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Econômico e Consumidor Atualizado (PONTOS XVI TRF1)

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Direito Econômico e de Proteção ao Consumidor
2015
Resumo elaborado conforme o edital do XVI Concurso Público para Provimento de Cargo de Juiz Federal Substituto do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, tendo sido adaptado com informações do edital adotado pelo Tribunal Regional da 1ª Região.
Colaboradores: 
Maurílio Maia – Pontos 1 a 4.
André Reis – 5 a 7. 
Paulo Shiokawa - Pontos 8 e 9.
SUMÁRIO
1	PONTO 1: CONSTITUIÇÃO ECONÔMICA BRASILEIRA. ORDEM CONSTITUCIONAL ECONÔMICA: PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA. TIPOLOGIA DOS SISTEMAS ECONÔMICOS.	8
1.1	Conceito de ordem econômica	8
1.2	A constituição econômica	8
1.3	A constituição econômica brasileira	8
1.4	Princípios gerais da atividade econômica	9
1.4.1	Princípios explícitos	9
1.4.2	Princípios implícitos	16
1.5	Sistemas Econômicos (Capitalismo e Socialismo)	17
1.5.1	Introdução	17
2	PONTO 2: ORDEM JURÍDICO-ECONÔMICA.	20
2.1	Introdução:	20
3	PONTO 3: CONCEITO. ORDEM ECONÔMICA E REGIME POLÍTICO.	24
3.1	Conceito	24
3.2	Ordem Econômica	24
3.3	Regime Político	25
4	PONTO 4: SUJEITOS ECONÔMICOS.	29
5	PONTO 5 - INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMICO. LIBERALISMO E INTERVENCIONISMO. MODALIDADES DE INTERVENÇÃO. INTERVENÇÃO NO DIREITO POSITIVO BRASILEIRO.	32
5.1	Intervenção do Estado no domínio econômico. Liberalismo e Intervencionismo.	32
5.1.1	Atuação Estatal X Intervenção – No Domínio Econômico	32
5.2	Modalidades de intervenção. Intervenção no Direito Positivo	33
5.2.1	Intervenção direta do Estado na ordem econômica	34
5.2.2	Intervenção indireta do Estado na ordem econômica	38
5.2.3	Formas de intervenção segunda a classificação do Min. Eros Grau	41
6	PONTO 6: LEI ANTITRUSTE E DISCIPLINA JURÍDICA DA CONCORRÊNCIA EMPRESARIAL	43
6.1	Histórico do direito concorrencial no Brasil	43
6.2	Estrutura do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC)	44
6.3	Ministério Público Federal Junto ao CADE (art. 20)	45
6.4	Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda SEAE	46
6.5	Finalidades	46
6.6	Princípios na Lei 12.529/2011	46
6.7	Infrações Contra a Ordem Econômica e Abuso do Poder Econômico	48
6.8	Concorrência ilícita e desleal	51
6.9	Disciplina jurídica da concorrência empresarial	54
6.10	Penalidades	58
6.11	Atos de concentração e estrutura de mercados	58
6.12	Repressão do poder econômico pelo Estado	61
6.13	Papel do poder Judiciário	62
6.14	Desconsideração da personalidade jurídica	63
6.15	Processo administrativo no SBDC (principais modificações introduzidas pela Lei nº 12.529/2011)	63
6.16	Medida Preventiva	65
6.17	Acordos em controle de concentrações	65
6.18	Acordo de leniência (ou delação premiada)	65
6.19	Compromisso de cessação	66
6.20	Conflitos entre autoridades concorrenciais e reguladoras	67
6.21	Exemplos práticos	67
6.22	Súmulas do CADE	67
6.23	Práticas desleais de comércio: Dumping	69
6.24	Medidas de salvaguarda	70
6.25	A investigação	71
7	PONTO 7: MERCOSUL. GATT. OMC. INSTRUMENTOS DE DEFESA COMERCIAL.	72
7.1	Introdução	72
7.1.1	Fases do processo de integração econômica	73
7.2	O GATT (General Agreement on Tariffs And Trade ou Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio)	74
7.2.1	Princípios	74
7.3	Organização Mundial do Comércio - OMC	75
7.3.1	Objetivos da OMC	75
7.3.2	Funções	75
7.3.3	Processo de adesão	76
7.3.4	Estrutura	76
7.3.5	Órgão de solução de controvérsias	77
7.4	MERCOSUL	78
7.4.1	Princípios do Tratado de Assunção	79
7.4.2	Órgãos do MERCOSUL	80
7.4.3	Sistema de solução de controvérsias	85
7.4.4	Reclamações de particulares	90
7.4.5	Solução de controvérsias e OMC	91
7.4.6	Defesa comercial no MERCOSUL	92
7.4.7	Defesa comercial no MERCOSUL	96
7.5	Infrações ao Comércio Exterior. Instrumentos de Defesa Comercial	96
7.5.1	Subsídios	96
7.5.2	Medidas compensatórias	97
7.5.3	Dumping	97
8	PONTO 8: DIREITO DO CONSUMIDOR. ELEMENTOS INTEGRANTES DA RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO. SUJEITOS: CONCEITOS DE CONSUMIDOR E DE FORNECEDOR. OBJETOS: CONCEITO DE PRODUTO E DE SERVIÇO. VÍNCULO: CONCEITO DE OFERTA E DE MERCADO DE CONSUMO.	102
8.1	Histórico	102
8.2	Direito Constitucional do Consumidor	102
8.3	Elementos integrantes da relação jurídica de consumo	103
a)	Sujeitos: consumidor e fornecedor;	103
b)	Objetos: produto e serviço;	103
c)	Vínculo: oferta e mercado de consumo.	103
8.4	Conceito de consumidor	103
8.5	Conceito de consumidor equiparado	106
8.6	Conceito de fornecedor	107
8.7	Objetos da relação jurídica de consumo	108
8.7.1	Conceito de produto	108
8.8	Conceito de serviço	108
8.9	Vínculo da relação jurídica de consumo: conceitos de oferta e de mercado de consumo	109
9	PONTO 9: AS PRINCIPAIS ATIVIDADES EMPRESARIAIS E SUA RELAÇÃO COM O REGIME JURÍDICO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO	111
9.1	Serviço público e relação jurídica de consumo	112
9.2	Atividade bancária	114
9.3	Atividade securitária	114
9.4	Atividade imobiliária	114
9.5	Consórcios	115
PONTO 1: CONSTITUIÇÃO ECONÔMICA BRASILEIRA. ORDEM CONSTITUCIONAL ECONÔMICA: PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA. TIPOLOGIA DOS SISTEMAS ECONÔMICOS.
Conceito de ordem econômica
Por ordem econômica entende-se o tratamento jurídico disciplinado pela Constituição para a condução da vida econômica da Nação, conforme Leonardo Vizeu Figueiredo. 
Para Eros Roberto Grau há duplo sentido na expressão “ordem econômica”: a) visão subjetiva (ser), como conjunto de relações econômicas; b) visão objetiva (dever-ser), como conjunto de normas jurídicas disciplinadoras dessas relações. Ainda o mesmo autor, analisando especificamente a Constituição de 1988, define que existem duas vertentes conceituais: a) ampla, consistente na regulação jurídica da intervenção do Estado na Economia; b) estrita, consistente na regulação jurídica do ciclo econômico (produção, circulação e consumo).
A constituição econômica
A primeira carta constitucional a tratar da ordem econômica e social foi a Constituição do México (1917). Leciona Eugênio Rosa de Araújo que a ideia de Constituição Econômica, contudo, tomou corpo na doutrina alemã do século XX, a partir do que se dispôs na Constituição de Weimar (1919) no que se refere à ordem econômica.
Manoel Gonçalves, citado por Eugênio Rosa, conceitua Constituição Econômica como sendo “o conjunto de normas voltadas para a ordenação da economia, inclusive declinando a quem cabe exercê-la”. Ainda segundo o primeiro autor, a Constituição Econômica delimita os seguintes elementos: a) o tipo de organização econômica (capitalismo ou socialismo); b) a delimitação do campo da iniciativa privada; c) a delimitação do campo da iniciativa estatal; d) a definição dos regimes dos fatores de produção; e e) a finalidade e os princípios gerais que devem gerir a ordem econômica.
A constituição econômica brasileira
A Carta Imperial do Brasil (1824) estabeleceu o direito à propriedade, assegurado o livre exercício da atividade profissional, desde que não atentasse aos costumes públicos. 
A Carta Republicana de 1891, por sua vez, trouxe o direito de liberdade de associação.
A Constituição de 1934 foi a primeira a instituir uma ordem econômica e social no direito constitucional e a primeira a assegurar liberdade de associação sindical, nitidamente influenciada pela Constituição de Weimar; com essa carta, passou-se a adotar uma postura de Estado Intervencionista Social, ainda mais diante de grave quadro econômico internacional.
A Constituição de 1937, lado outro, previu disposições referentes à ordem econômica, estabelecendo, uma política intervencionista do Estado no domínio econômico, com caráter nitidamente nacionalista.
A Constituição de 1946, apesar de ainda manter a possibilidade de intervenção do Estado na economia, o fazia sob outro viés, qual seja de realizar a compatibilização do direito de propriedade com os interesses coletivos e aspirações dos empregados e empregadores com a ideia de dignidade humana no trabalho. Há, aqui, a autorização e instituição de monopólios em certos setores.
A Constituição de 1967 manteve certa linhaintervencionista, estando hesitante, contudo, entre o intervencionismo e o neoliberalismo. Previa também a desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, e a função social da propriedade como princípio da ordem econômica. A Constituição (ou emenda) de 1969 teve como inovação o acréscimo do princípio da justiça social.
O constituinte originário de 1988 dotou nossa Carta Política de um conjunto de disposições que dizem respeito à conformação da ordem fundamental de nossa economia, configurando, assim, nossa Constituição Econômica.
A nossa Constituição Econômica, portanto, encarrega-se de estatuir os direitos e deveres daqueles que, em conjunto, são denominados agentes econômicos (Estado, trabalhadores, consumidores e empresários) e seu conteúdo engloba os princípios da atividade econômica (art. 170), bem como as políticas urbanas (art. 182), agrícola e fundiária (art. 184) e o sistema financeiro nacional (art. 192).
Princípios gerais da atividade econômica
Inicialmente, importa notar que existem no art. 170, da CRFB/88, certos valores que tutelam a ordem econômica brasileira, os quais não se confundem com os princípios posteriormente elencados. São eles: a) valorização do trabalho humano; b) livre-iniciativa; c) existência digna e; d) justiça social.
A CFRB/88 arrola os princípios da ordem econômica nos incisos do art. 170. Segundo José Afonso da Silva, alguns desses princípios se revelam mais tipicamente como objetivos da ordem econômica, como seria o caso da redução das desigualdades regionais e sociais e a busca do pleno emprego. Mas todos podem ser considerados princípios na medida em que constituem preceitos condicionadores da atividade econômica.
Vejamos o conteúdo de tais princípios.
Princípios explícitos
Princípio constitucional econômico da soberania nacional
A soberania nacional significa supremacia no plano interno e independência no plano internacional. Por sua vez, a soberania econômica significa que as decisões relativas à política econômica a serem adotadas pelo País devem levá-lo a estabelecer uma posição de independência em relação aos demais países, importando na possibilidade de autodeterminação de sua política econômica.
Conforme explica Eugênio Rosa de Araújo, a soberania nacional é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil e do estado Democrático de Direito (art. 1º, I), sendo que o que se trata no inciso I do art. 170 da Constituição é a soberania nacional econômica, visando estabelecer, no plano externo, a independência, a coordenação e a não-submissão em relação à economia e tecnologia estrangeiras. Registre-se, outrossim, que a soberania política (art. 1, I, CR 1988) não sobrevive sem a soberania econômica, havendo entre ambas uma relação de complementação. De sorte que a soberania política é assegurada na medida em que o Estado goza e desfruta da soberania econômica.
Esse princípio está fortemente corroído em sua conceituação tradicional pelo avanço da ordem jurídica internacional e da globalização. A ação dos Estados é movida pela incessante busca de níveis de competitividade internacional. Porém, em atendimento a esse princípio, a colaboração internacional não pode chegar ao ponto de subtrair do país as possibilidades de autodeterminação.
Princípio da Propriedade Privada
Segundo ensina Eugênio Rosa de Araújo, propriedade e direito de propriedade não se confundem, sendo a propriedade um fato econômico, enquanto que este é, sob o aspecto subjetivo, o poder do proprietário sobre a coisa, o qual é um dos direitos fundamentais da pessoa humana (art. 5, XXII, CFRB/88).
Esse princípio assegura aos agentes econômicos direito à propriedade dos fatores de produção e circulação de bens em seus respectivos ciclos econômicos.
Princípio da função social da propriedade
Introduzido no ordenamento jurídico brasileiro, pela primeira vez, com a CF/34, que assegurou o direito de propriedade com a ressalva de que não poderia ser exercido contra o interesse social ou coletivo.
A partir de então, com exceção da CR/1937, o valor função social da propriedade incorporou-se de vez à nossa experiência constitucional, figurando em pelo menos quatro dispositivos da CF/88 (art. 5º, XXIII; art. 170, III; art. 182, §2º e no caput d art. 186), a evidenciar a preocupação em construir um Estado de Direito verdadeiramente democrático, no qual possuem a mesma dignidade constitucional tanto os valores sociais do trabalho quanto os da livre iniciativa.
O princípio da função social da propriedade não é derrogatório da propriedade privada, mas sim parte integrante desta. O conteúdo da função social assume papel promocional. A disciplina das formas de propriedade e suas interpretações devem garantir e promover os valores sobre os quais se funda o ordenamento.
O princípio econômico da função social da propriedade constitui o fundamento constitucional da função social da empresa e da função social do contrato. Busca-se, por meio da função social, conciliar o benefício individual com o coletivo.
Assim, a função social da propriedade implica em uma limitação ao direito de propriedade, visando coibir abusos e evitando o seu exercício em detrimento do bem-estar da sociedade, de sorte que a propriedade, para bem cumprir seu papel econômico-social, deve compatibilizar os interesses do proprietário, da sociedade e do Estado, afastando seu uso egoístico e o uso abusivo do domínio. A propriedade é, portanto, um meio para a consecução de um fim comum: a busca do bem-estar social. 
Princípio da livre concorrência
Este princípio está intrinsecamente associado ao princípio da livre iniciativa. Teve como marco jurídico e histórico o Decreto de Allarde (França -1791), Competition Act (Canadá – 1889) e Sherman Act (EUA – 1890).
Gilmar Mendes, Inocêncio M. Coelho e Paulo Gustavo G. branco, citando Miguel Reale, afirmam que a livre iniciativa é a projeção da liberdade individual no plano da produção, circulação e distribuição de riquezas, assegurando não apenas a livre escolha das profissões e das atividades econômicas, mas também a autonomia na eleição dos processos ou meios de produção. Abrange a liberdade de fins e meios. Já o conceito de livre concorrência tem caráter instrumental, significando que a fixação dos preços das mercadorias e serviços não deve resultar de atos cogentes da atividade administrativa.
Consiste, conforme Leonardo Vizeu Figueiredo, em proteção conferida pelo Estado ao devido processo competitivo, a fim de garantir que toda e qualquer pessoa que esteja em condições possa livremente entrar, permanecer e sair do ciclo econômico. Para Miguel Reale, a livre concorrência significa a possibilidade de os dirigentes econômicos poderem atuar sem embaraços juridicamente justificáveis, visando à produção, à circulação e ao consumo de bens e serviços.
A CFRB/88 adota o modelo liberal do processo econômico, que só admite a intervenção do Estado para coibir abusos e preservar a livre concorrência de quaisquer interferências, quer do próprio Estado, quer do embate das forças competitivas privadas que podem levar à formação dos monopólios e ao abuso do poder econômico visando ao aumento arbitrário dos lucros.
Paula Forgioni, efetuando breve histórico, assinala que a concorrência no Brasil operou-se em momentos distintos de acordo com o ambiente político-econômico atuante na economia:
a) Momento fiscalista. Do período colonialismo até a transferência da Coroa para o Brasil em 1808, vigorou uma política eminentemente fiscalista, quando então se buscava apenas a renda dos impostos decorrentes das atividades comerciais aqui existentes. Não havia concorrência. Havia controle sobre quais produtos deviam ser produzidos e as respectivas quantidades máximas. Além disso, todos os produtos eram entregues a Portugal pelo preço por este estipulado;
b) Momento da orientação econômica e social. Com a vida da Família Real portuguesa iniciou-se um período de transformações sociais e econômicas, marcadas estas pela liberação dos portos aos Estados estrangeiros aliados. Foi a épocada criação do Banco do Brasil. A vinculação à Portugal, contudo, ainda imperava. A intervenção estatal no domínio econômico era preponderante, considerando que até a produção era controlada pelo Estado. Havia uma limitação à concorrência.
c) Momento Pós-independência. Com a independência do Brasil, criou-se um ambiente propício para se germinar o desenvolvimento liberal da economia, o que proporcionou a concentração de capitais, com, consequentemente, desnível social. O Brasil mantinha a intervenção estatal. Manteve-se a certa limitação à concorrência, mas por outro lado, a livre concorrência era essencial ao florescimento do novo país.
d) Período interventivo. Com a crise econômica americana de 1929, que atingiu o Brasil se estendeu durante toda a década de 30, foi necessária forte intervenção do Estado, principalmente na agricultura. Segundo Forgioni, durante esse período houve um aumento quantitativo da intervenção, objetivando a prevenção de novas crises com seus efeitos devastadores. No período, entretanto, não houve qualquer lei que regulasse o processo competitivo, sob a visão do antitruste, já que a regulação que existia entre a limitação sob a ótica individual, como é exemplo o Código de Propriedade Industrial.
Ainda segundo essa autora, a política anti-concorrencial no Brasil cresceu não a partir da manutenção da liberdade econômica, mas como forma de limitação do abuso de poder econômico. 
e) Início da regulação do antitruste. Com a edição do Decreto-Lei nº 7.666/45, a regulamentação ao abuso do poder econômico tomou forma específica e sistemática. Com esse diploma foi criada a Comissão Administrativa de Defesa Econômica – CADE, vinculado e subordinado ao Poder Executivo, circunstância que limitava e politizava o controle. Referida norma somente perdurou por 3 (três) meses. Pode-se dizer, portanto, que não havia limitação à concorrência, senão sob uma ótica individualista.
f) O sistema brasileiro atual do antitruste. Iniciado sob a égide da Carta de 1946 foi paulatinamente sendo desenvolvido. Durante a Constituição de 1946, apesar de erigido a norma constitucional, não possuía a dimensão sócio-econômica atual. Criou-se, em 1962 o CADE, Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Somente com a Constituição de 1988, contudo, a matéria foi alçada a princípio e o CADE passou a deter maior independência do Poder Executivo, mediante sua qualificação como autarquia.
Assim, a fixação de preços e a percepção de lucros não devem ser, em regra, alvo de controle pelo Estado, dentro do Estado liberal vigente, considerando que as próprias forças de mercado são suficientes para a regularização de preços. Tais forças, evidentemente, pressupõem desigualdades entre as entidades econômicas.
Destaque-se que apesar de o texto constitucional falar em livre iniciativa e livre concorrência, Paula Forgioni, citando Eros Roberto Grau, sustenta que aquela é gênero da qual é espécie a livre concorrência, juntamente com a liberdade de comércio e da indústria.
No âmbito infraconstitucional, a Lei nº 12.529/2011 tutela a livre iniciativa (e consequentemente a livre concorrência).
Ressalte-se que, porém, não é a simples concentração de mercado, por si só, a razão do controle. A concentração e a restrição à concorrência baseada nas melhorias técnicas e desenvolvimento tecnológico são permitidas (são as chamadas válvulas de escape, na nomenclatura adotada por Forgioni).
Os dispositivos visam tutelar a livre concorrência, protegendo-a contra a tendência da concentração capitalista, cabendo ao Estado intervir somente para coibir o abuso, quando a concentração é exercida de forma anti-social, de forma a prejudicar a livre concorrência. Quando o poder econômico passa a ser usado com o propósito de impedir a iniciativa de outros ou passa a ser fator concorrente para o aumento arbitrário de lucros, o abuso fica manifesto.
Dessa forma, como assinala Paula Forgioni, a concorrência não deve ser perseguida como um fim em si mesma, podendo ser sacrificada para que seja atingido o escopo maior de todo o sistema.
O texto da CFRB/88 não deixa dúvidas quanto ao fato da concorrência ser, entre nós um meio, um instrumento para o alcance de outro bem maior, de assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social. 
Nesse passo, até algumas práticas estatais, apesar de aparentar regular determinados aspectos da atuação da sociedade, acabam por limitar a concorrência. A propósito, destaca-se o enunciado n. 646 da súmula do STF, convertida para Súmula Vinculante nº 49:
Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área
Os precedentes que embasaram a súmula se referiam às farmácias, representando uma indevida reserva de mercado. Havendo outros motivos igualmente relevantes, nada impede a estipulação de distância mínima, como ocorre com os postos de combustíveis, em razão do risco de explosões, sendo um setor fortemente regulado pelo Estado.
Quanto a essas conversões em súmulas vinculantes, critica-se devido a ausência de controvérsia atual que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos, tal como exige a CR/88. 
Lado outro, importante observar também o enunciado n. 419 da súmula do STF:
Os municípios têm competência para regular o horário do comércio local, desde que não infrinjam leis estaduais ou federais válidas.
Essa súmula foi materialmente substituída (embora não formalmente cancelada) pela Súmula 645 do STF, recentemente convertida na SV 38, com a seguinte redação: “É competente o município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial”.
Observe que o Supremo não exige mais a não contradição com leis estaduais ou federais. Isso porque o fundamento é a competência legislativa privativa para assuntos de interesse local (art. 30, I), não mera competência concorrente suplementar (art. 24, I c/c art. 30, II = direito econômico). De toda forma, há quem diga que a supressão na parte final não representou mudança. 
A exceção é o horário de atendimento bancário que, por necessidade de padronização nacional e por se tratar de atividade financeira, é competência da União, consoante Súmula 19 do STJ. Não obstante, a jurisprudência reconhece a competência do Município para estabelecer tempo máximo de espera na fila do banco, aproximando-se da proteção ao consumidor e não regulação da própria atividade econômica. 
Ressalte-se que o controle da concorrência atualmente empregado tem distinção com relação ao liberalismo clássico, na medida em que aquele é qualificado pela influência social enquanto este era marcado pelo simples aspecto econômico.
Sobre o tema da livre iniciativa, ainda importa notar os importantes julgados do STF:
Tributário. Norma local que condiciona a concessão de regime especial de tributação à apresentação de CND. Meio indireto de cobrança de tributo. Ofensa ao princípio da livre atividade econômica. (AI 798.210-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 8-5-2012, Segunda Turma, DJE de 24-5-2012.)
É INCONSTITUCIONAL a lei que exija que a empresa em débito com a Fazenda Pública tenha que oferecer uma garantia (ex: fiança) para que possa emitir notas fiscais. Tal previsão configura “sanção política” (cobrança do tributo por vias oblíquas), o que viola as garantias do livre exercício do trabalho, ofício ou profissão (art. 5º, XIII), da atividade econômica (art. 170, parágrafo único) e do devido processo legal (art. 5º, LIV). STF. Plenário. RE 565048/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/5/2014. Embora as condicionantes tributárias para o exercício da atividade empresarial sejam repelidas pelo STF, há precedentes quanto a indústria de cigarro, no qual legitima-se a cassação da autorização por não recolhimento do IPI. Segundo o STF, a sonegação reiterada e sistemática atenta contra a livre concorrência, permitindo a venda de produto em condição privilegiada frente aos demais agentes econômicos do setor. Nesse caso não se trata de sançãopolítica.
Princípio da defesa do consumidor
Segundo ensina Leonardo Vizeu Figueiredo, o princípio da defesa do consumidor é corolário do princípio da livre concorrência, sendo ambos os princípios de integração e de defesa do mercado, uma vez que este se compõe de fornecedores e consumidores.
Há, pois, que se buscar equilíbrio entre as empresas que atuam no mercado e entre essas e os consumidores. A livre concorrência constitui relevante princípio da atividade econômica, propiciando a competição entre os agentes econômicos, sendo certo que essa competição tende a gerar inegáveis benefícios aos consumidores.
Princípio da defesa do meio ambiente
Esse princípio diz respeito à utilização racional dos bens e fatores de produção naturais, escassos no meio em que habitamos, o que exige a conjugação equilibrada entre os fatores de produção e o meio ambiente, que é o que se tem designado por desenvolvimento sustentável. COP 21 (O foco é o aquecimento global e os eventos climáticos decorrentes, tenta obter adesão dos Estados para tornar as metas obrigatórias, ao contrário da soft law da RIO 92 e RIO+20).
Ou seja, a exploração econômica há de ser realizada dentro dos limites de capacidade dos ecossistemas, resguardando a possibilidade de renovação dos recursos renováveis e explorando de forma não predatória os não renováveis.
Redução das desigualdades regionais e sociais
Segundo ensina Leonardo Vizeu Figueiredo, esse princípio fundamenta-se no conceito de justiça distributiva, visto sob uma perspectiva macro, no qual o desenvolvimento da Nação deve ser compartilhado por todos, adotando-se políticas efetivas de repartição de rendas e receitas, com o fito de favorecer regiões e classes econômicas menos favorecidas. Busca, assim, promover uma maior isonomia – no plano material – entre as diversas regiões do País.
A redução das desigualdades regionais e sociais constitui objetivo fundamental da república e deve ser perseguido pela política econômica adotada. Compete à União elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social (art. 21, IX, CFRB/88) e a lei de diretrizes e bases deve incorporar e compatibilizar os planos nacionais e regionais (art. 174, §1º).
Dentre os mecanismos previstos na CFRB/88 para a redução das desigualdades regionais estão os incentivos tributários e orçamentários (art. 43 e 165, §1º). Os direitos sociais previstos no art. 6º da CF constituem parâmetros para a aferição da desigualdade no país.
Princípio da busca do pleno emprego
A busca pelo pleno emprego busca propiciar trabalho para aqueles que estejam em condições de exercer uma atividade produtiva, trata-se de princípio diretivo da atividade econômica que se opõe às políticas recessivas.
Para Eros Roberto Grau, esse princípio consubstancia uma garantia para o trabalhador, na medida em que está coligado ao valor da valorização do trabalho humano e reflete efeitos em relação ao direito social do trabalho.
Neste sentido, Eugênio Rosa de Araújo salienta que este princípio tem caráter de norma programática, contendo, no mínimo, eficácia negativa, no sentido de impedir a adoção de políticas econômicas e salariais recessivas e geradoras de desemprego e subemprego ou que desestimulem a ocorrência de quaisquer ocupações lícitas, bem como impõem ao setor privado o respeito aos direitos sociais e trabalhistas (arts. 6º e 7º, CFRB/88).
Princípio do tratamento favorecidos para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país
Cuida-se de princípio constitucional impositivo de caráter conformador. Por seu turno, o art. 179 determina que todos os entes da Federação dispensarão as M.E.s e E.P.P.s tratamento jurídico diferenciado. Às M.E.s haverá de se outorgar um tratamento mais favorecido do que às E.P.P.s e a essas, um tratamento mais favorecido que as empresas em geral.
A LC 147/14 promoveu uma série de alterações legislativas. Na Lei de Falências (11.101/05), por ex., instituiu uma nova classe de credores para as deliberações da assembléia e ampliou o plano especial de recuperação judicial que antes admitia apenas créditos quirografários e agora pode todos (tem exceções, ex.: fiscais). Na LC 123/06, o acesso aos mercados; quanto às licitações houve ampliação, por ex. obrigando Estados e Municípios a aplicação imediata independente de regulamento próprio e extensão para as licitações dispensáveis em razão do valor; quanto ao mercado externo, criou um novo regime especial aduaneiro.
Princípios implícitos
Princípio da subsidiariedade
O Poder Público atua subsidiariamente à iniciativa privada na ordem econômica.
A intervenção direta somente se dará em casos expressamente previstos no texto constitucional, ocorrendo por absorção, quando o regime for de monopólio ou por participação, em casos de imperativo para segurança nacional ou relevante interesse público.
Sobre o tema, recentemente o STF decidiu que intervenção no domínio econômico (instituição de plano econômico), em que pese ser ato lícito, pode ensejar a responsabilidade civil do Estado – caso Varig (RE 571969/DF – info 738, STF).
Princípio da liberdade econômica
A liberdade de iniciativa no campo econômico compreende a liberdade de trabalho e de empreender. Pressupõe o direito de propriedade e a liberdade de contratar. Decorre da livre iniciativa, prevista como fundamento da República (art. 1º, IV, CF). O direito ao livre exercício da atividade econômica é consequência do princípio da livre iniciativa.
Limites: o Estado poderá, nos termos da lei, disciplinar o exercício desse direito. Citamos algumas formas de limitação: a) autorização para o exercício de determinadas atividades; b) intervenção direta na atividade econômica, nas hipóteses de relevante interesse coletivo ou em razão da segurança nacional; c) punição de atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular e reprimindo o abuso do poder econômico que visem à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. Tais limitações têm por fim garantir a realização da justiça social e do bem-estar coletivo.
Princípio da igualdade econômica
É outra vertente da livre-iniciativa, sendo instituto garantidor da liberdade de concorrência.
Princípio do desenvolvimento econômico
Objetiva reduzir as desigualdades regionais e sociais, visando uma igualdade real.
Princípio da democracia econômica
Pode ser interpretado tanto para os agentes econômicos, quanto para os trabalhadores e consumidores.
Informa que as politicas públicas devem ampliar a oferta de oportunidades de iniciativa e emprego, com chances iguais para todos. Outrossim, garante a participação ativa de todos os segmentos sociais na propositura das políticas públicas de planejamento econômico da Nação.
Princípio da boa-fé econômica
Consiste na aplicação do princípio da transparência e da publicidade nas relações de trocas comerciais dentro do ciclo econômico de cada mercado. É instituto garantidor da simetria informativa.
Sistemas Econômicos (Capitalismo e Socialismo)
Introdução
Ensina Leonardo Vizeu Figueiredo que por sistemas ou modelos econômicos entende-se a forma pela qual o Estado organiza suas relações sociais de produção, na qual se estrutura sua política e distribuição do produto do trabalho. Inicialmente, o mundo adotou dois sistemas econômicos bem definidos: o capitalismo e o socialismo.
Pode-se definir meios de produção ou também modos de produção, como o conjunto formado pelos "meios de trabalho" e pelos "objetos de trabalho", além da maneira como a sociedade se organiza economicamente.
Os meios de trabalho incluem os "instrumentos de produção" (máquinas, ferramentas), as instalações (edifícios, armazéns, silos etc), as fontes de energia utilizadas na produção (elétrica, hidráulica, nuclear, eólica etc.) e os meios de transporte.
Os "objetos de trabalho" são os elementos sobre os quais ocorre o trabalho humano (matérias-primas minerais, vegetaise animais, o solo etc.). Os meios de produção servem como base em modelos de organização social.
Pois bem, para uma análise de uma sociedade é preciso primeiro verificar em que tipo de meio de produção ela se baseia, pois sendo a produção talvez a parte mais importante da vida em sociedade, ela tem absoluta relevância na ordem social que vigora.
O modo de produção seria uma espécie de infraestrutura da sociedade, o modelo básico de organização social, sendo as formas das demais instituições comunitárias reflexo desta organização.
A titularidade dos meios de produção é o traço essencial da distinção entre o sistema econômico capitalista e o socialista. Se os meios de produção de uma sociedade são privados e a força de trabalho é livre, podemos ver essa sociedade como sendo Capitalista. Em sendo esses meios socializados ou não privados poderemos, talvez, então estar olhando para uma sociedade socialista. 
Obviamente, existem fatores bem mais profundos que precisam ser analisados, seja quanto aos regimes se democráticos ou autoritários até de quem realmente está detendo o domínio desses meios produtivos ou, quanto à cultura disseminada e arraigada de um povo.
Atualmente, continua o autor, diante das atuais necessidades econômicas internas e da nova configuração da economia mundial, presenciamos o surgimento de modelos econômicos que mesclam tanto características capitalistas, quanto socialistas, como se dá na República da China.
 O capitalismo (livre-empresa)
O capitalismo é o sistema econômico no qual as relações de produção estão assentadas na propriedade privada dos bens em geral e tem por pressuposto a liberdade de iniciativa e de concorrência. Principais características: a) propriedade privada dos meios de produção; b) trabalho assalariado como base de mão de obra; c) sistema de mercado baseado na livre-iniciativa e na liberdade de concorrência.
Para André Ramos Tavares, "o sistema capitalista aponta para a chamada economia de mercado, na medida em que são as próprias condições deste mercado que determinam o funcionamento e equacionamento da economia (liberdade)”.
Daí a idéia da "mão invisível", a regular e equilibrar as relações econômicas, entre oferta e procura". Na economia de mercado os preços dos produtos, serviços e dos meios de produção são determinados pela proporção entre a oferta e a respectiva procura, competindo ao Estado apenas garantir as condições para que esse sistema desenvolva-se livremente.
Hoje é muito difícil vislumbrar-se sistemas exclusivamente de mercado. A crise econômica do capitalismo levou ao abandono da crença de que o sistema de mercado seria um regulador de si mesmo. Assim, passou-se a admitir e até mesmo a exigir a intervenção do Estado, para manter o equilíbrio entre a livre iniciativa e livre concorrência. Na realidade, embora isto seja dificilmente reconhecido pela doutrina, os modelos econômicos atuais são modelos mistos.
O socialismo
O socialismo, enquanto sistema de organização econômica do Estado, opõe-se frontalmente ao liberalismo (capitalismo), pois o mercado livre é considerado como a origem da desigualdade. Este sistema propõe não somente a intervenção do Estado, mas a supressão da liberdade da iniciativa privada e o comando do Estado na esfera econômica. Inviabiliza-se a apropriação privada dos meios de produção. 
Segundo André Ramos Tavares, "o socialismo é um modelo econômico baseado na autoridade, pressupondo-a para alcançar sua sistemática própria. Mais claramente, exige-se uma autoridade centralizadora, unificante da economia". 
Leonardo Vizeu Figueiredo assinala que o socialismo é o sistema baseado na autoridade estatal, que centraliza e unifica a economia em torno do Poder Central e tem como principais características: a) o direito de propriedade limitado e, não raro, suprimido; b) a estatização e controle dos fatores de produção e dos recursos econômicos; c) a gestão política que visa a redução das desigualdades sociais; d) e a remuneração do trabalho mediante a repartição do produto econômico por meio de decisão do governo central. 
Por fim, vale trazer à colação as noções do fenômeno da globalização e, também, de neoliberalismo. 
A globalização, segundo lembra Eugênio Rosa de Araújo, implica, basicamente e de forma simplificada, na eliminação de barreiras comerciais (possibilidade de aquisição de produtos em quaisquer países), liberação dos mercados de capitais (realização de transações financeiras interbancárias a nível planetário) e na possibilidade de produção independente de fronteiras, abolindo a distância e o tempo.
Já o neoliberalismo, segundo assevera o mesmo autor, tem por palavras de ordem: menos Estado, fim das fronteiras, desregulação dos mercados, moedas fortes, privatizações, equilíbrio fiscal e competitividade global.
O aludido autor ensina que a globalização como fenômeno econômico e social em escala planetária deu respaldo à ideologia do neoliberalismo, que se baseia no argumento de que a liberalização do mercado otimiza o crescimento e a riqueza no mundo e de que a tentativa de controlar e regular o mercado apresenta resultados negativos, pois restringiria a acumulação de lucros sobre o capital, impedindo, assim, a taxa de crescimento.
Por fim, saliente-se que, após a recente crise americana de 2008/2009, que atingiu também outros países, a discussão acerca da necessidade de uma maior intervenção do Estado na economia voltou a tona, surgindo, assim, críticas ao neoliberalismo.
PONTO 2: ORDEM JURÍDICO-ECONÔMICA.
Introdução: 
Conforme aponta Gilmar Mendes, a regulação da atividade econômica é um acontecimento histórico relativamente recente, associado que está à passagem do Estado Liberal ao Estado Social. Isto porque somente ao final da I Guerra Mundial é que surgiu nas constituições escritas um corpo de normas destinado a reger o fato econômico. Compunham estas normas a chamada constituição econômica, que tanto podem estar agrupadas num só conjunto de normas, quanto virem dispersas no corpo da constituição, caso em que será chamada de constituição econômica formal; quanto, ainda, podem abranger, além destes preceitos constitucionais, também outras normas, infraconstitucionais, como leis ou até mesmo atos de menor hierarquia, compondo, então, a constituição econômica material.
No Brasil, assim como se deu alhures, essa nova postura diante do fato econômico se fez sentir a partir da Constituição de 1934, na qual foi inserido um título autônomo (“Da ordem econômica e social”), que veiculava um discurso intervencionista bastante inovador em todos os sentidos, começando a introduzir os princípios da justiça social e das necessidades da vida nacional, de modo a possibilitar a todos uma existência digna, além de garantir a liberdade econômica dentro de tais limites, como elementos fundamentais para a organização da ordem econômica.
É justamente essa “Ordem jurídico-econômica” que será nosso objeto de estudo.
Já para Savatier, ordem pública é o "conjunto de normas cogentes, imperativas, que prevalece sobre o universo das normas dispositivas, de direito privado". Numa abordagem que se aproxima da jurídica, "o conceito de ordem se prende à correlação e correspondência hierárquica existente dentro do conjunto de normas existente dentro do conjunto das normas, ligando as normas particulares a uma norma fundamental".
Explicado o sentido de “Ordem”, temos então que Eros Roberto Grau inicialmente definiu a ordem econômica, no mundo do dever-ser, como (...) conjunto de princípios jurídicos de conformação do processo econômico, desde uma visão macrojurídica, conformação que se opera mediante o condicionamento da atividade econômica a determinados fins políticos do Estado. Tais princípios (...) gravitam em torno de um núcleo, que podemos identificar nos regimes jurídicos da propriedade e do contrato para, depois, percebendo que a ordem econômica engloba mais do que apenas os princípios, a descrever como (...) o conjunto de normas que define, institucionalmente, um determinado modo de produção econômica. Assim,a ordem econômica, parcela da ordem jurídica (mundo do dever-ser), não é senão o conjunto de normas que institucionaliza uma determinada ordem econômica (mundo do ser). 
Tal definição indica o conceito de Constituição econômica, definida por Vital Moreira como (...) o conjunto de preceitos e instituições jurídicas que, garantindo os elementos definidores de um determinado sistema econômico, instituem uma determinada forma de organização e funcionamento da economia e constituem, por isso mesmo, uma determinada ordem econômica; ou, de outro modo, aquelas normas ou instituições jurídicas que, dentro de um determinado sistema e forma econômicos, que garantem e (ou) instauram, realizam uma determinada ordem econômica concreta. 
Vital Moreira faz verificações bem interessantes quanto aos sentidos da expressão ordem econômica, quais sejam: a) modo de ser empírico de uma economia concreta, sendo um conceito de fato, e não um conceito normativo ou valorativo (ínsito às regras reguladoras das relações sociais), mas sim algo referente às relações entre fenômenos econômico-materiais, entre fatores econômicos concretos; b) conjunto normativo de diversas naturezas; e c) ordem jurídico-econômica, sendo esta a acepção que serve de objeto para esta pesquisa.
Interessante mencionarmos que a Ordem Econômica é composta de um conjunto de normas de conteúdo econômico. Isto é, enquanto ramo do Direito, temos que o Direito Econômico materializa-se em normas jurídicas, destacando-se, além das normas tradicionais, de conteúdo genérico e abstrato, as seguintes normas:
Normas-programáticas: mais uma vez evidencia-se a importância das normas programáticas, portadoras de enunciados e de orientações sobre a ordem econômica.
Normas-objetivo: a norma jurídica, enquanto instrumento de governo, ultrapassa as funções tradicionais de organização e ordenação para ter em vista a implementação de políticas públicas destinadas a cumprir fins específicos. Exemplo das normas que estabelecem um determinado plano econômico, como a Lei do Plano Real, cuja finalidade, em termos de política econômica, era acabar com a inflação e instituir a estabilidade econômica. 
Norma-premiais: normas jurídicas que aplicam estímulos e incentivos.
Por fim, importante registrar que consta na nossa CF, os fundamentos desta nossa Ordem Jurídico-econômica: a) valorização do trabalho humano; b) livre iniciativa; e c) finalidade de assegurar existência digna a todos.
Alguns Julgados:
“A exigência, pela Fazenda Pública, de prestação de fiança, garantia real ou fidejussória para a impressão de notas fiscais de contribuintes em débito com o fisco viola as garantias do livre exercício do trabalho, ofício ou profissão (CF, art. 5º, XIII), da atividade econômica (CF, art. 170, parágrafo único) e do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV). () (... )(RE 565.048, rel. min. Marco Aurélio, julgamento em 29-5-2014, Plenário, Informativo 748, com repercussão geral.) 
“A lei questionada não viola o princípio do pleno emprego. Ao contrário, a instituição do piso salarial regional visa, exatamente, reduzir as desigualdades sociais, conferindo proteção aos trabalhadores e assegurando a eles melhores condições salariais.” (ADI 4.364, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 2-3-2011, Plenário,DJE de 16-5-2011.) 
"(...) Constitucionalidade da Lei 8.899, de 29 de junho de 1994, que concede passe livre às pessoas portadoras de deficiência. Alegação de afronta aos princípios da ordem econômica, da isonomia, da livre iniciativa e do direito de propriedade, além de ausência de indicação de fonte de custeio (arts. 1º, IV; 5º, XXII; e 170 da CF): improcedência. (...)" (ADI 2.649, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 8-5-2008, Plenário, DJE de 17-10-2008.) 
“(...) cancelamento do registro especial para industrialização de cigarros, por descumprimento de obrigações tributárias. (...). A defesa da livre concorrência é imperativo de ordem constitucional (art. 170, IV) que deve harmonizar-se com o princípio da livre iniciativa (art. 170, caput). .” (AC 1.657-MC, voto do Rel. p/ o ac. Min. Cezar Peluso, julgamento em 27-6-2007, Plenário, DJ de 31-8-2007.) 
"É certo que a ordem econômica na Constituição de 1988 define opção por um sistema no qual joga um papel primordial a livre iniciativa. Essa circunstância não legitima, no entanto, a assertiva de que o Estado só intervirá na economia em situações excepcionais. (...). O direito ao acesso à cultura, ao esporte e ao lazer são meios de complementar a formação dos estudantes." (ADI 1.950, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 3-11-2005, Plenário, DJ de 2-6-2006.) No mesmo sentido: ADI 3.512, julgamento em 15-2-2006, Plenário, DJ de 23-6-2006. 
“Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.” (Súmula 646.) 
“Nestes autos, discute-se a utilização do sistema de código de barras e a exigência de afixação de etiquetas indicativas dos preços nas mercadorias expostas à venda. (...) Nesse sentido, não viola a Constituição a obrigação de afixar etiquetas indicativas do preço diretamente nas mercadorias. Ademais, não prospera o argumento de invasão de competência concorrente dos Estados. (RMS 23.732, voto do Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 17-11-2009, Segunda Turma, DJE de 19-2-2010.) 
“Constitucionalidade de atos normativos proibitivos da importação de pneus usados. Reciclagem de pneus usados (...) (ADPF 101, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 24-6-2009, Plenário, DJE de 4-6-2012. 
“É constitucional a exigência contida no art. 17, V, da LC 123/2006 [Lei 123/2006: ‘Art. 17. (...) V – (...)’].. (...) Assim, o tratamento tributário a ser conferido nesses casos não poderia implicar desoneração, pois todos os contribuintes estariam adstritos ao pagamento de tributos. Afirmou-se que não seria razoável favorecer aqueles em débito com o fisco,.” (RE 627.543, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 30-10-2013, Plenário, Informativo726, com repercussão geral.) 
“Contribuição social patronal. Isenção concedida às microempresas e empresas de pequeno porte. Simples Nacional (‘Supersimples’). LC 123/2006, art. 13, § 3º. (...) O fomento da micro e da pequena empresa foi elevado à condição de princípio constitucional, de modo a orientar todos os entes federados a conferir tratamento favorecido aos empreendedores que contam com menos recursos para fazer frente à concorrência. (...).” (ADI 4.033, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 15-9-2010, Plenário, DJE de 7-2-2011.)
PONTO 3: CONCEITO. ORDEM ECONÔMICA E REGIME POLÍTICO.
Conceito
De acordo com Eros Grau é o conjunto de normas que define, institucionalmente, um determinado modo de produção econômica, objetivando a conformação do processo econômico, a partir de uma visão macrojurídica. Conformação que se opera mediante o condicionamento da atividade econômica a determinados fins políticos do Estado, e que institucionaliza uma determinada ordem econômica (esta no sentido de mundo do ser). Tais princípios gravitam em torno de um núcleo, identificado na composição do contrato e da propriedade.
De conseguinte, entende-se como uma parcela da ordem jurídica, disciplinada pela Constituição e pelas leis, com o propósito de conduzir a vida econômica da Nação, limitado e delineado pelas formas estabelecidas na própria Lei Maior para legitimar a intervenção do Estado no domínio privado econômico. 
Não obstante essa definição, segundo as lições de Eros Grau, o intérprete deverá sempre atentar para outro aspecto da expressão em tela, porquanto poderá significar também as relações econômicas ou atividades econômicas entravadas, entre os atores do mercado (realidade do mundo do “ser”), tal como expresso, com efeito, no caput do art. 170 da CR/88 e também no §5° do art. 173.
Ordem Econômica
A Ordem Econômica pode ser compreendida no aspecto material ou econômico – representado pelo conjunto de riquezas presentes no território de uma nação e sujeitas ao seu ius imperii, bem como sob o aspecto formal ou jurídico– ordenamento constitucional e legislativo que disciplina o modo de operar a atividade econômica. 
O artigo 170 da Constituição inaugura o Capítulo destinado à sua regulação (aspecto formal), dotado de forte carga axiológica, ante os preceitos fundamentais sob os quais a sociedade brasileira há de se basear: valorização do trabalho humano; livre iniciativa; justiça social, existência digna; soberania nacional; propriedade privada; função social da propriedade; livre concorrência; defesa do consumidor; defesa do meio ambiente; redução das desigualdades; busca do pleno emprego; e tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte.
Segundo Eros Grau, a Ordem Econômica, consoante o tratamento que lhe foi dado pela CRFB, assume duas vertentes conceituais, sendo uma ampla e outra estrita: a) Ampla: parcela da ordem de fato, inerente ao mundo do ser. Isto é, o tratamento jurídico dispensado para disciplinar as relações jurídicas decorrentes do exercício de atividades econômicas. É a regulação jurídica da intervenção do Estado na economia. b) Estrita: parcela da ordem de direito, inerente ao mundo do dever-ser. Isto é, o tratamento jurídico dispensado para disciplinar o comportamento dos agentes econômicos no mercado. É a regulação jurídica do ciclo econômico (produção, circulação e consumo).
Para José Afonso da Silva, a Ordem econômica consiste na racionalização jurídica da vida econômica, com o fim de se garantir o desenvolvimento sustentável da Nação.
Regime Político
Surge então o que se chamou de “Juridicização da Política Econômica”, que se insere no campo da economia normativa, uma vez que prescreve formas de comportamento e atitudes que devem ser tomadas pelos agentes econômicos e pelo Estado, tendo em vista a consecução de determinados objetivos traçados pela Ordem Econômica.
Ora, sabemos que o Estado cumpre sua função através de políticas públicas, ou seja, o Estado governa através de mecanismos jurídicos – a lei – que materializa a política econômica. Assim, é o Estado que tem competência para fixar, determinar, estipular políticas econômicas. A política econômica é uma decorrência da necessidade do Estado e da sociedade de traçarem as diretrizes fundamentais da economia com vistas à realização de certos objetivos, como, por exemplo, a estabilidade econômica, o desenvolvimento ou crescimento econômico. Estes objetivos são traçados pela Constituição, que faz as opções políticas fundamentais (art. 170 da Constituição Federal). 
A política econômica realiza-se em um sistema econômico já existente, liberal ou socialista, de modo que esta política econômica pode realizar alterações no sistema econômico, adaptando-o com o fim de atingir os fins escolhidos pelo Estado. 
Ademais, a política econômica pode variar de acordo com as necessidades da época e do contexto social. Assim é que se constata a evolução histórica da política econômica. 
De conseguinte, de acordo com a teoria dominante adotada, o posicionamento estatal, em face de sua Ordem Econômica, vai assumir feições diversas, com reflexo no texto constitucional.
Cumprem observar quais são as possíveis formas de participação do Estado nas atividades de cunho econômico desenvolvidas em seu respectivo território. Podemos, então, identificar as seguintes formas econômicas de Estado.
Estado liberal: assenta-se no respeito ao pleno exercício dos direitos e garantias por parte de seus respectivos indivíduos, face ao avanço predatório que o modelo estatal absolutista havia até então exercido. Este modelo é fruto direto das doutrinas de Adam Smith, para quem a harmonia social seria alcançada através da liberdade de mercado, frente ao ambiente concorrencialmente equilibrado. Tal teoria denominou-se como “mão invisível”.
Funda-se nos princípios do dirigismo contratual (pacta sunt servanda) e autonomia da vontade. É dizer, tem como base jurídica a livre-iniciativa (direito de qualquer cidadão exercer atividade econômica livre de qualquer restrição, condicionamento ou imposição descabida do estado) e liberdade contratual, devendo o poder público garantir o cumprimento das cláusulas pactuadas. 
Por fim, o Estado Liberal se assenta ainda na liberdade de mercado (tal postulado se assenta na auto-organização/ auto-regulação da economia. O Estado Liberal, assim, caracteriza-se por uma postura abstencionista, uma vez que atua de forma neutra e imparcial no que tange à atividade econômica. 
Após a derrocada do modelo liberalista, ascende nova forma de atitude do Estado, não havendo mais ocorrência de liberalismo puro, emergindo, a partir daí aspectos intervencionistas que variarão de acordo com as circunstâncias.
Estado intervencionista econômico: Advém com o declínio do liberalismo norte-americano, que culminou com a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. Foi então adotado o New Deal de Franklin Roosevelt, com o federalismo cooperativo e quebra do parâmetro ouro como medida de câmbio internacional.
Modelo esse fortemente influenciado pelos ensinamentos de John Maynard Keynes (Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda), explicitando que se devem muito mais, às políticas públicas do governo, o desenvolvimento socioeconômico e aumento do nível de emprego, ao somatório dos comportamentos microeconômicos individuais dos empresários.
Aqui, o estado atua com o fito de garantir o exercício racional das liberdades individuais. Assim, a política intervencionista não visa ferir os postulados liberais, mas tão somente fazer com que o Estado coíba o exercício abusivo e pernicioso do liberalismo. 
No estado intervencionista não há preocupações sociais no sentido de se estabelecer políticas públicas para tanto, mas sim de mera ordem técnica com a garantia da livre-iniciativa e da liberdade de mercado. 
A chamada Teoria dos Jogos de Von Neuman estuda as características dos atores da economia e resultados vem a demonstrar a probabilidade de dois ou mais agentes estejam combinando suas estratégias, concluindo conduta cartelizada. Esta tese significou grande avanço destinado à defesa da concorrência.
O intervencionismo se dá de forma direta, na qual o estado assume a iniciativa da atividade econômica na condição de produtor de bens e serviços ao lado dos particulares; ou, ainda, de forma indireta, na qual o estado atua tributando, incentivando, regulamentando ou normatizando a atividade econômica. No plano jurídico, assenta-se no princípio da defesa do mercado ou proteção à concorrência.
Estado intervencionista social: conhecido com Welfare State, Estado do bem estar social ou Estado Providência, é a forma estatal de intervenção na atividade econômica que tem por fim garantir que sejam efetivadas políticas de caráter assistencialista na sociedade, para prover os notadamente hipossuficientes em suas necessidades básicas. Baseia-se na seguridade social. 
O Estado compartilha os riscos individuais entre todos os seguimentos da sociedade, também com a cooperação desta, buscando garantir distribuição de renda entre os que se encontrem privados de capacidade laborativa. 
Aqui, o estado se preocupa com a coletividade e com os interesses transindividuais, ficando mitigados os interesses pessoais de cunho individualista. 
Daí porque este modelo é também chamado de Estado de bem-estar social (welfare state) ou estado providência, porque é aquele que provê uma série de direitos sociais aos cidadãos de modo a mitigar os efeitos naturalmente excludentes da economia capitalista sobre as classes sociais mais desfavorecidas.
No plano jurídico, o intervencionismo social consubstancia-se no princípio da solidariedade, que determina o compartilhamento mútuo dos riscos sociais por todos os membros da sociedade. Atua, portanto, como uma grande entidade de seguridade social, na qual a sinistralidade de eventos, como desemprego, indigência, insalubridade, patologias, epidemias etc, tem seus custos arcados e cobertos por todos, ficando a cargo do estado efetivar as políticas de justiça e inclusão social.
Outrossim, neste modelo o Estado assume responsabilidades sociais crescentes,em caráter de prestações positivas, como a previdência, habitação, saúde, educação, assistência social e saneamento, ampliando, cada vez mais, seu leque de atuação como prestador de serviços essenciais. Ademais, o Estado atua ainda como empreendedor substituto em áreas e setores considerados estratégicos para o desenvolvimento da nação.	
Estado intervencionista socialista: adotado no Leste Europeu, China e Cuba, inaugurado com a Revolução Bolchevique no chamado outubro vermelho de 1914. É a forma intervencionista máxima do Estado, uma vez que este adota uma política econômica planificada, baseada na valorização do coletivo sobre o individual.
O Poder Público passa, então, a ser o centro exclusivo para as deliberações referentes à economia. Os bens de produção são apropriados coletivamente pela sociedade por meio do Estado, de modo que este passa a ser o único produtor, vendedor e empregador. 
A livre-concorrência e a liberdade de mercado são literalmente substituídas pelo planejamento econômico racional e centralizado em torno do Poder Público, rejeitando-se sistematicamente, a autonomia das decisões privadas. 
No plano jurídico, consubstancia-se no princípio da supremacia do interesse público e da manutenção da ordem revolucionária, mitigando os anseios e expectativas individuais em face da vontade coletiva da sociedade. 
Preocupa-se, basicamente, com o bem em comum e as necessidades da coletividade, em detrimento do liberalismo individual. O Socialismo ainda prega a coletivização dos fatores de produção, afastando o modelo de livre iniciativa e liberdade concorrencial.
Estado regulador: busca-se com este modelo um retorno comedido aos ideais do liberalismo, sem, contudo, abandonar a necessidade de sociabilidade dos bens essenciais, a fim de se garantir a dignidade da pessoa humana.
Caracteriza-se numa nova concepção para a presença do Estado na economia, como ente garantidor e regulador da atividade econômica, que volta a se basear na livre-iniciativa e na liberdade de mercado, bem como na desestatização das atividades econômicas e redução sistemática dos encargos sociais, com o fito de se garantir equilíbrio nas contas públicas, sem, todavia, desviar o Poder Público da contextualização social, garantindo-se, ainda, que este possa focar esforços nos serviços públicos essenciais. 
O Estado adota uma solução, conhecida como Equilíbrio de Nash, segundo o qual onde não há ambientes concorrencialmente saudáveis, a persecução do interesse privado irá, invariavelmente, conduzir aos monopólios de consequências perniciosas. 
No plano jurídico, fundamenta-se no princípio da subsidiariedade, no qual o Poder Público somente irá concentrar seus esforços nas áreas nas quais a iniciativa privada, por si só, não consiga alcançar o atingimento das metas sociais de realização do interesse coletivo. Assim, a iniciativa de exploração das atividades econômicas retorna à iniciativa privada, a qual irá realizá-la dentro de um conjunto de planejamento estatal previamente normatizado para tanto, com o fito de conduzir o mercado à realização e consecução de metas socialmente desejáveis, que irão garantir o desenvolvimento sócio-econômico da Nação. 
Evita-se, no Estado Regulador, a concentração de poder econômico e seu uso abusivo, protegendo-se a concorrência, por meio de políticas eficazes. Garante-se aos atores do mercado o alcance de seus interesses particulares de forma pulverizada.
Importante sempre salientar o caráter restritivo na atuação do Estado na economia (ou ordem econômica material), consoante assentado pelo STF:
MEIA ENTRADA ASSEGURADA AOS ESTUDANTES REGULARMENTE MATRICULADOS EM ESTABELECIMENTOS DE ENSINO (...) A livre iniciativa é expressão de liberdade titulada não apenas pela empresa, mas também pelo trabalho. Por isso a Constituição, ao contemplá-la, cogita também da "iniciativa do Estado"; não a privilegia, portanto, como bem pertinente apenas à empresa.(...) Exemplo atual: Lei 13.179/15 obrigando e disciplinando a venda de meia-entrada para eventos culturais também pela internet.
PONTO 4: SUJEITOS ECONÔMICOS.
Os sujeitos do Direito Econômico são também denominados de agentes econômicos.
Nota: a expressão “agentes econômicos” refere-se, no direito concorrencial, às empresas, em regra.
Para entender o que vem a ser “sujeitos” do direito econômico, antes, é necessário tratar do OBJETO desse ramo. Nesse sentido, vale a menção a alguns conceitos sobre o DE:
“Direito econômico é o ramo do direito que tem por objeto a ‘juridicização’, ou seja, o tratamento jurídico da política econômica e, por sujeito, o agente que dela participe. Como tal, é o conjunto de normas de conteúdo econômico que assegura a defesa e harmonia dos interesses individuais coletivos, de acordo com a ideologia adotada na ordem jurídica. Para tanto, utiliza-se do ‘princípio da economicidade’.” (Primeiras Linhas de Direito Econômico. Washington Peluso Albino de Souza. 6ª edição. São Paulo: LTr, 2005).
“corpo orgânico de normas condutoras da interação do poder público e do poder econômico privado e destinado a reger a política econômica” (Direito Econômico. João Bosco Leopoldino da Fonseca. Rio de Janeiro: Forense, 2010)
O direito econômico tem como objeto a “possibilidade do Estado interferir na atividade econômica para ordenar o mercado, nos moldes previamente definidos em sua ordem econômica”. (Direito Econômico. Fabiano Del Masso. Elsevier, 2007)
Consoante leciona Washington Albino, os agentes tratados na disciplina do direito econômico dinamizam a vida da sociedade e são, principalmente: 
“os indivíduos, o Estado, as empresas, os organismos nacionais, internacionais e comunitários, públicos ou privados; aqueles caracterizados com relação aos chamados “interesses difusos”, que tem como titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; os que se revelam nos “interesses coletivos”, tendo como titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si, com a parte contrária, por uma relação jurídica base; os referentes aos “interesses individuais homogêneos”, que decorrem de origem comum”.
Cada um desses agentes atua munido com “poder de ação econômica”, figurando o direito econômico como um meio de harmonizar essa prática das atividades pelos diversos sujeitos. Isto é, identifica-se uma RELAÇÃO de direito econômico entre o indivíduo, o Estado, a empresa e os demais entes, pois cada qual segue uma linha político-econômica formada “pela ideologia institucional na defesa de seus respectivos interesses” (expressão de Washington Albino). 
Sinteticamente, podemos elencar os seguintes sujeitos do Direito Econômico:
O Estado: Também é considerado sujeito de direito econômico porque é responsável pela edição das normas que materializam a política econômica, e porque pode intervir no domínio econômico de diversas maneiras (como a atuação direta).
Os indivíduos: na sua manifestação de seu trabalho, como consumidor de bens ou serviços ou como usuário de serviços públicos.
As empresas: enquanto unidades de produção de bens e serviços e também enquanto consumidoras.
A coletividade: são os sujeitos indetermináveis ou indeterminados de direito, titulares de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos.
Órgãos internacionais ou comunitários.
Uma breve consideração acerca dos sujeitos da ordem econômica internacional. 
Nos termos da classificação de Leonardo Vizeu Figueiredo (Lições de Direito Econômico. 7ª edição, Rio de Janeiro: Forense, 2014): “Os sujeitos da Ordem Econômica Internacional são as entidades, ou seja, aqueles a quem se reconhece personalidade jurídica e que atuam na formação e concretização das normas de Direito Internacional, a saber, os Estados e os Organismos Internacionais, de modo que somente estes podem adquirir direitos e contrair obrigações no plano internacional. Por sua vez, os atores internacionais são todos aqueles que influem na formação destas normas, como as Empresas Transnacionais”.
Por possuírem personalidade jurídica de direito internacional própria,conforme previsto no art. 34 do Protocolo de Ouro Preto (Decreto n. 1.901/1996), os organismos internacionais são considerados sujeitos econômicos.
A noção dos estados soberanos como sujeitos econômicos associa-se à própria ideia de Estado atrelado ao conceito de soberania. 
Quanto aos organismos internacionais, sua evolução como sujeitos econômicos ocorreu após a eclosão da 2ª Grande Guerra diante da progressão do aumento das necessidades, ora comuns, ora conflitantes dos membros da comunidade internacional, constituindo (os OIs) um instrumento de abreviar as negociações e maximizar resultados comuns mais vantajosos. Esta ordem econômica internacional tem por “finalidade constituir unidade que leve em conta a heterogeneidade, a diversificação dos ordenamentos nacionais” (expressão de João Bosco Leopoldino da Fonseca).
Segundo João Bosco Leopoldino da Fonseca, essa unidade heterogênea a cargo da ordem econômica internacional existe na medida em que a “interdependência econômica é irrefragável [que não pode ser contestada] e a coexistência pacífica é uma condição irrecusável de sobrevivência”, lecionando, ainda, que existem dois aspectos a serem observados nos sujeitos dessa categoria: 
institucional (“o ordenamento, pelo conjunto coerente de regras jurídicas com função de concretizar os ideais políticos, econômicos e sociais”); e
pessoal (“focaliza as pessoas que atuam na formação e concretização de tais normas”).
PONTO 5 - INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMICO. LIBERALISMO E INTERVENCIONISMO. MODALIDADES DE INTERVENÇÃO. INTERVENÇÃO NO DIREITO POSITIVO BRASILEIRO.
Intervenção do Estado no domínio econômico. Liberalismo e Intervencionismo.
Segundo Eros Grau, a partir do art. 170, caput, fica clara a adoção de um sistema econômico capitalista, tendo em vista as expressões livre iniciativa, livre concorrência e propriedade privada. Contudo, esse mesmo dispositivo permite a intervenção do Estado na economia, tomando por base a expressão conforme os ditames da justiça social. Isso significa que a CF não adota um modelo de autorregulação da economia, em que o Estado seria mero garantidor de uma ordem liberal.
Eros Roberto Grau diz que se adota no Brasil um sistema capitalista de viés social. Para tanto, demanda-se a intervenção estatal - atuação do Estado além da esfera do público, ou seja, na esfera privada (área de titularidade do setor privado).
Assim, o modelo econômico adotado seria o capitalista, enquanto o regime econômico seria intervencionista, a fim de garantir que sejam efetivadas políticas de caráter assistencialista na sociedade, pois a Carta Magna prevê uma série de direitos sociais com o objetivo de mitigar os efeitos naturalmente excludentes da economia capitalista sobre as classes sociais mais desfavorecidas. 
Atuação Estatal X Intervenção – No Domínio Econômico
Para Eros Roberto Grau, as expressões “atuação estatal” e intervenção são relativamente intercambiáveis. Confira:
Toda atuação estatal é expressiva de um ato de intervenção; (...). Logo, se o significado a expressar é o mesmo, pouco importa se faça uso seja da expressão atuação (ou ação) estatal – seja do vocábulo – intervenção. (...) A intervenção, pois, na medida em que o vocábulo expressa, na sua conotação mais vigorosa, precisamente atuação na área de outrem.
Daí se verifica que o Estado não pratica intervenção quando presta serviço público ou regula a prestação de serviço público. Atua, no caso, em área de sua própria titularidade, na esfera pública. Por isso mesmo dir-se-á que o vocábulo intervenção é, no contexto, mais correto do que a expressão atuação estatal: intervenção expressa atuação estatal em área de titularidade do setor privado; atuação estatal, simplesmente, expressa significado mais amplo. Pois é certo que essa expressão, quando não qualificada, conota inclusive atuação na esfera do público.
Por isso que o vocábulo e expressão não são absolutamente, mas apenas relativamente, intercambiáveis. Intervenção indica, em sentido forte (isso é, na sua conotação mais vigorosa), no caso, atuação estatal em área de titularidade do setor privado; atuação estatal, simplesmente, ação do Estado tanto na área de titularidade própria quanto em área de titularidade do setor privado. Em outros termos, teremos que intervenção conota atuação estatal no campo da atividade econômica em sentido estrito; atuação estatal, ação do Estado no campo da atividade econômica em sentido amplo. 
RESUMINDO:
a) ATUAÇÃO ESTATAL: tem sentido mais amplo; é ação do Estado na esfera própria e no âmbito de titularidade do setor privado. Refere-se à ação do Estado no campo da atividade econômica em sentido amplo.
b) INTERVENÇÃO: indica atuação do Estado em área de titularidade do setor privado. Diz respeito à atividade econômica em sentido estrito.
São formas de atuação estatal na atividade econômica (em sentido amplo): a) limitação da autonomia privada (poder de polícia); b) prestação de serviço público; c) regulação econômica; e d) exploração direta de atividade econômica.
Modalidades de intervenção. Intervenção no Direito Positivo
Há as seguintes formas/modalidades de intervenção do Estado no domínio econômico:
Intervenção direta: ocorre quando o Estado atua na economia como agente econômico. Pode-se dar de duas formas, pela absorção (monopólio) e participação.
Absorção: o Estado toma todo um setor econômico para si, explorando em prol da coletividade (art. 177, CRFB). Ex: monopólio do petróleo. ATENÇÃO! Correios: serviço público de prestação exclusiva e obrigatória (não se fala em monopólio, e sim em privilégio. Eros Grau entende que, quando estamos diante de prestação de serviço em caráter de prestação exclusiva e obrigatória, não há falar em monopólio, e sim em privilégio).
Participação: atuação ao lado da iniciativa privada, em regime de concorrência (art. 173). Exemplo clássico: Banco do Brasil – atividade eminentemente privada.
Intervenção indireta: Ocorre quando o Estado limita-se a condicionar o exercício da exploração da atividade econômica, sem assumir posição de agente econômico ativo (o Estado atua como agente normativo e regulador da atividade econômica). Pode se dar de duas formas, quais sejam, direção e indução.
Direção: o Estado se utiliza de normas administrativas ou legais por meio das quais fixa um comportamento obrigatório para a prática da atividade econômica, sem o qual o agente responderá no plano administrativo e, por vezes, no plano criminal. 
Indução: corresponde à utilização pelo Estado de normas para induzir certos comportamentos econômicos, estimulando (normas premiais) ou desestimulando certas condutas, conforme a política econômica assim o exige. Ex: normas tributárias, de política de crédito, de câmbio, incentivos fiscais (privilégios financeiros no aspecto da receita), subvenções sociais e subsídios (privilégios financeiros no aspecto da despesa pública).
Na intervenção por indução, o Estado exerce menor pressão, por meio de preceito com menor cogência (normas dispositivas – estímulos, incentivos). 
Observação importante: nem sempre a indução se manifesta em termos positivos. Ex: aumento elevado de imposto de importação de determinado bem (extrafiscalidade)– não se proíbe a importação, mas a oneração dos bens torna a importação economicamente proibitiva – indução negativa (estímulos e desestímulos).
Ressalte-se, por fim, que o planejamento não configura modalidade de intervenção, mas simplesmente um método para qualificá-la, por torná-la sistematizada e racional.
Vejamos, de forma pormenorizada, como se dá essa intervenção do Estado na economia.
Intervenção direta do Estado na ordem econômica
Ocorre quando o Estado executa diretamente a atividade econômica em sentido estrito.
Atualmente, dado ao descrédito no potencial econômico do Estado, a Constituição Federal torna defeso ao Poder Público a exploração direta de atividade econômica, excepcionando, tão somente, os casos que se revelem imperativos à segurança nacional, de relevante interesse coletivo, bem como de monopólioconstitucional, a teor do disposto nos arts. 173 e 177 da CRFB.
Portanto, claro é que a intervenção material (direta) do Poder Público em qualquer atividade econômica se dará apenas em caráter excepcional e subsidiário. Ressalte-se, aqui, que, mesmo quando a exploração de atividade econômica se dê pelo Poder Público, este deverá fazê-lo sob regime de direito privado e em caráter concorrencial com o particular(com derrogação parcial: concurso e licitação para atividades meio e sujeição aos princípios da Adm. Publ : LIMPE) - isto quando não atuar sob regime de monopólio constitucionalmente estabelecido.
O Estado poderá participar do desenvolvimento direto de atividade econômica por intermédio das conhecidas empresas estatais, que são as empresas públicas e as sociedades de economia mista.
O atendimento das necessidades humanas pode se dar tanto por parte do particular quanto por parte do Poder Público. O agente privado constituído sob a forma empresarial atua sempre no sentido de alcançar seus próprios interesses, vendo nas necessidades coletivas e individuais da sociedade uma forma de obter lucro. Por outro lado, o Estado tem por finalidade maior o atendimento dos interesses da sociedade, em especial as necessidades dos notadamente hipossuficientes. 
A teor das disposições constantes nos arts. 170, 173 e 175, todos da CRFB, podemos classificar as atividades econômicas em sentido amplo em: 
Atividade econômica em sentido estrito: trata-se de todas as atividades típicas do mercado que envolvem a produção e circulação de bens e serviços, sendo regidas exclusivamente pelas normas do direito privado. Aqui, a oferta e aquisição dos produtos oriundos da exploração de atividade econômica em sentido estrito são restritas tão somente à parcela da população com renda própria para tanto. Isto porque a exploração destas atividades se orienta em princípios de direito privado e nas leis de mercado, não havendo como se impor aos agentes econômicos particulares atendimento caritativo e assistencialista às necessidades dos hipossuficientes. Estes, quando se fizer necessário, devem valer-se das políticas públicas de redistribuição de renda, de erradicação da pobreza e da redução das desigualdades sociais a serem implementadas pelo Poder Público (art. 3º, III, CRFB). Ao Estado, por outro lado, compete normatizar, regular e planejar sua ordem econômica e seu mercado interno, conduzindo-os ao atingimento de metas socialmente desejáveis, nos termos dos arts. 174 e 219, CRFB. Assim, temos que as atividades econômicas em sentido estrito, a teor do art. 173 da CRFB, são exploradas precipuamente pelo particular e subsidiariamente pelo Poder Público, somente nas hipóteses e exceções constitucionalmente previstas (princípio da subsidiariedade) devendo o mesmo, para tanto, estar previamente autorizado por lei (imperativo de segurança nacional e relevante interesse coletivo definido em lei), sempre em regime de direito privado (parcialmente derrogado) e em caráter concorrencial com o particular. 
Serviços públicos: por serviços públicos entende-se toda a atividade prestada para atendimento das necessidades do Estado ou da sociedade, sempre sob regime de direito público ou regime de privilégio. Nos termos do art. 175 da CRFB, os serviços públicos são precipuamente prestados pela Administração Pública, cabendo todavia sua delegação aos particulares, seja por via da concessão ou da permissão, precedida obrigatoriamente de licitação. Observe-se que a regência de tais atividades será sempre por normas de direito público, ainda quando prestadas por particulares delegatários.
O agente econômico privado presta serviços públicos, fazendo as vezes de Estado (a titularidade é do Estado), por intermédio dos contratos de concessão e permissão, ambos regulados pela Lei n. 8.987/95, que realiza as seguintes definições:
Poder concedente: a União, o Estado, o distrito Federal ou o Município, em cuja competência se encontre o serviço público, precedido ou não da execução de obra pública, objeto de concessão ou permissão.
Concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado;
Concessão de serviço público precedida da execução de obra pública: a construção, total ou parcial, conservação, reforma ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de interesse público, delegada pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento da concessionária seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou da obra por prazo determinado.
Permissão de serviço público: a delegação, a título precário, mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco. Tem natureza jurídica de contrato de adesão a título precário.
Princípio do compartilhamento de redes e de infra estruturas: ocorre em um determinado sistema de redes (como, por exemplo, de transporte, de telefonia, etc), determinando-se o compartilhamento obrigatório do uso da referida rede (cabos e fios) e ou estrutura (postes) por parte de outros agentes competidores ou não, mediante pagamento de compensação financeira ao titular. Envolve a utilização por uma prestadora de serviços da estrutura de outra, a preços módicos, eventualmente a fim de promover a competição(nem sempre), beneficiando o usuário pela promoção da modicidade tarifária. O art. 73 da L.9472/97 Lei Geral de Telecom prevê desde 1997 a utilização de postes, dutos, condutos e servidões. O artigo 155 da LGT, prevê que “para desenvolver a competição, as empresas prestadoras de serviços de telecomunicações de interesse coletivo deverão, nos casos e condições fixados pela Agência, disponibilizar suas redes a outras prestadoras de serviços de telecomunicações de interesse coletivo”. O art. 73 prevê a utilização por agentes de outras áreas e o 155 da mesma área de atuação, promovendo a competição. O instituto do compartilhamento também já foi utilizado na área privada (atividade econômica em sentido estrito) pelo CADE, como condição para autorizar ato de concentração, a fim de garantir a livre concorrência no mercado.
Vejamos as situações autorizativas para a intervenção direta do Estado na economia:
Segurança nacional: ocorre nos casos em que a intervenção se faz necessária para garantir a própria existência e razão de ser do Estado. Isto porque determinadas atividades econômicas são estratégicas para se garantir a soberania do Estado e independência da nação, tais como a exploração de minérios portadores de energia atômica. Cumpre assinalar que o conceito de segurança nacional é eminentemente político, podendo ser classificado, portanto, como conceito jurídico indeterminado, que depende do caso concreto para ser devidamente delineado. Somente a União pode intervir sob esse fundamento.
Interesse coletivo: é todo aquele que deve se sobrepor ao interesse do particular com o fim de garantir a sobrevivência da própria liberdade individual da sociedade. Além de coletivo, faz-se necessário, ainda, que o interesse seja dotado de relevância. Observe-se que os interesses coletivos pertencem ao rol de direitos de terceira geração, que são essencialmente transindividuais. Todos os entes podem intervir sob esse fundamento.
Monopólio: o Estado reguarda algumas atividades econômicas que são por ele exclusivamente realizadas. A justificativa para a retirada dessas atividades do domínio econômico é a segurança nacional e o interesse coletivo. O monopólio estatal é aplicado apenas nas áreas de petróleo, gás natural/minérios e minerais nucleares. 
O conceito de monopólio é eminentemente econômico, traduzindo-se no poder de atuar em

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