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1 UNISUAM PROF. LIDIA CALDEIRA LUSTOSA CABRAL PESSOA NATURAL AUSÊNCIA A ausência estava regulada no Código Civil de 1916 no capítulo do Direito de Família. O Código Civil vigente trata da ausência nos artigos 22 a 39. O artigo 22 define o ausente como a pessoa que desapareceu de seu domicílio, sem que dela se tenha notícias, ou que para afastar-se não tenha deixado representante ou procurador, a quem lhe caiba administrar-lhe os bens. Requisitos para o reconhecimento da ausência: Que não se tenham notícias; Que ele não tenha deixado representante ou procurador, a fim de administrar-lhe os bens. O artigo 22 confere legitimidade a qualquer interessado (parente ou não, cônjuge, companheiro ou não, desde que tenha interesse pecuniário) , ou ao Ministério Público para requerer ao juiz a declaração de ausência, e nomeação de um curador para gerir seus bens. A curadoria recai sobre os bens, não havendo que se falar em incapacidade do ausente. Muito embora o instituto da ausência não se dirija apenas aos possuidores de bens, neste primeiro momento há preocupação da lei civil em proteger o patrimônio de quem se afastou por razões desconhecidas. A declaração de ausência importa, igualmente, ao cônjuge que necessita do amparo da Previdência Social, por exemplo. Além de pretender no futuro determinar sua situação civil, já que com o passar dos anos haverá a abertura da sucessão definitiva, e a declaração de morte presumida, caso não haja o retorno do ausente, como veremos mais a frente. A ausência não protege apenas os bens ausente, mas resguarda, também, os interesses dos herdeiros presumidos. Num primeiro momento, por considerar o retorno do ausente, o legislador protege seus interesses. No segundo momento, reduzidas as possibilidades, passa a dirigir sua tutela ao interesse dos herdeiros, imitindo-os na posse. Num terceiro momento, com reduzidas possibilidades do retorno, protege com mais intensidade os herdeiros, passando para eles a propriedade dos bens do ausente, embora resguardando efeitos de garantia a seu favor, em caso de retorno. O processo de ausência, até a abertura definitiva da sucessão, tem duração longa, aproximadamente de 10 (dez) anos, até que seja considerado presumidamente morto. Importante discussão doutrinária se dá entre aqueles que diferenciam a morte presumida ,da declaração de ausência e seus efeitos. 2 Estes afirmam que a morte presumida acarreta o fim da personalidade jurídica, enquanto a ausência a conserva. Mesmo após a abertura da sucessão definitiva do ausente, a lei ainda prevê efeitos para o seu regresso, resguardando bens a seu favor (art. 39 CC). Poder-se-ia, portanto, considerar que: nos termos do artigo 7° do CC, temos o presumidamente morto, e nos casos de ausência, temos o presumidamente vivo. Mas, são posições doutrinárias que devem servir de partida para raciocínios e discussões, nunca para causar constrangimento ao estudante de direito. Fases da ausência: Fase da curadoria dos bens do ausente. Fase da sucessão provisória. Fase da abertura da sucessão definitiva. Da curadoria dos bens do ausente. O art. 22 autoriza qualquer interessado, ou o Ministério Público a requer ao juiz a declaração de ausência. Art. 23 Cabe nomeação de curador se o ausente houver deixado procurador que não possa ou queira continuar o mandado. Não possa = não tenha poderes para representar o ausente, seja por limitação de poderes, termo final da representação, por incapacidade ou morte do mandatário (procurador), etc. Art.24 Poderes jurídicos: não para atender interesses próprios, mas de outrem. Deve agir no interesse da preservação dos bens do ausente. Os poderes e obrigações são definidos pelo juiz. Art. 25 A legitimidade para ser curador: Legitimação para ser curador: O cônjuge que não esteja separado judicialmente ou de fato por mais de dois anos. Segundo a Profª Maria Helena Diniz, qualquer que seja o regime matrimonial de bens. O companheiro. Ver enunciado 97 aprovado na primeira jornada de Direito Civil em 2002. Pais. Descendentes. Na falta destes o juiz nomeará um curador O curador será responsável pela arrecadação dos bens do ausente e seus poderes e obrigações estão disciplinados no art. 24 CC. 3 Sucessão provisória: Se não deixou procurador, decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, podem as pessoas legitimadas ou interessados (art. 27 CC) requerer a abertura provisória da sucessão. Agora, o ausente deixa de ter um curador para ter seus bens entregues, provisoriamente, aos herdeiros ou sucessores. Estes se imitem na posse dos bens. Se deixou procurador, decorridos três anos da arrecadação dos bens, os interessados podem requerer a abertura provisória. A curadoria dura um ano, e o juiz , nos termos do art. 1.161 CPC, mandará publicar editais, de dois em dois meses, anunciando a arrecadação dos bens e chamando o ausente a entrar na posse de seus bens. Caso os legitimados ou herdeiros não requeiram a sucessão provisória, caberá ao Ministério Público requerê-la, pretendendo a defesa dos interesses do Estado na sucessão. Legitimidade subsidiária. Com a abertura da sucessão provisória, cessa a curadoria.Ver art. 1162 do CPC. Se deixou procurador, o prazo para a é de 3 anos. Art.27 Legitimidade para requerer a sucessão provisória: O cônjuge não separado judicialmente. Os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários. Os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte. Os credores de obrigações vencidas e não pagas. ACOMPANHAMENTO PELO CÓDIGO CIVIL. LER CADA ARTIGO ANTES DO COMENTÁRIO OFERECIDO. Art. 28 Detalhes processuais. 180 dias após publicação da sentença. Passa-se à abertura do testamento (se houver) , inventário e partilha como se o ausente fosse falecido. Art. 29 Bens móveis que estejam sujeitos à deterioração serão, a critério do juiz, convertidos em imóveis ou títulos garantidos pela união. A decisão é discricionária, não obrigatória. Ver art. 1113 a 1119 CPC. Art.30 Imissão na posse e garantias. Garantias: penhora ou hipoteca (garantias reais). Procura preservar os bens do ausente no caso de seu retorno. É, no entanto, possível, que o juiz aceite garantia pessoal (direito obrigacional). 4 EXCLUÍDO – O que não puder prestar garantia real, terá os bens que lhe caberiam sob a administração de um curador ou outro herdeiro designado pelo juiz que preste essa garantia. Importante ressaltar que o § 2° do artigo 30 atribui aos ascendentes, descendentes e ao cônjuge a imissão na posse dos bens, sem prestar garantias, desde que comprovem a sua qualidade de herdeiro. Art.31 Regra geral os bens imóveis do ausente não podem se alienados. Exceção: desapropriação ou para evitar-lhes a ruína. Art.32 Em virtude de cessar a curadoria, é preciso dar um representante ao ausente desse modo, os empossados provisoriamente o representarão ativa e passivamente . Serão parte , em representação ao ausente, nas relações jurídicas que tiverem por objetos os bens do ausente, sob sua posse. Aplica-se o princípio do benefício do inventário: o herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança. Art.33 Regulamentação dos frutos e rendimentos dos bens do ausente. Se herdeiros necessários serão integralmente seus. Se colaterais, por ex., capitalizarão metade desses frutos e rendimentos em imóveis,ou títulos garantidos pela União. A finalidade é garantir o retorno dos bens em caso de reaparecimento do ausente. O MP é o fiscal dessa aplicação. O juiz deverá aprovar as contas e aplicações. Conseqüência da ausência voluntária: a ausência injustificada é punida com a perda da metade dos rendimentos em favor do sucessor provisório. Art.34 Trata da participação do excluído em metade dos bens, mas precisa provar a razão pela qual não prestará a caução, bem como a necessidade dos recursos. Art.35 Efeitos da norma: Cessa a sucessão provisória caso se confirme durante esta fase a época exata do falecimento do ausente, e converte-se em definitiva; Considera-se aberta a sucessão definitiva em favor dos herdeiros àquele tempo. Art.36 Efeitos do retorno do ausente durante a fase da sucessão provisória: Caso o ausente retorne, ou se tenha notícias dele, conseguindo-se provar o paradeiro, cessam as vantagens para os sucessores, entretanto, devem estes tomar cautela e zelo até sua efetiva devolução, sob pena de responderem por perdas e danos. 5 A devolução inclui bens do ausente, e os sub-rogados. Serão entregues os frutos e rendimentos previstos no art. 33 do CC. DA SUCESSÃO DEFINITIVA Embora esta última fase se denomine definitiva, veremos que não é bem assim, pois existe a possibilidade de retorno do ausente e da recuperação dos bens. A primeira hipótese exige o prazo de dez anos do trânsito em julgado que concede a abertura da sucessão provisória. A segunda hipótese ocorre quando o ausente conta com oitenta anos, não havendo notícias dele há cinco. Art. 37 Efeitos da abertura da sucessão definitiva: Levantamento das cauções prestadas; A aquisição por parte dos herdeiros de propriedade resolúvel sob os bens adquiridos; Passam a poder utilizar os frutos e rendimentos como lhes aprouver; Como titulares de propriedade resolúvel podem alienar os bens recebidos. Art. 38 Ausente com 80 anos ou mais e cinco sem notícias, não é preciso que se cumpra a etapa da sucessão provisória. O prazo de 5 anos começa a ser contado após o ausente completar 80 anos. Art. 39 Efeitos do regresso do ausente, descendentes ou ascendentes, após a abertura da sucessão definitiva: Receberam os bens no estado em que se acharem; Receberam os bens sub-rogados em seu lugar; Receberão o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo. Se o ausente não retornar após a abertura da sucessão definitiva, nem houver qualquer interessado, os bens passarão ao domínio do Município ou Distrito Federal. Se em território nacional, para a União. Os entes federativos deverão empregar os recursos em fundações destinadas ao ensino (Dec. Lei 8.207/45 art. 3º). Efeitos no casamento do ausente: O CC/16 previa que a ausência não era caso de extinção do casamento. O CC/02, em seu artigo 1571, § 1º estabeleceu que “o casamento válido se extingue pela morte de um dos cônjuges, pelo divórcio, porém, aplica-se a presunção estabelecida neste Código.” Vale dizer que, após a abertura da sucessão definitiva, o ausente é declarado presumidamente morto, podendo o cônjuge celebrar novas núpcias. 6 Caso o cônjuge prefira, poderá valer-se da ação de separação judicial ou de divórcio, diretamente, citando o ausente por edital. Caso o ausente retorne, após novas núpcias, valerá o segundo casamento, pois a lei considerou rompido o vínculo anterior. Questão prática: Marcílio desapareceu de seu domicílio, sem deixar representante ou procurador, em junho de 2003. Marcílio é casado com Paula, que buscou, insistentemente, notícias de seu marido, não obtendo êxito. Os dois tiveram 3 (três) filhos que contavam com 6, 8 e 10 anos, respectivamente, na data de seu desaparecimento. O casal possuía alguns bens imóveis e um carro, sendo casados com comunhão universal de bens (ambos tinham condomínio sobre os bens). Identifique os procedimentos a serem tomados por Paula, em defesa dos seus interesses, e dos seus filhos. Bibliografia: DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 17ª ed. SP: Saraiva, 2014. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Parte Geral. Vol.1.SP: Saraiva, 2015.
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