incentivados como mais 
uma forma de atrair turistas, contraindo dívida e retornando à origem onde possui bens, quem sabe já tendo 
vislumbrado, desde o início, que não os teria ameaçados pelo credor. o requerido assumiu livremente uma 
obrigação, e o fez, repita-se, em país no qual agasalhada pela ordem jurídica, devendo o pacto homologado ser, 
por isso mesmo, respeitado. sopesando as peculiaridades do caso, concluo que não se tem, na espécie, a inci-
dência do disposto no artigo 1.477 do código civil e, por via de conseqüência, que descabe falar em sentença 
estrangeira contrária à ordem pública e, portanto, no óbice à homologação prevista no artigo 17 da lei de In-
trodução ao código civil. 
aliás, outro não foi o entendimento que acabou por prevalecer no julgamento, pelo tribunal de Justiça do 
Distrito Federal, dos embargos infringentes interpostos por Wigberto Ferreira tartuce - Processo nº 44.921/97, 
quando, em 14 de outubro do ano findo de 1999, a Desembargadora revisora Dra. adelith de carvalho lopes, 
autora do primeiro voto divergente que formou na corrente majoritária, deixou consignada a incidência, na es-
pécie, do artigo 9º em comento, isso ao defrontar-se com situação concreta menos favorável que a destes autos, 
porque ligada ao novo instituto de monitória. 
eis a ementa redigida: DIreIto InternacIonal PrIvaDo. DÍvIDa De JoGo contra-
ÍDa no eXterIor. PaGaMento coM cHeQue De conta encerraDa. art. 9º Da leI 
De IntroDução ao cÓDIGo cIvIl. orDeM PÚBlIca. enrIQuecIMento IlÍcIto. 1. o 
ordenamento jurídico brasileiro não considera o jogo e a aposta como negócios jurídicos exigíveis. entretanto, 
no país em que ocorreram, não se consubstanciam tais atividades em qualquer ilícito, representando, ao con-
trário, diversão pública propalada e legalmente permitida, donde se deduz que a obrigação foi contraída pelo 
acionado de forma lícita. 2. Dada a colisão de ordenamentos jurídicos no tocante à exigibilidade da dívida de 
jogo, aplicam-se as regras do Direito Internacional Privado para definir qual das ordens deve prevalecer. o art. 
9º da lIcc valorizou o locus celebrationis como elemento de conexão, pois define que, “para qualificar e reger 
as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.” 3. a própria lei de Introdução ao código civil 
limita a interferência do Direito alienígena, quando houver afronta à soberania nacional, à ordem pública e aos 
bons costumes. a ordem pública, para o direito internacional privado, é a base social, política e jurídica de um 
estado, considerada imprescindível para a sua sobrevivência, que pode excluir a aplicação do direito estrangeiro. 
4. considerando a antinomia na interpenetração dos dois sistemas jurídicos, ao passo que se caracterizou uma 
pretensão de cobrança de dívida inexigível em nosso ordenamento, tem-se que houve enriquecimento sem causa 
por parte do embargante, que abusou da boa fé da embargada, situação essa repudiada pelo nosso ordenamento, 
vez que atentatória à ordem pública, no sentido que lhe dá o Direito Internacional Privado. 5. Destarte, referen-
dar o enriquecimentoilícito perpretado pelo embargante representaria afronta muito mais significativa à ordem 
pública do ordenamento pátrio do que admitir a cobrança da dívida de jogo. 6. recurso improvido. no mesmo 
sentido, ante o artigo 9º da lei de Introdução ao código civil, decidiu o tribunal de alçada criminal do estado 
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de são Paulo - apelações nºs 577.331 e 570.426 - precedentes citados pelo requerente e noticiados no voto do 
relator. Portanto, acolho o pedido de homologação formalizado. 
3. Pelas razões acima, defiro a execução desta carta rogatória, a ser remetida à Justiça Federal de são Paulo, 
para a ciência pretendida. ressalto a necessidade de todo o empenho possível na localização do interessado. 
4. Publique-se. Brasília, 18 de março de 2002. Ministro Marco aurÉlIo Presidente 
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aula 2. trataDos internacionais e conflitos coM a constituição feDeral e leis internas 
nota ao aluno
a bibliografia obrigatória desta aula apresentará aos alunos as principais fontes do Direito Internacional 
Privado e as discussões a elas relativas, como, por exemplo, o valor da doutrina e da jurisprudência como suas 
fontes.
Dentre as fontes de Direito Internacional Privado, é dada especial atenção aos tratados internacionais que 
“significa um acordo internacional celebrado entre estados em forma escrita e regido pelo direito internacional, 
que conste, ou de um instrumento único ou de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja a sua 
denominação específica.” (definição dada pela convenção da organização das nações unidas sobre o Direito 
dos tratados - convenção de viena)
o material também apresentará ao aluno o conceito de tratado internacional, suas funções, como eles são 
integrados no ordenamento jurídico brasileiro e qual sua posição na hierarquia das leis.
nesta aula, debateremos o problema dos conflitos existentes entre, de um lado, as normas constantes de 
tratados internacionais e, de outro, as demais leis e a constituição Federal.
conforme exposto por Jacob Dolinger, a legislação de diversos países estabelece expressamente a posição 
hierárquica dos tratados internacionais no ordenamento jurídico. na França, o artigo 55 da constituição de 
1958 prescreve que “os tratados e acordos regularmente ratificados ou aprovados têm, a partir de sua publicação, 
uma autoridade superior à das leis, desde que respeitados pela outra parte signatária.”
Já a constituição dos estados unidos reza que “esta constituição e as leis complementares e todos os tra-
tados já celebrados ou por celebrar sob a autoridade dos estados unidos constituirão a lei suprema do país.”
a constituição brasileira não contém nenhum dispositivo semelhante, deixando para a doutrina e a juris-
prudência a tarefa de definir qual a posição hierárquica assumida pelos tratados internacionais no ordenamento 
jurídico brasileiro.
a recente promulgação da emenda constitucional nº 45/2004 resolveu parcialmente o problema, mas 
única e exclusivamente em relação aos tratados referentes a direitos humanos, ao acrescentar o § 3o ao art. 5o, 
com o seguinte teor:
“§ 3º os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada casa 
do congresso nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às 
emendas constitucionais.”
a dúvida permanece quanto aos tratados sobre as demais matérias.
a discussão se dará por meio da análise dos casos abaixo:
caso a
sergio Botelho propôs ação indenizatória contra atalho viação aérea s.a., para o ressarcimento dos da-
nos materiais e morais decorrentes do atraso de mais de 24 horas no vôo entre a cidade do México e o rio de 
Janeiro.
em primeira instância, a ação foi julgada parcialmente procedente, reconhecendo-se apenas os danos ma-
teriais, no limite da convenção de varsóvia, condenando-se a ré a pagar a quantia de 15 mil francos, quando da 
liquidação da sentença, custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% do valor da condenação.
ambas as partes interpuseram recurso apelação.
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a convenção de varsóvia, transformada em lei interna por meio da publicação do Decreto nº 20.704, de 
24 de novembro de 1931, estabelece limite para indenização:
artIGo 22.
(1) no transporte de pessoas, limita-se a responsabilidade do transportador, á importancia de cento e vinte e 
cinco, mil francos, por passageiro. se a indemnização, de conformidade com a lei do tribunal que conhecer da ques-
tão, puder ser arbitrada em constituição de renda, não poderá o respectivo capital exceder aquelle limite. entretanto, 
por accordo especial com o transportador, poderá o viajante fixar em mais o limite de responsabilidade.
(2) no transporte de mercadorias, ou de bagagem despachada, limita-se a responsabilidade do transportador 
à quantia de duzentos e cincoenta francos por kilogramma, salvo declaração especial de “interesse na entrega”, feita 
pelo expedidor no momento de confiar ao transportador os volumes, e mediante o pagamento de uma taxa supple-
mentar eventual. neste caso, fica o transportador obrigado a pagar até a importancia da quantia declarada, salvo se 
provar ser esta superior ao interesse real que o expedidor tinha entrega.
(3) Quanto aos objectos que o viajante conserve sob os guarda, limita-se a cinco mil francos por viajante a 
responsabilidade do transportador.
(4) as quantias acima indicadas consideram-se referentes ao franco francez, constituido de sessenta e cinco 
e meio milligrammas do ouro, ao titulo de novecentos millesimos de mental fino. ellas se poderão converter, em 
numeros redondos na moeda nacional de cada, paiz.
Já o art. 5º, v, da constituição da república de 1988, e os artigos 6º, vI, 20, II, e 54, I, do código de 
Defesa do consumidor (lei nº 8.078/1990) estabelecem o seguinte:
art. 5º todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprie-
dade, nos termos seguintes: (…)
v - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral 
ou à imagem;
art. 6º são direitos básicos do consumidor:(…)
vI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;
(...)
art. 20. o fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo 
ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da 
oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: (...)
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e 
danos;
(...)
art. 51. são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos 
e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza 
dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. nas relações de consumo entre o fornece-
dor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;”
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Pergunta
existe conflito entre a convenção de varsóvia e o código de Defesa do consumidor? caso positivo, qual 
regra deve prevalecer? 
caso B
voando Baixo s.a. interpôs recurso extraordinário, com base no art. 102, III, a, da constituição Federal, 
contra acórdão da turma recursal dos Juizadosespeciais cível e criminal de campinas, são Paulo.
a decisão recorrida entendeu que, no conflito entre as normas do código de Defesa do consumidor e 
da convenção de varsóvia sobre a prescrição, em ação de indenização de passageiro contra empresa aérea, pre-
valecem as disposições mais favoráveis do cDc, que estabelecem o prazo prescricional de cinco e não de dois 
anos.
voando baixo s.a. sustenta que a decisão recorrida ofende os arts. 5º, §2º, e 178 da constituição Federal, 
e argumenta que prevalecem, no âmbito interno, as normas estabelecidas em tratados internacionais, pois estes 
têm hierarquia superior às leis. Por outro lado, afirma ainda, que a convenção de varsóvia é lei especial e o cDc 
é lei geral, devendo aquela sobrepor-se a este, como determina a lei de Introdução ao código civil.
em contra-razões, o passageiro antonio Pedro pugna pela manutenção da decisão recorrida. 
considerando que, para este tipo de ações, a convenção de varsóvia estabelece o prazo prescricional de 2 
anos, enquanto o cDc fixa o de 5 anos, qual norma deve prevalecer?
Bibliografia obrigatória 
DolInGer, Jacob. Direito internacional privado: parte geral. rio de Janeiro: renovar, 2005, 8ª ed., pp. 
89/118. 
acórdãos disponíveis nos sites do stJ e do stF: resp 235.678/sP, rel. Min. ruy rosado de aguiar, 4ª turma 
do stJ, DJ de 14.02.00; resp 156.238/sP, rel. Min, Waldemar Zveiter, 3ª turma do stJ, DJ de 30.08.99; 
re 297.901/rs, rel. Min. ellen Gracie, 2ª turma do stF, DJ de 31.03.06.
Bibliografia complementar
tIBÚrcIo, carmen. o Direito constitucional Internacional no Brasil pós-ec nº 45/2004 in revista Foren-
se, v. 384, pp. 17-26.
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aula 3. lei gloBal?
nota ao aluno
 
a aproximação dos países, o aumento do fluxo de capitais, a mudança nos meios de 
produção, a circulação de produtos e de pessoas, o aprimoramento dos meios de transporte 
e de comunicação, dentre outros fatores, contribuíram sobremaneira para a globalização e a 
intensificação das relações internacionais.
a diversidade de sistemas jurídicos e normas existentes em cada país, — fruto da 
evolução histórico-social de cada sociedade —, inegavelmente, opera como um entrave ou 
elemento dificultador das relações internacionais.
segundo o ex-presidente da república Fernando Henrique cardoso, citado na in-
trodução deste roteiro, a globalização econômico-financeira e comercial já ocorreu. agora, 
demanda-se a globalização das leis, a criação de institutos e regras que otimizem e simplifi-
quem o relacionamento e a interação entre os estados.
Para tanto, diversas instituições e organizações se dedicam à criação de normas inter-
nacionais e à uniformização do direito. a seguir, alguns deles. 
a primeira delas é a uncItral (comissão das nações unidas para o Direito Mer-
cantil Internacional), estabelecida pela assembléia Geral da onu de 1966, a qual reconhe-
ceu que as disparidades entre as leis nacionais criavam obstáculos ao desenvolvimento do 
comércio internacional. os 60 (sessenta) estados-membros que a compõem consideraram 
que, por meio desta comissão, a onu poderia desempenhar um papel mais ativo na redu-
ção ou na eliminação destes obstáculos.
outra é a conferência Permanente da Haia de Direito Internacional Privado, uma 
organização intergovernamental de caráter global, com mais de 60 (sessenta) membros, que 
desenvolve e oferece instrumentos jurídicos multilaterais para responder às necessidades 
mundiais. a missão estatutária da conferência consiste em trabalhar pela “unificação pro-
gressiva” do direito internacional privado de cada um de seus países-membros, o que impli-
ca encontrar enfoques internacionalmente reconhecidos para questões como a competência 
internacional dos tribunais, o direito aplicável, o reconhecimento e a execução de sentenças 
em numerosas matérias, desde o direito comercial ao processo civil internacional, além da 
proteção de crianças e jovens, questões de direito matrimonial e estatuto pessoal. 
temos, ainda, as seis conferências Interamericanas de Direito Internacional Privado, 
cIDIPs, realizadas, sendo que já estão em preparativos a cIDIP vII. segundo Frederi-
co Marques e nadia de araújo, “essas conferências adotaram a metodologia de reuniões 
técnicas setorizadas, com aprovação de várias convenções, fugindo da antiga tendência de 
codificações amplas. Isso porque a revisão do código Bustamante ou a elaboração de um 
grande código de direito internacional privado se mostrou assunto por demais complexo, e 
não despertou interesse. o Brasil tem participado nas reuniões das conferências, assinou a 
maioria das convenções e, apesar de durante 19 (dezenove) anos não ter ratificado qualquer 
das convenções, desde 1994, vem, gradativamente, mudando sua postura frente às cIDIPs 
e ratificando importantes convenções (…).”*
além disso, há o Instituto Internacional para a unificação do Direito Privado, o unI-
DroIt, cuja definição deixamos a cargo do professor lauro Gama Jr., um dos maiores 
conhecedores do assunto**: 
* aRaÚJO, Nadia e Frederico 
Marques, http://www.dip.com.
br/index2.php?option=com_
content&do_pdf=1&id=2�
** JR. lauro Gama. Contratos 
internacionais à luz dos prin-
cípios do UNIDROIT 200�: soft 
law, arbitragem e jurisdição. 
Rio de janeiro: Renovar, 200�, 
pp. 200/202.
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“o Instituto Internacional para a unificação do Direito Privado (unIDroIt) é uma organização mundial 
internacional governamental, com sede em roma (Itália), cujo objetivo é o estudo das vias e métodos para a moder-
nização, harmonização e coordenação do direito privado, em particular do direito comercial, entre estados ou grupos 
de estados. Foi criado em 1926, como órgão auxiliar da sociedade das ações (sDn) — entidade que funcionou 
entre 1920 e 1946, e precedeu a organização das nações unidas (onu). nessa condição, o unIDroIt empre-
endeu suas atividades até a dissolução de facto da liga das nações, no início da segunda Guerra Mundial, em 1939. 
em 1940, o Instituto foi reformulado com base num acordo internacional multilateral — o estatuto orgânico do 
unIDroIt — que atualmente vincula 59 estados-membros, representativos dos cinco continentes, de todas as 
tradições jurídicas contemporâneas e de vários sistemas políticos e econômicos.
a relevância do unIDroIt como organização internacional voltada para a unificação do direito privado foi 
reconhecida pelo Governo Brasileiro, apenas dois anos após a sua criação, em parecer do então consultor Jurídico 
do Itamaraty, clóvis Bevilaqua (1859-1944), verbis:
‘essas ponderações nos induzem a acreditar que, se a humanidade tende, irrecusavelmente, à unida-
de pela civilização; se a estrutura da sociedade, em linhas gerias, é semelhante, onde quer que o homem a 
organizes; se a experiência histórica demonstra a possibilidade das adaptações jurídicas, em massa ou por 
enxertos limitados; tudo leva a supor que promover a unidade do direito privado é trabalhar no sentido da 
civilização.
e como, simultaneamente, na europa e na américa, novos órgãos consagrados à elaboração do direito, 
o Instituto Internacional de Roma e as conferências Pan-americanas trabalham pela unificação do direito 
privado, é que uma necessidade geral se afirma nesse sentido e mais uma curva se desenha na espiral da 
evolução jurídica. naturalmente, essa unidade não abrangerá a totalidade dos institutos e relações jurídicas, 
porque as condições históricas e mesológicas subsistirão sempre, mantendo diferenciações, por mais que se 
avolume o poder nivelador da civilização. Mas já hoje é lícito e conveniente orientar a cultura jurídica no 
sentido da unificação de alguns departamentos do direito privado, para que este exprima a realidade da vida 
social no momento presente, em que as relaçõesindividuais além das fronteiras de cada povo, de mais em 
mais se alastram e intensificam.’”
considerando o acima exposto e os textos constantes da bibliografia, pode-se concluir que, apesar de to-
das as diferenças sócio-econômicas, históricas, culturais e peculiaridades de cada país, a globalização legislativa 
parece ser um caminho sem volta, na medida em que as relações interestatais se ampliam e se intensificam cada 
vez mais. Diante disso, a questão que se pretende discutir é a maneira de como se portarão os diferentes ordena-
mentos frente a esta nova realidade. 
Perguntas
seria viável a criação de uma lei global? seria ela eficaz? Qual seria a extensão dessa lei? Quais matérias 
podem ser mais facilmente tratadas de maneira global? 
Bibliografia obrigatória 
DolInGer, Jacob. Direito internacional privado: parte geral. rio de Janeiro: renovar, 2005, 8ª ed., pp. 
33/47.
anexo – conferência proferida pelo ex-Presidente Fernando Henrique cardoso: “Globalização e outros temas 
contemporâneos”
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anexo – aula 3
GLOBALIZAÇÃO E OUTROS TEMAS CONTEMPORÂNEOS
“Conseqüências Sociais da Globalização” 
Conferência do Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso,
no Indian International Centre. Nova Delhi, Índia, 27 de janeiro de 1996
i - introdução. as diferentes acepções da globalização
É um prazer para mim compartilhar com os presentes algumas reflexões sobre as conseqüências da globa-
lização. É desnecessário dizer que um tema de tamanha complexidade não pode ser analisado, em todas as suas 
implicações, numa conferência breve como esta. De qualquer modo, os limites de tempo que tenho de respeitar 
terão um efeito benéfico: serei conciso e assim concentrarei minha atenção nos tópicos de interesse particular 
para países em desenvolvimento como Brasil e Índia.
a globalização tornou-se uma espécie de palavra da moda. Muitas vezes dita, mas raramente com o mesmo 
significado. trata-se, na verdade, de um daqueles conceitos tão amplos, que é empregado por diferentes pessoas 
para explicar fatos de natureza completamente diversa. Mesmo quando qualificada como “econômica”, a globa-
lização ainda pode ser associada a uma grande variedade de fenômenos.
Possivelmente, a primeira noção que nos vem à mente ao falarmos da globalização econômica é a da sempre 
crescente expansão dos fluxos financeiros internacionais e de seu impacto sobre as políticas monetária e cambial 
das economias nacionais. os efeitos da dimensão financeira da globalização são de certa forma controversos. se, 
por um lado, a mobilidade dos fluxos financeiros através das fronteiras nacionais pode ser vista como uma forma 
eficiente de alocar recursos internacionalmente e de canalizá-los para países emergentes, por outro, a volatilidade 
dos capitais de curto prazo e a possibilidade de seu uso para ataques especulativos contra moedas são conside-
rados como uma nova forma de ameaça à estabilidade econômica dos países. noutras palavras, o movimento 
virtualmente desimpedido de grandes volumes de capitais cria, ao mesmo tempo, oportunidades e riscos.
outro aspecto é a globalização da produção e a conseqüente ampliação das correntes internacionais de co-
mércio. no passado, a regra geral era de que todas as fases da produção de uma determinada mercadoria fossem 
realizadas num mesmo país, e esta mercadoria era então consumida localmente ou exportada. Isso já não corres-
ponde à verdade. Diminuiu o conteúdo nacional da maioria das mercadorias, e fases intermediárias na produção 
de um bem agora ocorrem em diferentes países. os produtos finais, especialmente aqueles mais intensivos em 
tecnologia, dificilmente podem receber o rótulo de serem integralmente feitos (made in) num só país. Isto é o 
resultado da interação de várias novas tendências, entre as quais a redução nos custos da mobilidade dos fatores 
de produção e as economias de escala exigidas por processos produtivos crescentemente sofisticados.
o comércio internacional de bens intermediários se faz sobretudo entre unidades industriais da mesma 
empresa. as corporações freqüentemente estruturam suas atividades de modo a atender estratégias de marketing 
e produção destinadas a reforçar sua posição competitiva regional ou global. os países são selecionados para 
receber investimentos destas corporações com base no quadro geral das vantagens comparativas que oferecem.
Isto tem levado a uma acirrada competição entre países - em particular aqueles em desenvolvimento - por 
investimentos externos. em contraste com as décadas de 60 e 70, quando julgavam necessário introduzir con-
troles e restrições para disciplinar, em seus mercados, as atividades das transnacionais, os países em desenvolvi-
mento têm reformulado suas políticas comerciais e econômicas, em parte para oferecer um ambiente doméstico 
atraente para os investimentos externos, os quais se fazem necessários para complementar as suas taxas internas 
de poupança geralmente insuficientes.
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A globalização também conduz a uma crescente uniformidade do arcabouço institucional e do qua-
dro regulatório em todos os países. Pois, para que possa desenvolver-se a globalização da produção, é 
preciso que as regras nos diferentes países sejam similares, de modo que não venham a prevalecer, em 
qualquer país, vantagens “artificiais “. Exemplo desta tendência é a introdução, na Organização Mundial 
de Comércio, de padrões internacionais para os direitos de propriedade intelectual e para as regras de 
investimento. Temas que, no passado, eram considerados como de competência interna de cada país estão 
agora sujeitos a regimes multilaterais de regras. Naturalmente que há limites a essa crescente uniformiza-
ção de padrões, em razão das próprias diferenças nacionais. E é complexa a interação entre as tendências 
globais no sentido da homogeneidade e as identidades nacionais.
Finalmente, a globalização econômica está associada a uma revolução nos métodos de produção que resul-
tou numa mudança significativa nas vantagens comparativas das nações. a posição competitiva de um país em 
relação aos demais é, cada vez mais, determinada pela qualidade de seus recursos humanos, pelo conhecimento, 
pela ciência e tecnologia aplicadas à produção. abundância de mão-de-obra e matérias-primas é vantagem com-
parativa de importância cada vez menor, na medida em que aqueles dois fatores de produção representam par-
celas declinantes do valor agregado em praticamente todos os bens. esta tendência irreversível torna improvável 
que o êxito dos países do sul derive exclusivamente da mão-de-obra barata e dos recursos naturais.
ii - as conseqüências da globalização
ii. 1 - a mudança no papel do estado
Intimamente vinculada à questão da globalização econômica é a mudança no papel do estado. a globali-
zação significa que as variáveis externas passaram a ter influência acrescida nas agendas domésticas, reduzindo 
o espaço disponível para as escolhas nacionais. Já mencionei que os requisitos para a competitividade externa 
levaram a uma maior homogeneidade nos aspectos institucionais e regulatórios dos estados, que tais requisitos 
deixaram menor margem de manobra para estratégias nacionais altamente diferenciadas em relação, entre ou-
tros, ao trabalho e à política macroeconômica. o equilíbrio fiscal, por exemplo, tornou-se um novo dogma,, 
conforme bem ilustra o tratado de Maastricht da união européia, que fixa parâmetros dentro dos quais devem 
situar-se os números do equilíbrio orçamentário de seus países-membros.
tanto a opinião pública internacional quanto o comportamento dos mercados também passaram a de-
sempenhar um papel que antes não tinham na redefinição dos limites possíveis de ação para o estado. a infor-
mação movimenta-se livre

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