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Apostila de Responsabilidade Civil Parte III

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�Tópicos Espec. de Responsabilidade Civil – Prof. Cristiane Gribel
RESPONSABILIDADE CIVIL
APOSTILA N.º III
PONTO: Unidade III ao V do Programa
Unidade III – RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL
3.1 - Responsabilidade por Fato Próprio
3.2 - Responsabilidade por Fato da Coisa
3.3 - Responsabilidade por Fato de Animais
3.4 - Responsabilidade por Fato de Outrem
Unidade IV – RESPONSABILIDADE CONTRATUAL
4.1 - Responsabilidade por atividade profissional
4.2 - Responsabilidade nos transportes terrestres
Unidade V – EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE
Bibliografia
Sérgio Cavalieri Filho - Programa de Responsabilidade Civil – Editora Malheiros
Sílvio de Salvo Venosa - Volume IV - Responsabilidade Civil – Editora Atlas
Carlos Roberto Gonçalves – Responsabilidade Civil – Editora Saraiva
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho – Volume III – Responsabilidade Civil – Editora Saraiva
Rui Stoco – Tratado de Responsabilidade Civil – Editora RT
Observação:
O estudo deverá ser complementado com os apontamentos dados em sala de aula, com os livros de doutrina adotados, e com pesquisa aos entendimentos jurisprudenciais, que são fundamentais para a fixação da matéria.
UNIDADE III – RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL
INTRODUÇÃO: CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES:
Responsabilidade Civil Direta
É aquela decorrente de um fato próprio, ou seja, decorrente de um fato pessoal (de uma conduta pessoal do próprio causador do dano).
Responsabilidade Por Fato Próprio (por conduta própria)
Ex.:	Colisão de veículo em que o condutor causa dano a outrem (art. 186, do CC);
Responsabilidade Civil Indireta
É aquela responsabilidade vinculada ao responsável indiretamente, em virtude de sua ligação com o sujeito (terceiro que causou o dano), como também, em virtude de sua ligação com coisas ou animais que estejam sob a sua guarda e que venham a causar prejuízo.
Responsabilidade por Fato de Outrem (art. 932, I a V, do CC) ( São também responsáveis pela reparação civil:
os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se alberguem por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.
Obs.:Vide artigo 933 (responsabilidade objetiva das pessoas indicadas nos incisos I a V do art. 932, pelos atos praticados pelos terceiros citados no mesmo dispositivo legal)
 Vide artigo 934 (possibilidade de ação regressiva para aquele que ressarcir o dano causado por outrem, salvo se o causador do dano foi descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz)
Responsabilidade por Fato da Coisa
Arts. 937 e 938, do CC.
Responsabilidade por Fato de Animais
Art. 936, do CC.
3.1	RESPONSABILIDADE POR ATO PRÓPRIO
3.1.1	Responsabilidade em caso de calúnia, difamação e injúria (art. 953, caput e parágrafo único do CC).
A indenização consistirá na reparação integral do dano que foi causado ao ofendido. Se o ofendido não provar o prejuízo material, o valor da indenização será fixado eqüitativamente pelo Juiz, com base nas circunstâncias do caso concreto. Apesar da redação do dispositivo legal, a indenização deve ser integral.
Demanda de dívida não vencida (arts. 939 e 941, do CC)
Requisitos (	Dolo e má fé do credor,
O dolo e a má fé do credor seriam exigíveis porque, com base nos ensinamentos do Mestre Silvio Rodrigues, a pena é tão severa que a jurisprudência é quase pacífica no sentido de somente admitir que a penalidade seja devida, quando houver malícia do devedor (má-fé), que para o referido doutrinador, significa comportamento doloso do autor da lide. Desta forma, é como se nestes casos aplicássemos as expressões dolo e má-fé como equivalentes.
Para ser exigível, não pode haver previsão legal que permita a cobrança antecipada da dívida no caso concreto, como nos casos do art. 333 do CC;
O ônus da prova incumbe ao devedor;
Reconvenção ou ação própria para a cobrança da “multa” prevista no art. 939.
Reparação (	Obrigação de esperar o tempo que faltava para o 
vencimento;
Obrigação de descontar os juros, mesmo que convencionados;
Obrigação de pagar a multa prevista no art. 939, ou seja, o valor das custas em dobro, imposta pelo direito material;
Existe ainda a possibilidade de condenação por litigância de má-fé (arts. 16 a 18 do CPC), imposta pelo direito processual, formal.
Demanda de dívida já paga, total ou parcialmente ou de valor superior ao devido (arts. 940 e 941, do CC)
Requisitos (	Dolo e má-fé do credor;
(Vide observações acima);
O ônus da prova incumbe ao devedor;
Reconvenção ou ação própria para a cobrança da “multa” prevista no art. 940.
Reparação (	Obrigação de pagar a multa prevista no art. 940, ou
seja, o dobro do que houver cobrado, em caso de dívida já paga, ou o valor equivalente ao que cobrou a mais, no caso de cobrança superior ao valor da dívida, imposta pelo direito material;
Existe ainda a possibilidade de condenação por litigância de má-fé (arts. 16 a 18 do CPC), imposta pelo direito processual, formal.
Observação (	Se a cobrança indevida se insere numa relação de consumo, e baseada no art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, há um pressuposto específico para imposição da indenização: o consumidor deve efetivamente ter pago o indébito. Se o consumidor não efetuar o pagamento do que foi cobrado excessivamente, não incide a norma de responsabilidade prevista no referido dispositivo legal. No entanto, não existe a mesma exigência quanto ao pagamento para a indenização prevista nos arts. 939 a 941 do C.C;
Responsabilidade por abuso de direito
O Art. 187 do CC considera ilícito o ato praticado por abuso de direito, ou seja, aquele em que o titular de um direito excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa fé ou pelos bons costumes;
Trata-se de responsabilidade objetiva, ou seja, independe da prova do elemento culpa daquele que excedeu os limites impostos, que deverão ser considerados no aspecto objetivo;
Abuso de direito			X	Exercício regular de direito
Excede os limites impostos pela lei...		Age dentro dos limites impostos pela lei
Reparação: O prejudicado pelo ato praticado com abuso de direito poderá:
- fazer cessar as interferências do ato abusivo, se contínuo, e sendo possível;
- ser indenizado dos danos causados (morais e materiais).
Exemplo:
Art. 1277, do CC - Uso anormal da propriedade;
Reparação: O prejudicado pelo ato praticado com abuso de direito poderá:
- fazer cessar as interferências do ato abusivo, se contínuo;
- ser indenizado dos danos causados (morais e materiais).
Responsabilidade em caso de usurpação ou esbulho (art. 952, caput e parágrafo único do CC).
Reparação (	Restituição da coisa esbulhada, se ainda existente;
Pagamento referente ao valor das suas deteriorações (dano emergente);
Pagamento referente aos lucros cessantes;
Se não mais existir a coisa esbulhada, a indenização será correspondente ao seu valor, que será estimado com base no seu preço ordinário (de mercado) e de afeição.
Responsabilidade solidária de todos os autores (co-autores) diretos do dano (art. 942, caput, do CC)
3.2	RESPONSABILIDADE PELO FATO DA COISA
3.2.1	Noções Gerais
Abrangência - As coisas em geral (objetos, máquinas e aparelhos) de modo geral estão ligadas a uma pessoa que é seu proprietário e/ou possuidor. Esses objetos podem servir de instrumento causador de danos a terceiros. Há um dever de guarda da coisa e sua inobservância acarretaa responsabilidade para seu titular.
Situações expressamente previstas no Código Civil (arts. 937 e 938)
- Responsabilidade pela Ruína do Edifício ou Construção
- Responsabilidade por Coisas Caídas ou Lançadas do Prédio
Noção de guardião da coisa
Responsabilidade atribuída àquele que tem, de fato, o poder de comando sobre a coisa (guarda ou guardião da coisa).
Proprietário da coisa ( Guardião presumido - presunção relativa - é possível prova em sentido contrário - caberá ao juiz examinar se a responsabilidade será atribuída ao proprietário ou à pessoa para qual foi transferida a guarda da coisa.
Responsabilidade pelo fato da coisa X Responsabilidade pelo fato do animal X Responsabilidade pelo fato próprio X Responsabilidade por fato de outrem.
Responsabilidade Civil Automobilística
Tanto a doutrina como a jurisprudência aplicam, em certos casos, a responsabilidade civil pelo fato da coisa em acidentes envolvendo veículos automotores.
Responsabilidade em caso de furto ou roubo de veículo
Somente na hipótese de o proprietário não ter tido a cautela necessária em relação à guarda de seu veículo, que ele responderá concorrentemente com o autor do roubo ou furto, pelos danos causados (co-autoria), podendo neste caso, ser acionado qualquer um dos co-autores, restando ao outro, o direito de regresso contra o não acionado;
Responsabilidade em caso de veículo emprestado
O entendimento que predomina no STJ é que respondem solidariamente o proprietário e a pessoa a quem foi emprestado o veiculo, e que o conduzia no momento do acidente;
Responsabilidade em caso de veículo alienado não transferido junto ao DETRAN: O entendimento majoritário aplica a Súmula n.º 132 do STJ, que estabelece que: “A ausência de registro de transferência não implica a responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante de acidente que envolva o veículo alienado”.
Responsabilidade das empresas locadoras de veículos
O entendimento majoritário, firmado nos tribunais superiores, é pela aplicação da Súmula n.º 492 do STF, que estabelece que: “A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente, com o locatário, pelos danos por este causado a terceiros, no uso do carro locado”.
Responsabilidade das empresas de Leasing pela coisa arrendada
Pelo contrato de leasing, também chamado de arrendamento mercantil, ocorre a transferência da posse direta do bem arrendado, conferindo ao arrendatário a opção de compra do bem pelo seu preço residual, quando findo o contrato.
O entendimento majoritário é que a arrendadora não é responsável pelos danos causados pelo arrendatário a terceiros, não devendo ser aplicada a Súmula n.º 492 do STF, pois não se confundem o contrato de locação com o contrato de leasing.
Responsabilidade pela Ruína do Edifício ou Construção (art. 937)
A ruína de edifício ou construção causada por falta de reparos pode
gerar responsabilidade para o proprietário, para a incorporadora ou construtora.
A ruína pode ainda causar dano para o proprietário do edifício, para o seu ocupante (locatário, comodatário, possuidores em geral, detentores) e para terceiros (vizinhos e transeuntes). No caso de dano causado ao proprietário, por motivos claros, a indenização não poderá ser pleiteada com base no dispositivo em exame. A ação terá que ser proposta contra o construtor do prédio com fundamento no artigo 618 do Código Civil, tenha sido construída por empreitada ou não. Estando configurada uma relação de consumo, tendo em vista que o construtor é um prestador de serviços, a indenização poderá ser pleiteada com base nos arts. 12 e 14 dp CDC.
A Responsabilidade pela ruína do edifício ou construção, em relação ao construtor pelos danos causados ao dono da obra ou proprietário do imóvel (art. 618, do CC e arts. 12 e 14, do CDC);
Responsabilidade objetiva do construtor, levando-se em consideração o que estabelece o Código de Defesa do Consumidor nos seus respectivos dispositivos legais;
Haverá esta responsabilidade sempre que for verificado qualquer defeito de construção, manifesto ou oculto;
A Responsabilidade pela ruína de edifício ou construção causada por engenheiro civil como profissional liberal (art. 14, parágrafo 4º do CDC);
Neste caso não existe nenhum empresário incorporador ou construtor que possa ser responsabilizado objetivamente pelos danos;
A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. Portanto, se a vítima provar em Juízo a culpa do engenheiro, ele será responsável por indenizar-lhe os prejuízos, nos termos da legislação tutelar dos consumidores (art. 14, parágrafo 4º e 17 do CDC).
Responsabilidade pela ruína do prédio ou construção em relação ao proprietário, dono do edifício ou construção (art. 937, do CC)
O art. 937 aplica-se nos casos de ruína do prédio ou construção;
Divergência doutrinária: Responsabilidade objetiva ou responsabilidade subjetiva com culpa presumida?
Para os que entendem que a Responsabilidade é Subjetiva com culpa presumida, alegam que na responsabilização do dono do prédio pela ruína decorrente de defeito manifesto de manutenção, presume-se a culpa. Cabe ao prejudicado provar a existência dos pressupostos para que haja a obrigação de indenizar do proprietário. Por sua vez, o proprietário somente se livra desta responsabilidade provando que o defeito era de construção e não de manutenção, ou que este era oculto, transferindo desta forma a responsabilidade para o construtor, já que ele, como proprietário, realizou no prédio todos os reparos cuja necessidade era manifesta. Desta forma, para os que assim se posicionaram, o dono do edifício ou construção pode elidir a presunção de sua provando que a ruína não decorreu de falta de reparos, ou que a falta de reparos não era manifesta.
Para os que entendem que a Responsabilidade é Objetiva, alegam que esse entendimento é mais compatível com a teoria da guarda, pois o proprietário é o guardião da coisa, no caso o prédio, e daí decorre o seu dever de manutenção e segurança do prédio. Esta seria a interpretação mais correta inspirada no Mestre Aguiar Dias. Para ele, essa responsabilidade não está rigorosamente na culpa do proprietário. É resultante da relação de causa e efeito entre a ruína do edifício e a falta de conservação. Seria a responsabilidade fundada na presunção de causalidade (não presunção de culpa).
Ainda na vigência do Código Anterior, já que o art. 937 é reprodução fiel do antigo art. 1.528 do CC/1916, prevaleceu o entendimento de que existe uma presunção de responsabilidade do dono do edifício, e não mera presunção de culpa. Seria caso de responsabilidade objetiva, com base na teoria da guarda, e não subjetiva, com culpa presumida, como ainda entende parte da doutrina (entendimento minoritário).
Ruína parcial ou total
Ruína parcial =	queda de uma janela, queda de marquise, queda de varanda.
Ruína total =	ruína de todo o edifício
Responsabilidade pela ruína do prédio ou construção, em relação aos vizinhos - Direito de Vizinhança (arts. 1.277, 1.280, 1.281 e 1.299, do CC).
Essa responsabilidade independe de culpa do proprietário ou do construtor, uma vez que não se origina da ilicitude do ato de construir, mas sim da lesividade do fato da construção. a Jurisprudência tem se firmado, na hipótese de danos causados aos vizinhos, na responsabilidade objetiva e solidária do construtor e do proprietário, dispensando a prova da culpa pelo evento danoso ao vizinho. Basta ao lesado demonstrar em Juízo a lesão (dano), e o nexo de causalidade entre a construção vizinha e o dano, para surgiu a responsabilidade solidária de quem ordenou e de quem executou a obra lesiva ao vizinho.
Responsabilidade por Coisas Caídas ou Lançadas do Prédio (art. 938)
A responsabilidade civil é atribuída ao habitante do prédio.
Desta forma, podem responder pelos danos causados a terceiros o proprietário, locatário, comodatário, usufrutuário, detentor, etc, sempre que for possívelidentificar a unidade de prédio de onde a coisa caiu ou foi lançada.
Responsabilidade pelas coisas caídas do prédio em relação ao condomínio.
Quando não for possível identificar no prédio de onde as coisas caíram ou foram lançadas, o condomínio é parte ilegítima para figurar no pólo passivo da ação.
Responsabilidade objetiva ou culpa presumida?
Responsabilidade objetiva.
3.3	RESPONSABILIDADE PELO FATO DO ANIMAL
	Responsabilidade pelo fato de animais (art. 936)
3.3.1	Dono ou detentor do animal
Quem tem a guarda é que responde pelos danos causados pelo animal.
Dono do animal (guardião presumido)
O dono do animal é sempre o guardião presumido, cabendo a ele provar que o animal estava sob a guarda de outra pessoa na ocasião do dano, tendo a mesma sido transferida.
3.3.3	Exclusão de responsabilidade do dono do animal
Culpa exclusiva da vítima ou força maior.
Responsabilidade objetiva ou culpa presumida?
Responsabilidade objetiva.
3.4	RESPONSABILIDADE PELO FATO DE OUTREM
3.4.1	Responsabilidade objetiva (art. 932, I a V c/c art.933)
A vítima necessita provar a conduta culposa, o nexo causal e o dano causado pelos autores diretos citados no art. 932, para que haja a responsabilidade civil indireta e objetiva dos terceiros citados no referido dispositivo legal, cuja culpa, neste caso, é irrelevante para que sejam civilmente responsáveis pelo fato de outrem.
3.4.2	Responsabilidade dos pais pelos atos dos filhos (Art. 932, I, do CC):
Que estiverem sob a autoridade dos pais em sua companhia, diante do poder de direção que deve ter sobre eles.
3.4.3	Responsabilidade dos pais pelos atos dos filhos (Art. 932, I, do CC):
3.4.4	Responsabilidade dos tutores, curadores, pelos atos dos pupilos,
curatelados (Art. 932, II, do CC):
Que estiverem sob a autoridade dos mesmos, em sua companhia, diante do poder de direção que deve ter sobre eles.
3.4.5	Responsabilidade dos empregadores ou comitentes, pelos atos dos
empregados, serviçais e prepostos (Art. 932, III, do CC):
Que estiverem no exercício do trabalho, ou em razão dele;
Responsabilidade Objetiva do Terceiro e Subjetiva do causador direto do dano;
Fundamento: Teoria da Substituição: o causador direto do dano é a longa manus do empregador;
Campo de incidência do dispositivo legal.
3.4.6	Responsabilidade dos donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos (Art. 932, IV, do CC):
Campo de incidência deste dispositivo legal ficou muito restrito com o advento do Código de Defesa do Consumidor (art. 14, caput, do CDC)
3.4.7	Responsabilidade dos que houverem participado, gratuitamente, nos produtos do crime (Art. 932, V, do CC):
O dispositivo legal em análise terá aplicação no caso do sujeito que tiver participado nos produtos do crime, e não proveito do mesmo, o que significa dizer que poderá ser compelido a restituir a própria res furtiva.
Ação de Regresso, exceto no caso do descendente (art. 934, do CC)
Responsabilidade solidária das pessoas designadas no art. 932 do CC (art. 942, parágrafo único do CC)
Responsabilidade do incapaz (art. 928, do CC)
Responde com seu patrimônio, se o seu responsável não tiver obrigação de fazê-lo ou não tiverem meios para o mesmo fim, levando-se em consideração o disposto no art. 928 do CC, sem artigo correspondente no Código Civil revogado (1916).
Há divergência se a responsabilidade do incapaz é subsidiária ou solidária com o seu representante legal, tendo em vista a contradição existente entre o art. 942, parágrafo único do CC, que fala em solidariedade, e o art. 928 do CC (sem artigo correspondente no CC/1916), que pela sua leitura, deixa muito claro que esta responsabilidade é subsidiária, sendo este o meu posicionamento, levando-se ainda em consideração os enunciados abaixo citados.
Enunciados referente à responsabilidade civil do incapaz aprovados na Jornada de Direito Civil promovida pelo CEJ (Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal), sob coordenação científica do Ministro Ruy Rosado, do STJ:
Enunciado n.º 39: “Art. 928: a impossibilidade de privação do necessário à pessoa, prevista no art. 928, traduz um dever de indenização eqüitativa, informando pelo princípio constitucional da proteção à dignidade da pessoa humana. Como conseqüência, também os pais, tutores e curadores serão beneficiários pelo limite humanitário do dever de indenizar, de modo que a passagem ao patrimônio do incapaz se dará não quando esgotados todos os recursos do responsável, mas quando reduzidos estes ao montante necessário a manutenção de sua dignidade.”
Enunciado n.º 40: “Art. 928: o incapaz responde pelos prejuízos que causar de maneira subsidiária ou excepcionalmente, como devedor principal, na hipótese do ressarcimento devido pelos adolescentes que praticarem atos infracionais, nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança e do Adolescente, no âmbito das medidas sócio-educativas ali previstas”.
Enunciado n.º 41: “Art. 928: a única hipótese em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido emancipado nos termos do art. 5º , parágrafo único, inc. I, do novo Código Civil.
UNIDADE IV – RESPONSABILIDADE CONTRATUAL
4.1	RESPONSABILIDADE NOS CONTRATOS EM GERAL – FORA DO PROGRAMA DA ELETIVA (arts. 389 e segs do CC)
	INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES – PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES (arts. 389 a 393, do CC)
Conceitos
O não cumprimento de uma obrigação acarreta a responsabilidade por perdas e danos. Neste sentido, estabelece o art. 389, do CC, que: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”.
A responsabilidade contratual estabelece-se em terreno definido e limitado e consiste, segundo Savatier, “na inexecução previsível e evitável, por uma parte ou seus sucessores, de obrigação nascida de contrato, prejudicial à outra parte ou seus sucessores”.
É infração a um dever especial estabelecido pela vontade do contratante, por isso decorrente de relação obrigacional preexistente.
Nas hipóteses de não cumprimento da obrigação e de cumprimento imperfeito, com inobservância da forma, do tempo e do lugar convencionados, a conseqüência é a mesma: o nascimento da obrigação de indenizar os danos causados ao credor.
Ilícito Extracontratual e Ilícito Contratual
Ilícito extracontratual = Responsabilidade extracontratual
Prevista nos art. 186 e 927, do CC.
Quando o ato ilícito consiste na violação de um dever jurídico preexistente estabelecido no ordenamento jurídico, na lei.
O ato causa danos a uma pessoa a quem não se está ligado por nenhuma relação jurídica obrigacional. Não existe vínculo negocial entre o lesante e o lesado.
Ex.: acidente de carro.
Ilícito contratual = Responsabilidade contratual
Prevista no art. 389, do CC.
Pressupõe o inadimplemento de uma obrigação decorrente do contrato celebrado pelas partes. Ocorre o inadimplemento de uma das partes, denominando-se responsabilidade contratual.
Obrigatoriedade dos Contratos e as Conseqüências do Inadimplemento
Obrigatoriedade dos contratos
A obrigação cria um vínculo jurídico entre o credor e o devedor, devendo este último cumprir a prestação devida para a satisfação do credor, com base na obrigatoriedade das cláusulas ajustadas.
Conseqüências do inadimplemento
O devedor responde por (art. 389, do CC):
Perdas e danos
Juros (remuneração pela utilização do dinheiro do credor)
Atualização monetária (atualização do dinheiro)
Honorários do advogado
Inadimplemento nas Obrigações Negativas – Momento de sua Ocorrência (art. 390, do CC)
O devedor é tido como inadimplente desde o dia em que executou o ato de que devia se abster. Exemplos:
Obrigação dos profissionais de guardar segredo do cliente(advogado);
Obrigação de não construir além de determinados andares;
Patrimônio como Garantia dos Credores (art. 391, do CC)
O patrimônio do devedor responde pelo inadimplemento da obrigação. Serve como garantia dos credores do seu titular.
Os credores podem garantir a satisfação do seu crédito agredindo o patrimônio de seu devedor.
Todos os bens do devedor que integram o seu patrimônio respondem pelos débitos do seu titular (exceto os bens que não estão sujeitos a penhora, conforme art. 648, do CPC, que excetua da execução os bens que a lei considera impenhoráveis ou inalienáveis).
Ex.: bem de família; o anel nupcial e os retratos de família; seguro de vida; etc.
Responsabilidade – Culpa e Dolo
Culpa Lato Sensu ( abrange toda espécie de comportamento contrário ao direito, seja intencional, como caso de dolo, ou não intencional, como no caso de culpa (em sentido estrito – Stricto Sensu).
Dolo ( pressupõe a intenção do agente. Ele deseja voluntariamente o inadimplemento da obrigação. Age com má-fé, com vontade consciente de prejudicar. É a vontade conscientemente dirigida à produção de um resultado lícito.
Culpa em sentido estrito (Stricto Sensu) ( a conduta do agente não é intencional, mas apesar disso, em virtude de sua negligência, imprudência ou imperícia, viola o contrato, lesando a outra parte. Tem por essência o descumprimento de um dever de cuidado, que o agente podia conhecer e observar.
Contratos Benéficos e Contratos Onerosos – Responsabilidade Contratual
Contratos benéficos ou gratuitos são aqueles em que apenas um dos contratantes aufere benefício ou vantagem.
A obrigação de uma das partes não corresponde uma contraprestação da outra.
É um ato de liberalidade, o sujeito age em favor do outro sem interesse, não visa obter proveito ou benefício do ato realizado.
Ex.: doação, comodato.
				Parte Beneficiada – responde por simples culpa e dolo
Responsabilidade
				Parte não Beneficiada - responde somente por dolo
Contratos onerosos são aqueles em que ambas as partes contratantes obtêm proveito, vantagem, benefício.
É aquele em que a obrigação de uma parte corresponde uma contraprestação da outra. Nestes existe a intenção das partes de obter lucro, vantagem ou benefício de ordem econômica.
Ex.: compra e venda, locação.
Responsabilidade ( cada uma das partes contratantes responde por culpa, em igualdade de condições, salvo as exceções previstas em lei.
Caso Fortuito e Força Maior – Exclusão da Responsabilidade (art. 393, do CC)
São excludentes da responsabilidade civil, contratual ou extracontratual, pois rompem o nexo de causalidade.
Caso Fortuito ou Força Maior, verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.
É lícito às partes convencionar que a indenização será devida em qualquer hipótese de inadimplemento contratual, ainda que decorrente de caso fortuito ou força maior.
O Código não distingue caso fortuito de força maior, porém a doutrina faz distinção, havendo porém grande divergência entre os doutrinadores. O entendimento ao qual me filio, seguindo a doutrina de Sérgio Cavalieri Filho, estabelece que:
Caso Fortuito é empregado para designar fato ou ato alheio à vontade das partes, como greve, motim ou guerra.
Força Maior empregado para os fenômenos naturais, como raio, tempestade, terremoto, etc.
O traço característico das referidas excludentes é a inevitabilidade, é estar o fato acima das forças humanas, não sendo possível evitar ou impedir as suas consequências.
Requisitos para sua configuração;
Ausência de culpa por parte do devedor, em virtude da inevitabilidade do fato (caso fortuito e força maior);
Inevitabilidade do evento;
Superveniência do fato irresistível, o fato deve ser irresistível, fora do alcance do poder humano.
Pressupostos da Responsabilidade Contratual (Com base nos ensinamentos de Sérgio Cavalieri Filho)
Existência de contrato válido
É indispensável, em primeiro lugar, a existência de um contrato válido entre o devedor e o credor.
O contrato não produzirá efeitos se for nulo, isto é, se padecer de algum vício de origem e afetar-lhe a validade, como por exemplo, a incapacidade absoluta de qualquer das partes, a impossibilidade do objeto.
A nulidade posiciona-se entre as causas de invalidade do contrato contemporâneas à sua formação, impedindo que ele chegue a produzir efeitos.
Inexecução do contrato
Absoluta
Relativa (mora)
Será necessária a inexecução do contrato, no todo ou em parte, com a ocorrência do ilícito contratual, que se materializa através do inadimplemento ou da mora.
A regra fundamental é que o devedor está obrigado a efetuar a prestação devida de um modo completo, no temo e lugar determinados na obrigação.
Haverá responsabilidade contratual sempre que a inexecução do contrato decorrer de fato imputável ao devedor. A responsabilidade contratual é também um dever sucessivo decorrente da violação de um primário (originário) estabelecido no contrato.
A responsabilidade do contraente está no fato de não ter cumprido o contrato, total ou parcialmente, o que dá causa a sua rescisão.
Rescindir significa cortar, romper. Tecnicamente, o termo indica o rompimento do contrato por culpa do devedor. Neste sentido, estabelece o art. 475, do CC que “a parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos”.
Dano e nexo causal
Art. 403, do CC.
4.2	RESPONSABILIDADE POR ATIVIDADE PROFISSIONAL
I)	Definição da Responsabilidade: Como regra, é contratual e subjetiva, levando-se em consideração o disposto nos artigos 951 do CC e 14, parágrafo 4º do CDC.
II)	Distinção entre obrigação de meio e obrigação de resultado
Sendo a responsabilidade por atividade profissional contratual, o importante é distinguir a obrigação de meio da obrigação de resultado.
Quando a obrigação do contrato for de resultado, a culpa é presumida, e quando a obrigação for de meio, como regra, a culpa deve ser provada pela vítima, havendo a possibilidade de inversão do ônus da prova, a critério do Juiz, quando preenchidos os requisitos estabelecidos no art. 6º inc. VIII do CDC.
Nos contratos que regulam obrigações de meios, o contratado se obriga meramente a empregar toda a sua habilidade e perícia para desempenhar uma determinada atividade, sem se vincular à consecução de um resultado prático previamente ajustado. Vale dizer: o contrato não se considera descumprido meramente porque o fim almejado não foi atingido. O inadimplemento contratual somente ocorre se o profissional não empregou na execução da atividade contratada, a melhor técnica possível. Podem-se citar como exemplos, no campo médico, a intervenção cirúrgica em situações nas quais não é possível garantir a cura do paciente, ou, fora do campo médico, a obrigação assumida por um advogado que defende a parte em uma demanda judicial. Nessas duas hipóteses, entre outras, não se pode exigir êxito do profissional. O cirurgião que promove uma intervenção de urgência não pode garantir a sobrevivência do paciente, mas se obriga atuar da melhor forma possível na cirurgia, de modo que as chances de melhora sejam maximizadas.
Já os contratos que regulam obrigações de resultado são aqueles em que o objeto da contratação é um determinado bem jurídico, ou a execução de dado serviço. O inadimplemento desses contratos se verifica automaticamente pela não obtenção do resultado. Podem-se citar como exemplos obrigações de transporte ou de empreitada. Com efeito, se uma determinada encomenda postada nos correios não chega a seu destino, o contrato resta automaticamente inadimplido; da mesma forma, quando se contrata um empreiteiro para realizar uma obra, o inadimplemento é automático com a falta de entrega da obra.
Essa distinção gera conseqüências no que diz respeito à distribuição do ônus da prova. Nos contratos que regulam obrigaçõesde meio, a responsabilidade pela falta de obtenção do resultado almejado somente pode ser atribuída ao profissional caso ele tenha colaborado para o insucesso com culpa. O ônus para a comprovação dessa culpa, salvo inversão determinada por lei, compete à vítima. Já os contratos que regulam uma obrigação de resultados, compete ao prestador de serviços comprovar que o insucesso decorreu de fatores alheios à sua vontade, e que não poderiam ser contornados (como, por exemplo, caso fortuito ou de força maior). À vítima não é necessário promover qualquer comprovação da culpa.
Assim, é fundamental a distinção entre responsabilidade civil subjetiva com culpa presumida e responsabilidade subjetiva com culpa provada (apesar da possibilidade de inversão do ônus da prova pelo Juiz, com base no art. 6, inc. VIII, do CDC).
Há entendimento, no sentido de que, quando o profissional assume obrigação de resultado, estaríamos diante de responsabilidade objetiva, posicionamento este que não deve ser considerado quando estivermos diante da aplicação da responsabilidade pessoal de um profissional liberal, pois o parágrafo 4º do art. 14 do CDC estabelece expressamente que a responsabilidade dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa, não fazendo qualquer distinção entre a natureza da obrigação do profissional, ou seja, se de meio ou de resultado.
Assim, por expressa previsão legal, a responsabilidade dos profissionais liberais depende de culpa, sendo uma exceção à regra quanto da responsabilidade civil objetiva prevista do CDC (art. 12 e 14, caput).
III)	Responsabilidade Civil dos Advogados
Trata-se de responsabilidade contratual subjetiva, em conformidade com o art. 14, parágrafo 4º do CDC.
Como regra, é obrigação de meio, sendo que há entendimentos no sentido que, excepcionalmente, pode configurar obrigação de resultado, como no caso de elaboração de um contrato ou parecer.
Responderá, portanto o advogado, quando causar prejuízo ao seu cliente quanto faltar a uma audiência, perder prazos no curso do processo, desistir de prova indispensável para o sucesso da demanda, etc.
Responsabilidade pela não interposição de recurso – fundamento: perda de uma chance. Somente não responderá quando tratar-se de recurso meramente protelatório, sem qualquer probabilidade de êxito com base nos entendimentos jurisprudenciais a cerca do assunto em discussão.
IV)	Responsabilidade Civil dos Dentistas
Trata-se de responsabilidade contratual subjetiva, em conformidade com o art. 14, parágrafo 4º do CDC.
Prevalece o entendimento de que a regra é de que os dentistas assumem uma obrigação de resultado, como regra, qualificando a natureza da responsabilidade em contratual subjetiva com culpa presumida, levando-se em consideração de que os tratamentos dentários são mais regulares, com técnicas mais específicas, porém mais comuns colocadas à disposição dos profissionais. Apesar de este ser o posicionamento majoritário, há entendimentos no sentido de imputar ao dentista à mesma regra da responsabilidade dos médicos, ou seja, ou seja, de que assumem obrigação de meio, em regra, e excepcionalmente a obrigação de resultado, quando para fins estéticos.
V)	Responsabilidade Civil dos Farmacêuticos
São freqüentes os casos de farmacêuticos indicarem tratamentos e medicamentos, atividade esta que é prerrogativa dos médicos.
No caso concreto, se o farmacêutico agir com culpa, causando danos ao cliente, ficará obrigado a indenizá-los.
Nada impede de responsabilizar o empregador, em relação ao qual o farmacêutico é empregado, seja com fundamento no art. 932, inc. III, do CC, segundo alguns doutrinadores, seja com base nos arts. 12 e 14, caput, do CDC, segundo outros.
VI)	Responsabilidade Civil dos Médicos
Trata-se de responsabilidade contratual subjetiva, em conformidade com o art. 14, parágrafo 4º do CDC.
Como regra, os médicos têm obrigação de meio, como os clínicos em geral, e quanto a finalidade for estética, assumem obrigação de resultado, com base no entendimento majoritário.
Assim, quando se tratar de cirurgia estética, a responsabilidade do profissional é subjetiva com culpa presumida, cabendo ao médico ilidir a sua responsabilidade demonstrando que não agiu com culpa.
Porém, nas demais hipóteses, dentre estas as cirurgias reparadoras, não assume o médico a obrigação de curar o paciente, e sim a de prestar o serviço com todo o zelo que a profissão requer, devendo proporcionar ao paciente todo o cuidado e informação a cerca dos métodos empregados, não assumindo perante o paciente uma obrigação de resultado, mas sim de meio.
Tem o médico, acima de todos os demais membros da coletividade, o dever de prestar socorro.
Da mesma forma o paciente, na qualidade de consumidor dos serviços prestados pelo médico, tem o direito de invocar os benefícios do CDC ao seu favor, dentre estes o direito a informação, referente aos tratamentos empregados, bem como todos os seus riscos.
Direito à vida X Direito à liberdade religiosa, previstos na Constituição Federal.
Questão da transfusão de sangue em testemunhas de Jeová.
VII)	Responsabilidade Médica Empresarial – Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde
Trata-se de responsabilidade contratual objetiva, em conformidade com o art. 14, do CDC, que surge quando for imputada a responsabilidade pessoal subjetiva do médico vinculado à empresa, como também nas hipóteses de falha da prestação de serviço do hospital, como no caso de infecção hospitalar, por exemplo. É o que o CDC chama de fato do serviço, devendo se entender como tal o acontecimento ocorrido no mundo físico que causa danos ao consumidor, decorrentes de um defeito do serviço prestado ao mesmo.
VIII)	Responsabilidade Civil das Empresas de Planos de Saúde
Trata-se de responsabilidade contratual objetiva, em conformidade com o art. 14, do CDC, pela má escolha dos profissionais e hospitais credenciados colocados a disposição dos segurados em livros de credenciamento.
Esclarece Sérgio Cavalieri, entretanto, que: “nos planos de saúde privados, comumente chamados de seguro de saúde, alguns operam em regime de livre escolha de médicos e hospitais e reembolso das despesas médico-hospitalares (é o seguro de saúde propriamente dito), outros mediante atendimento em hospitais próprios, credenciados ou por um sistema misto, que inclui serviços próprios e rede credenciada. No primeiro caso – médicos e hospitais de livre escolha – a responsabilidade será direta do hospital ou do médico, nada tendo a ver a seguradora de saúde com a eventual deficiência da atuação deles. No segundo caso – médicos e hospitais próprios ou credenciados – a responsabilidade será também da seguradora. Se escolheu mal o preposto ou profissional que vai prestar o serviço médico, responde pelo risco da escolha. A empresa locadora direta de serviços médicos hospitalares, credenciando médicos e hospitais para suprir as deficiências de seus próprios serviços, compartilha da responsabilidade civil dos profissionais e estabelecimentos que leciona.”
4.3	RESPONSABILIDADE NOS TRANSPORTES TERRESTRES
I)	CONCEITO – CARACTERÍSTICAS – DISPOSIÇÕES GERAIS NO CÓDIGO CIVIL (ARTS. 730 A 733, CC)
Preceitua o art. 730 do Código Civil: “Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas”.
Elemento essencial é a transladação, ou trasladação. Quer dizer, é preciso que haja transferência de um lugar para outro, ainda que não se exija o percurso entre dois pontos geográficos, como adverte Pontes de Miranda, porque posso transportar de um andar para outro, da rua para dentro da casa, da base para o cume, e assim por diante. O que deve haver sempre é a transladação.
O contrato de transporte gera, para o transportador, obrigação de resultado, ou seja, a de transportar o passageiro são e salvo, e a mercadoria, sem avarias, ao seu destino. A não-obtenção desse resultado importa o inadimplemento das obrigações assumidas e a responsabilidadepelo dano ocasionado. Não se eximirá da responsabilidade provando ausência de culpa. Incumbe-lhe o ônus de demonstrar que o evento dano se verificou por culpa exclusiva da vítima ou força maior, Assim, deve ser demonstrado que não há nexo de causalidade entre a conduta do transportador e o dano suportado pelo passageiro. Denomina-se cláusula de incolumidade a obrigação tacitamente assumida pelo transportador de conduzir o passageiro incólume ao local do destino. 
II)	ESPÉCIES
Em relação ao que é transportado (objeto), pode ser:
- Transporte de pessoas;
- Transporte de coisas.
Em relação ao meio empregado, pode ser:
- Transporte Terrestre;
- Transporte Marítimo ou Fluvial;
- Transporte Aéreo.
III)	NATUREZA JURÍDICA
a)	Consensual, pois basta o consenso da partes para a conclusão do contrato. Ele se estabelece mediante o simples acordo de vontades, o que significa que para o aperfeiçoamento do contrato tem que haver a manifestação do transportador no sentido de aceitar transportar a passoa ou a coisa, da mesma forma em que deve haver a manifestação de vontade da pessoa ou do remetente da coisa, na celebração do contrato de transporte;
b)	Oneroso, na medida em que assiste ao transportador direito ao recebimento de remuneração, conforme estabelece o art. 730 do CC. Há muito a maioria dos juristas no Brasil, entre eles Orlando Gomes, sustenta que realmente a onerosidade é da essencialidade do contrato de transporte, ou seja, sempre deverá haver a retribuição;
c)	Não solene, independe de forma expressa ou prescrita em lei, pois o código não exigiu nenhuma forma especial para sua eficáci;.
d)	Bilateral, na medida em que gera obrigações para ambas as partes, porque as prestações e as contraprestações são dadas em co-respectividade, isto é, umas em função das outras, havendo reciprocidade entre a prestação e a contraprestação. Sendo um contrato bilateral permite, portanto, a resolução pelo descumprimento do contrato e também exige a equivalência entre as prestações.
e)	Comutativo, isto é, desde logo se sabe, no momento da celebração, quais as prestações e contraprestações de ambas as partes, ou seja, qual a atribuição que se dá a um e a outro dos participantes do contrato: da parte do transportador, a obrigação de prestar o serviço da trasladação e o direito de receber o preço; do lado do transportado, no transporte de pessoas, o direito de ser transportado e o dever de pagar o preço, e do lado do remetente, no transporte de coisas, o direito de ser indenizado em caso de acidente com a coisa transportada imputada ao transportador e o dever de pagar o frete.
IV)	TRANSPORTE DE PESSOAS (ARTS. 734 A 742, CC)
	A obrigação do transportador é de resultado. Está ele sujeito a horários, itinerários, não pode recusar passageiros, etc. Tem de transportar o passageiro e sua bagagem de um lugar para outro, no tempo e no modo convencionados, responsabiliza-se pelos atrasos, e deve levá-lo até o destino.
	E tanto é de resultado essa sua obrigação, que no caso de haver uma interrupção nesse transporte, ele é obrigado a completar o transcurso com outro veículo, que há de ser colocado à disposição do transportado. Fica, assim, bem caracterizada a obrigação de resultado.
E além de uma obrigação de resultado, há também uma obrigação de garantia. Isto é, o transportador responde pela incolumidade do transportado.
Como já exposto, o contrato de transporte se consuma pelo acordo de vontade entre as partes, apesar de entendimentos que de que sua natureza seja real.
O pagamento da passagem não é necessário para a celebração do contrato de transporte, tendo em vista que, em muitos casos, o pagamento somente se realiza no curso ou no final da viagem, ou até mesmo depois, como no caso do pagamento da passagem em prestações. Assim, o pagamento da passagem já é fase de execução da obrigação assumida pelo passageiro.
Com base nos ensinamentos do Mestre Sergio Cavalieri Filho, o início do contrato de transporte, principalmente no tocante à obrigação do transportador, “tem lugar quando se inicia a viagem”. Para o Mestre “a partir daí, torna-se operante a cláusula de incolumidade, que persiste até o final da viagem”. Assim, mesmo que consideremos que basta o consenso entre as partes para a efetivação do contrato entre as partes, é imprescindível que a execução do contrato já tenha se iniciado para que possa ser imputada a responsabilidade do transportador por acidente com o passageiro. Cumpre ressaltar, com base nos ensinamentos de Segio Cavalieri Filho que, “ a responsabilidade contratual decorre da inexecução, da quebra do contrato, do inadimplemento. O indivíduo pode ter adquirido uma passagem de ônibus, digamos, para São Paulo, e morrer quando ia para a estação rodoviária. A toda evidência, a empresa de ônibus que haveria de transportá-lo para São Paulo nada terá a indenizar, porque o acidente ocorreu antes de ser iniciar a execução do contrato”.
As regras dispostas no código civil disciplinam, principalmente, a responsabilidade do transportador em relação aos seus passageiros, sendo certo que tais questões serão abordadas com maior profundidade no tópico referente a responsabilidade do transportador.
O art. 734 do novo diploma manteve a responsabilidade objetiva do transportador “pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior”, proibindo qualquer cláusula de não indenizar. Considerando que, em outros dispositivos, o Código refere-se conjuntamente ao caso fortuito e à força maior, pode-se inferir, da leitura do aludido dispositivo, que o fato de ter sido mencionada somente a força maior revelaria a intenção do legislador de considerar excludentes da responsabilidade do transportador somente os acontecimentos naturais, como raio, inundação, terremoto, etc., e não os fatos decorrentes da conduta humana, alheios à vontade das partes, como greve, motim, guerra, etc. 
Vale ressaltar que a jurisprudência e a doutrina moderna têm considerado com base na lição de Agostinho Alvim, a distinção entre “fortuito interno” (ligado à pessoa, ou à coisa, ou à empresa do agente) e “fortuito externo” (força maior). Somente o fortuito externo, isto é, a causa ligada à natureza, ou qualquer outra estranha à pessoa do agente e à máquina, excluirá a responsabilidade deste em acidente de veículos. O fortuito interno, não. Prescreve o art. 735 do novo Código: “A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida pro culpa de terceiro, contra a qual tem ação regressiva”. O novo Código Civil reproduz, no aludido art. 735, o texto da Súmula 187 do Supremo Tribunal Federal, com a mesma redação. 
Por outro lado, prescreve o art. 738 do novo Código: “A pessoa transportada deve sujeitar-se ás normas estabelecidas pelo transportador, constantes no bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo ou prejuízo aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a execução normal do serviço”. Não se pode, assim, considerar que o usuário é dispensado de velar pela própria segurança. A responsabilidade do transportador pode ser ilidida se o acidente proveio de culpa do usuário. Assim, o passageiro deve atender às determinações do transportador. Tem de se sujeitar às normas e regulamentos do transporte, pagar o preço, apresentar-se no momento da partida, não assumir conduta que prejudique os demais passageiros, ou que afete a boa execução do serviço.
Aduz o parágrafo único do aludido art. 738: “Se o prejuízo sofrido pela pessoa transportada for atribuível à transgressão de normas e instruções regulamentares, o juiz reduzirá eqüitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver concorrido para a ocorrência do dano”. Verifica-se, assim, que a culpa concorrente da vítima constitui causa de redução do montante da indenização pleiteada, em proporção ao grau de culpa comprovado nos autos.
O passageiro tem o direito de rescindir o contrato antes do início da viagem,desde que avise o transportador em tempo para que este possa vender a passagem a um terceiro, ou seja, renegociar o mesmo bilhete, e uma vez feito esse comunicado a tempo, ele tem o direito de obter a restituição do valor da passagem. O passageiro poderá ainda desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, e se provar que outra pessoa foi transportada em seu lugar após a sua desistência, terá direito a restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado. Quando ele não avisa e não comparece antes de iniciada a viagem, poderá obter a restituição do valor pago, desde que demonstre que houve o repasse desse lugar para um terceiro, isto é, se o transportador recuperou a perda decorrente da desistência. Em todos estes casos, sendo cabível a restituição do valor, até 5% (cinco por cento) deste há de ser retido a título de multa compensatória devida ao transportador (art. 740, CC)
V)	TRANSPORTE GRATUITO E APARENTEMENTE GRATUITO
O atual Código Civil define o contrato de transporte como aquele pelo qual “alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas” (art. 730, CC). Logo adiante, preceitua: “Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia”. E o parágrafo único complementa: “Não se considera gratuita o transporte quando, embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas” (art. 736, CC).
Assim, o Código, depois de definir o contrato de transporte como sendo aquele feito mediante retribuição, mais adiante, no art. 736, exclui do âmbito de sua regulação apenas o transporte feito por amizade, o chamado contrato benévolo. Daí por que é possível estabelecer uma diferença.
Há o transporte mediante retribuição, que corresponde a um contrato oneroso, e há o transporte gratuito, que se dá quando o transportado não tem nenhuma obrigação de satisfazer pagamento de preço ou de passagem. No gênero “transporte gratuito”, podemos ver duas espécies e distingui-las: aquele no qual o transportador não tem nenhum interesse, não aufere benefício algum, que é o prestado por amizade, ou meramente para favorecer o transportado, de um lado, e aquele outro que, embora sendo gratuito, isto é, sem cobrança de passagem, de algum modo interessa ao transportador.
No primeiro tipo de transporte gratuito (transporte tipicamente gratuito), desse que é feito por simples amizade, e para benefício exclusivo do transportado, chamado de transporte benévolo, esse não configura um contrato de transporte.
No segundo tipo de transporte gratuito (transporte aparentemente gratuito), embora feito sem contraprestação direta, nele existe, de algum modo, interesse do transportador: neste caso há contrato de transporte, e aplicamos a ele a legislação própria do contrato de transporte. Isso acontece, por exemplo, quando uma companhia de turismo põe gratuitamente um ônibus à disposição dos turistas, o que também é feito no interesse dela, em manter, ampliar e aperfeiçoar os seus serviços, angariando clientela. Nesse caso, há também o contrato de transporte, embora seja um contrato gratuito. O STJ julgou um processo em que uma companhia de petróleo transportava para uma plataforma alguns jornalistas, e o transporte era gratuito. Era gratuito porque os jornalistas não pagaram a passagem, mas havia interesse em fazer esse transporte, por parte da companhia, porque visava à divulgação das notícias que seriam editadas por tais jornalistas. O transporte era gratuito, mas havia um contrato de transporte, e a responsabilidade de quem presta o transporte gratuito é a mesma da de quem fornece transporte oneroso.
No transporte benévolo, há, de qualquer modo, uma relação entre o transportador e o transportado, e com base no posicionamento majoritário, somente se reconhece a responsabilidade do transportador quando agir com culpa grave ou dolo, conforme a Súmula 145 do STJ que estabelece que: “No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.” 
Porém, existe uma outra corrente, apesar de minoritária, mais defendida por respeitáveis doutrinadores, dentre estes Sérgio Cavalieri Filho, que por achar que seria injusto que o transportado gratuitamente somente seja indenizado em caso de dolo ou culpa grave do transportador, deveria ser aplicada a regra geral da responsabilidade extracontratual prevista no art. 186 c/c com o caput do art. 927 do CC, ou seja, que o transportador deve ser responsabilizado independetemente do grau de culpa, ou no caso de dolo.
VI)	RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR
O art. 734 trata da responsabilidade pelos danos causados às pessoas transportadas, e a regra principal é a de que a transportadora responde pelos danos sofridos pelo transportado desde que se inicia o transporte, até o seu destino, a se entender como início do transporte terrestre o momento em que a pessoa se faz passageiro, não aquele em que compra a passagem, nem quando está na parada do ônibus, mas sim quando ingressa no ônibus, e termina quando desce do veículo, sendo este o melhor posicionamento, apesar de entendimentos em sentido contrário. Quando a estação de embarque faz parte da empresa de transporte, como no caso do metrô, pode ser considerada a estação como início do contrato de tranporte. Assim, em certos meios de transporte distinguem-se perfeitamente o momento da celebração do contrato e o de sua execução. Nas viagens aéreas, por exemplo, é comum a passagem ser comprada com antecedência. Nestes casos, a responsabilidade do transportador só terá início com a execução da avença. No transporte rodoviário, tendo em vista que a estação não pertence à transportadora, a execução se inicia somente com o embarque do passageiro, e só termina com o desembarque. Se o passageiro vem a se ferir em razão de queda ocorrida durante o embarque, porque o ônibus movimentou-se abruptamente, por exemplo, configura-se responsabilidade do transportador, porque já se iniciara a execução do contrato, e do mesmo modo se a queda ocorrer por ocasião do desembarque. No caso das estradas de ferro, a responsabilidade do transportador tem início quando o passageiro passa pela roleta e ingressa na estação de embarque. Daí por diante, estará sob a proteção da cláusula de incolumidade, também atribuída pela responsabilidade decorrente do vício ou defeito do serviço, respondendo a ferrovia pelos acidentes ocorridos com o passageiro durante a vigência do contrato. Remetemos ainda o leitor aos pontos referentes ao transporte de pessoas e coisas como complementação do estudo sobre a responsabilidade do transportador.
A obrigação do transportador é de resultado. Está ele sujeito a horários, itinerários, não pode recusar passageiros, etc. Tem de transportar o passageiro e sua bagagem de um lugar para outro, no tempo e no modo convencionados, responsabiliza-se pelos atrasos, e deve levá-lo até o destino.
A única exclusão permitida no Código é a da força maior. A lei não mais faz referência a caso fortuito, nem à culpa da vítima, mas à força maior, isto é, àquele fato inevitável, que se reconhece quando o transportador demonstrar que tudo fez para evitar o acidente e o conseqüente dano. Se for assim, o fato era inevitável, e por esse é que haverá a exclusão da responsabilidade. Fora daí, o transportador deve responder.
Há uma regra que permite a redução dessa indenização por culpa da vítima (art. 738, parágrafo único), quando esta age contra o regulamento. Demonstrado que a vítima concorreu para o resultado, nas hipóteses enunciadas no parágrafo único, a indenização será eqüitativamente reduzida. Vale ressaltar que a previsão do Código é apenas para reduzir a indenização. É de se perguntar: se, porventura, a culpa for exclusiva da vítima, é possível excluir, também, a responsabilidade? Essa situação não está prevista no código. Porém, tanto a doutrina como a jurisprudência têm entendido que, se o fato acontece porculpa exclusiva da vítima, falta a relação causal entre o dano e a ação da transportadora, pelo que o resultado somente pode ser atribuído a quem lhe deu causa, isto é, à própria vítima. Portanto, a culpa concorrente da vítima pode determinar a redução da indenização, e a culpa exclusiva dela, a exclusão da responsabilidade do transportador por falta de nexo de causalidade entre a conduta do transportador e o dano. Por essa razão, por exemplo, o Superior Tribunal de Justiça vem decidindo, em caso de queda de trem por praticante de “surfismo ferroviário”, que descaracteriza o contrato de transporte a atitude da vítima, que, podendo viajar no interior do trem, se expõe voluntariamente a grave risco, optando injustificadamente por viajar no teto.
A responsabilidade por acidente não se exclui por culpa de terceiro (art. 735, CC), situação que ordinariamente ocorre quando o descuido causador do dano é do outro motorista, caso em que a transportadora responde pela reparação do dano sofrido pelo seu passageiro. A súmula nº 187 do Colendo Supremo Tribunal Federal enveredou-se pelo mesmo caminho, ao enunciar: "A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva". Neste caso o transportador indeniza o passageiro e move, depois, ação regressiva contra o terceiro culpado pelo acidente. Porém, quando há uma situação de dolo, como acontece no assalto ou outros atos de violência, temos de nos remeter para a situação geral da força maior, do fato inevitável, e pesquisarmos se essa ação do terceiro se inclui ou não na situação da força maior. Conforme já esclarecido anteriormente, a doutrina moderna denomina-o como fortuito externo o fato que não guarda nenhuma relação com a atividade do transportador, com a organização da empresa, e que por esta razão exclui a sua responsabilidade, pois não tem meios de evitar ou impedir o acontecimento, equiparando-se a força maior. Este não pode ser considerado fortuito interno porque, além de absolutamente imprevisível e inevitável, não guarda nenhuma ligação com os riscos do transportador; é fato estranho à organização do seu negócio, pelo qual não pode responder. Por isso, a melhor doutrina caracteriza o fato doloso de terceiro, vale dizer, o fato exclusivo de terceiro, como fortuito externo. Ele exclui o próprio nexo causal, equiparável à força maior, que, por via de conseqüência, exonera da responsabilidade o transportador. Já o fortuito interno, ou seja, aquele fato que tem alguma relação com a atividade exercida pelo transportador, com a organização de sua impresa, sendo uma situação que pode evitar, não terá o condão de excluir a sua responsabilidade. Assim, na hipótese do assalto, a regra de que o transportador responde, mesmo por culpa de terceiro, não servirá para resolver o caso em que o terceiro assaltante agiu com dolo, devendo ser a questão solucionada à luz da possibilidade da exclusão pela ‘força maior’, ou fortuito externo, e não propriamente pela culpa do terceiro. Vale ressaltar, entretanto, que apesar deste ser o posicionamento majoritário tanto da doutrina como da jurisprudência, inclusive do STJ, existem posicionamentos (minoritários) de que o assalto poderia ser evitado pelas empresas de tranporte com a instalação de câmeras, detector de metais, seguranças, etc., sendo uma hipótes de fortuito externo, e que por esta razão não exclui a responsabilidade do transportador. Assim, apesar da existência de divergência, o assalto à mão armada em interior de ônibus, embora se pudesse ter hipoteticamente meios de evitá-lo, constitui, segundo o posicionamento dominante, causa estranha ao transporte, que isenta de responsabilidade o transportador, ao fundamento, especialmente, de que o dever de prestar segurança pública, inclusive aos passageiros, é do Estado, conforme art. 144 da Constituição Federal, não se podendo transferi-lo ao transportador.
A responsabilidade pelo dano causado a um terceiro que não seja passageiro, como no caso de atropelamento de pedestre, é extracontratual e objetiva, podendo ser aplicado o art. 17 do CDC para esta definição, pois equipara-se a consumidor para efeitos de aplicação do referido código todas as vítimas do acidente de consumo, sendo este o posicionamento defendido por Sergio Cavalieri Filho em seu imprescindível livro “Programa de Responsabilidade Civil”, e podemos aplicar também neste caso o art. 37, parágrafo 6º da CF.
Em relação aos seus funcionários, como por exemplo o cobrador ou o motorista, a sua responsabilidade será baseada no art. 7, inc. XXVIII, da CF, já que estaremos diante de um acidente de trabalho, sendo cabível ação de reparação de danos em face do empregador (empresa de transporte), quando este incorrer em dolo ou culpa, independetemente da indenização cabível junto ao INSS decorrente do acidente, por força do seguro contratado para esta cobertura.
UNIDADE V – EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE
5.1	Introdução
- Causas Excludentes do Nexo Causal:
Caso fortuito e força maior;
Fato exclusivo da vítima (ou culpa exclusiva da vítima, para alguns); e
Fato de terceiro.
- A relação de causalidade (nexo causal) é condição e pressuposto da obrigação de indenizar tanto na hipótese de responsabilidade subjetiva como objetiva 
5.1	Caso fortuito e força maior
5.1.1	Art. 393 e parágrafo único
Art. 393 - O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único - O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.
5.1.2	Discussão doutrinária se há distinção entre caso fortuito e força maior
O Código Civil não faz distinção, no seu art. 393, entre caso fortuito e força maior, pois considera ambos como sendo fatos necessários cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. Porém tanto a doutrina como a jurisprudência faz distinção entre força maior e caso fortuito, cuja diferença terá muita relevância para as hipóteses de responsabilidade civil subjetiva e objetiva.
5.1.3	Definição: fato necessário, cujos efeitos não era possível ser evitado pelo autor da conduta.
5.1.4	Fortuito interno x fortuito externo
		Entende-se por fortuito interno o fato, o acontecimento que se liga à organização da empresa, que se relaciona com os riscos da atividade desenvolvida pelo agente. O estouro de um pneu do ônibus, o incêndio do veículo, o mal súbito do motorista, são exemplos do fortuito interno, por isso que, não obstante acontecimentos imprevisíveis, estão ligados à organização do negócio explorado pelo agente transportador, que responde pelos danos causados.
		O fortuito externo é o fato, o acontecimento estranho à organização do negócio. É fato que não guarda nenhuma ligação com o risco assumido pelo agente, com a empresa, como fenômenos da natureza. Duas, portanto, são as características do fortuito externo: autonomia em relação aos riscos da empresa e inevitabilidade, razão pela qual alguns autores o denominam força maior, e neste exclui a responsabilidade.
5.1.5	Imprevisibilidade x inevitabilidade
5.1.6	Fato humano x fato da natureza
5.1.7	Exemplos práticos
	Caso fortuito = guerra, revolução, greve, etc.
	Força maior = terremoto, enchente, etc.
5.2	Fato exclusivo da vítima (para alguns: culpa exclusiva da vítima)
5.2.1	Definição: o agente, aparente causador do dano, é mero instrumento do evento.
5.2.2	CDC - Lei nº 8.078/90, art. 12, § 3º, III e art. 14.
5.2.3	Distinção para culpa concorrente (ou causa concorrente) – art. 945:
“Art. 945 – Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa com a do autor do dano.”
5.2.4	Exemplos:
Vinha prudentemente dirigindo um veículo, quando uma pessoa se projeta na frente do carro - culpa exclusiva da vítima
Dirigia um veículoa 150 km p/h e alguém se projeta na frente do carro - culpa concorrente.
5.3	Fato de terceiro
5.3.1	Definição: é causa excludente da responsabilidade, em regra, porque a conduta de terceiro exclui e interrompe o nexo causal entre a conduta do autor aparente e o dano.
5.3.2	Exemplo:
Carro 1, em alta velocidade, bate no carro 2, que transitava na sua frente. Face a este acontecimento, o carro 2 colide com o carro 3 que estava na sua frente. Neste caso, quem responde é o condutor do carro 1, pois foi ele quem deu causa ao acidente entre os carros 2 e 3.
5.3.3	Não é excludente da responsabilidade do transportador, conforme art. 735 do CC, e nos casos em que for equiparado ao fortuito interno na responsabilidade objetiva, ou seja, acontecimento que guarda relação com o risco assumido pelo agente, que não afasta a sua obrigação de indenizar.
5.3.3	Distinção para culpa concorrente de terceiro que concorre para o resultado danoso X estado de necessidade
5.4	Estado de necessidade (excludente de ilicitude penal, mas não civil)
5.4.1	Art. 188, II e parágrafo único/arts. 929 e 930, do CC.
5.4.2	Consiste na deterioração ou destruição de coisa alheia, para a remoção de perigo emitente.
Ex.:	Um condutor de um veículo, dirigindo de forma prudente, para evitar atropelar uma pessoa que atravessa a rua na frente de seu carro, desvia e bate num veículo estacionado e causa severos danos no automóvel. O condutor do veículo responderá pelo dano (art. 929, do CC), embora tenha direito de regresso contra o causador do acidente (art. 930, do CC).
5.5	Legítima defesa e Exercício regular de um direito
5.5.1	Art. 188, I e parágrafo único/arts. 929 e 930 e parágrafo único, do CC.
5.5.2	Na legítima defesa, o agente reage, justificadamente, repelindo uma agressão injusta. (Reação proporcional da vítima).
5.5.3	Exercício regular de um direito é quando o agente age em consonância com os limites impostos pelo ordenamento jurídico, pelo seu fim econômico ou social, pela boa fé ou pelos bons costumes. É o contrário do abuso direito.
5.6	Cláusula de não indenizar (cláusula de irresponsabilidade).
5.6.1	Definição: cláusula contratual que isenta de indenização o dano causado. Existe a responsabilidade, só não existe a obrigação de reparação, em caso de inadimplência. Aplica-se, em regra, na Responsabilidade Civil Contratual.
5.6.2	Denominação: Cláusula de Irresponsabilidade e Cláusula Excludente de Responsabilidade são equivocadas, uma vez que o que se exclui é apenas a obrigação de indenizar, permanecendo a responsabilidade pela conduta.
5.6.3	Fundamento: liberdade de contratar, autonomia de vontade.
5.6.4	Limites:
- Ordem pública (	não pode haver violação da ordem pública;
- Dolo e Culpa grave (	gera a instabilidade na relação jurídica, sendo nula de pleno direito.
- Elemento essencial do contrato (	se atinge elemento essencial do contrato, é nula de pleno direito.
- CDC - art. 51 (	nula de pleno direito as cláusula contratadas relativas ao fornecimento de produtos e serviços, constantes nos incisos I a XVI.
JURISPRUDÊNCIAS APLICÁVEIS NO ESTUDO DESTAS UNIDADES DO PROGRAMA:
Pleiteadas conjuntamente.
Obs.: Multa Contratual, se expressamente prevista no contrato (como Cláusula Penal)
FORÇA MAIOR
CASO FORTUITO
FORTUITO EXTERNO
FORTUITO INTERNO
INEVITABILIDADE
IMPREVISIBILIDADE
FATO DA NATUREZA
FATO HUMANO
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