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Civil Atualizado (XVI TRF1)

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Direito Civil
2015
Resumo elaborado conforme o edital do XVI Concurso Público para Provimento de Cargo de Juiz Federal Substituto do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, tendo sido adaptado com informações do edital adotado pelo Tribunal Regional da 1ª Região.
Sumário
Sumário	2
1	Ponto1 - Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Pessoas naturais: personalidade e capacidade, direitos da personalidade, morte presumida, ausência, tutela, curatela. Pessoas jurídicas: conceito, classificação, registro, administração, desconsideração da personalidade jurídica, associações, fundações.	7
1.1	LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO	7
1.1.1	NOÇÕES GERAIS	7
1.1.2	VALIDADE, VIGÊNCIA, VIGOR E EFICÁCIA DAS NORMAS JURÍDICAS	8
1.1.3	APLICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS	8
1.2	PESSOAS FISICAS ou NATURAIS:	11
1.2.1	PERSONALIDADE	11
1.2.2	CAPACIDADE	12
1.2.3	MORTE PRESUMIDA	15
1.2.4	AUSÊNCIA	15
1.2.5	DIREITOS DA PERSONALIDADE	16
1.2.6	TUTELA	23
1.2.7	CURATELA	25
1.3	PESSOAS JURÍDICAS	27
1.3.1	CONCEITO	27
1.3.2	REGISTRO	28
1.3.3	CLASSIFICAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA:	29
1.3.4	ADMINISTRAÇÃO	30
1.3.5	DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA	31
1.3.6	ASSOCIAÇÕES	33
1.3.7	FUNDAÇÃO	34
2	Ponto 2 - Domicílio. Bens. Negócios Jurídicos: Conceito. Representação. Condição. Termo. Encargo. Defeitos. Invalidade. Atos Jurídicos Lícitos e Ilícitos	35
2.1	DOMICÍLIO	35
2.2	BENS	36
2.2.1	NOÇÕES GERAIS	36
2.2.2	CLASSIFICAÇÃO DOS BENS	37
2.3	NEGÓCIO JURÍDICO	47
2.3.1	CONCEITO	48
2.3.2	Classificação dos negócios jurídicos:	48
2.3.3	PLANOS DO NEGÓCIO JURÍDICO: EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA	50
2.3.4	INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS	51
2.3.5	REPRESENTAÇÃO	52
2.3.6	CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO	52
2.3.7	DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO	57
2.3.8	A INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO	65
3	Ponto 3 - Prescrição e decadência. Prova. - 1. Prescrição e Decadência	69
3.1	Prescrição	69
3.1.1	Requisitos da prescrição:	70
3.1.2	Prescrição da exceção	73
3.1.3	Prazos Prescricionais	73
3.1.4	Prescrição intercorrente	74
3.2	Decadência.	75
3.2.1	Conclusões. TESE ADOTADA PELO NOVO CÓDIGO CIVIL	75
3.2.2	Súmulas, jurisprudência e Enunciados das Jornadas de Direito Civil concernentes à prescrição e à decadência	76
3.2.3	Jurisprudência:	78
3.2.4	Enunciados das Jornadas I, III, IV, V e VI JORNADAS DE DIREITO CIVIL DO C.J.F.	81
3.3	Prova	82
3.3.1	Noções Gerais	82
3.3.2	Conceitos	83
3.3.3	Algumas decisões relevantes:	88
3.3.4	Enunciados:	89
4	Ponto 4 - Obrigações: conceito e elementos constitutivos. Modalidades. Transmissão. Adimplemento, inadimplemento e extinção das obrigações.	90
4.1	Conceito	90
4.2	Elementos constitutivos das obrigações	90
4.3	Modalidades	91
4.3.1	Obrigação natural ou imperfeita.	91
4.3.2	Obrigações ambulatórias, mistas (reais, in rem, ob rem ou propter rem) e Obrigações com eficácia real.	92
4.3.3	Obrigação como processo	94
4.3.4	As obrigações, apreciadas segundo a prestação que as integra, poderão ser:	96
4.3.5	Obrigações de fazer.	99
4.3.6	Obrigações de não fazer.	100
4.3.7	Tutela processual das obrigações de dar.	101
4.3.8	Tutela processual das obrigações de fazer e não fazer.	102
4.4	Classificação Especial das Obrigações:	103
4.4.1	Classificação especial quanto ao elemento subjetivo (sujeitos)	103
4.4.2	Classificação especial quanto ao elemento objetivo (prestação)	109
4.4.3	Classificação especial quanto ao elemento acidental	112
4.4.4	Classificação especial quanto ao conteúdo	113
4.5	Transmissão das obrigações	113
4.5.1	Da cessão de crédito	113
4.5.2	Da assunção de dívida ou Cessão de débito.	116
4.5.3	Cessão de Contrato ou Cessão de Posição Contratual	117
4.6	Adimplemento e extinção das obrigações	119
4.6.1	Pagamento.	119
4.6.2	Extinção das Obrigações sem Pagamento	123
4.6.3	Consignação em pagamento.	124
4.6.4	Pagamento com sub-rogação.	128
4.6.5	Imputação do pagamento	130
4.6.6	Dação em pagamento (datio in solutum)	131
4.6.7	Novação.	132
4.6.8	Compensação.	134
4.6.9	Confusão	136
4.6.10	Remissão.	137
4.7	Inadimplemento das obrigações 	137
4.7.1	Inadimplemento absoluto das obrigações	138
4.7.2	Inadimplemento relativo das obrigações: a mora	141
4.7.3	Perdas e danos	145
4.7.4	Juros.	147
4.7.5	Cláusula Penal	148
4.7.6	Arras confirmatórias e arras penitenciais.	151
5	Ponto 5 - Contratos em geral: Teoria geral dos contratos. Princípios. Elementos constitutivos. Pressupostos de validade. Revisão. Extinção.	156
5.1	Princípios contratuais	157
5.2	Conceito	162
5.3	Classificação dos contratos	162
5.3.1	Considerados em si mesmos (principais classificações)	163
5.3.2	Reciprocamente considerados	165
5.3.3	Outras classificações	165
5.4	A formação dos contratos	167
5.4.1	Fase de negociações preliminares ou de puntuação	167
5.4.2	Fase da proposta	167
5.4.3	Teorias da formação	167
5.4.4	Fase de contrato preliminar	168
5.4.5	Fase de contrato definitivo	169
5.5	Vícios redibitórios	169
5.6	Evicção	170
5.7	Contratos e o direito intertemporal	171
5.8	Extinção dos contratos	173
5.8.1	Forma natural	173
5.8.2	Cláusulas especiais de extinção.	173
5.8.3	A exceção de contrato não cumprido	173
5.8.4	A teoria da imprevisão (a resolução por onerosidade excessiva)	174
6	CONTRATOS EM ESPÉCIE	176
6.1	CONTRATO DE COMPRA E VENDA. ()	176
6.2	CONTRATO DE TROCA OU PERMUTA	182
6.3	CONTRATO ESTIMATÓRIO (VENDA EM CONSIGNAÇÃO DE PRODUTOS)	182
6.4	CONTRATO DE DOAÇÃO	182
6.5	CONTRATO DE LOCAÇÃO DE COISAS	186
6.6	CONTRATO DE EMPRÉSTIMO	188
6.7	CONTRATO DE COMODATO	189
6.8	CONTRATO DE MÚTUO	189
6.9	CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO	190
6.10	CONTRATO DE EMPREITADA	191
6.11	CONTRATO DE DEPÓSITO	193
6.12	CONTRATO DE MANDATO	194
6.13	CONTRATO DE COMISSÃO	198
6.14	CONTRATO DE AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO	199
6.15	CONTRATO DE CORRETAGEM	200
6.16	CONTRATO DE TRANSPORTE	201
6.17	CONTRATO DE SEGURO	205
6.18	CONTRATO DE CONSTITUÇÃO DE RENDA	211
6.19	DO JOGO E APOSTA	212
6.20	CONTRATO DE FIANÇA	212
6.21	CONTRATO DE TRANSAÇÃO	214
6.22	CONTRATO DE COMPROMISSO	215
6.23	ATOS UNILATERAIS	216
7	Ponto 7 - Responsabilidade civil. Elementos. Responsabilidade por fato de outrem. Responsabilidade por fato da coisa. Teorias subjetiva e objetiva da responsabilidade civil. Dano moral e material. Indenização.	218
7.1	ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL	218
7.1.1	Conduta humana	219
7.1.2	Dano	219
7.1.3	Culpa lato sensu	219
7.1.4	Nexo de causalidade	220
7.2	CAUSAS QUE EXCLUEM A RESPONSABILIDADE	221
7.2.1	Estado de necessidade e legítima defesa	221
7.2.2	Estrito cumprimento do dever legal e Exercício regular de direito	222
7.2.3	Caso fortuito e força maior	222
7.2.4	Fortuito interno e externo	222
7.2.5	Fato exclusivo da vítima	222
7.2.6	Fato de terceiro	223
7.2.7	Anuência da vítima	223
7.2.8	Cláusula de não indenizar	223
7.3	RESPONSABILIDADE POR FATO DE OUTREM	223
7.3.1	Pais pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e companhia	224
7.3.2	Tutor e curador pelos pupilos e curatelados, que se acharem na mesma condição	224
7.3.3	Empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir ou em razão dele	225
7.3.4	Donos de hotéis, hospedeiros, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos dentro de uma esfera restrita de vigilância	225
7.3.5	Os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia	225
7.4	RESPONSABILIDADE POR FATO DA COISA	225
7.4.1	Responsabilidade de dono ou de detentor de animal	225
7.4.2	Responsabilidade de dono da construção ou do terreno	226
7.4.3	Responsabilidade por objeto lançado ou caído em local indevido	226
7.4.4	Responsabilidade pelos produtos postos em circulação	226
7.5	TEORIAS SUBJETIVA E OBJETIVA DA RESPONSABILIDADE CIVIL	226
7.5.1	Responsabilidade Objetiva no Código Civil de 2002	227
7.5.2	Abuso de direito	227
7.5.3	Responsabilidade pelo desempenho de atividadede risco	228
7.5.4	Casos jurisprudenciais	228
7.6	DANO MORAL E MATERIAL	228
7.6.1	Dano Material – Dano Patrimonial.	228
7.6.2	Dano Moral - Extrapatrimonial	230
7.6.3	Danos Sociais	235
7.7	INDENIZAÇÃO	235
7.7.1	Sistemas de mensuração do dano moral	236
7.7.2	Fixação do dano moral	236
7.7.3	Definição da indenização em caso de morte	237
7.7.4	Definição da indenização em caso de incapacidade	238
7.7.5	Correção Monetária	239
7.7.6	Juros moratórios	239
8	Ponto 8 - Posse. Definição. Natureza jurídica. Classificação de posse. Aquisição da posse. Efeitos da posse. Composse. Proteção possessória. Perda da posse. Propriedade. Definição. Elementos. Classificação. Extensão da propriedade. Restrições à propriedade. Aquisição ou constituição da propriedade. Propriedade imóvel. Propriedade móvel. Propriedade resolúvel e fiduciária. Perda da propriedade móvel e imóvel. Função social da propriedade. Política agrícola e reforma agrária	240
8.1	Posse (art. 1196 a 1224 do CC)	240
8.1.1	- DETENÇÃO	243
8.1.2	245
8.1.3	- Natureza Jurídica da Posse	245
8.1.4	- Classificação de posse	245
8.1.5	- Aquisição da posse	248
8.1.6	- Efeitos da posse	248
8.1.7	- Composse ou coposse ou compossessão	254
8.1.8	- Proteção possessória	255
8.1.9	- Perda da posse (art. 1223/4 do CC)	256
8.2	257
8.3	Propriedade	257
8.3.1	- Definição	257
8.3.2	- Elementos	259
8.3.3	- Classificação	259
8.3.4	- Extensão do direito de propriedade	259
8.3.5	- Restrições à propriedade	260
8.3.6	- Aquisição ou constituição da propriedade	260
8.3.7	- Modos de aquisição da propriedade móvel	274
8.4	Propriedade móvel	276
8.4.1	- Propriedade resolúvel e fiduciária	276
8.5	PERDA DA PROPRIEDADE MÓVEL E IMÓVEL	282
8.6	FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE	285
9	Ponto 9 - Superfície. Servidões. Usufruto. Uso. Habitação. Penhor. Hipoteca. Registros Públicos. Estatuto da Terra.	292
9.1	Superfície	292
9.2	Servidões	294
9.2.1	CARACTERÍSTICAS	294
9.2.2	DISTINÇÕES.	296
9.2.3	CLASSIFICAÇÕES.	296
9.3	Usufruto	298
9.4	Uso	302
9.5	Habitação	303
9.6	Penhor	305
9.7	Hipoteca	306
9.8	Registros Públicos	309
9.8.1	TRATAMENTO CONSTITUCIONAL E SEU REGULAMENTO LEGAL	309
9.8.2	PRENOME, SOBRENOME E MUDANÇA DE NOME	313
9.8.3	REGISTRO DE IMÓVEIS	314
9.9	Estatuto da Terra	316
9.9.1	DIREITO AGRÁRIO	316
9.9.2	ESTATUTO DA TERRA	317
 
Ponto1 - Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Pessoas naturais: personalidade e capacidade, direitos da personalidade, morte presumida, ausência, tutela, curatela. Pessoas jurídicas: conceito, classificação, registro, administração, desconsideração da personalidade jurídica, associações, fundações.
(Atualizado por NELSON LIU PITANGA, aos 11/12/2015)
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO
NOÇÕES GERAIS
A LICC, atual LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (Lei 12376/2010) é uma regra de superdireito ou sobredireito (E. ZITELMANN utiliza o termo, que é assimilado pelo direito hermenêutico). Ou seja, são normas que definem a aplicação de outras normas.
As principais funções da Lei são: a) determinar o início da obrigatoriedade das leis (art 1º) ; b) regular a vigência e eficácia das normas jurídicas (art 1º e 2º); c) impor a eficácia geral e abstrata da obrigatoriedade, inadmitindo a ignorância da lei vigente (art.3º); d) traçar os mecanismos de integração da norma legal, para a hipótese de lacuna na norma (art.4º); e) delimitar os critério de hermenêutica, de interpretação da lei (art.5º); f) regulamentar o direito intertemporal (art.6º); g) regulamentar o direito internacional privado no Brasil (art. 7º a 17), abarcando normas relacionadas à pessoa e à família (art.7º e 11), aos bens (art 8º), às obrigações (artigo 9º), à sucessão (art.10), à competência da autoridade judiciária brasileira (art. 12), à prova dos fatos ocorridos em pais estrangeiro (art.13), à prova da legislação de outros países (art. 14), à execução da sentença proferida por juiz estrangeiro (art. 15) à proibição do retorno (art. 16), aos limites da aplicação da lei e atos jurídica de outro pais no Brasil (art. 17) e, finalmente, aos atos civis praticados por autoridade consulares brasileiras praticados no estrangeiro (art. 18 e 19) (CRISTIANO CHAVES – TEORIA GERAL – 7º EDICAO)
Recente alteração no texto da LINDB (Lei n° 12.874/2013):
Art. 1° Esta Lei dispõe sobre a possibilidade de as autoridades consulares brasileiras celebrarem a separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros no exterior, nas hipóteses que especifica.
Art. 2° O art. 18 do Decreto-Lei no 4.657, de 4 de setembro de 1942, passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 1o e 2o:
“Art. 18. ........................................................................
§ 1º As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, devendo constar da respectiva escritura pública as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o casamento.
§ 2° É indispensável a assistência de advogado, devidamente constituído, que se dará mediante a subscrição de petição, juntamente com ambas as partes, ou com apenas uma delas, caso a outra constitua advogado próprio, não se fazendo necessário que a assinatura do advogado conste da escritura pública.” (NR)
Art. 3° Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte) dias de sua publicação oficial.
VALIDADE, VIGÊNCIA, VIGOR E EFICÁCIA DAS NORMAS JURÍDICAS
A validade, cuja aferição determinará a sua compatibilidade ou não com o sistema jurídico-normativo, pode ser analisada sob os seguintes aspectos:
a) FORMAL (observância das normas referentes ao processo de criação da lei, exemplo: artigo 60, §§ 1º e 2º CF); ou
b) MATERIAL (verificação da matéria passível da codificação está sendo observada, exemplos: artigos 21 a 24, CF/88, artigos que estabelecem as matérias que podem ser objeto de regulação e por quem).
A VIGÊNCIA é critério puramente temporal da norma. Trata-se do lapso temporal no qual a norma tem força obrigatória, vinculatividade (Rosenvald). O início da vigência, portanto, marca o começo de sua exigibilidade.
* “VACATIO LEGIS”: período que medeia entre a publicação e o início de vigência da norma. Trata-se de tempo necessário a que o texto normativo se torne efetivamente conhecido, e variará de acordo com a repercussão social da matéria. Assim dispõe o art. 8º da Lei Complementar 95/1998: “A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão”.
* “VACATIO LEGIS INDIRETA”: “hipótese em que a lei, além do seu normal período de vacatio legis, em seu próprio corpo, prevê um outro prazo para que determinados dispositivos possam ter aplicação, a exemplo do que ocorreu com os arts. 30 e 32 da Lei nº.10.826 , de 22/12/2003 (Estatuto do Desarmamento)”. A jurisprudência do STJ associa a vacatio legis indireta estipulada no Estatuto do Desarmamento à abolitio criminis temporária de algumas infrações penais (vide REsp 1.311.408-RN).
Os atos administrativos, como regra, entram em vigor na data de sua publicação (Decreto 572/1980), não se lhes aplicando a regra prevista a LC 95/1998.
As Emendas à CF, em regra, também tem vigência imediata.
A lei que altera o processo eleitoral, embora tenha vigência imediata, só se aplica a disputas ocorridas depois de um ano de sua publicação (CF, art. 16). Hipótese de suspensão de eficácia.
A EFICÁCIA refere-se à possibilidade de produção concreta de efeitos. A eficácia pode ser classificada pela ineficácia. Por sua vez, pode ser:
a) SOCIAL (não se confunde com sua efetiva observância,) e
b) TÉCNICA (a possibilidade de produção de efeitos em concreto,EXEMPLO: artigo 7º, I, CF/88, proteção contra a despedida arbitrária que deve ser regulada por Lei Complementar, a eficácia técnica está comprometida).
Tércio Sampaio afirma que a eficácia possui graus, que podem ser verificados de acordo com as funções da eficácia no plano da realização normativa. São as funções eficaciais das normas:
a) Função de bloqueio – normas punitivas e proibitivas.
b) Função de programa – normas que visam à realização de um objetivo do legislador (artigo 218, CF/88).
c) Função de resguardo – normas que visam a assegurar uma conduta desejada (artigo 5º, XXVII, CF/88).
O VIGOR está relacionado à realização efetiva e concreta da norma, está relacionado com o conceito da ULTRATIVIDADE, ou seja, uma norma que não está mais vigente, mas continua a reger todas as relações jurídicas consolidadas em sua vigência. EXEMPLO: alguns artigos do CC/16.
APLICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS
Na aplicação das normas jurídicas o operador depara-se com as seguintes atividades: a INTERPRETAÇÃO e a INTEGRAÇÃO.
- INTERPRETAÇÃO
A finalidade interpretativa da norma é: a) revelar o sentido da norma e b) fixar o seu alcance. São métodos de interpretação (não são excludentes e nem exclusivas entre si) das normas:
1. Literal ou gramatical – o exame de cada termo isolada e sintaticamente, na maioria das vezes, não é o melhor método; isoladamente nunca satisfaz.
2. Lógico – utilização de raciocínios lógicos indutivos ou dedutivos.
3. Sistemático – análise a partir do ordenamento jurídico no qual a norma se insere, a norma não será verificada isoladamente, será relacionada com o ordenamento jurídico.
4. Histórico – verificação dos antecedentes históricos, verificando as circunstâncias fáticas e jurídicas, até mesmo o processo legislativo. Caio Mário afirma que esse método não existe, o que há é o elemento histórico invocado para coadjuvar o trabalho do intérprete.
5. Finalístico ou teleológico – análise da norma tomando como parâmetro a sua finalidade declarada, adaptando-a às novas exigências sociais; não se analisam somente os aspectos históricos, mas também a própria finalidade.
Quanto mais métodos forem aplicados, no exercício da interpretação, melhor resultado será obtido pelo intérprete. Não há hierarquia em relação aos critérios acima, e um não exclui o outro.
– INTEGRAÇÃO
Quando inexiste lei a ser aplicada diretamente ao caso, deve o magistrado se valer de outras fontes do Direito para encontrar a regra que efetivamente deve disciplinar à relação jurídica sujeita à sua apreciação, ou seja, para aplicar o Direito. A LICC permite a integração na hipótese de lacunas (falta de previsão legal sobre uma matéria), nos termos do artigo 4º (REGRA DE OURO para a integração das leis):
Artigo 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Essas são as fontes supletivas do direito, juntamente, com a DOUTRINA, a JURISPRUDÊNCIA e a EQÜIDADE, que são também métodos de integração da norma jurídica.
A interpretação pode ocorrer sempre, mesmo que a lei seja clara (isso é um dogma). Já a integração depende da existência de LACUNAS que, por sua vez, podem ser:
a. AUTÊNTICAS (PRÓPRIAS) – ocorrem quando o legislador não identificou uma hipótese
b. NÃO-AUTÊNTICAS (IMPRÓPRIAS) – o legislador previu, mas preferiu não tratar sobre o assunto. EXEMPLO: cabimento de embargos de declaração contra decisão interlocutória.
Cabe mencionar classificação utilizada por Maria Helena Diniz:
Lacuna normativa – ausência total de norma.
Lacuna ontológica – presença de normas mas sem eficácia social.
Lacuna axiológica – presença de norma cuja aplicação se mostra injustiça no caso concreto.
Lacuna de conflito – antinomias.
“SILÊNCIO ELOQÜENTE” – o legislador quis excluir a possibilidade, é a possibilidade de se restringir a aplicação da lei com base na LACUNA NÃO-AUTÊNCIA. Exemplo: competência constitucional da Justiça Federal não pode ser ampliada pelo legislador, sob a alegação de tratar-se de lacuna. Trata-se de rol taxativo (numerus clausus).
Aceita-se a integração das lacunas em razão do princípio que determina que o juiz não pode se eximir de julgar sob tal alegação (“Princípio do non liquet” que, no Direito Romano, permitia ao pretor eximir-se de julgar alegando que o caso não está suficientemente claro).
Analogia pode ser dividida em:
a. analogia legal – a relação da semelhança toma por base outra lei;
b. analogia iuris – a relação de semelhança é estabelecida com base em outro caso concreto
Há dificuldade de aplicação dos costumes, já que nosso direito não é costumeiro; a fonte primária, no Brasil, é a lei. Costume pode ser:
a. secundum legem – sua eficácia obrigatória é reconhecida pela lei, como nos casos dos arts. 1297, § 1º, 596 e 615 do CC
b. praeter legem – tem caráter supletivo, complementar à lei.
c. contra legem – de revogação total. Isso é complicado, já que costume é fonte secundária do direito e não pode revogar a lei. Mas existem exemplos que demonstram a aplicação do costume contra lei. Ex.: reconhecimento jurisprudencial da possibilidade de comprovação de contrato por testemunha no caso de venda de gado. Trata-se no máximo de perda da eficácia da lei e não da perda da sua validade (DESUSO) 
- APLICAÇÃO TEMPORAL DE NORMAS JURÍDICAS
O princípio básico dessa matéria é o PRINCÍPIO DA NÃO-RETROATIVIDADE DAS LEIS (Tempus regit actum), ou seja, a idéia de que a lei nova não atinge os fatos anteriores ao início de sua vigência. Em consequência, os fatos anteriores à vigência da lei nova regulam-se não por ela, mas pela lei do tempo em que foram praticados.
Porém, podem existir casos que se afastem dessa regra, impondo a retroatividade da lei nova, alcançando fatos pretéritos ou os seus efeitos. Para disciplinar essas hipóteses, a doutrina efetuou uma clássica distinção entre retroatividade máxima, média e mínima (MATOS PEIXOTO), porque a força retroativa da lei não tem sempre a mesma intensidade.
	 RETROATIVIDADE
	
	MÁXIMA OU RESTITUTÓRIA OU RESTITUTIVA
	MÉDIA
	a lei nova abrange a coisa julgada (sentença irrecorrível) ou os fatos jurídicos consumados
	a lei nova atinge os direitos exigíveis mas não realizados antes de sua vigência
Dessa natureza constitucional do princípio da irretroatividade das leis no direito brasileiro surgem importantes consequências, como a aplicação deste a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito privado ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva.
É princípio assente também, com base na natureza constitucional da irretroatividade, que a lei nova não alcança os efeitos futuros dos contratos celebrados anteriormente a ela, e que só atingirá os facta pendentia no que não contrariar DIREITO ADQUIRIDO.
DIREITO ADQUIRIDO – direito já definitivamente incorporado ao patrimônio do particular. Posição jurídica já assegurada ao titular em razão do cumprimento dos requisitos previstos em lei vigente ao tempo da ocorrência dos pressupostos fáticos, que não pode ser afetada pela superveniência de norma que modifique as exigências para sua aquisição, mesmo que não exercida no tempo de vigência da norma anterior. Direito adquirido somente tem conteúdo patrimonial. Não existe direito adquirido de caráter personalíssimo.
ATO JURÍDICO PERFEITO: ato já consumado ao tempo da lei anterior; ato que cumpriu integralmente as fases do seu ciclo de formação ao tempo da norma revogada, que não pode ser prejudicado pela alteração posterior do parâmetro normativo.
Questão fundamental sobre a aplicação temporal das leis reside na REVOGAÇÃO, regulamentado pelo artigo 2º da LICC:
A revogação pode ser:
1) Expressa
2) Tácita – o artigo 9º da LC 95/98 não acabou com a hipótese de revogação tácita, porque mesmo que a nova lei não mencione expressamente a revogação dos dispositivos, o ordenamento jurídico não comporta a existência de duas leis antagônicas. PAMPLONA: não é possível esse entendimento, porque significariaa revogação da própria LICC, e a LC 95/98 (mesmo com a redação dada pela LC 107) não revogou a LICC, até porque também não foi expressa na revogação, assim, também não é válida nesse aspecto, porque desobedeceu a sua própria regra.
1) Total = Ab-Rogação
2) Parcial = Derrogação
REPRISTINAÇÃO é a restauração da norma revogada pela revogação da norma revogadora. Há vedação de sua existência no ordenamento, por força do §2º do artigo 2º, da LICC. A lei revogada NÃO se restaura pela revogação da lei revogadora, SALVO se a nova lei revogadora disser que ocorre (§3º do artigo 2º).
Não se confunde com EFEITO REPRISTINATÓRIO TACITO previsto expressamente no artigo 11,§2º da lei 9868/99.
PESSOAS FISICAS ou NATURAIS:
PERSONALIDADE
A forma como o CC dispõe sobre a pessoa (art. 1º) indica que a característica desta é a possibilidade de ser sujeito de direito. PESSOA É O SER HUMANO OU ENTIDADE COM PERSONALIDADE, APTIDÃO PARA A TITULARIDADE DE DIREITOS E DEVERES.
Percebe-se que o conceito de personalidade é construído segundo uma teoria clássica, que a identifica com CAPACIDADE DE DIREITO. Tal noção adequa-se não apenas aos homens, mas também às pessoas jurídicas (ou “entes morais”, nos dizeres de Caio Mário). Personalidade seria, então, o atributo “jurídico” do fato de ser pessoa, uma projeção social da personalidade psíquica.
O segundo sentido de personalidade associa-se ao ser humano e traduz-se como valor ético emanado do princípio da dignidade da pessoa humana e da consideração pelo direito civil do ser humano em sua complexidade, relacionando-se a direitos que tocam somente à pessoa natural (direitos da personalidade, segundo parcela da doutrina que exclui a PJ de seu âmbito).
Muito além da compreensão tradicional de representar aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações, a personalidade jurídica, contemporaneamente, é categoria essencialmente relacionada à cláusula de tutela e promoção da dignidade da pessoa humana, pela qual se deve reconhecer ao ser humano, singular e concretamente considerado, um conjunto mínimo de atributos, direitos e garantias sem as quais não será possível a vida com dignidade (o direito à vida compreende, em verdade, o direito a uma vida digna).
O conceito de capacidade, embora conexo à noção de personalidade, com esta não se confunde. “Enquanto a personalidade tende ao exercício de relações existenciais, a capacidade diz respeito ao exercício de relações patrimoniais. Exemplificando, ter personalidade é titularizar os direitos da personalidade, enquanto ter capacidade é poder concretizar relações obrigacionais, como o crédito e o débito. Nesse diapasão, exemplificando, uma criança ou adolescente tem personalidade (e, por conseguinte, direito a uma vida digna), mas não tem capacidade. Em sendo assim, poderá manifestar a sua vontade em relação à sua adoção por terceiro, por exemplo, mas não lhe é reconhecido o direito de celebrar um contrato de doação ou de arrendamento. Ou seja, relações existenciais podem ser titularizadas por quem tem personalidade, mesmo que não tenha plena capacidade” (Rosenvald).
AQUISIÇÃO DE PERSONALIDADE: nos termos do art. 2º do CC, ocorre com o nascimento com vida, quando há a separação do ventre materno e o ar entra nos pulmões, fazendo com que a pessoa respire (o que é aferível pelo exame de docimasia hidrostática de Galeno). Mesmo que morra em seguida, há aquisição de personalidade e, consequentemente, possibilidade de ser sujeito de direitos que, com a morte, serão transmitidos aos herdeiros. Há divergência acerca da teoria adotada pelo NCC para início da personalidade. 
NASCITURO: é o ser já concebido, mas que ainda se encontra no ventre materno. A discussão em torno de sua condição jurídica dá-se justamente em razão da delimitação do momento em que se inicia a existência humana, conforme exposto acima. A questão polêmica é que CC afirma que os direitos do nascituro estão a salvo desde a concepção. Ou seja, não são pessoas, mas têm proteção jurídica, ensejando dúvidas sobre o início da personalidade.
Várias teorias tentam harmonizar essas regras: (1) NATALISTA (Caio Mário, Serpa Lopes, – despreza a existência da personalidade antes do nascimento com vida (esta, por sua vez, é considerada independentemente de viabilidade ou de forma humana). Assim, o nascituro tem mera expectativa de direito; (2) TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL (Arnold Wald)– a personalidade existe desde a concepção, sob a condição de nascer com vida (condição suspensiva); (3) CONCEPCIONISTA (Bevilaqua, Teixeria de Freitas, Francisco Amaral) – o nascituro tem personalidade jurídica, ele é a pessoa que está por nascer; os direitos que teria, porém, seriam somente os personalíssimos e os da personalidade.
Percebemos que aos poucos, a teoria concepcionista vai ganhando mais espaços nos tribunais, inclusive na própria legislação brasileira, a exemplo da lei de alimentos gravídicos (lei 11804/2008), e de recentes decisões do STJ que admitiram o dano moral ao nascituro (RESP 399028-SP) e até mesmo pagamento de DPVAT pela morte de nascituro (noticiário de 15.05.2011).
Teoria adotada pelo CC/2002
 Segundo Flavio Tartuce, o Código Civil não deixou clara a corrente que seguiu, pois no seu art. 2º utiliza tanto o termo “nascimento” quanto o termo “concepção”. Contudo, segundo referido autor, a doutrina majoritária e o STJ vem adotando a Teoria Concepcionista ao reconhecer direitos ao nascituro. Nas palavras dele: “Se o art. 2º do Código Civil em vigor deixa dúvidas, a interpretação sistemática do sistema não pode afastar o reconhecimento desses direitos. Por isso, podemos reafirmar que prevalece entre nós a teoria concepcionista.”.[1: Em artigo: A SITUAÇÃO JURÍDICA DO NASCITURO: UMA PÁGINA A SER VIRADA NO DIREITO BRASILEIRO, autor Flávio Tartuce. ]
* O nascituro pode receber doação e ser beneficiado por legado ou herança.
CAPACIDADE
CAPACIDADE DE DIREITO OU DE GOZO: é a aptidão – em estado potencial – de ser titular de direitos patrimoniais e obrigações, tendo por termo inicial o nascimento e perdurando até a morte. Prevista no art. 1º do CC, atribui-se capacidade de direito também à PJ. O conceito de capacidade de direito se confunde com o de personalidade.
A personalidade jurídica é uma aptidão genérica. Toda pessoa tem personalidade, e por consequência toda pessoa tem capacidade, seja um adulto, seja uma criança. Capacidade neste sentido se relacionaria com a personalidade como faces da mesma moeda.
CAPACIDADE DE EXERCÍCIO OU DE FATO: é a aptidão para exercer PESSOALMENTE os direitos, de agir juridicamente, por atos próprios ou mediante representante voluntário, praticando atos da vida civil. Diferentemente da capacidade de direito, nem todas as pessoas a possuem. É o caso dos incapazes, cujos atos jurídicos são praticados por meio de representantes ou assistentes. A capacidade de fato é medida de proteção ao incapaz, que, destituído da plenitude de discernimento, necessita de auxílio para a prática dos atos da vida civil (representação ou assistência).
A primeira é estática, a segunda, dinâmica. Reunidas as duas, fala-se em CAPACIDADE CIVIL PLENA.
Ressalte-se que ambas diferenciam-se da LEGITIMAÇÃO ou LEGITIMIDADE. A legitimação consiste em se averiguar se uma pessoa, perante determinada situação jurídica, tem ou não capacidade para estabelecê-la. Assim é que o cego não pode fazer testamento particular, o juiz não pode comprar bens da hasta que presidir, o tutor não pode adquirir bens do tutelado, irmãos não podem se casar, ainda que dotados de capacidade civil plena. Portanto, a capacidade é a aptidão para a prática em geral dos atos jurídicos, enquanto a legitimidade é específica de determinado ato.
INCAPACIDADE: A ausência da capacidade de fato (e não a capacidade de direito, que é genérica) gera a incapacidade civil.
Esta incapacidade civil é também desdobrável em:
Incapacidade civil absoluta (artigo 3º)
Incapacidade civil relativa (artigo 4º) 
	INCAPACIDADE ABSOLUTA: atinge aqueles listados no art. 3º do CC: Os Incisos II e IIIdo art. 3º do NCC (Inciso II - Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade) foram revogados pela Lei nº 13.146/2015, que Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) (DOU 7.7.2015, em vigor após 180 dias de sua publicação oficial), a qual passou a tratar as hipóteses como incapacidade relativa, nos termos do art. 4º, II e III, do NCC (II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade). Ademais, o inciso I do art. 3º foi incorporado ao caput, passando-se a prever, como única hipótese de incapacidade civil absoluta, o menor de 16 anos.
Menores de 16 anos: presunção de imaturidade. No entanto, conforme previsão de enunciado formulado na III Jornada de Direito Civil do CJF, “a vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3o., é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento suficiente para tanto.” (importante para o direito de família)
Os atos praticados pelos absolutamente incapazes são NULOS, não podendo ser ratificados, pois tal vício não convalesce, podendo o juiz assim declará-los de ofício. Protege-se, entretanto, a boa-fé de terceiros. Os atos civis de seu interesse deverão ser exercidos por seus representantes – pais, tutores ou curadores.
Absolutamente incapazes devem ser REPRESENTADOS por quem de direito.
* Mesmo em se cuidando de pessoas absolutamente incapazes, a ordem jurídica reconhece a possibilidade de que sua vontade seja considerada, nos casos em que envolvidas escolhas existenciais.
CJF, Enunciado 138 – Art. 3º: “A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3o, é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto”.
INCAPACIDADE RELATIVA: zona intermediária entre a incapacidade absoluta e a capacidade plena, configurando apenas uma diferença quantitativa. A vontade dos relativamente capazes tem relevância jurídica, o que possibilita sua atuação direta nos atos civis, desde que acompanhados de ASSISTENTE, com algumas exceções (ser mandatário, testemunhar). É causa de anulabilidade dos atos jurídicos. Atinge aqueles arrolados no art. 4º:
I - Maiores de 16 e menores de 18: idade reduzida em relação ao antigo código (16 a 21). Estes incapazes não podem eximir-se de uma obrigação se dolosamente ocultaram sua idade quando inquiridos ou, ainda, declararam-se maiores. Assim, não lhe aproveitam a possibilidade de anulação do ato jurídico, em razão da proteção da boa-fé de terceiro.
II - Os ébrios habituais e os viciados em tóxico (Redação conferida pela Lei nº 13.146/2015, DOU 7.7.2015, em vigor após 180 dias de sua publicação oficial): para tais pessoas, será designado um curador, graduado conforme o comprometimento mental do agente. Se aniquilar a capacidade, e não apenas reduzir, a incapacidade é absoluta.
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade: (Redação conferida pela Lei nº 13.146/2015, DOU 7.7.2015, em vigor após 180 dias de sua publicação oficial): Hipótese antes tratada no art. 3º, como causa de incapacidade civil absoluta.
IV - Pródigo: aquele que desordenadamente gasta e destrói o que é seu, reduzindo-se à miséria por sua culpa. A restrição da validade de seus atos à anuência de um assistente refere-se apenas àqueles que importem disposição patrimonial e que extrapolem a mera administração de seus bens. Proteção que encontra fundamento na “teoria do estatuto jurídico do patrimônio mínimo” desenvolvida por Luiz Edison Fachin.
Dispõe ainda o parágrafo único do artigo 4º do CC:
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
 (Pablo Stolze Gagliano): A disciplina normativa dos silvícolas está, agora, na legislação especial. A Lei 6.001/73 considera-o, em princípio, “agente absolutamente incapaz, reputando nulos os atos por eles praticados sem a devida representação”. Ressalta a lei, todavia, a hipótese do índio demonstrar discernimento, aliado à inexistência de prejuízo em virtude do ato praticado, pelo que, aí, poderá ser considerado plenamente capaz para os atos da vida civil (...).
EMANCIPAÇÃO:
Prevista no artigo 5º do CC, é mecanismo que possibilita que o menor relativamente incapaz torne-se plenamente capaz. É, pois, uma antecipação da capacidade de fato (e não da maioridade!). Pode ser de 3 espécies:
VOLUNTÁRIA, por ato unilateral dos pais, ou de um deles na falta do outro, sendo ato irrevogável – sempre em benefício do menor. Nesse caso, os pais continuam respondendo pelos atos ilícitos dos filhos.
JUDICIAL, concedida pelo juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha pelo menos 16 anos completos.
LEGAL, em decorrência de situação inconciliável com a inaptidão para atos da vida civil, como: 1) casamento (a separação, a viuvez ou mesmo a anulação do casamento, para o cônjuge de boa-fé, não geram retorno à menoridade), inclusive daquele que não tem 16 anos (para evitar imposição de crime ou em caso de gravidez); 2) exercício de cargo ou emprego público efetivo; 3) colação de grau em curso de ensino superior; 4) estabelecimento civil ou comercial ou existência de relação de emprego do maior de 16 anos que gerem economia própria.
CJF, Enunciado 397 - Art. 5º. A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita a desconstituição por vício de vontade.
EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE:
Nos termos do artigo 6º, ocorre com a morte, exclusivamente (não há morte civil), evento que se caracteriza pela cessação de toda e qualquer atividade vital do indivíduo (para fins de transplante, considera-se suficiente a morte encefálica).
MORTE PRESUMIDA
Ela pode ser, no entanto, PRESUMIDA, nos casos:
 a) de ausência, nas ocasiões em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva (art. 6º), e
b) se for extremamente provável a morte para quem estava em perigo de vida e, se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra (art. 7º). Embora aqui se dispense a decretação da ausência, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. Procede-se mediante JUSTIFICAÇÃO, segundo procedimento estabelecido na Lei de Registros Públicos, a fim de se promover o assento de óbito por meio de provas indiretas.
COMORIÊNCIA: no caso de não se poder precisar a ordem cronológica das mortes dos comorientes (pessoas que morreram em uma mesma situação), a lei firmará a presunção de haverem falecido no mesmo instante. Em caso de serem parentes, não sucedem um ao outro, abrindo-se cadeias sucessórias distintas.
AUSÊNCIA
É o desaparecimento de uma pessoa de seu domicílio, sem dar notícias do lugar onde se encontra, nem deixar procurador para administrar seus bens, acarretando, por essa razão, dúvida a respeito de sua sobrevivência. Esse estado precisa ser declarado judicialmente.
No CC/16, o ausente era considerado absolutamente incapaz, o que não foi repetido pelo NCC, afinal, só por estar desaparecida, a pessoa não deixa de ter capacidade para a vida civil onde esteja. O fato de ter um representante (curador) decorre da impossibilidade de administrar seus bens.
No que diz respeito à tutela dos bens, o instituto da ausência é tratado em três etapas:
Curadoria do ausente: inicia-se com a petição inicial de qualquer interessado (parentes sucessíveis, sócios, credores, pessoas que têm pretensão contra o ausente) ou do MP. O juiz deverá, em seguida, arrecadar os bens abandonados e nomear curador. Isso ocorrerá, ainda que o ausente tenha deixado procurador, se este não puder ou não quiser exercer o mandato. O curador será, em primeiro lugar, o cônjuge do ausente,desde que não separado judicialmente ou de fato, por mais dois anos. Subsidiariamente, serão nomeados os ascendentes e, em seguida, os descendentes. Não havendo nenhuma dessas pessoas, o juiz escolherá um curador. Este, nomeado, receberá do juiz poderes e obrigações especiais, ficando responsável pela administração e conservação do patrimônio do ausente, pelo que receberá uma gratificação e terá ressarcido o que gastou no exercício da curadoria. É vedado ao curador adquirir bens do ausente. Depois da arrecadação, serão publicados editais de dois em dois meses, durante um ano, para chamar o ausente a retomar seus bens, cessando a curadoria caso reapareça (1), caso compareça seu procurador (2) ou, ainda, haja notícia inequívoca de seu óbito (3).
Sucessão provisória: Ocorre após 01 ano da arrecadação ou, caso o ausente tenha deixado procurador, passados 03 anos. Consiste em uma administração (não mero depósito) para preservar os bens do ausente, de modo que não sejam alterados mais do que o necessário, já que o desaparecido pode estar vivo. Depende de pedido dos interessados. Não havendo qualquer dos interessados mencionados, o MP pode requerer a sucessão provisória. A sentença que a determina produz efeitos depois de 180 dias de sua publicação; mas, tão logo transite em julgado, ocorre a abertura do testamento e do inventário, como se o ausente fosse falecido. Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer a abertura do inventário, após 30 dias do trânsito em julgado, a massa de bens do ausente será considerada como herança jacente. Os herdeiros que se imitirem na posse dos bens devem prestar garantia pignoratícia ou hipotecária, com exceção do cônjuge, dos ascendentes e dos descendentes. Aqueles que não puderem ter a posse dos bens, por não prestarem a devida garantia, receberão a metade dos rendimentos da cota de seus bens. Cônjuges, ascendentes e descendentes receberão a integralidade dos frutos produzidos pelos bens que administram. Os outros herdeiros, a metade. Reaparecendo o ausente e provado que a ausência foi injustificada e voluntária, ele perderá os frutos em favor do sucessor. Não se poderá alienar os imóveis do ausente.
Sucessão definitiva: após 10 anos do trânsito em julgado da sentença que concedeu a abertura da sucessão provisória. Na mesma oportunidade, levantam-se as garantias prestadas. Ela ocorre em menor prazo, caso o ausente tenha 80 anos e esteja sumido há, pelo menos, cinco anos. Após o trânsito em julgado da sentença que concede a sucessão definitiva dos bens, declara-se a morte presumida. Retornando o desaparecido ou algum de seus descendentes ou ascendentes, nos 10 anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, receberá os bens nos estado em que se encontrarem, os sub-rogados em seu lugar ou o preço que os herdeiros houverem recebido.
Efeitos familiares da ausência: se o ausente deixar filhos menores e outro cônjuge tiver falecido ou não tiver direito de exercer o pátrio poder, eles serão considerados órfãos. Se os pais estiverem ausentes, os menores devem ser postos em tutela. Após a declaração de morte presumida, o casamento resta dissolvido – consequência inovadora, não tratada no ACC nem tampouco admitida anteriormente pela doutrina.
 DIREITOS DA PERSONALIDADE
Uma das principais inovações do NCC é a existência de um capítulo próprio dos direitos da personalidade. Retrata a mudança axiológica da codificação, de um código agrário e conservador (que só abarcava os direitos subjetivos reais e obrigacionais) para outro que se preocupa substancialmente com o indivíduo, em sintonia com CF/88. Sua localização, no NCC, mostra, ainda, que o ser humano é o protagonista do novo sistema. É o fenômeno da despatrimonialização ou repersonalização do direito privado.
Conceito: são aqueles que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções sociais, com o fim de proteger a essência e a existência do ser humano. A idéia que norteia sua disciplina é a de uma esfera extrapatrimonial do indivíduo, tutelada pela ordem jurídica com respaldo em uma série de valores não redutíveis pecuniariamente, como a vida, a integridade física, a intimidade, a honra etc. Síntese: direitos relacionados aos atributos e prerrogativas considerados essenciais ao pleno desenvolvimento da pessoa humana, em todas as suas dimensões (física, psíquica e intelectual), capazes de individualizar o sujeito e lhe garantir vida digna, mediante uma segura e avançada tutela jurídica.
CJF, enunciado 274 – Art. 11. “Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação”.
Direitos da personalidade vs Liberdade públicas. Os direitos da personalidade situam-se acima do direito positivo, sendo considerados inerentes ao homem; as liberdades públicas, por sua vez, dependem necessariamente de positivação para assim serem consideradas. Quanto ao conteúdo, estas se inserem em categorias transindividuais (econômicas e sociais, por ex.), enquanto aqueles têm caráter individual.
Natureza: trata-se de poderes que o homem exerce sobre sua própria pessoa. É um tertium genus de direito subjetivo, de índole fundamental (vide art. 5º, § 2º, e art. 1º, III, da CF). Diga-se, ainda, que o seu objeto não é a própria personalidade, mas sim as MANIFESTAÇÕES ESPECIAIS DE SUAS PROJEÇÕES (físicas, psíquicas e morais), consideradas dignas de tutela jurídica, principalmente no sentido de que devem ser resguardadas de qualquer ofensa.
Sobre seus fundamentos jurídicos, há duas correntes: a positivista (ou tipificadora), que identifica como direitos da personalidade somente aqueles reconhecidos pelo Estado, que lhes daria força jurídica, não aceitando, assim, a existência de direitos inatos à condição humana. A norma jurídica seria seu único fundamento, pois ética, religião, história, política, ideologia não passam de aspectos de uma mesma realidade. Por sua vez, a corrente jusnaturalista relaciona os direitos da personalidade às faculdades exercitadas naturalmente pelo homem, pois são atributos inerentes à condição humana.
Titularidade: por excelência, é do ser humano, mas alcança também os nascituros, que, embora sem personalidade, têm direitos ressalvados desde a concepção. No tocante aos absolutamente incapazes, decidiu recentemente o STJ (Informativo nº 599/2015), que “O absolutamente incapaz, ainda quando impassível de detrimento anímico, pode sofrer dano moral”. As pessoas jurídicas também o são, no que diz respeito ao nome e à imagem, que acabam por atingir os valores societários. A CF não faz distinção entre pessoa natural e pessoa jurídica ao dispor sobre o direito à honra e à imagem, não podendo haver restrição na sua interpretação. A abrangência indistinta também ocorre no inciso V do art. 5º do texto constitucional (indenização por dano moral e à imagem). Assim, apesar de uma concepção originalmente antropocêntrica dos direitos da personalidade, são eles aplicáveis à PJ quanto aos atributos que lhe são reconhecidos (nome e outros sinais distintivos, segredo, criações intelectuais e outros). Tal entendimento já estava consagrado na jurisprudência, por Súmula do STJ (nº 18: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”) e agora o NCC põe fim à polêmica, com o art. 52: “Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”.
A corrente doutrinária divergente (Gustavo Tepedino, Cláudia Lima Marques) restringe a titularidade dos direitos da personalidade ao ser humano, por três motivos: (1) a origem de sua positivação está na Constituição Alemã, que dispõe expressamente que “a dignidade da pessoa humana é inviolável”; (2) a lesão a nome de PJ configura um dano patrimonial, não moral, pois ela só tem honra objetiva (externa ao sujeito – consiste no respeito, consideração,apreço) e o prejuízo é unicamente material; (3) estender os direitos da personalidade a ecossistema, animais e PJ significa desmerecê-los, desvalorizá-los. Tal corrente defende que, apesar de serem a pessoa natural e a PJ sujeitos de direito, seus fundamentos são diversos. Ademais, essa extensão não se adapta à trajetória e à função dos direitos da personalidade no ordenamento.
CJF, Enunciado 286 – Art. 52. “Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos”.
Características:
Caráter absoluto: são oponíveis erga omnes. A pretensão é que será dirigida a certa(s) pessoa(s). Não quer dizer que são ilimitáveis. Nesse aspecto, eles são relativos, incidindo a razoabilidade, em caso de colisão.
Generalidade (caráter necessário dos dir. da personalidade): são outorgados a todas as pessoas, nunca podem faltar-lhes.
Extrapatrimonialidade: ausência de conteúdo patrimonial direto, aferível objetivamente, ainda que sua lesão gere efeitos econômicos (dano moral)
Indisponibilidade: decorre de seu caráter essencial. Abrange tanto a INTRANSMISSIBILIDADE (não se admite a cessão do direito de um sujeito para outro) como a IRRENUNCIABILIDADE (ninguém pode dispor de sua vida, sua intimidade, sua imagem). No entanto esta indisponibilidade é relativa, já que o artigo 11 admite restrição voluntaria, desde que atendidas os seguintes requisitos: 1) não pode ser permanente; 2) não pode ser genérico; 3) não pode violar a dignidade do titular Enunciado da jornada de direito civil(dez/2004),: “Art. 11 - Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.”
Impenhorabilidade: A ausência de conteúdo econômico impede a penhora. Estes não podem ser penhorados, mas o crédito deles decorrentes sim. Da mesma forma, deve-se admitir a penhora dos créditos da cessão de uso do direito à imagem.
Vitaliciedade: os direito da personalidade se extinguem com a morte . O art. 12, parágrafo único, do NCC prevê o dano reflexo aos direitos da personalidade dos membros da família, em caso de lesão ao que seriam os direitos da personalidade da pessoa morta. A verdade é que não se trata de sucessão, em exceção ao princípio da indisponibilidade, mas de proteção aos direitos da personalidade dos parentes, que são lesados indiretamente. Os legitimados para requerer o dano são, subsidiariamente: cônjuges e descendentes; ascendentes; colaterais.
Imprescritibilidade: não existe prazo para seu exercício, não se extinguindo pelo não-uso.
Espécies:
Os direitos personalíssimos não são enumeráveis, porém, entre os mais importantes, destacam-se:
VIDA: o mais precioso direito do ser humano. Trata-se de direito à vida e não sobre a vida, de modo que seu titular não pode cercear esse direito.
INTEGRIDADE FÍSICA: sobre esse direito, têm o CC as seguintes disposições:
Princípio do consentimento informado (art. 15): o paciente tem direito de saber qual é o tratamento ou a cirurgia recomendada pelo médico e quais são suas conseqüências, para que a opção seja feita com consciência. A responsabilidade do médico, assim, não é só quanto à técnica, mas também quanto à informação.
CJF, Enunciado 402: “Art. 14, parágrafo único. O art. 14, parágrafo único, do Código Civil, fundado no consentimento informado, não dispensa o consentimento dos adolescentes para a doação de medula óssea prevista no art. 9º, § 6º, da Lei n. 9.434/1997 por aplicação analógica dos arts. 28, § 2º (alterado pela Lei n. 12.010/2009), e 45, § 2º, do ECA”.
CJF, Enunciado 403: “Art. 15. O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal, aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive transfusão de sangue, com ou sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta dele, desde que observados os seguintes critérios: a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo representante ou assistente; b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c) oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante”.
CJF, Enunciado 533: “O paciente plenamente capaz poderá deliberar sobre todos os aspectos concernentes a tratamento médico que possa lhe causar risco de vida, seja imediato ou mediato, salvo as situações de emergência ou no curso de procedimentos médicos cirúrgicos que não possam ser interrompidos”.
Limites à disposição do corpo: só pode haver a diminuição permanente da integridade física se houver exigência médica, que pode ser por motivo de saúde física ou psíquica, o que abrange as cirurgias plásticas e as lipoaspirações. Nesse sentido, confira-se o Enunciado nº 6 do CJF (Art. 13: “A expressão ‘exigência médica’, contida no art. 13, refere-se tanto ao bem-estar físico quanto ao bem-estar psíquico do disponente”). A disposição do corpo, além de proibida quando há diminuição permanente da integridade física, não pode, ainda, ser contrária aos bons costumes (salvo exigência médica).
CJF, Enunciado 276 – Art.13. “O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a conseqüente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil”.
Após a morte, pode haver disposição do corpo para objetivos altruísticos ou científicos, gratuitamente, no todo ou em parte (ex. de disposição parcial: doação para banco de esperma). Havendo suspeita de morte violenta em decorrência de crime, a lei obriga à realização de necropsia.
INTEGRIDADE PSÍQUICA: incluem-se nessa classificação o direito à liberdade, inclusive de pensamento, à intimidade, à privacidade, ao segredo e o direito referente à criação intelectual. O direito à liberdade é tratado no art. 5º da CF, sendo objeto de estudo do direito constitucional, motivo por que deixará de ser abordado neste resumo.
Direito às criações intelectuais: é manifestação direta da liberdade de pensamento. Também é abordado na CF – art. 5º, XXVII a XXIX. Regula-se, ainda, pela Lei 9.610/98 (direitos autorais) e Lei 9.279/96 (propriedade intelectual). Nos direitos autorais, há duas classes de interesse: os morais e os patrimoniais. Os primeiros é que configuram efetivos direitos da personalidade e que, por isso, não se transmitem a nenhum título.
Direito à privacidade: art. 5º, X/CF. Relaciona-se à vida particular da pessoa natural. O direito à intimidade é uma de suas manifestações. Este difere daquele porque está ligado à não intrusão, ao direito de estar só; é um ambiente da vida privada mais profundo que a privacidade (nesta se insere a família). É como se esta fosse um círculo grande que abrangesse o círculo, menor e concêntrico, da intimidade. O elemento fundamental do direito à intimidade é a exigibilidade de respeito ao isolamento de cada ser humano, que não pretende abrir certos aspectos de sua vida a terceiros. É o direito de estar só. O direito à privacidade é tratado no art. 21 do CC, que garante ao lesionado a adoção, pelo juiz, de providências necessárias para impedir ou estancar a violação à vida privada. Tal inviolabilidade é garantida somente às pessoas naturais.
CJF, enunciado 405: “As informações genéticas são parte da vida privada e não podem ser utilizadas para fins diversos daqueles que motivaram seu armazenamento, registro ou uso, salvo com autorização do titular”.
ATENÇÃO: Recentemente, o STF entendeu pela desnecessidade de consentimento prévio da pessoa biografada em relação a obras biográficas ou audiovisuais:
Biografias: autorização prévia e liberdade de expressão: É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes ou de familiares, em casode pessoas falecidas ou ausentes. (STF, Informativo 789/2015).
O DIREITO AO ESQUECIMENTO
CJF, Enunciado 531: A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento.
	Em que consiste o direito ao esquecimento? O direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa possui de não permitir que um fato, ainda que verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe sofrimento ou transtornos.
Exemplo histórico: “caso Lebach” (Soldatenmord von Lebach)
O exemplo mais conhecido e mencionado é o chamado “caso Lebach”, julgado pelo Tribunal Constitucional Alemão. A situação foi a seguinte: em 1969, quatro soldados alemães foram assassinados em uma cidade na Alemanha chamada Lebach. Após o processo, três réus foram condenados, sendo dois à prisão perpétua e o terceiro a seis anos de reclusão. Esse terceiro condenado cumpriu integralmente sua pena e, dias antes de deixar a prisão, ficou sabendo que uma emissora de TV iria exibir um programa especial sobre o crime no qual seriam mostradas, inclusive, fotos dos condenados e a insinuação de que eram homossexuais.
Diante disso, ele ingressou com uma ação inibitória para impedir a exibição do programa. A questão chegou até o Tribunal Constitucional Alemão, que decidiu que a proteção constitucional da personalidade não admite que a imprensa explore, por tempo ilimitado, a pessoa do criminoso e sua vida privada. (...) Isso porque não haveria mais um interesse atual naquela informação (o crime já estava solucionado e julgado há anos). (...) O direito ao esquecimento, também é chamado de “direito de ser deixado em paz” ou o “direito de estar só”. Nos EUA, é conhecido como the right to be let alone e, em países de língua espanhola, é alcunhado de derecho al olvido.
No Brasil, o direito ao esquecimento possui assento constitucional e legal, considerando que é uma consequência do direito à vida privada (privacidade),intimidade e honra, assegurados pela CF/88 (art. 5º, X) e pelo CC/02 (art. 21). Alguns autores também afirmam que o direito ao esquecimento é uma decorrência da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88).
Sem dúvida nenhuma, o principal ponto de conflito quanto à aceitação do direito ao esquecimento reside justamente em como conciliar esse direito com a liberdade de expressão e de imprensa e com o direito à informação.
A 4ª Turma do STJ, em dois julgados recentes, afirmou que o sistema jurídico brasileiro protege o direito ao esquecimento (REsp 1.335.153-RJ e REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgados em 28/5/2013).
Direito ao segredo: seria um círculo, também concêntrico, intermediário entre a intimidade e a privacidade. Abrange três esferas: segredo das comunicações (correspondência, telefone e comunicação telegráfica); segredo doméstico (reservado aos recônditos do lar e da vida privada; relaciona-se também à inviolabilidade do domicílio); segredo profissional (protege-se a pessoa que revelou algum segredo a terceiro, por circunstância de sua atividade profissional).
INTEGRIDADE MORAL: nela se inserem:
Direito à honra: umbilicalmente associada à natureza humana, manifesta-se sob duas formas: (1) objetiva – reputação, bom nome e fama que a pessoa possui na sociedade – e (2) subjetiva – sentimento pessoal de estima, consciência da própria dignidade.
Direito à imagem: protege a forma plástica da pessoa natural, mais os seus reflexos, principalmente quando há violação, são sentidos mais no âmbito moral que no físico. É também um direito fundamental (art. 5º, X, CF). O NCC contém previsão (art. 20) de indenização para o caso de exposição ou utilização da imagem de uma pessoa quando houver proibição sua e lhe atingirem a honra ou se destinarem a fins comerciais. Tratando-se de morto ou ausente, podem pedir a devida tutela o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. O desvio de finalidade do uso autorizado também caracteriza violação ao direito à imagem. Como se vê, esse direito admite cessão de uso, porém seus limites devem ser rigidamente fixados pela autorização expressa do seu titular.[2: O Enunciado nº 5 da Jornada de Direito Civil prevê em sua segunda parte: “2) as disposições do art. 20 do novo Código Civil têm a finalidade específica de regrar a projeção dos bens personalíssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção dos casos expressos de legitimação que se conformem com a tipificação preconizada nessa norma, a ela podem ser aplicadas subsidiariamente as regras instituídas no art. 12.”]
	CJF, Enunciado 279: “Art.20. A proteção à imagem deve ser ponderada com outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-se-á em conta a notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e, ainda, as características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica), privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de informações”.
Precedente relativamente recente sobre o direito à imagem:
DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. MATÉRIA JORNALÍSTICA. CONTEÚDO OFENSIVO. LIBERDADE DE IMPRENSA. LIMITES. DISPOSTIVOS LEGAIS ANALISADOS: 5º E 220 DA CF/88 E 186 E 927 DO CC/02.
1. Ação ajuizada em 23.08.2007. Recurso especial concluso ao gabinete da Relatora em 05.12.2013.
2. Recurso especial em que se discute os limites da liberdade de imprensa.
3. O direito à informação não elimina as garantias individuais, porém encontra nelas os seus limites, devendo atentar ao dever de veracidade, ao qual estão vinculados os órgãos de imprensa, pois a falsidade dos dados divulgados manipula em vez de formar a opinião pública, bem como ao interesse público, pois nem toda informação verdadeira é relevante para o convívio em sociedade.
4. O veículo de comunicação somente se exime de culpa quando buscar fontes fidedignas, exercendo atividade investigativa, ouvindo as diversas partes interessadas e afastando quaisquer dúvidas sérias quanto à verossimilhança do que divulgará.
5. Hipótese em julgamento na qual o comportamento do recorrente extrapolou em muito o animus narrandi, tendo por escopo nodal atingir a honra e a imagem do recorrido, com o agravante de se utilizar como subterfúgio informações inverídicas, evidenciando, no mínimo, displicência do jornalista na confirmação dos fatos trazidos pela sua fonte.
6. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 1414004 / DF - RECURSO ESPECIAL 2013/0274641-5 - Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) - Órgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMA - Data do Julgamento: 18/02/2014)
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. Ainda que se trate de pessoa pública, o uso não autorizado da sua imagem, com fins exclusivamente econômicos e publicitários, gera danos morais. (Terceira Turma. REsp 1.102.756-SP, Rel. Min. Nancy Andrigui, julgado em 20/11/2012.) (Info 509)
Direito ao nome: tutela o sinal exterior mais visível da pessoa natural. Compreende o prenome e o sobrenome (patronímico). Pode, ainda, ser integrado pelo pseudônimo (codinome), que é aquele escolhido pela própria pessoa para o exercício de uma atividade específica. Ainda que não o integre, goza da mesma proteção (desde que usado para atividade lícita), tutelando, assim, um verdadeiro direito à identidade pessoal.[3: Apelido: sinônimo de patronímico ou, ainda, de cognome (Xuxa, Pelé, Didi Mocó); Agnome: sinal distintivo acrescentado ao nome para diferenciá-lo do de parentes mais próximos (Filho, Neto, Júnior).]
	Por ser marca indelével do ser humano, o nome só pode ser alterado em situações específicas. É necessária a mudança em caso de alteração do estado de filiação (adoção, reconhecimento de paternidade) ou do próprio nome dos pais. É voluntária em caso de casamento e, ainda, dependendo de autorização judicial, quando é imotivada (1 ano após a maioridade), em caso de inclusão de pseudônimo,de substituição do prenome em razão de proteção à testemunha de crime, de facilitação de identidade no setor profissional, de erro de grafia e de exposição ao ridículo. A jurisprudência consagra, também, a hipótese de mudança de sexo.
Julgado relativamente recente do STJ sobre os requisitos para alteração do nome:
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. REGISTROS PÚBLICOS. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. NACIONALIDADE PORTUGUESA. NOVO PEDIDO. RETORNO AO STATU QUO ANTE. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE JUSTO MOTIVO. VIOLAÇÃO À SEGURANÇA JURÍDICA. ARTIGOS ANALISADOS: ARTS. 54; 56 E 57 DA LEI 6.015/73.
1. Ação de retificação de registro civil, ajuizada em 04.12.2008. Recurso especial concluso ao Gabinete em 24.06.2013.
2. Discussão relativa à possibilidade de alteração de registro civil de nascimento para restabelecimento no nome original das partes, já alterado por meio de outra ação judicial de retificação.
3. A regra geral, no direito brasileiro, é a da imutabilidade ou definitividade do nome civil, mas são admitidas exceções. Nesse sentido, a Lei de Registros Públicos prevê, (i) no art. 56, a alteração do prenome, pelo interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, desde que não haja prejuízo aos apelidos de família e (ii) no art. 57, a alteração do nome, excepcional e motivadamente, mediante apreciação judicial, e após oitiva do MP.
4. O respeito aos apelidos de família e a preservação da segurança jurídica são sempre considerados antes de se deferir qualquer pedido de alteração de nome.
5. O registro público é de extrema importância para as relações sociais. Aliás, o que motiva a existência de registros públicos é exatamente a necessidade de conferir aos terceiros a segurança jurídica quanto às relações neles refletidas.
6. Uma vez que foram os próprios recorrentes, na ação anterior, que pediram a alteração de seus nomes, com o objetivo de obter a nacionalidade portuguesa e tiveram seu pedido atendido na integralidade, não podem, agora, simplesmente pretender o restabelecimento do statu quo ante, alegando que houve equívoco no pedido e que os custos de alteração de todos os seus documentos são muito elevados.
7. Ainda que a ação de retificação de registro civil se trate de um procedimento de jurisdição voluntária, em que não há lide, partes e formação da coisa julgada material, permitir sucessivas alterações nos registros públicos, de acordo com a conveniência das partes implica grave insegurança.
8. Se naquele primeiro momento, a alteração do nome dos recorrentes - leia-se: a supressão da partícula "DE" e inclusão da partícula "DOS" - não representou qualquer ameaça ou mácula aos seus direitos de personalidade, ou prejuízo à sua individualidade e autodeterminação, tanto que o requereram expressamente, agora, também não se vislumbra esse risco.
9. Recurso especial desprovido. (REsp 1412260 / SP - RECURSO ESPECIAL - 2013/0142696-0 Relator(a): Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) - Órgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMA - Data do Julgamento: 15/05/2014 - Data da Publicação/Fonte - DJe 22/05/2014)
	O NCC tutela o nome na medida em que proíbe o seu uso em propaganda comercial sem autorização (art. 18). Como dito antes, o art. 17, quando proíbe o emprego do nome de modo a expor seu titular ao desprezo público, protege, em verdade, a honra. Aquele outro dispositivo, de certa forma, também objetiva tutelar a honra.
Proteção: pode ser preventiva, fazendo cessar a ameaça (por meio de cautelar ou ordinária com multa cominatória) ou repressiva (por meio de imposição de sanção civil – indenização – ou ainda penal). O CC prevê tais formas de tutela (art. 12). A CF, por sua vez, consagra garantias específicas (remédios) daqueles direitos da personalidade que configurem liberdades públicas. Por fim, o Pacto de São José da Costa Rica determina que os Estados se comprometam a respeitar e garantir os direitos da personalidade.[4: III Jornada de Direito Civil, Enunciado: “A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se às técnicas de tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 461 do Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com resultado extensivo.”][5: O Enunciado nº 5 da Jornada de Direito Civil prevê em sua primeira parte: “1) As disposições do art. 12 têm caráter geral e aplicam-se inclusive às situações previstas no art. 20, excepcionados os casos expressos de legitimidade para requerer as medidas nele estabelecidas”.]
TUTELA
É o encargo conferido por lei a uma pessoa capaz, para cuidar da pessoa menor e administrar os seus bens. Ela destina-se a suprir a falta do poder familiar e tem nítido caráter assistencial.
Dispõe o art. 1728 do CC que os filhos menores são postos em tutela:
Com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;
Em caso de os pais decaírem do poder familiar. Constitui um sucedâneo do poder familiar e é incompatível com este. Caso os pais recuperem o poder familiar, ou se este surgir coma adoção ou o reconhecimento do filho havido fora do casamento, cessará a tutela. Se o menor ainda se encontra sob o poder familiar, só se só se admitirá a nomeação de tutor depois que os pais forem destituídos de tal encargo.
Ser tutor é considerado um encargo público e obrigatório, salvo nas hipóteses dos arts. 1736 (a) mulheres casadas; b) maiores de 60 anos; c) aqueles que tiverem sob a sua autoridade mais de 3 filhos; d) os impossibilitados por enfermidades; e) aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela; f) aqueles que já exerceram tutela ou curatela; g) militares em serviço) e 1737 (quem não for parente do menor não poderá ser obrigado a aceitar a tutela, se houver no lugar parente idôneo, consanguíneo ou afim, em condições de exercê-la).
Formas de tutela:
Testamentária: é a tratada nos arts. 1729 e 1730 do CC, que atribuem o direito de nomear tutor somente aos pais, em conjunto, desde que detenham o poder familiar (essa falta gera nulidade). Não há a prevalência de um sobre o outro. Se estão vivos, a nomeação deverá ser feita por ambos. Só se admite a nomeação por apenas um deles se o outro for falecido. Se o outro estiver no exercício do poder familiar, não poderá dele ser afastado pela manifestação unilateral de última vontade do testador. A nomeação é feita por testamento ou por outro documento autêntico (codicilos, escritura);
Legítima: não havendo nomeação de tutor, incumbirá a tutela aos parentes consanguíneos do menor. Essa tutela obedecerá uma ordem preferencial: 1º) ascendentes, preferindo o de grau mais próximo ao mais remoto; 2º) colaterais até o 3º grau, preferindo os mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais moços. Vale salientar, que o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer a tutela. A bem do menor, poderá o juiz altera-la e até não nomear nenhum dos parentes, pois prevalecerá o interesse do incapaz;
Dativa: ocorre quando não há a possibilidade nem da tutela testamentária, bem como da legítima. Ela tem, portanto, um caráter subsidiário. Neste caso, o juiz nomeará pessoa estranha à família, idônea e residente no domicílio do menor;
Do menor abandonado: que terá o tutor nomeado pelo juiz ou será recolhido a estabelecimento público destinado a esse fim, ficando sob a responsabilidade do Estado. Essa tutela está regulamentada pelo ECA, inexistindo incompatibilidade entre os dois diplomas. É uma espécie de tutela estatal;
Tutela de fato ou irregular: ocorre quando uma pessoa passa a zelar pelo menor e por seus bens, sem ter sido nomeada. Os seus atos não têm validade, não passando o suposto tutor de mero gestor de negócios;
Tutela ad hoc ou provisória ou especial: ocorre quando uma pessoa é nomeada tutora para a prática de determinado ato, sem a destituição dos pais do poder familiar;
Tutela dos índios: é também uma espécie de tutela estatal. Atualmente está regulamentada pelo Estatuto do Índio e é exercida pela União por meio da FUNAI. O índio pertencente às comunidades não integradas é incapaz desde o seu nascimento, sendo necessária a participaçãoda FUNAI para a prática de qualquer ato da vida civil. Porém, para ser liberado dessa tutela, precisa estar adaptado à civilização, preenchendo os requisitos do EI, mediante solicitação feita à Justiça Federal, com a manifestação da FUNAI.
O exercício da tutela assemelha-se ao do poder familiar, contudo, sofre algumas limitações, sendo ainda sujeito à inspeção judicial. O tutor é obrigado a prestar contas de 2 em 2 anos. Essas contas serão verificadas pelo promotor e julgadas pelo juiz. A quitação dada pelo menor, finda a tutela pela emancipação ou maioridade, não produzirá efeitos antes de aprovadas as contas.
A venda de imóveis pertencentes ao menor só poderá ser feita mediante autorização judicial e quando houver manifesta vantagem, mediante prévia avaliação judicial.
Determinados atos, nem mediante autorização judicial, o tutor poderá praticar sob pena de nulidade: a) adquirir por si, ou por interposta pessoa, mediante contrato particular, bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor; b) dispor dos bens do menor a título gratuito; c) constituir-se cessionário de crédito ou de direito, contra o menor.
O CC/02 inova ao autorizar o juiz a nomear um protutor para fiscalizar os atos do tutor. O protutor corresponderá à figura do gestor de negócios do menor ou pupilo.
Cessação da tutela:
Em relação ao menor:
Com a maioridade;
Com a emancipação;
Ao cair sob o poder familiar, no caso de reconhecimento ou adoção.
Em relação ao tutor:
Ao expirar o termo em que era obrigado a servir. O tutor é obrigado a servir somente pelo prazo de 2 anos;
Ao sobrevir escusa legítima;
Ao ser removido;
Quando negligente, prevaricador ou incurso em incapacidade;
Se infringir os dispositivos inerentes à proteção do trabalho do menor (art. 436, parágrafo único, CLT).
CURATELA
É o encargo deferido por lei a alguém capaz para reger a pessoa e administrar os bens de quem, em regra maior, não pode fazê-lo por si só. Assemelha-se à tutela por seu caráter assistencial, destinando-se, igualmente, à proteção de incapazes. Por essa razão, a ela são aplicáveis as disposições legais relativas à tutela, com apenas algumas modificações:
O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de direito, curador do outro quando interdito. Na falta do cônjuge ou companheiro, será curador o pai ou a mãe e, na falta destes, o descendente mais apto. na falta dessas pessoas, competirá ao juiz escolher o curador;
Havendo meio de recuperar o interdito, o curador promover-lhe-á o tratamento em estabelecimento próprio;
A autoridade do curador estende-se à pessoa e aos bens dos filhos do curatelado;
Outras diferenças entre a tutela e a curatela:
	TUTELA
	CURATELA
	Destinada a menores de 18 anos.
	É deferida, em regra, para maiores. Mas poderá ser deferida ao nascituro, ao relativamente incapaz entre 16 e 18 anos que sofra das faculdades mentais.
	Pode ser testamentária, com a nomeação do tutor pelos pais.
	É sempre deferida pelo juiz.
	Abrange a pessoa e os bens do menor.
	Poderá compreender somente a administração dos bens do incapaz, como no caso dos pródigos.
	Os poderes do tutor são mais amplos.
	Os poderes do curador são mais restritos.
Características relevantes da curatela:
Os seus fins são assistenciais;
Tem caráter eminentemente publicista: decorre do dever do Estado de zelar pelo interesse dos incapazes;
Tem, também, caráter supletivo da capacidade;
É temporária, perdurando somente enquanto a causa da incapacidade se mantiver;
A sua decretação requer certeza absoluta da incapacidade: que é obtida por meio do processo de interdição, disciplinado nos art. 1177 e seguintes do CPC.
Pessoas sujeitas à curatela ( ATENÇÃO – MUDANÇA LEGAL):
Art. 1767, I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade (Redação conferida pela Lei nº 13.146/2015 (DOU 7.7.2015, em vigor após 180 dias de sua publicação oficial);
Art. 1767, III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico (Redação conferida pela Lei nº 13.146/2015 (DOU 7.7.2015, em vigor após 180 dias de sua publicação oficial):
Art. 1767, V - Os pródigos;
Obs: Os incisos II (aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade) e IV (Os excepcionais sem completo desenvolvimento mental) do art. 1767 do NCC foram revogados pela Lei nº 13.146/2015 (DOU 7.7.2015, em vigor após 180 dias de sua publicação oficial).
Os nascituros: será possível em duas circunstâncias: a) se o pai falecer, estando a mulher grávida; b) não tendo a mãe o exercício do poder familiar. Essa última hipótese só pode ocorrer se ela tiver sido destituída do poder familiar em relação a filhos havidos anteriormente, pois tal sanção atinge toda a prole. Poderá ocorrer também se estiver interditada, caso em que o seu curador será o mesmo do nascituro;
O enfermo ou portador de deficiência física, a seu requerimento, ou, na impossibilidade de fazê-lo, que seja requerida por seus pais ou tutores, por seu cônjuge (ou companheiro) ou por qualquer parente, ou pelo MP, a fim de cuidar de todos ou alguns de seus negócios ou bens.
Essas espécies de curatela não se confundem com a curadoria instituída para a prática de determinados atos, tais como:
a) Quando colidir o interesse dos pais com o do filho (art. 1692, CC);
b) Quem instituir um menor herdeiro, ou legatário seu, poderá nomear-lhe curador especial para os bens deixados (art. 1733, §2º, CC);
 c) Se falecer alguém sem deixar testamento e nem herdeiro conhecido, os bens da herança ficarão sob a guarda e a administração de um curador (art. 1819, CC).
Quando a nomeação é feita para a prática de atos processuais, temos as curadorias ad litem, como nos processos de interdição ajuizados pelo MP, na curadoria à lide para os réus presos e citados por edital ou com hora certa etc.
O curador nomeado para o interdito é, assim, de direito tutor dos filhos menores não emancipados do incapaz. Trata-se, na realidade, de uma curadoria prorrogada.
Os atos praticados pelo amental interditado serão sempre nulos, ainda que no momento aparentasse alguma lucidez. Isso porque o nosso ordenamento jurídico não admite os chamados intervalos lúcidos.
Segundo o art. 1768 do CC, o processo que define os termos da curatela deve ser promovido:
Pelos pais ou tutores;
Pelo cônjuge (ou companheiro) ou por qualquer parente;
Pelo MP: que só poderá promover em caso de doença grave, se não existir ou não promover a interdição alguma das pessoas anteriores, ou se, existindo, forem incapazes. Não é necessário que o MP notifique previamente as demais pessoas mencionadas no art. 1768, estipulando-lhes um prazo para suprir a omissão.
Pela própria pessoa (Acrescentado pela Lei nº 13.146/2015 (DOU 7.7.2015, em vigor após 180 dias de sua publicação oficial).
Essa enumeração é taxativa, mas não preferencial.
O art. 1783 do CC dispensa o cônjuge curador, salvo determinação judicial, de prestar constas de sua administração, quando o regime de bens do casamento for de comunhão universal.
Quanto ao exercício da curatela, basicamente aplicam-se as mesmas regras sobre a tutela, no que não contrariarem as peculiaridades do primeiro instituto, inclusive as referentes a escusas, remoção do curador e cessação da curatela.
PESSOAS JURÍDICAS
CONCEITO
Pessoa jurídica é o grupo humano criado na forma da lei e dotado de personalidade jurídica própria, para a realização de fins comuns. É entidade a que a lei empresta personalidade, capacitando-a a ser sujeito de direitos e obrigações. A sua principal característica é a de que atuam na vida jurídica com personalidade diversa da dos indivíduos que as compõem (CC, art. 50, a contrario sensu).
NATUREZA JURÍDICA: Várias teorias procuram explicar o fenômeno pelo qual um grupo de pessoas passa a constituir uma unidade orgânica, com individualidade própria reconhecida pelo Estado e distinta das pessoas que a compõem. Podem ser reunidas em dois grupos: o das teorias negativistas e o das teorias afirmativas.
Teorias negativistas: Em geral não admitiam a

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