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Vinte anos da Declaração de Salamanca

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Vinte anos da Declaração de Salamanca: 
avanços e desafios 
Por Darcy Raiça* 
Em junho de 2014, a Declaração de Salamanca sobre Princípios Políticas e Práticas em 
Educação Especial, formulada na Espanha, está completando 20 anos. Essa data constitui 
um momento propício para refletirmos sobre os avanços e os desafios que ainda persistem 
no processo de inclusão escolar de crianças com deficiência ou com algum tipo de 
necessidade educacional especial. 
O Brasil foi um dos países signatários da declaração, assumindo o compromisso de incluir 
todas as crianças, independente de suas dificuldades. Segundo a Declaração de 
Salamanca, todas as crianças com necessidades educacionais especiais deveriam ter 
acesso à escola regular, sendo acomodadas em uma pedagogia centrada na criança. 
O documento reforça o direito à uma educação de qualidade e que considere as 
características e os interesses únicos de cada educando, evitando-se assim, discriminações 
e a exclusão escolar. Nesse sentido, propõe que as escolas se organizem e se capacitem 
para atender a todos. 
A despeito do baixo investimento governamental no apoio ao professor que recebe uma 
criança com deficiência em sua sala de aula, observamos, em muitas escolas, ações 
colaborativa que viabilizam e concretizam práticas inclusivas. 
Isso só é possível devido ao investimento que os professores têm feito em sua formação 
e aprimoramento, além de uma mudança progressiva de suas crenças pessoais e de 
paradigmas pedagógicos. 
No percurso de novas aprendizagens quanto à inclusão, muitas escolas perceberam a 
importância de fortalecer o vínculo com a comunidade. Parcerias com organizações não 
governamentais, com setores de defesa dos direitos da criança, com instituições de saúde 
e de assistência social têm sido um grande trunfo das escolas inclusivas. 
Também devemos realçar as ações que procuram fortalecer o vínculo com as famílias. Os 
educadores têm se dado conta que os familiares ao invés de serem um obstáculo, podem 
se tornar grandes potencializadores da inclusão se estiverem sensibilizados e mobilizados 
quanto a sua importância no processo de escolarização. 
Outro aspecto importante a ser destacado tem sido as contribuições das tecnologias da 
informação e comunicação (TICs). Experiências comprovam o benefício de práticas 
pedagógicas que utilizam as TICs como ferramentas facilitadoras da aprendizagem em 
crianças com deficiências ou dificuldades escolares. Internet, computadores, tablets, 
softwares, assim como equipamentos eletrônicos diversos podem auxiliar os professores 
na adaptação de atividades dirigidas. Contudo não basta a escola ter acesso aos 
equipamentos, é essencial que os recursos tecnológicos estejam integrados ao projeto 
político pedagógico da escola e que os professores sejam devidamente capacitados no uso 
das tecnologias com o propósito da inclusão escolar e social. 
A despeito desses grandes avanços, as escolas ainda enfrentam problemas quando se trata 
de incluir crianças com deficiências mais graves, por exemplo, síndromes do espectro 
autista com grande comprometimento comportamental, ou deficiência intelectual severa. 
Enfim, casos que devem ser pensados em sua singularidade e que, muitas vezes, não 
possuem uma solução unânime nem fácil de ser encontrada. 
É preciso enfatizar ainda, que o Brasil enfrenta uma crise longa e grave na Educação, a 
qual não se restringe à problemática da escolarização de crianças com deficiência. Não 
podemos ignorar problemas estruturais como: salas de aulas com um número excessivo 
de alunos, abstinência e inconstância de professores, falta de recursos pedagógicos, e 
sobretudo, uma imensa desvalorização da carreira docente. Portanto, um dos principais 
desafios da inclusão, entendida no seu sentido mais amplo, é o investimento na estrutura 
escolar, que vai desde recursos materiais, capacitação do professor em processo, até 
melhoria dos salários. 
De fato, a Declaração de Salamanca trouxe-se nos novas perspectivas para a educação 
brasileira ao propor que as escolas de orientações inclusivas 
constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias, criando-se 
comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação 
para todos; além disso tais escolas proveem uma educação efetiva à maioria das crianças 
e aprimoram a eficiência e, em última instância o custo da eficácia de todo o sistema 
educacional[1] 
Para concluir, se no passado a convivência mais equânime entre as crianças era uma 
utopia, nos dias atuais é uma realidade a ser comemorada, ainda que alguns desafios 
persistam e necessitem de reflexões e novas considerações. É importante salientar que o 
desenvolvimento de práticas pedagógica inclusivas é dinâmico, não se esgota nunca, é 
um processo dialético, desafiador e vivo. 
* Professora doutora da PUC-SP

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