Buscar

Sentença Trabalhista - modelo

Prévia do material em texto

Processo n.º 03/2017
Reclamante: VANESSA ARAGÃO
Reclamadas: COMÉRCIO E VAREJO S/A
SENTENÇA
I - RELATÓRIO
VANESSA ARAGÃO, qualificada na inicial, ajuizou em 09/03/2017 a presente ação trabalhista em face de COMERCIO E VAREJO S/A, alegando, em síntese, que laborou para a Reclamada de 15.09/2015 a 13.09.2016, que fazia horas extras habituais, não recebeu a intregalidade das comissões durante o contrato de trabalho, que foi penalizada pela falta de venda de produtos embutidos por duas vezes; sofreu danos morais, pelos motivos que indica. Pretende as verbas declinadas às fls. 20-21 da inicial, sem estipular o valor da causa , juntando documentos e procuração.
A reclamada apresentou defesa escrita, arguindo preliminar de indeferimento da petição inicial pela falta de valor da causa e referência ao salário da autora; afirma que a reclamante cumpria as jornadas laborais constantes dos controles de frequência, não fazendo jus a horas extras, por se tratar de comissionista puro, nos termos da Súmula 340 do TSTo intervalo para refeição, de no mínimo 01 hora, era concedido; aduz que todos os valores pagos constam dos recibos respectivos e integraram a base de cálculo das verbas devidas, estando correto o pagamento do RSR durante o pacto laboral; não estão presentes os pressupostos necessários para a caracterização de sua pretensa responsabilidade civil por danos morais. Enfim, contesta todos os pedidos e pugna pela improcedência das pretensões. Junta documentos e procuração.
A reclamante solicitou o aditamento da inicial, para incluir o pedido da justiça gratuita e manifestou-se sobre a defesa e documentos (fls. 26-81)
 Na audiência em prosseguimento, ouviu-se o depoimento pessoal da autora e uma testemunha..
Sem outras provas a serem produzidas, encerrou-se a instruçãoprocessual.
Razões finais remissivas.
Infrutíferas as tentativas de conciliação.
É o relatório.
II - FUNDAMENTAÇÃO
PRELIMINAR DE AUSÊNICA DE VALOR DA CAUSA
 A reclamada alega inépcia por ausência de atribuição do valor da causa, por não ter a autora indicado o valor, que se faz necessária para se atribuir o rito processual.
Sem razão.
 Ocorre que a teor do disposto no art. 291 c/c art. 330, §1º, do CPC, só será indeferida a exordial quando lhe faltar pedido ou causa de pedir; o pedido for indeterminado; da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão ou contiver pedidos inconpatíveis entre si. ,Logo, a petição inicial não será indeferida sendo impositiva a intimação do demandante para emendá-la ou completá-la no prazo legal, sob pena de extinção (art. 354). Atendida a exigência legal e sanado o defeito da peça processual, não há como se cogitar de inépcia da inicial por ausência de um dos seus requisitos. O formalismo excessivo não contribui para assegurar a defesa do devedor, nem se coaduna com os princípios mais elementares do Direito.
A não indicação do valor da causa não prejudica o processamento do feito, posto que é pacífico na jurisprudência que, sendo controvertida a totalidade do débito executado, o valor dos embargos corresponde ao do débito em execução; se parcial, à parcela proporcional deste. Logo, é de fácil conhecimento e dimensionamento o conteúdo econômico da demanda.
A ausência de intimação do aditamento da inicial não causou prejuízo à defesa da Reclamada, porque a alteração/complementação procedida não repercutiu no litígio em si nem na decisão ao final proferida.
Rejeito.
PRELIMINARES DE INÉPCIA DE PETICÃO INICIAL
A Reclamada aduz preliminar de inépcia da petição inicia. Argumentam que os pedidos formulados indicado no item 3. da petição inicial são imprecisos. Salientam que o a reclamante não produziu provas contundentes para sustentar seus direitos trabalhistas.
Sem razão.
Com efeito, a petição inicial traz a exposição dos fatos e os pedidos logicamente decorrentes dessa exposiçao, havendo sido observados, portanto, os requisitos que alude o art. 840 §1º da CLT.
Não é demais dizer que o processo do trabalho é regido pelo princípio da simplicidade, razão pela qual a confecção da petição inicial dispensa formalidades excessivas.
Assim, houve a correta dedução da respectiva causa de pedir.
Dessmo modo, rejeito as preliminares de inépcia.
 DAS VERBAS POSTULADAS
HORAS EXTRAS
A reclamada, ao contrário da tese da autora, aduz que toda a jornada trabalhada se encontra Registrada nos controles de frequência juntados, não havendo labor além da jornada contratual, sendo concedido a mesma o intervalo legal, de no mínimo 01 hora, para refeição e descanso.
 A autora, com vista dos controles de ponto juntados, os impugnou, sob a alegação de que se tratam de documentos unilaterais e não retratam a sua real jornada de trabalho, sequer tendo sido por ela assinados.
 Pois bem, os espelhos de ponto apresentados( fls. 54-66), de fato, não contém a assinatura da empregada. Além disso, a testemunha Sonia (fl. 84), ouvida a seu rogo, afirmou que os funcionários não podiam registrar a jornada efetivamente trabalhada nos controles de ponto, posto que só podiam bater o ponto quando fossem atender o primeiro cliente na loja, tornando imprestáveis, assim, os espelhos juntados.
Aliás, os documentos de fls. 54-66 demonstram, cabalmente, que havia acerto nos controles de ponto dos empregados. Tem-se, pois, por completamente inválidos os documentos juntados, a fim de comprovar o início e término da jornada da autora, aplicando-se o disposto na Súmula 338 do TST.
As horas extras, portanto, serão deferidas com base na jornada declinada na inicial e na prova produzida pela autora, vez que inexistente prova oral válida em contrário.
 Demais disso, a testemunha prestou informação específica sobre os horários laborados pela autora, que confirmou, os horários de início e término da jornada informados na exordial.
 Assim, para deferimento das verbas postuladas, será considerada a jornada das 08:00 às 18:00 horas, de segunda a sexta-feira, e até às 16:00 horas aos sábados (horários de término das jornadas informados pela testemunha ouvida a rogo do reclamante), excluindo-se os feriados, seja por falta de alegação específica de labor em tais dias, seja por se tratar de instituto diverso das horas extras, previsto na Lei 605/49, observando-se os horários de início e término dos intervalos para refeição e descanso registrados nos controles de frequência.
 Defere-se, pois, nos termos da Súmula 340 do TST, o adicional convencional de 100%, e na sua falta, o legal, de 50%, incidente sobreas horas extras laboradas acima da 44ª semanal, conforme se apurar em liquidação de sentença.
Saliente-se que não são devidas horas extras, mas apenas o seu adicional, pelo fato de a autora já ter sido remunerada pelos serviços extras prestados, de forma simples, ao receber as comissões pelas vendas realizadas em tal período, não tendo havido prova, ou sequer alegação, de que tenham sido especificamente executadas atividades diversas nos horários extraordinários reconhecidos.
Indefere-se o pedido de reflexos de horas extras em prêmios recebidos com repouso, posto que não comprovado pela autora que os prêmios pagos pela reclamada tivessem sua base de cálculo integrada pelas horas extras, sequer havendo expressa alegação nesse sentido ou
 indicação da fonte normativa respectiva.
Como base de cálculo das parcelas supra deferidas, deverão ser consideradas todas as comissões recebidas no mês, DSR´s e prêmios, esses de natureza salarial, posto que não houve prova alguma de que possuíssem natureza diversa, sendo quitados com habitualidade e em decorrência dos serviços executados (Súmula 264/TST).
 Saliente-se que, apesar de não constar do rol de pedidos, as horas extras decorrentes da inobservância do intervalo previsto no art. 384 da CLT foram pleiteadas na fundamentação, o que autoriza a condenação supra, restando explícita a pretensão e inafastável, portanto, a condenação.
 De todo modo, adverte-se à ilustre patrona da autora que todas aspretensões devem constar do rol de pedidos, de modo a facilitar a análise de cada uma das pretensões, evitar incidentes processuais ou prejuízos a seus constituintes.
DAS COMISSÕES E PREMIO
Apenas para fins de se evitarem embargos declaratórios, esclareça-se que não há o que se deferir em relação ao pleito inserido no número 2.2 e 2.2 da inicial (fls. 22-23), no qual a reclamante pretende, de forma confusa, o recebimento do valor a titulo de comissão por duas vendas não realizadas e pelo prêmio dado aos vendedores no valor de R$ 500,00, não constituem provas suficientes no processo que comprovem o direito e que o prêmio do mês de abril de 2016.
DOS DANOS MORAIS
 A reclamante alega ter sofrido danos morais, sob inúmeros fundamentos, a seguir: a) pressão psicológica e ameaças de dispensa para o cumprimento de metas estabelecidas pela reclamada; b) ter sido verbalmente agredida pelos clientes que perceberam a inclusão de seguros em suas vendas na frente de colegas, de forma vexatória e constrangedora,
Para exame do pedido, é importante que façamos referência ao conceito de dano moral, que nos é dado por Yussef Said Cahali, na obra que leva o mesmo nome do instituto que constitui o seu objeto, às págs. 20/21, onde preleciona:
 Tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado, qualifica-se, em linha de princípio, como dano moral; não há como enumerá-los exaustivamente, evidenciando-se na dor, na angústia, no sofrimento, na tristeza pela ausência de um ente querido falecido; no desprestígio, na desconsideração social, no descrédito à reputação, na humilhação pública, no devassamento da privacidade; no desequilíbrio da normalidade psíquica, nos traumatismos emocionais, na depressão ou no desgaste psicológico, nas situações de constrangimento moral.
 Como se vê, os prejuízos de tal ordem devem ser graves, a ponto de torná-los indenizáveis. O instituto do dano moral não deve ser banalizado, sendo fruto de avançada conquista social, devendo o julgador atentar para que não fomente o seu uso indiscriminado, desvirtuando-o.
 
 Quanto aos fundamentos inseridos na letra "a" e "b" o depoimento da testemunha Sonia demonstra que havia um programa de metas estabelecido pela reclamada, com reuniões periódicas, nas quais o gerente da loja Marcelo, advertindo-os que deveriam imbutir o valor de seguro sem que o cliente soubesse e que se assim não o fosse a matícula ficaria bloqueada por duas horas, 
 A testemunha referida confirmou, ainda, que era comum, no setor de portáteis, onde laborava a reclamante, os vendedores perderem as vendas das mercadorias realizadas sem o seguro ou a garantia estendida, porque a reclamada preferia que o produto não fosse vendido, a vendê-lo sem tais garantias, caso a meta desses serviços não estivesse sendo atingida, o que acarretava a perda de vendas e comissões pela reclamante.
 Ora, é certo que o empregador tem a prerrogativa do poder diretivo sobre a atividade econômica, podendo organizar e regulamentar as formas em que serão realizadas as vendas em seu estabelecimento. No entanto, não pode fazê-lo de forma arbitrária, abusiva e, muito menos, ilícita, obrigando seus empregados a assim procederem, causando prejuízos materiais e morais aos mesmos.
In casu, ficou provado nos autos que havia uma cultura na empresa de obrigar o empregado a praticar um ato ilícito, consistente na cognominada venda casada, expressamente proibida pelo Código de Defesa do Consumidor - CDC (art. 39, I), constituindo inclusive infração da ordem econômica (art. 36, §3º, XVIII, da Lei n.º 12.529/11), sendo que a concretização da venda do produto era obstada pelo caixa, em flagrante desrespeito ao princípio da dignidade humana da autora, previsto na Lei Maior, o qual deve nortear as relações de trabalho.
Por se tratar de algo imaterial, o dano moral, ao contrário do dano material, não se prova, uma vez que a dor física, o sofrimento emocional, a tristeza, a humilhação, a desonra, a vergonha são indemonstráveis por meio de documentos, de depoimentos, de perícias ou quaisquer outros meios de prova e, por isso, são presumíveis de forma absoluta. O que se prova são os fatos que dão ensejo ao ato lesivo decorrente da conduta irregular do ofensor.
 
 É certo que o montante da indenização deve ser considerável, de forma a compensar os vexames e humilhações sofridos, reprimindo de fato a atitude da ofensora. De outra parte, não pode ser exorbitante e desproporcional ao dano causado, apenas em razão da condição econômica do ofensor, sob pena de promover o enriquecimento sem causa do ofendido.
Tudo isso considerado, diante da difícil tarefa de sopesar o poderio econômico da reclamada com a natureza leve do dano perpetrado, sem se olvidar dos objetivos do instituto, arbitra-se a indenização respectiva em R$5.000,00, valor a ser atualizado a partir da presente data, em que se reconheceu o direito respectivo, com juros de mora nos termos do artigo 39 da Lei 8.177/91.
DA MULTA DO ART. 477, §8º, DA CLT
 Considerando-se que a autora foi dispensada no dia 13.09.2016 e o pagamento das verbas rescisórias se deu através de depósito em sua conta-corrente bancária no dia 10.09.2016 (fl. 26-31), dentro do prazo legal de 10 dias previsto no art. 477, §6º, da CLT, indefere-se o pedido em epígrafe.
JUSTIÇA GRATUITA
Defiro ao reclamante o benefício da justiça gratuita, uma vez que, para tanto, basta a declaração de hipossuficiência financeira (fls. 82), cuja presunção de veracidade não foi afastada pela reclamada, ficando, assim, indeferida a impugnação levantada a respeito. Inteligência do art. 790, §3º, da CLT.
DA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA
 Para fins de liquidação de sentença, deverá ser observado o disposto na Súmula 381 do TST, com aplicação de juros de mora, nos termos do artigo 39 da Lei 8.177/91, sobre o valor corrigido monetariamente (Súmula 200 do TST), observando-se, quanto à indenização por danos morais, a atualização monetária determinada no tópico próprio.
 Ressalte-se que a indenização por danos morais não sofrerá incidência de contribuições previdenciárias, posto que não compõe o salário-de-contribuição da empregada, conforme previsto no inciso I do artigo 28, da Lei 8.212/91, não se tratando de rendimento destinado a
 retribuir o trabalho prestado. Além disso, corresponde a indenizações expressamente previstas em lei, excluída, portanto, de tal incidência, por força do disposto no artigo 214, parágrafo nono, inciso V, alínea m, do Decreto 3048/99.
 Do mesmo modo, não constitui ganhos de capital, na forma do artigo 1º. da Lei 7.713/88, posto que visa compensar os prejuízos sofridos pelo trabalhador em seu patrimônio moral, pelo que também não sofre incidência de imposto de renda. Nesse sentido a Súmula 498 do STJ.
III – DISPOSITIVO
Pelo exposto, nos autos da presente reclamação trabalhista, ajuizada por VANESSA ARAGÃO em face de COMERCIO E VAREJO S/A., JULGO PROCEDENTES, EM PARTE, os pedidos, para condenar a reclamada a pagar à autora, no prazo legal, com juros de mora e atualização monetária, na forma determinada na fundamentação retro, que integra a presente, conforme se apurar em liquidação de sentença.
adicional convencional de horas extras (100%) e, na sua falta, o legal (50%), incidente sobre as horas laboradas acima da 44ª semanal, conforme se apurar em liquidação de sentença, excluindo-se os feriados, com reflexos sobre os RSR´s (observada a OJ 394 da SDI do TST), aviso prévio indenizado, férias mais 1/3, 13º. salários e FGTS mais 40%;
 indenização por danos morais, no valor de R$5.000,00.
Deferem-se os benefícios da Justiça Gratuita à autora.
Custas, pela reclamada, no importe de R$ 400,00, calculadas sobre o valor arbitrado à condenação, R$20.000,00.
Intimem-se as partes.
Vitória, ES, 03 de abril de 2017.
SUZANE SCHULZ RIBEIRO
JUIZA DO TRABALHOJÉSSICA RAIANY VIEIRA RAMOS

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes