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PONTO 01 (HOMICÍDIO).docx

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MATERIAL DE DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL
TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
CAPÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A VIDA
PONTO 01 – HOMICÍDIO:
1 – Introdução: 
Conceito: É a injusta morte de uma pessoa praticada por outrem (Rogério Sanches).
Quando Nelson Hungria fala sobre o crime de homicídio ele diz que é o “tipo central de crimes contra a vida e o ponto culminante na orografia dos crimes; é o crime por excelência”.
Há um interesse muito grande do Estado na proteção do bem jurídico vida, o qual, vale lembrar, é pressuposto de exercício de todos os outros bens do ser humano. Nesta perspectiva há doutrinadores, como Magalhães Noronha, que colocam o Estado como sujeito passivo no crime de homicídio.
Por esta razão, há uma grande proteção ao bem jurídico vida, o que se revela na tipificação do homicídio em suas variadas modalidades (simples, privilegiado, qualificado e majorado), bem como na previsão do crime de induzimento, auxilio ou instigação ao suicídio; infanticídio e aborto. 
 A preocupação do Estado com a vida é tamanha que ele próprio se impõe uma restrição, ao estabelecer no art. 5º, XLVII, “a”, que não haverá pena de morte. 
Contudo, não se pode deixar de anotar que o direito à vida, como ocorre com a grande maioria dos outros direitos, não é absoluto, ressalvando a própria Constituição uma situação em que se admitirá a pena de morte, qual seja, no caso de guerra declarada.
Outra exceção ao direito à vida são as normas permissivas previstas no Código Penal, as quais, em determinadas circunstâncias, autoriza-nos a agir contra bens jurídicos de terceiros, se preciso a própria vida, como ocorre na legítima defesa e estado de necessidade, por exemplo. 
Topografia do crime de homicídio: 
- 121, caput: homicídio simples;
- 121, § 1º: homicídio doloso privilegiado;
- 121, § 2º: homicídio doloso qualificado;
- 121, § 3º: homicídio culposo;
- 121, § 4º: homicídio majorado;
- 121, § 5º: perdão judicial;
- 121, § 6º: homicídio praticado por milícia ou grupo de extermínio (Inovação da Lei 12.720/2012);
Agora, onde encontramos o homicídio preterdoloso?
Resposta: o homicídio preterdoloso é um nome diferente para a lesão corporal seguida de morte, prevista no art. 129, § 3º. Na verdade o que se chama de “homicídio preterdoloso” não é crime contra a vida, mas sim contra a incolumidade pública.
2 - Homicídio simples (art. 121, caput):
Art. 121. Matar alguém:
Pena – reclusão, de seis a vinte anos.
2.1) Bem jurídico protegido: 
Bem jurídico é o interesse que a norma penal incriminadora busca proteger, resguardar. No caso em estudo, o bem jurídico protegido é a vida.
Ressalve-se que estamos falando da vida extrauterina, pois se se tratar de vida intrauterina, aí a tipificação já migra para o crime de aborto.
Atenção: não se deve confundir bem jurídico com objeto material do crime. 
Bem jurídico, como já dito, é o interesse que a norma busca proteger. Objeto material do crime é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta delituosa. Assim, no crime de homicídio o bem jurídico é a vida e o objeto material o corpo da pessoa; no crime de furto o bem jurídico é o patrimônio e o objeto material a coisa alheia móvel. 
2.2) Sujeito ativo: 
Sendo crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa, não se exigindo qualidade ou condição especial do agente. 
Trata-se também de crime monossubjetivo, isto é, um crime que não exige pluralidade de agentes, podendo ser praticado por apenas uma pessoa. Não há necessidade da concorrência de duas ou mais pessoas para a configuração do crime, não muito embora isso possa ocorrer, quando então teremos o chamado concurso de agentes.
OBS. FALAR DO CONCURSO DE PESSOAS
 
Rogério Greco aborda a hipótese, bastante excepcional, de homicídio praticado por irmãos xifópagos ou siameses. Imagine que João e Paulo sejam irmãos xifópagos, sendo que João mate alguém. Vamos imaginar também que a separação cirúrgica é impraticável. 
Prevalece na doutrina que ambos deverão permanecer em liberdade, pois um dos irmãos não poderá ser punido injustamente pelo comportamento do outro. Entre punir um inocente e absolver um culpado, o Direito Penal sempre tenderá para esta última opção. 
2.3) Sujeito passivo: 
Regra geral este crime não exige qualidade especial da vítima.
Há, contudo, algumas situações especiais:
Se a vítima do homicídio for o Presidente da República, do Senado, da Câmara ou do STF:
Aí teremos configurado o art. 29 da Lei n. 7.170/83, que define os crimes contra a Segurança Nacional. Neste caso o julgamento não vai a júri, pois não se trata de crime contra a vida, valendo ressaltar que o art. 29 possui uma pena bem mais severa do que o art. 121: reclusão, de 15 a 30 anos. 
Vítima irmãos xifópagos: Imaginem que eu quero matar João, mas conseqüente também vou ter que matar Paulo. Com relação à João eu tenho dolo de 1º grau e com relação à Paulo eu tenho dolo de 2º grau. No caso o autor vai responder por dois homicídios dolosos em concurso formal impróprio (desígnios autônomos). 
Vítima índio não integrado: Aí teremos que observar o art. 59 da Lei 6.001/73, que diz que quando o crime (contra a pessoa, o patrimônio ou os costumes) for contra índio não integrado teremos uma causa de aumento de pena de um terço. 
Se a vítima for menor de 14 anos ou maior de sessenta: causa especial de aumento de pena de um terço, prevista na parte final do § 4º do art. 121.
Matar com intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, poderá caracterizar o crime de genocídio previsto na Lei n. 2.889/56
Vítima mulher e agente de segurança:
2.4) Elementos objetivos do tipo: 
A conduta punida pelo art. 121, caput, é tirar a vida de alguém. 
Obviamente estamos falando da vida extrauterina, pois se for intrauterina será aborto. 
E quando a vida deixa de ser intrauterina e passa a ser extrauterina? 
A vida extrauterina se dá com o início do parto.
Mas quando deve se ter por iniciado o parto?
Conforme maior parte da doutrina o parto se inicia com a dilatação do colo do útero. Ressalve-se a posição de Cezar Roberto Bitencourt para quem o início do parto se dá com o rompimento do saco amniótico.
E se o parto for cesáreo?
Considerar-se-á por iniciado, então, com o início da incisão abdominal. 
“Alguém”, a que se refere o tipo penal é qualquer outro ser humano.
Admite-se crime de homicídio na forma omissiva? 
Sim, desde que presente o dever jurídico de evitar o resultado. É a figura do garantidor prevista no art. 13, § 2º do CP:
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
 a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
Prova da materialidade: 
Na classificação doutrinária dos crimes podemos ter:
- Delito de fato permanente: são aqueles que deixam vestígios, a exemplo do homicídio;
- Delito de fato transeunte: são os que não deixam vestígios, como a injúria verbal.
O homicídio, assim, é um crime que deixa vestígios e, por força do art. 158 do CPP, é imprescindível que se realize o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Exame de corpo de delito direto é aquele levado a efeito pelos peritos diretamente sobre os vestígios materiais deixados pelo crime.
Exame de corpo de delito indireto é aquele realizado não diretamente sobre os vestígios do crime, mas a partir de informações a seu respeito, por meio de documentos, testemunhas, etc.
Atenção: o exame de corpo de delito indireto é firmado pelo perito, ainda que com base em informações testemunhas, trazendo consigo sempre um juízo de valor dos expertos sobre a dinâmica do crime. 
Acrescente-se que, conforme o art. 167 do CPP, quando for impossível a realização de exame de corpo de delito, direto ou indireto, a prova da materialidadedo crime poderá ser suprida por meio de testemunhas.
2.5) Elementos subjetivos do tipo: 
O crime é punido a título de dolo, podendo ser direto (1º grau/2º grau) ou eventual. 
Obs. O tipo não exige finalidade específica animando o comportamento do agente. Mas, dependendo da finalidade especial, podemos ter configurado uma qualificadora ou privilegiadora. 
Dolo, relembrando os conceitos do Direito Penal Geral, consiste na vontade e consciência de realizar a conduta típica e produzir o resultado.
O dolo pode ser classificado em:
- dolo direto: é o conceito acima já exposto, ou seja, o agente quer praticar a conduta e produzir o resultado;
- dolo indireto: pode ser eventual, quando embora o agente não queira diretamente o resultado, ele o prevê assumindo o risco de produzi-lo, ou alternativo, quando antevendo a possibilidade de ocorrência de dois resultados o agente anui com um ou outro;
- dolo geral ou aberractio causae: aqui o agente pratica uma conduta objetivando um resultado e, acreditando já tê-lo atingido, praticando uma nova conduta, a qual, esta sim, é real causadora do evento desejado pelo agente. Ex: “A” querendo matar “B” desfere-lhe alguns golpes de faca, e, acreditando que a vítima já se encontra sem vida, joga-a no rio para desaparecer com o corpo, vindo “B” a morrer, efetivamente, afogado. Neste caso “A” responderá pelo crime de homicídio em decorrência do seu dolo geral. 
Ainda dentro do elemento subjetivo importa trazer aqui a discussão sobre duas condutas bastante em voga nos dias atuais. Trata-se na morte em acidente de transito decorrente da embriaguês ao volante associada à excesso de velocidade e decorrente do que se chama “racha”. 
A questão que se coloca é: tais condutas caracterizam crime culposo ou doloso, na modalidade de dolo eventual?
Embora possamos encontrar decisões dos Tribunais Superiores considerando tais casos como dolo eventual, especialmente no caso de “racha”. Rogério Greco e Rogério Sanches ponderam que não se pode, de início, concluir ser culposo ou doloso o crime, o que somente poderá ser feito após análise do caso concreto. 
2.6) Consumação e tentativa: 
Consumação é uma fase do intercriminis que ocorre quando todos os elementos da conduta típica já se encontrarem realizados. Em outras palavras, e nos exatos termos do art. 14, I do CPB, “Diz-se o crime consumado quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal.
Sendo crime material consuma-se com a morte da vítima. Hoje não há mais dúvida quanto ao exato momento da morte: cessação da atividade encefálica. Esta questão foi pacificada com a edição da Lei de Doação de Órgãos (Lei n. 9.434/97, art. 3º). 
Admite-se tentativa, pois estamos diante de um crime plurissubsistente. 
Tentado é o crime que, uma vez iniciada a execução, não chega a se consumar por circunstâncias alheias à vontade do agente (art. 14, II).
Podemos ter três espécies distintas de tentativa: 
- Tentativa imperfeita (ou propriamente dita): o processo executivo é interrompido no meio, ou seja, antes de o agente esgotar toda a sua potencialidade lesiva. Ex: João, querendo matar Pedro, desfere-lhe um golpe de faca, sendo interrompido por terceiros quando tentava desferir outros golpes. 
- Tentativa perfeita ou acabada (também chamada de crime falho): ocorre quando o agente esgota sua potencialidade lesiva, contudo, o crime acaba não se consumando por circunstancias alheias à sua vontade. Ex: João, querendo matar Pedro, acerta seis tiros contra o mesmo, descarregando o seu revólver 38. Pedro, no entanto, é socorrido e sobrevive. 
- Tentativa branca (ou incruenta): é aquela em relação à qual não se resulta nenhum ferimento na vítima. Ex: no caso anterior, João não consegue acertar nenhum dos disparos em Pedro. 
Como distinguir a tentativa de homicídio da lesão corporal?
Tanto um quanto outro delito podem apresentar o mesmo resultado material, que é lesão à integridade física da pessoa, inclusive com risco de morte. 
 	Assim, a distinção fica por conta do elemento anímico do agente, de maneira que sempre que estiver presente o animus necandi ou occidendi, o caso será de tentativa de homicídio. Tal elemento anímico por certo não deverá ser extraído simplesmente das declarações do agente, mas também de outras circunstâncias objetivas, tais como: natureza da lesão, sede da lesão, etc.
3 – Homicídio privilegiado:
Art. 121, § 1º: Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Temos aqui, na verdade, uma causa especial de diminuição de pena (minorante).
Podemos dividir o § 1º do art. 121 em duas partes:
1ª) Motivo de relevante valor social ou moral:
Valor social são interesses de toda a coletividade. Ex: matar perigoso bandido que está aterrorizando determinado bairro;
Valor moral diz respeito aos interesses particulares do agente. Ex: o pai que mata o estuprador da filha.
A eutanásia é crime? Sim, trata-se de um homicídio privilegiado, por relevante valor moral.
Eutanásia: é a chamada morte boa, assim considera aquela em que o agente causa a morte de um paciente em estado terminal, com o fim de lhe abreviar a dor e sofrimento. A eutanásia pode ser:
- ativa: quando a morte é provocada mediante condutas positivas;
- passiva: omissão de tratamento ou procedimento que seja capaz de prolongar a vida de quem se encontra em estado terminal. 
Observação: não basta matar impelido por valor social ou moral, tem que estar presente o caráter RELEVANTE do motivo, que é uma elementar imprescindível.
Observação 2: O art. 65, III, a, também prevê o relevante valor social ou moral como atenuante genérica, de maneira que quando tal circunstancia estiver presente no crime de homicídio será causa especial de diminuição de pena; quando presente em outro crime funcionará como atenuante genérica.
2ª) Domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima:
É o chamado homicídio emocional, que tem os seguintes requisitos:
a) domínio de violenta emoção: quer dizer que ela deve ser intensa, absorvente, devendo o agente estar completamente dominado pela emoção. Não se confunde com a influência de violenta emoção, que é uma atenuante genérica de pena, prevista no art. 65, III, c.
b) Reação imediata: tem de haver uma relação de imediatidade entre a injusta provocação da vítima e a reação do autor. No entanto, essa relação de imediatidade não quer dizer que não possa haver algum lapso temporal. Segundo a jurisprudência diz-se que a reação é imediata enquanto perdurar o domínio da violenta emoção. Por exemplo, na “reação imediata” pode se compreender o tempo necessário para que, após sofrer a injusta provocação, o autor se dirija até sua casa, se arme, e retorne ao local para praticar o crime.
c) Injusta provocação: provocação injusta é aquela sem motivo razoável; uma ofensa injustificada. Ex: injúria real. 
Atenção: a injusta provocação não precisa ser, necessariamente, um agressão, a qual, dependendo das circunstancias, se presente poderá configurar até mesmo a legítima defesa. 
Homicídio passional: é aquele no qual o agente atua movido por extremos sentimentos de paixão, de posse, de um egoísmo exarcebado. Tal conduta, por si só, não configura o homicídio privilegiado, que, no entanto, poderá ocorrer, desde que presentes todos os requisitos previstos no § 1º do art. 121. Ex: marido que flagra a esposa traindo-o, em sua própria cama, matando-a. Tal situação, se presentes os demais requisitos, pode vir a configurar o homicídio privilegiado. 
O privilégio se comunica com autores e partícipes? 
Vamos imaginar o pai que mata o estuprador da filha com a ajuda de um amigo. Neste caso o amigo também será beneficiado pela privilegiadora?
Para responder a esta indagação devemos fazer, antes de mais nada, a leitura do art. 30 do Código Penal, segundo o qual: “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal,salvo quando elementares do crime.”
A partir daí, devemos analisar se o privilégio é uma elementar ou circunstancia do crime?
Elementar é todo dado que, agregado ao tipo fundamental, modifica o crime. 
Circunstancia é um dado que, agregado ao tipo, altera a pena.
Vamos exemplificar: no crime de peculato (art. 312), “funcionário público” é uma elementar, pois que faz parte da própria estrutura do crime. Se estiver ausente tal condição o crime será outro: furto, apropriação indébita, etc. Já em outros delitos previstos no Código Penal, como a falsificação de documento público (art. 297) a condição de “funcionário público” é uma mera circunstância, já que sua ausência em nada prejudica a configuração típica. Se estiver ausente apenas não será aplicada a causa de aumento prevista no § 1º daquele dispositivo. 
Notem, assim, que o privilégio é circunstancia.
Agora devemos indagar se o privilégio é uma circunstancia objetiva ou subjetiva.
Objetiva: quando ligada ao meio ou modo de execução.
Subjetiva: quando ligada ao motivo ou estado anímico do agente. 
Podemos concluir, então, que estamos diante de circunstancias subjetivas.
Assim, relembrando o teor do art. 30, podemos concluir que o privilégio no crime de homicídio não se aplica a todos os co-autores, pois as circunstancias subjetivas são incomunicáveis. 
Atenção: se os jurados reconhecem o privilégio o juiz está obrigado a reduzir a pena, pois se trata de direito subjetivo do réu. A discricionariedade do juiz está apenas no quantum da diminuição. 
Obs. O homicídio privilegiado não é crime hediondo. Já o homicídio simples poderá sê-lo, desde que praticado em atividade típica de grupo de extermínio. 
4 – Homicídio qualificado (art. 121, § 2º):
Trata-se de crime que sempre será hediondo, não importando a qualificadora (art. 1º, inciso I da Lei n. 8.072/90).
No caso do homicídio qualificado a pena sai do patamar de 6 a 20 passando para 12 a 30 anos. 
§ 2° Se o homicídio é cometido:
        I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
        II - por motivo futil;
        III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
        IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
        V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Feminicídio       (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:     (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar;      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
Aqui temos o homicídio qualificado pelo motivo torpe.
Torpe é aquele motivo moralmente reprovável, repugnante, desprezível, que demonstra uma depravação espiritual do agente e, quase sempre, vai provocar uma repulsa geral. Ex: matar alguém para receber herança; matar uma pessoa que se recusa a fazer sexo. 
O inciso I trabalha com a interpretação analógica, ou seja, aquela em que o legislador enumera alguns exemplos casuísticos e depois encerra com uma expressão genérica. 
Homicídio mercenário:
Normalmente temos o mandante e o executor (sicário). Assim, trata-se de um delito plurissubjetivo ou de concurso necessário, isto é, aquele em que obrigatoriamente exige-se à presença de duas ou mais pessoas.
A qualificadora é só para o executor ou se comunica também ao mandante?
Conforme grande parte da doutrina (Greco, Bitencourt e Capez) por se tratar de uma circunstancia de caráter subjetivo, a torpeza não se comunica a todos os agentes. Pode ser, inclusive, que o mandante esteja imbuído de relevante valor moral, como por exemplo, contratar uma pessoa para matar o estuprador de sua jovem filha de 15 anos. Neste caso o pai da menina irá responder pelo homicídio com diminuição de pena e o autor pelo homicídio qualificado. 
Atenção: observem que o Rogério Sanches lembra que o entendimento contrário, no sentido que a qualificadora estende-se ao mandante, encontra amparo hoje na jurisprudência dos Tribunais Superiores. 
Esse é o entendimento também de Nelson Hungria, citado por Capez, para o qual os tipos qualificados conteriam circunstâncias especiais (circunstâncias elementares), as quais deveriam se comunicar a todos os autores.
Qual a natureza da paga ou promessa de recompensa?
Embora haja alguma divergência sobre o assunto, posiciona-se a maioria dos autores no sentido de que a paga ou promessa de recompensa deva ter natureza patrimonial ou econômica (Rogério Sanches, Capez e Bitencourt). No entanto, autores de renome entendem que a paga ou promessa de recompensa pode ter qualquer natureza, a exemplo de Rogério Greco e Damásio de Jesus.
E a vingança, ciúmes, configura torpeza?
A vingança ou o ciúme pode ou não constituir motivo torpe, dependendo da causa que o originou. Por exemplo, o filho que mata aquele que tirou a vida do seu pai, embora esteja agindo por vingança, não configura motivo torpe. 
II – por motivo fútil:
É o motivo insignificante, que se apresenta absolutamente desproporcional com a gravidade do crime. Ex: o marido que mata a esposa por lhe servir comida fria. 
A ausência de motivos equipara-se à motivo fútil?
1ª corrente: equipara-se a motivo fútil (Greco e Capez), pois seria contraditório conceber que o legislador punisse com pena mais grave aquele que mata por futilidade, permitindo que o que age sem qualquer motivo receba sanção mais branda. Prevalece na jurisprudência, conforme Capez. 
2ª corrente: ausente previsão legal, não se equipara a motivo fútil (respeito ao princípio da reserva legal). Temos aqui, por exemplo, o autor Cezar Roberto Bitencourt, Damásio de Jesus, dentre outros, conforme os quais o princípio da legalidade impede o reconhecimento da qualificadora pela falta de motivo. 
Obs. 1: Embora a ausência de motivos, para boa parte da doutrina e jurisprudência, qualifique o homicídio, o desconhecimento dos motivos do crime não pode qualificá-lo.
Obs. 2: Para o STJ não há incompatibilidade, no crime de homicídio, entre o dolo eventual e o motivo fútil. 
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
O inciso três também trabalha com interpretação analógica, pois após alguns exemplos casuísticos encerra com uma expressão genérica. 
Assim, temos que veneno é exemplo de meio insidioso; asfixia e tortura, de meio cruel e fogo e explosivo, de que possa resultar perigo comum.
Homicídio com emprego de veneno (venefício): 
O que é veneno? 
Veneno é toda substância, biológica ou química, que, introduzida no organismo, pode produzir lesões ou causar morte (Damásio de Jesus). Tal conceito faz com que se compreenda na expressão “veneno” toda substância que, mesmo inofensivas para uns, possam se mostrar letais para outros, como o açúcar para o diabético, o camarão para quem é alérgico a tal alimento. 
Cuidado: é imprescindível que a vítima desconheça estar ingerindo a substância letal. 
Então vamos imaginar que alguém coloque a arma na cabeça da outra e a obrigue a tomar veneno. Neste caso não incidirá a qualificadora pelo emprego de veneno, mas sim pelo meio cruel.
Notem quetal exigência decorre da fórmula genérica “insidioso” na qual o veneno está abrangido. Assim, faz-se necessário que a vítima desconheça o fato de estar sendo envenenada.
Fogo, explosivo e asfixia dispensam maiores comentários, lembrando apenas que este último modo será bem analisado pelas aulas de Medicina Legal.
Atenção: o fogo e explosivo, dependendo das circunstâncias, podem configurar um meio cruel ou de que resulta perigo comum.
Meio insidioso: qualquer artifício para que o agente pratique o crime sem que a vítima tenha conhecimento. 
Cruel: cruel é todo meio que provoca um sofrimento desnecessário à vítima, ocasionando sua morte de maneira brutal, bárbara. Ex: matar a vítima, esquartejando-a. 
Atenção: a crueldade praticada após a morte da vítima não qualifica o crime.
Tortura:
Não se deve confundir o homicídio qualificado pelo emprego de tortura, que ora estudamos (art. 121, § 2º, III) com a tortura qualificada pelo resultado morte, prevista no art. 1º, § 3º da Lei n. 9.455/97 (Lei de Tortura).
No primeiro caso o agente quer matar a vítima, e, para tanto, utiliza-se de meios de tortura. Aqui teremos um homicídio qualificado pela prática de tortura, com previsão no art. 121, § 2º, III, cuja pena é de reclusão de 12 a 30 anos.
Já no segundo caso o agente quer torturar, mas acaba matando a vítima, respondendo por tal resultado a título de culpa. Trata-se do crime de tortura qualificado pelo resultado morte. Neste caso a lei de tortura prevê uma pena de oito a dezesseis anos.
A tortura qualificada pelo resultado morte é exemplo do que se chama de crime preterdoloso, ou seja, um crime em que há dolo no antecedente (tortura) e culpa no conseqüente (resultado morte).
Obs.: Fernando Capez chama a atenção para a possibilidade do concurso material entre os crimes de tortura e homicídio. Assim, sempre que a tortura figurar como causa da morte teremos o homicídio qualificado. Contudo, se o agente tortura a vítima e, após isso, efetua um disparo de arma de fogo em sua cabeça, matando-a (por causa distinta da tortura), teremos o concurso de crimes.
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
Traição: é o ataque desleal, sorrateiro, no qual há uma quebra de confiança que havia entre vítima e autor. Também caracteriza traição o ataque súbito, de surpresa. Anotem, contudo, que conforme Capez e Bitencourt para caracterizar-se a traição é indispensável a existência de um vínculo de confiança, fidelidade, entre autor e vítima. Ex: a mulher que golpeia o marido pelas costas enquanto este jantava;
Emboscada: pressupõe ocultamento do agente, atacando a vítima com surpresa (o agente, escondido no jardim de entrada da casa da vítima, ataca quando esta chegava do serviço). 
Dissimulação: fingimento, disfarçando o agente a sua intenção criminosa. Ex: convida a vítima para jantar, levando-a para lugar ermo onde ocorre o ataque fatal. 
Atenção: a premeditação não serve como qualificadora, mas pode ser considerada na fixação da pena, como circunstancia judicial desfavorável. 
Condições pessoais da vítima, que dificultem ou impossibilite sua defesa, pode caracterizar a qualificadora? Por exemplo, vítima de tenra idade ou muito senil, ou ainda, vítima que se encontrava totalmente embriagado quando foi morta?
A idade da vítima, por si só, não possibilita a aplicação da presente qualificadora, pois constitui característica da vítima e não recurso procurado pelo agente. No segundo caso temos que distinguir: se a vítima encontrava-se totalmente embriagada no momento do crime e tal condição não foi buscada pelo agente, entendemos que não há que se falar da qualificadora em comento. Ao contrário, entanto, incidirá a qualificadora se o próprio agente embriaga a vítima para facilitar a sua execução.
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
No caso desta qualificadora teremos sempre uma conexão entre o homicídio e outro crime, daí ser chamado de homicídio por conexão. 
Esta conexão pode ser teleológica ou conseqüencial. 
Antes de mais nada é preciso que se diga que a qualificadora do inciso V se dá em razão da finalidade perseguida pelo agente quando da prática de homicídio, finalidade esta que está sempre relacionada (conexa) com outro crime. A diferença é que na conexão teleológica o crime fim é futuro, ou seja, ainda vai ser praticado; na conexão conseqüencial o crime fim é passado, ou seja, já foi cometido pelo agente. Vejamos:
- teleológica: quando o agente mata para assegurar a execução de um crime futuro. Ex: o agente mata o segurança para estuprar a atriz; o agente mata o vigilante no dia anterior para roubar o banco. 
Obs. 1: o crime futuro precisa ocorrer para o crime ser qualificado?
Não, a qualificadora não depende da concretização do crime futuro. O que qualifica é a sua intenção, a sua finalidade: matar para praticar outro crime. Se o outro crime efetivamente ocorrer, o agente responderá pelos dois delitos em concurso material.
Obs. 2: o crime futuro sequer precisa ter como autor o agente homicida. Ex: o agente pode matar o segurança para que o seu irmão estupre a atriz. 
- conseqüencial: o agente mata para assegurar a ocultação, a vantagem ou impunidade de um crime passado. Ex: a agente mata a testemunha de um estupro, visando garantir a ocultação do crime e sua impunidade. 
Obs. o crime passado não precisa ter sido praticado pelo homicida. Ex: eu mato uma testemunha para garantir a impunidade de um crime praticado por meu irmão. 
Cuidado: a conexão meramente ocasional, que ocorre quando o agente mata por ocasião de outro crime, sem vínculo finalístico, não qualifica o homicídio. 
Qual crime pratica o agente que mata alguém para assegurar a execução, ocultação, impunidade ou vantagem de uma contravenção penal? 
Aqui não podemos aplicar a qualificadora do art. 121, § 2º, V, sob pena de analogia in malam partem. Contudo, o homicídio continuará sendo qualificado pelo motivo torpe ou fútil, a depender do caso concreto. 
FEMINICÍDIO
Esta figura penal foi incluída no § 2º do art. 121 do CP pela Lei n. 13.104/15 e pode ser conceituada como a morte da mulher em razão de sua condição do sexo feminino.
Esta lei teve origem a partir da CPMI de Violência contra a mulher que apresentou dados alarmantes: morte de 43,7 mil mulheres, entre os anos de 2000 a 2010, sendo 41% delas dentro de sua própria casa.
O aumento de 2,3 para 4,6 assassinatos por 100 mil mulheres entre os anos de 80 a 2010, acabou colocando o Brasil no 7ª posição de assassinatos contra mulheres.
Além disso, precisamos lembrar que o Brasil é signatário de algumas convenções prevenindo este tipo de violência.
Por esses motivos o legislador acabou optando por tipificar o feminicídio.
Agora, no § 2º do art. 121, temos mais uma qualificadora:
V – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino (Lei. 13.104)
Mas o que seria um homicídio por razões da condição de sexo feminino?
O próprio legislador, valendo-se da interpretação autêntica, nos traz o conceito:
Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
- violência domestica e familiar: o conceito desta violência nos é dado pela conjugação do art. 5º com o art. 7º da Lei Maria da Penha;
- menosprezo ou discriminação à condição de mulher: a doutrina não vê com bons olhos estes elementos normativos, pois trata-se de expressões muito vagas. Grosso modo podemos dizer que estes elementos normativos (menosprezo e discriminação) revelam condições em que alguém vai abusar da situação de vulnerabilidade da mulher;
O legislador também introduziu um § 7º no art. 121 que prevê uma causa de aumento de pena de um terço até metade. Essa causa de aumento é específica do feminicídio e se aplica quando o crime for praticado:
- durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto;
- contra pessoa menor de 14 anos, maior de sessenta ou com deficiência;
- na presença de descente ou ascendente da vítima.Além de tudo isto o legislador considerou o feminicídio como crime hediondo, incluindo expressamente o VI no art. 1º da Lei n. 8.072/90, o que não seria necessário, já que todo homicídio qualificado deve ser considerado hediondo. 
Homicídio qualificado:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: 
O inciso VII do art. 121, §º 2, acrescentado pela Lei n. 13.142/15, publicada em 07 de julho de 2015, considera como qualificado o crime de homicídio praticado contra agentes de segurança.
Tal disciplina por certo objetiva resguardar referidas pessoas, que não obstante trabalharem na área de segurança pública, e justamente por isso, acabam sendo alvos de alguns grupos criminosos.
Assim como ocorreu com o feminicídio também foi incluído na Lei n. 8.072 como crime hediondo.
Importa, por fim, anotar que para que a qualificadora se caracterize o homicídio tem de ser praticado durante o exercício da função do agente de segurança, ou, se fora desta, em razão dela. Contudo, também deve ser lembrado que mesmo no primeiro caso, quando o crime é praticado durante o exercício da função, há haver relação entre o crime e referida função. Se o homicídio for motivado por razões outras, absolutamente estranhas às atividades de segurança, não há justificativa para incidência desta qualificadora. 
- Pluralidade de circunstancias qualificadoras:
Imagine que alguém pratique um homicídio por motivo fútil e mediante meio cruel. Teremos, neste caso um homicídio duplamente qualificado?
Não existe homicídio duplamente ou triplamente qualificado. No caso de pluralidade de circunstancias qualificadoras apenas uma das qualificadoras vai servir para qualificar o crime. Quanto às demais, temos a seguinte divergência:
- 1ª corrente: entendendo que as demais qualificadoras devem ser utilizadas como circunstancia judicial (art. 59);
- 2ª corrente: entende-se que as demais qualificadoras devem servir como agravante genérica (art. 61). É a que prevalece.
É possível homicídio qualificado-privilegiado?
	Art. 121, § 1º
	Art. 121, § 2º
	- motivo de relevante valor social ou moral;
- domínio de violenta emoção;
♦ todas as privilegiadoras são subjetivas. 
	- motivo torpe (subjetiva);
- motivo fútil (subjetiva);
- meio insidioso, cruel ou de que possa resultar perigo comum (objetiva);
- recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido (objetiva);
- vinculo finalístico (subjetiva);
- por razões da condição de sexo feminino (subjetiva);
- contra agente de segurança no exercício da função (subjetiva); 
Sim, desde que as qualificadoras sejam de natureza objetiva. Isto porque os jurados votam primeiro o privilégio e depois a qualificadora. Assim, reconhecida qualquer circunstancia privilegiadora, que é sempre de natureza subjetiva, ficam prejudicadas as qualificadoras de natureza subjetiva, dada a incompatibilidade entre elas (privilégio de natureza subjetiva não se compatibiliza com qualificadora de natureza subjetiva). 
O homicídio qualificado-privilegiado continua sendo hediondo?
Fazendo uma analogia com o artigo 67, do CP (no concurso de circunstancias agravantes e atenuantes prevalecem as de natureza subjetiva), prevalece a doutrina que ensina que o homicídio qualificado-privilegiado deixa de ser hediondo. 
5) Homicídio Culposo:
§ 3º Se o homicídio é culposo: 
Pena - detenção, de um a três anos.
Conceito: crime culposo é aquele decorrente de uma conduta humana voluntária, causadora de um resultado penalmente típico, não querido pelo agente, previsível (culpa inconsciente) ou previsto (culpa consciente), o qual poderia ter sido evitado se o agente atuasse com o cuidado que lhe era exigível nas circunstâncias. 
Deste conceito podemos extrair os seis elementos do crime culposo: conduta humana voluntária; resultado involuntário; nexo; previsibilidade; inobservância do dever objetivo de cuidado e tipicidade. 
Excepcionalidade do crime culposo: o crime culposo é excepcional, isto é, regra geral não é punido; somente o será quando houver expressa previsão legal. É o que dispõe o art. 18, Parágrafo Único do CPB:
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 
Por exemplo, o dano culposo não é punido, pois não existe previsão legal para tanto. 
Trata-se de infração de médio potencial ofensivo, vale dizer, admite suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei nº. 9.099/95).
Crime de resultado necessário: não existe homicídio culposo na forma tentada.
Tipo penal aberto: o homicídio culposo é um exemplo de um tipo penal aberto, ou seja, um tipo penal em que não há uma descrição pormenorizada da conduta criminosa. O legislador apenas diz que o homicídio é culposo, sem especificar exatamente qual conduta humana configura o tipo.
Modalidades de culpa (art. 18, II):
Ocorre homicídio culposo quando o agente, com manifesta imprudência, negligência ou imperícia, deixa de empregar a atenção ou diligência de que era capaz, provocando, com sua conduta o resultado morte, previsto (culpa consciente) ou previsível (culpa consciente), porém jamais aceito ou querido. 
Tanto a imprudência, negligência ou imperícia são formas de violação do dever de cuidado. Agora, não adianta dizer que o autor foi imprudente, negligente ou imperito, é preciso, na denúncia, delinear em que consistiu a imprudência, negligência ou imperícia.
Imprudência: é a prática de uma conduta arriscada ou perigosa, tendo caráter comissivo (ação). É a imprevisão ativa (culpa in faciendo ou in committendo). Conduta imprudente é aquela que se caracteriza pela intempestividade;
Negligência: é a displicência no agir, a falta de precaução, a indiferença do agente, que, podendo adotar cautelas necessárias, não o faz. É a imprevisão passiva, o desleixo, a inação (culpa in ommittendo). É não fazer o que deveria ser feito;
Imperícia: é a ausência de capacidade ou insuficiência de conhecimentos técnicos para o exercício de arte, profissão ou ofício.
Atenção: o homicídio culposo na direção de veículo automotor configura o art. 302 do CTB. 
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Neste dispositivo temos uma pena restritiva de direitos cumulada com uma privativa de liberdade. O normal é a restritiva de direitos substituir a privativa de liberdade. 
	Art. 121, § 3º do CPB
	Art. 302 do CTB
	- Pena de 1 a 3 anos;
- Infração de médio potencial ofensivo (admite suspensão do processo)
	- Pena de 2 a 4 anos;
- Infração de grande potencial ofensivo (não admite suspensão do processo). 
Esta diferença de tratamento é constitucional?
Prevalece que o desvalor da conduta (no trânsito ela é mais perigosa) justifica a diferença de tratamento. 
Majorantes do homicídio culposo (art. 121, § 4º, 1ª parte):
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
1ª) Inobservância de regra técnica, de profissão arte ou oficio: esta majorante não se confunde com a imperícia.
Na majorante o agente conhece a técnica, mas não a observa. Na verdade a majorante trabalha com a negligência profissional. Por exemplo, o médico que esquece algum gase dentro do corpo do paciente queestava operando.
Na imperícia o agente não domina a técnica.
2ª) Omissão de socorro: o agente deixa de prestar socorro à vítima, podendo fazê-lo sem risco pessoal. 
Cuidado: não incide o art. 135 do CPB (omissão de socorro). 
Obs. 1: se a vítima é imediatamente socorrida por terceiros não incide o aumento. Agora, se o agente se recusa a prestar socorro, o fato de a vítima ser posteriormente socorrida por terceiros não afastará a causa de aumento; 
Obs. 2: no caso de morte instantânea também não incide (Veja-se, contudo, art. 304, parágrafo único do CTB);
De acordo com o STF, se o autor do crime, apesar de reunir condições de socorrer a vítima, não o faz, concluindo pela inutilidade da ajuda, não elide a majorante que do art. 121, § 4º. 
3ª) Não procura diminuir as conseqüências do seu comportamento: embora Capez aduza que esta parte seja redundante com a anterior, pois quem não presta socorro também não procura diminuir as conseqüências do seu comportamento, poderemos ter situações em que esta circunstância ocorrerá de maneira autônoma. Por exemplo, o agente, sabendo que a vítima não dispõe de recursos financeiros para custear o tratamento, e podendo fazê-lo, se recusa a ajudá-lo.
4ª) Foge para evitar a prisão em flagrante: a maioria reconhece como válida a presente majorante, pois o agente demonstra ausência de escrúpulo, prejudicando a investigação. 
A minoria, no entanto, questiona sua constitucionalidade, pois acaba obrigando o agente a produzir prova contra si mesmo. 
Ademais, devemos nos lembrar do art. 301 do CTB segundo o qual não se imporá a prisão em flagrante ao condutor que prestar imediato e integral socorro à vítima. 
Majorantes no crime doloso (art. 121, § 4º, 2ª parte):
A pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa maior de 14 anos ou maior de 60 anos. 
	Momento da conduta
	Momento do resultado
	- vítima menor de 14 anos;
- vítima menor de 60 anos;
	- vítima maior de 14 anos;
- vítima maior de 60 anos;
A lei diz “praticado”, assim devemos analisar a idade da vítima apenas no momento da conduta. 
Para incidir o aumento, sob pena de responsabilidade objetiva, o agente tem que saber a idade da vítima, ou pelo menos que ela é menor de 14 ou maior de 60 anos. 
Perdão Judicial (art. 121, § 5º):
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.       
Perdão judicial é um instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um fato típico e antijurídico por um sujeito comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar, nas hipóteses taxativamente prevista em lei, o preceito sancionador cabível, levando em consideração determinadas circunstancias que concorrem para o evento. O ESTADO PERDE O INTERESSE DE PUNIR. 
Atenção: não é necessário existir qualquer relação afetiva entre o autor é réu para ser cabível o perdão judicial. Imagine, por exemplo, que em um acidente de jetski o autor, que culposamente matou um banhista, fique tetraplégico. 
Qual a natureza jurídica da sentença concessiva de perdão judicial?
Embora haja alguma divergência doutrinária, no sentido de que o perdão judicial teria natureza absolutória, condenatória ou meramente declaratória da extinção da punibilidade, o STJ há muito tempo já se posicionou neste último sentido, por intermédio da Súmula 18, que diz: 
“A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório”.
Atenção: presentes as circunstâncias previstas em lei o juiz deve aplicar a pena, pois o perdão judicial constitui-se em direito subjetivo do réu.
O perdão judicial também se aplica ao homicídio culposo do CTB?
Inicialmente é preciso relembrar que, como dissemos há pouco, o perdão judicial deve ser aplicado apenas nas hipóteses taxativamente previstas em lei. 
De outro lado, contudo, também deve ser registrado que quando da elaboração do CTB, inicialmente foi previsto o perdão judicial, tanto para a hipótese de homicídio culposo quanto para o caso de lesão corporal culposa no trânsito. 
Ocorre que o Presidente da República vetou tais disposições, sob o argumento de que aquelas previstas no Código Penal versavam sobre os institutos de maneira mais abrangente. 
A partir daí surge alguma divergência sobre a aplicação do perdão judicial no CTB.
Deve se anotar, no entanto, que prevalece o entendimento de que deve ser aplicado o perdão judicial para o homicídio e lesão corporal culposos no trânsito, não obstante a regra de que tal instituto somente deveria ser aplicável em caso de previsão essa expressa.
Tal posicionamento se justifica tanto pelas razões do veto como por razões de política criminal e em atenção ao princípio da isonomia. 
6) Homicídio praticado por milícia privada ou grupo de extermínio:
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.   (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)
Rogério Sanches nos fornece a seguinte definição de milícia privada: “Grupo de pessoas armado (de civis ou não), tendo como finalidade (anunciada) devolver a segurança retirada das comunidades mais carentes, restaurando a paz.” 
Do mesmo modo, define grupo de extermínio como: “reunião de pessoas, matadores, ‘justiceiros’ (civis ou não) que atuam na ausência ou leniência do poder público, tendo como finalidade a matança generalizada, chacina de pessoas supostamente etiquetadas como marginais ou perigosas.”
Atenção: o art. 288-A do Código Penal prevê como crime a “constituição de milícia privada”: 
Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código:(Incluído dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.(Incluído dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
Quantas pessoas são necessárias para se forma uma milícia privada ou grupo de extermínio?
Há dois entendimentos.
Um primeiro posicionamento utiliza-se do art. 288 do Código Penal, que exige três ou mais pessoas para caracterizar associação criminosa.
Já uma segunda corrente, à qual se filia o autor Rogério Sanches, toma de empréstimo o conceito de organização criminosa (Lei 12.850/13), que exige no mínimo quatro pessoas.
Duas questões finais importantes:
1ª) Latrocínio (roubo + morte da vítima) é crime contra o patrimônio e não crime contra a vida, logo deve ser julgado por juiz singular e não pelo tribunal do júri. Neste sentido a Súmula 603 do STF:
“A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri”.
2ª) Crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil é julgado pelo tribunal do júri e não pela Justiça Militar (Art. 82, § 2º do CPPM e art. 125, § 4º da CF).

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